Engraçado como algumas coisas acontecem. Nos últimos 6 anos eu assisti duas vezes a este filme e em ambas não consegui gostar tanto dele, tampouco entender o porquê dele ser tão amado por alguns (ou muitos). Entretanto, dessa vez, Quase Famosos me encantou por completo, se tornando talvez o meu roteiro favorito desse século. É um filme tão rico em textura narrativa, e isso se deve à praticamente todos os aspectos dele: do texto consciente e orgânico ao elenco em pura compatibilidade e inspiração para com seus personagens (em especial Kate Hudson, no que é muito provavelmente o papel de sua vida). Quase Famosos conquista um legado incrível de se pensar após tê-lo assistido: o de ser um filme extremamente subversivo e incomum e ao mesmo tempo manter um inocência tão singular e rara em qualquer filme ou lugar, que ele ganha pra mim um lugar muito especial na minha biblioteca. É uma obra com um coração colossal, que deixa clara sua entrega em relação ao seu objeto de fascínio - o rock'n'roll - enquanto não deixa de criar cada vez mais círculos envolta deste. O valor da arte, a existência hedonista, as máculas da fama e do ego, e mesmo um existencialismo muito delicado sobre como viver nossos instantes, toma lugar nos pulsantes cantos e subtextos do filme. Eu tô apaixonadíssimo por esse filme e bem feliz por ter dado mais uma chance. Quase 3 horinhas que passaram voando diante de tanto fascínio.
As Virgens Suicidas é como um longo e detalhado retrato, um polaróide curioso de desconhecidos encontrado por acaso. Observamos o cenário, os semblantes presentes ali, todos as pequenas sutilezas e trocas de olhares que podem ser percebidos e interpretados afim de transformar esse retrato distante em uma imagem, e então da imagem uma ideia e dessa ideia conquistar, infantilmente, uma compreensão. O filme de Sofia Coppola é sobre um desses retratos - a das virgens - mas também o é majoritariamente sobre o ato inexorável de produzir este engodo, essa tentativa sensível e pretensiosa de compreensão. O universo das garotas Lisbon retratado na tela é uma criação: da diretora, dos garotos que narram e conjecturam sobre elas, da sociedade que as idealiza junto a estes. É de uma ousadia e perspicácia tremenda Coppola ter conseguido edificar um filme que, mantendo um vigor sigular por todo o seu decorrer, nos permite conhecer a constituição alarmante de um desconhecer. A cena final do filme é emblemática justamente por justapor essa contradição: o suicídio que dá título ao filme - e que, portanto, temos conhecimento em primeira mão - ocorre em paralelo ao fato de, ainda, não sabermos por certo nada sobre o que teria levado a ele. Assim também é a idealização dos jovens narradores, que ao imaginarem suas garotas se libertando de suas pressupostas prisões de maneira idílica são confrontados com um suicídio que põe esses pressupostos num lugar que só pode pertencer ao de uma terna, mas de várias formas danosa, ignorância. É perturbador refletir que o imaginário que cria as personagens das virgens é o mesmo que distancia de nós e dos outros personagens, seus verdadeiros universos. É um erro melancólico, ingênuo e carregado de tantos elementos sociais e existenciais que Coppola acaba com um mosaico grande demais para o seu próprio filme. E ela sabe disso, sabe de seu retrato frustrante. Mesmo assim, na verdade por isso mesmo, ano após anos, continua sempre fascinante participar da frustração melancólica que é esse filme.
É um daqueles filmes que o humor rápido e irônico bate muito com o meu gosto, mas Quase 18 vai além disso: é também um coming-of-age que não abre espaço para concessões, é cruel, real, hilário, e ainda sim consegue conquistar um espaço para um otimismo nada condescendente - o que é deverás raro em qualquer filme, principalmente envolvendo adolescentes. Para se rever, e descobrir a cada vez novas camadas agridoces. Dá pra pedir mais?
Aronofsky perdeu o controle. Como fã de sua obra não posso dizer que a sutileza foi sempre o seu forte, mas o cuidado, a construção de nuances e, principalmente, a confiança em seu trabalho e em seu público eram algo que eu admirava no seu cinema junto às suas características específicas ao lidar com as mais diversas variações do tema da obsessão. Sendo assim, seus antigos filmes estariam para uma discussão acalorada enquanto Mother! é uma gritaria desesperada e infantil de uma criança ou de um bolsomito - a expressão "dedo no cu e gritaria" nunca fez tanto sentido quanto aqui. A estrutura de Mother! é inteligente, a ideia do roteiro - por mais pretensiosa que seja - é muito curiosa e fecunda, e mesmo os primeiros dois atos do filme são bastante sustentáveis: a fusão da Mulher com a Casa, o incômodo crescente de um desgaste que chega à personagem e a nós - mesmo o close constante e irritante tem um sentido narrativo e coeso. Entretanto, é no terceiro ato, em que Mother! finalmente mostra o objetivo de seus contornos, que tudo desanda, inclusive os méritos dos primeiros atos. A necessidade de fazer de cada frame um manifesto, um símbolo entregue sempre da maneira mais explícita e chamativa possível, aliada à uma concepção arrogante e cínica do mundo, que também é entregue da maneira mais over-the-top possível, é a maneira que Aronofsky arranja de encerrar seu filme. O paradoxo da arrogância de dar conta de tantos temas em paralelo a falta de confiança em seu próprio material - comprovada pelo carnaval que chega até a ser didático das últimas meia hora do filme - seria o que me deixou mais curioso com Mother!. Como uma cineasta tão talentoso como Aronofsky conseguiu chegar em tal receita para o desastre? É coisa de gênio mesmo.
Seguindo a linha de outros filmes espetaculares como Boyhood e Frances Ha, Lady Bird é uma obra de pequenezas, que se importa prioritariamente com a autenticidade e carinho - por vezes até cruel por sua realidade - dos pequenos instantes de seus personagens, sozinhos e entre si, e constrói dessa maneira um mosaico sutil, mas catártico. Isso tudo é feito claramente de maneira muito consciente, se engana quem acha que edificar isso de maneira tão delicada - e sem apelar para recursos mirabolantes de câmera ou frases de efeito - é fácil. Sentimentos como a nostalgia ambivalente por nossa cidade natal e porto-seguro, a inocência juvenil - mas em alguns casos eternamente presente - que cada vez mais se choca com o mundo real ou mesmo o clichés que são sempre validados com a verdade que lhe são devidos denota uma imensidão de cuidado e entrega por parte do elenco e, principalmente, por parte de Greta Gerwig, diretora e roteirista do filme. Lady Bird tem coração, e isso é algo poucos filmes aclamados por seus "feitos cinematográficos" podem comprovar ter. Um salve para esses seres iluminados que fazem filmes não para tirar algo a força de mim, mas sim deixarem suas obras trabalharem junto com o espectador. Isso é confiança, isso é uma arte que vale a pena para mim.
O filme é um pouco longo, por vezes chega a ser cafona e não consegue manter sempre uma unidade - até porque muito talvez esse seja o seu objetivo. Entretanto, nada disso importa diante do universo singular e real que todos os elementos da obra, em consonância, constroem. 20th Century Women é riso e é choro, são aquelas perguntas que geralmente ninguém tem coragem de perguntar, é de uma sensibilidade que cativa acima de qualquer nota em falsa. Enfim, é um daqueles filmes que eu reveria a qualquer dia - e com certeza o farei.
O filme tem um problema bem contagioso que é o de não estabelecer de maneira satisfatória o seu fundamento: o romance que daria coração a toda mágica visual de sua narrativa. Enquanto perde tempo desenvolvendo um vilão que, no final, continua sendo invariavelmente preto no branco, duas cenas e a sempre temida montagem são o bastante para Del Toro dar por feita a criação dos laços dos dois personagens principais. Isso não é um erro grave, mas não me permitiu embarcar nas novas ambições do filme, lindas ambições, na medida em que ele avançava, tal foi a falta deste fundamento. O que ficou comigo foi uma admiração distante, quase exclusivamente técnica, e um pesar diante das possibilidades perdidas. A Forma da Água é um filme que pode fazer os olhos brilharem, só não chega nem perto de fazê-los precipitaram-se - como muito bem poderia ter feito.
Nada funciona muito bem no filme, o humor deslocado, os personagens caricatos e desinteressantes, o roteiro pífio e mesmo a direção de McDonagh não está nada inspirada. O que me levou até ao final foi a força da atuação de Frances McDormand e de sua personagem, que praticamente levam o filme na costas - o que não impedem de fazer do filme uma obra bastante descartável.
É um capítulo que completa a minha admiração eterna pela trilogia e por todos os envolvidos nela ao levar a cabo, na alegria e na dor, todos os pequenos detalhes de seus dois personagens e de sua relação. Tudo está aqui, cada piada maldosa recebida por um sorriso amarelo, o comentário doce mal recebido, as longas e "mágicas" conversas, a familiaridade reconfortante - todos os opostos de um agridoce extramente real e sem concessões: a proximidade com a distância, o amor e o ódio, a intimidade e o nojo, a prisão de ser alguém com alguém e a liberdade interior acessada por isso. Before Midnight não seria o que é sem o peso de seus filmes anteriores, mas isso não é nem de longe um demérito: é do rigor sensível de todas as três obras que acabamos recebendo a ambiguidade singular que Jesse e Celine nos entregam. Obras-primas.
Before Sunset é sobre uma fase intermediária da vida, dos personagens, da trilogia, mas ao mesmo tempo acaba sendo o filme mais universal da mesma. É certo que a vida tem suas maneiras de nos fazer enfrentar - ou fugir de - situações parecidas. Relembrar pode significar dor ou esperança, e quando se adiciona o tempo nessa equação tudo ganha uma dimensão mais complexa, urgente e nem sempre muito clara para cada um. No contexto do filme, é preciso refletir sobre o que o amor pode significar e a potência que ele pode tomar em meio a esse tempo de lembrança, conjectura e calejamento. Todavia, com Before Sunset, e Jesse e Celine, são as nossas próprias perspectivas como indivíduos sempre nessa fase intermediária de tentar, de querer, de chegar, que entram em questão, daí a universalidade. Pois ainda estamos tentando. Sempre estaremos. Mesmo com o fim da inocência de observar um amanhecer - aquilo de nós e dos outros que perdemos e não recuperaremos mais - o imperativo é continuar a tentar. Como Jesse e Celine decidem tentar, e como o fazem nos próximos 9 anos que nos separam do próximo filme.
É uma coisa espetacular rever esse filme e perceber que cada pequeno detalhe dos dois personagens e de sua relação têm influência nos próximos 18 anos da vida dos dois. Isso é um trabalho sem tamanho e que requer algo além de qualquer rigor técnico ou capacidade intelectual, mas uma qualidade sensível, que insere um coração para cada cena dos três filmes. Enfim, a mentira do cinema nunca é tão real quanto no cinema de Linklater, e é aqui que ela encontra um dos seus grandes ápices.
O filme tem suas arestas - a longa duração, alguns exageros na uso da queda da quarta parede - mas ele conseguiu me fazer rir, me prender e depois me deixar bem, bem triste, e isso é algo muito interessante para um filme fazer comigo. A multiplicidade de enfoques, a narrativa pop, a audácia bem-vinda de fincar os pés na comédia, tudo acaba muito bem acertado, num nível ou em outro. E é em seu tema central, que consegue manter uma clareza por todo o filme sem soar superficial - a jornada não de uma atleta-produto ou mera fofoca, mas o papel limitador desta como tal pela sociedade e pelas instituições - que estabelece I, Tonya como uma obra acima da média, trazendo as reflexões e confrontos necessário à um mundo que ainda trata as mulheres de seu mundo tal como trataram Tonya Harding - nem santa nem monstro, mas um ser humano - em suas diversas e dolorosas máculas.
A paixão, a presença dos outros, a força - e o peso - do mundo, as convenções, o autoconhecimento, o egoísmo essencial, o altruísmo sufocante - a coragem de sentir e a covardia ao lidar com a realidade que esse ato pode trazer. Está tudo aqui, na entrelinhas do filme de James Gray, obra que ousa expor a perigosa rima de amor com dor, mas sem permitir uma certa tímida beleza se esvair nesse processo. A falta de controle dos personagens sobre os outros e sobre si mesmo é o início do controle de quem os assiste para construir para si algum sentido, alguma doçura no meio das pinceladas amargas que Two Lovers expõe. Amantes é bem real, e nós sabemos o quanto isso pode significar - doer, curar, transformar.
Aparte pela cena da invasão, de longe a parte menos relevante do filme, é um filme impecável de uma cineasta bastante ciente de tudo que está fazendo. A atuação da Chastain não é essencial para o filme, mas é muito competente. Filmaço que não cai na histeria, sem bandeiras, julgamentos ou convenções desnecessárias ou exageradas, tudo é feito nas entrelinhas e na sutileza, Zero Dark Thirty é a definição de uma obra certeira e concisa.
O filme é uma bagunça verborrágica, estilística e até mesmo narrativa. Mas sabe aquela bagunça organizada? Então, completamente ciente do que seu filme é, e fazendo até de seu próprio objetivo e filosofia a edificação dessa bagunça, Linklater organiza um manifesto que chama, implora, pela falta de barreiras, comprometendo-se a essa ideia desde às suas ideias, embaralhadas na tela e na mente de quem as assiste, até a composição de cada quadro do filme. "Sonhar é destino" é a máxima, e com as mãos do diretor levando ela a cabo o que resta é sempre uma obra-prima diferente a cada revisita. Fascinante.
Quando um filme te deixa às lágrimas e arrepios por muitos minutos depois de terminada a sessão, e por mil motivos diferentes, eu sei que o que experienciei foi algo de bastante singular. A câmera de Sean Baker e o trabalho espetacular do elenco captaram algo de muito profundo em mim, sem dúvidas uma das experiências mais marcantes que tive com o cinema e o filme que defenderei com unhas e dentes até o final do ano. Obra-prima.
Call Me By Your Name é hipérbole, mas também é detalhe, é ideal mas também cruel, é alegre e ao mesmo tempo bastante consciente da responsabilidade de edificar tal alegria. O conto de fadas de Guandino é real e é fantástico, atingindo aquele agridoce difícil, catártico, em nuances únicas à própria trajetória de seus personagens e, de maneira admirável, aos contornos que se permite como adaptação - e outros em que se nega - em relação ao material original. Os minutos finais do filme devem ser alguns dos mais belos que assisti esse ano (e eu assisti uma temporada inteira de The Leftovers, devo dizer), e mesmo a lembrança deles reverbera agora com todo o peso do filme em minha sensibilidade, uma igualdade que se estabelece (ou companheirismo, não sei definir) entre tela e espectador, confiante e entregue. Isso é algo.
Mais que apenas um retrato, mas uma poesia melancólica, terna e dolorosa, Moonlight é impecável em sua narrativa, elenco e texto. Toda cena da obra chega a nós como completamente essencial e intensa: não há restos aqui, nada sobra nesse filme de Barry Jenkins - exceto o sentimento.
Um filme que começa morno e cresce de maneira intensa e assustadora, Christine consegue alcançar um amplitude incrível de temas e camadas dramáticas indo muito além do que se esperaria de um baseado em fatos reais dessa magnitude. E ainda sim, ao rolar dos melancólicos créditos, podemos absorver o admirável fato de que a obra consegue manter um maduro carinho em relação ao seu objeto de enfoque e título durante todo o seu decorrer - a empatia surge de maneira devastadora. (E Rebeca Hall é simplesmente parte mais que integrante do filme, a minha performance feminina favorita de 2016, sem dúvidas. )
É um filme que funciona em tantos níveis que é impossível deixar de admirá-lo mesmo quando ele cai, brevemente, em lugares comuns, seja em suas camadas de entretenimento, emocionais ou sociopolíticas. É um dos melhores do ano sem dúvida, e infelizmente uma obra bastante atual.
Algo não funciona muito bem aqui. A roupagem mais sombria e cética que passa a permear o resto dos filmes é muito bem instituída e há cenas admiráveis aqui, bem como certas escolhas de adaptação e elenco, mas o resultado delas é a de um filme frio, pouco humano. Em parte ouso dizer que isso se dá pelo roteiro, que adapta um calhamaço bem desinteressante e inchado que é o 6º livro de Rowling em situações bem fluídas sim, mas lacônicas e distantes, e isso talvez se ligue a mudança de roteirista, sendo este o único livro que Steven Kloves não adapta. Por outro lado, a visão do novo diretor da saga, que permanece até o fim dela - e se aperfeiçoa, espero - entra um pouco em choque com algumas necessidades da história, fazendo dA Ordem da Fênix um filme que mesmo quando empolga, não o faz tão intensamente quanto seus antecessores. É um bom início para David Yates e sua visão mais política na direção, mas que se apresenta um tanto insatisfatório no que se refere a sua carga dramática e força narrativa.
A trama desse aqui é maravilhosa, talvez uma das mais instigantes da saga. Mas o filme é meio longo, um problema da franquia que só Cuarón parece ter resolvido, e isso deixa um miolo no meio do filme que faz a gente parar e pensar "caramba, a gente só tá na metade", para logo em seguida nos surpreendermos com a chegada do final, que passa rápido e sem tanto impacto quanto poderia. Mas o filme tem seu impacto, e funciona muito bem, apesar dos pesares. Poderia sim ter seus aspectos mais explorado por um melhor diretor, principalmente nas cenas mais agitadas ou na relação de Harry, sua idade, e tudo o que está acontecendo, mas a direção consegue num geral se sustentar muito melhor do que a de Chris Columbus nos primeiros dois filmes, mesmo que desvaneça totalmente em comparação com o trabalho de Cuarón no anterior (e pelas barbas de merlim como eu quis que Cuarón tivesse tivesse dirigido esse também, imaginem só!). Alavancado por seu elenco maravilhoso, as proezas técnicas de sempre e pelo ótimo conteúdo de origem, o Cálice de Fogo é um ponto acima da média dentro da franquia, e nem mesmo as milhões de exibições diárias na TNT me fizeram mudar de ideia quanto a isso.
O que dizer?! Cuarón traz todas as potenciais qualidades do universo de Harry Potter até aqui aos seus respectivos ápices, fazendo não só um seguro blockbuster, mas uma obra pertinente, com entrelinhas temáticas, elegância narrativa e uma carga dramática que nem mesmo os últimos filmes da saga conseguem alcançar. A consciência de que seus personagens, em especial o que dá título à saga, são seres humanos e não meros arquétipos em favor do plot é crucial para o diretor dar a atenção devida às sutilezas de sua narrativa tanto quanto aos grandes acontecimentos que movem a trama. Pressagiando os tempos sombrios que viriam a seguir em o Cálice de Fogo e unindo esse sentimento de aproximação agourenta com os inúmeros conflitos que um jovem tomando cognição de quem é e do mundo em que vive sofre, HP3 consegue construir momentos bastante sinceros e poderosos, alguns até muito simples, gratamente distantes da burocracia que permeia outros filmes da saga, em especial os dois primeiros. É um filme direto, apaixonado e - justamente o que faltava a saga - inventivo, que tem as mão de um talento bastante humano por trás de sua direção. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é um dos grandes legados que a saga deixa ao cinema, e mais um na conta do diretor mexicano.
Antes de tudo eu preciso dizer que quase todas as cenas envolvendo o Tom Riddle são realmente ruins, sério, irritantemente novelescas e desnecessariamente expositivas em composição e na atuação do ator que interpretou o ditacujo. Além do flashback em preto-e-branco (sério, Columbus?), a cena em que Riddle e Harry se encontram no terceiro ato deve ser - e espero que seja - o maior micão de toda a saga, e por isso eu lamentei porque não precisava ser desse jeito e eu estava curtindo muito o filme até lá.
Maaas, pois bem, A Camara Secreta, apesar disso, são 160 minutos que passam voando! A saga tem esse poder, não sei como, mesmo no primeiro a duração tão longa do filme não pesou tanto em mim e aqui ela acaba sendo utilizada da mesma forma: com o objetivo de garantir uma fidelidade extrema aos livros. Felizmente, porém, a narrativa dessa vez se mostra muito mais fluída e instigante que em A Pedra Filosofal, assumindo finalmente uma identidade própria e discernível. Talvez pela troca do montador(?) ou pela falta da necessidade de apresentar tantas coisas num filme só como foi com seu antecessor, não sei, só o que sei é que houve um grande avanço. E com isso este segundo filme se torna muitas vezes mais do que apenas funcional em seu humor, potencial dramático e utilização do universo que possui, tendo seus altos e baixos nesses quesitos durantes seu decorrer inchado, mas deixando um saldo positivo em seu todo e abrindo caminho para filmes superiores a frente (tchau Columbus). Enfim, este capítulo da saga funciona muito bem por si só, mesmo sem a tal da nostalgia - que continua invariavelmente deliciosa de ser invocada. E próxima parada, Azkaban.
Quase Famosos
4.1 1,4K Assista AgoraEngraçado como algumas coisas acontecem. Nos últimos 6 anos eu assisti duas vezes a este filme e em ambas não consegui gostar tanto dele, tampouco entender o porquê dele ser tão amado por alguns (ou muitos). Entretanto, dessa vez, Quase Famosos me encantou por completo, se tornando talvez o meu roteiro favorito desse século. É um filme tão rico em textura narrativa, e isso se deve à praticamente todos os aspectos dele: do texto consciente e orgânico ao elenco em pura compatibilidade e inspiração para com seus personagens (em especial Kate Hudson, no que é muito provavelmente o papel de sua vida). Quase Famosos conquista um legado incrível de se pensar após tê-lo assistido: o de ser um filme extremamente subversivo e incomum e ao mesmo tempo manter um inocência tão singular e rara em qualquer filme ou lugar, que ele ganha pra mim um lugar muito especial na minha biblioteca. É uma obra com um coração colossal, que deixa clara sua entrega em relação ao seu objeto de fascínio - o rock'n'roll - enquanto não deixa de criar cada vez mais círculos envolta deste. O valor da arte, a existência hedonista, as máculas da fama e do ego, e mesmo um existencialismo muito delicado sobre como viver nossos instantes, toma lugar nos pulsantes cantos e subtextos do filme. Eu tô apaixonadíssimo por esse filme e bem feliz por ter dado mais uma chance. Quase 3 horinhas que passaram voando diante de tanto fascínio.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraAs Virgens Suicidas é como um longo e detalhado retrato, um polaróide curioso de desconhecidos encontrado por acaso. Observamos o cenário, os semblantes presentes ali, todos as pequenas sutilezas e trocas de olhares que podem ser percebidos e interpretados afim de transformar esse retrato distante em uma imagem, e então da imagem uma ideia e dessa ideia conquistar, infantilmente, uma compreensão. O filme de Sofia Coppola é sobre um desses retratos - a das virgens - mas também o é majoritariamente sobre o ato inexorável de produzir este engodo, essa tentativa sensível e pretensiosa de compreensão.
O universo das garotas Lisbon retratado na tela é uma criação: da diretora, dos garotos que narram e conjecturam sobre elas, da sociedade que as idealiza junto a estes. É de uma ousadia e perspicácia tremenda Coppola ter conseguido edificar um filme que, mantendo um vigor sigular por todo o seu decorrer, nos permite conhecer a constituição alarmante de um desconhecer. A cena final do filme é emblemática justamente por justapor essa contradição: o suicídio que dá título ao filme - e que, portanto, temos conhecimento em primeira mão - ocorre em paralelo ao fato de, ainda, não sabermos por certo nada sobre o que teria levado a ele. Assim também é a idealização dos jovens narradores, que ao imaginarem suas garotas se libertando de suas pressupostas prisões de maneira idílica são confrontados com um suicídio que põe esses pressupostos num lugar que só pode pertencer ao de uma terna, mas de várias formas danosa, ignorância. É perturbador refletir que o imaginário que cria as personagens das virgens é o mesmo que distancia de nós e dos outros personagens, seus verdadeiros universos. É um erro melancólico, ingênuo e carregado de tantos elementos sociais e existenciais que Coppola acaba com um mosaico grande demais para o seu próprio filme. E ela sabe disso, sabe de seu retrato frustrante. Mesmo assim, na verdade por isso mesmo, ano após anos, continua sempre fascinante participar da frustração melancólica que é esse filme.
Quase 18
3.7 607 Assista AgoraÉ um daqueles filmes que o humor rápido e irônico bate muito com o meu gosto, mas Quase 18 vai além disso: é também um coming-of-age que não abre espaço para concessões, é cruel, real, hilário, e ainda sim consegue conquistar um espaço para um otimismo nada condescendente - o que é deverás raro em qualquer filme, principalmente envolvendo adolescentes.
Para se rever, e descobrir a cada vez novas camadas agridoces. Dá pra pedir mais?
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraAronofsky perdeu o controle. Como fã de sua obra não posso dizer que a sutileza foi sempre o seu forte, mas o cuidado, a construção de nuances e, principalmente, a confiança em seu trabalho e em seu público eram algo que eu admirava no seu cinema junto às suas características específicas ao lidar com as mais diversas variações do tema da obsessão. Sendo assim, seus antigos filmes estariam para uma discussão acalorada enquanto Mother! é uma gritaria desesperada e infantil de uma criança ou de um bolsomito - a expressão "dedo no cu e gritaria" nunca fez tanto sentido quanto aqui.
A estrutura de Mother! é inteligente, a ideia do roteiro - por mais pretensiosa que seja - é muito curiosa e fecunda, e mesmo os primeiros dois atos do filme são bastante sustentáveis: a fusão da Mulher com a Casa, o incômodo crescente de um desgaste que chega à personagem e a nós - mesmo o close constante e irritante tem um sentido narrativo e coeso. Entretanto, é no terceiro ato, em que Mother! finalmente mostra o objetivo de seus contornos, que tudo desanda, inclusive os méritos dos primeiros atos.
A necessidade de fazer de cada frame um manifesto, um símbolo entregue sempre da maneira mais explícita e chamativa possível, aliada à uma concepção arrogante e cínica do mundo, que também é entregue da maneira mais over-the-top possível, é a maneira que Aronofsky arranja de encerrar seu filme. O paradoxo da arrogância de dar conta de tantos temas em paralelo a falta de confiança em seu próprio material - comprovada pelo carnaval que chega até a ser didático das últimas meia hora do filme - seria o que me deixou mais curioso com Mother!. Como uma cineasta tão talentoso como Aronofsky conseguiu chegar em tal receita para o desastre? É coisa de gênio mesmo.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraSeguindo a linha de outros filmes espetaculares como Boyhood e Frances Ha, Lady Bird é uma obra de pequenezas, que se importa prioritariamente com a autenticidade e carinho - por vezes até cruel por sua realidade - dos pequenos instantes de seus personagens, sozinhos e entre si, e constrói dessa maneira um mosaico sutil, mas catártico. Isso tudo é feito claramente de maneira muito consciente, se engana quem acha que edificar isso de maneira tão delicada - e sem apelar para recursos mirabolantes de câmera ou frases de efeito - é fácil. Sentimentos como a nostalgia ambivalente por nossa cidade natal e porto-seguro, a inocência juvenil - mas em alguns casos eternamente presente - que cada vez mais se choca com o mundo real ou mesmo o clichés que são sempre validados com a verdade que lhe são devidos denota uma imensidão de cuidado e entrega por parte do elenco e, principalmente, por parte de Greta Gerwig, diretora e roteirista do filme. Lady Bird tem coração, e isso é algo poucos filmes aclamados por seus "feitos cinematográficos" podem comprovar ter.
Um salve para esses seres iluminados que fazem filmes não para tirar algo a força de mim, mas sim deixarem suas obras trabalharem junto com o espectador. Isso é confiança, isso é uma arte que vale a pena para mim.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraO filme é um pouco longo, por vezes chega a ser cafona e não consegue manter sempre uma unidade - até porque muito talvez esse seja o seu objetivo. Entretanto, nada disso importa diante do universo singular e real que todos os elementos da obra, em consonância, constroem. 20th Century Women é riso e é choro, são aquelas perguntas que geralmente ninguém tem coragem de perguntar, é de uma sensibilidade que cativa acima de qualquer nota em falsa. Enfim, é um daqueles filmes que eu reveria a qualquer dia - e com certeza o farei.
A Forma da Água
3.9 2,7KO filme tem um problema bem contagioso que é o de não estabelecer de maneira satisfatória o seu fundamento: o romance que daria coração a toda mágica visual de sua narrativa. Enquanto perde tempo desenvolvendo um vilão que, no final, continua sendo invariavelmente preto no branco, duas cenas e a sempre temida montagem são o bastante para Del Toro dar por feita a criação dos laços dos dois personagens principais. Isso não é um erro grave, mas não me permitiu embarcar nas novas ambições do filme, lindas ambições, na medida em que ele avançava, tal foi a falta deste fundamento. O que ficou comigo foi uma admiração distante, quase exclusivamente técnica, e um pesar diante das possibilidades perdidas. A Forma da Água é um filme que pode fazer os olhos brilharem, só não chega nem perto de fazê-los precipitaram-se - como muito bem poderia ter feito.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraNada funciona muito bem no filme, o humor deslocado, os personagens caricatos e desinteressantes, o roteiro pífio e mesmo a direção de McDonagh não está nada inspirada. O que me levou até ao final foi a força da atuação de Frances McDormand e de sua personagem, que praticamente levam o filme na costas - o que não impedem de fazer do filme uma obra bastante descartável.
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraÉ um capítulo que completa a minha admiração eterna pela trilogia e por todos os envolvidos nela ao levar a cabo, na alegria e na dor, todos os pequenos detalhes de seus dois personagens e de sua relação. Tudo está aqui, cada piada maldosa recebida por um sorriso amarelo, o comentário doce mal recebido, as longas e "mágicas" conversas, a familiaridade reconfortante - todos os opostos de um agridoce extramente real e sem concessões: a proximidade com a distância, o amor e o ódio, a intimidade e o nojo, a prisão de ser alguém com alguém e a liberdade interior acessada por isso.
Before Midnight não seria o que é sem o peso de seus filmes anteriores, mas isso não é nem de longe um demérito: é do rigor sensível de todas as três obras que acabamos recebendo a ambiguidade singular que Jesse e Celine nos entregam. Obras-primas.
Antes do Pôr-do-Sol
4.2 1,5K Assista AgoraBefore Sunset é sobre uma fase intermediária da vida, dos personagens, da trilogia, mas ao mesmo tempo acaba sendo o filme mais universal da mesma. É certo que a vida tem suas maneiras de nos fazer enfrentar - ou fugir de - situações parecidas.
Relembrar pode significar dor ou esperança, e quando se adiciona o tempo nessa equação tudo ganha uma dimensão mais complexa, urgente e nem sempre muito clara para cada um. No contexto do filme, é preciso refletir sobre o que o amor pode significar e a potência que ele pode tomar em meio a esse tempo de lembrança, conjectura e calejamento. Todavia, com Before Sunset, e Jesse e Celine, são as nossas próprias perspectivas como indivíduos sempre nessa fase intermediária de tentar, de querer, de chegar, que entram em questão, daí a universalidade. Pois ainda estamos tentando. Sempre estaremos. Mesmo com o fim da inocência de observar um amanhecer - aquilo de nós e dos outros que perdemos e não recuperaremos mais - o imperativo é continuar a tentar. Como Jesse e Celine decidem tentar, e como o fazem nos próximos 9 anos que nos separam do próximo filme.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraÉ uma coisa espetacular rever esse filme e perceber que cada pequeno detalhe dos dois personagens e de sua relação têm influência nos próximos 18 anos da vida dos dois. Isso é um trabalho sem tamanho e que requer algo além de qualquer rigor técnico ou capacidade intelectual, mas uma qualidade sensível, que insere um coração para cada cena dos três filmes. Enfim, a mentira do cinema nunca é tão real quanto no cinema de Linklater, e é aqui que ela encontra um dos seus grandes ápices.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraO filme tem suas arestas - a longa duração, alguns exageros na uso da queda da quarta parede - mas ele conseguiu me fazer rir, me prender e depois me deixar bem, bem triste, e isso é algo muito interessante para um filme fazer comigo. A multiplicidade de enfoques, a narrativa pop, a audácia bem-vinda de fincar os pés na comédia, tudo acaba muito bem acertado, num nível ou em outro. E é em seu tema central, que consegue manter uma clareza por todo o filme sem soar superficial - a jornada não de uma atleta-produto ou mera fofoca, mas o papel limitador desta como tal pela sociedade e pelas instituições - que estabelece I, Tonya como uma obra acima da média, trazendo as reflexões e confrontos necessário à um mundo que ainda trata as mulheres de seu mundo tal como trataram Tonya Harding - nem santa nem monstro, mas um ser humano - em suas diversas e dolorosas máculas.
Amantes
3.5 340A paixão, a presença dos outros, a força - e o peso - do mundo, as convenções, o autoconhecimento, o egoísmo essencial, o altruísmo sufocante - a coragem de sentir e a covardia ao lidar com a realidade que esse ato pode trazer. Está tudo aqui, na entrelinhas do filme de James Gray, obra que ousa expor a perigosa rima de amor com dor, mas sem permitir uma certa tímida beleza se esvair nesse processo. A falta de controle dos personagens sobre os outros e sobre si mesmo é o início do controle de quem os assiste para construir para si algum sentido, alguma doçura no meio das pinceladas amargas que Two Lovers expõe. Amantes é bem real, e nós sabemos o quanto isso pode significar - doer, curar, transformar.
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraAparte pela cena da invasão, de longe a parte menos relevante do filme, é um filme impecável de uma cineasta bastante ciente de tudo que está fazendo. A atuação da Chastain não é essencial para o filme, mas é muito competente. Filmaço que não cai na histeria, sem bandeiras, julgamentos ou convenções desnecessárias ou exageradas, tudo é feito nas entrelinhas e na sutileza, Zero Dark Thirty é a definição de uma obra certeira e concisa.
Acordar para a Vida
4.3 789O filme é uma bagunça verborrágica, estilística e até mesmo narrativa. Mas sabe aquela bagunça organizada? Então, completamente ciente do que seu filme é, e fazendo até de seu próprio objetivo e filosofia a edificação dessa bagunça, Linklater organiza um manifesto que chama, implora, pela falta de barreiras, comprometendo-se a essa ideia desde às suas ideias, embaralhadas na tela e na mente de quem as assiste, até a composição de cada quadro do filme. "Sonhar é destino" é a máxima, e com as mãos do diretor levando ela a cabo o que resta é sempre uma obra-prima diferente a cada revisita. Fascinante.
Projeto Flórida
4.1 1,0KQuando um filme te deixa às lágrimas e arrepios por muitos minutos depois de terminada a sessão, e por mil motivos diferentes, eu sei que o que experienciei foi algo de bastante singular. A câmera de Sean Baker e o trabalho espetacular do elenco captaram algo de muito profundo em mim, sem dúvidas uma das experiências mais marcantes que tive com o cinema e o filme que defenderei com unhas e dentes até o final do ano. Obra-prima.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraCall Me By Your Name é hipérbole, mas também é detalhe, é ideal mas também cruel, é alegre e ao mesmo tempo bastante consciente da responsabilidade de edificar tal alegria. O conto de fadas de Guandino é real e é fantástico, atingindo aquele agridoce difícil, catártico, em nuances únicas à própria trajetória de seus personagens e, de maneira admirável, aos contornos que se permite como adaptação - e outros em que se nega - em relação ao material original. Os minutos finais do filme devem ser alguns dos mais belos que assisti esse ano (e eu assisti uma temporada inteira de The Leftovers, devo dizer), e mesmo a lembrança deles reverbera agora com todo o peso do filme em minha sensibilidade, uma igualdade que se estabelece (ou companheirismo, não sei definir) entre tela e espectador, confiante e entregue. Isso é algo.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraMais que apenas um retrato, mas uma poesia melancólica, terna e dolorosa, Moonlight é impecável em sua narrativa, elenco e texto. Toda cena da obra chega a nós como completamente essencial e intensa: não há restos aqui, nada sobra nesse filme de Barry Jenkins - exceto o sentimento.
Christine
3.7 212 Assista AgoraUm filme que começa morno e cresce de maneira intensa e assustadora, Christine consegue alcançar um amplitude incrível de temas e camadas dramáticas indo muito além do que se esperaria de um baseado em fatos reais dessa magnitude. E ainda sim, ao rolar dos melancólicos créditos, podemos absorver o admirável fato de que a obra consegue manter um maduro carinho em relação ao seu objeto de enfoque e título durante todo o seu decorrer - a empatia surge de maneira devastadora.
(E Rebeca Hall é simplesmente parte mais que integrante do filme, a minha performance feminina favorita de 2016, sem dúvidas. )
Invasão Zumbi
4.0 2,0K Assista AgoraÉ um filme que funciona em tantos níveis que é impossível deixar de admirá-lo mesmo quando ele cai, brevemente, em lugares comuns, seja em suas camadas de entretenimento, emocionais ou sociopolíticas. É um dos melhores do ano sem dúvida, e infelizmente uma obra bastante atual.
Harry Potter e a Ordem da Fênix
4.0 1,1K Assista AgoraAlgo não funciona muito bem aqui. A roupagem mais sombria e cética que passa a permear o resto dos filmes é muito bem instituída e há cenas admiráveis aqui, bem como certas escolhas de adaptação e elenco, mas o resultado delas é a de um filme frio, pouco humano. Em parte ouso dizer que isso se dá pelo roteiro, que adapta um calhamaço bem desinteressante e inchado que é o 6º livro de Rowling em situações bem fluídas sim, mas lacônicas e distantes, e isso talvez se ligue a mudança de roteirista, sendo este o único livro que Steven Kloves não adapta. Por outro lado, a visão do novo diretor da saga, que permanece até o fim dela - e se aperfeiçoa, espero - entra um pouco em choque com algumas necessidades da história, fazendo dA Ordem da Fênix um filme que mesmo quando empolga, não o faz tão intensamente quanto seus antecessores.
É um bom início para David Yates e sua visão mais política na direção, mas que se apresenta um tanto insatisfatório no que se refere a sua carga dramática e força narrativa.
Harry Potter e o Cálice de Fogo
4.1 1,2K Assista AgoraA trama desse aqui é maravilhosa, talvez uma das mais instigantes da saga. Mas o filme é meio longo, um problema da franquia que só Cuarón parece ter resolvido, e isso deixa um miolo no meio do filme que faz a gente parar e pensar "caramba, a gente só tá na metade", para logo em seguida nos surpreendermos com a chegada do final, que passa rápido e sem tanto impacto quanto poderia. Mas o filme tem seu impacto, e funciona muito bem, apesar dos pesares. Poderia sim ter seus aspectos mais explorado por um melhor diretor, principalmente nas cenas mais agitadas ou na relação de Harry, sua idade, e tudo o que está acontecendo, mas a direção consegue num geral se sustentar muito melhor do que a de Chris Columbus nos primeiros dois filmes, mesmo que desvaneça totalmente em comparação com o trabalho de Cuarón no anterior (e pelas barbas de merlim como eu quis que Cuarón tivesse tivesse dirigido esse também, imaginem só!).
Alavancado por seu elenco maravilhoso, as proezas técnicas de sempre e pelo ótimo conteúdo de origem, o Cálice de Fogo é um ponto acima da média dentro da franquia, e nem mesmo as milhões de exibições diárias na TNT me fizeram mudar de ideia quanto a isso.
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
4.2 1,6K Assista AgoraO que dizer?! Cuarón traz todas as potenciais qualidades do universo de Harry Potter até aqui aos seus respectivos ápices, fazendo não só um seguro blockbuster, mas uma obra pertinente, com entrelinhas temáticas, elegância narrativa e uma carga dramática que nem mesmo os últimos filmes da saga conseguem alcançar.
A consciência de que seus personagens, em especial o que dá título à saga, são seres humanos e não meros arquétipos em favor do plot é crucial para o diretor dar a atenção devida às sutilezas de sua narrativa tanto quanto aos grandes acontecimentos que movem a trama. Pressagiando os tempos sombrios que viriam a seguir em o Cálice de Fogo e unindo esse sentimento de aproximação agourenta com os inúmeros conflitos que um jovem tomando cognição de quem é e do mundo em que vive sofre, HP3 consegue construir momentos bastante sinceros e poderosos, alguns até muito simples, gratamente distantes da burocracia que permeia outros filmes da saga, em especial os dois primeiros. É um filme direto, apaixonado e - justamente o que faltava a saga - inventivo, que tem as mão de um talento bastante humano por trás de sua direção. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é um dos grandes legados que a saga deixa ao cinema, e mais um na conta do diretor mexicano.
Harry Potter e a Câmara Secreta
4.1 1,2K Assista AgoraAntes de tudo eu preciso dizer que quase todas as cenas envolvendo o Tom Riddle são realmente ruins, sério, irritantemente novelescas e desnecessariamente expositivas em composição e na atuação do ator que interpretou o ditacujo. Além do flashback em preto-e-branco (sério, Columbus?), a cena em que Riddle e Harry se encontram no terceiro ato deve ser - e espero que seja - o maior micão de toda a saga, e por isso eu lamentei porque não precisava ser desse jeito e eu estava curtindo muito o filme até lá.
Maaas, pois bem, A Camara Secreta, apesar disso, são 160 minutos que passam voando! A saga tem esse poder, não sei como, mesmo no primeiro a duração tão longa do filme não pesou tanto em mim e aqui ela acaba sendo utilizada da mesma forma: com o objetivo de garantir uma fidelidade extrema aos livros.
Felizmente, porém, a narrativa dessa vez se mostra muito mais fluída e instigante que em A Pedra Filosofal, assumindo finalmente uma identidade própria e discernível. Talvez pela troca do montador(?) ou pela falta da necessidade de apresentar tantas coisas num filme só como foi com seu antecessor, não sei, só o que sei é que houve um grande avanço. E com isso este segundo filme se torna muitas vezes mais do que apenas funcional em seu humor, potencial dramático e utilização do universo que possui, tendo seus altos e baixos nesses quesitos durantes seu decorrer inchado, mas deixando um saldo positivo em seu todo e abrindo caminho para filmes superiores a frente (tchau Columbus). Enfim, este capítulo da saga funciona muito bem por si só, mesmo sem a tal da nostalgia - que continua invariavelmente deliciosa de ser invocada.
E próxima parada, Azkaban.