Viagens no tempo sempre foram palco pra peças de teatro, filmes e livros - elas intrigam por que nos dão opções de alterar coisas que geralmente são inalteráveis. Time Lapse (que é separado por alguma razão, deveria ser Timelapse) explora de forma muito inteligente os paradigmas temporais com uma máquina que tira fotos do futuro, levando três jovens a se perderem em paranoia e lidarem com questões mal resolvidas do seu passado. Pra início de conversa, as atuações são terríveis - todas elas. É impressionante como absolutamente todos os atores desse filme são ruins ou mal dirigidos (acredito mais na primeira hipótese). Parece muito um filme universitário feito com amigos, porém diminuir o filme a uma só dimensão seria muito injusto - existem coisas muito boas nessas quase duas horas de filme. O roteiro é muito bom, surpreendente eu diria, em se tratando do tema - existem algumas facilitações narrativas, um pouco de exposição, mas em geral é um filme que deixa poucos 'furos' em uma narrativa que consiste de previsão de futuro. A direção do filme é sagaz e, ajudada pelo roteiro, faz boas menções do futuro (foreshadowing) com inteligência, sem aqueles planos óbvios - várias vezes você sabe que algo será relevante, mas só descobre como no último momento, o que é muito bom. O ritmo é problemático e até engraçado, os momentos onde se espera que o filme brilhe são os mais decepcionantes - o início do filme, a premissa sci-fi e os primeiros 'bons momentos' geralmente são os pontos altos de filmes desse gênero, aqui eles são sofríveis pela falta de carisma dos protagonistas. Entretanto, quando o filme começa a furar a camada do relacionamento (onde geralmente os filmes perdem impacto), Time Lapse começa a fica interessante e até a cativar um pouquinho... porém, surprise surprise, quando o filme se torna um thriller completo e as apostas ficam altas, o filme perde novamente o interesse, até que algumas exposições aparecem e o filme volta a fazer sentido. É bizarro como as partes menos interessantes me chamaram mais a atenção do que os elementos que são de fato 'interessantes'. O filme tem um orçamento baixo, são poucas locações, poucos personagens, o mundo é minúsculo e o design de produção é tosco (não parece que pessoas reais moram em nenhum dos apartamentos mostrados), porém o roteiro, essa peça fundamental e geralmente esquecida, funciona bem. Pra mim é um filme que vale a pena ser visto, apesar de todos os defeitos, roteiros bons são raros então não devem ser esquecidos... mas essa é a minha opinião. Por incrível que pareça eu recomendo esse filme, olha que ironia... só se esforcem pra passar do início que é bem maçante. :)
Desde a primeira sequência de The White Tiger vemos a preocupação em ser "diferente dos filmes indianos", porém está tudo lá - a pobreza em paralelo à riqueza, as classes determinando os destinos de cada indivíduo e no centro de tudo um protagonista que possui uma diretriz enraizada, mas luta para quebrar códigos de conduta que para não-indianos parecem pura invenção. A direção é precisa em mostrar urgência nas ações dos personagens, sempre tem alguma coisa acontecendo seja entre os mestres, entre os serviçais ou envolvendo ambos. Adarsh Gourav entrega muito mais do que parece, em uma camada superior da interpretação vemos as emoções e seus sentimentos, mas o que o ator consegue é passar a camada do pensamento e da real sensação - muitas vezes de vazio, indiferença e até amor - enquanto os acontecimentos vão tomando espaço. Os coadjuvantes estão bem, apesar de não aparecerem muito e o único que recebe mais destaque na narrativa, Ashok (Rajkummar Rao), funciona muito bem com a câmera distante, mas mostra um limite de atuação a medida que a câmera se aproxima. Existem alguns planos interessantes, tem aquele plano maravilhoso que aqui é usado muito em filmes no sertão, tem algumas sacadas visuais na movimentação e no posicionamento da câmera, mas nada muito genial. Provavelmente o que mais me incomodou no filme foram os desfechos. Geralmente existem acontecimentos marcantes que são indicados previamente (foreshadowing) e criam expectativa em quem está assistindo até que chegue o desfecho satisfatório ou a quebra de expectativa - aqui o que acontece é que o desfecho das subtramas é várias vezes óbvio e a demora é tanta que fica cansativo assistir. Vários elementos são apresentados e se mostram completamente irrelevantes para a trama enquanto acompanhamos jornadas de quase vinte minutos que em cinco minutos você diz "ah, vai acontecer tal coisa" - ressalto que não me incomodo com a criação da expectativa, mas em The White Tiger parece que o diretor está subestimando a audiência, tudo é apresentado cinco, seis vezes até que o desfecho aconteça e quando acontece... já está tão esperado que parece que falta alguma coisa. A história em geral é muito boa, o enredo é cativante e o protagonista é carismático, mas os elementos desprezados, a demora nos desfechos e algumas subtramas cansam e fazem esse filme não ser tão memorável quando merecia. Parasite (2019), Slumdog Millionaire (2008) ou Que Horas Ela Volta? (2015) trabalham os eixos desse filme muito melhor, com mais objetividade e enredos tão interessantes quanto esse. Apesar disso, vale a pena assistir... mas com um café do lado. :)
Cinema, salvo algumas exceções, compreende a difícil tarefa de contar uma história usando áudio e vídeo para fazer com que um espectador sinta alguma coisa que transcende as cores e os ruídos da película. Frase pseudo-sábia a parte, é difícil fazer uma pessoa 'sentir' algumas emoções por que cada pessoa tem uma história e um passado diferente - a comédia e o terror, por exemplo, sofrem absurdamente desse mal por que o que assusta ou é engraçado para um raramente é pro outro. O drama possui uma vantagem, existem maneiras de se manipular o espectador através do visual - vide The Schindler's List (1993) ou Gerald's Game (2017) - ou do som - como War Horse (2011) ou Fences (2016). E não tem problema nisso! Exceto quando só temos isso! Hillbilly Elegy tem um roteiro de superação e batalha que em alguns momentos lembra Peaceful Warrior (2006), que eu particularmente acho caricato e barato, com The Fighter (2010) que tem um confronto real e sincero que cativa o espectador. O problema do filme é que talvez tenha faltado segurança para o Ron Howard que acaba metendo os pés pelas mãos e apelando para absolutamente todos os tipos de manipulação - música motivacional, personagens que fazem uma viagem parecer uma batalha, situações fantásticas que seriam facilmente corrigidas no mundo real e interpretações de Amy Adams que, apesar de muito bem feitas, poderiam ser muito mais introspectivas e acabam se passando como caricatas e irrelevantes. Poderia se advogar que o roteiro é baseado em uma biografia, mas isso não salva o filme de ter um objetivo claro - estatuetas. A fotografia é operante e tem alguns momentos de brilho, a caracterização dos personagens é fora de série e Glenn Close consegue cativar e ser o ponto alto do filme. O protagonista é fraco e a história acaba se perdendo entre momentos de completa bagunça e criação de atmosfera que não surpreende - você sempre sabe para onde o filme vai virar e o que vai acontecer. Não é um filme ruim, longe disso, mas a maneira apelativa e manipulativa que o filme se desenha irrita e no final parece que você leu um livro de auto-ajuda disfarçado de terapia. Mas claro, cada um gosta do que quer. :)
Em 2017 eu escrevi um comentário sobre The Babysitter - bem grande até - enaltecendo as qualidades, rogando pra que o trailer não fosse visto, citando as referências e dizendo o quanto eu gostei da mudança brusca de tom. Infelizmente, três ano depois eu venho aqui fazer uma das coisas que eu menos gosto - falar de um filme que não gostei. Notem que eu não digo que é ruim, alguém vai gostar de The Babysitter: Killer Queen, não é o meu caso. Enquanto o primeiro filme tem uma narrativa original com a ingenuidade e pureza do protagonista criança segurando boa parte da credibilidade dos acontecimento, aqui é diferente, temos no protagonista um adolescente experiente que, novamente, parece uma criança - parece que o protagonista aqui é menos preparado do que no filme anterior e, pra mim, isso não faz o menor sentido. Os plot twists acavalados, previsíveis e super convenientes dificultam muito a conexão com o filme, os novos personagens são derivados dos anteriores e algumas personagens(que não citarei por respeito aos spoilers) têm flashbacks vazios e desnecessários. The Babysitter: Killer Queen é genérico, se leva a sério demais em alguns momentos e brinca demais em outros, subestima seu público e se esforça muito pra ser um filme que... olha que ironia... o primeiro filme consegue ser sem esforço. Judah Lewis deixa de ser uma criança inteligente e vira um adolescente burro, as novas protagonistas são caricatas demais e os subplots são esquecíveis e cansativos. O ritmo é até bom no início, nada demora muito pra acontecer, mas fica repetitivo muito rápido e muitas decisões são, no mínimo, questionáveis. A fotografia é interessante, algumas piadas funcionam (mas a maioria dá aquela vergonha alheia) e os personagens tem a profundidade de uma frigideira... eu sei que quem assistiu o primeiro vai ver o segundo, mas dificilmente eu recomendaria pra alguém dizendo 'Você precisa ver The Babysitter! E se gostar ainda tem o dois!!!'. Eu manteria só a primeira parte... infelizmente. Eu queria muito ter gostado desse filme.
El Bar é um daqueles filmes que é difícil de se identificar um gênero - tem thriller, tem comédia, tem até um pouco de ação, um gore ocasional... não é o primeiro a fazer isso, nem será o último. A direção opta por um tom cartunesco, quase teatral em certos momentos em oposição a uma abordagem mais séria que também funcionaria muito bem. Infelizmente o roteiro perde muito tempo tentando fazer 'viradas de mesa' e críticas sociais que nunca chegam a lugar algum - existe um interesse amoroso que promete algum tipo de interação, mas logo em uma (das muitas) mudança de tom do filme se perde; um monólogo sobre luta de classes parece iniciar um debate, mas em seguida se perde numa virada de tom absurda para o escatológico. Tudo existe a partir de uma premissa muito boa, mas que perde o sentido e acaba exigindo do público uma suspensão de descrença atrás da outra até que se torna só um escapismo absoluto. Além da dificuldade de lidar com 'ação' e 'reação', o filme trata seus personagens mais interessantes com desdém criando situações que seriam cômicas se o filme tivesse um tom constante durante toda a exibição. Me impressionou a destreza na filmagem, a caracterização dos personagens e o cenário são muito bem feitos, com detalhes muito bem trabalhados... porém só de palco a cena não se sustenta. As interpretações são muito interessantes, dá pra ver o empenho de alguns atores (especialmente Blanca Suarez, Terele Pávez e Jaime Ordoñez) enquanto o roteiro constantemente atira motivações como uma metralhadora aleatória de roteiro. Eu não recomendo o filme, mas recomendo alguns similares para quem gostou da temática, mas não gostou do filme em si - se lugares fechados com ameaça externa te chamou atenção, The Mist (2007) e até Dawn of the Dead (2004) fazem isso bem melhor; se foi a mudança de tom do filme, From Dusk 'til Dawn (1996) e Better Watch Out (2018) fazem isso de forma excelente; e se você quer ver seres humanos sendo levados ao máximo por situações adversas, dá uma olhada no quase desconhecido Cheap Thrills (2013). Todos esses, na minha humilde e sincera opinião, são bem melhores que El Bar... infelizmente... queria tanto que fosse melhor. :(
Já dizia o churrasqueiro que carne boa só pega labareda no início - depois o cozimento é lento e suave. Manchester by the Sea foi um filme que por muito tempo evitei assistir, muito pelo cansaço que ele me daria e pela falta de objetividade tanto comentada. Acontece que poucos filmes falam tanto sem dizer muito. A direção de Kenneth Lonergan deixa o espectador como figurante de um processo de luto, mas sem dar um falso glamour - geralmente cenas de morte são em câmera lenta, com trilha sonora emotiva e enquadramentos cativantes. Quem já presenciou um momento triste como esse deve saber que nada tem de câmera lenta, mas sim de momentos de solidão, reflexão e burocracia! Sim, burocracia hahaha. O filme retrata isso muito bem através dos passos do irmão mais novo interpretado pelo Casey Affleck que entrega aqui uma personagem com um passado violento, porém não glamorizado, assim como o luto e do semi-órfão Lucas Hedges que mostra a cru realidade de um adolescente que perde o pai. Talvez o ponto mais interessante desse filme sejam os diálogos... aqui eles até querem dizer alguma coisa, mas são panos de fundo para atuações, para sentimentos que não conseguem ser expostos e feridas que não se fecharam, mas - como na vida fora dos filmes - também não são o fim do mundo. Manchester anda, respira, caronas são dadas, deveres são feitos, juventudes são mantidas... poderia ser a minha família, ou a sua, talvez a do vizinho... não sei. Para mim um filme que eu assisti, esqueci... depois lembrei, digeri... esqueci de novo... assim como na vida, coisas tristes acontecem, mas vida que segue; apesar de que pequenas mudanças mostram como reformas são lentas, mas acontecem. Eu sei que quase ninguém vai fazer, mas a sensação de que o filme sai de um lugar e não anda pode ser amenizada facilmente quando terminamos de assistir, rebobinamos (hahaha) e assistimos novamente os primeiros 15 minutos - um exercício que mostra uma camada sutil que esse filme entrega. Recomendo pra quem cansou um pouco de assistir um filme e dizer "Nossa, isso jamais aconteceria na vida real" - desafio a dizerem isso sobre esse filme. ;)
Viagem no tempo é uma temática recorrente no cinema, geralmente carregada de confusões e inexplicabilidades é um tema que nos faz sonhar com realidades paralelas e acontecimentos impedidos. Infelizmente, a complexidade do assunto faz com que seja um trabalho muito árduo construir um roteiro 'explicável' ao mesmo tempo que tenha uma história que faça sentido. Em See You yesterday vemos os grandes clichês do gênero - o protagonista tentando evitar um acontecimento, os termos científicos rasos e sem sentido, a falta de coerência das linhas temporais criadas e o excesso de artimanhas narrativas. Felizmente o filme traz algumas ideias originais como lidar com racismo e violência policial; a representatividade do filme também merece destaque - pense em um filme de viagem no tempo com personagens negros em destaque e falhe miseravelmente (Men in Black 3 (2012) não conta, common...). O filme começa com um tom simplista e sonhador, porém migra para uma abordagem trágica e rapidamente se perde entre o lúdico e o drama, o que é uma pena... talvez uma pegada mais leve deixasse o filme mais tolerável. Os atores são competentes, mas não excelentes, a protagonista de Eden Duncan-Smith nunca convence e cria antipatia muito facilmente; Dante Crichlow segura um pouco com o carisma, porém a câmera parece gostar mais de Stro, que ganha enquadramentos mais empáticos, apesar de aparecer menos. O enredo não é ruim, porém a incoerência de sentimentos nos atores castiga - existem alguns momentos de luto que mostram personagens tristes que, alguns minutos depois, estão com emoções completamente avessas; em outras cenas o tom emocional não consegue ser atingido pela falta de desenvolvimento dos personagens. O alívio cômico do filme (Johnatan Nieves) é sofrível... de verdade... o roteiro não favorece e o menino não ajuda. O andamento do filme cai nos clichês de viagem no tempo (volta no tempo pra consertar algo, estraga outra coisa, volta no tempo...), os efeitos especiais são terríveis, porém a trilha sonora é energizante. O final do filme é incomum para filmes, porém não para o gênero. É um filme pipoca que pode divertir, mas não será memorável... talvez tenha potencial para ser lembrado como 'tão ruim que diverte', apesar de não ser tão ruim assim. Acredito que podemos encontrar coisas muito melhores com a temática viagem no tempo como Predestination (2014), ou Butterfly Effect (2004) que também não é lá grandes coisas, mas tem um ritmo coerente. Não vou citar Back to the Future por que né... Assista ae, vejam o que vocês acham! :)
What happened to Monday tem uma premissa excelente - em um mundo distópico onde casais só podem ter um filho, sete irmãs sobrevivem vivendo com uma identidade única. O filme começa muito promissor apresentando rapidamente o mundo, estabelecendo as regras e introduzindo algumas personagens (nem todas as irmãs são bem trabalhadas ao longo do filme). O clima tenso, a atmosfera ameaçadora e a sensação de 'parceria' das irmãs são ótimas e fazem você se importar com o filme. O início do conflito é gerido de maneira sensacional. E então... de repente... algo acontece. Algo assustador, inesperado e completamente fora de tom começa a tomar o filme - confesso que talvez a minha expectativa tenha sido muito equivocada para afirmar isso - e nada mais faz sentido. O filme inicia com essa atmosfera distópica (a lá judeus sendo perseguidos na segunda guerra) e, de uma hora pra outra, se torna um filme de pancadaria desenfreada com cenas de ação muito bem feitas e coreografadas, porém completamente incondizentes com a trama do filme. Parece que são dois filmes diferentes acontecendo - as subtramas (uma envolvendo uma primeira experiência, outra envolvendo um love-affair e uma até clichê envolvendo conspiração governamental) servem MUITO BEM para um filme distópico sobre fraternidade entre irmãs em uma situação difícil, mas aqui essas subtramas ficam picotadas em um filme de ação genérico, meio que um Jet Li em um mundo Missão Impossível. Experimente ir ao banheiro enquanto o filme está passando e veja que na volta parece que você está assistindo um filme completamente diferente - testado e aprovado :D. Noomi Rapace está empenhada em fazer o filme funcionar e isso conta bastante, porém o roteiro é tão clichê, pretensioso e o tom é tão inconsistente que é como assistir um equilibrista fazendo malabarismo em corda bamba pra uma plateia de 5 pessoas desinteressadas. Willem Dafoe, um excelente ator na minha opinião, completamente subaproveitado e Glenn Close sem conseguir achar o tom da atuação - a personagem dela é má, mas não é má... e tem motivos pra ser, mas não é... e quando quer ser, não tem motivos, mas acaba sendo... enfim, uma bagunça. Assim, eu não recomendo esse filme... mesmo... não recomendo. A ação é interessante, praticamente tem umas cenas de uma atriz fazendo sete pessoas lutando contra uns caras genéricos, mas o filme não faz sentido nem o suficiente pra ser divertido - o roteiro subestima o espectador até dizer chega e dá vontade de avançar pro final só pra confirmar que é isso mesmo. Que pena, era uma ideia muito boa. :)
Filmes de bandas sempre tem um público certo a cativar - Across the Universe (2007), por exemplo, é filme favorito de muita gente que não gosta de cinema; assim como Faroeste Caboclo (2013) conseguiu uma renda invejável no mercado brasileiro. Esse foi o risco que se corre quando se fala de Bohemian Rhapsody - tentar ser imparcial visto a importância musical de Queen. Pelo sim ou pelo não, o filme é extremamente competente em mostrar uma das bandas mais influentes da história e, ao mesmo tempo, entreter com qualidade.
As atuações são perfeitas, com destaque para Ben Hardy que se destaca como o baterista Roger Taylor - a picuinha com Freddie, o destaque preguiçoso e a dedicação à banda são traços marcantes da personagem que rouba quase todas as cenas que aparece (o que é DIFICÍLIMO com Freddie F* Mercury em cena); Gwilyn Lee (sim, olhei no cast por que esse nome é impossível de acertar) faz um Brian May competente e cativante; e Joseph Mazello interpreta o baixista que passa boa parte do filme em segundo plano, brilhando duas ou três vezes de uma maneira meio... estranha. O trio pode parecer apagado em alguns momentos, mas são interpretações quase que idênticas ao que se vê em documentários e vídeos - poderiam ter caído facilmente em estereótipos de bandas de rock, o que tiraria a realidade do filme.
Obviamente, a estrela aqui é Rami Malek. A fisicalidade do personagem, os trejeitos e a movimentação no palco e fora dele dão a ele toda a visibilidade que Freddie merecia em uma tela de cinema. Vê-se o ator sumindo na personalidade forte do artista que interpreta. Talvez o único ponto negativo seja a falta de músculos do ator - em alguns momentos clássicos fica evidente a diferença corporal entre os dois, mas nada que tire o trabalho fabuloso feito pelo Rami (apesar de que acho que não vem Oscar pra ele não, talvez uma indicação).
O filme anda rapidamente, nos primeiros 20 minutos a banda já está estabelecida, já temos um primeiro sucesso e tudo parece muito corrido. Uma crítica que eu fiquei foi a tentativa de colocar absolutamente todas as músicas famosas da banda na película - talvez 'menos' significasse 'mais' tempo pra discorrer sobre a banda em si. Muitas coisas são abandonadas ou colocadas na gaveta por conta do sucesso absoluto da banda. Ok, é uma decisão de direção. Eu já senti falta de um pouco mais de conflitos. Tudo fica meio 'diluído' no sucesso da banda - as brigas duram 5 minutos, discussões duram uma cena e as vezes parecia que eu estava assistindo uma Malhação de banda de rock.
Um pouco mais do meio do filme esse estilo é abandonado e, de fato, as coisas caem por terra. Nesse ponto o filme ganha MUITO impacto. Eu confesso que até essa marca tinha achado um filme nota 6, porém a reta final do filme é impecável. Desde a maneira como trata o reagrupamento, a sequencia final e a hora de terminar - é tudo perfeito!
Por último, mas não menos importante, o filme é lindo! A fotografia é muito boa, a iluminação é fenomenal e - agora sim - acho que cabe um Oscar para edição por que as sequências musicais são vibrantes, impulsionadas pela música, mas também pelo visual.
Assista Bohemian Rhapsody, ouça Queen e seja feliz. :)
Venom é, corrijam se eu estiver enganado por favor, o primeiro filme de vilão desde o início do famigerado MCU. O filme pode ser visto de duas formas - um filme sobre um simbionte alienígena que encontra um jornalista perdedor para ser seu hospedeiro; ou um filme da Marvel sobre um vilão icônico do herói mais lucrativo da companhia.
Olhando pelo segundo viés, temos um filme que carrega todo o tom dos filmes da Marvel em um personagem que, claramente, não aceita esse tipo de abordagem - falta sangue, falta maldade, falta ódio e, principalmente, falta um vilão. Sendo um pouco chato, o Batman de Batman vs. Superman (2016), que é um herói, é mais vilão que Venom (vilão declarado). O personagem maníaco e sanguinário dá lugar a uma espécie de Hulk que fala palavrão misturado com um Alf (sim... o eteimoso) que quer comer tudo que se mexe e se apaixona pelo planeta Terra. Nesse viés um filme absurdo e ridículo para os padrões 'marvelísticos'.
Já esquecendo o MCU temos um filme leve e desinteressado que apresenta algumas sequências de ação boas, um personagem cativante que funciona muito bem (a relação Brock/Venom é 'simbiótica'... risos) e um enredo de filme de ação de sessão da tarde sem surpresas, repleto de clichês e que faz tanto sentido quanto a sua suspenção de descrença permitir.
Tom Hardy faz um bom serviço, mas o roteiro é sofrível. As motivações vão se desenrolando sem nenhuma lógica, as alternâncias de tom são drásticas e absurdas (comédia/terror/ação/comédia se intercalam intermitentemente) e, por favor, alguém precisa parar as empresas de trailers... o trailer DESTRÓI completamente o terceiro ato do filme. Apesar dos problemas, a expectativa determina a nota final do filme - passa longe de ser um desastre, dá pra assistir tranquilamente, mas a ausência de um tom mais sério é visível, o vilão é unidimensional e o roteiro parece ter sido feito por alguém que viu uma imagem do Venom sem conhecer nada do personagem ou do básico de storytelling. Não é impossível de assistir, mas já temos coisas muito melhores... Tom Hardy merecia mais, quem sabe na continuação... se tiver. ;)
The Equalizer é um filme de ação padrão, porém com características que o diferenciam da 'grande massa de filmes de ação' - pra mim ainda não é um Die Hard (1988), mas também fica longe de um Skyscraper (2018). A característica que mais o diferencia é a paciência - a construção do personagem é feita lentamente por meio de diversas subtramas. Nós ainda não respeitamos McCall no início do filme, mas a sagacidade do roteiro nos deixa curiosos, mais ou menos na marca da metade não só o respeitamos como continuamos curiosos pra entender como ele se tornou o semi-deus que é. A apresentação do universo, seus amigos, sua vida, alguns traumas, sua rotina, tudo serve para conhecermos e sabermos o que esperar do protagonista e, ao menos pra mim, a força do filme se mantém na seriedade com que tudo é tratado - não temos quebra de personalidade, não temos momentos que duvidamos. McCall existe, no fim do filme você não diz que ele é um personagem, mas sim um Batman um pouco mais crível (e com um filme melhor :P) que podia ser seu vizinho. Isso se deve ao roteiro, mas também a excelente atuação de Denzel Washington - ele consegue dar seriedade até para as frases de efeito, consegue dar credibilidade até para os maiores absurdos (armas improvisadas, um cronômetro para ações impossível de se prever, instinto sobre-humano para o perigo). Uma coisa que poderia ter estragado o filme seria uma interpretação lúdica ou cafajeste - não é o caso.
O ambiente é vivo, as subtramas são tão genuínas que podemos sentir a cidade respirando enquanto o protagonista se desloca - é o restaurante, a cobrança policial, o emprego - tudo é de verdade, por que o roteiro vende isso muito bem. Estabelecidos o protagonista e o ambiente, o vilão também merece destaque. Ele é objetivo, sério e não tem medo de ser agressivo impondo sua superioridade, lembra muito The Wolf de Pulp Fiction(1994). Talvez da 'tríade protagonista-antagonista-ambiente', ele seja o mais fraco, porém muito mais por mérito do Denzel e do Fuqua do que demérito do Marton Csokas (coitado, tem cara e nome de vilão de filme de ação merda). Ele é imprevisível, calculista e, mais do que perigoso, ele é uma dúvida - durante quase todo o filme a questão é 'Será que o McCall é superior a esse cara?'. E isso é ridicularmente difícil de fazer, na maioria dos filmes de ação esperamos o fim do filme para ver o mocinho vencer o vilão e, na maioria das vezes, o herói tem que ser enfraquecido antes do embate pra criar a tensão necessária - aqui é diferente: as tentativas de enfraquecer McCall se mostram ineficazes e, mesmo assim, até o fim do filme fica uma pontinha de dúvida se ele vai dar conta do Russo doido num mano-a-mano.
Claro, o filme não foge dos clichês, precisa de suspensão de descrença, tem personagem subaproveitado, tem frase de efeito pra cacete, tem absurdos e facilitações narrativas, assim como previsões fáceis para o público (no início do filme você já sabe que o personagem X vai ser sequestrado, ou vai ter um momento de redenção, ou de semi-herói), mas o filme não trata o espectador como idiota, consegue 'surpreender' em algumas sequências e consegue fazer você sentir como se aqueles personagens realmente existissem (ok, alguns deles...). Recomendo pra quem não está com energia pra assistir Ben-hur (1959), mas também não quer desligar o cérebro completamente. :)
Antes de assistir MI - Fallout, eu assisti todos os filmes da franquia... e recomendo muito que ninguém faça isso. xD
O que Tom Cruise fez nesses anos é digno de uma placa em algum lugar - seis filmes com cinco diretores diferentes, uma verdadeira série de TV com um hiato cabuloso numa tela ridiculamente grande. Hahaha.
Nesse 'episódio' Ethan Hunt continua sua aventura do filme anterior (seria um episódio duplo? Hahaha) e continua perseguindo o Sindicato - a IMF inversa. As atuações continuam as mesmas dos outros filmes, rola toda uma atmosfera de super herói nas missões 'possíveis' e 'impossíveis'. Tudo é muito difícil e o cronômetro SEMPRE vai parar no último segundo - nada que estrague a graça, mas confesso que assistir todos os filmes na mesma semana tirou um pouco da experiência pra mim (em TODOS a bomba pára no finalzinho). Os personagens estão visivelmente mais velhos, com destaque pro Ving Rhames que já deveria ter encerrado com uma cena épica há muito tempo - Luther merece isso. O enredo continua com a mesma fórmula (insira formulaico se for muito cinéfilozinho), dá ruim no início, aí dá meio bom, aí algo tem que ser apostado por um bem maior, Ethan perde a aposta, surge uma solução do nada que na verdade é impossível e, eis que, atingimos o impossível.
Tom Cruise continua segurando o filme, apesar de que Henry Cavill também brilha consideravelmente na história - o cara é um monstro de grande e toda hora você fica pensando 'será que o Ethan dá conta?'. Os demais são bons coadjuvantes. O enredo é previsível pra quem conhece a franquia, mas é bem feito. A maneira como a história é contada é sensacional - várias locações bem apresentadas, perseguições e cenas de ação muito bem coreografadas (os efeitos práticos fazem valer cada segundo). Infelizmente o filme deixa de lado um pouco a 'espionagem' do MI1, MI3 e MI4, mas compensa com as perseguições... sério, o nível aqui pode ter atingido o topo... de verdade. Eu recomendo demais esse filme pra quem gosta de ação, pra quem gosta de Missão Impossível e pra quem está naquele sábado à noite sem filme pra assistir. ;D
Cada arte tem a sua característica, cada uma é única - o cinema, diferente da literatura ou da música, tem a seu favor a possibilidade de contar histórias usando mais de uma sensação. Uma trilha pode te deixar agressivo, emocionado ou confuso; uma imagem pode te deixar enojado, apreensivo ou fascinado; um enredo pode te deixar investido, alerta ou até mesmo exausto; o que You Were Never Really Here consegue a façanha de usar esses três eixos para mostrar agressividade, selvageria, violência. Lynne Ramsay consegue te deixar enojado com um sangue que você não sabe de onde saiu, consegue te deixar inquieto sem razão alguma, e até mesmo triste com uma final 'feliz'.
You Were Never Really Here é um filme de ação normal - tem o mocinho, o bandido, a menina a ser salva, a cena que ele entra batendo em todo mundo, o encontro final, a traição e o final - mas tudo contado de uma forma (ao menos pra mim) completamente inédita. O que não faz dele o MELHOR filme do gênero, mas COM CERTEZA um dos mais diferentes. Lembra um pouco Taxi Driver, mas é outra coisa... lembra um pouco Taken, mas é outra coisa... lembra um pouco León, mas é outra coisa... acho que isso que me chamou tanto a atenção no filme... ele não parece só um filme, parece outra coisa - genial. :)
Bom, eu sou a pior pessoa pra comentar qualquer coisa relacionada a Cloverfield - primeiro por que eu sou fã de filmes que subvertem gêneros (Unbreakeable, From Dusk Till Dawn, Split) e segundo que eu acho muito genial a maneira como J. J. Abrams e sua equipe constroem uma mitologia envolvente fora da tela sobre suas produções (quem acompanhou Lost a fundo sabe sobre o que estou falando).
Acho que uma das razões pela decepção desse filme se devem ao seu predecessor - 10 Cloverfield Lane (2016) - carregado de suspense, drama e excelentes atuações. Acontece que se ignorarmos sua existência vamos descobrir que Cloverfield nunca foi sobre suspense psicológico, o primeiro filme inclusive é quase um survival horror com monstros, gente explodindo e exército americano atirando em fumaça - cada filme foi sobre uma coisa diferente, como comparar? Cloverfield Paradox é inferior, claro. É clichê, se aventura por um terreno muito complicado - poxa, pensem em um filme que deu certo trabalhando com realidade paralela que agradou, eu lembro só de Mr. Nobody (2009) que nem é tão famoso assim, Donnie Darko (2001) que é cult e ninguém entende e Triangle (2009) que ninguém gosta... e Cloud Atlas... urgh.
Cloverfield Paradox não é o melhor filme do mundo, mas é um horrorzinho espacial aceitável, tem elementos bem encaixados de Alien, Interestellar, A coisa; tem uma atuação forte de Gugu Mbatha-Raw (ctrl+c ctrl+v, muito dificil esse nome) e cria tensão em alguns momentos. É um filme mediano que vai ser esquecido, assim como 80% dos filmes que saírem em 2018, vida que segue. No fim eu recomendo pra quem quer um filme rapidinho de assistir sem muito compromisso ou quem gosta da mitologia Cloverfield (como eu \o/); e sem comparações com os filmes anteriores da série - afinal, comparar o segundo com o primeiro não podia, por que comparar o terceiro com o segundo pode? ueh... :)
Aliás... como eu comecei esse comentário dizendo eu sou definitivamente a pior pessoa pra comentar Cloverfield então se você quiser desconsiderar tudo que eu disse, vá em frente. ;)
Meryl Streep e Tom Hanks... dirigidos por Steven Spielberg... com uma temática 'Davi vs. Golias'... sobre um importante acontecimento histórico nos Estados Unidos. Hahaha, beleza. The Post conta a história de um escândalo jornalístico que envolveu tentativas de acobertamento do governo Nixon em decisões tomadas na guerra do Vietnam, mas o filme fala ainda sobre liberdade de expressão, riscos, política e protagonismo feminino. Spielberg sabe como fazer um filme, isso é inegável; em The Post, até uma reunião chata é simples de acompanhar, a tensão existe mesmo que todos saibamos o desenrolar dos acontecimentos e o filme é longo, mas não pesa tanto. Tom Hanks está muito bem como Bradlee, mas Maryl Streep está (como sempre) fenomenal - e é difícil observar isso, pois sua personagem atua muito com os olhos e com sussurros, cada momento é importante, cada reação é muito bem desenvolvida e, claro, quando ela se impõe... ela se impõe né... é a Meryl Streep. Alguns planos são bem memoráveis, com destaque para o detalhe na impressão do jornal e a movimentação frenética acompanhando as personagens. O filme começa um pouco cansativo e demora um pouquinho pra apresentar seu confronto principal, mas a partir da metade ganha tensão e puxa o espectador pra beira do assento em algumas cenas - em especial a chegada de um advogado, uma ligação telefônica (wow) e uma reunião bem próxima da meia-noite. Se ganha no ritmo e na atuação, algo que me incomodou um pouco foram as tentativas de manipulação excessivas - todo lugar onde Maryl Streep entra tem uma particularidade (muito justa), mas que na terceira vez já fica óbvia e piegas (assim como acontece no final); o uso de alguns diálogos clichê também incomoda (faltou uma acizentada na moral de alguns personagens, alguns momentos parecem todos cavaleiros da lei e da ordem) e a trilha sonora às vezes tenta trazer mais emoção do que algumas cenas conseguem despertar sozinhas. The Post é um filme bem elaborado, importante para o momento e entretem muito bem, peca um pouco no clichê e na manipulação, mas é bem mais agradável que, por exemplo, Spotlight (2015). Eu recomendo pra quem gosta de filmes históricos e acho essencial pra quem gosta do gênero jornalístico. :)
Há muito eu discutia com uns amigos se avaliação de qualidade artística depende de contexto histórico, social ou é independente de qualquer conhecimento de mundo - spoiler, não chegamos a uma decisão final (e talvez nunca chegaremos). Lady Bird conta uma história adolescente sobre indecisão, insegurança, a 'dureza' da vida e a relevância (e irrelevância) que nossas ações têm nesse período. A direção é sensacional, as músicas refletem muito em as emoções sem serem muito óbvias, o design de produção é cuidadoso e a movimentação de câmera é simples, porém favorece o melhor do enredo - seus personagens. Agora o que me surpreendeu com Lady Bird foi a realidade, a retratação de um período e a semelhança do andamento do filme com a minha própria adolescência. E não estou dizendo que me identifiquei com a protagonista, muito pelo contrário, eis aí o que eu mais gostei do filme - eu conheci algumas Lady Bird, alguns Kyle, algumas Julies e alguns Padres Leviatch; já fui alguns inclusive. Lady Bird me ganhou por que é real, por que não é uma pintura linda ou macabra de uma cidade de interior, é uma cidade de interior. Seus personagens não existem somente na câmera, somente no recorte de 93 minutos, eles têm passado, presente, futuro, indecisões, carências e sonhos. Alguns mentem, alguns falam a verdade, alguns vão olhar pra trás e pensar 'que idiota que eu era' enquanto outros vão dizer 'precisava ter sido assim', como foi com Lady... err... Christine, e como deve ter sido com sua mãe. O filme não é 'inovador' ou 'perfeito', até mesmo a atuação de Saoirse é boa, mas nada memorável (longe de ser ruim, mas não é um marco para o cinema), inclusive acho que um destaque pra Laurie Metcalf seria muito mais sincero. O que Greta Gerwig fez foi mais que dirigir um filme, foi dirigir um recorte de uma realidade - se for a sua, talvez você goste do filme, se não for... bom, tem muitos outros filmes aí. Quero dizer... isso se a qualidade artística depender mais do espectador do que da obra, mas isso nunca vou saber. ;P
Não sou o maior fã de romances, nem o maior conhecedor de Woody Allen... acho que por isso mesmo que talvez eu tenha me impressionado de ler alguns comentários. Wonder Wheen traz uma atmosfera quase lúdica de um romance digno de ser chamado de tragédia. Tudo remete à uma roda gigante, desde o ritmo do filme, até os acontecimentos... a roda gigante é um conceito bem interessante de se explorar - ora você está em cima, vendo tudo e com clareza e tranquilidade, ora está embaixo oculto sob a sombra dos outros que se encontram no topo. Esse ciclo se repete em todos os personagens, apesar de ser mais claro em Ginny, interepretada por uma inspirada Kate Winslet. Justin Timberlake é um ator limitado, porém sempre acaba por ser eficiente em seus papéis; Juno Temple faz o básico e Jim Belushi é um excelente coadjuvante... porém o brilho fica todo com Kate Winslete, poucas vezes o filme sai do seu entorno e quando sai, é notável o peso que a narrativa ganha ao retornar ao seu trajeto. Apesar dos comentários maldosos pedindo a aposentadoria de Woody Allen, eu assistiria Wonder Wheel novamente, então não posso concordar com 'fim de carreira'... aliás, nem todo diretor tem que ser brilhante todo o tempo. Eu recomendo Wonder Wheel pra quem gosta de personagens femininas fortes no cinema, pra quem gosta de uma fotografia cuidadosa e pra quem não quer se levar a sério em cada filme que assiste... aliás, tem uma reflexão sobre teoria/prática muito divertida que vale a pena ser lembrada. :)
O que David Lowery fez é interessante - a ghost story não é um filme de terror, o elemento fantasmagórico aqui é visto como uma brincadeira, talvez até uma analogia com a mensagem do filme; aliás, mensagem do filme? Será que tem uma mensagem ou será que esse filme é só um apanhado de conceitos apresentados de maneira minimalista para que o público se identifique ou conheça um pouco sobre luto?; luto? Será que é sobre luto, ou seria esse somente uma parte de algo muito maior que o diretor quis dizer?; afinal, será que ele quis dizer alguma coisa, será que alguma coisa precisa ser dita ou será que todos nós perdemos 92 minutos do nosso tempo?
Acho que se essas perguntas acima te ofenderam, ou tu preferia não ter lido nenhuma delas, ou não ficou nem curioso para as respostas, talvez você devesse assistir outro filme. Ou não.
Atomic Blonde conta uma história dos últimos espiões de uma guerra fria motivada pelos interesses bélicos de mais de uma nação em conflito e, convenhamos, não tem nada muito novo nesse roteiro. O destaque do filme, porém é a excelência em um gênero - ação. A ação que vem sendo explorada nos últimos anos até sua exaustão, técnicas de cortes rápidos para agilizar as sequências, reviravoltas na trama para cativar o espectador e perseguições de veículos foram usadas e abusadas em filmes como Tak3n (hahaha), Jason Bourne e tantos outros. E Atomic Blonde vêm justamente fazer um contraponto com esse abuso - em vez de batalhas sangrentas entre super heróis de jeans, lutas viscerais com direito a um plano sequência excelente (ok, tem uns cortes falsos alí, mas mesmo assim deve ter dado um trabalho insano), uma movimentação de câmera que desafia os curiosos e imprime um visual intimista para perseguições e uma trama simples, porém efetiva - dificilmente você se surpreende muito, mas pelo menos não é tããão manjado assim. A trilha sonora é muito boa, apesar de sobrar em alguns momentos e as presenças de Charlize Theron e James McAvoy fazem de Atomic Blonde um dos filmes de ação mais eletrizantes (hahaha) dos últimos tempos. Olha, David Leitch já foi responsável por cenas memoráveis em John Wick e agora por essa obra-prima da ação que é Atomic Blonde, palmas pro rapaz, ele entende muito bem como fazer uma sequência de pancadaria parecer crível e sobrenatural ao mesmo tempo. Recomendadíssimo para os fãs de ação. :)
"Antes de qualquer coisa, você que não viu o filme e veio procurar indicação ou não - por favor, NÃO VEJA O TRAILER. De nada :)".
Better Watch Out é um filme diferenciado e isso pode tanto prejudicar sua recepção quando acentuar seu impacto. Seu gênero é muito subjetivo, ele transita entre a comédia para o terror e passa por thriller, invasão domiciliar, filme natalino... O roteiro é sagaz e consegue ser bem esperto, apesar de que o roteiro deixa muitos buracos - eu diria que é um daqueles filmes com um ritmo tão bom que você termina ele pensando 'meu deus, que filme sensacional', mas quando olha pra trás pensa 'não... espera... mas por que aconteceu X? Por que ele disse Y?' e aí os buracos narrativos ficam muito evidentes. Levi Miller está sensacional aqui, ele consegue trazer uma emoção muito peculiar ao espectador quanto ao seu personagem, algo que Macaulay Culkin fez no inícios dos anos 90 em um de seus filmes (hahaha), Ed Oxenbould também ganha alguns bons momentos e Olivia DeJonge faz o basicão pro filme se manter. Talvez o maior defeito do filme seja seu tom, em alguns momentos ele se leva a sério de mais e acaba ficando um pouco absurdo demais e para esse, digamos, 'estilo' de filme é necessário que os acontecimentos sejam críveis ou que o filme seja auto-consciente - Better Watch Out é consciente em momentos que exige peso e se leva muito a sério em momentos que exigem suspensão de descrença. O acerto vem pela originalidade, o filme se reinventa a cada momento e, por ser curto e ter um ritmo acelerado, não causa sono e carrega o espectador com cuidado e suavidade - é como andar em uma montanha-russa fechada, você sabe que uma hora o carro vai cair, mas não sabe como, quando ou pra que lado ele vai sacudir. No final, o filme diverte muito, irrita muito em alguns momentos e, ao menos pra mim, faltou um pouco mais de payoff (apesar de que o filme termina EXATAMENTE onde deve). Só um detalhe: comparar Better Watch Out com The Babysitter (2017) é como comparar Indiana Jones com A Múmia, os dois começam meio que da mesma maneira, mas em 10 minutos de filme fica evidente que são completamente diferentes. Ah, pra quem gostar desse, assista depois Cheap Thrills (2013), fica a dica ae. ;)
Star Wars é uma franquia querida por muitos, inclusive por mim, portanto é muito difícil manter a serenidade e deixar a paixão de lado para assumir as falhas ou aceitar as mudanças do novo filme. The Last Jedi traz novos elementos para a epopéia espacial de George Lucas, assim como desfaz laços com personagens e estruturas já bem definidas na série - algo que pode ser positivo ou negativo conforme gostos pessoais, aceitação e, principalmente, box office. A cinematografia é excelente, possivelmente as tomadas mais lindas de toda a série estão aqui, algo que foi feito (creio eu) meio por acaso em A New Hope aqui surge com maestria - o design de um planeta específico é extremamente estético e merece os aplausos. Se o design e a fotografia superam as expectativas, o mesmo já não pode ser dito do roteiro. O ritmo do filme sofre muito (muito mesmo) por conta de sequências irrelevantes, inclusive um arco inteiro do filme poderia ser retirado sem absoluta perda de coesão narrativa, assim como alguns personagens introduzidos que prometem excessivamente e simplesmente... desaparecem. É o caso de Holdo e outra personagem (sem spoilers) que se assemelha a um Bobba Fett Han-Solístico, digamos assim... ambos me deixaram intrigado e investido para serem somente artifício narrativo que não 'vence nem convence'. Da mesma maneira, um supremo líder Snoke (que outrora me decepcionou no filme anterior) agora vem com peso e presença aqui, porém, semelhante ao que acontece com Finn... é reduzido a um elemento narrativo meio que no estilo 'ok, temos essa personagem, o que fazemos com ela?'. Oscar Isaac tem uma curva interessante, eu diria que até brilhante, mas acaba sofrendo por receber visibilidade demais sendo um coadjuvante - aliás, um coadjuvante de luxo, pois o personagem é excelente... mas foi como se produzissem uma temporada inteira de How I Met Your Mother para Barney, ou um filme inteiro para o Hawkeye; bons coadjuvantes em geral não funcionam tão bem como protagonistas. O filme ainda perde alguns pontos por alguns artifícios narrativos usados no excesso, como a subversão de expectativa - usada uma vez, até duas, funciona perfeitamente... porém em alguns momentos você pára de levar tudo a sério, afinal, a cada dez minutos alguma coisa 'quase' acontece, só que não :/ . Inclusive, algumas dessas sequências poderiam causar repercussões ótimas para a série, seria realmente diferente e inovador... porém parece que sobrou coragem em romper com o passado e faltou coragem de propor uma verdadeira mudança de paradigmas. Finalmente, tenho certeza que esse filme vai causar impressões diferentes, alguns vão gostar muito, outros nem tanto - normal quando nos importamos com o que está na tela. Porém até o maior fã de The Last Jedi tem que concordar que existem muitas simplificações narrativas e arcos completamente descartáveis, assim como os odiadores do filme tem que concordar que o filme traz uma cara nova pra uma franquia que dificilmentne tem se reinventado nos últimos anos. Indicando ou não, todo mundo vai assistir... mas preciso dizer que lá no fundinho (onde realmente importa) eu saí de Force Awakens maravilhado... e saí de The Last Jedi cansado e confuso. :)
Narrativas com deficiências, doenças ou acidentes são comuns em retratar sofrimento e superação de seus protagonistas quando o mundo deles se limita por suas condições. Wonder apresenta o jovem Auggie superando o preconceito da sociedade sobre sua aparência, porém o que mais chama a atenção nesse filme é que ele subverte toda a expectativa do gênero. Enquanto a maioria dos filmes apresenta as dificuldades vividas por sua personagem principal, Wonder expande muito mais a narrativa para seus arredores - sabemos como sua condição afeta sua mãe, seu pai, sua irmã e outros personagens da trama. É interessante observar como ter Auggie como irmão influencia em Via ou em Miranda; assim como destaca a singularidade da vida do menino ao mesmo tempo que a coletividade dos acontecimentos - a identificação com ele é quase instantânea pra qualquer um que se sentiu diferente em alguma etapa da vida. O filme usa alguns recursos narrativos para sabermos o pensamento dos personagens e alguns pontos da trama são tão 'redondinhos' que a sensação de 'já vi isso antes' é automática, porém a montagem deixa o filme fluido e o design de produção faz tudo na tela parecer interessante - na minha experiência, só lembrei que o tempo passou quando faltavam cinco minutos pra terminar o filme, e fazia tempo que isso não acontecia :P. Jacob Tremblay já foi excelente em Room (2015) e aqui trabalha como pode em Auggie... a maquiagem deve ter dificultado um pouco, mas em momento nenhum o ator mirim mostra fragilidade. Owen Wilson está perfeito e Julia Roberts não está perfeita, mas esta muito bem. A surpresa pra mim foi Noah Jupe, como Jack Will, que eu achei o melhor do filme, enquanto a decepção foi Izabela Vidovic que me pareceu limitada pra interpretar Via... a personagem possui muitas camadas e é muito complexa, talvez alguém mais experiente conseguisse uma performance melhor - inclusive isso se destaca bem em uma cena com a Sônia Braga (#vaiBrasil). O filme faz chorar, comove, diverte e, apesar de te fazer sentir pena em alguns momentos, constantemente lembra que todos temos as nossas imperfeições e que a vida é infinitamente mais complexa do que parece - um rosto bonito não garante felicidade, assim como uma deformidade facial não determina alegria. Filme recomendadíssimo. :)
Coloque em um liquidificador um slasher auto-consciente como Scream(1996), o humor negro de Child's Play(1988) com os protagonistas de Moonrise Kingdom(2012) e uma pá de referências da cultura pop dos anos 80 e 90 e você tem The Babysitter. O filme não se trata de um terror, apesar de ter alguns elementos do gênero. Inclusive, esse filme é quase uma completa subversão de vários gêneros, temos aqui aventura, terror, comédia, drama adolescente e muita, mas muita referência - o filme é um prato cheio pra quem gosta de dizer 'ahhh, isso é do filme X.'. Desde Terminator até The Anchorman, o filme parece ter sido feito como uma desculpa para agrupar tudo que a geração nascida em 90 sente falta (eu sei, eu sei, nem toda geração... blz). As atuações são medianas, talvez o mais exigido seja o Judah Lewis que faz um adolescente passando pela puberdade sofrendo com possibilidades de divórcio dos pais, paixões platônicas e bullying, e ele faz um trabalho bem interessante - dá pra sentir, por exemplo, ele esconder dos pais algumas atitudes que o mesmo julga super adultas ("Mom, I know that pussy means vagina."), assim como fica evidente sua imaturidade em pensar que esses detalhes são as principais mudanças na sua vida. O roteiro não é excelente, longe disso, usa artifícios baratos, alguns clichês preguiçosos (mas não todos, alguns estão lá justamente para destacar a auto-consciência do filme) e podia ser um pouco mais sensato em rir de si mesmo em algumas oportunidades. Por outro lado, o filme é sagaz em subverter expectativas, consegue fazer boas antecipações, trabalha bem com a câmera (exceto em algumas 'invenções' que não funcionam) e tem uma cinematografia consciente (acho que repeti muito essa palavra... hehe). Babysitter me agradou muito, é divertido, envolvente, rápido, inteligente e acho que funciona perfeitamente como um entretenimento casual. Recomendo de verdade pra todos que procuram uma comédia divertida pra, sei lá, um domingo à tarde... assistir com os amigos... algo leve. :)
Algumas vezes a ficção nos aterroriza, outras tantas nos assusta... mas quando é a realidade que está na tela, aí que a coisa fica feia. Detroit é quase um recorte de um período de rebeliões onde Detroit foi palco de muita violência, intolerância e tristeza. O filme faz um panorama sobre os acontecimentos, situa muito bem o espectador e o coloca na pele de alguns personagens que viveram um episódio marcante envolvendo abuso de autoridade, racismo e... bom... maldade, não tem outra palavra. O filme consegue fazer de maneira brilhante as transições do 'macro' pro 'micro' através de jornais, matérias e flashbacks de eventos, enquanto nos carrega aos poucos para a história principal por meio de episódios pontuais e diálogos dignos de ranger de dentes - tem uma conversa na delegacia que apresenta a situação de uma maneira sensacional. Apesar de excelente, o primeiro terço do filme lentamente constrói o que (pra mim, óbvio) é a jóia de Detroit - o hotel. Toda a antecipação (foreshadowing, pra quem gosta de dificultar as palavras) dá lugar a um 'miolo' seco, angustiante, corajoso e, o pior de todos, vívido. Você se sente com os personagens, você sente medo, você sente frustração, você sente raiva e, por conta da atualidade do tema, você se pergunta em cada momento 'em que lugar dessa sala eu estou na minha vida?'. John Boyega faz um mediador otimista habitando um inferno, age como um espectador no meio da narrativa. Sua personagem faz o que pode sem se comprometer, lúcido do sistema, lúcido da injustiça, mas ao mesmo tempo observando os absurdos cometidos. Algee Smith brilha ainda mais, transitando entre ser o observador e o observado - talvez um dos maiores catalisadores do drama da história. Agora quem me surpreendeu de verdade foi Will Poulter (que eu nunca apostei muitas fichas) e cumpre seu papel aqui de maneira formidável. Pior que sua personagem, só o fato de identificarmos seus comportamentos, argumentos e suas consequências em colegas, amigos e familiares (pra não dizer nós mesmos). O filme perde um pouco de impacto na terceira parte, mas o resumo completo pra mim foi um cansaço extremo durante a rolagem dos créditos. O 'pós-filme' pra mim foi muito parecido com o de Moonlight (2016), devido ao impacto e ao peso. Recomendo sem sombra de dúvidas, por favor, assistam esse filme. :)
Lapso Temporal
3.2 394 Assista AgoraViagens no tempo sempre foram palco pra peças de teatro, filmes e livros - elas intrigam por que nos dão opções de alterar coisas que geralmente são inalteráveis. Time Lapse (que é separado por alguma razão, deveria ser Timelapse) explora de forma muito inteligente os paradigmas temporais com uma máquina que tira fotos do futuro, levando três jovens a se perderem em paranoia e lidarem com questões mal resolvidas do seu passado. Pra início de conversa, as atuações são terríveis - todas elas. É impressionante como absolutamente todos os atores desse filme são ruins ou mal dirigidos (acredito mais na primeira hipótese). Parece muito um filme universitário feito com amigos, porém diminuir o filme a uma só dimensão seria muito injusto - existem coisas muito boas nessas quase duas horas de filme. O roteiro é muito bom, surpreendente eu diria, em se tratando do tema - existem algumas facilitações narrativas, um pouco de exposição, mas em geral é um filme que deixa poucos 'furos' em uma narrativa que consiste de previsão de futuro. A direção do filme é sagaz e, ajudada pelo roteiro, faz boas menções do futuro (foreshadowing) com inteligência, sem aqueles planos óbvios - várias vezes você sabe que algo será relevante, mas só descobre como no último momento, o que é muito bom. O ritmo é problemático e até engraçado, os momentos onde se espera que o filme brilhe são os mais decepcionantes - o início do filme, a premissa sci-fi e os primeiros 'bons momentos' geralmente são os pontos altos de filmes desse gênero, aqui eles são sofríveis pela falta de carisma dos protagonistas. Entretanto, quando o filme começa a furar a camada do relacionamento (onde geralmente os filmes perdem impacto), Time Lapse começa a fica interessante e até a cativar um pouquinho... porém, surprise surprise, quando o filme se torna um thriller completo e as apostas ficam altas, o filme perde novamente o interesse, até que algumas exposições aparecem e o filme volta a fazer sentido. É bizarro como as partes menos interessantes me chamaram mais a atenção do que os elementos que são de fato 'interessantes'. O filme tem um orçamento baixo, são poucas locações, poucos personagens, o mundo é minúsculo e o design de produção é tosco (não parece que pessoas reais moram em nenhum dos apartamentos mostrados), porém o roteiro, essa peça fundamental e geralmente esquecida, funciona bem. Pra mim é um filme que vale a pena ser visto, apesar de todos os defeitos, roteiros bons são raros então não devem ser esquecidos... mas essa é a minha opinião. Por incrível que pareça eu recomendo esse filme, olha que ironia... só se esforcem pra passar do início que é bem maçante. :)
O Tigre Branco
3.8 403 Assista AgoraDesde a primeira sequência de The White Tiger vemos a preocupação em ser "diferente dos filmes indianos", porém está tudo lá - a pobreza em paralelo à riqueza, as classes determinando os destinos de cada indivíduo e no centro de tudo um protagonista que possui uma diretriz enraizada, mas luta para quebrar códigos de conduta que para não-indianos parecem pura invenção. A direção é precisa em mostrar urgência nas ações dos personagens, sempre tem alguma coisa acontecendo seja entre os mestres, entre os serviçais ou envolvendo ambos. Adarsh Gourav entrega muito mais do que parece, em uma camada superior da interpretação vemos as emoções e seus sentimentos, mas o que o ator consegue é passar a camada do pensamento e da real sensação - muitas vezes de vazio, indiferença e até amor - enquanto os acontecimentos vão tomando espaço. Os coadjuvantes estão bem, apesar de não aparecerem muito e o único que recebe mais destaque na narrativa, Ashok (Rajkummar Rao), funciona muito bem com a câmera distante, mas mostra um limite de atuação a medida que a câmera se aproxima. Existem alguns planos interessantes, tem aquele plano maravilhoso que aqui é usado muito em filmes no sertão, tem algumas sacadas visuais na movimentação e no posicionamento da câmera, mas nada muito genial. Provavelmente o que mais me incomodou no filme foram os desfechos. Geralmente existem acontecimentos marcantes que são indicados previamente (foreshadowing) e criam expectativa em quem está assistindo até que chegue o desfecho satisfatório ou a quebra de expectativa - aqui o que acontece é que o desfecho das subtramas é várias vezes óbvio e a demora é tanta que fica cansativo assistir. Vários elementos são apresentados e se mostram completamente irrelevantes para a trama enquanto acompanhamos jornadas de quase vinte minutos que em cinco minutos você diz "ah, vai acontecer tal coisa" - ressalto que não me incomodo com a criação da expectativa, mas em The White Tiger parece que o diretor está subestimando a audiência, tudo é apresentado cinco, seis vezes até que o desfecho aconteça e quando acontece... já está tão esperado que parece que falta alguma coisa. A história em geral é muito boa, o enredo é cativante e o protagonista é carismático, mas os elementos desprezados, a demora nos desfechos e algumas subtramas cansam e fazem esse filme não ser tão memorável quando merecia. Parasite (2019), Slumdog Millionaire (2008) ou Que Horas Ela Volta? (2015) trabalham os eixos desse filme muito melhor, com mais objetividade e enredos tão interessantes quanto esse. Apesar disso, vale a pena assistir... mas com um café do lado. :)
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraCinema, salvo algumas exceções, compreende a difícil tarefa de contar uma história usando áudio e vídeo para fazer com que um espectador sinta alguma coisa que transcende as cores e os ruídos da película. Frase pseudo-sábia a parte, é difícil fazer uma pessoa 'sentir' algumas emoções por que cada pessoa tem uma história e um passado diferente - a comédia e o terror, por exemplo, sofrem absurdamente desse mal por que o que assusta ou é engraçado para um raramente é pro outro. O drama possui uma vantagem, existem maneiras de se manipular o espectador através do visual - vide The Schindler's List (1993) ou Gerald's Game (2017) - ou do som - como War Horse (2011) ou Fences (2016). E não tem problema nisso! Exceto quando só temos isso! Hillbilly Elegy tem um roteiro de superação e batalha que em alguns momentos lembra Peaceful Warrior (2006), que eu particularmente acho caricato e barato, com The Fighter (2010) que tem um confronto real e sincero que cativa o espectador. O problema do filme é que talvez tenha faltado segurança para o Ron Howard que acaba metendo os pés pelas mãos e apelando para absolutamente todos os tipos de manipulação - música motivacional, personagens que fazem uma viagem parecer uma batalha, situações fantásticas que seriam facilmente corrigidas no mundo real e interpretações de Amy Adams que, apesar de muito bem feitas, poderiam ser muito mais introspectivas e acabam se passando como caricatas e irrelevantes. Poderia se advogar que o roteiro é baseado em uma biografia, mas isso não salva o filme de ter um objetivo claro - estatuetas. A fotografia é operante e tem alguns momentos de brilho, a caracterização dos personagens é fora de série e Glenn Close consegue cativar e ser o ponto alto do filme. O protagonista é fraco e a história acaba se perdendo entre momentos de completa bagunça e criação de atmosfera que não surpreende - você sempre sabe para onde o filme vai virar e o que vai acontecer. Não é um filme ruim, longe disso, mas a maneira apelativa e manipulativa que o filme se desenha irrita e no final parece que você leu um livro de auto-ajuda disfarçado de terapia. Mas claro, cada um gosta do que quer. :)
A Babá: Rainha da Morte
2.8 376 Assista AgoraEm 2017 eu escrevi um comentário sobre The Babysitter - bem grande até - enaltecendo as qualidades, rogando pra que o trailer não fosse visto, citando as referências e dizendo o quanto eu gostei da mudança brusca de tom. Infelizmente, três ano depois eu venho aqui fazer uma das coisas que eu menos gosto - falar de um filme que não gostei. Notem que eu não digo que é ruim, alguém vai gostar de The Babysitter: Killer Queen, não é o meu caso. Enquanto o primeiro filme tem uma narrativa original com a ingenuidade e pureza do protagonista criança segurando boa parte da credibilidade dos acontecimento, aqui é diferente, temos no protagonista um adolescente experiente que, novamente, parece uma criança - parece que o protagonista aqui é menos preparado do que no filme anterior e, pra mim, isso não faz o menor sentido. Os plot twists acavalados, previsíveis e super convenientes dificultam muito a conexão com o filme, os novos personagens são derivados dos anteriores e algumas personagens(que não citarei por respeito aos spoilers) têm flashbacks vazios e desnecessários. The Babysitter: Killer Queen é genérico, se leva a sério demais em alguns momentos e brinca demais em outros, subestima seu público e se esforça muito pra ser um filme que... olha que ironia... o primeiro filme consegue ser sem esforço. Judah Lewis deixa de ser uma criança inteligente e vira um adolescente burro, as novas protagonistas são caricatas demais e os subplots são esquecíveis e cansativos. O ritmo é até bom no início, nada demora muito pra acontecer, mas fica repetitivo muito rápido e muitas decisões são, no mínimo, questionáveis. A fotografia é interessante, algumas piadas funcionam (mas a maioria dá aquela vergonha alheia) e os personagens tem a profundidade de uma frigideira... eu sei que quem assistiu o primeiro vai ver o segundo, mas dificilmente eu recomendaria pra alguém dizendo 'Você precisa ver The Babysitter! E se gostar ainda tem o dois!!!'. Eu manteria só a primeira parte... infelizmente. Eu queria muito ter gostado desse filme.
O Bar
3.2 568El Bar é um daqueles filmes que é difícil de se identificar um gênero - tem thriller, tem comédia, tem até um pouco de ação, um gore ocasional... não é o primeiro a fazer isso, nem será o último. A direção opta por um tom cartunesco, quase teatral em certos momentos em oposição a uma abordagem mais séria que também funcionaria muito bem. Infelizmente o roteiro perde muito tempo tentando fazer 'viradas de mesa' e críticas sociais que nunca chegam a lugar algum - existe um interesse amoroso que promete algum tipo de interação, mas logo em uma (das muitas) mudança de tom do filme se perde; um monólogo sobre luta de classes parece iniciar um debate, mas em seguida se perde numa virada de tom absurda para o escatológico. Tudo existe a partir de uma premissa muito boa, mas que perde o sentido e acaba exigindo do público uma suspensão de descrença atrás da outra até que se torna só um escapismo absoluto. Além da dificuldade de lidar com 'ação' e 'reação', o filme trata seus personagens mais interessantes com desdém criando situações que seriam cômicas se o filme tivesse um tom constante durante toda a exibição. Me impressionou a destreza na filmagem, a caracterização dos personagens e o cenário são muito bem feitos, com detalhes muito bem trabalhados... porém só de palco a cena não se sustenta. As interpretações são muito interessantes, dá pra ver o empenho de alguns atores (especialmente Blanca Suarez, Terele Pávez e Jaime Ordoñez) enquanto o roteiro constantemente atira motivações como uma metralhadora aleatória de roteiro. Eu não recomendo o filme, mas recomendo alguns similares para quem gostou da temática, mas não gostou do filme em si - se lugares fechados com ameaça externa te chamou atenção, The Mist (2007) e até Dawn of the Dead (2004) fazem isso bem melhor; se foi a mudança de tom do filme, From Dusk 'til Dawn (1996) e Better Watch Out (2018) fazem isso de forma excelente; e se você quer ver seres humanos sendo levados ao máximo por situações adversas, dá uma olhada no quase desconhecido Cheap Thrills (2013). Todos esses, na minha humilde e sincera opinião, são bem melhores que El Bar... infelizmente... queria tanto que fosse melhor. :(
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraJá dizia o churrasqueiro que carne boa só pega labareda no início - depois o cozimento é lento e suave. Manchester by the Sea foi um filme que por muito tempo evitei assistir, muito pelo cansaço que ele me daria e pela falta de objetividade tanto comentada. Acontece que poucos filmes falam tanto sem dizer muito. A direção de Kenneth Lonergan deixa o espectador como figurante de um processo de luto, mas sem dar um falso glamour - geralmente cenas de morte são em câmera lenta, com trilha sonora emotiva e enquadramentos cativantes. Quem já presenciou um momento triste como esse deve saber que nada tem de câmera lenta, mas sim de momentos de solidão, reflexão e burocracia! Sim, burocracia hahaha. O filme retrata isso muito bem através dos passos do irmão mais novo interpretado pelo Casey Affleck que entrega aqui uma personagem com um passado violento, porém não glamorizado, assim como o luto e do semi-órfão Lucas Hedges que mostra a cru realidade de um adolescente que perde o pai. Talvez o ponto mais interessante desse filme sejam os diálogos... aqui eles até querem dizer alguma coisa, mas são panos de fundo para atuações, para sentimentos que não conseguem ser expostos e feridas que não se fecharam, mas - como na vida fora dos filmes - também não são o fim do mundo. Manchester anda, respira, caronas são dadas, deveres são feitos, juventudes são mantidas... poderia ser a minha família, ou a sua, talvez a do vizinho... não sei. Para mim um filme que eu assisti, esqueci... depois lembrei, digeri... esqueci de novo... assim como na vida, coisas tristes acontecem, mas vida que segue; apesar de que pequenas mudanças mostram como reformas são lentas, mas acontecem. Eu sei que quase ninguém vai fazer, mas a sensação de que o filme sai de um lugar e não anda pode ser amenizada facilmente quando terminamos de assistir, rebobinamos (hahaha) e assistimos novamente os primeiros 15 minutos - um exercício que mostra uma camada sutil que esse filme entrega. Recomendo pra quem cansou um pouco de assistir um filme e dizer "Nossa, isso jamais aconteceria na vida real" - desafio a dizerem isso sobre esse filme. ;)
A Gente Se Vê Ontem
3.2 192 Assista AgoraViagem no tempo é uma temática recorrente no cinema, geralmente carregada de confusões e inexplicabilidades é um tema que nos faz sonhar com realidades paralelas e acontecimentos impedidos. Infelizmente, a complexidade do assunto faz com que seja um trabalho muito árduo construir um roteiro 'explicável' ao mesmo tempo que tenha uma história que faça sentido. Em See You yesterday vemos os grandes clichês do gênero - o protagonista tentando evitar um acontecimento, os termos científicos rasos e sem sentido, a falta de coerência das linhas temporais criadas e o excesso de artimanhas narrativas. Felizmente o filme traz algumas ideias originais como lidar com racismo e violência policial; a representatividade do filme também merece destaque - pense em um filme de viagem no tempo com personagens negros em destaque e falhe miseravelmente (Men in Black 3 (2012) não conta, common...).
O filme começa com um tom simplista e sonhador, porém migra para uma abordagem trágica e rapidamente se perde entre o lúdico e o drama, o que é uma pena... talvez uma pegada mais leve deixasse o filme mais tolerável. Os atores são competentes, mas não excelentes, a protagonista de Eden Duncan-Smith nunca convence e cria antipatia muito facilmente; Dante Crichlow segura um pouco com o carisma, porém a câmera parece gostar mais de Stro, que ganha enquadramentos mais empáticos, apesar de aparecer menos. O enredo não é ruim, porém a incoerência de sentimentos nos atores castiga - existem alguns momentos de luto que mostram personagens tristes que, alguns minutos depois, estão com emoções completamente avessas; em outras cenas o tom emocional não consegue ser atingido pela falta de desenvolvimento dos personagens. O alívio cômico do filme (Johnatan Nieves) é sofrível... de verdade... o roteiro não favorece e o menino não ajuda. O andamento do filme cai nos clichês de viagem no tempo (volta no tempo pra consertar algo, estraga outra coisa, volta no tempo...), os efeitos especiais são terríveis, porém a trilha sonora é energizante. O final do filme é incomum para filmes, porém não para o gênero. É um filme pipoca que pode divertir, mas não será memorável... talvez tenha potencial para ser lembrado como 'tão ruim que diverte', apesar de não ser tão ruim assim. Acredito que podemos encontrar coisas muito melhores com a temática viagem no tempo como Predestination (2014), ou Butterfly Effect (2004) que também não é lá grandes coisas, mas tem um ritmo coerente. Não vou citar Back to the Future por que né... Assista ae, vejam o que vocês acham! :)
Onde Está Segunda?
3.6 1,3K Assista AgoraWhat happened to Monday tem uma premissa excelente - em um mundo distópico onde casais só podem ter um filho, sete irmãs sobrevivem vivendo com uma identidade única. O filme começa muito promissor apresentando rapidamente o mundo, estabelecendo as regras e introduzindo algumas personagens (nem todas as irmãs são bem trabalhadas ao longo do filme). O clima tenso, a atmosfera ameaçadora e a sensação de 'parceria' das irmãs são ótimas e fazem você se importar com o filme. O início do conflito é gerido de maneira sensacional. E então... de repente... algo acontece. Algo assustador, inesperado e completamente fora de tom começa a tomar o filme - confesso que talvez a minha expectativa tenha sido muito equivocada para afirmar isso - e nada mais faz sentido.
O filme inicia com essa atmosfera distópica (a lá judeus sendo perseguidos na segunda guerra) e, de uma hora pra outra, se torna um filme de pancadaria desenfreada com cenas de ação muito bem feitas e coreografadas, porém completamente incondizentes com a trama do filme. Parece que são dois filmes diferentes acontecendo - as subtramas (uma envolvendo uma primeira experiência, outra envolvendo um love-affair e uma até clichê envolvendo conspiração governamental) servem MUITO BEM para um filme distópico sobre fraternidade entre irmãs em uma situação difícil, mas aqui essas subtramas ficam picotadas em um filme de ação genérico, meio que um Jet Li em um mundo Missão Impossível. Experimente ir ao banheiro enquanto o filme está passando e veja que na volta parece que você está assistindo um filme completamente diferente - testado e aprovado :D.
Noomi Rapace está empenhada em fazer o filme funcionar e isso conta bastante, porém o roteiro é tão clichê, pretensioso e o tom é tão inconsistente que é como assistir um equilibrista fazendo malabarismo em corda bamba pra uma plateia de 5 pessoas desinteressadas. Willem Dafoe, um excelente ator na minha opinião, completamente subaproveitado e Glenn Close sem conseguir achar o tom da atuação - a personagem dela é má, mas não é má... e tem motivos pra ser, mas não é... e quando quer ser, não tem motivos, mas acaba sendo... enfim, uma bagunça.
Assim, eu não recomendo esse filme... mesmo... não recomendo. A ação é interessante, praticamente tem umas cenas de uma atriz fazendo sete pessoas lutando contra uns caras genéricos, mas o filme não faz sentido nem o suficiente pra ser divertido - o roteiro subestima o espectador até dizer chega e dá vontade de avançar pro final só pra confirmar que é isso mesmo. Que pena, era uma ideia muito boa. :)
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraFilmes de bandas sempre tem um público certo a cativar - Across the Universe (2007), por exemplo, é filme favorito de muita gente que não gosta de cinema; assim como Faroeste Caboclo (2013) conseguiu uma renda invejável no mercado brasileiro. Esse foi o risco que se corre quando se fala de Bohemian Rhapsody - tentar ser imparcial visto a importância musical de Queen. Pelo sim ou pelo não, o filme é extremamente competente em mostrar uma das bandas mais influentes da história e, ao mesmo tempo, entreter com qualidade.
As atuações são perfeitas, com destaque para Ben Hardy que se destaca como o baterista Roger Taylor - a picuinha com Freddie, o destaque preguiçoso e a dedicação à banda são traços marcantes da personagem que rouba quase todas as cenas que aparece (o que é DIFICÍLIMO com Freddie F* Mercury em cena); Gwilyn Lee (sim, olhei no cast por que esse nome é impossível de acertar) faz um Brian May competente e cativante; e Joseph Mazello interpreta o baixista que passa boa parte do filme em segundo plano, brilhando duas ou três vezes de uma maneira meio... estranha. O trio pode parecer apagado em alguns momentos, mas são interpretações quase que idênticas ao que se vê em documentários e vídeos - poderiam ter caído facilmente em estereótipos de bandas de rock, o que tiraria a realidade do filme.
Obviamente, a estrela aqui é Rami Malek. A fisicalidade do personagem, os trejeitos e a movimentação no palco e fora dele dão a ele toda a visibilidade que Freddie merecia em uma tela de cinema. Vê-se o ator sumindo na personalidade forte do artista que interpreta. Talvez o único ponto negativo seja a falta de músculos do ator - em alguns momentos clássicos fica evidente a diferença corporal entre os dois, mas nada que tire o trabalho fabuloso feito pelo Rami (apesar de que acho que não vem Oscar pra ele não, talvez uma indicação).
O filme anda rapidamente, nos primeiros 20 minutos a banda já está estabelecida, já temos um primeiro sucesso e tudo parece muito corrido. Uma crítica que eu fiquei foi a tentativa de colocar absolutamente todas as músicas famosas da banda na película - talvez 'menos' significasse 'mais' tempo pra discorrer sobre a banda em si. Muitas coisas são abandonadas ou colocadas na gaveta por conta do sucesso absoluto da banda. Ok, é uma decisão de direção. Eu já senti falta de um pouco mais de conflitos. Tudo fica meio 'diluído' no sucesso da banda - as brigas duram 5 minutos, discussões duram uma cena e as vezes parecia que eu estava assistindo uma Malhação de banda de rock.
Um pouco mais do meio do filme esse estilo é abandonado e, de fato, as coisas caem por terra. Nesse ponto o filme ganha MUITO impacto. Eu confesso que até essa marca tinha achado um filme nota 6, porém a reta final do filme é impecável. Desde a maneira como trata o reagrupamento, a sequencia final e a hora de terminar - é tudo perfeito!
Por último, mas não menos importante, o filme é lindo! A fotografia é muito boa, a iluminação é fenomenal e - agora sim - acho que cabe um Oscar para edição por que as sequências musicais são vibrantes, impulsionadas pela música, mas também pelo visual.
Assista Bohemian Rhapsody, ouça Queen e seja feliz. :)
Venom
3.1 1,4K Assista AgoraVenom é, corrijam se eu estiver enganado por favor, o primeiro filme de vilão desde o início do famigerado MCU. O filme pode ser visto de duas formas - um filme sobre um simbionte alienígena que encontra um jornalista perdedor para ser seu hospedeiro; ou um filme da Marvel sobre um vilão icônico do herói mais lucrativo da companhia.
Olhando pelo segundo viés, temos um filme que carrega todo o tom dos filmes da Marvel em um personagem que, claramente, não aceita esse tipo de abordagem - falta sangue, falta maldade, falta ódio e, principalmente, falta um vilão. Sendo um pouco chato, o Batman de Batman vs. Superman (2016), que é um herói, é mais vilão que Venom (vilão declarado). O personagem maníaco e sanguinário dá lugar a uma espécie de Hulk que fala palavrão misturado com um Alf (sim... o eteimoso) que quer comer tudo que se mexe e se apaixona pelo planeta Terra. Nesse viés um filme absurdo e ridículo para os padrões 'marvelísticos'.
Já esquecendo o MCU temos um filme leve e desinteressado que apresenta algumas sequências de ação boas, um personagem cativante que funciona muito bem (a relação Brock/Venom é 'simbiótica'... risos) e um enredo de filme de ação de sessão da tarde sem surpresas, repleto de clichês e que faz tanto sentido quanto a sua suspenção de descrença permitir.
Tom Hardy faz um bom serviço, mas o roteiro é sofrível. As motivações vão se desenrolando sem nenhuma lógica, as alternâncias de tom são drásticas e absurdas (comédia/terror/ação/comédia se intercalam intermitentemente) e, por favor, alguém precisa parar as empresas de trailers... o trailer DESTRÓI completamente o terceiro ato do filme. Apesar dos problemas, a expectativa determina a nota final do filme - passa longe de ser um desastre, dá pra assistir tranquilamente, mas a ausência de um tom mais sério é visível, o vilão é unidimensional e o roteiro parece ter sido feito por alguém que viu uma imagem do Venom sem conhecer nada do personagem ou do básico de storytelling. Não é impossível de assistir, mas já temos coisas muito melhores... Tom Hardy merecia mais, quem sabe na continuação... se tiver. ;)
O Protetor
3.6 920 Assista AgoraThe Equalizer é um filme de ação padrão, porém com características que o diferenciam da 'grande massa de filmes de ação' - pra mim ainda não é um Die Hard (1988), mas também fica longe de um Skyscraper (2018). A característica que mais o diferencia é a paciência - a construção do personagem é feita lentamente por meio de diversas subtramas. Nós ainda não respeitamos McCall no início do filme, mas a sagacidade do roteiro nos deixa curiosos, mais ou menos na marca da metade não só o respeitamos como continuamos curiosos pra entender como ele se tornou o semi-deus que é. A apresentação do universo, seus amigos, sua vida, alguns traumas, sua rotina, tudo serve para conhecermos e sabermos o que esperar do protagonista e, ao menos pra mim, a força do filme se mantém na seriedade com que tudo é tratado - não temos quebra de personalidade, não temos momentos que duvidamos. McCall existe, no fim do filme você não diz que ele é um personagem, mas sim um Batman um pouco mais crível (e com um filme melhor :P) que podia ser seu vizinho. Isso se deve ao roteiro, mas também a excelente atuação de Denzel Washington - ele consegue dar seriedade até para as frases de efeito, consegue dar credibilidade até para os maiores absurdos (armas improvisadas, um cronômetro para ações impossível de se prever, instinto sobre-humano para o perigo). Uma coisa que poderia ter estragado o filme seria uma interpretação lúdica ou cafajeste - não é o caso.
O ambiente é vivo, as subtramas são tão genuínas que podemos sentir a cidade respirando enquanto o protagonista se desloca - é o restaurante, a cobrança policial, o emprego - tudo é de verdade, por que o roteiro vende isso muito bem. Estabelecidos o protagonista e o ambiente, o vilão também merece destaque. Ele é objetivo, sério e não tem medo de ser agressivo impondo sua superioridade, lembra muito The Wolf de Pulp Fiction(1994). Talvez da 'tríade protagonista-antagonista-ambiente', ele seja o mais fraco, porém muito mais por mérito do Denzel e do Fuqua do que demérito do Marton Csokas (coitado, tem cara e nome de vilão de filme de ação merda). Ele é imprevisível, calculista e, mais do que perigoso, ele é uma dúvida - durante quase todo o filme a questão é 'Será que o McCall é superior a esse cara?'. E isso é ridicularmente difícil de fazer, na maioria dos filmes de ação esperamos o fim do filme para ver o mocinho vencer o vilão e, na maioria das vezes, o herói tem que ser enfraquecido antes do embate pra criar a tensão necessária - aqui é diferente: as tentativas de enfraquecer McCall se mostram ineficazes e, mesmo assim, até o fim do filme fica uma pontinha de dúvida se ele vai dar conta do Russo doido num mano-a-mano.
Claro, o filme não foge dos clichês, precisa de suspensão de descrença, tem personagem subaproveitado, tem frase de efeito pra cacete, tem absurdos e facilitações narrativas, assim como previsões fáceis para o público (no início do filme você já sabe que o personagem X vai ser sequestrado, ou vai ter um momento de redenção, ou de semi-herói), mas o filme não trata o espectador como idiota, consegue 'surpreender' em algumas sequências e consegue fazer você sentir como se aqueles personagens realmente existissem (ok, alguns deles...). Recomendo pra quem não está com energia pra assistir Ben-hur (1959), mas também não quer desligar o cérebro completamente. :)
Missão: Impossível - Efeito Fallout
3.9 788Antes de assistir MI - Fallout, eu assisti todos os filmes da franquia... e recomendo muito que ninguém faça isso. xD
O que Tom Cruise fez nesses anos é digno de uma placa em algum lugar - seis filmes com cinco diretores diferentes, uma verdadeira série de TV com um hiato cabuloso numa tela ridiculamente grande. Hahaha.
Nesse 'episódio' Ethan Hunt continua sua aventura do filme anterior (seria um episódio duplo? Hahaha) e continua perseguindo o Sindicato - a IMF inversa. As atuações continuam as mesmas dos outros filmes, rola toda uma atmosfera de super herói nas missões 'possíveis' e 'impossíveis'. Tudo é muito difícil e o cronômetro SEMPRE vai parar no último segundo - nada que estrague a graça, mas confesso que assistir todos os filmes na mesma semana tirou um pouco da experiência pra mim (em TODOS a bomba pára no finalzinho). Os personagens estão visivelmente mais velhos, com destaque pro Ving Rhames que já deveria ter encerrado com uma cena épica há muito tempo - Luther merece isso. O enredo continua com a mesma fórmula (insira formulaico se for muito cinéfilozinho), dá ruim no início, aí dá meio bom, aí algo tem que ser apostado por um bem maior, Ethan perde a aposta, surge uma solução do nada que na verdade é impossível e, eis que, atingimos o impossível.
Tom Cruise continua segurando o filme, apesar de que Henry Cavill também brilha consideravelmente na história - o cara é um monstro de grande e toda hora você fica pensando 'será que o Ethan dá conta?'. Os demais são bons coadjuvantes. O enredo é previsível pra quem conhece a franquia, mas é bem feito. A maneira como a história é contada é sensacional - várias locações bem apresentadas, perseguições e cenas de ação muito bem coreografadas (os efeitos práticos fazem valer cada segundo). Infelizmente o filme deixa de lado um pouco a 'espionagem' do MI1, MI3 e MI4, mas compensa com as perseguições... sério, o nível aqui pode ter atingido o topo... de verdade.
Eu recomendo demais esse filme pra quem gosta de ação, pra quem gosta de Missão Impossível e pra quem está naquele sábado à noite sem filme pra assistir. ;D
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista AgoraCada arte tem a sua característica, cada uma é única - o cinema, diferente da literatura ou da música, tem a seu favor a possibilidade de contar histórias usando mais de uma sensação. Uma trilha pode te deixar agressivo, emocionado ou confuso; uma imagem pode te deixar enojado, apreensivo ou fascinado; um enredo pode te deixar investido, alerta ou até mesmo exausto; o que You Were Never Really Here consegue a façanha de usar esses três eixos para mostrar agressividade, selvageria, violência.
Lynne Ramsay consegue te deixar enojado com um sangue que você não sabe de onde saiu, consegue te deixar inquieto sem razão alguma, e até mesmo triste com uma final 'feliz'.
You Were Never Really Here é um filme de ação normal - tem o mocinho, o bandido, a menina a ser salva, a cena que ele entra batendo em todo mundo, o encontro final, a traição e o final - mas tudo contado de uma forma (ao menos pra mim) completamente inédita. O que não faz dele o MELHOR filme do gênero, mas COM CERTEZA um dos mais diferentes. Lembra um pouco Taxi Driver, mas é outra coisa... lembra um pouco Taken, mas é outra coisa... lembra um pouco León, mas é outra coisa... acho que isso que me chamou tanto a atenção no filme... ele não parece só um filme, parece outra coisa - genial. :)
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista AgoraBom, eu sou a pior pessoa pra comentar qualquer coisa relacionada a Cloverfield - primeiro por que eu sou fã de filmes que subvertem gêneros (Unbreakeable, From Dusk Till Dawn, Split) e segundo que eu acho muito genial a maneira como J. J. Abrams e sua equipe constroem uma mitologia envolvente fora da tela sobre suas produções (quem acompanhou Lost a fundo sabe sobre o que estou falando).
Acho que uma das razões pela decepção desse filme se devem ao seu predecessor - 10 Cloverfield Lane (2016) - carregado de suspense, drama e excelentes atuações. Acontece que se ignorarmos sua existência vamos descobrir que Cloverfield nunca foi sobre suspense psicológico, o primeiro filme inclusive é quase um survival horror com monstros, gente explodindo e exército americano atirando em fumaça - cada filme foi sobre uma coisa diferente, como comparar? Cloverfield Paradox é inferior, claro. É clichê, se aventura por um terreno muito complicado - poxa, pensem em um filme que deu certo trabalhando com realidade paralela que agradou, eu lembro só de Mr. Nobody (2009) que nem é tão famoso assim, Donnie Darko (2001) que é cult e ninguém entende e Triangle (2009) que ninguém gosta... e Cloud Atlas... urgh.
Cloverfield Paradox não é o melhor filme do mundo, mas é um horrorzinho espacial aceitável, tem elementos bem encaixados de Alien, Interestellar, A coisa; tem uma atuação forte de Gugu Mbatha-Raw (ctrl+c ctrl+v, muito dificil esse nome) e cria tensão em alguns momentos. É um filme mediano que vai ser esquecido, assim como 80% dos filmes que saírem em 2018, vida que segue. No fim eu recomendo pra quem quer um filme rapidinho de assistir sem muito compromisso ou quem gosta da mitologia Cloverfield (como eu \o/); e sem comparações com os filmes anteriores da série - afinal, comparar o segundo com o primeiro não podia, por que comparar o terceiro com o segundo pode? ueh... :)
Aliás... como eu comecei esse comentário dizendo eu sou definitivamente a pior pessoa pra comentar Cloverfield então se você quiser desconsiderar tudo que eu disse, vá em frente. ;)
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraMeryl Streep e Tom Hanks... dirigidos por Steven Spielberg... com uma temática 'Davi vs. Golias'... sobre um importante acontecimento histórico nos Estados Unidos. Hahaha, beleza. The Post conta a história de um escândalo jornalístico que envolveu tentativas de acobertamento do governo Nixon em decisões tomadas na guerra do Vietnam, mas o filme fala ainda sobre liberdade de expressão, riscos, política e protagonismo feminino. Spielberg sabe como fazer um filme, isso é inegável; em The Post, até uma reunião chata é simples de acompanhar, a tensão existe mesmo que todos saibamos o desenrolar dos acontecimentos e o filme é longo, mas não pesa tanto. Tom Hanks está muito bem como Bradlee, mas Maryl Streep está (como sempre) fenomenal - e é difícil observar isso, pois sua personagem atua muito com os olhos e com sussurros, cada momento é importante, cada reação é muito bem desenvolvida e, claro, quando ela se impõe... ela se impõe né... é a Meryl Streep. Alguns planos são bem memoráveis, com destaque para o detalhe na impressão do jornal e a movimentação frenética acompanhando as personagens. O filme começa um pouco cansativo e demora um pouquinho pra apresentar seu confronto principal, mas a partir da metade ganha tensão e puxa o espectador pra beira do assento em algumas cenas - em especial a chegada de um advogado, uma ligação telefônica (wow) e uma reunião bem próxima da meia-noite. Se ganha no ritmo e na atuação, algo que me incomodou um pouco foram as tentativas de manipulação excessivas - todo lugar onde Maryl Streep entra tem uma particularidade (muito justa), mas que na terceira vez já fica óbvia e piegas (assim como acontece no final); o uso de alguns diálogos clichê também incomoda (faltou uma acizentada na moral de alguns personagens, alguns momentos parecem todos cavaleiros da lei e da ordem) e a trilha sonora às vezes tenta trazer mais emoção do que algumas cenas conseguem despertar sozinhas. The Post é um filme bem elaborado, importante para o momento e entretem muito bem, peca um pouco no clichê e na manipulação, mas é bem mais agradável que, por exemplo, Spotlight (2015). Eu recomendo pra quem gosta de filmes históricos e acho essencial pra quem gosta do gênero jornalístico. :)
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraHá muito eu discutia com uns amigos se avaliação de qualidade artística depende de contexto histórico, social ou é independente de qualquer conhecimento de mundo - spoiler, não chegamos a uma decisão final (e talvez nunca chegaremos). Lady Bird conta uma história adolescente sobre indecisão, insegurança, a 'dureza' da vida e a relevância (e irrelevância) que nossas ações têm nesse período. A direção é sensacional, as músicas refletem muito em as emoções sem serem muito óbvias, o design de produção é cuidadoso e a movimentação de câmera é simples, porém favorece o melhor do enredo - seus personagens. Agora o que me surpreendeu com Lady Bird foi a realidade, a retratação de um período e a semelhança do andamento do filme com a minha própria adolescência. E não estou dizendo que me identifiquei com a protagonista, muito pelo contrário, eis aí o que eu mais gostei do filme - eu conheci algumas Lady Bird, alguns Kyle, algumas Julies e alguns Padres Leviatch; já fui alguns inclusive. Lady Bird me ganhou por que é real, por que não é uma pintura linda ou macabra de uma cidade de interior, é uma cidade de interior. Seus personagens não existem somente na câmera, somente no recorte de 93 minutos, eles têm passado, presente, futuro, indecisões, carências e sonhos. Alguns mentem, alguns falam a verdade, alguns vão olhar pra trás e pensar 'que idiota que eu era' enquanto outros vão dizer 'precisava ter sido assim', como foi com Lady... err... Christine, e como deve ter sido com sua mãe. O filme não é 'inovador' ou 'perfeito', até mesmo a atuação de Saoirse é boa, mas nada memorável (longe de ser ruim, mas não é um marco para o cinema), inclusive acho que um destaque pra Laurie Metcalf seria muito mais sincero. O que Greta Gerwig fez foi mais que dirigir um filme, foi dirigir um recorte de uma realidade - se for a sua, talvez você goste do filme, se não for... bom, tem muitos outros filmes aí. Quero dizer... isso se a qualidade artística depender mais do espectador do que da obra, mas isso nunca vou saber. ;P
Roda Gigante
3.3 309Não sou o maior fã de romances, nem o maior conhecedor de Woody Allen... acho que por isso mesmo que talvez eu tenha me impressionado de ler alguns comentários. Wonder Wheen traz uma atmosfera quase lúdica de um romance digno de ser chamado de tragédia. Tudo remete à uma roda gigante, desde o ritmo do filme, até os acontecimentos... a roda gigante é um conceito bem interessante de se explorar - ora você está em cima, vendo tudo e com clareza e tranquilidade, ora está embaixo oculto sob a sombra dos outros que se encontram no topo. Esse ciclo se repete em todos os personagens, apesar de ser mais claro em Ginny, interepretada por uma inspirada Kate Winslet. Justin Timberlake é um ator limitado, porém sempre acaba por ser eficiente em seus papéis; Juno Temple faz o básico e Jim Belushi é um excelente coadjuvante... porém o brilho fica todo com Kate Winslete, poucas vezes o filme sai do seu entorno e quando sai, é notável o peso que a narrativa ganha ao retornar ao seu trajeto. Apesar dos comentários maldosos pedindo a aposentadoria de Woody Allen, eu assistiria Wonder Wheel novamente, então não posso concordar com 'fim de carreira'... aliás, nem todo diretor tem que ser brilhante todo o tempo. Eu recomendo Wonder Wheel pra quem gosta de personagens femininas fortes no cinema, pra quem gosta de uma fotografia cuidadosa e pra quem não quer se levar a sério em cada filme que assiste... aliás, tem uma reflexão sobre teoria/prática muito divertida que vale a pena ser lembrada. :)
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraO que David Lowery fez é interessante - a ghost story não é um filme de terror, o elemento fantasmagórico aqui é visto como uma brincadeira, talvez até uma analogia com a mensagem do filme; aliás, mensagem do filme? Será que tem uma mensagem ou será que esse filme é só um apanhado de conceitos apresentados de maneira minimalista para que o público se identifique ou conheça um pouco sobre luto?; luto? Será que é sobre luto, ou seria esse somente uma parte de algo muito maior que o diretor quis dizer?; afinal, será que ele quis dizer alguma coisa, será que alguma coisa precisa ser dita ou será que todos nós perdemos 92 minutos do nosso tempo?
Acho que se essas perguntas acima te ofenderam, ou tu preferia não ter lido nenhuma delas, ou não ficou nem curioso para as respostas, talvez você devesse assistir outro filme. Ou não.
Ou sim.
Tanto faz.
:)
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraAtomic Blonde conta uma história dos últimos espiões de uma guerra fria motivada pelos interesses bélicos de mais de uma nação em conflito e, convenhamos, não tem nada muito novo nesse roteiro. O destaque do filme, porém é a excelência em um gênero - ação. A ação que vem sendo explorada nos últimos anos até sua exaustão, técnicas de cortes rápidos para agilizar as sequências, reviravoltas na trama para cativar o espectador e perseguições de veículos foram usadas e abusadas em filmes como Tak3n (hahaha), Jason Bourne e tantos outros. E Atomic Blonde vêm justamente fazer um contraponto com esse abuso - em vez de batalhas sangrentas entre super heróis de jeans, lutas viscerais com direito a um plano sequência excelente (ok, tem uns cortes falsos alí, mas mesmo assim deve ter dado um trabalho insano), uma movimentação de câmera que desafia os curiosos e imprime um visual intimista para perseguições e uma trama simples, porém efetiva - dificilmente você se surpreende muito, mas pelo menos não é tããão manjado assim. A trilha sonora é muito boa, apesar de sobrar em alguns momentos e as presenças de Charlize Theron e James McAvoy fazem de Atomic Blonde um dos filmes de ação mais eletrizantes (hahaha) dos últimos tempos. Olha, David Leitch já foi responsável por cenas memoráveis em John Wick e agora por essa obra-prima da ação que é Atomic Blonde, palmas pro rapaz, ele entende muito bem como fazer uma sequência de pancadaria parecer crível e sobrenatural ao mesmo tempo. Recomendadíssimo para os fãs de ação. :)
Perigo Próximo
3.4 484 Assista Agora"Antes de qualquer coisa, você que não viu o filme e veio procurar indicação ou não - por favor, NÃO VEJA O TRAILER. De nada :)".
Better Watch Out é um filme diferenciado e isso pode tanto prejudicar sua recepção quando acentuar seu impacto. Seu gênero é muito subjetivo, ele transita entre a comédia para o terror e passa por thriller, invasão domiciliar, filme natalino... O roteiro é sagaz e consegue ser bem esperto, apesar de que o roteiro deixa muitos buracos - eu diria que é um daqueles filmes com um ritmo tão bom que você termina ele pensando 'meu deus, que filme sensacional', mas quando olha pra trás pensa 'não... espera... mas por que aconteceu X? Por que ele disse Y?' e aí os buracos narrativos ficam muito evidentes. Levi Miller está sensacional aqui, ele consegue trazer uma emoção muito peculiar ao espectador quanto ao seu personagem, algo que Macaulay Culkin fez no inícios dos anos 90 em um de seus filmes (hahaha), Ed Oxenbould também ganha alguns bons momentos e Olivia DeJonge faz o basicão pro filme se manter. Talvez o maior defeito do filme seja seu tom, em alguns momentos ele se leva a sério de mais e acaba ficando um pouco absurdo demais e para esse, digamos, 'estilo' de filme é necessário que os acontecimentos sejam críveis ou que o filme seja auto-consciente - Better Watch Out é consciente em momentos que exige peso e se leva muito a sério em momentos que exigem suspensão de descrença. O acerto vem pela originalidade, o filme se reinventa a cada momento e, por ser curto e ter um ritmo acelerado, não causa sono e carrega o espectador com cuidado e suavidade - é como andar em uma montanha-russa fechada, você sabe que uma hora o carro vai cair, mas não sabe como, quando ou pra que lado ele vai sacudir. No final, o filme diverte muito, irrita muito em alguns momentos e, ao menos pra mim, faltou um pouco mais de payoff (apesar de que o filme termina EXATAMENTE onde deve). Só um detalhe: comparar Better Watch Out com The Babysitter (2017) é como comparar Indiana Jones com A Múmia, os dois começam meio que da mesma maneira, mas em 10 minutos de filme fica evidente que são completamente diferentes. Ah, pra quem gostar desse, assista depois Cheap Thrills (2013), fica a dica ae. ;)
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraStar Wars é uma franquia querida por muitos, inclusive por mim, portanto é muito difícil manter a serenidade e deixar a paixão de lado para assumir as falhas ou aceitar as mudanças do novo filme. The Last Jedi traz novos elementos para a epopéia espacial de George Lucas, assim como desfaz laços com personagens e estruturas já bem definidas na série - algo que pode ser positivo ou negativo conforme gostos pessoais, aceitação e, principalmente, box office. A cinematografia é excelente, possivelmente as tomadas mais lindas de toda a série estão aqui, algo que foi feito (creio eu) meio por acaso em A New Hope aqui surge com maestria - o design de um planeta específico é extremamente estético e merece os aplausos. Se o design e a fotografia superam as expectativas, o mesmo já não pode ser dito do roteiro. O ritmo do filme sofre muito (muito mesmo) por conta de sequências irrelevantes, inclusive um arco inteiro do filme poderia ser retirado sem absoluta perda de coesão narrativa, assim como alguns personagens introduzidos que prometem excessivamente e simplesmente... desaparecem. É o caso de Holdo e outra personagem (sem spoilers) que se assemelha a um Bobba Fett Han-Solístico, digamos assim... ambos me deixaram intrigado e investido para serem somente artifício narrativo que não 'vence nem convence'. Da mesma maneira, um supremo líder Snoke (que outrora me decepcionou no filme anterior) agora vem com peso e presença aqui, porém, semelhante ao que acontece com Finn... é reduzido a um elemento narrativo meio que no estilo 'ok, temos essa personagem, o que fazemos com ela?'. Oscar Isaac tem uma curva interessante, eu diria que até brilhante, mas acaba sofrendo por receber visibilidade demais sendo um coadjuvante - aliás, um coadjuvante de luxo, pois o personagem é excelente... mas foi como se produzissem uma temporada inteira de How I Met Your Mother para Barney, ou um filme inteiro para o Hawkeye; bons coadjuvantes em geral não funcionam tão bem como protagonistas. O filme ainda perde alguns pontos por alguns artifícios narrativos usados no excesso, como a subversão de expectativa - usada uma vez, até duas, funciona perfeitamente... porém em alguns momentos você pára de levar tudo a sério, afinal, a cada dez minutos alguma coisa 'quase' acontece, só que não :/ . Inclusive, algumas dessas sequências poderiam causar repercussões ótimas para a série, seria realmente diferente e inovador... porém parece que sobrou coragem em romper com o passado e faltou coragem de propor uma verdadeira mudança de paradigmas. Finalmente, tenho certeza que esse filme vai causar impressões diferentes, alguns vão gostar muito, outros nem tanto - normal quando nos importamos com o que está na tela. Porém até o maior fã de The Last Jedi tem que concordar que existem muitas simplificações narrativas e arcos completamente descartáveis, assim como os odiadores do filme tem que concordar que o filme traz uma cara nova pra uma franquia que dificilmentne tem se reinventado nos últimos anos. Indicando ou não, todo mundo vai assistir... mas preciso dizer que lá no fundinho (onde realmente importa) eu saí de Force Awakens maravilhado... e saí de The Last Jedi cansado e confuso. :)
Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraNarrativas com deficiências, doenças ou acidentes são comuns em retratar sofrimento e superação de seus protagonistas quando o mundo deles se limita por suas condições. Wonder apresenta o jovem Auggie superando o preconceito da sociedade sobre sua aparência, porém o que mais chama a atenção nesse filme é que ele subverte toda a expectativa do gênero. Enquanto a maioria dos filmes apresenta as dificuldades vividas por sua personagem principal, Wonder expande muito mais a narrativa para seus arredores - sabemos como sua condição afeta sua mãe, seu pai, sua irmã e outros personagens da trama. É interessante observar como ter Auggie como irmão influencia em Via ou em Miranda; assim como destaca a singularidade da vida do menino ao mesmo tempo que a coletividade dos acontecimentos - a identificação com ele é quase instantânea pra qualquer um que se sentiu diferente em alguma etapa da vida. O filme usa alguns recursos narrativos para sabermos o pensamento dos personagens e alguns pontos da trama são tão 'redondinhos' que a sensação de 'já vi isso antes' é automática, porém a montagem deixa o filme fluido e o design de produção faz tudo na tela parecer interessante - na minha experiência, só lembrei que o tempo passou quando faltavam cinco minutos pra terminar o filme, e fazia tempo que isso não acontecia :P. Jacob Tremblay já foi excelente em Room (2015) e aqui trabalha como pode em Auggie... a maquiagem deve ter dificultado um pouco, mas em momento nenhum o ator mirim mostra fragilidade. Owen Wilson está perfeito e Julia Roberts não está perfeita, mas esta muito bem. A surpresa pra mim foi Noah Jupe, como Jack Will, que eu achei o melhor do filme, enquanto a decepção foi Izabela Vidovic que me pareceu limitada pra interpretar Via... a personagem possui muitas camadas e é muito complexa, talvez alguém mais experiente conseguisse uma performance melhor - inclusive isso se destaca bem em uma cena com a Sônia Braga (#vaiBrasil). O filme faz chorar, comove, diverte e, apesar de te fazer sentir pena em alguns momentos, constantemente lembra que todos temos as nossas imperfeições e que a vida é infinitamente mais complexa do que parece - um rosto bonito não garante felicidade, assim como uma deformidade facial não determina alegria. Filme recomendadíssimo. :)
A Babá
3.1 960 Assista AgoraColoque em um liquidificador um slasher auto-consciente como Scream(1996), o humor negro de Child's Play(1988) com os protagonistas de Moonrise Kingdom(2012) e uma pá de referências da cultura pop dos anos 80 e 90 e você tem The Babysitter. O filme não se trata de um terror, apesar de ter alguns elementos do gênero. Inclusive, esse filme é quase uma completa subversão de vários gêneros, temos aqui aventura, terror, comédia, drama adolescente e muita, mas muita referência - o filme é um prato cheio pra quem gosta de dizer 'ahhh, isso é do filme X.'. Desde Terminator até The Anchorman, o filme parece ter sido feito como uma desculpa para agrupar tudo que a geração nascida em 90 sente falta (eu sei, eu sei, nem toda geração... blz). As atuações são medianas, talvez o mais exigido seja o Judah Lewis que faz um adolescente passando pela puberdade sofrendo com possibilidades de divórcio dos pais, paixões platônicas e bullying, e ele faz um trabalho bem interessante - dá pra sentir, por exemplo, ele esconder dos pais algumas atitudes que o mesmo julga super adultas ("Mom, I know that pussy means vagina."), assim como fica evidente sua imaturidade em pensar que esses detalhes são as principais mudanças na sua vida. O roteiro não é excelente, longe disso, usa artifícios baratos, alguns clichês preguiçosos (mas não todos, alguns estão lá justamente para destacar a auto-consciência do filme) e podia ser um pouco mais sensato em rir de si mesmo em algumas oportunidades. Por outro lado, o filme é sagaz em subverter expectativas, consegue fazer boas antecipações, trabalha bem com a câmera (exceto em algumas 'invenções' que não funcionam) e tem uma cinematografia consciente (acho que repeti muito essa palavra... hehe). Babysitter me agradou muito, é divertido, envolvente, rápido, inteligente e acho que funciona perfeitamente como um entretenimento casual. Recomendo de verdade pra todos que procuram uma comédia divertida pra, sei lá, um domingo à tarde... assistir com os amigos... algo leve. :)
Detroit em Rebelião
4.0 193 Assista AgoraAlgumas vezes a ficção nos aterroriza, outras tantas nos assusta... mas quando é a realidade que está na tela, aí que a coisa fica feia. Detroit é quase um recorte de um período de rebeliões onde Detroit foi palco de muita violência, intolerância e tristeza. O filme faz um panorama sobre os acontecimentos, situa muito bem o espectador e o coloca na pele de alguns personagens que viveram um episódio marcante envolvendo abuso de autoridade, racismo e... bom... maldade, não tem outra palavra. O filme consegue fazer de maneira brilhante as transições do 'macro' pro 'micro' através de jornais, matérias e flashbacks de eventos, enquanto nos carrega aos poucos para a história principal por meio de episódios pontuais e diálogos dignos de ranger de dentes - tem uma conversa na delegacia que apresenta a situação de uma maneira sensacional. Apesar de excelente, o primeiro terço do filme lentamente constrói o que (pra mim, óbvio) é a jóia de Detroit - o hotel. Toda a antecipação (foreshadowing, pra quem gosta de dificultar as palavras) dá lugar a um 'miolo' seco, angustiante, corajoso e, o pior de todos, vívido. Você se sente com os personagens, você sente medo, você sente frustração, você sente raiva e, por conta da atualidade do tema, você se pergunta em cada momento 'em que lugar dessa sala eu estou na minha vida?'. John Boyega faz um mediador otimista habitando um inferno, age como um espectador no meio da narrativa. Sua personagem faz o que pode sem se comprometer, lúcido do sistema, lúcido da injustiça, mas ao mesmo tempo observando os absurdos cometidos. Algee Smith brilha ainda mais, transitando entre ser o observador e o observado - talvez um dos maiores catalisadores do drama da história. Agora quem me surpreendeu de verdade foi Will Poulter (que eu nunca apostei muitas fichas) e cumpre seu papel aqui de maneira formidável. Pior que sua personagem, só o fato de identificarmos seus comportamentos, argumentos e suas consequências em colegas, amigos e familiares (pra não dizer nós mesmos). O filme perde um pouco de impacto na terceira parte, mas o resumo completo pra mim foi um cansaço extremo durante a rolagem dos créditos. O 'pós-filme' pra mim foi muito parecido com o de Moonlight (2016), devido ao impacto e ao peso. Recomendo sem sombra de dúvidas, por favor, assistam esse filme. :)