Um filme que poderia se passar em qualquer época, mas o período escolhido é um espelho do que estamos vivendo atualmente. Embora o avanço dos direitos sociais tenha sido enorme, ainda resta muito preconceito racial e opressão às mulheres. Mulheres que antes eram submissas aos maridos, sem se sentirem amadas e empregadas negras que não podiam expor suas opiniões sem serem repreendidas. Hoje muitas mulheres ainda são submissas, permitem viver um amor de mentira e o racismo parece que só aumenta. O filme é eficaz ao mostrar a resistência diante das injustiças numa época em que as mulheres eram praticamente objetos de enfeite. O que torna Lady Macbeth tão fascinante é que a mulher subjugada aqui, com a sede cada vez maior de liberdade acaba por adquirir um senso cada vez maior de justiça com as próprias mãos, de vingança. E o filme assim vira de cabeça para baixo, em uma jornada de uma mulher calejada diante da opressão, que acaba tornando-se cega com o seu desejo ardente de ser feliz, custe o que custar. Florence Pugh em grande atuação e o filme é uma excelente estréia na direção de William Oldroyd. Uma surpresa.
Mais uma boa adaptação de Stephen King. Não li o livro, mas já vi uns dizendo que é extremamente fiel. Extremamente bem conduzido, Carla Gugino em atuação sensacional e uma cena que desde já é a mais angustiante do ano. As metáforas de prisão e abusos são bem legais, única coisa que não gostei tanto assim foi
[/spoiler] do tal Homem do Luar. Achei deslocado no filme, assim como o seu final. Mas como tem no livro então devem ter sido fiéis, né? Achei bem deslocadas do filme essas cenas.
O fato fundamental de A Ghost Story ser eficaz é concentrar-se na nossa pequenez diante do tempo. Ele é cruel, gigante, imortal e às vezes um propósito de uma vida pode se esvair quando dedicamos muito tempo a ele sem termos ação. O peso temporal em nossos ombros torna-se uma carga pesadíssima que não podemos suportar. Como areias ao vento somos carregados, devorados e inexoravelmente devemos deixar nossa semente plantada nesse mundo antes de partir para o além-túmulo. Ver consequências dos nossos atos em vida. O fantasma de nós mesmos é o protagonista dessa obra magistral, incapacitado diante de não poder agir, de não poder mudar o destino.
O filme cresce dentro do espectador à medida que pensamos mais e mais sobre ele. É uma obra rica que tem uma força em cada um, mas que com certeza vai deixar uma marca. Diferente de Personal Shopper, filme recente que trata sobre a perda e fantasmas, A Ghost Story não se preocupa em dar sustos ou aterrorizar o espectador. Longe disso: Ele se concentra em filosofar e David Lowery dá uma aula a muitos diretores e roteiristas de como manipular sentimentos sem usar palavras. Provocar reflexões sobre o que deixamos aqui na Terra e que o tempo é implacável. Dos filmes mais belos e tristes de 2017, A Ghost Story já é o meu preferido do ano, um clássico moderno que só agrega valor a quem o experimentar.
A ideia é semelhante ao episódio 3 da Primeira temporada de Black Mirror (The Entire History of You), mas mesmo um episódio de uma série consegue mexer mais com o espectador que esse filme. Rememory trata sobre manipular memórias, guardá-las e mostrar a outras pessoas, mas possui personagens com propósitos inverossímeis e que não cativam o espectador. E o protagonista é o talentoso ator Peter Dinklage, mas nem ele consegue salvar o filme de sua previsibilidade. Existe um plot twist ao final que não surpreende ninguém, a própria relação dele com o irmão é mostrada de uma forma que parece até tosca e até o finado ator Anton Yelchin em um papel caricato. Como resultado, Rememory tem uma boa ideia, belas imagens e algumas boas atuações, mas com um roteiro que merecia uma revisão. Em vez de surpreender é uma experiência tediosa.
Ficção-Científica inteligente e que intriga o espectador até o seu final. Debut de um longa-metragem na direção de Keir Burrows, Anti Matter é uma sci-fi noir como descrita, já que além das constantes questões cerebrais propostas pelo roteiro ainda existe uma investigação para saber o que aconteceu com Ana após uma experiência com teletransporte, já que após o ocorrido ela não tem mais uma memória apurada, não se alimenta e é perseguida. Tem alguns detalhes na trama que a tornam um pouco inchada, como a inclusão de um detetive governamental e ativistas contra o uso de cobaias animais em experimentos, mas o núcleo do filme o torna diferente dos demais, com seus questionamentos inteligentes. Destaque para a atuação de Yaiza Figueroa no papel principal. Para quem gostou de filmes como Coherence, O Predestinado, A Outra Terra pode gostar muito desse.
Excelente, pode-se dizer que é um dos melhores do ano e de terror também. Quem leu o livro e não gostou está bancando o chato, eu que geralmente não curto adaptações quando leio a obra original achei que foi uma excelente adaptação. Algumas mudanças, mas que ficaram bem-vindas ao filme. Elenco muito bom, roteiro muito bem escrito e respeitoso por parte do Cary Fukunaga e uma direção competente do Andy Muschietti (Não gostei de Mama e vê-lo evoluir tanto assim é muito bom). Além disso possui algo ausente da minissérie dos anos 90: A violência e o terror. Aqui estão bem presentes, além de um bom humor. Vale muito a pena.
PS: Essa geração Nutella que fala que esse filme lembra Stranger Things, como se a série não fosse inspirada no livro de Stephen King
Atômica é uma amostra do inegável talento do diretor David Leitch: Ele imprime uma marca própria e diverge da visão do amigo Stahelski, o que é um bom caminho a se seguir. É um filme com reconstituição de época magnífica, enérgico, trilha sonora espetacular, sequências de ação irrepreensíveis, uma personagem feminina dantesca, mas que repousa tudo isso em um roteiro não tão bem transposto para a tela, sem causar muitas surpresas ao espectador. É uma obra acima da média e um exemplo a ser seguido por outros diretores, quanto às cenas de ação.
A tendência atual do gênero horror no cinema é a fuga de narrativas lineares ou de sustos fáceis, uma concentração maior no terror psicológico. Devido a essas características foi cunhado um termo chamado Post-Horror, em que fazem parte desse movimento filmes como Corrente do Mal (It Follows), A Bruxa (The Witch), Corra! (Get Out), dentre outros tão badalados por crítica e público. Ao Cair da Noite pode facilmente ser enquadrado nesse rol.
O diretor Trey Edward Shults ganhou notoriedade com o seu debut Krisha (2015), que utiliza de um acontecimento trivial (Um encontro familiar em pleno Dia de Ação de Graças) para catalisar demônios interiores e passados, mágoas e desejos reprimidos. Além disso, o diretor utiliza de uma história bem pessoal, já que a protagonista da história (Krisha Fairchild) é tia de verdade do Trey Edward e cria uma tensão iminente em uma simples reunião de família.
O apuro técnico em trabalhar apenas em um espaço foi notado pela crítica e o diretor continua seu caminho rumo ao reconhecimento com seu segundo longa-metragem o qual é o propósito desse texto. Em Ao Cair da Noite acompanhamos uma família em um mundo pós-apocalíptico que foi afligido por uma epidemia desconhecida e que o roteiro não se preocupa em explicar a origem ou seus sintomas. Apesar de conhecermos um pouco da ambientação ao redor da residência da família, o filme praticamente se passa em um único ambiente, ou seja, o diretor intensifica a característica vista em seu longa anterior, dessa vez sob outro contexto.
Dois aspectos importantes nesse filme que merecem destaque são a trilha sonora composta por Brian McOmber e a direção segura e claustrofóbica de Trey Edward Shults. A música é ambiental e é totalmente eficaz para causar um sentimento de tensão crescente no espectador. Quando há momentos de calmaria a música é quase etérea, quando há conflitos ou ameaças a trilha é substituída por batidas que incomodam e arrepiam. Um trabalho digno de nota.
A direção é outro aspecto fundamental para que o filme tenha obtido tamanho sucesso. A câmera em primeira pessoa (Principalmente em sequências de pesadelos de determinado personagem) faz com que adentremos naquela casa, sintamos arrepios na espinha e sim, há poucos jump scares, mas totalmente eficientes. Há resquícios de O Iluminado na porta cor de sangue, entrada de um mal desconhecido, assim como as portas do elevador que derramam um mar do líquido vermelho vital na obra de Kubrick. Há semelhanças na ambientação ao elogiadíssimo game The Last of Us, tanto pelo fato de ocorrer uma epidemia, quanto no ar pós-apocalíptico e familiar que cerca o personagem Paul (O ator Joel Edgerton, que inclusive o primeiro nome é o mesmo do protagonista do game da empresa Naughty Dog, assim como sua semelhança física, de barba e olhar triste).
O quesito atuação também merece elogios. Joel Edgerton vem cada vez ganhando mais a minha simpatia e alçando vôos cada vez maiores, tanto em direção (Dirigiu e atuou no elogiado O Presente), quanto na sua performance. Ele interpreta um pai amargurado, calejado por muitas tragédias que não conhecemos, mas que devido ao seu olhar e resistência quanto aos fatos observamos tal comportamento. Um misto de amor paternal, agressividade e medo diante do desconhecido. O talentoso e até então desconhecido Christopher Abbott (Cuja compleição física é inegavelmente parecida com a do ator Kit Harrington, de Game of Thrones), visto no excelente e elogiado filme James White, também está ótimo no papel de Will, um sujeito que cruza caminho com a família de Paul. E Kelvin Harrison Jr. interpreta Travis, o personagem talvez mais importante da trama, filho de Paul e o que sofre mais diante do terror invisível que acomete todos ali.
Ao Cair da Noite não traz respostas mastigadas e fáceis ao espectador. O seu título é bem sugestivo e vai da interpretação de quem assiste. Trey Edward Shults mostra que tem talento inegável e aos poucos se continuar assim em breve pode criar o seu próprio cinema de autor, repleto de terror psicológico e confinado a pequenos espaços. A versatilidade vista nesses seus dois trabalhos comprova que ele é alguém que pode virar um grande diretor contemporâneo. Quem busca sustos fáceis, uma história linear e explicadinha pode se decepcionar, no entanto.
Filmes sobre a Segunda Guerra Mundial têm que possuir um algo a mais para chamar nossa atenção, devido ao grande número de produções que trataram sobre o tema. O versátil diretor Christopher Nolan resolveu se embrenhar na Guerra contando um evento importante desse conflito, que foi a evacuação de Dunkirk, em que britânicos aliados aos franceses ficaram presos entre o mar e o fogo alemão. O resultado, que poderia apelar para emoções não foi o esperado. Dunkirk é um filme frio emotivamente, mas diferente, experimental até, com uma visão única sobre a Guerra, sem dar nomes aos protagonistas, sem dar tanta importância aos personagens, mas narrativamente e nos aspectos técnicos é onde repousa a maestria do diretor. A trilha sonora de Hans Zimmer se não for a melhor do ano até o momento está em posição de destaque. Praticamente um personagem do filme, a trilha está em todo o filme, o que evoca toda a tensão sofrida pelos personagens, a claustrofobia, o medo. A iminência de um ataque, a calmaria, a esperança, o tique-taque do relógio que denota uma confusão, um caos do tempo (A linha narrativa do filme é não-linear e a música se mistura a isso), tudo em perfeita harmonia nos acordes do renomado compositor. As cenas debaixo d'água, as batalhas aéreas, o corre-corre no solo, uma maneira ímpar de contar uma história sob três perspectivas e sob três tempos diferentes: Uma semana, um dia, uma hora. Isso, no entanto, não é realizado de uma maneira perfeita, temos as confusões, os entrelaçamentos de uma situação em outra e não ajuda a criar empatia pelos que viveram àquele terror. E o som, os barulhos de bombas, pessoas se afogando dão um tom de sufoco àquilo, mas tudo muito "clean" e que não mostra tão bem assim os horrores de uma guerra de uma maneira tão devastadora. Apesar de nomes importantes no elenco, nenhum se destaca no quesito atuação, justamente porque Nolan não dá a atenção devida aos personagens. Nenhuma atuação marcante, mas todos executam seus papéis de uma maneira correta. Não é o filme perfeito sobre a Guerra, o trabalho definitivo do diretor, mas Dunkirk tem qualidades admiráveis, principalmente nos aspectos técnicos e de direção, além da trilha sonora excepcional. No entanto, faltou mais um pouco para nos deixar fascinados e pensativos sobre o mal que é uma guerra.
Edgar Wright é um diretor consagrado em seu país natal e fez o seu nome com a trilogia Cornetto (Shaun of the Dead, Hot Fuzz e The World's End), além da bem sucedida adaptação de Scott Pilgrim. É moderno, ousado e sabe aliar muito bem o humor com as invencionices visuais. É alguém que sabe o que faz e gosta de agir com total liberdade. Após sua tentativa frustrada em adaptar um personagem da Marvel com Homem-Formiga o diretor volta-se a mais um projeto pessoal com roteiro escrito por ele próprio e sai muito bem com o delicioso Baby Driver. A Marvel perdeu um grande diretor por não deixar que ele controlasse a obra, mas está aí para nos presentear com trabalhos modernos e altamente divertidos futuramente. O roteiro é algo já visto em diversos heist movies por aí, mas o diretor injeta uma adrenalina nas cenas de ação e o aspecto sonoro é um personagem, em uma montagem frenética e genial, misturando som e imagem de uma maneira tão milimetricamente trabalhada que é digna de prêmios. Apesar de sua trilha sonora não ser original, a setlist do filme é perfeita, principalmente em momentos-chave em que tocam Hocus Pocus do Focus e Brighton Rock do Queen. Assim como o personagem Baby eu me identifiquei, pois não sei dirigir sem ter uma música tocando e me peguei pensando em tempos outros em que dirigia ouvindo os primeiros álbuns do Queen, injetado de adrenalina com todos aqueles solos virtuosos da música Brighton Rock. Essa sensação é surreal e por que não nostálgica. O humor é pontual e bem sacado, com referências a outros clássicos do cinema. Os personagens são estilosos, Ansel Elgort encarna o protagonista de uma maneira competente, assim como os antagonistas e o interesse amoroso do Baby, a linda Debora (Lily James). Apesar de não ter um clímax tão insano como poderíamos imaginar o filme fecha de uma maneira simples, mas que não tira o nosso sorriso do rosto ao fim da sessão. Espero que com esse filme Edgar Wright consiga projetos maiores e que possa imprimir sua autoria com a liberdade costumeira, pois há coisa pior que privar ideias e impressões à custa do mercado ou do lucro exacerbado? Melhor dar de presente uma obra autêntica e que não deixa de ser eficiente.
Um thriller psicológico com toques de drama (Ou o contrário) que é muito eficiente ao criar tensão. A cena inicial você já fica apreensivo e durante todo o filme o diretor Perry Blackshear utiliza eficazmente uma sonoplastia que causa arrepios. Nesse aspecto o som do filme é um detalhe chamativo e que é utilizado a favor do clima de paranóia e tensão. Tem um ritmo lento, arrastado, mas tem uma curta duração, o que não chega a ser problema. O filme é repleto de metáforas sobre doenças psíquicas, como esquizofrenia e depressão e interessante que a dupla principal é enferma nesse aspecto: Um é esquizofrênico e outro tem baixíssima alto estima, ambos com relacionamentos recém-fracassados. O filme a todo tempo trata as pessoas ao redor como demônios que não devemos confiar, algo que se assemelha à depressão em que geralmente os que a tem se isolam e não procuram ajuda. Nesse aspecto o filme funciona. O desfecho é interessante, um misto de tensão com beleza. Um filme curioso, uns podem adorar outros odiar, mas é um trabalho que tem o que mostrar.
Obra-prima que influenciou o excelente "A Pele que Habito", do Pedro Almodóvar, Os Olhos sem Rosto é um trabalho perturbador. Nos idos anos 60 uma história sobre um cirurgião plástico que tenta reconstruir o rosto da filha ainda continua atual, como todo clássico que é atemporal. A famosa cena da cirurgia é perturbadora até para os espectadores de hoje. Além dessa cena em especial, o filme é repleto de icônicas passagens, em um trabalho inspiradíssimo do Georges Franju. Tudo no filme está em harmonia, desde a trilha sonora composta por Maurice Jarre, atuações até a linda fotografia em preto e branco. Um filme que está enquadrado no horror porque mostra o mal contido em nós mesmos, embora às vezes queiramos fazer o bem. Um trabalho brutal e ao mesmo tempo poético. Clássico absoluto.
Filmes surrealistas são muito abstratos e requerem muita interpretação para decodificar seus signos, códigos. Alguns são de mais fácil identificação, outros não. E notas são inúteis para classificar uma arte, as utilizo apenas como parâmetro para dizer o quanto gostei ou não de uma obra, seu grau de intensidade.
Fato é que foi o primeiro filme que vi da Tchecoslováquia, de um movimento que ocorreu por lá chamado New Wave ou Nouvelle Vague Tcheca, composto em grande parte por filmes surrealistas. E esta pérola está incluída aí. Valerie e sua semana de Maravilhas (Como também é conhecido no Brasil) é uma mistura de música e fotografia acachapante e Alice no País das Maravilhas para adultos com uma pitada de Nosferatu. Se a obra de Lewis Carroll já é lisérgica, imagine essa aqui.
Um produto feito principalmente para representar o início da puberdade da personagem-título (O pôster representa uma cena icônica em que a primeira menstruação de Valerie cai em uma margarida, como um desabrochar de uma rosa), o longa é como uma viagem da Valerie em que confunde realidade com fantasia. A sexualidade sempre presente desperta visões em Valerie (Jaroslava Schallerová, que tinha 14 anos à época).
Um dos principais destaques do filme, além de uma trilha e fotografia magníficas é a sua coragem em retratar temas como incesto, pedofilia e figuras religiosas como vampiros nos início dos anos 70. Sim, a Valerie é objeto de desejo de padres e adultos no filme e seus seios aparecem desnudos, em cenas que podem chocar o espectador mais sensível. Misture aí brincos mágicos, doninhas que viram humanos, repressão sexual na Igreja e vampiros e temos essa curioso filme, que tal ousadia lembra obras do magnífico Alejandro Jodorowsky, com um grau ainda maior de abstração. Não sabemos se as cenas são sonhos ou realidades na vida de Valerie, cabe ao espectador interpretar.
Valerie e sua Semana de Deslumbramento é um filme que ainda cria espaço em minha mente, não é um filme fácil, mas certamente ficará com você após o seu término. E melhor de tudo é que tem curta duração. O diretor Jaromil Jires quer goste quer não causou um rebuliço admirável com esse filme. É importante, tem seu culto de seguidores e inclusive foi lançado pela Criterion.
A expressão "Cinema de Autor" é completamente válida para aquele cineasta em que imprime sua visão aos seus filmes, diferenciada e que confere uma autenticidade, uma marca, uma identidade. David Cronenberg, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Quentin Tarantino, até mesmo cineastas mais contemporâneos, como Edgar Wright, Denis Villeneuve e Christopher Nolan já fincaram suas marcas no cinema e já sabemos o que esperar de seus trabalhos quanto à visão deles no cinema. Terrence Malick também tem o seu próprio cinema e ele apesar dos hiatos da vida faz parte da velha guarda.
Não sou profundo conhecedor de suas obras (Só conferi Terra de Ninguém, que gostei muito e O Novo Mundo, filme que não gostei na época). Justamente após ter visto O Novo Mundo e não ter gostado fez com que me afastasse do cinema de Malick. Seus filmes posteriores, no entanto, têm a mesma visão, seu cinema de autor, conhecido por fazer um mergulho nos personagens com a câmera, fazer viagens pelos seus corpos, ouvirmos narradores externando sentimentos aliados à fotografia magnífica de Emmanuel Lubezki. E tudo isso está presente em seu novo trabalho, De Canção a Canção.
Inicialmente, ficamos confusos com todo aquele misto de personagens aleatórios, narrações aparentemente sem sentido e depois passamos a conhecer o trio de personagens principais, interpretados por Michael Fassbender, Ryan Gosling e Rooney Mara. Só sabemos o nome de Mara e por isso mesmo ela é a personagem central do filme. É ela quem expõe durante todo o filme as suas frustrações em não ter apego, a querer a liberdade. Ao mesmo tempo que pretende se agarrar ao amor pelo personagem do Gosling ela também quer externar sua selvageria pelo produtor vivido por Fassbender, um sujeito entregue ao desejo mais primal, ao sexo sem compromisso, com múltiplas parceiras. E isso é a tônica do filme. Enquanto a câmera percorre seus corpos, o magnífico cenário, ouvimos as desilusões de seus personagens, envoltos pela música.
Na primeira hora de filme, quando nos habituamos àqueles triângulos amorosos, o filme funciona bem. A trilha sonora vem mais a calhar como verdadeira personagem, conferindo sentimentos aos personagens. Isso é mais visível nesse momento, a música evoca sentimentos neles. A partir do momento em que aparece a personagem de Natalie Portman o longa um pouco depois se perde em seus devaneios, em seus vai e vens, em outros sujeitos que aparecem, em outras canções. Sim, porque o filme tem essa ideia, como se cada etapa da vida fosse uma canção e nem sempre ela segue um padrão lógico, uma linearidade. Se não fosse pela fotografia estonteante de Lubezki eu teria provavelmente abandonado o filme em sua segunda metade. O que inicialmente funcionou comigo depois pareceu cansativo em suas repetições e em seus não-desenvolvimentos.
A atuação da Rooney Mara é o principal destaque, é ela quem é mais desenvolvida. Os outros, apesar de conhecermos um romantismo e até inocência em Gosling e uma lascívia em Fassbender fica por isso mesmo. Os outros atores são participações de luxo, como Cate Blanchett, Val Kilmer e os músicos Anthony Kiedis, Flea e Iggy Pop.
De Canção em Canção é um trabalho irregular do Malick, tem suas boas ideias, mas não consegue desenvolvê-las totalmente. Despertou no entanto uma nova vontade em conferir seus trabalhos mais aclamados.
Mais um reboot do Homem-Aranha e ao mesmo tempo não. Assim como é um filme de origem por mostrar um herói descobrindo seus poderes, desajeitado e descobrindo o peso da responsabilidade, ele é uma continuação, pois se passa depois dos eventos de Capitão América: Guerra Civil. O diretor Jon Watts egresso do terror e thrillers (Dirigiu Clown e Cop Car) dá um tom leve até demais, juvenil para se encaixar no novo Peter Parker, adolescente e repleto de novas descobertas. Apesar de ter gostado muito do Tom Holland no papel de Peter Parker, ainda não foi com esse filme que o ator mostrou todo seu potencial. É um filme leve, sem cenas tão marcantes, sem peso dramático, sem maiores perigos ao protagonista ou a seus entes próximos, mesmo com um bom vilão interpretado pelo ótimo Michael Keaton. Por isso, não é o filme definitivo do herói. Apesar de não ter gostado muito da ideia de fazer um Peter Parker mais jovem entendo a proposta da Marvel por ter readquirido os direitos dele no cinema e assim poder desenvolvê-lo melhor. A ligação quase constante com Os Vingadores pra mim acabou que tirando um pouco da liberdade do Aranha em ter um filme só pra si, pareceu mais um spin-off de Homem de Ferro ou Avengers, mas espero que futuramente em uma sequência apareçam conflitos maiores e um herói mais desenvolvido. Como citado até mesmo o vilão deveria aparecer mais na trama, senti como uma ótima escolha, um Keaton de volta ao universo dos heróis, mas sem muito tempo em tela. Quando o personagem começa a ficar mais interessante o filme já está perto do fim. Uma pena. Ainda prefiro os 2 primeiros do Sam Raimi (O 2 é infinitamente superior), mas esse novo filme do Aranha é muito melhor que o 3 do Raimi e as duas bombas do Espetacular Homem-Aranha.
Consagrado como um dos filmes mais polêmicos de todos os tempos, finalmente conferi The Devils, filme que ataca ferozmente a Igreja e trata todos os fanáticos como histéricos, todas as blasfêmias em pesadelos em película. Com atuações intensas de Oliver Reed e Vanessa Redgrave, o filme não poupa ninguém. Não havia heróis ou vilões na guerra entre católicos e protestantes, cada um tentando usar da religião como arma para subjugar ignorantes e praticarem as maiores atrocidades que a História talvez já tenha presenciado, em um período negro, de pragas, pestes e muita morte de inocentes. Desejos reprimidos, blasfêmias das mais diversas e uma crítica feroz que continua contundente nos dias de hoje, The Devils é uma obra pesada e que dificilmente vai deixar quem a assistir indiferente.
O filme tem uma premissa muito marcante, com um início altamente promissor. Embarcamos na road trip de Lucas (Joel Edgerton), Roy (Michael Shannon) e o garoto Alton (Jaeden Lieberher) em uma fuga que sugere perseguição pelo governo. Um culto em um rancho é investigado de onde o garoto Alton é capturado. Ficamos instigados com tudo isso. Porém, o roteiro escrito pelo próprio Jeff Nichols deixa muitas pontas soltas durante o filme e nem mesmo as excelentes sequências de ação e o ótimo elenco conseguem sustentar tanto o filme da obviedade, em suas tentativas de homenagem à E.T de Spielberg, mas sem um roteiro tão bem escrito. Uma pena, pois o filme tinha potencial para ser algo maior. O excesso de sugestão acaba evitando temas que seriam interessantes de serem explanados melhor, como o culto no Rancho, a origem do Alton e outros detalhes que tornam o filme um pouco incongruente. Mesmo assim, Jeff Nichols é um baita de um diretor que já dirigiu a preciosidade chamada Mud e pretendo ver seus outros filmes. Um filme com potencial, mas que não soube bem aproveitá-lo.
A Islândia é um país isolado, gélido, mas anualmente surpreende com o seu cinema peculiar e de grande qualidade. Heartstone é mais um grande exemplo de filme que se utiliza das belíssimas paisagens naturais dos campos islandeses para contar uma sensível história de descobertas, sexualidade e o drama de ser rejeitado por não poder ser você mesmo, em um local onde todo mundo te conhece e as conversas se espalham rapidamente. Assim como o peixe-pedra rejeitado pelos pré-adolescentes no início do filme, personagens também vão sofrer rejeições, em uma metáfora sutil. O filme é muito sincero para com o cotidiano de pré-adolescentes, ao mostrar suas vivências, descobertas do amor, problemas familiares e elos de amizade mais fortes do que aparentam. A fotografia deslumbrante ajuda a adentrarmos esse ambiente, tão conhecido por sua frieza, mas que seus protagonistas mostram uma vivacidade típica da idade, de uma forma universal. Calor humano tem de sobra em um cinema caracterizado pelas relações distantes entre as pessoas. Um belo debut e mais um filme islandês na lista que não deve passar despercebido.
Inegável ao assistirmos Z: A Cidade Perdida a lembrança a filmes clássicos como Apocalipse Now do Francis Ford Coppola ou até mesmo Fitzcarraldo, do Werner Herzog em alguns momentos. Obviamente que esse novo trabalho do James Gray não se equipara a essas obras citadas, mas o talentoso diretor resolve contar as histórias de Percy Fawcett de uma forma que não se torna cansativa, apesar da longa duração. Acompanhamos Fawcett desde sua caça por um veado para dar de presente ao Arquiduque Franz Ferdinand antes da Primeira Guerra até suas ilusões de grandeza após a suposta descoberta da cidade misteriosa Z, algo tão grandioso que é denominado assim pelo explorador como a última peça do quebra-cabeças do homem, por isso a última letra do alfabeto. A montagem do filme é muito bem feita e as elipses e passagem de tempo são fluídas e não denotam desequilíbrio. O elenco é forte, Charlie Hunnam mostra o vigor em seu personagem, Robert Pattinson mostra a cada vez que sabe muito bem escolher seus projetos, apesar de atuação mais contida e temos uma participação de Tom Holland. O filme perde tempo em determinadas passagens que fazem apenas volume, como as que envolvem o Murray (Angus Macfadyen) e a Sociedade Real Geográfica, companhia a qual Fawcett fazia parte. Porém o filme é mais um estudo do ser humano diante do desconhecido, do homem diante de culturas diferentes e sobre saber respeitar, mesmo diante de tanta hostilidade e preconceitos. A grandiosidade da natureza confronta a pequenez do homem em suas tentativas às vezes vãs de encontrar um sentido ou um caminho nunca antes percorrido. O desfecho abstrai e torna-se tão misterioso quanto à cidade Z. Um trabalho exemplar, mais um para a carreira de James Gray.
É fascinante ver um diretor do nível de Joon-ho Bong com tamanha projeção. Okja seu novo filme causou polêmica desde seu lançamento no Festival de Cannes desse ano, devido a não ter um lançamento em cinemas, apenas no Netflix, o que causou vários debates sobre a forma de se ver cinema: em tela grande ao modo clássico ou divulgar para que mais pessoas tenham acesso ao filme como promove a Netflix. Fato é que Okja deveria também passar nos cinemas, pois é um filme importante devido a sua temática e não deixa de ser um filme cativante para toda família, uma história da afeição de uma garota por seu bichinho de estimação, a adorável superporca Okja. Com certeza com a projeção mundial que o Okja está recebendo nesse momento pela Netflix muitas pessoas vão voltar seus olhos para Joon-ho Bong e descobrir o fabuloso cinema coreano. Bong que não é novato (Esse é seu segundo filme em Hollywood, o maravilhoso Expresso do Amanhã foi sua estréia), já tinha uma carreira sólida na Coréia do Sul, onde dirigiu as pérolas Memórias de um Assassino, O Hospedeiro e Mother, além do divertido Barking Dogs Never Bite. Junto a Chan-wook Park e Jee-woon Kim, Bong faz parte da Santíssima Trindade do Cinema Coreano.
Voltando à Okja, Bong mostra todo o seu apuro visual de costume, em um filme lindo esteticamente e corajoso ao mostrar uma visão peculiar coreana sobre um tema tão em voga ultimamente, atacando indústrias alimentícias, mais precisamente as indústrias de carne. O processo de criar um animal para o abatedouro, uma vida assim como um animal de estimação e o diretor sabe com maestria dosar o humor, com drama e nos fazer pensar nesse trajeto. Acredito que com um final mais impactante e personagens menos irritantes (Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, apesar de propositadamente caricaturais em seus papéis) o filme alcançaria um resultado ainda melhor, mas Okja é uma obra obrigatória mesmo assim. Uma fantasia com uma realidade cruel e como só os coreanos sabem fazer, encantadora, mas com punhos fechados sobre nossos rostos ao mesmo tempo.
Um noir diferente. Aqui não temos detetives alcoólatras, femme fatales ou algo que caracterize tanto um noir, mas temos personagens perversos, um crime e a figura da polícia sempre presente, elementos que o caracterizam como noir. Apesar disso o diretor não foi um Hitchcock da vida para trabalhar o suspense, algo tão comum em um filme do gênero e por isso The Prowler torna-se previsível desde o seu início. A motivação do policial para fazer o que faz durante o filme é que torna o longa um bom noir. Webb, em interpretação magnífica de Van Heflin é um sujeito frustrado com sua profissão de policial e logo se aproxima da rica Susan (Evelyn Keyes), uma mulher casada, mas de casamento infeliz e a solidão se instala diariamente no cair da noite. A vítima perfeita para um vigarista não é verdade?
A primeira parte do filme é muito boa, em um roteiro corajoso do Dalton Trumbo expondo a polícia como uma profissão que se aproveita de sua força para ter as coisas de uma forma fácil. Webb mostra-se um personagem desprezível, mas mesmo assim torcemos pela dupla protagonista, de uma forma mórbida até. No entanto, a partir do segundo e terceiro ato o diretor não soube muito bem conduzir a trama, caindo no melodrama e como já falei com zero suspense. A crueldade da história acaba por ter um desfecho tacanho e abrupto que foge do que vinha sendo exposto até então, o que torna O cúmplice das sombras, apesar de alçado a clássico noir, um filme apenas bom no estilo, mas que tinha potencial para algo maior. O longa vale pela atuação do Van Heflin, seu policial cruel e pelo primeiro ato muito bem construído, ao expor o excesso policial e uma dupla relação abusiva.
Lady Macbeth
3.5 158Um filme que poderia se passar em qualquer época, mas o período escolhido é um espelho do que estamos vivendo atualmente. Embora o avanço dos direitos sociais tenha sido enorme, ainda resta muito preconceito racial e opressão às mulheres. Mulheres que antes eram submissas aos maridos, sem se sentirem amadas e empregadas negras que não podiam expor suas opiniões sem serem repreendidas. Hoje muitas mulheres ainda são submissas, permitem viver um amor de mentira e o racismo parece que só aumenta. O filme é eficaz ao mostrar a resistência diante das injustiças numa época em que as mulheres eram praticamente objetos de enfeite. O que torna Lady Macbeth tão fascinante é que a mulher subjugada aqui, com a sede cada vez maior de liberdade acaba por adquirir um senso cada vez maior de justiça com as próprias mãos, de vingança. E o filme assim vira de cabeça para baixo, em uma jornada de uma mulher calejada diante da opressão, que acaba tornando-se cega com o seu desejo ardente de ser feliz, custe o que custar. Florence Pugh em grande atuação e o filme é uma excelente estréia na direção de William Oldroyd. Uma surpresa.
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraMais uma boa adaptação de Stephen King. Não li o livro, mas já vi uns dizendo que é extremamente fiel. Extremamente bem conduzido, Carla Gugino em atuação sensacional e uma cena que desde já é a mais angustiante do ano. As metáforas de prisão e abusos são bem legais, única coisa que não gostei tanto assim foi
[/spoiler] do tal Homem do Luar. Achei deslocado no filme, assim como o seu final. Mas como tem no livro então devem ter sido fiéis, né? Achei bem deslocadas do filme essas cenas.
[spoiler]
Um bom filme apenas, que poderia ser melhor
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraO fato fundamental de A Ghost Story ser eficaz é concentrar-se na nossa pequenez diante do tempo. Ele é cruel, gigante, imortal e às vezes um propósito de uma vida pode se esvair quando dedicamos muito tempo a ele sem termos ação. O peso temporal em nossos ombros torna-se uma carga pesadíssima que não podemos suportar. Como areias ao vento somos carregados, devorados e inexoravelmente devemos deixar nossa semente plantada nesse mundo antes de partir para o além-túmulo. Ver consequências dos nossos atos em vida. O fantasma de nós mesmos é o protagonista dessa obra magistral, incapacitado diante de não poder agir, de não poder mudar o destino.
O filme cresce dentro do espectador à medida que pensamos mais e mais sobre ele. É uma obra rica que tem uma força em cada um, mas que com certeza vai deixar uma marca. Diferente de Personal Shopper, filme recente que trata sobre a perda e fantasmas, A Ghost Story não se preocupa em dar sustos ou aterrorizar o espectador. Longe disso: Ele se concentra em filosofar e David Lowery dá uma aula a muitos diretores e roteiristas de como manipular sentimentos sem usar palavras. Provocar reflexões sobre o que deixamos aqui na Terra e que o tempo é implacável. Dos filmes mais belos e tristes de 2017, A Ghost Story já é o meu preferido do ano, um clássico moderno que só agrega valor a quem o experimentar.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraMelhor filme do ano, até o momento
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraMano, que filme foi esse que acabei de ver? Não consigo dormir
A Máquina de Lembranças
3.1 93 Assista AgoraA ideia é semelhante ao episódio 3 da Primeira temporada de Black Mirror (The Entire History of You), mas mesmo um episódio de uma série consegue mexer mais com o espectador que esse filme. Rememory trata sobre manipular memórias, guardá-las e mostrar a outras pessoas, mas possui personagens com propósitos inverossímeis e que não cativam o espectador. E o protagonista é o talentoso ator Peter Dinklage, mas nem ele consegue salvar o filme de sua previsibilidade. Existe um plot twist ao final que não surpreende ninguém, a própria relação dele com o irmão é mostrada de uma forma que parece até tosca e até o finado ator Anton Yelchin em um papel caricato. Como resultado, Rememory tem uma boa ideia, belas imagens e algumas boas atuações, mas com um roteiro que merecia uma revisão. Em vez de surpreender é uma experiência tediosa.
Antimatéria
2.6 29Ficção-Científica inteligente e que intriga o espectador até o seu final. Debut de um longa-metragem na direção de Keir Burrows, Anti Matter é uma sci-fi noir como descrita, já que além das constantes questões cerebrais propostas pelo roteiro ainda existe uma investigação para saber o que aconteceu com Ana após uma experiência com teletransporte, já que após o ocorrido ela não tem mais uma memória apurada, não se alimenta e é perseguida. Tem alguns detalhes na trama que a tornam um pouco inchada, como a inclusão de um detetive governamental e ativistas contra o uso de cobaias animais em experimentos, mas o núcleo do filme o torna diferente dos demais, com seus questionamentos inteligentes. Destaque para a atuação de Yaiza Figueroa no papel principal. Para quem gostou de filmes como Coherence, O Predestinado, A Outra Terra pode gostar muito desse.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraExcelente, pode-se dizer que é um dos melhores do ano e de terror também. Quem leu o livro e não gostou está bancando o chato, eu que geralmente não curto adaptações quando leio a obra original achei que foi uma excelente adaptação. Algumas mudanças, mas que ficaram bem-vindas ao filme. Elenco muito bom, roteiro muito bem escrito e respeitoso por parte do Cary Fukunaga e uma direção competente do Andy Muschietti (Não gostei de Mama e vê-lo evoluir tanto assim é muito bom). Além disso possui algo ausente da minissérie dos anos 90: A violência e o terror. Aqui estão bem presentes, além de um bom humor. Vale muito a pena.
PS: Essa geração Nutella que fala que esse filme lembra Stranger Things, como se a série não fosse inspirada no livro de Stephen King
Guerreiro da Escuridão
2.5 28 Assista AgoraGenérico ao extremo, esquecível. Tem uma boa direção, mas não salva de ser um mais do mesmo filme de vingança.
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraAtômica é uma amostra do inegável talento do diretor David Leitch: Ele imprime uma marca própria e diverge da visão do amigo Stahelski, o que é um bom caminho a se seguir. É um filme com reconstituição de época magnífica, enérgico, trilha sonora espetacular, sequências de ação irrepreensíveis, uma personagem feminina dantesca, mas que repousa tudo isso em um roteiro não tão bem transposto para a tela, sem causar muitas surpresas ao espectador. É uma obra acima da média e um exemplo a ser seguido por outros diretores, quanto às cenas de ação.
Ao Cair da Noite
3.1 977 Assista AgoraA tendência atual do gênero horror no cinema é a fuga de narrativas lineares ou de sustos fáceis, uma concentração maior no terror psicológico. Devido a essas características foi cunhado um termo chamado Post-Horror, em que fazem parte desse movimento filmes como Corrente do Mal (It Follows), A Bruxa (The Witch), Corra! (Get Out), dentre outros tão badalados por crítica e público. Ao Cair da Noite pode facilmente ser enquadrado nesse rol.
O diretor Trey Edward Shults ganhou notoriedade com o seu debut Krisha (2015), que utiliza de um acontecimento trivial (Um encontro familiar em pleno Dia de Ação de Graças) para catalisar demônios interiores e passados, mágoas e desejos reprimidos. Além disso, o diretor utiliza de uma história bem pessoal, já que a protagonista da história (Krisha Fairchild) é tia de verdade do Trey Edward e cria uma tensão iminente em uma simples reunião de família.
O apuro técnico em trabalhar apenas em um espaço foi notado pela crítica e o diretor continua seu caminho rumo ao reconhecimento com seu segundo longa-metragem o qual é o propósito desse texto. Em Ao Cair da Noite acompanhamos uma família em um mundo pós-apocalíptico que foi afligido por uma epidemia desconhecida e que o roteiro não se preocupa em explicar a origem ou seus sintomas. Apesar de conhecermos um pouco da ambientação ao redor da residência da família, o filme praticamente se passa em um único ambiente, ou seja, o diretor intensifica a característica vista em seu longa anterior, dessa vez sob outro contexto.
Dois aspectos importantes nesse filme que merecem destaque são a trilha sonora composta por Brian McOmber e a direção segura e claustrofóbica de Trey Edward Shults. A música é ambiental e é totalmente eficaz para causar um sentimento de tensão crescente no espectador. Quando há momentos de calmaria a música é quase etérea, quando há conflitos ou ameaças a trilha é substituída por batidas que incomodam e arrepiam. Um trabalho digno de nota.
A direção é outro aspecto fundamental para que o filme tenha obtido tamanho sucesso. A câmera em primeira pessoa (Principalmente em sequências de pesadelos de determinado personagem) faz com que adentremos naquela casa, sintamos arrepios na espinha e sim, há poucos jump scares, mas totalmente eficientes. Há resquícios de O Iluminado na porta cor de sangue, entrada de um mal desconhecido, assim como as portas do elevador que derramam um mar do líquido vermelho vital na obra de Kubrick. Há semelhanças na ambientação ao elogiadíssimo game The Last of Us, tanto pelo fato de ocorrer uma epidemia, quanto no ar pós-apocalíptico e familiar que cerca o personagem Paul (O ator Joel Edgerton, que inclusive o primeiro nome é o mesmo do protagonista do game da empresa Naughty Dog, assim como sua semelhança física, de barba e olhar triste).
O quesito atuação também merece elogios. Joel Edgerton vem cada vez ganhando mais a minha simpatia e alçando vôos cada vez maiores, tanto em direção (Dirigiu e atuou no elogiado O Presente), quanto na sua performance. Ele interpreta um pai amargurado, calejado por muitas tragédias que não conhecemos, mas que devido ao seu olhar e resistência quanto aos fatos observamos tal comportamento. Um misto de amor paternal, agressividade e medo diante do desconhecido. O talentoso e até então desconhecido Christopher Abbott (Cuja compleição física é inegavelmente parecida com a do ator Kit Harrington, de Game of Thrones), visto no excelente e elogiado filme James White, também está ótimo no papel de Will, um sujeito que cruza caminho com a família de Paul. E Kelvin Harrison Jr. interpreta Travis, o personagem talvez mais importante da trama, filho de Paul e o que sofre mais diante do terror invisível que acomete todos ali.
Ao Cair da Noite não traz respostas mastigadas e fáceis ao espectador. O seu título é bem sugestivo e vai da interpretação de quem assiste. Trey Edward Shults mostra que tem talento inegável e aos poucos se continuar assim em breve pode criar o seu próprio cinema de autor, repleto de terror psicológico e confinado a pequenos espaços. A versatilidade vista nesses seus dois trabalhos comprova que ele é alguém que pode virar um grande diretor contemporâneo. Quem busca sustos fáceis, uma história linear e explicadinha pode se decepcionar, no entanto.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraFilmes sobre a Segunda Guerra Mundial têm que possuir um algo a mais para chamar nossa atenção, devido ao grande número de produções que trataram sobre o tema. O versátil diretor Christopher Nolan resolveu se embrenhar na Guerra contando um evento importante desse conflito, que foi a evacuação de Dunkirk, em que britânicos aliados aos franceses ficaram presos entre o mar e o fogo alemão. O resultado, que poderia apelar para emoções não foi o esperado. Dunkirk é um filme frio emotivamente, mas diferente, experimental até, com uma visão única sobre a Guerra, sem dar nomes aos protagonistas, sem dar tanta importância aos personagens, mas narrativamente e nos aspectos técnicos é onde repousa a maestria do diretor. A trilha sonora de Hans Zimmer se não for a melhor do ano até o momento está em posição de destaque. Praticamente um personagem do filme, a trilha está em todo o filme, o que evoca toda a tensão sofrida pelos personagens, a claustrofobia, o medo. A iminência de um ataque, a calmaria, a esperança, o tique-taque do relógio que denota uma confusão, um caos do tempo (A linha narrativa do filme é não-linear e a música se mistura a isso), tudo em perfeita harmonia nos acordes do renomado compositor. As cenas debaixo d'água, as batalhas aéreas, o corre-corre no solo, uma maneira ímpar de contar uma história sob três perspectivas e sob três tempos diferentes: Uma semana, um dia, uma hora. Isso, no entanto, não é realizado de uma maneira perfeita, temos as confusões, os entrelaçamentos de uma situação em outra e não ajuda a criar empatia pelos que viveram àquele terror. E o som, os barulhos de bombas, pessoas se afogando dão um tom de sufoco àquilo, mas tudo muito "clean" e que não mostra tão bem assim os horrores de uma guerra de uma maneira tão devastadora. Apesar de nomes importantes no elenco, nenhum se destaca no quesito atuação, justamente porque Nolan não dá a atenção devida aos personagens. Nenhuma atuação marcante, mas todos executam seus papéis de uma maneira correta. Não é o filme perfeito sobre a Guerra, o trabalho definitivo do diretor, mas Dunkirk tem qualidades admiráveis, principalmente nos aspectos técnicos e de direção, além da trilha sonora excepcional. No entanto, faltou mais um pouco para nos deixar fascinados e pensativos sobre o mal que é uma guerra.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista AgoraEdgar Wright é um diretor consagrado em seu país natal e fez o seu nome com a trilogia Cornetto (Shaun of the Dead, Hot Fuzz e The World's End), além da bem sucedida adaptação de Scott Pilgrim. É moderno, ousado e sabe aliar muito bem o humor com as invencionices visuais. É alguém que sabe o que faz e gosta de agir com total liberdade. Após sua tentativa frustrada em adaptar um personagem da Marvel com Homem-Formiga o diretor volta-se a mais um projeto pessoal com roteiro escrito por ele próprio e sai muito bem com o delicioso Baby Driver. A Marvel perdeu um grande diretor por não deixar que ele controlasse a obra, mas está aí para nos presentear com trabalhos modernos e altamente divertidos futuramente. O roteiro é algo já visto em diversos heist movies por aí, mas o diretor injeta uma adrenalina nas cenas de ação e o aspecto sonoro é um personagem, em uma montagem frenética e genial, misturando som e imagem de uma maneira tão milimetricamente trabalhada que é digna de prêmios. Apesar de sua trilha sonora não ser original, a setlist do filme é perfeita, principalmente em momentos-chave em que tocam Hocus Pocus do Focus e Brighton Rock do Queen. Assim como o personagem Baby eu me identifiquei, pois não sei dirigir sem ter uma música tocando e me peguei pensando em tempos outros em que dirigia ouvindo os primeiros álbuns do Queen, injetado de adrenalina com todos aqueles solos virtuosos da música Brighton Rock. Essa sensação é surreal e por que não nostálgica. O humor é pontual e bem sacado, com referências a outros clássicos do cinema. Os personagens são estilosos, Ansel Elgort encarna o protagonista de uma maneira competente, assim como os antagonistas e o interesse amoroso do Baby, a linda Debora (Lily James). Apesar de não ter um clímax tão insano como poderíamos imaginar o filme fecha de uma maneira simples, mas que não tira o nosso sorriso do rosto ao fim da sessão. Espero que com esse filme Edgar Wright consiga projetos maiores e que possa imprimir sua autoria com a liberdade costumeira, pois há coisa pior que privar ideias e impressões à custa do mercado ou do lucro exacerbado? Melhor dar de presente uma obra autêntica e que não deixa de ser eficiente.
They Look Like People
3.1 59Um thriller psicológico com toques de drama (Ou o contrário) que é muito eficiente ao criar tensão. A cena inicial você já fica apreensivo e durante todo o filme o diretor Perry Blackshear utiliza eficazmente uma sonoplastia que causa arrepios. Nesse aspecto o som do filme é um detalhe chamativo e que é utilizado a favor do clima de paranóia e tensão. Tem um ritmo lento, arrastado, mas tem uma curta duração, o que não chega a ser problema. O filme é repleto de metáforas sobre doenças psíquicas, como esquizofrenia e depressão e interessante que a dupla principal é enferma nesse aspecto: Um é esquizofrênico e outro tem baixíssima alto estima, ambos com relacionamentos recém-fracassados. O filme a todo tempo trata as pessoas ao redor como demônios que não devemos confiar, algo que se assemelha à depressão em que geralmente os que a tem se isolam e não procuram ajuda. Nesse aspecto o filme funciona. O desfecho é interessante, um misto de tensão com beleza. Um filme curioso, uns podem adorar outros odiar, mas é um trabalho que tem o que mostrar.
Os Olhos Sem Rosto
4.0 232Obra-prima que influenciou o excelente "A Pele que Habito", do Pedro Almodóvar, Os Olhos sem Rosto é um trabalho perturbador. Nos idos anos 60 uma história sobre um cirurgião plástico que tenta reconstruir o rosto da filha ainda continua atual, como todo clássico que é atemporal. A famosa cena da cirurgia é perturbadora até para os espectadores de hoje. Além dessa cena em especial, o filme é repleto de icônicas passagens, em um trabalho inspiradíssimo do Georges Franju. Tudo no filme está em harmonia, desde a trilha sonora composta por Maurice Jarre, atuações até a linda fotografia em preto e branco. Um filme que está enquadrado no horror porque mostra o mal contido em nós mesmos, embora às vezes queiramos fazer o bem. Um trabalho brutal e ao mesmo tempo poético. Clássico absoluto.
Valerie e Sua Semana de Deslumbramentos
3.9 191 Assista AgoraFilmes surrealistas são muito abstratos e requerem muita interpretação para decodificar seus signos, códigos. Alguns são de mais fácil identificação, outros não. E notas são inúteis para classificar uma arte, as utilizo apenas como parâmetro para dizer o quanto gostei ou não de uma obra, seu grau de intensidade.
Fato é que foi o primeiro filme que vi da Tchecoslováquia, de um movimento que ocorreu por lá chamado New Wave ou Nouvelle Vague Tcheca, composto em grande parte por filmes surrealistas. E esta pérola está incluída aí. Valerie e sua semana de Maravilhas (Como também é conhecido no Brasil) é uma mistura de música e fotografia acachapante e Alice no País das Maravilhas para adultos com uma pitada de Nosferatu. Se a obra de Lewis Carroll já é lisérgica, imagine essa aqui.
Um produto feito principalmente para representar o início da puberdade da personagem-título (O pôster representa uma cena icônica em que a primeira menstruação de Valerie cai em uma margarida, como um desabrochar de uma rosa), o longa é como uma viagem da Valerie em que confunde realidade com fantasia. A sexualidade sempre presente desperta visões em Valerie (Jaroslava Schallerová, que tinha 14 anos à época).
Um dos principais destaques do filme, além de uma trilha e fotografia magníficas é a sua coragem em retratar temas como incesto, pedofilia e figuras religiosas como vampiros nos início dos anos 70. Sim, a Valerie é objeto de desejo de padres e adultos no filme e seus seios aparecem desnudos, em cenas que podem chocar o espectador mais sensível. Misture aí brincos mágicos, doninhas que viram humanos, repressão sexual na Igreja e vampiros e temos essa curioso filme, que tal ousadia lembra obras do magnífico Alejandro Jodorowsky, com um grau ainda maior de abstração. Não sabemos se as cenas são sonhos ou realidades na vida de Valerie, cabe ao espectador interpretar.
Valerie e sua Semana de Deslumbramento é um filme que ainda cria espaço em minha mente, não é um filme fácil, mas certamente ficará com você após o seu término. E melhor de tudo é que tem curta duração. O diretor Jaromil Jires quer goste quer não causou um rebuliço admirável com esse filme. É importante, tem seu culto de seguidores e inclusive foi lançado pela Criterion.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraA expressão "Cinema de Autor" é completamente válida para aquele cineasta em que imprime sua visão aos seus filmes, diferenciada e que confere uma autenticidade, uma marca, uma identidade. David Cronenberg, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Quentin Tarantino, até mesmo cineastas mais contemporâneos, como Edgar Wright, Denis Villeneuve e Christopher Nolan já fincaram suas marcas no cinema e já sabemos o que esperar de seus trabalhos quanto à visão deles no cinema. Terrence Malick também tem o seu próprio cinema e ele apesar dos hiatos da vida faz parte da velha guarda.
Não sou profundo conhecedor de suas obras (Só conferi Terra de Ninguém, que gostei muito e O Novo Mundo, filme que não gostei na época). Justamente após ter visto O Novo Mundo e não ter gostado fez com que me afastasse do cinema de Malick. Seus filmes posteriores, no entanto, têm a mesma visão, seu cinema de autor, conhecido por fazer um mergulho nos personagens com a câmera, fazer viagens pelos seus corpos, ouvirmos narradores externando sentimentos aliados à fotografia magnífica de Emmanuel Lubezki. E tudo isso está presente em seu novo trabalho, De Canção a Canção.
Inicialmente, ficamos confusos com todo aquele misto de personagens aleatórios, narrações aparentemente sem sentido e depois passamos a conhecer o trio de personagens principais, interpretados por Michael Fassbender, Ryan Gosling e Rooney Mara. Só sabemos o nome de Mara e por isso mesmo ela é a personagem central do filme. É ela quem expõe durante todo o filme as suas frustrações em não ter apego, a querer a liberdade. Ao mesmo tempo que pretende se agarrar ao amor pelo personagem do Gosling ela também quer externar sua selvageria pelo produtor vivido por Fassbender, um sujeito entregue ao desejo mais primal, ao sexo sem compromisso, com múltiplas parceiras. E isso é a tônica do filme. Enquanto a câmera percorre seus corpos, o magnífico cenário, ouvimos as desilusões de seus personagens, envoltos pela música.
Na primeira hora de filme, quando nos habituamos àqueles triângulos amorosos, o filme funciona bem. A trilha sonora vem mais a calhar como verdadeira personagem, conferindo sentimentos aos personagens. Isso é mais visível nesse momento, a música evoca sentimentos neles. A partir do momento em que aparece a personagem de Natalie Portman o longa um pouco depois se perde em seus devaneios, em seus vai e vens, em outros sujeitos que aparecem, em outras canções. Sim, porque o filme tem essa ideia, como se cada etapa da vida fosse uma canção e nem sempre ela segue um padrão lógico, uma linearidade. Se não fosse pela fotografia estonteante de Lubezki eu teria provavelmente abandonado o filme em sua segunda metade. O que inicialmente funcionou comigo depois pareceu cansativo em suas repetições e em seus não-desenvolvimentos.
A atuação da Rooney Mara é o principal destaque, é ela quem é mais desenvolvida. Os outros, apesar de conhecermos um romantismo e até inocência em Gosling e uma lascívia em Fassbender fica por isso mesmo. Os outros atores são participações de luxo, como Cate Blanchett, Val Kilmer e os músicos Anthony Kiedis, Flea e Iggy Pop.
De Canção em Canção é um trabalho irregular do Malick, tem suas boas ideias, mas não consegue desenvolvê-las totalmente. Despertou no entanto uma nova vontade em conferir seus trabalhos mais aclamados.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraMais um reboot do Homem-Aranha e ao mesmo tempo não. Assim como é um filme de origem por mostrar um herói descobrindo seus poderes, desajeitado e descobrindo o peso da responsabilidade, ele é uma continuação, pois se passa depois dos eventos de Capitão América: Guerra Civil. O diretor Jon Watts egresso do terror e thrillers (Dirigiu Clown e Cop Car) dá um tom leve até demais, juvenil para se encaixar no novo Peter Parker, adolescente e repleto de novas descobertas. Apesar de ter gostado muito do Tom Holland no papel de Peter Parker, ainda não foi com esse filme que o ator mostrou todo seu potencial. É um filme leve, sem cenas tão marcantes, sem peso dramático, sem maiores perigos ao protagonista ou a seus entes próximos, mesmo com um bom vilão interpretado pelo ótimo Michael Keaton. Por isso, não é o filme definitivo do herói. Apesar de não ter gostado muito da ideia de fazer um Peter Parker mais jovem entendo a proposta da Marvel por ter readquirido os direitos dele no cinema e assim poder desenvolvê-lo melhor. A ligação quase constante com Os Vingadores pra mim acabou que tirando um pouco da liberdade do Aranha em ter um filme só pra si, pareceu mais um spin-off de Homem de Ferro ou Avengers, mas espero que futuramente em uma sequência apareçam conflitos maiores e um herói mais desenvolvido. Como citado até mesmo o vilão deveria aparecer mais na trama, senti como uma ótima escolha, um Keaton de volta ao universo dos heróis, mas sem muito tempo em tela. Quando o personagem começa a ficar mais interessante o filme já está perto do fim. Uma pena. Ainda prefiro os 2 primeiros do Sam Raimi (O 2 é infinitamente superior), mas esse novo filme do Aranha é muito melhor que o 3 do Raimi e as duas bombas do Espetacular Homem-Aranha.
Os Demônios
3.9 153Consagrado como um dos filmes mais polêmicos de todos os tempos, finalmente conferi The Devils, filme que ataca ferozmente a Igreja e trata todos os fanáticos como histéricos, todas as blasfêmias em pesadelos em película. Com atuações intensas de Oliver Reed e Vanessa Redgrave, o filme não poupa ninguém. Não havia heróis ou vilões na guerra entre católicos e protestantes, cada um tentando usar da religião como arma para subjugar ignorantes e praticarem as maiores atrocidades que a História talvez já tenha presenciado, em um período negro, de pragas, pestes e muita morte de inocentes. Desejos reprimidos, blasfêmias das mais diversas e uma crítica feroz que continua contundente nos dias de hoje, The Devils é uma obra pesada e que dificilmente vai deixar quem a assistir indiferente.
Destino Especial
3.3 159O filme tem uma premissa muito marcante, com um início altamente promissor. Embarcamos na road trip de Lucas (Joel Edgerton), Roy (Michael Shannon) e o garoto Alton (Jaeden Lieberher) em uma fuga que sugere perseguição pelo governo. Um culto em um rancho é investigado de onde o garoto Alton é capturado. Ficamos instigados com tudo isso. Porém, o roteiro escrito pelo próprio Jeff Nichols deixa muitas pontas soltas durante o filme e nem mesmo as excelentes sequências de ação e o ótimo elenco conseguem sustentar tanto o filme da obviedade, em suas tentativas de homenagem à E.T de Spielberg, mas sem um roteiro tão bem escrito. Uma pena, pois o filme tinha potencial para ser algo maior. O excesso de sugestão acaba evitando temas que seriam interessantes de serem explanados melhor, como o culto no Rancho, a origem do Alton e outros detalhes que tornam o filme um pouco incongruente. Mesmo assim, Jeff Nichols é um baita de um diretor que já dirigiu a preciosidade chamada Mud e pretendo ver seus outros filmes. Um filme com potencial, mas que não soube bem aproveitá-lo.
Corações de Pedra
3.9 185A Islândia é um país isolado, gélido, mas anualmente surpreende com o seu cinema peculiar e de grande qualidade. Heartstone é mais um grande exemplo de filme que se utiliza das belíssimas paisagens naturais dos campos islandeses para contar uma sensível história de descobertas, sexualidade e o drama de ser rejeitado por não poder ser você mesmo, em um local onde todo mundo te conhece e as conversas se espalham rapidamente. Assim como o peixe-pedra rejeitado pelos pré-adolescentes no início do filme, personagens também vão sofrer rejeições, em uma metáfora sutil. O filme é muito sincero para com o cotidiano de pré-adolescentes, ao mostrar suas vivências, descobertas do amor, problemas familiares e elos de amizade mais fortes do que aparentam. A fotografia deslumbrante ajuda a adentrarmos esse ambiente, tão conhecido por sua frieza, mas que seus protagonistas mostram uma vivacidade típica da idade, de uma forma universal. Calor humano tem de sobra em um cinema caracterizado pelas relações distantes entre as pessoas. Um belo debut e mais um filme islandês na lista que não deve passar despercebido.
Z: A Cidade Perdida
3.4 320 Assista AgoraInegável ao assistirmos Z: A Cidade Perdida a lembrança a filmes clássicos como Apocalipse Now do Francis Ford Coppola ou até mesmo Fitzcarraldo, do Werner Herzog em alguns momentos. Obviamente que esse novo trabalho do James Gray não se equipara a essas obras citadas, mas o talentoso diretor resolve contar as histórias de Percy Fawcett de uma forma que não se torna cansativa, apesar da longa duração. Acompanhamos Fawcett desde sua caça por um veado para dar de presente ao Arquiduque Franz Ferdinand antes da Primeira Guerra até suas ilusões de grandeza após a suposta descoberta da cidade misteriosa Z, algo tão grandioso que é denominado assim pelo explorador como a última peça do quebra-cabeças do homem, por isso a última letra do alfabeto. A montagem do filme é muito bem feita e as elipses e passagem de tempo são fluídas e não denotam desequilíbrio. O elenco é forte, Charlie Hunnam mostra o vigor em seu personagem, Robert Pattinson mostra a cada vez que sabe muito bem escolher seus projetos, apesar de atuação mais contida e temos uma participação de Tom Holland. O filme perde tempo em determinadas passagens que fazem apenas volume, como as que envolvem o Murray (Angus Macfadyen) e a Sociedade Real Geográfica, companhia a qual Fawcett fazia parte. Porém o filme é mais um estudo do ser humano diante do desconhecido, do homem diante de culturas diferentes e sobre saber respeitar, mesmo diante de tanta hostilidade e preconceitos. A grandiosidade da natureza confronta a pequenez do homem em suas tentativas às vezes vãs de encontrar um sentido ou um caminho nunca antes percorrido. O desfecho abstrai e torna-se tão misterioso quanto à cidade Z. Um trabalho exemplar, mais um para a carreira de James Gray.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraÉ fascinante ver um diretor do nível de Joon-ho Bong com tamanha projeção. Okja seu novo filme causou polêmica desde seu lançamento no Festival de Cannes desse ano, devido a não ter um lançamento em cinemas, apenas no Netflix, o que causou vários debates sobre a forma de se ver cinema: em tela grande ao modo clássico ou divulgar para que mais pessoas tenham acesso ao filme como promove a Netflix. Fato é que Okja deveria também passar nos cinemas, pois é um filme importante devido a sua temática e não deixa de ser um filme cativante para toda família, uma história da afeição de uma garota por seu bichinho de estimação, a adorável superporca Okja. Com certeza com a projeção mundial que o Okja está recebendo nesse momento pela Netflix muitas pessoas vão voltar seus olhos para Joon-ho Bong e descobrir o fabuloso cinema coreano. Bong que não é novato (Esse é seu segundo filme em Hollywood, o maravilhoso Expresso do Amanhã foi sua estréia), já tinha uma carreira sólida na Coréia do Sul, onde dirigiu as pérolas Memórias de um Assassino, O Hospedeiro e Mother, além do divertido Barking Dogs Never Bite. Junto a Chan-wook Park e Jee-woon Kim, Bong faz parte da Santíssima Trindade do Cinema Coreano.
Voltando à Okja, Bong mostra todo o seu apuro visual de costume, em um filme lindo esteticamente e corajoso ao mostrar uma visão peculiar coreana sobre um tema tão em voga ultimamente, atacando indústrias alimentícias, mais precisamente as indústrias de carne. O processo de criar um animal para o abatedouro, uma vida assim como um animal de estimação e o diretor sabe com maestria dosar o humor, com drama e nos fazer pensar nesse trajeto. Acredito que com um final mais impactante e personagens menos irritantes (Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, apesar de propositadamente caricaturais em seus papéis) o filme alcançaria um resultado ainda melhor, mas Okja é uma obra obrigatória mesmo assim. Uma fantasia com uma realidade cruel e como só os coreanos sabem fazer, encantadora, mas com punhos fechados sobre nossos rostos ao mesmo tempo.
O Cúmplice das Sombras
3.9 24Um noir diferente. Aqui não temos detetives alcoólatras, femme fatales ou algo que caracterize tanto um noir, mas temos personagens perversos, um crime e a figura da polícia sempre presente, elementos que o caracterizam como noir. Apesar disso o diretor não foi um Hitchcock da vida para trabalhar o suspense, algo tão comum em um filme do gênero e por isso The Prowler torna-se previsível desde o seu início. A motivação do policial para fazer o que faz durante o filme é que torna o longa um bom noir. Webb, em interpretação magnífica de Van Heflin é um sujeito frustrado com sua profissão de policial e logo se aproxima da rica Susan (Evelyn Keyes), uma mulher casada, mas de casamento infeliz e a solidão se instala diariamente no cair da noite. A vítima perfeita para um vigarista não é verdade?
A primeira parte do filme é muito boa, em um roteiro corajoso do Dalton Trumbo expondo a polícia como uma profissão que se aproveita de sua força para ter as coisas de uma forma fácil. Webb mostra-se um personagem desprezível, mas mesmo assim torcemos pela dupla protagonista, de uma forma mórbida até. No entanto, a partir do segundo e terceiro ato o diretor não soube muito bem conduzir a trama, caindo no melodrama e como já falei com zero suspense. A crueldade da história acaba por ter um desfecho tacanho e abrupto que foge do que vinha sendo exposto até então, o que torna O cúmplice das sombras, apesar de alçado a clássico noir, um filme apenas bom no estilo, mas que tinha potencial para algo maior. O longa vale pela atuação do Van Heflin, seu policial cruel e pelo primeiro ato muito bem construído, ao expor o excesso policial e uma dupla relação abusiva.