Puta filme estiloso! As mulheres estão detonando nos filmes de terror atualmente, de um modo positivo. Só lembrar de Raw, Babadook, O Convite, dentre outros. O filme é mais do mesmo, mas tem enquadramentos e uma fotografia tão maravilhosa, além de uma utilização tão boa do gore que todo o exagero é um simples catalisador.
Matilda Lutz esteve muito bem no filme, badass com categoria, sem perder a sensualidade. Coralie Fargeat mais uma ótima diretora a surgir, em seu debut em longa metragem. A cena em que a Jennifer (O nome é proposital em relação à Vingança de Jennifer?)
arranca o toco de madeira alucinada pelo Peyote e ao fim ganha até uma tatuagem estilosa da cerveja mexicana é estilo total. Exagero, mas aqui é completamente justificável
Único que faltava assistir dos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano, O Insulto é um filme que tenta nos situar sobre o eterno conflito entre palestinos e judeus, dessa vez com um foco no Líbano. Primeiro filme do Líbano a ser indicado à categoria na Academia, O Insulto, através de uma discussão banal entre um cidadão libanês e um refugiado palestino mostra o quanto países brigam e não se entendem por questões que uma simples desculpa e uma tentativa de reconciliação poderia mudar os eventos, mas que tal atitude é praticamente inexistente e guerras e conflitos surgem cada vez mais.
A questão palestina vem à tona e durante o filme muitos eventos históricos aparecem, como o Setembro Negro, Guerra Civil Libanesa, as investidas de Ariel Sharon contra os palestinos, enfim, mostra o quão complicada é essa questão, em algo que deveria ser simples, que envolve desde religião até território. No entanto, apesar do excesso de informações o espectador não precisa estar tão por dentro assim desses assuntos, já que o longa é bem didático nesse aspecto.
O diretor Ziad Doueiri, que fora assistente de direção do Tarantino em icônicos filmes como Pulp Fiction e Jackie Brown aproveita sua experiência em solo americano e imprime um tom mais ágil à narrativa. Apesar de ter uma situação local, o filme tem um tom universal e pode ser interpretado até em relação ao nosso país, nos cada vez maiores conflitos ideológicos e políticos que dividem o Brasil entre Esquerda e Direita. Sei que são fatos totalmente diferentes, mas podemos de certa forma ver muito dos personagens típicos sujeitos de convicções filosóficas e religiosas divergentes em um embate ignorante e que não chegam a um consenso.
Um é refugiado palestino que aos olhos do espectador está certo moralmente em suas atitudes. O outro um cristão libanês nacionalista, totalmente contra os palestinos e que tem atitudes completamente desprovidas de um senso lógico, movidas por convicções políticas. À primeira vista podemos condenar o libanês por motivar a briga que toma proporções maiores, mas ao vermos sua realidade passamos a até tentar compreender suas atitudes.
Adel Karam, que interpreta o libanês Tony Hanna é um sujeito errado desde o início, mas é apoiado pela população e pelo advogado também desprezível em boa parte do longa. Já o palestino Yasser é retratado como alguém que busca justiça da maneira mais correta e juridicamente falando é o que tinha mais munição para argumentar sobre o evento conflituoso que apareceu entre eles.
Inicialmente o filme lembra um pouco as obras do Asghar Faradhi, sobre um evento pequeno que toma proporções maiores e depois o longa vira um drama de tribunal. Apesar do tom sério do filme e da temática espinhosa, O Insulto cai no dramalhão em certos momentos, em convenções e reviravoltas não tão bem-vindas a um filme desse tipo, mas que não chega a atrapalhar tanto seu resultado.
O elenco é ótimo e a única que reconheci foi a atriz Diamand Bou Abboud, do tenso filme In Syria. Ela interpreta a advogada do palestino no caso. É um ótimo filme que serve para nos situar nesse conflito tão complexo e que também nos causa empatia devido às nossas questões brasileiras de desavenças políticas. Quem não enxergaria o Tony do filme como um cidadão de bem, cristão de Direita e Yasser como um esquerdista e reprovável aos olhos da Direita? Embora o filme seja recheado de conflitos, mostra que a tentativa de entender o outro leva a uma solução viável e que podemos nos entender através do diálogo.
Assim como grandes filmes anti-bélicos como Tangerines e o coreano Zona de Risco, O Insulto não chega a alcançar uma dramaticidade e eficiência tamanha desses dois filmes, mas consegue nos mostrar que há sim uma possibilidade de nos entendermos. Tenta simplificar um conflito histórico através de uma discussão banal, de um simples insulto, mas que por trás disso tem toda uma causa motivada por religião e política. Deixa uma mensagem positiva ao espectador e por que não esperançosa que podemos nos entender, mesmo com divergências de pensamento?
Como uma família numa situação dessas ainda quer ter filho, sabendo que bebês choram muito? E um tiro de 12 certeiro na cara do bicho o matou, como esses aliens não foram mortos? A não ser que tenham sido muitos.
Sucesso de vendas, o primeiro livro de Ernest Cline é bastante divertido. Não é aquela obra que vai mudar seus conceitos, mas é uma leitura rápida e gostosa de se ler. Nota-se muita pesquisa nerd fidedigna a muitas músicas, jogos e filmes dos anos 80. E para alguém que cresceu jogando e vendo filmes dos anos 80 e 90 causa uma nostalgia ao ler as passagens do livro. Quando anunciaram a adaptação ao cinema ninguém mais que Steven Spielberg era o melhor para comandar o filme, ele que ajudou a moldar o cinema de entretenimento dos anos 80 e geral.
O livro apesar de não ser digamos perfeitamente escrito constrói melhor os personagens e as próprias pistas e segredos do Oasis. Para quem leu o livro e vê umas pistas tão simples no filme e totalmente diferentes causa um certo desânimo, mesmo com o visual de embabascar. A sequência inicial da corrida é muito bem feita (Apesar de não ter no livro). O CGI, ferramenta essencial a esse tipo de filme não faz feio e a transição entre atores de carne e osso e os "pixels" é extremamente competente.
O longa não foca apenas nos anos 80, como foi o intuito do livro e muitas referências que estão no filme são de obras mais recentes. O contexto do desafio de Halliday, criador do Oasis é mais crível no livro, pois o mundo real está entregue às traças e com uma recompensa trilionária, além do domínio do software faz com que muitas pessoas estudem os anos 80 com todo o tempo possível. No filme isso tudo é jogado e que mesmo com suspensão de descrença ainda assim fica difícil ver jovens saberem tanto sobre cultura pop não só dos anos 80.
Como adaptação cinematográfica, Spielberg constrói um universo maravilhoso. Tem muitas sequências bem construídas, mesmo que ausentes no livro e adaptações de eventos do livro feitas de uma forma que não me agradaram muito (Falando como conhecedor do trabalho original). O elenco é apenas funcional, mas fiel aos personagens. Talvez para alguém que não tenha lido o livro possa achar o filme melhor, mas achei apenas um bom trabalho. O livro também não é grande coisa, mas me divertiu mais.
Alex Garland volta anos depois de Ex Machina com seu novo filme, uma adaptação do livro de mesmo nome do autor Jeff Vandermeer e o resultado é uma sci-fi que dialoga muito com o body horror e a estranheza de David Cronenberg, o mindblow de 2001: Uma Odisséia no Espaço e a ambientação e certos questionamentos de Stalker do Tarkovski. E isso é um mérito surpreendente. O filme em nenhum momento procura facilitar a vida do espectador, com uma narrativa lenta e sem quase nenhuma ação, sem contar as perguntas que surgem. Uma característica que o Garland tem mostrado é a sua boa direção com o feminino. Em Ex Machina Alicia Vikander estava fantástica e nesse filme quase que 90% do filme é composto só por mulheres, com principal destaque para Natalie Portman que é a protagonista e Jennifer Jason Leigh. Por falar nessa última impossível não lembrar das bizarrices de eXistenZ de David Cronenberg, quanto à estranheza das criaturas e da trilha sonora também cronenberguiana, sem contar que a atriz também esteve nesse filme. A ambientação inóspita Área X e repleta de verde lembra muito Stalker, um misto de perigo e beleza. Alguns reclamaram dos efeitos especiais mas de certa forma achei propositais. A decisão da Paramount em não lançar o filme nos cinemas de certa forma é aceitável, pois não é um filme que agrade muitas pessoas pelo ritmo lento e muitos questionamentos. Ele é muito mais A Chegada ou Contato que uma ficção repleta de ação. Ponto pra Netflix que tem trazido muitos filmes ruins para a grade de programação.
E eis o grande vencedor do prêmio de melhor filme do Oscar. Assisti pouco tempo antes da cerimônia e realmente temos que concordar que é um trabalho sólido de Del Toro, desde seu O Labirinto do Fauno. Gosto de todos que vi do diretor, não acho nenhum ruim e aqui Del Toro criou um filme que, embora não seja totalmente original consegue mostrar a sua autoria e tudo é muito bem feito. Desde o elenco, passando pela belíssima direção de arte até sua trilha composta por Alexander Desplat, o filme tem um aspecto sessentista, em plena Guerra Fria em que surge um romance inusitado e fantasioso entre uma muda chamada Elisa (Sally Hawkins) e uma criatura descoberta em um mar da América do Sul (Doug Jones). O clima de fantasia aliado à trilha faz nos recordar um pouco Amélie Poulain. Todo o elenco esteve muito bem. Sally Hawkins interpreta com grande competência uma muda que não sente totalmente à vontade entre os colegas e encontra na criatura o seu espelho. Octavia Spencer faz Zelda, em uma atuação também que não incomoda, uma personagem amiga e sempre disposta a ajudar. Michael Shannon faz um vilão intimidador e desfila seu racismo ao explicar palavras que acredita que Zelda não seja capaz de entender pela sua raça e se mostra um "cidadão de bem", íntegro, competente, mas que só mostra mais a sua vilania. Richard Jenkins, ator que gosto muito, em sua amabilidade de sempre, um personagem sensível, homossexual que tenta encontrar um amor igual a sua amiga Elisa, ambos fãs de cinema e música. E Michael Stuhlbarg em um papel menor mas que não atrapalha o andamento da trama. É uma fantasia adulta, com sangue, sexo e nudez e é muito bom ver um filme que flerta com o terror às vezes receber um prêmio máximo no Oscar, academia que tem um desdém com filmes de terror. Um trabalho honesto e um Del Toro em excelente forma.
Alex Ross Perry é uma espécie de herdeiro de Woody Allen no cinema. Seu estilo de filme envolve muita verborragia em torno de relacionamentos, com um diferencial (Pelo menos nesse filme) que é a quase nula comédia dentro da trama. Aqui envolve a história de Naomi (Emily Browning), uma australiana que faz intercâmbio para os Estados Unidos em busca de um trabalho de arquivologia. Tal trabalho consiste em catalogar e organizar pertences do pai de Gwen (Mary-Louise Parker) e Alyssa (Chloë Sevigny). Junto ao marido de Alyssa chamado Nick (Adam Horovitz) Naomi vai fazer esse serviço. A chegada de Naomi à residência dessa família vai desencadear desconfianças guardadas e desestabilizar ainda mais o relacionamento em frangalhos tanto de Nick e Alyssa quanto de Buddy (Jason Schwartzman) e Jess (Analeigh Tipton). O filme tem um ritmo muito lento para uma verborragia desenfreada e é interessante notar os relacionamentos fadados ao fracasso. Homens saem com os amigos para bares, com outras mulheres enquanto as mulheres ficam em casa ora desconfiadas ora tristes pela situação. Não há diálogo entre o casal, os relacionamentos são frios e a chegada de Naomi só expõe o que estava óbvio nesses casais. O principal destaque desse competente elenco é a Emily Browning. Sua personagem é vivaz e de personalidade forte, uma mulher segura e que causa um certo desconforto na rotina de relacionamentos não por culpa dela, mas da falta de diálogos. Um aspecto que incomoda muito na direção de Perry é o excesso de cortes em fade in e fade out nas transições de cenas. Há simples acontecimentos só para mostrar o que personagens estão pensando entremeados por essas transições que uma hora incomoda e deixa o ritmo mais sonolento ainda. Não é um trabalho ruim, mas ao final do filme nos sentimos indiferentes .
Novo estúdio independente que anda despontando por aí, o irlandês Cartoon Saloon vem ganhando nome com animações belíssimas que exploram a cultura irlandesa, como Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (The Secret of Kells) e o maravilhoso A Canção do Oceano (Song of the Sea). Ambos dirigidas por Tomm Moore, Nora Twoney ajudou na co-direção de Secret of Kells e no departamento de arte de Song of the Sea. Agora ela separada do parceiro fez sua primeira animação em longa metragem The Breadwinner, criminalmente inédita no país e talvez fique assim por um tempo (Quem sabe estréie no Netflix, como Loving Vincent?). Nessa nova animação a diretora se afasta da cultura irlandesa e adentra em Cabul, Afeganistão para contar uma história baseada no livro A Outra Face, de Deborah Ellis. A exemplo de Persépolis, a animação se concentra nas mulheres e em seus papéis em uma Cabul dominada pelo Talibã e que têm pouquíssimos direitos. Mulheres não podem "se expor" na sociedade, não podem andar sem os maridos ou familiares homens sozinhas, enfim, um inferno para o mundo feminino naquele lugar que não conseguimos entender tamanha ignorância de tais costumes. Em um país onde antes as mulheres estudavam, se vestiam à vontade, eram livres, hoje são verdadeiras escravas, mesmo com todo o empoderamento feminino mundo afora ainda assistimos situações horrendas como essas, devido a um fundamentalismo religioso que só causa mortes e tristeza. E é nesse universo nada infantil que a trama se passa. Sim, vimos aqui mulheres perseguidas, tentativa de casamentos arranjados para "uma vida melhor", dentre outras aberrações, ou seja, não é uma animação adequada para crianças, apesar de ser importante que vejam. Os traços da animação seguem a linha tradicional do estúdio, bem expressivos e que externam todas as emoções dos personagens. A garota que tem virar um garoto para prover a casa, ser o ganha-pão como o título. A animação além de conter uma narrativa linear impecável é ainda entremeada por fantasias, histórias que o pai da protagonista Parvana contou a ela e que ela conta ao irmão menor. São fantasiosas para fugir daquela realidade cruel, mas que servem ainda mais para enriquecer a trama e desenvolver seus personagens. O desfecho tanto da narrativa real quanto da fantasiosa é tocante. Mais um belo exemplo de que nem só de Pixar vive a animação. Coco é excelente, mas o prêmio deveria ir para essa animação ou Loving Vincent, embora todas as três sejam magníficas ao que se propõem.
Bem, das últimas semanas para cá, aproximando-se do Oscar, Uma Mulher Fantástica está em muitas apostas em palpites de sites sérios de cinema como o favorito para ganhar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. É uma categoria muito misteriosa, às vezes o favorito não ganha como vimos em anos anteriores, mas eles costumam muito premiar filmes com um tom político mais atual ou que represente aquele momento. Como representatividade por um filme com um personagem transgênero no papel principal é até aceitável ganhar o prêmio, mas analisando como cinema mesmo achei o mais fraco dentre os 4 que vi (Faltou só O Insulto). A maior força e o maior fracasso do filme é a protagonista Daniel/Marina, vivida(o) com excelência pela atriz transgênero Daniela Vega. Marina é uma garçonete que também é cantora e tem um relacionamento com Orlando. Certa noite ele falece e Marina fica perdida. Qual será a reação da família quando for receber o corpo ao ver que o falecido vivia com um travesti? Em nenhum momento antes víamos qualquer tipo de preconceito, mas quando vem a morte, a herança, os bens o preconceito aflora. Primeiro da polícia que trata Marina como uma criminosa, uma profissional do sexo que não tem direito de amar e suspeita de matar o namorado, depois a família, cada um mais inconveniente que o outro. E da própria Marina, que sai correndo do hospital em vez de permanecer, dando a entender ainda mais a suspeita. E aí reside o problema na protagonista. Marina é para ser uma mulher fantástica do título, mas devido aos preconceitos ela não pode exercer seus direitos plenamente. É difícil uma luta, a pessoa fica tolhida e sem forças, mas mesmo assim é para ficar indiferente ao que dizem e fazem? Não é para lutar contra as injustiças? E nisso Marina é uma pessoa omissa, recebe todas as barbaridades que falam contra ela, as situações de desprezo, bem calada. E quando finalmente ela reage é numa cena patética. O diretor Sebastián Lelio é correto na direção, posiciona bem a câmera em alguns planos sequência, conduz bem o elenco, mas ao mesmo tempo seu roteiro co-escrito por Gonzalo Maza perde tempo com cenas cafonas que não transbordam dramaticidade alguma, como as constantes visões que Marina tem do seu amado ou uma cena óbvia que se passa numa sauna, que o espectador basicamente já podia prever. Em uma produção repleta de grandes nomes poderíamos esperar um trabalho mais sólido, com nomes como Maren Ade (Toni Erdmann) e Pablo Larraín (O maior diretor chileno em atividade). Tem uma boa ideia que é mostrar o que um travesti sofre diante do preconceito, mas que o diretor não soube conduzir muito bem quanto à dramaticidade.
O vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes é altamente merecedor. The Square é ousado, criativo e de um roteiro atualíssimo representando não só uma realidade da Suécia (Que principalmente tem relação com o país), mas da sociedade como um todo. O filme debate diversos temas, entre eles os refugiados na Suécia, a hipocrisia do chamado "homem de bem" que ao primeiro momento se preocupa com o próximo até este invadir seu espaço, o que é ou não arte e até em que limite de liberdade de expressão ela pode chegar, dentre vários outros. O quadrado representa a união, a alteridade, o pensar no outro. Uma proposta de mostra artística que tem um propósito humanitário, mas que a partir de um evento desagradável que ocorre com Christian (Claes Bang), o curador do Museu de Artes de Estocolmo ele logo passa a desobedecer toda a proposta que ele aparentava possuir, com preconceitos e hipocrisia. Da alta sociedade sueca Christian olha com desdém para mendigos refugiados que lotam as calçadas da Suécia, pedintes que encontram-se em seu quadrado e pedem por ajuda. Trata mulheres que fazem sexo com ele como aproveitadoras por conta de seu status e isso se reflete na ótima cena da camisinha e tem medo de ir até um condomínio mais pobre. Claes Bang tem uma performance cínica e muito competente no papel desse burguês que passa a ter seu mundinho confrontado, todos os seus preconceitos expostos. O filme lembra bastante as críticas à alta sociedade que Buñuel propusera e o diretor Ruben Östlund sabe muito bem disso ao utilizar elementos do surrealismo, como a cena do macaco no apartamento e a excelente sequência que estampa o pôster, em que o ator Terry Notary, acostumado a representar animais ou criaturas no cinema dá um show representando os símios que somos nós. Não evoluímos como pensamos estar evoluídos em muitos aspectos, principalmente quando só pensamos no próprio umbigo. Eventos como o que aconteceu no MAM em São Paulo são evocados quando vimos o curioso vídeo de marketing que viraliza no Youtube mostrando uma garotinha sueca mendiga. Até onde a arte por chegar e qual o seu limite para chamar a atenção ou fazer refletir? Os refugiados invisíveis à sociedade, em que as pessoas passam por eles com o olho na tela do celular, sem calor humano. A crise de refugiados na Suécia e o aumento da violência por lá é representado aqui pelo diretor e nos perguntamos: Mesmo em um país como a Suécia que se preocupa tanto com o social, com a distribuição de renda existem conflitos devido à falta de preocupação com o outro diante de uma situação como essa? Se o Oscar for pra esse filme como é o favorito não vai ser nenhuma surpresa. Um filme que toca a ferida e nos propõe a pensar, dentro do nosso espaço intocável que é o quadrado que estamos
Uma história de amor de verão muito bem contada por Luca Guadagnino baseada no livro de André Aciman e com roteiro de James Ivory. O filme não tem pressa de desenvolver o romance entre Elio e Oliver, a primeira hora praticamente não acontece nada de atração física entre eles. Com locações lindíssimas na Itália o diretor Luca Guadagnino juntamente à fotografia de Sayombhu Mukdeepron e às canções de Sufjan Stevens formam um casamento perfeito entre música e imagem. As músicas externam os sentimentos dos personagens, como se fossem projeções do interior. Apesar da diferença de idade de Elio e Oliver eles compartilham assuntos em comum, partilham do mesmo interesse pelas artes, pela música e literatura e a química entre eles é forte por isso. Independentemente da sexualidade dos personagens, quem já viveu uma história de amor difícil e que causa saudade ou parecer impossível vai se identificar com o romance, pois antes de tudo é uma experiência concreta amorosa, com todas as suas dores e alegrias. Tudo isso não seria possível sem performances convincentes e Thimotée Chalamet e Armie Hammer se entregam totalmente. Michael Stuhlbarg mostra um personagem sábio e compreensivo no papel do pai de Elio, esse que herdou toda a paixão pelas artes do pai. Um filme que não se preocupa em mostrar intolerância ou homofobia por parte de personagens, mas apenas uma história de amor que aparentemente pode parecer proibida nos idos anos 80, mas que é aceita como humanos que entregam os seus respectivos corações um ao outro.
Quando falo que há algo de errado na Netflix algumas pessoas acham que estou equivocado. Como um diretor inicialmente promissor foi capaz de entregar uma obra preguiçosa e sem sentido assim? Duncan Jones que fez os ótimos Lunar e Contra o Tempo, fez Warcraft que não cheguei a ver e atinge o fundo do poço com Mudo. O filme não faz sentido desde o início. Ao mostrar como o personagem principal ficou literalmente mudo, o roteiro a seguir não desenvolve isso. Mostra-se que Leo (Alexander Skarsgard) era de uma família americana Amish e após um acidente, sua família não busca corrigir o defeito através de cirurgia, pois a religião não permite unir-se à ciência. 30 anos depois o personagem encontra-se em uma Berlim futurista sabe-se lá por que. Já notamos duas coisas: Tanto faz o personagem ser Amish ou não, isso não faz a menor importância à trama. E ele ser mudo também não importa. Não é desenvolvido esse seu drama assim como o filme não reforça esse seu trauma ou sua vontade de voltar a falar. Ou seja: O filme se chama Mudo porque o personagem é assim, mas não importa esse seu drama ou não existem recursos narrativos que façam rimas visuais com isso. Leo estar em Berlim também não é muito explanado. Parece ter acontecido uma nova guerra entre Alemanha e os Comunistas, mas nunca é deixado claro. A partir daí o diretor quer construir um neo-noir ao estilo Blade Runner, em que Leo passa a investigar o paradeiro de sua namorada desaparecida, ela que não aparenta ser tão boazinha assim, como toda femme fatale. Prédios repletos de néon, carros voadores, robôs dançarinos, tudo poderia criar um ambiente cyberpunk interessante, mas são meros adornos visuais. E à medida que vamos conhecendo o mistério da mulher desaparecida, a trama vai fazendo menos e menos sentido, principalmente quando aparece o personagem de Paul Rudd com seu bigode estiloso e seu amigo supostamente pedófilo. Em meio às investigações existem poucas cenas de ação terrivelmente executadas, com uma preguiça visível do diretor Duncan Jones. Nota-se até um certo esforço por parte de Paul Rudd e Skarsgard em suas atuações. O sueco tenta, mas talvez por ter encarnado tão bem um mudo ele não conseguiu falar ao diretor que havia alguma coisa errada ali. A trilha de Clint Mansell é até correta, mas não consegue algo além. Enfim, Mudo é mais uma produção de péssimo gosto da Netflix, em que não entendemos o que se passou na cabeça do diretor, o que ele queria dizer. Precisamos talvez aprender um pouco de Libras para dialogar com ele.
O roteiro do também diretor Martin McDonagh inicia-se muito bem e de certa forma esconderia um baita filme à primeira vista: Após ficar insatisfeita com as investigações da polícia sobre o assassinato de sua filha meses atrás, uma mãe enlutada chamada Mildred (Frances McDormand) tem a ideia de alugar em uma agência de publicidade três outdoors abandonados a fim de expor os policiais e a não resolução do crime. Mas isso acaba por gerar desconforto na pequena cidade e entre os policiais. A primeira hora de filme funciona muito bem e passa muito rápido, ao mostrar uma mãe em luta por justiça, inconformada, separada do ex-marido que a trocou por uma garota de 19 anos e tem que lidar com as consequências de seus atos com os outdoors. Acontece que na segunda metade alguns detalhes incomodam demais, com um excesso de coincidências que aparecem na trama e o pior que é a
rápida transformação de certos personagens, como o Dixon de Sam Rockwell. Um policial racista, xenófobo, homofóbico tem uma jornada de redenção que não convence, com um artifício barato através de cartas. Da noite para o dia o cara passa de um sociopata para um homem maduro, com mensagens de autoajuda recebidas de um falecido. A compaixão que ele recebe de alguém que é profundamente machucado por ele, com direito até a suquinho entregue como forma de fazer as pazes. Gosto muito do ator, mas ele é muito mal aproveitado pelo roteiro. O que deveria conter uma crítica eficaz sobre um sujeito amoral assim contém apenas o deboche. Além disso as já citadas coincidências demais na trama: A mãe briga com a filha e diz que um dia ela será estuprada e realmente acontece, um sujeito coloca numa carta que um dia o Dixon ouvirá uma conversa num bar que vai resolver o crime e acontece quase isso, o sujeito racista que tem que lidar com um novo chefe negro. Enfim, mostra uma fraqueza no roteiro nesse aspecto. Além disso tem subtramas desnecessárias, como a cena do anão com a Mildred e o ex-marido dela, com a nova namorada, cenas que não acrescentam nada. Além de uma cena envolvendo um suposto criminoso que vai tirar satisfações de Mildred sem motivo aparente.
Mas nem tudo é um desastre. Como falei, a trama funciona parcialmente, a primeira metade é muito boa, McDormand realmente muito bem em seu papel, tão boa ou até melhor que sua atuação em Fargo. Uma mulher entregue ao luto e sem esperanças, sem vaidades, de mau humor e sem levar desaforo pra casa. A trilha sonora tem belas canções, apesar de às vezes não funcionar em determinadas cenas. Rockwell atua muito bem, mas é mal-aproveitado. Talvez esses detalhes não incomodem boa parte dos espectadores, em seu resultado final até gostei do filme, mas se observar atentamente poderia ser bem melhor desenvolvida a trama sem muitos elementos citados aqui. O diretor tenta emular os irmãos Coen e até seu clássico Fargo, mas não possui a acidez suficiente e o humor negro nem sempre alcança um resultado satisfatório.
Filme conhecido como sendo um dos que melhor representa o psicopata, Henry é um filme difícil de ser visto pela sua violência brutal e pela frieza extrema do psicopata baseado em Henry Lee Lucas, um dos mais prolíficos serial killers da história dos EUA. Em seus relatos ele diz que matou umas 600 pessoas, uma a cada semana, o que não conseguiram comprovar realmente. Ele utilizava métodos para matar suas vítimas que sempre mudavam, não tinha um modus operandi habitual de um psicopata, o que dificultava sua descoberta e a impunidade reinava. O longa faz uns ajustes em relação à vida real, mas muitos detalhes estão lá, como o abuso que sofreu pela mãe na infância, fator preponderante para ele ter se tornado um monstro, dentre outros aspectos. O filme apesar de conter cenas bem violentas em algumas mostra somente os corpos das vítimas e ouvimos ao fundo gritos e barulhos para imaginarmos apenas as brutalidades cometidas, sem mostrar a execução propriamente dita, em um belo trabalho de edição. Michael Rooker no papel de sua vida, encarna o psicopata com uma frieza absurda. Tom Towles interpreta Ottis, tão doente ou mais que o próprio Henry. Juntos eles cometeram vários crimes. O destino de Ottis é diferente da realidade, mas com certeza é umas das cenas mais brutais do filme, aliado à sonoplastia agoniante. A trilha sonora é bem sinistra, o que dá ainda mais arrepio com o seu final sem esperanças e que mostra ainda mais a persona de Henry. Pesquisando sobre sua vida real vimos o grande assassino que ele foi, terrível e sem remorso, fruto de uma criação irresponsável dos pais.
Filmes Coming of Age são muito comuns e talvez por isso o roteiro original de Greta Gerwig não tenha força alguma pra o Oscar como foi indicado. O filme é comum, já vimos muitas vezes histórias desse tipo, mas a força dele está nas sutilezas, narrativa e personagens. Sutileza porque inicialmente o filme não deixa escancarado qual a época que o filme se passa, como vários filmes estampam o lugar e a data que o filme se passa. O lugar é Sacramento, como no início do filme já é estampado, mas a época observamos em detalhes mais à frente. TV de Tubo, ausência de celulares, pós-11 de Setembro, ou seja, a trama se passa em 2002 para 2003. Uma época que muitos jovens adultos na faixa dos 30 anos vão se identificar, porque era a época que eu estava ainda em colégio, imaturo e que ainda aprenderia muitas coisas para virar adulto. De certa forma observando a estrutura ele não é tão diferente do também divertido The Edge of Seventeen, mas tem certas diferenças. A alcunha de Lady Bird mostra a imaturidade da jovem, que quer mostrar ser o que não é, uma mulher independente e segura de si mesma. Ela quer ter uma realidade que acha que é fácil e a teimosia da adolescência nos fazia crer nisso. Saoirse Ronan em uma ótima atuação como de costume, sem vaidade e com um figurino largado, esquisito como muitos adolescentes que querem ser os diferentes. Sua relação conflituosa, mas amorosa com a mãe, em interpretação inspirada de Laurie Metcalf é um dos motes do filme. É a partir desse conflito que surgem as asas da Lady Bird, asas para o crescimento e uma nova vida dos adultos e o reconhecimento do papel de uma mãe. Desaparece o ódio e reconhece o amor, a saudade de uma cidade natal, de uma época que já passou. E isso Greta Gerwig conduz muito bem. Apesar de não ser autobiográfico, muitos detalhes da vida da diretora estão lá, como o estudo em colégio religioso e a época. Interessantes as participações de Lucas Hedge e Timothée Chalamet como interesses amorosos de Lady Bird, que participaram de outros filmes que concorrem ao Oscar como Três Anúncios para um Crime e Me Chame pelo seu Nome, respectivamente. Dificilmente ganha algo no Oscar, mas Lady Bird é um filme gostoso e simples de se assistir.
Um filme maduro da Marvel, mas que não deixa de entreter. Apesar de não ser um filme sombrio é sério e claramente tem muitas metáforas políticas em relação aos nossos tempos. O elenco é primoroso, personagens muito bem desenvolvidos e carismáticos e uma história que foge um pouco dos outros filmes da empresa. Ainda mais Pantera Negra tem um dos melhores vilões da Marvel que é o Killmonger, interpretado pelo talentoso Michael B. Jordan em terceira parceria com o diretor. É um vilão com um propósito bem definido e isso é mais um mérito da produção. Pantera Negra é bem sucedido em tudo o que não fora para mim em Homem Aranha: De Volta ao Lar: É um filme independente do universo dos Vingadores, o que dá uma identidade própria a ele, desenvolve seu ambiente com maestria e seu vilão, ao contrário do vilão interpretado por Michael Keaton realmente é forte e causa-nos empatia. Os únicos defeitos para mim foram as cenas de ação noturnas que apelam muito para o CGI e deveriam usar dublês realmente lutando ou como as cenas dos desafios que são de dia e são boas cenas. E o personagem americano do Martin Freeman é meio descartável, mas nada que atrapalhe o resultado final. Tem duas cenas pós-créditos em que a primeira é a melhor e talvez uma das melhores da Marvel, que ressalta o tom político e humanístico do filme com uma mensagem poderosa. E a segunda é apenas uma ligação com o universo da Marvel. Um ótimo entretenimento.
Que filme ruim. A proposta é boa, mas a execução foi muito preguiçosa. Esse diretor não sabe fazer cenas de ação ou tensão sem tremer a câmera mil vezes. E o filme deveria se concentrar no terror com a comédia, perde muito tempo com cenas nada a ver. Uma pena
Primeira produção realmente lançada mundialmente em 2018 que vejo e é candidato a pior do ano. Esse terceiro filme da franquia Cloverfield já era problemático desde o início. Teve adiamentos, mistérios sobre seu lançamento, título que receberia, enfim, seu lançamento era uma bagunça. Até que durante o Super Bowl ontem foi anunciado que o filme seria lançado no mesmo dia, lançamento surpresa, pela Netflix. Sabemos que, com pequenas exceções, a Netflix não manda bem com seus filmes, geralmente lançam tralhas como Death Note, Bright e agora esse. E quem disse que esse diretor Julius Onah tinha talento? Estou até hoje querendo saber. Depois de um primeiro Cloverfield misterioso dirigido por Matt Reeves e produzido por J.J. Abrams, em estilo found footage e de uma sequência excelente que virou um thriller de primeira linha todos esperavam uma sequência à altura, mas infelizmente não aconteceu. Como um elenco talentoso, quase que em sua maioria não americano como Gugu Mbatha-Raw, David Oyelowo, Daniel Brühl, Aksel Hennie e Ziyi Zhang se envolve numa bomba dessa categoria? O filme começa até sério, com uma trilha que remete aos Cloverfield anteriores, mas depois vira uma comédia involuntária, com diálogos pavorosos e uma sci-fi bagaceira digna dos filmes classe Z do canal Syfy (Até as produções desse canal melhoraram muito). Em suas tentativas de homenagear clássicos como Alien, o Oitavo Passageiro o filme se distancia mais e mais da franquia Cloverfield envolvendo realidades alternativas, multiversos e o escambau. E os monstrinhos? Bem, pouco mencionados. Os personagens ou são completos patetas como o pior, interpretado por Chris O'Dowd ou sabichões imediatos que sabem explicar exatamente o que acontece em questão de segundo, como o físico interpretado por Daniel Brühl. O filme tem um finalzinho que tenta deixar um sorriso nos fãs da franquia, mas veio tarde demais. O acelerador de partículas foi ativado e a merda já tinha batido no ventilador. De uma coisa pelo menos o filme me divertiu e essa notinha é por causa disso: Ri bastante da comédia involuntária constrangedora, diálogos escritos por dementes e atuações dignas de um Framboesa de Ouro.
Desobediência
3.7 721 Assista AgoraOnde vocês viram esse filme?
A Noite do Jogo
3.5 671 Assista AgoraRi muito quando dão um zoom no celular na nareba do indivíduo lá que parece com um ator famoso, PQP kkkkkkkkkkk.
Vingança
3.2 582 Assista AgoraPuta filme estiloso! As mulheres estão detonando nos filmes de terror atualmente, de um modo positivo. Só lembrar de Raw, Babadook, O Convite, dentre outros. O filme é mais do mesmo, mas tem enquadramentos e uma fotografia tão maravilhosa, além de uma utilização tão boa do gore que todo o exagero é um simples catalisador.
Matilda Lutz esteve muito bem no filme, badass com categoria, sem perder a sensualidade. Coralie Fargeat mais uma ótima diretora a surgir, em seu debut em longa metragem. A cena em que a Jennifer (O nome é proposital em relação à Vingança de Jennifer?)
arranca o toco de madeira alucinada pelo Peyote e ao fim ganha até uma tatuagem estilosa da cerveja mexicana é estilo total. Exagero, mas aqui é completamente justificável
Ótima diversão!
O Insulto
4.1 168Único que faltava assistir dos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano, O Insulto é um filme que tenta nos situar sobre o eterno conflito entre palestinos e judeus, dessa vez com um foco no Líbano. Primeiro filme do Líbano a ser indicado à categoria na Academia, O Insulto, através de uma discussão banal entre um cidadão libanês e um refugiado palestino mostra o quanto países brigam e não se entendem por questões que uma simples desculpa e uma tentativa de reconciliação poderia mudar os eventos, mas que tal atitude é praticamente inexistente e guerras e conflitos surgem cada vez mais.
A questão palestina vem à tona e durante o filme muitos eventos históricos aparecem, como o Setembro Negro, Guerra Civil Libanesa, as investidas de Ariel Sharon contra os palestinos, enfim, mostra o quão complicada é essa questão, em algo que deveria ser simples, que envolve desde religião até território. No entanto, apesar do excesso de informações o espectador não precisa estar tão por dentro assim desses assuntos, já que o longa é bem didático nesse aspecto.
O diretor Ziad Doueiri, que fora assistente de direção do Tarantino em icônicos filmes como Pulp Fiction e Jackie Brown aproveita sua experiência em solo americano e imprime um tom mais ágil à narrativa. Apesar de ter uma situação local, o filme tem um tom universal e pode ser interpretado até em relação ao nosso país, nos cada vez maiores conflitos ideológicos e políticos que dividem o Brasil entre Esquerda e Direita. Sei que são fatos totalmente diferentes, mas podemos de certa forma ver muito dos personagens típicos sujeitos de convicções filosóficas e religiosas divergentes em um embate ignorante e que não chegam a um consenso.
Um é refugiado palestino que aos olhos do espectador está certo moralmente em suas atitudes. O outro um cristão libanês nacionalista, totalmente contra os palestinos e que tem atitudes completamente desprovidas de um senso lógico, movidas por convicções políticas. À primeira vista podemos condenar o libanês por motivar a briga que toma proporções maiores, mas ao vermos sua realidade passamos a até tentar compreender suas atitudes.
Adel Karam, que interpreta o libanês Tony Hanna é um sujeito errado desde o início, mas é apoiado pela população e pelo advogado também desprezível em boa parte do longa. Já o palestino Yasser é retratado como alguém que busca justiça da maneira mais correta e juridicamente falando é o que tinha mais munição para argumentar sobre o evento conflituoso que apareceu entre eles.
Inicialmente o filme lembra um pouco as obras do Asghar Faradhi, sobre um evento pequeno que toma proporções maiores e depois o longa vira um drama de tribunal. Apesar do tom sério do filme e da temática espinhosa, O Insulto cai no dramalhão em certos momentos, em convenções e reviravoltas não tão bem-vindas a um filme desse tipo, mas que não chega a atrapalhar tanto seu resultado.
O elenco é ótimo e a única que reconheci foi a atriz Diamand Bou Abboud, do tenso filme In Syria. Ela interpreta a advogada do palestino no caso. É um ótimo filme que serve para nos situar nesse conflito tão complexo e que também nos causa empatia devido às nossas questões brasileiras de desavenças políticas. Quem não enxergaria o Tony do filme como um cidadão de bem, cristão de Direita e Yasser como um esquerdista e reprovável aos olhos da Direita? Embora o filme seja recheado de conflitos, mostra que a tentativa de entender o outro leva a uma solução viável e que podemos nos entender através do diálogo.
Assim como grandes filmes anti-bélicos como Tangerines e o coreano Zona de Risco, O Insulto não chega a alcançar uma dramaticidade e eficiência tamanha desses dois filmes, mas consegue nos mostrar que há sim uma possibilidade de nos entendermos. Tenta simplificar um conflito histórico através de uma discussão banal, de um simples insulto, mas que por trás disso tem toda uma causa motivada por religião e política. Deixa uma mensagem positiva ao espectador e por que não esperançosa que podemos nos entender, mesmo com divergências de pensamento?
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraFilmaço, tem uns furos mas dá pra relevar, o maior deles é:
Como uma família numa situação dessas ainda quer ter filho, sabendo que bebês choram muito? E um tiro de 12 certeiro na cara do bicho o matou, como esses aliens não foram mortos? A não ser que tenham sido muitos.
Jogador Nº 1
3.9 1,4K Assista AgoraSucesso de vendas, o primeiro livro de Ernest Cline é bastante divertido. Não é aquela obra que vai mudar seus conceitos, mas é uma leitura rápida e gostosa de se ler. Nota-se muita pesquisa nerd fidedigna a muitas músicas, jogos e filmes dos anos 80. E para alguém que cresceu jogando e vendo filmes dos anos 80 e 90 causa uma nostalgia ao ler as passagens do livro. Quando anunciaram a adaptação ao cinema ninguém mais que Steven Spielberg era o melhor para comandar o filme, ele que ajudou a moldar o cinema de entretenimento dos anos 80 e geral.
O livro apesar de não ser digamos perfeitamente escrito constrói melhor os personagens e as próprias pistas e segredos do Oasis. Para quem leu o livro e vê umas pistas tão simples no filme e totalmente diferentes causa um certo desânimo, mesmo com o visual de embabascar. A sequência inicial da corrida é muito bem feita (Apesar de não ter no livro). O CGI, ferramenta essencial a esse tipo de filme não faz feio e a transição entre atores de carne e osso e os "pixels" é extremamente competente.
O longa não foca apenas nos anos 80, como foi o intuito do livro e muitas referências que estão no filme são de obras mais recentes. O contexto do desafio de Halliday, criador do Oasis é mais crível no livro, pois o mundo real está entregue às traças e com uma recompensa trilionária, além do domínio do software faz com que muitas pessoas estudem os anos 80 com todo o tempo possível. No filme isso tudo é jogado e que mesmo com suspensão de descrença ainda assim fica difícil ver jovens saberem tanto sobre cultura pop não só dos anos 80.
Como adaptação cinematográfica, Spielberg constrói um universo maravilhoso. Tem muitas sequências bem construídas, mesmo que ausentes no livro e adaptações de eventos do livro feitas de uma forma que não me agradaram muito (Falando como conhecedor do trabalho original). O elenco é apenas funcional, mas fiel aos personagens. Talvez para alguém que não tenha lido o livro possa achar o filme melhor, mas achei apenas um bom trabalho. O livro também não é grande coisa, mas me divertiu mais.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraAlex Garland volta anos depois de Ex Machina com seu novo filme, uma adaptação do livro de mesmo nome do autor Jeff Vandermeer e o resultado é uma sci-fi que dialoga muito com o body horror e a estranheza de David Cronenberg, o mindblow de 2001: Uma Odisséia no Espaço e a ambientação e certos questionamentos de Stalker do Tarkovski. E isso é um mérito surpreendente. O filme em nenhum momento procura facilitar a vida do espectador, com uma narrativa lenta e sem quase nenhuma ação, sem contar as perguntas que surgem. Uma característica que o Garland tem mostrado é a sua boa direção com o feminino. Em Ex Machina Alicia Vikander estava fantástica e nesse filme quase que 90% do filme é composto só por mulheres, com principal destaque para Natalie Portman que é a protagonista e Jennifer Jason Leigh. Por falar nessa última impossível não lembrar das bizarrices de eXistenZ de David Cronenberg, quanto à estranheza das criaturas e da trilha sonora também cronenberguiana, sem contar que a atriz também esteve nesse filme. A ambientação inóspita Área X e repleta de verde lembra muito Stalker, um misto de perigo e beleza. Alguns reclamaram dos efeitos especiais mas de certa forma achei propositais. A decisão da Paramount em não lançar o filme nos cinemas de certa forma é aceitável, pois não é um filme que agrade muitas pessoas pelo ritmo lento e muitos questionamentos. Ele é muito mais A Chegada ou Contato que uma ficção repleta de ação.
Ponto pra Netflix que tem trazido muitos filmes ruins para a grade de programação.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraBem, não sei o que pensar ainda sobre o filme. Só que é bem diferente.
Nada A Perder - Contra Tudo. Por Todos
2.1 206Realmente esse aí não tem nada a perder, só a ganhar dos crentelhos ignorantes.
A Forma da Água
3.9 2,7KE eis o grande vencedor do prêmio de melhor filme do Oscar. Assisti pouco tempo antes da cerimônia e realmente temos que concordar que é um trabalho sólido de Del Toro, desde seu O Labirinto do Fauno. Gosto de todos que vi do diretor, não acho nenhum ruim e aqui Del Toro criou um filme que, embora não seja totalmente original consegue mostrar a sua autoria e tudo é muito bem feito. Desde o elenco, passando pela belíssima direção de arte até sua trilha composta por Alexander Desplat, o filme tem um aspecto sessentista, em plena Guerra Fria em que surge um romance inusitado e fantasioso entre uma muda chamada Elisa (Sally Hawkins) e uma criatura descoberta em um mar da América do Sul (Doug Jones). O clima de fantasia aliado à trilha faz nos recordar um pouco Amélie Poulain. Todo o elenco esteve muito bem. Sally Hawkins interpreta com grande competência uma muda que não sente totalmente à vontade entre os colegas e encontra na criatura o seu espelho. Octavia Spencer faz Zelda, em uma atuação também que não incomoda, uma personagem amiga e sempre disposta a ajudar. Michael Shannon faz um vilão intimidador e desfila seu racismo ao explicar palavras que acredita que Zelda não seja capaz de entender pela sua raça e se mostra um "cidadão de bem", íntegro, competente, mas que só mostra mais a sua vilania. Richard Jenkins, ator que gosto muito, em sua amabilidade de sempre, um personagem sensível, homossexual que tenta encontrar um amor igual a sua amiga Elisa, ambos fãs de cinema e música. E Michael Stuhlbarg em um papel menor mas que não atrapalha o andamento da trama. É uma fantasia adulta, com sangue, sexo e nudez e é muito bom ver um filme que flerta com o terror às vezes receber um prêmio máximo no Oscar, academia que tem um desdém com filmes de terror. Um trabalho honesto e um Del Toro em excelente forma.
Grande Saída
3.1 10 Assista AgoraAlex Ross Perry é uma espécie de herdeiro de Woody Allen no cinema. Seu estilo de filme envolve muita verborragia em torno de relacionamentos, com um diferencial (Pelo menos nesse filme) que é a quase nula comédia dentro da trama. Aqui envolve a história de Naomi (Emily Browning), uma australiana que faz intercâmbio para os Estados Unidos em busca de um trabalho de arquivologia. Tal trabalho consiste em catalogar e organizar pertences do pai de Gwen (Mary-Louise Parker) e Alyssa (Chloë Sevigny). Junto ao marido de Alyssa chamado Nick (Adam Horovitz) Naomi vai fazer esse serviço. A chegada de Naomi à residência dessa família vai desencadear desconfianças guardadas e desestabilizar ainda mais o relacionamento em frangalhos tanto de Nick e Alyssa quanto de Buddy (Jason Schwartzman) e Jess (Analeigh Tipton). O filme tem um ritmo muito lento para uma verborragia desenfreada e é interessante notar os relacionamentos fadados ao fracasso. Homens saem com os amigos para bares, com outras mulheres enquanto as mulheres ficam em casa ora desconfiadas ora tristes pela situação. Não há diálogo entre o casal, os relacionamentos são frios e a chegada de Naomi só expõe o que estava óbvio nesses casais. O principal destaque desse competente elenco é a Emily Browning. Sua personagem é vivaz e de personalidade forte, uma mulher segura e que causa um certo desconforto na rotina de relacionamentos não por culpa dela, mas da falta de diálogos. Um aspecto que incomoda muito na direção de Perry é o excesso de cortes em fade in e fade out nas transições de cenas. Há simples acontecimentos só para mostrar o que personagens estão pensando entremeados por essas transições que uma hora incomoda e deixa o ritmo mais sonolento ainda. Não é um trabalho ruim, mas ao final do filme nos sentimos indiferentes .
A Ganha-Pão
4.4 272Novo estúdio independente que anda despontando por aí, o irlandês Cartoon Saloon vem ganhando nome com animações belíssimas que exploram a cultura irlandesa, como Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (The Secret of Kells) e o maravilhoso A Canção do Oceano (Song of the Sea). Ambos dirigidas por Tomm Moore, Nora Twoney ajudou na co-direção de Secret of Kells e no departamento de arte de Song of the Sea. Agora ela separada do parceiro fez sua primeira animação em longa metragem The Breadwinner, criminalmente inédita no país e talvez fique assim por um tempo (Quem sabe estréie no Netflix, como Loving Vincent?). Nessa nova animação a diretora se afasta da cultura irlandesa e adentra em Cabul, Afeganistão para contar uma história baseada no livro A Outra Face, de Deborah Ellis. A exemplo de Persépolis, a animação se concentra nas mulheres e em seus papéis em uma Cabul dominada pelo Talibã e que têm pouquíssimos direitos. Mulheres não podem "se expor" na sociedade, não podem andar sem os maridos ou familiares homens sozinhas, enfim, um inferno para o mundo feminino naquele lugar que não conseguimos entender tamanha ignorância de tais costumes. Em um país onde antes as mulheres estudavam, se vestiam à vontade, eram livres, hoje são verdadeiras escravas, mesmo com todo o empoderamento feminino mundo afora ainda assistimos situações horrendas como essas, devido a um fundamentalismo religioso que só causa mortes e tristeza. E é nesse universo nada infantil que a trama se passa. Sim, vimos aqui mulheres perseguidas, tentativa de casamentos arranjados para "uma vida melhor", dentre outras aberrações, ou seja, não é uma animação adequada para crianças, apesar de ser importante que vejam. Os traços da animação seguem a linha tradicional do estúdio, bem expressivos e que externam todas as emoções dos personagens. A garota que tem virar um garoto para prover a casa, ser o ganha-pão como o título. A animação além de conter uma narrativa linear impecável é ainda entremeada por fantasias, histórias que o pai da protagonista Parvana contou a ela e que ela conta ao irmão menor. São fantasiosas para fugir daquela realidade cruel, mas que servem ainda mais para enriquecer a trama e desenvolver seus personagens. O desfecho tanto da narrativa real quanto da fantasiosa é tocante. Mais um belo exemplo de que nem só de Pixar vive a animação. Coco é excelente, mas o prêmio deveria ir para essa animação ou Loving Vincent, embora todas as três sejam magníficas ao que se propõem.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraBem, das últimas semanas para cá, aproximando-se do Oscar, Uma Mulher Fantástica está em muitas apostas em palpites de sites sérios de cinema como o favorito para ganhar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. É uma categoria muito misteriosa, às vezes o favorito não ganha como vimos em anos anteriores, mas eles costumam muito premiar filmes com um tom político mais atual ou que represente aquele momento. Como representatividade por um filme com um personagem transgênero no papel principal é até aceitável ganhar o prêmio, mas analisando como cinema mesmo achei o mais fraco dentre os 4 que vi (Faltou só O Insulto). A maior força e o maior fracasso do filme é a protagonista Daniel/Marina, vivida(o) com excelência pela atriz transgênero Daniela Vega. Marina é uma garçonete que também é cantora e tem um relacionamento com Orlando. Certa noite ele falece e Marina fica perdida. Qual será a reação da família quando for receber o corpo ao ver que o falecido vivia com um travesti? Em nenhum momento antes víamos qualquer tipo de preconceito, mas quando vem a morte, a herança, os bens o preconceito aflora. Primeiro da polícia que trata Marina como uma criminosa, uma profissional do sexo que não tem direito de amar e suspeita de matar o namorado, depois a família, cada um mais inconveniente que o outro. E da própria Marina, que sai correndo do hospital em vez de permanecer, dando a entender ainda mais a suspeita. E aí reside o problema na protagonista. Marina é para ser uma mulher fantástica do título, mas devido aos preconceitos ela não pode exercer seus direitos plenamente. É difícil uma luta, a pessoa fica tolhida e sem forças, mas mesmo assim é para ficar indiferente ao que dizem e fazem? Não é para lutar contra as injustiças? E nisso Marina é uma pessoa omissa, recebe todas as barbaridades que falam contra ela, as situações de desprezo, bem calada. E quando finalmente ela reage é numa cena patética. O diretor Sebastián Lelio é correto na direção, posiciona bem a câmera em alguns planos sequência, conduz bem o elenco, mas ao mesmo tempo seu roteiro co-escrito por Gonzalo Maza perde tempo com cenas cafonas que não transbordam dramaticidade alguma, como as constantes visões que Marina tem do seu amado ou uma cena óbvia que se passa numa sauna, que o espectador basicamente já podia prever. Em uma produção repleta de grandes nomes poderíamos esperar um trabalho mais sólido, com nomes como Maren Ade (Toni Erdmann) e Pablo Larraín (O maior diretor chileno em atividade). Tem uma boa ideia que é mostrar o que um travesti sofre diante do preconceito, mas que o diretor não soube conduzir muito bem quanto à dramaticidade.
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraO vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes é altamente merecedor. The Square é ousado, criativo e de um roteiro atualíssimo representando não só uma realidade da Suécia (Que principalmente tem relação com o país), mas da sociedade como um todo. O filme debate diversos temas, entre eles os refugiados na Suécia, a hipocrisia do chamado "homem de bem" que ao primeiro momento se preocupa com o próximo até este invadir seu espaço, o que é ou não arte e até em que limite de liberdade de expressão ela pode chegar, dentre vários outros. O quadrado representa a união, a alteridade, o pensar no outro. Uma proposta de mostra artística que tem um propósito humanitário, mas que a partir de um evento desagradável que ocorre com Christian (Claes Bang), o curador do Museu de Artes de Estocolmo ele logo passa a desobedecer toda a proposta que ele aparentava possuir, com preconceitos e hipocrisia. Da alta sociedade sueca Christian olha com desdém para mendigos refugiados que lotam as calçadas da Suécia, pedintes que encontram-se em seu quadrado e pedem por ajuda. Trata mulheres que fazem sexo com ele como aproveitadoras por conta de seu status e isso se reflete na ótima cena da camisinha e tem medo de ir até um condomínio mais pobre. Claes Bang tem uma performance cínica e muito competente no papel desse burguês que passa a ter seu mundinho confrontado, todos os seus preconceitos expostos. O filme lembra bastante as críticas à alta sociedade que Buñuel propusera e o diretor Ruben Östlund sabe muito bem disso ao utilizar elementos do surrealismo, como a cena do macaco no apartamento e a excelente sequência que estampa o pôster, em que o ator Terry Notary, acostumado a representar animais ou criaturas no cinema dá um show representando os símios que somos nós. Não evoluímos como pensamos estar evoluídos em muitos aspectos, principalmente quando só pensamos no próprio umbigo. Eventos como o que aconteceu no MAM em São Paulo são evocados quando vimos o curioso vídeo de marketing que viraliza no Youtube mostrando uma garotinha sueca mendiga. Até onde a arte por chegar e qual o seu limite para chamar a atenção ou fazer refletir? Os refugiados invisíveis à sociedade, em que as pessoas passam por eles com o olho na tela do celular, sem calor humano. A crise de refugiados na Suécia e o aumento da violência por lá é representado aqui pelo diretor e nos perguntamos: Mesmo em um país como a Suécia que se preocupa tanto com o social, com a distribuição de renda existem conflitos devido à falta de preocupação com o outro diante de uma situação como essa? Se o Oscar for pra esse filme como é o favorito não vai ser nenhuma surpresa. Um filme que toca a ferida e nos propõe a pensar, dentro do nosso espaço intocável que é o quadrado que estamos
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraUma história de amor de verão muito bem contada por Luca Guadagnino baseada no livro de André Aciman e com roteiro de James Ivory. O filme não tem pressa de desenvolver o romance entre Elio e Oliver, a primeira hora praticamente não acontece nada de atração física entre eles. Com locações lindíssimas na Itália o diretor Luca Guadagnino juntamente à fotografia de Sayombhu Mukdeepron e às canções de Sufjan Stevens formam um casamento perfeito entre música e imagem. As músicas externam os sentimentos dos personagens, como se fossem projeções do interior. Apesar da diferença de idade de Elio e Oliver eles compartilham assuntos em comum, partilham do mesmo interesse pelas artes, pela música e literatura e a química entre eles é forte por isso. Independentemente da sexualidade dos personagens, quem já viveu uma história de amor difícil e que causa saudade ou parecer impossível vai se identificar com o romance, pois antes de tudo é uma experiência concreta amorosa, com todas as suas dores e alegrias. Tudo isso não seria possível sem performances convincentes e Thimotée Chalamet e Armie Hammer se entregam totalmente. Michael Stuhlbarg mostra um personagem sábio e compreensivo no papel do pai de Elio, esse que herdou toda a paixão pelas artes do pai. Um filme que não se preocupa em mostrar intolerância ou homofobia por parte de personagens, mas apenas uma história de amor que aparentemente pode parecer proibida nos idos anos 80, mas que é aceita como humanos que entregam os seus respectivos corações um ao outro.
Mudo
2.6 240Quando falo que há algo de errado na Netflix algumas pessoas acham que estou equivocado. Como um diretor inicialmente promissor foi capaz de entregar uma obra preguiçosa e sem sentido assim? Duncan Jones que fez os ótimos Lunar e Contra o Tempo, fez Warcraft que não cheguei a ver e atinge o fundo do poço com Mudo. O filme não faz sentido desde o início. Ao mostrar como o personagem principal ficou literalmente mudo, o roteiro a seguir não desenvolve isso. Mostra-se que Leo (Alexander Skarsgard) era de uma família americana Amish e após um acidente, sua família não busca corrigir o defeito através de cirurgia, pois a religião não permite unir-se à ciência. 30 anos depois o personagem encontra-se em uma Berlim futurista sabe-se lá por que. Já notamos duas coisas: Tanto faz o personagem ser Amish ou não, isso não faz a menor importância à trama. E ele ser mudo também não importa. Não é desenvolvido esse seu drama assim como o filme não reforça esse seu trauma ou sua vontade de voltar a falar. Ou seja: O filme se chama Mudo porque o personagem é assim, mas não importa esse seu drama ou não existem recursos narrativos que façam rimas visuais com isso. Leo estar em Berlim também não é muito explanado. Parece ter acontecido uma nova guerra entre Alemanha e os Comunistas, mas nunca é deixado claro. A partir daí o diretor quer construir um neo-noir ao estilo Blade Runner, em que Leo passa a investigar o paradeiro de sua namorada desaparecida, ela que não aparenta ser tão boazinha assim, como toda femme fatale. Prédios repletos de néon, carros voadores, robôs dançarinos, tudo poderia criar um ambiente cyberpunk interessante, mas são meros adornos visuais. E à medida que vamos conhecendo o mistério da mulher desaparecida, a trama vai fazendo menos e menos sentido, principalmente quando aparece o personagem de Paul Rudd com seu bigode estiloso e seu amigo supostamente pedófilo. Em meio às investigações existem poucas cenas de ação terrivelmente executadas, com uma preguiça visível do diretor Duncan Jones. Nota-se até um certo esforço por parte de Paul Rudd e Skarsgard em suas atuações. O sueco tenta, mas talvez por ter encarnado tão bem um mudo ele não conseguiu falar ao diretor que havia alguma coisa errada ali. A trilha de Clint Mansell é até correta, mas não consegue algo além. Enfim, Mudo é mais uma produção de péssimo gosto da Netflix, em que não entendemos o que se passou na cabeça do diretor, o que ele queria dizer. Precisamos talvez aprender um pouco de Libras para dialogar com ele.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraO roteiro do também diretor Martin McDonagh inicia-se muito bem e de certa forma esconderia um baita filme à primeira vista: Após ficar insatisfeita com as investigações da polícia sobre o assassinato de sua filha meses atrás, uma mãe enlutada chamada Mildred (Frances McDormand) tem a ideia de alugar em uma agência de publicidade três outdoors abandonados a fim de expor os policiais e a não resolução do crime. Mas isso acaba por gerar desconforto na pequena cidade e entre os policiais. A primeira hora de filme funciona muito bem e passa muito rápido, ao mostrar uma mãe em luta por justiça, inconformada, separada do ex-marido que a trocou por uma garota de 19 anos e tem que lidar com as consequências de seus atos com os outdoors. Acontece que na segunda metade alguns detalhes incomodam demais, com um excesso de coincidências que aparecem na trama e o pior que é a
rápida transformação de certos personagens, como o Dixon de Sam Rockwell. Um policial racista, xenófobo, homofóbico tem uma jornada de redenção que não convence, com um artifício barato através de cartas. Da noite para o dia o cara passa de um sociopata para um homem maduro, com mensagens de autoajuda recebidas de um falecido. A compaixão que ele recebe de alguém que é profundamente machucado por ele, com direito até a suquinho entregue como forma de fazer as pazes. Gosto muito do ator, mas ele é muito mal aproveitado pelo roteiro. O que deveria conter uma crítica eficaz sobre um sujeito amoral assim contém apenas o deboche. Além disso as já citadas coincidências demais na trama: A mãe briga com a filha e diz que um dia ela será estuprada e realmente acontece, um sujeito coloca numa carta que um dia o Dixon ouvirá uma conversa num bar que vai resolver o crime e acontece quase isso, o sujeito racista que tem que lidar com um novo chefe negro. Enfim, mostra uma fraqueza no roteiro nesse aspecto. Além disso tem subtramas desnecessárias, como a cena do anão com a Mildred e o ex-marido dela, com a nova namorada, cenas que não acrescentam nada. Além de uma cena envolvendo um suposto criminoso que vai tirar satisfações de Mildred sem motivo aparente.
Mas nem tudo é um desastre. Como falei, a trama funciona parcialmente, a primeira metade é muito boa, McDormand realmente muito bem em seu papel, tão boa ou até melhor que sua atuação em Fargo. Uma mulher entregue ao luto e sem esperanças, sem vaidades, de mau humor e sem levar desaforo pra casa. A trilha sonora tem belas canções, apesar de às vezes não funcionar em determinadas cenas. Rockwell atua muito bem, mas é mal-aproveitado. Talvez esses detalhes não incomodem boa parte dos espectadores, em seu resultado final até gostei do filme, mas se observar atentamente poderia ser bem melhor desenvolvida a trama sem muitos elementos citados aqui. O diretor tenta emular os irmãos Coen e até seu clássico Fargo, mas não possui a acidez suficiente e o humor negro nem sempre alcança um resultado satisfatório.
Mudo
2.6 240As críticas estão desanimadoras
Retrato de um Assassino
3.5 187 Assista AgoraFilme conhecido como sendo um dos que melhor representa o psicopata, Henry é um filme difícil de ser visto pela sua violência brutal e pela frieza extrema do psicopata baseado em Henry Lee Lucas, um dos mais prolíficos serial killers da história dos EUA. Em seus relatos ele diz que matou umas 600 pessoas, uma a cada semana, o que não conseguiram comprovar realmente. Ele utilizava métodos para matar suas vítimas que sempre mudavam, não tinha um modus operandi habitual de um psicopata, o que dificultava sua descoberta e a impunidade reinava. O longa faz uns ajustes em relação à vida real, mas muitos detalhes estão lá, como o abuso que sofreu pela mãe na infância, fator preponderante para ele ter se tornado um monstro, dentre outros aspectos. O filme apesar de conter cenas bem violentas em algumas mostra somente os corpos das vítimas e ouvimos ao fundo gritos e barulhos para imaginarmos apenas as brutalidades cometidas, sem mostrar a execução propriamente dita, em um belo trabalho de edição. Michael Rooker no papel de sua vida, encarna o psicopata com uma frieza absurda. Tom Towles interpreta Ottis, tão doente ou mais que o próprio Henry. Juntos eles cometeram vários crimes. O destino de Ottis é diferente da realidade, mas com certeza é umas das cenas mais brutais do filme, aliado à sonoplastia agoniante. A trilha sonora é bem sinistra, o que dá ainda mais arrepio com o seu final sem esperanças e que mostra ainda mais a persona de Henry. Pesquisando sobre sua vida real vimos o grande assassino que ele foi, terrível e sem remorso, fruto de uma criação irresponsável dos pais.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraFilmes Coming of Age são muito comuns e talvez por isso o roteiro original de Greta Gerwig não tenha força alguma pra o Oscar como foi indicado. O filme é comum, já vimos muitas vezes histórias desse tipo, mas a força dele está nas sutilezas, narrativa e personagens. Sutileza porque inicialmente o filme não deixa escancarado qual a época que o filme se passa, como vários filmes estampam o lugar e a data que o filme se passa. O lugar é Sacramento, como no início do filme já é estampado, mas a época observamos em detalhes mais à frente. TV de Tubo, ausência de celulares, pós-11 de Setembro, ou seja, a trama se passa em 2002 para 2003. Uma época que muitos jovens adultos na faixa dos 30 anos vão se identificar, porque era a época que eu estava ainda em colégio, imaturo e que ainda aprenderia muitas coisas para virar adulto. De certa forma observando a estrutura ele não é tão diferente do também divertido The Edge of Seventeen, mas tem certas diferenças. A alcunha de Lady Bird mostra a imaturidade da jovem, que quer mostrar ser o que não é, uma mulher independente e segura de si mesma. Ela quer ter uma realidade que acha que é fácil e a teimosia da adolescência nos fazia crer nisso. Saoirse Ronan em uma ótima atuação como de costume, sem vaidade e com um figurino largado, esquisito como muitos adolescentes que querem ser os diferentes. Sua relação conflituosa, mas amorosa com a mãe, em interpretação inspirada de Laurie Metcalf é um dos motes do filme. É a partir desse conflito que surgem as asas da Lady Bird, asas para o crescimento e uma nova vida dos adultos e o reconhecimento do papel de uma mãe. Desaparece o ódio e reconhece o amor, a saudade de uma cidade natal, de uma época que já passou. E isso Greta Gerwig conduz muito bem. Apesar de não ser autobiográfico, muitos detalhes da vida da diretora estão lá, como o estudo em colégio religioso e a época. Interessantes as participações de Lucas Hedge e Timothée Chalamet como interesses amorosos de Lady Bird, que participaram de outros filmes que concorrem ao Oscar como Três Anúncios para um Crime e Me Chame pelo seu Nome, respectivamente. Dificilmente ganha algo no Oscar, mas Lady Bird é um filme gostoso e simples de se assistir.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraUm filme maduro da Marvel, mas que não deixa de entreter. Apesar de não ser um filme sombrio é sério e claramente tem muitas metáforas políticas em relação aos nossos tempos. O elenco é primoroso, personagens muito bem desenvolvidos e carismáticos e uma história que foge um pouco dos outros filmes da empresa. Ainda mais Pantera Negra tem um dos melhores vilões da Marvel que é o Killmonger, interpretado pelo talentoso Michael B. Jordan em terceira parceria com o diretor. É um vilão com um propósito bem definido e isso é mais um mérito da produção. Pantera Negra é bem sucedido em tudo o que não fora para mim em Homem Aranha: De Volta ao Lar: É um filme independente do universo dos Vingadores, o que dá uma identidade própria a ele, desenvolve seu ambiente com maestria e seu vilão, ao contrário do vilão interpretado por Michael Keaton realmente é forte e causa-nos empatia. Os únicos defeitos para mim foram as cenas de ação noturnas que apelam muito para o CGI e deveriam usar dublês realmente lutando ou como as cenas dos desafios que são de dia e são boas cenas. E o personagem americano do Martin Freeman é meio descartável, mas nada que atrapalhe o resultado final. Tem duas cenas pós-créditos em que a primeira é a melhor e talvez uma das melhores da Marvel, que ressalta o tom político e humanístico do filme com uma mensagem poderosa. E a segunda é apenas uma ligação com o universo da Marvel. Um ótimo entretenimento.
Mãe e Pai
2.6 166 Assista AgoraQue filme ruim. A proposta é boa, mas a execução foi muito preguiçosa. Esse diretor não sabe fazer cenas de ação ou tensão sem tremer a câmera mil vezes. E o filme deveria se concentrar no terror com a comédia, perde muito tempo com cenas nada a ver. Uma pena
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista AgoraSe eu tivesse dois braços batia palmas
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista AgoraPrimeira produção realmente lançada mundialmente em 2018 que vejo e é candidato a pior do ano. Esse terceiro filme da franquia Cloverfield já era problemático desde o início. Teve adiamentos, mistérios sobre seu lançamento, título que receberia, enfim, seu lançamento era uma bagunça. Até que durante o Super Bowl ontem foi anunciado que o filme seria lançado no mesmo dia, lançamento surpresa, pela Netflix. Sabemos que, com pequenas exceções, a Netflix não manda bem com seus filmes, geralmente lançam tralhas como Death Note, Bright e agora esse. E quem disse que esse diretor Julius Onah tinha talento? Estou até hoje querendo saber. Depois de um primeiro Cloverfield misterioso dirigido por Matt Reeves e produzido por J.J. Abrams, em estilo found footage e de uma sequência excelente que virou um thriller de primeira linha todos esperavam uma sequência à altura, mas infelizmente não aconteceu. Como um elenco talentoso, quase que em sua maioria não americano como Gugu Mbatha-Raw, David Oyelowo, Daniel Brühl, Aksel Hennie e Ziyi Zhang se envolve numa bomba dessa categoria? O filme começa até sério, com uma trilha que remete aos Cloverfield anteriores, mas depois vira uma comédia involuntária, com diálogos pavorosos e uma sci-fi bagaceira digna dos filmes classe Z do canal Syfy (Até as produções desse canal melhoraram muito). Em suas tentativas de homenagear clássicos como Alien, o Oitavo Passageiro o filme se distancia mais e mais da franquia Cloverfield envolvendo realidades alternativas, multiversos e o escambau. E os monstrinhos? Bem, pouco mencionados. Os personagens ou são completos patetas como o pior, interpretado por Chris O'Dowd ou sabichões imediatos que sabem explicar exatamente o que acontece em questão de segundo, como o físico interpretado por Daniel Brühl. O filme tem um finalzinho que tenta deixar um sorriso nos fãs da franquia, mas veio tarde demais. O acelerador de partículas foi ativado e a merda já tinha batido no ventilador. De uma coisa pelo menos o filme me divertiu e essa notinha é por causa disso: Ri bastante da comédia involuntária constrangedora, diálogos escritos por dementes e atuações dignas de um Framboesa de Ouro.