A bestialidade de um homem autodestrutivo e cego pelo ciúmes rendeu a Martin Scorsese sua primeira obra-prima.
E que grande obra é Touro Indomável. Não deixa de ser uma surpresa que um tema tão simples no papel, afinal, trata-se da biografia de um lutador, tenha conseguido trabalhar assuntos mais relevantes como relacionamentos abusivos, alcoolismo e autodestruição, de forma tão expressiva e eficiente.
Reeditando pela quarta vez sua parceria com Robert De Niro, em sua melhor atuação (e merecidamente reconhecida com o Óscar) e tendo Joe Pesci (em sua primeira colaboração), o filme é um retrato bastante íntimo e sem a menor intenção de homenagear seu protagonista. Scorsese, conhecido pelo seu estilo cru, fica bastante a vontade para mostrar sem pudor a brutalidade de LaMotta, seja nos ringues ou na sua vida pessoal.
A fotografia em preto e branco rende cenas que são extremamente memoráveis e históricas, como quando o sangue escorre no ringue.
A montagem opta por recortes específicos, mas muito bem distribuídos ao longo da narrativa, que fazem, sem a necessidade de uma duração excessiva (o filme tem apenas 129 minutos), que se entenda perfeitamente que tipo de homem foi Jake LaMotta.
Uma obra irrepreensível e uma das maiores biografias da história do cinema.
Talvez o projeto mais ambicioso do início da carreira de Martin Scorsese. E seu primeiro tombo.
Ambientado no pós-segunda guerra mundial, New York, New York tem como foco a conturbada relação entre Francine (Liza Minnelli) e Jimmy Doyle (Rober De Niro). E aqui, tem-se um dos problemas basilares do filme. Embora De Niro seja um fantástico ator e esteja bem, como o habitual, seu personagem Jimmy Doyle é um ser odioso e que causa desconforto logo nas primeiras interações com Francine.
Logo, em se tratando de um musical cujo núcleo principal é a relação entre os dois, cria-se uma antipatia natural por Doyle e causa um distanciamento muito grande que mostra-se difícil de evitar.
Tecnicamente bem executado e vistoso, o filme alterna bons e maus momentos. Ainda que bonito e artisticamente bem feito, as músicas não são memoráveis. E para um musical isso é um pecado imperdoável.
Liza Minnelli se destaca como a ingênua, mas corajosa, Francine. Sua personagem é a alma do filme. E o contraste com Doyle, ainda que desconfortável em alguns momentos, é interessante.
Surpreendentemente, o filme cresce bastante em seu último ato. Sua conclusão, é redentora e a melhor possível.
New York, New York não é mau filme. Mas, sua ambição e grandiosidade criam uma expectativa que só se aproxima da plenitude, em sua última hora de filme. Um trabalho apenas aceitável de Martin Scorsese.
Quando a personagem Betsy se refere a Travis usando uma música sobre contradições, ela está referenciando a própria natureza de Táxi Driver.
Quinto trabalho de Martin Scorsese, Táxi Driver transita sem pudor pela linha tênue da compreensão ao ideal reacionário de seu protagonista e a ridicularização do mesmo.
A narrativa nos é apresentada pela perspectiva de Travis, um narrador ingênuo, mas não confiável. Sua desconexão da realidade vai da ingenuidade social ao delirante senso de importância que o personagem confere a si mesmo. Sua visão deturpada e cheia de ódio se intensifica a partir da rejeição.
Robert De Niro entrega uma atuação irrepreensível, sendo um dos seus melhores trabalhos até hoje. O ator consegue demonstrar todas as frustrações, raiva e inferioridade do personagem com uma grande narração em off e por meio de expressões contidas em sequências simples, como quando Travis anda pelas ruas com seu Táxi.
Não há como falar de Táxi Driver sem citar a Nova York de Scorsese. Envolta em pecado (tema recorrente do diretor), luxúria e violência, a cidade é um personagem. Visualmente marcante e repleta de texturas.
Soma-se ao visual com muito vermelho e o uso de luzes noturnas, a memorável trilha sonora de Bernard Hermann contrastando o pecado das ruas com a obsessão quase militarista de Travis.
O roteiro de Paul Schroder encaixa com o estilo cru de Scorsese. É uma narrativa de crescente tensão e que em algum momento vai atingir o ápice de violência. O único deslize narrativo se dá pelo final esticado. Há um final perfeito. Mas o filme se permite uma última cena. Não precisava.
Táxi Driver foi a amostra definitiva da capacidade e genialidade de um dos maiores cineastas de todos os tempos. Uma quase obra-prima.
Um dos filmes mais singelos na grande filmografia de Martin Scorsese.
Tendo dirigido até então, basicamente, filmes eminentemente violentos e crus, Scorsese aqui dirige seu primeiro drama, que também, é um aceno musical do diretor.
A história acompanha Alice Hyatt e seu filho, numa jornada de sonhos, percalços e resiliência. Ellen Burstyn entrega uma atuação magnética e que é, em todos os sentidos, a alma do filme.
O roteiro é preciso em estabelecer seus valores logo de cara. Alice é uma mulher frustrada, numa relação infeliz e abusiva, que abdicou de seus sonhos quando engravidou. Seu filho é seu parceiro em sua jornada. Mas, por vezes, objeto de grande preocupação. É simples e muito palpável a abordagem da relação entre os dois. E extremamente envolvente, ante a química entre os dois.
Namorados abusivos, trabalhos mal remunerados e os desvios comportamentais de uma criança movimentam a narrativa que nunca se torna amarga demais nem tampouco romantiza tais situações.
Scorsese embora contido na direção, se permite impor a sua marca. Como, por exemplo,
[/spoiler] Na sequência musical faz sua homenagem ao Mágico de Oz ou, ainda, na sequência que o marido de Alice morre e ele nos mostra o caminhão ensanguentado [spoiler]
Alice Não Mora Mais Aqui diferencia-se da maioria dos filmes de Scorsese por sua narrativa mais simples e com temas mais sensíveis. Mas, nem por isso deixa de ser um grande filme.
Scorsese revisita temática do seu primeiro filme, em clássico inconsistente.
Caminhos Perigosos marcou de forma definitiva o nome de Scorsese como o cineasta das ruas, da violência urbana, do cinema cru. E essas são características inerentes a filmografia do diretor. Contudo, se em "Quem Bate à Minha Porta?" havia a evidente justificativa de ser um filme experimental de um cineasta estreante, aqui não se permite tal argumento.
O filme é uma grande bagunça em termos narrativos. Temos novamente a figura do jovem italo-americano, imerso na culpa católica e com aspirações à máfia e a figura feminina vista de uma ótica idealizada e ao mesmo tempo objeto de pecado.
O grande problema é que o roteiro se perde a todo momento em situações pouco interessantes que quebram a narrativa e engasgam seu andamento.
O grande destaque é a primeira colaboração de Robert De Niro, como o perturbado Johnny Boy, sendo o personagem que movimenta a narrativa nos momentos de maior tensão e carga dramática.
Caminhos Perigosos é um clássico do cinema das ruas - cinema que notabilizou Scorsese como um dos maiores diretores da sua geração - e também é, um dos trabalhos mais inconstantes do diretor.
Um tipo de filme irreconhecível na filmografia de Martin Scorsese. Sexy e Marginal flerta com o cinema de assalto, com o erótico e com o blackxplotation, sem de fato abraçar a nada.
Com uma história ao melhor estilo Bonny & Clyde, o filme se concentra num grupo de quatro personagens que iniciam uma parceria criminosa durante a grande repressão. O Grande acerto do filme é na escolha de um elenco extremamente carismático. Bárbara Hershey, David Carradine, Barry Primus e Bernie Casey funcionam muito bem enquanto grupo, sendo fácil desenvolver empatia pelo grupo.
Enquanto narrativa, há um ritmo acessível. O filme jamais se torna desinteressante. Mas, não deixa de ser raso e sem grandes surpresas. Com exceção de alguns momentos e em especial, da última cena, pouco se parece com um trabalho de Martin Scorsese.
Um Scorsese ainda amador em um dos seus trabalhos mais crus.
Abordando temas eminentes de sua filmografia como, por exemplo, a culpa católica, a irmandade masculina e o cinema como referência cultural, o diretor se perde entre a coesão narrativa e momentos de deleite pessoal. O caráter biográfico é muito claro. O problema é que para além do relacionamento entre J.R (Harvey Keitel) e a menina, não há uma história de fato acontecendo.
A relação entre o casal é de fato o que movimenta o filme. É na construção desse relacionamento que encontram-se os melhores diálogos. A culpa católica de J.R é objeto de alguns dos melhores momentos do filme, em especial quando
[/spoiler] é mostrada a hipocrisia masculina. J.R coloca a menina num pedestal imaculado e cria ao seu redor uma ideia de pureza que visa compensar a sua própria culpa. [spoiler]
E dado o devido contexto de época, afinal, trata-se de um filme de 1967, o tratamento conferido para alguns temas mais pesados
A busca de Christopher Nolan por sua obra-prima definitiva e o seu amadurecimento enquanto cineasta.
Primeira cinebiografia de Nolan, Oppenheimer rompe com os trabalhos mais fantasiosos do diretor e ainda que seja um legitimo filme de Christopher Nolan, mostra um surpreendente amadurecimento após o fraco Tenet.
Estão lá as explicações, a eloquência, o senso de urgência, o pessimismo inerente ao caráter humano, as habituais parcerias de elenco, a não linearidade e até mesmo a manipulativa e grandiosa trilha sonora (novamente de Ludwig Goransson). Porém, temos aqui um trabalho sóbrio e que se concentra em percorrer a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy, em seu melhor trabalho), em especial, por sua colaboração no desenvolvimento da bomba atômica que desencadeou os terríveis eventos em Hiroshima e Nagasaki. E mais do que se preocupar em estabelecer quem foi Oppenheimer, visto que, o filme segue a batida de outras cinebiografias consagradas, mostrando um jovem físico ainda na faculdade e nos primeiros anos, o seu propósito é construir o seu aspecto psicológico. O filme não se furta de mostrar seu protagonista como alguém vaidoso, arrogante, mulherengo e instável emocionalmente.
Seguindo diferentes linhas do tempo, o filme se organiza de modo bastante claro nas suas 3h de duração. A primeira estabelece quem foi Oppenheimer. Sua vida pessoal, suas falhas, envolvimento com a política e suas motivações enquanto cientista. A segunda parte do filme se dedica inteiramente ao processo de criação da bomba. E é nesse trecho que residem os maiores problemas do filme. O roteiro tenta condensar a maior quantidade possível de informações em um curto espaço de tempo. A montagem opta por sequências curtas que vão de um lado para outro, sempre acompanhando seu protagonista. Porém, há um excesso muito grande de situações e de personagens, que acabam por tornar a experiência cansativa em dado momento. Ao fim da segunda parte, o filme tem o seu grande clímax.
A sequência é um grande espetáculo visual e que usa o silêncio como perplexidade do tamanho do poder destrutivo do ser humano. É uma cena emblemática para a história do cinema e a melhor cena em um filme de Christopher Nolan.
Com o início da terceira parte, o filme se reorganiza e explora as consequências da bomba atômica. É o seguimento mais dinâmico, reflexivo e interessante. Seu desfecho, ainda que óbvio, é impactante e grandioso.
O elenco gigantesco é repleto de grandes nomes. Merecem destaque Robert Downey Jr., em uma grande participação, sendo um personagem central em toda a narrativa e Emily Blunt, como a esposa de Oppenheimer, que entrega momentos poderosos de conflito e de sentimentos controversos.
Oppenheimer não é o melhor filme de Christopher Nolan. Embora explore com êxito o que há de melhor sobre seu protagonista, a narrativa abraça mais detalhes do que o necessário, tornando a experiência um pouco cansativa. Ainda que seu desfecho seja impactante e memorável, sua segunda hora é demasiadamente confusa.
Christopher Nolan nunca escondeu o seu interesse na franquia James Bond e em dirigi-la algum dia. Aqui, o diretor parte de uma ideia inacabada e confusa para conceber o seu próprio filme de 007.
E se imaginar o diretor a frente da franquia parecia algo empolgante e promissor, com base na sua excelente filmografia, Tenet provou que não é bem assim. De todos os seus filmes, é de longe, o mais problemático.
Ambicioso como praticamente todos os seus filmes, Tenet até tenta esconder sua falta de acabamento, ao imprimir um ritmo acelerado logo na sequência de abertura. Mas, fica evidente que o roteiro gira em torno de uma ideia que não havia uma história para ser contada. Tenet, enquanto expressão, é um conceito vazio. Sua lógica pouco importa, o que o próprio filme escancara na sequência em que o protagonista visita uma cientista e ela lhe responde:
[/spoiler] Não tente entender. Apenas sinta. [spoiler]
Em meio ao grande buraco de conteúdo e a narrativa científica confusa, Nolan parece se divertir com a sua versão de James Bond. O protagonista, não por acaso, é inominado (e se autointitula como "protagonista" em um diálogo pra lá de caricato). John David Washington, em sua primeira colaboração com o diretor, sofre com o roteiro limitado. Seu personagem é um agente sem história e sem qualquer traço de personalidade próprio. O ator, que já provou ser carismático, tenta encontrar no sarcasmo alguma personalidade, mas soa forçado e cansativo. Robert Pattinson, embora sofra com o mesmo problema da ausência de personalidade, se adapta melhor e consegue algum destaque. Já Kenneth Branagh (habitual parceiro do diretor) como o vilão (russo, não por acaso), é talvez a coisa mais constrangedora do filme. Seu personagem é caricato, desprovido de carisma e tem algumas cenas de extremo mau gosto, onde suas atitudes são apenas para evidenciar a sua vilania. Seu arco inteiro, inclusive suas motivações e seu relacionamento com a sua esposa, são referências nítidas aos (piores) vilões de 007.
E ainda que os aspectos técnicos do filme sejam competentes, não há nada memorável por aqui. Há duas sequências de ação envolvendo perseguições, que, se destacam um pouco mais por sua execução técnica. Nem a trilha sonora, sempre um personagem nos filmes de Christopher Nolan, tem a mesma efetividade. Sem a colaboração de Hans Zimmer pela primeira vez desde O Grande Truque, ficou a cargo de Ludwig Goransson.
Apático e sem grandes destaques técnicos, Tenet é uma ideia inacabada que serviu de pretexto para Nolan fazer a sua própria versão de 007. Seu pior trabalho.
Se interestelar, filme anterior de Christopher Nolan, é seu trabalho mais emotivo e que sintetiza o seu estilo de fazer cinema, Dunkirk é definitivamente a antítese.
Protagonistas que não tem nome, rostos que aparecem e desaparecem, personagens sem uma história. Dunkirk é deliberadamente um filme frio. E sua narrativa é muito menos sobre aqueles indivíduos que sobreviveram aos horrores da segunda guerra e muito mais sobre aquele recorte específico e histórico da própria guerra. A batalha de Dunkirk.
Nolan emprega seus recursos de não linearidade e de crescente tensão, muito, diga-se, escorado na habitual parceria com Hans Zimmer. Aqui, o compositor é mais comedido na grandiosidade, concentrando-se mais em evocar uma crescente tensão e alerta.
O elenco conta com nomes como Cillian Murphy, Tom Hardy e Kenneth Branagh (habituais parceiros de Nolan). Porém, curiosamente, dedica boa parte dos seus rápidos 106 minutos (segundo filme mais curto de sua filmografia) em acompanhar os jovens soldados, rostos desconhecidos, reforçando novamente que o foco não são os seus personagens, mas os eventos.
A montagem que embaralha três linhas temporais é eficiente, porém é mais um recurso para manter a tensão, do que propriamente algo que agregue narrativamente.
Dunkirk é deliberadamente frio e desinteressado por seus personagens. Mas, eficaz em tudo que se propõe, em especial, no constante sentimento de desconforto e de urgência. Tecnicamente impecável.
Talvez um dos trabalhos mais comentados de Christopher Nolan. Amado por uns, odiado por outros. A verdade é que Interestelar é a síntese do cinema feito por seu diretor.
Diferente do que ocorre em outros trabalhos, Nolan não perde tempo em levar o filme ao seu objetivo. De cara sabemos que é uma ficção científica grandiosa, especulativa e pretensiosa, mas também, um filme sobre a relação entre um pai e seus dois filhos. E eis que temos os primeiros problemas.
Na primeira meia hora de um filme, há uma grande quantidade de facilitadores narrativos pouco convincentes e que derrubam logo de cara algo muito importante para uma ficção científica: acreditar que aquela ideia, por mais absurda, seja possível.
A montagem do filme acelera demais os processos e logo, fica evidente o segundo problema do filme: o núcleo familiar é muito mais interessante do que a trama científica. E ainda que o roteiro tente estabelecer motivações, a relação entre Coop e Murphy é a alma do filme, cabendo ao irmão ser um coadjuvante.
Com menos de meia hora, as intermináveis explicações de Nolan surgem e o filme tenta a todo segundo explicar conceitos científicos pela metade. Visual e tecnicamente, impecável, sendo o melhor trabalho técnico de sua filmografia, o filme sofre com as longas exposições. O roteiro na tentativa de facilitar seu andamento adota um andamento episódico de pequenas missões que nos levam a novas descobertas.
E aqui, surgem os elementos que sintetizam muito bem o trabalho de Christopher Nolan. Entre uma explicação e outra, uma missão que explora a magnitude e a grandiosidade visual, embalada pela grandiosa trilha de Hans Zimmer (em sua melhor colaboração com Nolan). A trilha é tudo que o diretor aprecia. Barulhenta, imponente e memorável. E Nolan a utiliza, por vezes, até de forma manipulativa, preenchendo cenas naturalmente desinteressantes com a sensação de urgência e comoção.
Na trilha de descobertas, há uma tentativa de plot twist, mas de algo tão desinteressante e óbvio, que torna-se irrelevante.
O elenco com habituais parceiros de Nolan tem como destaque Matthew McConaughey e Jessica Chastain, que carregam nas emoções e sentimentos, talvez a maior virtude não-técnica do filme.
O desfecho é extremamente brega, mas agradável dentro da proposta estabelecida na primeira meia hora de filme. Há apenas apenas uma decisão absolutamente incoerente
[/spoiler] Cooper ir atrás da Dra. Brend e ignorar completamente os demais membros da família. É um gesto totalmente robótico. [spoiler]
Longe de ser perfeito, Interestelar é um espetáculo visual emotivo e agradável, que, por vezes se perde em meio às ambições científicas de seu diretor, mas que manipula o tempo com maestria.
Divisivo, incompreendido e por vezes, desleixado. Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um encerramento digno, mas imperfeito para uma das melhores trilogias do cinema moderno.
Ao assistir a última parte da trilogia de Christopher Nolan, é nítida a sensação de desvio em relação ao que deveria ser o verdadeiro filme, caso não houvesse a morte de Heath Ledger. Ainda que seja imperdoável que 4 anos separem o longa de seu antecessor e o resultado seja tão abaixo do filme anterior, há de se dizer: ainda que com todos os seus defeitos (e aqui são muitos), trata-se de um filme muito bom e que encerra dignamente a trilogia iniciada em Batman Begins.
Os seus problemas, consistem, essencialmente na falta de uma trama consistente e no carisma dos personagens. Bane é um vilão marcante e intimidador, porém que vinha de uma ridicularização recente no famigerado Batman e Robin (de Joel Schumacher). E ainda que Tom Hardy esteja bem e de fato, sua presença transmita um perigo real, a revelação de suas reais motivações esvazia e diminui o personagem (mais uma vez). A trama, como um todo, mira em contornos épicos e grandiosos, mas não encontra meios honestos de levar a narrativa até onde deseja sem que hajam facilitadores ou buracos.
[/spoiler] Quando Batman Ressurge do poço, ele consegue retornar para a cidade com a maior facilidade do mundo e se encontrar com todos que precisa. [spoiler]
A inserção de tantos personagens também não é isenta de problemas. A maioria dos personagens são odiosos e sem carisma, salvo a exceção de Blake (Joseph Gordon Levitt) e lampejos de uma Selena Kyle (Anne Hathway), carismática, porém longe do brilho fatal de Michelle Pffeifer em Batman: O Retorno.
O ritmo do filme e o andamento do filme não são orgânicos, havendo a sensação de pressa em seu andamento.
E o plot twist é bastante frágil.
Contudo, Christian Bale continua imponente como Batman. As cenas de ação são bem conduzidas e algumas sequências são empolgantes (como a primeira aparição do Batman). A ameaça de Bane é bastante crível e impactante. Os aspectos técnicos e a trilha sonora de Hans Zimmer (aqui, sozinho) permanecem impecáveis. E por fim, a sua conclusão é bastante satisfatória dentro do estabelecido nessa versão de universo cinematográfico.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge não chega nem perto da execução de seu antecessor e está um degrau abaixo de Batman Begins. Mas, tem boas cenas de ação, um fechamento digno e funciona bem como entretenimento.
Desde "O Grande Truque", de 2006, que Nolan, até então um diretor que transitou por tramas criminais com maestria, vinha flertando com a ficção científica. Eis que temos aqui, a sua primeira incursão oficial pelo gênero.
Sem abrir mão daquilo que lhe sempre foi confortável, o diretor e roteirista nos apresenta a um grupo de ladrões (de sonhos) encabeçados por um Leonardo DiCaprio bastante comprometido com seu personagem. Elenco recheado de bons nomes e dos habituais parceiros Michael Caine e Cillian Murphy. Tom Hardy, Marion Cottilard e Joseph Gordon Levitt, em suas primeiras colaborações com o diretor. Muitos nomes de peso, pouco desenvolvimento para todos. Com exceção de Cobb (Leonardo DiCaprio), todos os personagens são instrumentos narrativos com funções bem definidas. Um exemplo claro é a personagem de Ellen/Eliot Page.
E considero que é aqui, em "A Origem" que o diretor ganhou a fama que o persegue até os dias de hoje. São dois fatores bem característicos que ocorrem no filme e viriam a se repetir em obras seguintes: a frieza e distanciamento emocional com alguns personagens, usados como facilitadores narrativos e; o excesso expositivo de explicações teóricas.
Em vários momentos, a narrativa quebra seu ritmo para explicar algum conceito. É um risco que Nolan corre ao estabelecer ideias ambiciosas e com conceitos pouco explorados.
E ainda que o filme de fato trate com pouco interesse seus coadjuvantes e de fato perca muito tempo com explicações, o filme tem um bom andamento e consegue compensar suas falhas, com uma trama inventiva e envolvente. Nolan mostra domínio e segurança nas cenas de ação, que são um ponto alto do filme.
Hans Zimmer dá mais um espetáculo com sua trilha sonora (um tanto quanto exagerada, mas muito marcante).
A cinematografia pálida combina com as emoções de seu protagonista, um homem corroído pela culpa e pela apatia.
A Origem não é o melhor filme de Christopher Nolan. Mas, tem uma ideia interessante, bem executada e que proporciona ótimos momentos de entretenimento com conteúdo.
O grande trabalho da filmografia de Christopher Nolan. E só não estamos diante de uma obra-prima, o que seria um feito extraordinário para um filme do subgênero, pelos detalhes.
Batman: O Cavaleiro das Trevas coloca-se na história do cinema como um caso raro. Trata-se de um blockbuster grandioso, tomado do início ao fim, da urgência recorrente aos filmes de ação mais barulhentos já feitos. Contudo, de forma estupenda, há uma grande história policial sobre crime sendo contada, o tempo todo. Toda ação gerada é fruto de uma narrativa sólida, bem pensada e que mesmo que tenha suas imperfeições, consegue ser absolutamente envolvente.
Todas as virtudes de Batman Begins são potencializadas em grande escala. Christian Bale está mais seguro ainda como Bruce Wayne e mesmo que mantenha seus vícios como Batman, há muita imponência em seu Batman. E Heath Ledger é a alma do filme. Caótico em suas ações, imprevisível em seus planos e extremamente carismático em sua psicopatia, é uma versão inigualável do palhaço do crime e que captura a essência do Coringa. Não há graça em suas ações. Há o horror.
Já o personagem Duas-Caras recebe um tratamento humanizado e que lhe confere camadas. Porém, novamente Nolan trabalha o aspecto da corrupção e mostra que nem o "melhor entre nós" é incorruptível.
A trilha sonora de Hans Zimmer e James Newton Howard (com muito mais participação do estilo do primeiro), segue sendo magistral, imponente e aqui, até mesmo enervante. A sequência de mortes mostrada em sequência é uma aula do uso de uma trilha sonora urgente e que mexe com a tensão.
Batman: O Cavaleiro das Trevas é um dos maiores filmes do subgênero baseado em hqs de todos os tempos. Mas, também é um filme policial brilhante, bem pensado e bem dirigido. O melhor trabalho de Christopher Nolan até agora.
Christopher Nolan retorna aos filmes de plot twist.
Alguns filmes contam com reviravoltas e momentos surpreendentes. O próprio cineasta já havia feito isso em duas oportunidades. Contudo, alguns filmes encontram no plot twist a sua grande razão de existir (por exemplo, O Sexto Sentido). E embora, O Grande Truque seja um filme que funcione bem - mesmo com uma montagem mal conduzida que torna tudo mais confuso do que de fato é - e conte com um grande elenco, seu plot twist é sua grande razão de existir.
Assim, considerando seu esmero técnico e visual e a sua temática divertida, é um filme acima da média, mesmo com sua dependência narrativa de seu plot e sua montagem confusa.
Com Batman Begins, Christopher Nolan amplifica sua visão de mundo corrupta e cinzenta.
Mas, se em Amnésia e Insônia tínhamos narrativas menores voltadas para poucos personagens, que eram parte de situações envoltas em corrupção, aqui, o diretor aproveita o orçamento grandioso e cria um personagem unipresente em seu universo do homem morcego. Gotham é a personificação da corrupção. Suja, cinzenta e traiçoeira, a cidade é instrumentalizada na narrativa. Potencializada pelo grande trabalho de produção, a cidade em nada lembra a Gotham gótica de Tim Burton, não sendo isso um demérito.
E se não bastasse isso, Nolan encontra na trilha sonora grandiosa e imponente de Hans Zimmer, na primeira parceria entre os dois, um componente perfeito para o seu estilo.
O elenco, encabeçado por Christian Bale, merece destaque. O ator, que vinha de Psicopata Americano, encontra o equilíbrio perfeito entre os dilemas de um homem atormentado por um trauma e ser um playboy arrogante que precisa esconder seus segredos. Sua presença física como Batman é convincente, ainda que o ator exagere na voz. É uma das melhores versões do Batman, sem dúvida. O restante do elenco é marcante, principalmente a dupla Michael Caine e Gary Oldman. E Liam Neeson entrega um vilão discreto, mas ameaçador.
Batman Begins é um recomeço mais que necessário para um dos personagens mais populares do cinema. E Nolan soube aliar muito bem as suas virtudes como diretor às necessidades do personagem. Mas, o melhor estava por vir.
Terceiro filme na filmografia de Christopher Nolan, Insônia (2002) é de longe, o filme mais convencional do diretor.
Usando pela primeira vez uma narrativa linear, o diretor parece mais disposto e interessado no lado humano de seus personagens do que propriamente nos aspectos policiais e investigativos. Entre dilemas morais envolvendo corrupção e a investigação criminal, o filme investe mais nos efeitos psicológicos que o protagonista Al Pacino é submetido, deixando o crime em segundo plano. Ao optar por essa abordagem, o peso narrativo se concentra em torno do personagem principal. Porém, embora Al Pacino esteja bem, o roteiro não oportuniza um grande desenvolvimento das questões que ele mesmo propõe.
E ao termos a identidade do assassino revelada precocemente, é reforçada a ideia de que nunca foi sobre a investigação, mas sim sobre
[/spoiler] como um policial tomado pela culpa, de caráter dúbio, investigado por corrupção e que matou o próprio parceiro, teria condições de condenar um assassino. Ambos, são, em essência, seres corrompidos pelos seus próprios crimes. [spoiler]
Não tendo nenhum traço comum a filmografia de Nolan, Insônia é um bom filme. Mas, falta a ambição de Following e a genialidade de Amnésia.
Depois de dirigir o promissor Following, a consagração. Amnésia é um dos melhores filmes de Christopher Nolan, mesmo 20 anos depois do seu lançamento.
A narrativa não-linear, marca registrada do diretor, tem aqui seu uso mais inteligente e engenhoso. Trata-se de elemento central na sensação de desorientação inerente ao próprio protagonista. Junto a montagem competente que explora os momentos exatos, entre idas e vindas, em uma linha temporal paralela, o filme entrega pequenos elementos que serão fundamentais na reconstrução do que de fato aconteceu com aquele homem solitário, confuso e com um único objetivo.
E mesmo quando imagina-se a narrativa ordenada linearmente, estamos diante de um excelente thriller sobre culpa, corrupção e obsessões.
Following é a semente do imaginário de Nolan sobre as mudanças de perspectiva, conforme a progressão narrativa.
Rodado como um noir, o filme antecipa vários dos temas que viriam a ser objeto da filmografia do diretor. Mas, nenhum tem tanta importância como a mudança da perspectiva com o avanço narrativo. Ao apresentar o protagonista, estabelece-se uma ideia. Quando seu caminho cruza com os demais, descobrimos novos elementos. Quando temos todas as peças, há uma linha muito tênue entre o acaso e o ceticismo moral com que Nolan encara seus personagens. E embora seja um dos seus trabalhos menos mirabolantes, Following não deixa de ser ambicioso.
Uma boa estreia para um dos diretores mais bem sucedidos comercialmente nos dias de hoje.
Touro Indomável
4.2 708 Assista AgoraA bestialidade de um homem autodestrutivo e cego pelo ciúmes rendeu a Martin Scorsese sua primeira obra-prima.
E que grande obra é Touro Indomável. Não deixa de ser uma surpresa que um tema tão simples no papel, afinal, trata-se da biografia de um lutador, tenha conseguido trabalhar assuntos mais relevantes como relacionamentos abusivos, alcoolismo e autodestruição, de forma tão expressiva e eficiente.
Reeditando pela quarta vez sua parceria com Robert De Niro, em sua melhor atuação (e merecidamente reconhecida com o Óscar) e tendo Joe Pesci (em sua primeira colaboração), o filme é um retrato bastante íntimo e sem a menor intenção de homenagear seu protagonista. Scorsese, conhecido pelo seu estilo cru, fica bastante a vontade para mostrar sem pudor a brutalidade de LaMotta, seja nos ringues ou na sua vida pessoal.
A fotografia em preto e branco rende cenas que são extremamente memoráveis e históricas, como quando o sangue escorre no ringue.
A montagem opta por recortes específicos, mas muito bem distribuídos ao longo da narrativa, que fazem, sem a necessidade de uma duração excessiva (o filme tem apenas 129 minutos), que se entenda perfeitamente que tipo de homem foi Jake LaMotta.
Uma obra irrepreensível e uma das maiores biografias da história do cinema.
Nota: 10,0
New York, New York
3.6 109 Assista AgoraTalvez o projeto mais ambicioso do início da carreira de Martin Scorsese. E seu primeiro tombo.
Ambientado no pós-segunda guerra mundial, New York, New York tem como foco a conturbada relação entre Francine (Liza Minnelli) e Jimmy Doyle (Rober De Niro). E aqui, tem-se um dos problemas basilares do filme. Embora De Niro seja um fantástico ator e esteja bem, como o habitual, seu personagem Jimmy Doyle é um ser odioso e que causa desconforto logo nas primeiras interações com Francine.
Logo, em se tratando de um musical cujo núcleo principal é a relação entre os dois, cria-se uma antipatia natural por Doyle e causa um distanciamento muito grande que mostra-se difícil de evitar.
Tecnicamente bem executado e vistoso, o filme alterna bons e maus momentos. Ainda que bonito e artisticamente bem feito, as músicas não são memoráveis. E para um musical isso é um pecado imperdoável.
Liza Minnelli se destaca como a ingênua, mas corajosa, Francine. Sua personagem é a alma do filme. E o contraste com Doyle, ainda que desconfortável em alguns momentos, é interessante.
Surpreendentemente, o filme cresce bastante em seu último ato. Sua conclusão, é redentora e a melhor possível.
New York, New York não é mau filme. Mas, sua ambição e grandiosidade criam uma expectativa que só se aproxima da plenitude, em sua última hora de filme. Um trabalho apenas aceitável de Martin Scorsese.
Nota: 6,3
Taxi Driver
4.2 2,6K Assista AgoraQuando a personagem Betsy se refere a Travis usando uma música sobre contradições, ela está referenciando a própria natureza de Táxi Driver.
Quinto trabalho de Martin Scorsese, Táxi Driver transita sem pudor pela linha tênue da compreensão ao ideal reacionário de seu protagonista e a ridicularização do mesmo.
A narrativa nos é apresentada pela perspectiva de Travis, um narrador ingênuo, mas não confiável. Sua desconexão da realidade vai da ingenuidade social ao delirante senso de importância que o personagem confere a si mesmo. Sua visão deturpada e cheia de ódio se intensifica a partir da rejeição.
Robert De Niro entrega uma atuação irrepreensível, sendo um dos seus melhores trabalhos até hoje. O ator consegue demonstrar todas as frustrações, raiva e inferioridade do personagem com uma grande narração em off e por meio de expressões contidas em sequências simples, como quando Travis anda pelas ruas com seu Táxi.
Não há como falar de Táxi Driver sem citar a Nova York de Scorsese. Envolta em pecado (tema recorrente do diretor), luxúria e violência, a cidade é um personagem. Visualmente marcante e repleta de texturas.
Soma-se ao visual com muito vermelho e o uso de luzes noturnas, a memorável trilha sonora de Bernard Hermann contrastando o pecado das ruas com a obsessão quase militarista de Travis.
O roteiro de Paul Schroder encaixa com o estilo cru de Scorsese. É uma narrativa de crescente tensão e que em algum momento vai atingir o ápice de violência. O único deslize narrativo se dá pelo final esticado. Há um final perfeito. Mas o filme se permite uma última cena. Não precisava.
Táxi Driver foi a amostra definitiva da capacidade e genialidade de um dos maiores cineastas de todos os tempos. Uma quase obra-prima.
Nota: 9,9
Alice Não Mora Mais Aqui
3.8 167 Assista AgoraUm dos filmes mais singelos na grande filmografia de Martin Scorsese.
Tendo dirigido até então, basicamente, filmes eminentemente violentos e crus, Scorsese aqui dirige seu primeiro drama, que também, é um aceno musical do diretor.
A história acompanha Alice Hyatt e seu filho, numa jornada de sonhos, percalços e resiliência. Ellen Burstyn entrega uma atuação magnética e que é, em todos os sentidos, a alma do filme.
O roteiro é preciso em estabelecer seus valores logo de cara. Alice é uma mulher frustrada, numa relação infeliz e abusiva, que abdicou de seus sonhos quando engravidou. Seu filho é seu parceiro em sua jornada. Mas, por vezes, objeto de grande preocupação. É simples e muito palpável a abordagem da relação entre os dois. E extremamente envolvente, ante a química entre os dois.
Namorados abusivos, trabalhos mal remunerados e os desvios comportamentais de uma criança movimentam a narrativa que nunca se torna amarga demais nem tampouco romantiza tais situações.
Scorsese embora contido na direção, se permite impor a sua marca. Como, por exemplo,
[/spoiler] Na sequência musical faz sua homenagem ao Mágico de Oz ou, ainda, na sequência que o marido de Alice morre e ele nos mostra o caminhão ensanguentado
[spoiler]
Alice Não Mora Mais Aqui diferencia-se da maioria dos filmes de Scorsese por sua narrativa mais simples e com temas mais sensíveis. Mas, nem por isso deixa de ser um grande filme.
Nota: 8,0
Caminhos Perigosos
3.6 255 Assista AgoraScorsese revisita temática do seu primeiro filme, em clássico inconsistente.
Caminhos Perigosos marcou de forma definitiva o nome de Scorsese como o cineasta das ruas, da violência urbana, do cinema cru. E essas são características inerentes a filmografia do diretor. Contudo, se em "Quem Bate à Minha Porta?" havia a evidente justificativa de ser um filme experimental de um cineasta estreante, aqui não se permite tal argumento.
O filme é uma grande bagunça em termos narrativos. Temos novamente a figura do jovem italo-americano, imerso na culpa católica e com aspirações à máfia e a figura feminina vista de uma ótica idealizada e ao mesmo tempo objeto de pecado.
O grande problema é que o roteiro se perde a todo momento em situações pouco interessantes que quebram a narrativa e engasgam seu andamento.
O grande destaque é a primeira colaboração de Robert De Niro, como o perturbado Johnny Boy, sendo o personagem que movimenta a narrativa nos momentos de maior tensão e carga dramática.
Caminhos Perigosos é um clássico do cinema das ruas - cinema que notabilizou Scorsese como um dos maiores diretores da sua geração - e também é, um dos trabalhos mais inconstantes do diretor.
Nota: 5,0
Sexy e Marginal
3.1 52 Assista AgoraUm tipo de filme irreconhecível na filmografia de Martin Scorsese. Sexy e Marginal flerta com o cinema de assalto, com o erótico e com o blackxplotation, sem de fato abraçar a nada.
Com uma história ao melhor estilo Bonny & Clyde, o filme se concentra num grupo de quatro personagens que iniciam uma parceria criminosa durante a grande repressão. O Grande acerto do filme é na escolha de um elenco extremamente carismático. Bárbara Hershey, David Carradine, Barry Primus e Bernie Casey funcionam muito bem enquanto grupo, sendo fácil desenvolver empatia pelo grupo.
Enquanto narrativa, há um ritmo acessível. O filme jamais se torna desinteressante. Mas, não deixa de ser raso e sem grandes surpresas. Com exceção de alguns momentos e em especial, da última cena, pouco se parece com um trabalho de Martin Scorsese.
Nota: 5,5
Quem Bate à Minha Porta?
3.4 54 Assista AgoraUm Scorsese ainda amador em um dos seus trabalhos mais crus.
Abordando temas eminentes de sua filmografia como, por exemplo, a culpa católica, a irmandade masculina e o cinema como referência cultural, o diretor se perde entre a coesão narrativa e momentos de deleite pessoal. O caráter biográfico é muito claro. O problema é que para além do relacionamento entre J.R (Harvey Keitel) e a menina, não há uma história de fato acontecendo.
A relação entre o casal é de fato o que movimenta o filme. É na construção desse relacionamento que encontram-se os melhores diálogos. A culpa católica de J.R é objeto de alguns dos melhores momentos do filme, em especial quando
[/spoiler] é mostrada a hipocrisia masculina. J.R coloca a menina num pedestal imaculado e cria ao seu redor uma ideia de pureza que visa compensar a sua própria culpa.
[spoiler]
E dado o devido contexto de época, afinal, trata-se de um filme de 1967, o tratamento conferido para alguns temas mais pesados
[/spoiler] como a violência sexual e a visão absurda de que a culpa seria da vítima
[spoiler]
É bastante correto e até mesmo corajoso, ainda que sutil.
"Quem Bate à Minha Porta?" é uma estreia promissora, porém um pouco dispersa , do que viria a ser o maior cineasta de sua geração.
Nota: 7,0
Oppenheimer
4.0 1,1KA busca de Christopher Nolan por sua obra-prima definitiva e o seu amadurecimento enquanto cineasta.
Primeira cinebiografia de Nolan, Oppenheimer rompe com os trabalhos mais fantasiosos do diretor e ainda que seja um legitimo filme de Christopher Nolan, mostra um surpreendente amadurecimento após o fraco Tenet.
Estão lá as explicações, a eloquência, o senso de urgência, o pessimismo inerente ao caráter humano, as habituais parcerias de elenco, a não linearidade e até mesmo a manipulativa e grandiosa trilha sonora (novamente de Ludwig Goransson). Porém, temos aqui um trabalho sóbrio e que se concentra em percorrer a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy, em seu melhor trabalho), em especial, por sua colaboração no desenvolvimento da bomba atômica que desencadeou os terríveis eventos em Hiroshima e Nagasaki. E mais do que se preocupar em estabelecer quem foi Oppenheimer, visto que, o filme segue a batida de outras cinebiografias consagradas, mostrando um jovem físico ainda na faculdade e nos primeiros anos, o seu propósito é construir o seu aspecto psicológico. O filme não se furta de mostrar seu protagonista como alguém vaidoso, arrogante, mulherengo e instável emocionalmente.
Seguindo diferentes linhas do tempo, o filme se organiza de modo bastante claro nas suas 3h de duração. A primeira estabelece quem foi Oppenheimer. Sua vida pessoal, suas falhas, envolvimento com a política e suas motivações enquanto cientista. A segunda parte do filme se dedica inteiramente ao processo de criação da bomba. E é nesse trecho que residem os maiores problemas do filme. O roteiro tenta condensar a maior quantidade possível de informações em um curto espaço de tempo. A montagem opta por sequências curtas que vão de um lado para outro, sempre acompanhando seu protagonista. Porém, há um excesso muito grande de situações e de personagens, que acabam por tornar a experiência cansativa em dado momento. Ao fim da segunda parte, o filme tem o seu grande clímax.
A sequência é um grande espetáculo visual e que usa o silêncio como perplexidade do tamanho do poder destrutivo do ser humano. É uma cena emblemática para a história do cinema e a melhor cena em um filme de Christopher Nolan.
Com o início da terceira parte, o filme se reorganiza e explora as consequências da bomba atômica. É o seguimento mais dinâmico, reflexivo e interessante. Seu desfecho, ainda que óbvio, é impactante e grandioso.
O elenco gigantesco é repleto de grandes nomes. Merecem destaque Robert Downey Jr., em uma grande participação, sendo um personagem central em toda a narrativa e Emily Blunt, como a esposa de Oppenheimer, que entrega momentos poderosos de conflito e de sentimentos controversos.
Oppenheimer não é o melhor filme de Christopher Nolan. Embora explore com êxito o que há de melhor sobre seu protagonista, a narrativa abraça mais detalhes do que o necessário, tornando a experiência um pouco cansativa. Ainda que seu desfecho seja impactante e memorável, sua segunda hora é demasiadamente confusa.
Nota: 8,8
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraChristopher Nolan nunca escondeu o seu interesse na franquia James Bond e em dirigi-la algum dia. Aqui, o diretor parte de uma ideia inacabada e confusa para conceber o seu próprio filme de 007.
E se imaginar o diretor a frente da franquia parecia algo empolgante e promissor, com base na sua excelente filmografia, Tenet provou que não é bem assim. De todos os seus filmes, é de longe, o mais problemático.
Ambicioso como praticamente todos os seus filmes, Tenet até tenta esconder sua falta de acabamento, ao imprimir um ritmo acelerado logo na sequência de abertura. Mas, fica evidente que o roteiro gira em torno de uma ideia que não havia uma história para ser contada. Tenet, enquanto expressão, é um conceito vazio. Sua lógica pouco importa, o que o próprio filme escancara na sequência em que o protagonista visita uma cientista e ela lhe responde:
[/spoiler] Não tente entender. Apenas sinta.
[spoiler]
Em meio ao grande buraco de conteúdo e a narrativa científica confusa, Nolan parece se divertir com a sua versão de James Bond. O protagonista, não por acaso, é inominado (e se autointitula como "protagonista" em um diálogo pra lá de caricato). John David Washington, em sua primeira colaboração com o diretor, sofre com o roteiro limitado. Seu personagem é um agente sem história e sem qualquer traço de personalidade próprio. O ator, que já provou ser carismático, tenta encontrar no sarcasmo alguma personalidade, mas soa forçado e cansativo. Robert Pattinson, embora sofra com o mesmo problema da ausência de personalidade, se adapta melhor e consegue algum destaque. Já Kenneth Branagh (habitual parceiro do diretor) como o vilão (russo, não por acaso), é talvez a coisa mais constrangedora do filme. Seu personagem é caricato, desprovido de carisma e tem algumas cenas de extremo mau gosto, onde suas atitudes são apenas para evidenciar a sua vilania. Seu arco inteiro, inclusive suas motivações e seu relacionamento com a sua esposa, são referências nítidas aos (piores) vilões de 007.
E ainda que os aspectos técnicos do filme sejam competentes, não há nada memorável por aqui. Há duas sequências de ação envolvendo perseguições, que, se destacam um pouco mais por sua execução técnica. Nem a trilha sonora, sempre um personagem nos filmes de Christopher Nolan, tem a mesma efetividade. Sem a colaboração de Hans Zimmer pela primeira vez desde O Grande Truque, ficou a cargo de Ludwig Goransson.
Apático e sem grandes destaques técnicos, Tenet é uma ideia inacabada que serviu de pretexto para Nolan fazer a sua própria versão de 007. Seu pior trabalho.
Nota: 4,5
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraSe interestelar, filme anterior de Christopher Nolan, é seu trabalho mais emotivo e que sintetiza o seu estilo de fazer cinema, Dunkirk é definitivamente a antítese.
Protagonistas que não tem nome, rostos que aparecem e desaparecem, personagens sem uma história. Dunkirk é deliberadamente um filme frio. E sua narrativa é muito menos sobre aqueles indivíduos que sobreviveram aos horrores da segunda guerra e muito mais sobre aquele recorte específico e histórico da própria guerra. A batalha de Dunkirk.
Nolan emprega seus recursos de não linearidade e de crescente tensão, muito, diga-se, escorado na habitual parceria com Hans Zimmer. Aqui, o compositor é mais comedido na grandiosidade, concentrando-se mais em evocar uma crescente tensão e alerta.
O elenco conta com nomes como Cillian Murphy, Tom Hardy e Kenneth Branagh (habituais parceiros de Nolan). Porém, curiosamente, dedica boa parte dos seus rápidos 106 minutos (segundo filme mais curto de sua filmografia) em acompanhar os jovens soldados, rostos desconhecidos, reforçando novamente que o foco não são os seus personagens, mas os eventos.
A montagem que embaralha três linhas temporais é eficiente, porém é mais um recurso para manter a tensão, do que propriamente algo que agregue narrativamente.
Dunkirk é deliberadamente frio e desinteressado por seus personagens. Mas, eficaz em tudo que se propõe, em especial, no constante sentimento de desconforto e de urgência. Tecnicamente impecável.
Nota: 8,5
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraTalvez um dos trabalhos mais comentados de Christopher Nolan. Amado por uns, odiado por outros. A verdade é que Interestelar é a síntese do cinema feito por seu diretor.
Diferente do que ocorre em outros trabalhos, Nolan não perde tempo em levar o filme ao seu objetivo. De cara sabemos que é uma ficção científica grandiosa, especulativa e pretensiosa, mas também, um filme sobre a relação entre um pai e seus dois filhos. E eis que temos os primeiros problemas.
Na primeira meia hora de um filme, há uma grande quantidade de facilitadores narrativos pouco convincentes e que derrubam logo de cara algo muito importante para uma ficção científica: acreditar que aquela ideia, por mais absurda, seja possível.
A montagem do filme acelera demais os processos e logo, fica evidente o segundo problema do filme: o núcleo familiar é muito mais interessante do que a trama científica. E ainda que o roteiro tente estabelecer motivações, a relação entre Coop e Murphy é a alma do filme, cabendo ao irmão ser um coadjuvante.
Com menos de meia hora, as intermináveis explicações de Nolan surgem e o filme tenta a todo segundo explicar conceitos científicos pela metade. Visual e tecnicamente, impecável, sendo o melhor trabalho técnico de sua filmografia, o filme sofre com as longas exposições. O roteiro na tentativa de facilitar seu andamento adota um andamento episódico de pequenas missões que nos levam a novas descobertas.
E aqui, surgem os elementos que sintetizam muito bem o trabalho de Christopher Nolan. Entre uma explicação e outra, uma missão que explora a magnitude e a grandiosidade visual, embalada pela grandiosa trilha de Hans Zimmer (em sua melhor colaboração com Nolan). A trilha é tudo que o diretor aprecia. Barulhenta, imponente e memorável. E Nolan a utiliza, por vezes, até de forma manipulativa, preenchendo cenas naturalmente desinteressantes com a sensação de urgência e comoção.
Na trilha de descobertas, há uma tentativa de plot twist, mas de algo tão desinteressante e óbvio, que torna-se irrelevante.
O elenco com habituais parceiros de Nolan tem como destaque Matthew McConaughey e Jessica Chastain, que carregam nas emoções e sentimentos, talvez a maior virtude não-técnica do filme.
O desfecho é extremamente brega, mas agradável dentro da proposta estabelecida na primeira meia hora de filme. Há apenas apenas uma decisão absolutamente incoerente
[/spoiler] Cooper ir atrás da Dra. Brend e ignorar completamente os demais membros da família. É um gesto totalmente robótico.
[spoiler]
Longe de ser perfeito, Interestelar é um espetáculo visual emotivo e agradável, que, por vezes se perde em meio às ambições científicas de seu diretor, mas que manipula o tempo com maestria.
Nota: 7,8
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
4.2 6,4K Assista AgoraDivisivo, incompreendido e por vezes, desleixado. Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um encerramento digno, mas imperfeito para uma das melhores trilogias do cinema moderno.
Ao assistir a última parte da trilogia de Christopher Nolan, é nítida a sensação de desvio em relação ao que deveria ser o verdadeiro filme, caso não houvesse a morte de Heath Ledger. Ainda que seja imperdoável que 4 anos separem o longa de seu antecessor e o resultado seja tão abaixo do filme anterior, há de se dizer: ainda que com todos os seus defeitos (e aqui são muitos), trata-se de um filme muito bom e que encerra dignamente a trilogia iniciada em Batman Begins.
Os seus problemas, consistem, essencialmente na falta de uma trama consistente e no carisma dos personagens. Bane é um vilão marcante e intimidador, porém que vinha de uma ridicularização recente no famigerado Batman e Robin (de Joel Schumacher). E ainda que Tom Hardy esteja bem e de fato, sua presença transmita um perigo real, a revelação de suas reais motivações esvazia e diminui o personagem (mais uma vez). A trama, como um todo, mira em contornos épicos e grandiosos, mas não encontra meios honestos de levar a narrativa até onde deseja sem que hajam facilitadores ou buracos.
Por exemplo,
[/spoiler] Quando Batman Ressurge do poço, ele consegue retornar para a cidade com a maior facilidade do mundo e se encontrar com todos que precisa.
[spoiler]
A inserção de tantos personagens também não é isenta de problemas. A maioria dos personagens são odiosos e sem carisma, salvo a exceção de Blake (Joseph Gordon Levitt) e lampejos de uma Selena Kyle (Anne Hathway), carismática, porém longe do brilho fatal de Michelle Pffeifer em Batman: O Retorno.
O ritmo do filme e o andamento do filme não são orgânicos, havendo a sensação de pressa em seu andamento.
E o plot twist é bastante frágil.
Contudo, Christian Bale continua imponente como Batman. As cenas de ação são bem conduzidas e algumas sequências são empolgantes (como a primeira aparição do Batman). A ameaça de Bane é bastante crível e impactante. Os aspectos técnicos e a trilha sonora de Hans Zimmer (aqui, sozinho) permanecem impecáveis. E por fim, a sua conclusão é bastante satisfatória dentro do estabelecido nessa versão de universo cinematográfico.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge não chega nem perto da execução de seu antecessor e está um degrau abaixo de Batman Begins. Mas, tem boas cenas de ação, um fechamento digno e funciona bem como entretenimento.
Nota: 8,2
A Origem
4.4 5,9K Assista AgoraDesde "O Grande Truque", de 2006, que Nolan, até então um diretor que transitou por tramas criminais com maestria, vinha flertando com a ficção científica. Eis que temos aqui, a sua primeira incursão oficial pelo gênero.
Sem abrir mão daquilo que lhe sempre foi confortável, o diretor e roteirista nos apresenta a um grupo de ladrões (de sonhos) encabeçados por um Leonardo DiCaprio bastante comprometido com seu personagem. Elenco recheado de bons nomes e dos habituais parceiros Michael Caine e Cillian Murphy. Tom Hardy, Marion Cottilard e Joseph Gordon Levitt, em suas primeiras colaborações com o diretor. Muitos nomes de peso, pouco desenvolvimento para todos. Com exceção de Cobb (Leonardo DiCaprio), todos os personagens são instrumentos narrativos com funções bem definidas. Um exemplo claro é a personagem de Ellen/Eliot Page.
E considero que é aqui, em "A Origem" que o diretor ganhou a fama que o persegue até os dias de hoje. São dois fatores bem característicos que ocorrem no filme e viriam a se repetir em obras seguintes: a frieza e distanciamento emocional com alguns personagens, usados como facilitadores narrativos e; o excesso expositivo de explicações teóricas.
Em vários momentos, a narrativa quebra seu ritmo para explicar algum conceito. É um risco que Nolan corre ao estabelecer ideias ambiciosas e com conceitos pouco explorados.
E ainda que o filme de fato trate com pouco interesse seus coadjuvantes e de fato perca muito tempo com explicações, o filme tem um bom andamento e consegue compensar suas falhas, com uma trama inventiva e envolvente. Nolan mostra domínio e segurança nas cenas de ação, que são um ponto alto do filme.
Hans Zimmer dá mais um espetáculo com sua trilha sonora (um tanto quanto exagerada, mas muito marcante).
A cinematografia pálida combina com as emoções de seu protagonista, um homem corroído pela culpa e pela apatia.
A Origem não é o melhor filme de Christopher Nolan. Mas, tem uma ideia interessante, bem executada e que proporciona ótimos momentos de entretenimento com conteúdo.
Nota: 8,6
Batman: O Cavaleiro das Trevas
4.5 3,8K Assista AgoraO grande trabalho da filmografia de Christopher Nolan. E só não estamos diante de uma obra-prima, o que seria um feito extraordinário para um filme do subgênero, pelos detalhes.
Batman: O Cavaleiro das Trevas coloca-se na história do cinema como um caso raro. Trata-se de um blockbuster grandioso, tomado do início ao fim, da urgência recorrente aos filmes de ação mais barulhentos já feitos. Contudo, de forma estupenda, há uma grande história policial sobre crime sendo contada, o tempo todo. Toda ação gerada é fruto de uma narrativa sólida, bem pensada e que mesmo que tenha suas imperfeições, consegue ser absolutamente envolvente.
Todas as virtudes de Batman Begins são potencializadas em grande escala. Christian Bale está mais seguro ainda como Bruce Wayne e mesmo que mantenha seus vícios como Batman, há muita imponência em seu Batman. E Heath Ledger é a alma do filme. Caótico em suas ações, imprevisível em seus planos e extremamente carismático em sua psicopatia, é uma versão inigualável do palhaço do crime e que captura a essência do Coringa. Não há graça em suas ações. Há o horror.
Já o personagem Duas-Caras recebe um tratamento humanizado e que lhe confere camadas. Porém, novamente Nolan trabalha o aspecto da corrupção e mostra que nem o "melhor entre nós" é incorruptível.
A trilha sonora de Hans Zimmer e James Newton Howard (com muito mais participação do estilo do primeiro), segue sendo magistral, imponente e aqui, até mesmo enervante. A sequência de mortes mostrada em sequência é uma aula do uso de uma trilha sonora urgente e que mexe com a tensão.
Batman: O Cavaleiro das Trevas é um dos maiores filmes do subgênero baseado em hqs de todos os tempos. Mas, também é um filme policial brilhante, bem pensado e bem dirigido. O melhor trabalho de Christopher Nolan até agora.
Nota: 9,7
O Grande Truque
4.2 2,0K Assista AgoraChristopher Nolan retorna aos filmes de plot twist.
Alguns filmes contam com reviravoltas e momentos surpreendentes. O próprio cineasta já havia feito isso em duas oportunidades. Contudo, alguns filmes encontram no plot twist a sua grande razão de existir (por exemplo, O Sexto Sentido). E embora, O Grande Truque seja um filme que funcione bem - mesmo com uma montagem mal conduzida que torna tudo mais confuso do que de fato é - e conte com um grande elenco, seu plot twist é sua grande razão de existir.
Assim, considerando seu esmero técnico e visual e a sua temática divertida, é um filme acima da média, mesmo com sua dependência narrativa de seu plot e sua montagem confusa.
Nota: 8,0
Batman Begins
4.0 1,4K Assista AgoraCom Batman Begins, Christopher Nolan amplifica sua visão de mundo corrupta e cinzenta.
Mas, se em Amnésia e Insônia tínhamos narrativas menores voltadas para poucos personagens, que eram parte de situações envoltas em corrupção, aqui, o diretor aproveita o orçamento grandioso e cria um personagem unipresente em seu universo do homem morcego. Gotham é a personificação da corrupção. Suja, cinzenta e traiçoeira, a cidade é instrumentalizada na narrativa. Potencializada pelo grande trabalho de produção, a cidade em nada lembra a Gotham gótica de Tim Burton, não sendo isso um demérito.
E se não bastasse isso, Nolan encontra na trilha sonora grandiosa e imponente de Hans Zimmer, na primeira parceria entre os dois, um componente perfeito para o seu estilo.
O elenco, encabeçado por Christian Bale, merece destaque. O ator, que vinha de Psicopata Americano, encontra o equilíbrio perfeito entre os dilemas de um homem atormentado por um trauma e ser um playboy arrogante que precisa esconder seus segredos. Sua presença física como Batman é convincente, ainda que o ator exagere na voz. É uma das melhores versões do Batman, sem dúvida. O restante do elenco é marcante, principalmente a dupla Michael Caine e Gary Oldman. E Liam Neeson entrega um vilão discreto, mas ameaçador.
Batman Begins é um recomeço mais que necessário para um dos personagens mais populares do cinema. E Nolan soube aliar muito bem as suas virtudes como diretor às necessidades do personagem. Mas, o melhor estava por vir.
Nota: 8,4
Insônia
3.4 412 Assista AgoraTerceiro filme na filmografia de Christopher Nolan, Insônia (2002) é de longe, o filme mais convencional do diretor.
Usando pela primeira vez uma narrativa linear, o diretor parece mais disposto e interessado no lado humano de seus personagens do que propriamente nos aspectos policiais e investigativos. Entre dilemas morais envolvendo corrupção e a investigação criminal, o filme investe mais nos efeitos psicológicos que o protagonista Al Pacino é submetido, deixando o crime em segundo plano. Ao optar por essa abordagem, o peso narrativo se concentra em torno do personagem principal. Porém, embora Al Pacino esteja bem, o roteiro não oportuniza um grande desenvolvimento das questões que ele mesmo propõe.
E ao termos a identidade do assassino revelada precocemente, é reforçada a ideia de que nunca foi sobre a investigação, mas sim sobre
[/spoiler] como um policial tomado pela culpa, de caráter dúbio, investigado por corrupção e que matou o próprio parceiro, teria condições de condenar um assassino. Ambos, são, em essência, seres corrompidos pelos seus próprios crimes.
[spoiler]
Não tendo nenhum traço comum a filmografia de Nolan, Insônia é um bom filme. Mas, falta a ambição de Following e a genialidade de Amnésia.
Nota: 7,0
Amnésia
4.2 2,2K Assista AgoraDepois de dirigir o promissor Following, a consagração. Amnésia é um dos melhores filmes de Christopher Nolan, mesmo 20 anos depois do seu lançamento.
A narrativa não-linear, marca registrada do diretor, tem aqui seu uso mais inteligente e engenhoso. Trata-se de elemento central na sensação de desorientação inerente ao próprio protagonista. Junto a montagem competente que explora os momentos exatos, entre idas e vindas, em uma linha temporal paralela, o filme entrega pequenos elementos que serão fundamentais na reconstrução do que de fato aconteceu com aquele homem solitário, confuso e com um único objetivo.
E mesmo quando imagina-se a narrativa ordenada linearmente, estamos diante de um excelente thriller sobre culpa, corrupção e obsessões.
Nota: 9,1
Following
4.0 302 Assista AgoraFollowing é a semente do imaginário de Nolan sobre as mudanças de perspectiva, conforme a progressão narrativa.
Rodado como um noir, o filme antecipa vários dos temas que viriam a ser objeto da filmografia do diretor. Mas, nenhum tem tanta importância como a mudança da perspectiva com o avanço narrativo. Ao apresentar o protagonista, estabelece-se uma ideia. Quando seu caminho cruza com os demais, descobrimos novos elementos. Quando temos todas as peças, há uma linha muito tênue entre o acaso e o ceticismo moral com que Nolan encara seus personagens. E embora seja um dos seus trabalhos menos mirabolantes, Following não deixa de ser ambicioso.
Uma boa estreia para um dos diretores mais bem sucedidos comercialmente nos dias de hoje.
Nota: 7,5