Que imersão primorosa. Eu realmente tenho uma queda por obras que encenam a tragédia de se estar vivo. Um competente estudo das relações humanas diante das falhas daquilo que esperamos que nunca nos decepcione: a natureza. Como superar o que não pode ser explicado? Já que somos sob o constante signo da razão. O elenco acabou com meu fôlego. O grau de realismo do plano sequência inicial (de mais de 20 minutos) carrega uma potência perturbadora impressionante e o nível de dificuldade de execução (por parte da equipe) e de absorção (por parte do espectador) merece por si uma indicação a todos os prêmios. Mais a elegância e precisão dos movimentos de câmera alinhados com uma trilha sonora igualmente elegante e sutil criaram uma atmosfera muito tangível de dor e sofrimento. O filme é muito interessante, do tipo que não se esgota quando a reprodução termina. Sensibilíssimo, duro, sufocante.
Fotografia lindíssima. Provavelmente por ter uma personalidade contida me irritei muito com o personagem Wally. Expansivo demais, deslumbrado demais, eufórico demais. Me incomodou bastante ele não respeitar a incapacidade do parceiro de lidar com a exposição do marido ao mesmo tempo em que tem que lidar com o velório do pai. Felizmente se redimiu no final. Aliás achei otimista demais esse desfecho. 1973, uma família extremamente provinciana, religiosa, no centro do luto, lidar tão bem com a bomba... me soou abrupto e novelesco. Queria ter visto mais do desbravamente de Beth em New York, sua inserção nesse novo universo cosmopolita e a relação agora mais íntima com o Tio Frank. Ademais, sempre bom lembrar que a história de LGBTs pode ser muito, muito triste. A gente quer tanto sublimar a dor que às vezes esquecemos que somos, em grande parte, moldados por ela e, esquecer é permitir que ela influencie negativamente nossa relação com os outros e com o mundo.
Acho incrível como Dolan consegue criar uma relação profunda de intimidade (que leva anos pra se desenvolver) com o espectador e os personagens assistidos, estes vivendo suas vidas, quase como se não fosse cinema. A câmera é suprimida ao máximo. E, de repente, ele subverte a própria forma narrativa e passa do contidiano, triste e inconsciente, ao espetáculo visual, e sonoro, num contraste performático extremamente sensível. Esses momentos, quase clipes musicais, como quando o garoto expande a tela, ou ainda, e principalmente, quando representa os sonhos e expectativas da mãe, logo antes de desistir, são poesia do mais alto nível. Uma potência cinematográfica.
Uma experiência deliciosa, verei o original. É enriquecedor compreender melhor a dimensão da ''vida gay'' em tempos mais hostis, colocar nossas vivências em perspectiva. O elenco é afiadíssimo. Jim Parsons por que tão talentoso? Não canso de me deslumbrar. Gosto principalmente da sensibilidade com que a narrativa expõe as chagas de cada personagem. São pessoas sofridas, amarguradas e esmagadas pela realidade imutável. E que, ainda assim, vivem com alguma graça e leveza. Acho natural que suas personalidades sejam de difícil convívio. Vocês não se emocionam com quem consegue criar alguma beleza do próprio caos? Apesar de toda a podridão a que foram submetidos pela sociedade da época eles conseguiam encontrar o gozo, eventualmente. É triste, porque a saúde física e mental era condenada de antemão. Mas é bonito demais que entre um soco e outro eles tenham alcançado um estado de graça, como uma flor no asfalto.
Há uma cena em que a família persegue o som de um piano vindo da igreja, numa tentativa de comungar de uma epifania ao menos uma vez em sua existência. Ao chegar lá, são de pronto rejeitados; expulsos, a música os acompanha na volta para casa, e, nesse momento, desabo. Que sensibilidade de Alice Rohrwacher. Bravíssimo!
Para os que, como eu, nasceram e/ou vivem em pequenas cidades do interior e, além disso, nutrem profundo interesse pela arte em geral, ''O Cidadão Ilustre'', Gastón Duprat e Mariano Cohn (2016) é um bálsamo. A crítica é estupenda, elaborada de maneira precisa. O filme explora a noção parca e vulgarizada sobre o fazer artístico em vigência fora dos grandes centros metropolitantos, que têm sido seu reduto. O contraste entre o erudito e o popular nunca foi tão expressivo. A (necessária) conciliação parece impossível, - e temo a desconfiança de que o seja.
Questionando-se sobre as noções de patriotismo, ou conexão com o lugar de que se veio, o escritor Prêmio Nobel de Literatura Daniel Mantovani resolve dar uma chance a sua pacata comunidade numa tentativa de reestabelecimento ou, ao menos, esclarecimento do vínculo. Ao chegar lá, logo percebe que isto implicaria abrir mão da postura crítica que o fez quem é e da qual a arte é o mais saboroso fruto.
Isto porque a vaidade incitada na comunidade por saber que Um dos Seus ''chegou lá'' atropela como uma manada a necessidade de se conceber: o que é ''lá''? Do que estamos falando? O que de fato estamos comemorando? As honrarias vêm antes da consciência. A conveniência política. A tietagem. Tudo predomina à arte e seus significados. E o sujeito em questão é colocado como um refém da histeria coletiva.
Por mais bem intencionado que tenha sido, no último ato o Prêmio Nobel acaba optando por seus ideais artísticos em detrimento dos vínculos geográficos, numa cena de proporção catártica em que externaliza suas impressões e críticas, como uma última tentativa, desesperada, de elucidar aos seus conterrâneos as nascentes da arte, suas implicações e o quanto a ideia de celebridade é nociva a esse conceito. Poderá soar arrogante para alguns. Para mim, a arrogância está naqueles que agem assumindo que têm propriedade sobre algo que não entendem. Em não reconhecer seu desconhecimento sobre determinado assunto - que é imperativo para o aprender.
O Cidadão Ilustre é uma potência cinematográfica, um manifesto que propõe ricas reflexões e inspira a todos os amantes da qualidade.
O filme exagera na dose de maniqueísmos, tentando manipular a percepção do expectador o tempo todo. O que faz com que o roteiro perca credibilidade. Tem um ritmo agradável mas que a certa altura começa a ficar repetitivo. Não chega a ser um defeito mas faltou uma quebra desse ritmo. Algo que injetasse novo fôlego ao longa e reengajasse o espectador que já entendeu que o filme vai atirar para todos os lados até finalmente entregar o ouro e então você acaba torcendo para que ele entregue logo. Apesar disto, ele entrete com certa elegância. Acaba por cumprir o que promete. Diria que é um filme honesto. Que vale o tempo investido.
A narrativa naturalista é um desafio à sensibilidade alheia. Quase como se o diretor quisesse selecionar à experiência apenas os mais áptos. A maturação do personagem Élio e as expectivas sobre o desvirginar-se em relações sexoafetivas são belíssimamente delineadas. Há uma sofisticação incrustrada na obra de maneira absolutamente orgânica. Nada pretensioso. Extremamente ambicioso. Uma obra completa que sem dúvida se torna um clássico contemporâneo. Mal posso esperar para ler o livro!
A premissa é rica demais e o desenvolvimento não dá conta. Trata-se de um argumento muito original. Realmente uma pena pecar nas conclusões. Vale a pena pela crítica sarcástica e pela reflexão que propõem.
Ataque dos Cães
3.7 934Apenas aplaudir o talento extraordinário de todos os envolvidos.
Um Lugar Chamado Notting Hill
3.6 1,3K Assista AgoraSanta paciência eu precisei invocar pra terminar esse filme. Mas a Julia Roberts é um poço de carisma, atenua um pouco o roteiro sofrível.
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraEmma Stone é uma coisa irresistível.
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista AgoraFilme é delicioso. Carey Mulligan eu te venero.
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraUAU!
Que imersão primorosa. Eu realmente tenho uma queda por obras que encenam a tragédia de se estar vivo.
Um competente estudo das relações humanas diante das falhas daquilo que esperamos que nunca nos decepcione: a natureza. Como superar o que não pode ser explicado? Já que somos sob o constante signo da razão.
O elenco acabou com meu fôlego. O grau de realismo do plano sequência inicial (de mais de 20 minutos) carrega uma potência perturbadora impressionante e o nível de dificuldade de execução (por parte da equipe) e de absorção (por parte do espectador) merece por si uma indicação a todos os prêmios.
Mais a elegância e precisão dos movimentos de câmera alinhados com uma trilha sonora igualmente elegante e sutil criaram uma atmosfera muito tangível de dor e sofrimento.
O filme é muito interessante, do tipo que não se esgota quando a reprodução termina. Sensibilíssimo, duro, sufocante.
Que bom que Martha emerge do caos ao final
Soul
4.3 1,4KAs composições musicais são brilhantes, só por isso já merece o mundo. Infelizmente um pouco apressado, mas é linda a criatividade humana.
Tio Frank
3.9 240 Assista AgoraFotografia lindíssima. Provavelmente por ter uma personalidade contida me irritei muito com o personagem Wally. Expansivo demais, deslumbrado demais, eufórico demais. Me incomodou bastante ele não respeitar a incapacidade do parceiro de lidar com a exposição do marido ao mesmo tempo em que tem que lidar com o velório do pai. Felizmente se redimiu no final. Aliás achei otimista demais esse desfecho. 1973, uma família extremamente provinciana, religiosa, no centro do luto, lidar tão bem com a bomba... me soou abrupto e novelesco. Queria ter visto mais do desbravamente de Beth em New York, sua inserção nesse novo universo cosmopolita e a relação agora mais íntima com o Tio Frank. Ademais, sempre bom lembrar que a história de LGBTs pode ser muito, muito triste. A gente quer tanto sublimar a dor que às vezes esquecemos que somos, em grande parte, moldados por ela e, esquecer é permitir que ela influencie negativamente nossa relação com os outros e com o mundo.
Watchmen: O Filme
4.0 2,8K Assista AgoraQue filme insuportável. Diálogos carregados, parece novela. Chatíssimo. Não conheço os quadrinhos mas a série da HBO é infinitamente superior.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraAcho incrível como Dolan consegue criar uma relação profunda de intimidade (que leva anos pra se desenvolver) com o espectador e os personagens assistidos, estes vivendo suas vidas, quase como se não fosse cinema. A câmera é suprimida ao máximo. E, de repente, ele subverte a própria forma narrativa e passa do contidiano, triste e inconsciente, ao espetáculo visual, e sonoro, num contraste performático extremamente sensível. Esses momentos, quase clipes musicais, como quando o garoto expande a tela, ou ainda, e principalmente, quando representa os sonhos e expectativas da mãe, logo antes de desistir, são poesia do mais alto nível. Uma potência cinematográfica.
The Boys in the Band
3.5 210Uma experiência deliciosa, verei o original. É enriquecedor compreender melhor a dimensão da ''vida gay'' em tempos mais hostis, colocar nossas vivências em perspectiva. O elenco é afiadíssimo. Jim Parsons por que tão talentoso? Não canso de me deslumbrar. Gosto principalmente da sensibilidade com que a narrativa expõe as chagas de cada personagem. São pessoas sofridas, amarguradas e esmagadas pela realidade imutável. E que, ainda assim, vivem com alguma graça e leveza. Acho natural que suas personalidades sejam de difícil convívio. Vocês não se emocionam com quem consegue criar alguma beleza do próprio caos? Apesar de toda a podridão a que foram submetidos pela sociedade da época eles conseguiam encontrar o gozo, eventualmente. É triste, porque a saúde física e mental era condenada de antemão. Mas é bonito demais que entre um soco e outro eles tenham alcançado um estado de graça, como uma flor no asfalto.
Lazzaro Felice
4.1 217 Assista AgoraHá uma cena em que a família persegue o som de um piano vindo da igreja, numa tentativa de comungar de uma epifania ao menos uma vez em sua existência. Ao chegar lá, são de pronto rejeitados; expulsos, a música os acompanha na volta para casa, e, nesse momento, desabo. Que sensibilidade de Alice Rohrwacher. Bravíssimo!
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraPara os que, como eu, nasceram e/ou vivem em pequenas cidades do interior e, além disso, nutrem profundo interesse pela arte em geral, ''O Cidadão Ilustre'', Gastón Duprat e Mariano Cohn (2016) é um bálsamo. A crítica é estupenda, elaborada de maneira precisa. O filme explora a noção parca e vulgarizada sobre o fazer artístico em vigência fora dos grandes centros metropolitantos, que têm sido seu reduto. O contraste entre o erudito e o popular nunca foi tão expressivo. A (necessária) conciliação parece impossível, - e temo a desconfiança de que o seja.
Questionando-se sobre as noções de patriotismo, ou conexão com o lugar de que se veio, o escritor Prêmio Nobel de Literatura Daniel Mantovani resolve dar uma chance a sua pacata comunidade numa tentativa de reestabelecimento ou, ao menos, esclarecimento do vínculo. Ao chegar lá, logo percebe que isto implicaria abrir mão da postura crítica que o fez quem é e da qual a arte é o mais saboroso fruto.
Isto porque a vaidade incitada na comunidade por saber que Um dos Seus ''chegou lá'' atropela como uma manada a necessidade de se conceber: o que é ''lá''? Do que estamos falando? O que de fato estamos comemorando? As honrarias vêm antes da consciência. A conveniência política. A tietagem. Tudo predomina à arte e seus significados. E o sujeito em questão é colocado como um refém da histeria coletiva.
Por mais bem intencionado que tenha sido, no último ato o Prêmio Nobel acaba optando por seus ideais artísticos em detrimento dos vínculos geográficos, numa cena de proporção catártica em que externaliza suas impressões e críticas, como uma última tentativa, desesperada, de elucidar aos seus conterrâneos as nascentes da arte, suas implicações e o quanto a ideia de celebridade é nociva a esse conceito. Poderá soar arrogante para alguns. Para mim, a arrogância está naqueles que agem assumindo que têm propriedade sobre algo que não entendem. Em não reconhecer seu desconhecimento sobre determinado assunto - que é imperativo para o aprender.
O Cidadão Ilustre é uma potência cinematográfica, um manifesto que propõe ricas reflexões e inspira a todos os amantes da qualidade.
Um Contratempo
4.2 2,0KO filme exagera na dose de maniqueísmos, tentando manipular a percepção do expectador o tempo todo. O que faz com que o roteiro perca credibilidade. Tem um ritmo agradável mas que a certa altura começa a ficar repetitivo. Não chega a ser um defeito mas faltou uma quebra desse ritmo. Algo que injetasse novo fôlego ao longa e reengajasse o espectador que já entendeu que o filme vai atirar para todos os lados até finalmente entregar o ouro e então você acaba torcendo para que ele entregue logo.
Apesar disto, ele entrete com certa elegância. Acaba por cumprir o que promete. Diria que é um filme honesto. Que vale o tempo investido.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraA narrativa naturalista é um desafio à sensibilidade alheia. Quase como se o diretor quisesse selecionar à experiência apenas os mais áptos. A maturação do personagem Élio e as expectivas sobre o desvirginar-se em relações sexoafetivas são belíssimamente delineadas. Há uma sofisticação incrustrada na obra de maneira absolutamente orgânica. Nada pretensioso. Extremamente ambicioso. Uma obra completa que sem dúvida se torna um clássico contemporâneo. Mal posso esperar para ler o livro!
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraA premissa é rica demais e o desenvolvimento não dá conta. Trata-se de um argumento muito original. Realmente uma pena pecar nas conclusões. Vale a pena pela crítica sarcástica e pela reflexão que propõem.
Uma Nova Amiga
3.7 120 Assista AgoraNão entendi essa nota alta. O filme é terrível! O roteiro é grotesco, as atuações caricatas...