O cinema é um grande truque de ilusão. Pede ao seu público que entre nesse jogo perceptivo em que o movimento se obtém através de imagens fixas, e sua profundidade é construída no espaço plano e chapado que é projetado, permitindo a visão de um outro espaço profundo e ilimitado. O 3D afinal de contas apenas manifesta ostensiva e exageradamente esse ultimo processo, aumentando ainda mais a imersão/impressão da realidade dos filmes. “A Invenção de Hugo Cabret” elogia esse cinema ilusório, enaltecendo uma arte cheia de trucagens. E pertinente aborda esse potencial espetacular para fazer um interessante contraponto com os primeiros filmes e o próprio longa que o é, detentor das maiores tecnologias que o cinema dispõe como o próprio 3D.
A Invenção de Hugo Cabret também trata de reencontros. É dessa memória de um passado magnifico e a recuperação do imagético fantástico outrora filmado. O presente não mais esquecendo o passado, mas voltando-se a ele, o assistindo. Assistindo Georges Méliès, mestre da prestidigitação,que soube como poucos sacar de forma completa toda a extensão do espetáculo e aliar tão bem esse conceito ao cinema, o levando até a lua. Inventor sobretudo de uma arte-espetacular com infinitas possibilidades e efeitos especiais. Sua mise en scène se alia a essa capacidade de contar histórias, conduzir os olhos do espectador ao fantástico e aos sonhos.
O tempo é tudo, como dizem certa parte do filme. E não é atoa que há tantos relógios em volta de Hugo, tantos ponteiros correndo e deslizando sobre a superfície polida, o cinema como relógio funciona com engrenagens e tem o tempo como uma de suas matérias-primas. Tempo não só como medida, mas como experiência. Nessa apropriação que o cinema faz, concebendo um tempo fílmico particular.
A Invenção de Hugo Cabret é retrato de um apaixonado por essa arte magnifica que é o cinema. Martin Scorsese se vale de bom roteiro, um visual lindo e uma relação de transparência e opacidade que seus personagens possuem para afinal, filmar esse amor violento encoberto pela singela sensação de sucessivos primeiros-olhares, da fascinação da tela na sala escura que ilusória transforma luz em arte.
Sensação pura num universo tedioso e vazio. É necessário a divisão, uma separação que se faz grande e marcada para mostrar o isolamento não só com o mundo, mas com seu próprio eu. E depois a união, o voltar a sua natureza primária, ecoando Weerasethakul de forma positiva.
Ótimo curta. Gosto demais do jeito como o ambiente é explorado. Aparenta uma câmera que acabou de nascer e quer ver o mundo, explora-lo com todos os sentimentos físicos e além físicos. Tudo que é possível extrair dele. Isso fica explícito na parte 1. Na parte 2 a coisa é outra. Existe quase que o assombro desse mundo, registrando as esculturas de santos e anjos mostrando quase que uma epifania, auxiliado pela trilha sonora. talvez um dos únicos problemas, pelo menos a meu ver, a trilha tentando se sobressair a imagem, o que deveria ser justamente ao contrário. Mas a terceira parte vem, e mostra mais uma vez a carne do mundo, a matéria canina, selvagem e quase predatória, culminando num final bem intrigante.
incrível como a Duras faz um filme quase não dando a mínima para a imagem, porque aqui mais do que em qualquer outro de seus filmes é o texto que se revela poderoso. são as palavras que definem a imagem, não o contrário. As vozes não tem rosto, ela faz questão de dissociar o locutor da frase dita, que pairam naquele ambiente com um ausência violenta, estática. Os atores operam nesse vazio em que a palavra define, nega e afirma.Filmaço extremamente poderoso.
Uma das coisas mais fodas já filmadas. Absurdo o que Argento faz com a câmera, concebendo planos que pulsam com tamanha intensidade que subvertem toda a lógica do mundo a seu bel prazer, tudo fica fixo e fluído se movimentando nesse jogo paradoxal que ele escreve ao mesmo tempo que seu protagonista também o faz. Mais do que síntese plástica e cinematográfica, tratado de um cinema sensorial e sombriamente violento.
não acho um dos melhores do cara, mas o Argento estava inspirado mesmo. só ele pra ser pirado o suficiente pra misturar num filme uma macaca vingadora e um garoto deformado completamente afetado.o homeme é genial demais.
acho que é um dos melhores filmes da história. no final temos a certeza que Argento é um dos maiores filho-da-puta do cinema, de tão intenso que é aquilo tudo.
Um melancólico e ainda assim alegre sopro no cinema nacional. O filme que ecoa Chaplin em seu “Luzes da Ribalta” é dirigido belamente por um Selton Mello que sabe o que está fazendo. O longa se desenvolve com seu ritmo próprio mostrando o universo particular que é aquilo tudo, povoado de personagens singulares e ricos em suas curiosidades e histórias próprias. Destaque para a fotografia que é belíssima.
A cena final de “O Artista” é algo muito próximo de sua síntese. Quando George Valentin e Peppy Miller sapateiam energicamente naquele estúdio, a vivacidade da dança e a expressão de seus corpos são o verdadeiro tributo ao cinema mudo que o filme quer homenagear, suas mãos articulam o imprescindível, seus rostos proferem o que necessitam, eles dançavam essa arte fílmica, “ o cinema, música da luz” como já dizia Abel Gance .Mas há também o som, que se faz presente e marca como registro cada passo, para enfim, auxiliar o longa a se entregar ao que todo tempo queria – por mais que seu protagonista se mostrasse contrário no principio: Falar.
E se o filme mostra a decadência, infelizmente ele próprio cai nela. Partindo de um ótimo começo, o meio se desenvolve frouxo. Alargando uma conversa que se mostra cansativa, recuperando somente no final sua dinamicidade. Sorte dele que possui atores talentosíssimos que garantem pelo menos uma certa regularidade no longa. Dujardin é ótimo, e se entrega ao personagem de forma fantástica, seus gestos apresentam seus sentimentos, compondo e emprestando o tom necessário à George Valentin. Berenice Bejo é outra que tem uma imensa presença, encantadora e charmosa faz de sua atriz uma verdadeira estrela.
Há que se destacar também certa incapacidade do longa em se entregar de forma completa ao cinema mudo que tenta emular, falta alguma energia que o diretor Hazanavicius não consegue captar plenamente mesmo com um roteiro simplicíssimo,falta um espírito presente em outros filmes que homenageiam essas primeiras décadas do cinema, como os experimentais do Guy Maddin ou até mesmo uma inocência que “Juha” do Aki Kaurismäki possui. Talvez seja essa vontade latente de falar, esse desejo de abandonar a mudez do filme e proclamar aos quatro cantos sua voz, que pode até ser compreensível como destaco no início, mas que de uma forma ou de outra perde no resultado da proposta ao ressoar uma incompreensão dos filmes da época que retrata, comprometendo até mesmo a propensa homenagem transformando-a em mero pastiche panfletário que sugere nas mais maliciosas interpretações – mas não descabidas – a ausência de som como mero defeito a ser superado! Melhor mesmo foi deixar o cachorro latindo sem que nos deixássemos ouvir, representando enfim a graça que essa estética muda possui.
Ainda assim “O Artista” é encantador, seus personagens vivem depois da projeção, dançando esse cinema que mesmo encerrado, é infinito em sua capacidade fantástica e dramatúrgica.
O filme entra numa atmosfera confortável coberta por um mau caratismo que se faz incômodo, se fala muito do perigo que os negros estão correndo, da afronta ameaçadora representada pela opressão branca, mas Histórias Cruzadas paira na superfície amenizando os espectadores da violência da época como se fosse de extremo mal gosto abordar seriamente aquilo, apenas citando de longe alguma coisa a respeito – como a morte do ativista Medgar Evers, no lugar prefere se enfurnar na cozinha, abraçando todos os estereótipos que carrega, das negras com seu super-amor-materno às brancas ricas com sua antipatia e preconceito, é tudo tão simplista que o drama doméstico que o é (elaborar qualquer discussão política que o filme aborda é um exercício com resultado nulo) apenas delineia a sociedade que o sustenta, fugindo de uma visão incisiva e profunda mas arriscando em poucas ações com propósitos manipuladores trágicos ou cômicos, do banheiro dividido ao episódio da torta de fezes.
Histórias Cruzadas é exemplo de um filme preguiçoso, que faz do maniqueísmo simplório e fácil uma arma para abordar o racismo de forma tão caricata, tentando de todos os modos extrair alguma moral praquilo tudo. O que vale é a interpretação de suas atrizes, principalmente Viola Davis e Octavia Spencer , que merecem todo o reconhecimento que estão tendo e se salvam tentando destacar as qualidades desse longa que hora ou outra se apresenta tocante no que tange a personalidade de suas protagonistas, de resto, não agrada se afundando na sua própria incapacidade de gerar algo com um conteúdo relevante.
A Filha do Mal é péssimo, tão ruim no seu desenvolvimento que o final constrangedor e totalmente antes da hora só comprova essa falta de consciência do diretor, detentor de uma mão tão fraca que o filme se perde nas tentativas de criar algum suspense, que não se dilata, nem explode, nem mesmo se consolida. A atmosfera de terror, praticamente inexistente, atinge o ápice em pouquíssimos momentos legais de contorcionismo demoníaco –nada original – e algum susto subsequente disso é mais pelo aproveitamento de algum elemento realmente necessário numa trama absolutamente pedante do que propriamente resultado da imersão no filme.
O filme acaba interrompido, o clímax que se esboçava – ainda que fraco, esvai antes mesmo de se consolidar. Resta no final só a certeza de que o longa não trouxe nada de novo nesse cenário de filmes de possessão, nem do questionamento intenso da natureza do mal que um “Madre Joana dos Anjos” possui, nem mesmo de uma atmosfera que se valha projetada pelo “O Exorcismo de Emily Rose”, traçar algum paralelo, mesmo que pela ausência de elementos, com “O Exorcista” é só um exercício que não vale a pena. Talvez precisássemos – nós e os responsáveis pela produção – retornar a esses filmes para reencontrarmos uma representação que se valha.
retrato enigmático e tratado sobre a paixão imagética, em um mundo anacrônico criado por Manoel de Oliveira, com uma mise-en-scène toda peculiar numa bela trama com contornos de anedota e conto moral .
Uma das obras-primas da década.Sangue Negro tem um formato grandiloquente, desse protagonista extremamente americano e ambicioso que ecoa Cidadão Kane, numa construção character-driven às paisagens que se estendem panorâmicas e que lembram vários westerns. retrato da construção de uma america com bases gananciosas.
a metade final é pura sensação. Pura abstração de um cinema que necessita ir de encontro a natureza para firmar esse elo entre homem e floresta. A vivacidade de ambos se encontra nas memórias esquecidas, mas que aqui morre para se metamorfosear numa odisseia sonora e luminosa. poder cinematográfico elevado a níveis estratosféricos.
Weerasethakul tentando juntar ainda mais o “sobre” do “natural” (ou dissocia-los talvez), colocando o mito tão perto da realidade cotidiana que é impossível separá-los. Aqui há uma mistificação do mundo, com seus fantasmas e homens-macaco e toda a estranheza que isso pode gerar. É dessa explosão de naturalidade de um espaço primitivo e tão fascinante que surge um cinema de uma beleza incrível e contemplativa.
beleza plástica incrível, moldada nesse mundo rítmico que kar-wai constrói. verdadeira ebulição de sentimentos em personagens quase que rígidos demais.
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraO cinema é um grande truque de ilusão. Pede ao seu público que entre nesse jogo perceptivo em que o movimento se obtém através de imagens fixas, e sua profundidade é construída no espaço plano e chapado que é projetado, permitindo a visão de um outro espaço profundo e ilimitado. O 3D afinal de contas apenas manifesta ostensiva e exageradamente esse ultimo processo, aumentando ainda mais a imersão/impressão da realidade dos filmes. “A Invenção de Hugo Cabret” elogia esse cinema ilusório, enaltecendo uma arte cheia de trucagens. E pertinente aborda esse potencial espetacular para fazer um interessante contraponto com os primeiros filmes e o próprio longa que o é, detentor das maiores tecnologias que o cinema dispõe como o próprio 3D.
A Invenção de Hugo Cabret também trata de reencontros. É dessa memória de um passado magnifico e a recuperação do imagético fantástico outrora filmado. O presente não mais esquecendo o passado, mas voltando-se a ele, o assistindo. Assistindo Georges Méliès, mestre da prestidigitação,que soube como poucos sacar de forma completa toda a extensão do espetáculo e aliar tão bem esse conceito ao cinema, o levando até a lua. Inventor sobretudo de uma arte-espetacular com infinitas possibilidades e efeitos especiais. Sua mise en scène se alia a essa capacidade de contar histórias, conduzir os olhos do espectador ao fantástico e aos sonhos.
O tempo é tudo, como dizem certa parte do filme. E não é atoa que há tantos relógios em volta de Hugo, tantos ponteiros correndo e deslizando sobre a superfície polida, o cinema como relógio funciona com engrenagens e tem o tempo como uma de suas matérias-primas. Tempo não só como medida, mas como experiência. Nessa apropriação que o cinema faz, concebendo um tempo fílmico particular.
A Invenção de Hugo Cabret é retrato de um apaixonado por essa arte magnifica que é o cinema. Martin Scorsese se vale de bom roteiro, um visual lindo e uma relação de transparência e opacidade que seus personagens possuem para afinal, filmar esse amor violento encoberto pela singela sensação de sucessivos primeiros-olhares, da fascinação da tela na sala escura que ilusória transforma luz em arte.
Resquícios de Verão
4.4 4Sensação pura num universo tedioso e vazio. É necessário a divisão, uma separação que se faz grande e marcada para mostrar o isolamento não só com o mundo, mas com seu próprio eu. E depois a união, o voltar a sua natureza primária, ecoando Weerasethakul de forma positiva.
Através dos Séculos
4.1 1Ótimo curta. Gosto demais do jeito como o ambiente é explorado. Aparenta uma câmera que acabou de nascer e quer ver o mundo, explora-lo com todos os sentimentos físicos e além físicos. Tudo que é possível extrair dele. Isso fica explícito na parte 1. Na parte 2 a coisa é outra. Existe quase que o assombro desse mundo, registrando as esculturas de santos e anjos mostrando quase que uma epifania, auxiliado pela trilha sonora. talvez um dos únicos problemas, pelo menos a meu ver, a trilha tentando se sobressair a imagem, o que deveria ser justamente ao contrário. Mas a terceira parte vem, e mostra mais uma vez a carne do mundo, a matéria canina, selvagem e quase predatória, culminando num final bem intrigante.
Nathalie Granger
3.8 13incrível como a Duras faz um filme quase não dando a mínima para a imagem, porque aqui mais do que em qualquer outro de seus filmes é o texto que se revela poderoso. são as palavras que definem a imagem, não o contrário. As vozes não tem rosto, ela faz questão de dissociar o locutor da frase dita, que pairam naquele ambiente com um ausência violenta, estática. Os atores operam nesse vazio em que a palavra define, nega e afirma.Filmaço extremamente poderoso.
Tenebre
3.8 132 Assista AgoraUma das coisas mais fodas já filmadas. Absurdo o que Argento faz com a câmera, concebendo planos que pulsam com tamanha intensidade que subvertem toda a lógica do mundo a seu bel prazer, tudo fica fixo e fluído se movimentando nesse jogo paradoxal que ele escreve ao mesmo tempo que seu protagonista também o faz. Mais do que síntese plástica e cinematográfica, tratado de um cinema sensorial e sombriamente violento.
Giallo - Reféns do Medo
2.4 86 Assista Agoraum novo Argento, desses novos dias. As lembranças do assassinato que o protagonista recorda, são os gialli de tempos gloriosos e passados.
Phenomena
3.7 246não acho um dos melhores do cara, mas o Argento estava inspirado mesmo. só ele pra ser pirado o suficiente pra misturar num filme uma macaca vingadora e um garoto deformado completamente afetado.o homeme é genial demais.
A Mansão do Inferno
3.4 184 Assista Agoraé um dos meus preferidos do cara. pura piração: visual, animal, sobrenatural.é foda demais.
Suspiria
3.8 979 Assista Agoragenial além da conta. é só vendo pra sentir o surto sensorial e de imagens espetaculares que é esse filme...
Prelúdio Para Matar
4.0 257 Assista Agoraacho que é um dos melhores filmes da história. no final temos a certeza que Argento é um dos maiores filho-da-puta do cinema, de tão intenso que é aquilo tudo.
O Palhaço
3.6 2,2K Assista AgoraUm melancólico e ainda assim alegre sopro no cinema nacional. O filme que ecoa Chaplin em seu “Luzes da Ribalta” é dirigido belamente por um Selton Mello que sabe o que está fazendo. O longa se desenvolve com seu ritmo próprio mostrando o universo particular que é aquilo tudo, povoado de personagens singulares e ricos em suas curiosidades e histórias próprias. Destaque para a fotografia que é belíssima.
O Artista
4.2 2,1K Assista AgoraA cena final de “O Artista” é algo muito próximo de sua síntese. Quando George Valentin e Peppy Miller sapateiam energicamente naquele estúdio, a vivacidade da dança e a expressão de seus corpos são o verdadeiro tributo ao cinema mudo que o filme quer homenagear, suas mãos articulam o imprescindível, seus rostos proferem o que necessitam, eles dançavam essa arte fílmica, “ o cinema, música da luz” como já dizia Abel Gance .Mas há também o som, que se faz presente e marca como registro cada passo, para enfim, auxiliar o longa a se entregar ao que todo tempo queria – por mais que seu protagonista se mostrasse contrário no principio: Falar.
E se o filme mostra a decadência, infelizmente ele próprio cai nela. Partindo de um ótimo começo, o meio se desenvolve frouxo. Alargando uma conversa que se mostra cansativa, recuperando somente no final sua dinamicidade. Sorte dele que possui atores talentosíssimos que garantem pelo menos uma certa regularidade no longa. Dujardin é ótimo, e se entrega ao personagem de forma fantástica, seus gestos apresentam seus sentimentos, compondo e emprestando o tom necessário à George Valentin. Berenice Bejo é outra que tem uma imensa presença, encantadora e charmosa faz de sua atriz uma verdadeira estrela.
Há que se destacar também certa incapacidade do longa em se entregar de forma completa ao cinema mudo que tenta emular, falta alguma energia que o diretor Hazanavicius não consegue captar plenamente mesmo com um roteiro simplicíssimo,falta um espírito presente em outros filmes que homenageiam essas primeiras décadas do cinema, como os experimentais do Guy Maddin ou até mesmo uma inocência que “Juha” do Aki Kaurismäki possui. Talvez seja essa vontade latente de falar, esse desejo de abandonar a mudez do filme e proclamar aos quatro cantos sua voz, que pode até ser compreensível como destaco no início, mas que de uma forma ou de outra perde no resultado da proposta ao ressoar uma incompreensão dos filmes da época que retrata, comprometendo até mesmo a propensa homenagem transformando-a em mero pastiche panfletário que sugere nas mais maliciosas interpretações – mas não descabidas – a ausência de som como mero defeito a ser superado! Melhor mesmo foi deixar o cachorro latindo sem que nos deixássemos ouvir, representando enfim a graça que essa estética muda possui.
Ainda assim “O Artista” é encantador, seus personagens vivem depois da projeção, dançando esse cinema que mesmo encerrado, é infinito em sua capacidade fantástica e dramatúrgica.
Histórias Cruzadas
4.4 3,8K Assista AgoraO filme entra numa atmosfera confortável coberta por um mau caratismo que se faz incômodo, se fala muito do perigo que os negros estão correndo, da afronta ameaçadora representada pela opressão branca, mas Histórias Cruzadas paira na superfície amenizando os espectadores da violência da época como se fosse de extremo mal gosto abordar seriamente aquilo, apenas citando de longe alguma coisa a respeito – como a morte do ativista Medgar Evers, no lugar prefere se enfurnar na cozinha, abraçando todos os estereótipos que carrega, das negras com seu super-amor-materno às brancas ricas com sua antipatia e preconceito, é tudo tão simplista que o drama doméstico que o é (elaborar qualquer discussão política que o filme aborda é um exercício com resultado nulo) apenas delineia a sociedade que o sustenta, fugindo de uma visão incisiva e profunda mas arriscando em poucas ações com propósitos manipuladores trágicos ou cômicos, do banheiro dividido ao episódio da torta de fezes.
Histórias Cruzadas é exemplo de um filme preguiçoso, que faz do maniqueísmo simplório e fácil uma arma para abordar o racismo de forma tão caricata, tentando de todos os modos extrair alguma moral praquilo tudo. O que vale é a interpretação de suas atrizes, principalmente Viola Davis e Octavia Spencer , que merecem todo o reconhecimento que estão tendo e se salvam tentando destacar as qualidades desse longa que hora ou outra se apresenta tocante no que tange a personalidade de suas protagonistas, de resto, não agrada se afundando na sua própria incapacidade de gerar algo com um conteúdo relevante.
minha critica completa:
Filha do Mal
1.9 1,9K Assista AgoraA Filha do Mal é péssimo, tão ruim no seu desenvolvimento que o final constrangedor e totalmente antes da hora só comprova essa falta de consciência do diretor, detentor de uma mão tão fraca que o filme se perde nas tentativas de criar algum suspense, que não se dilata, nem explode, nem mesmo se consolida. A atmosfera de terror, praticamente inexistente, atinge o ápice em pouquíssimos momentos legais de contorcionismo demoníaco –nada original – e algum susto subsequente disso é mais pelo aproveitamento de algum elemento realmente necessário numa trama absolutamente pedante do que propriamente resultado da imersão no filme.
O filme acaba interrompido, o clímax que se esboçava – ainda que fraco, esvai antes mesmo de se consolidar. Resta no final só a certeza de que o longa não trouxe nada de novo nesse cenário de filmes de possessão, nem do questionamento intenso da natureza do mal que um “Madre Joana dos Anjos” possui, nem mesmo de uma atmosfera que se valha projetada pelo “O Exorcismo de Emily Rose”, traçar algum paralelo, mesmo que pela ausência de elementos, com “O Exorcista” é só um exercício que não vale a pena. Talvez precisássemos – nós e os responsáveis pela produção – retornar a esses filmes para reencontrarmos uma representação que se valha.
Singularidades de Uma Rapariga Loura
3.2 38retrato enigmático e tratado sobre a paixão imagética, em um mundo anacrônico criado por Manoel de Oliveira, com uma mise-en-scène toda peculiar numa bela trama com contornos de anedota e conto moral .
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraUma das obras-primas da década.Sangue Negro tem um formato grandiloquente, desse protagonista extremamente americano e ambicioso que ecoa Cidadão Kane, numa construção character-driven às paisagens que se estendem panorâmicas e que lembram vários westerns. retrato da construção de uma america com bases gananciosas.
Boogie Nights: Prazer Sem Limites
4.0 551 Assista Agoraobra-prima
Vício Frenético
3.1 447 Assista Agoradesculpa herzog, mas não chega nem perto da obra-prima do Ferrara.
Mal dos Trópicos
4.0 85a metade final é pura sensação. Pura abstração de um cinema que necessita ir de encontro a natureza para firmar esse elo entre homem e floresta. A vivacidade de ambos se encontra nas memórias esquecidas, mas que aqui morre para se metamorfosear numa odisseia sonora e luminosa. poder cinematográfico elevado a níveis estratosféricos.
Os Signos
4.0 10Bresson gostaria.
Underground: Mentiras de Guerra
4.3 79 Assista Agoraverdadeira construção de um universo próprio, numa valorização da história e como ela afeta/é contruída por seus personagens.
Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
3.6 196Weerasethakul tentando juntar ainda mais o “sobre” do “natural” (ou dissocia-los talvez), colocando o mito tão perto da realidade cotidiana que é impossível separá-los. Aqui há uma mistificação do mundo, com seus fantasmas e homens-macaco e toda a estranheza que isso pode gerar. É dessa explosão de naturalidade de um espaço primitivo e tão fascinante que surge um cinema de uma beleza incrível e contemplativa.
Amor à Flor da Pele
4.3 500 Assista Agorabeleza plástica incrível, moldada nesse mundo rítmico que kar-wai constrói. verdadeira ebulição de sentimentos em personagens quase que rígidos demais.
A Cor da Romã
4.1 133verdadeira construção de um mundo próprio e lírico, onde o que importa é a beleza da arte e todo o conjunto de sensações que ela provoca.