Blackmail tem a sua importância histórica para o cinema inglês, mas por ser um filme do Hitchcock eu esperava muito mais. O filme tem um bom andamento e consegue manter o suspense até o final, porém, na íntegra é bem morno.
Interessante como o Fred Astaire, que é incrível, não consegue apagar o brilho do também ótimo Bing Crosby. Só uma observação: Se tal hotel fosse situado no Brasil, ele funcionaria quase todos os dias:D Curiosidade: A música "White Christmas" foi composta no set de filmagem de Top Hat (1935, também estrelando Fred Astaire) por Irving Berlin, que cuidou da música, escreveu o argumento e também atuou em Holiday Inn.
Amo demais essa época histórica, o "malandro carioca" trabalhado na beca e na navalha, as rodas de samba do Rio de Janeiro.Acrescente trilha sonora e roteiro de Chico Buarque... Ópera do Malandro é um excelente musical brasileiro que poucos brasileiros conhecem. É uma pena, pois esta obra é prova da nossa capacidade de fazer SIM bons filmes. Mas,o que realmente corta o coração, é saber que os nossos filmes bons quase sempre ficam excluídos do NOSSO cenário cultural (comercial). Muita gente conhece Cilada ou Bruna Surfistinha, mas quantos conhecem Ópera do Malandro ou Cinemas, aspirinas e urubus??O que ainda salva são os cinemas alternativos, ainda que poucos e limitados às metrópoles.
Enfim, gostei muito deste filme. Apreciei bastante o malandro construído pelo Celulari (só faltou um jogo de capoeira mais trabalhado), mas quem realmente roubou a minha atenção foi a Geni. MARAVILHOSA!!. Roubava a atenção cada vez que entrava em cena..."Joga pedra na Geni!Joga pedra na Geni!Ela é feita pra apanhar. Ela é boa de cuspir. Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni!!
Mudando um pouco de assunto, para quem gosta da temática retratada no filme, recomendo o livro do Roberto Da Mata, "Carnavais, Malandros e Heróis".Muito bom!
Quando assisto aos filmes do Mazzaropi só lembro do meu avô!!! "Ruim por ruim, vote em mim">>atualíssimo!!O cachorro "coronerr", uma graça..Uma boa comédia brasileira, do tipo que não se faz mais (pelo menos no que diz respeito aos filmes que participam do circuito nacional..).
Scorsese e suas reviravoltas...Pensei que HUGO me decepcionaria, levando em conta os seus cinquenta minutos iniciais. No entanto, como numa das mágicas do Miélès, Scorsese me surpreende com uma declaração de amor incondicional ao cinema. Só mesmo um cinéfilo apaixonado poderia homenagear outro gênio com tanta sensibilidade. Como se não fosse suficiente a linda homenagem ao Méliès, o diretor ainda acrescentou várias referências literárias.
A referência ao meu livro favorito, "Les Misérables", de Victor Hugo, tirou-me um sorriso maior que o do gato da Alice
Uma coisa que achei interessante foi o fato do cenário principal ser uma estação de trem (clara inspiração lumeriana?!), além de rever fragmentos de alguns filmes antigos conhecidos.
Asa Butterfield é uma graça. Aqueles grandes olhos azuis, capazes de captar a luz e a magia do cinema, muito devem ter influenciado na sua escolha para o papel. Aliás, a dupla mirim é um encanto!!Ben Kingsley está muito bem no papel de Miélès, além de ter ficado muito parecido fisicamente com ele.
Em seu primeiro filme 3D, o diretor norte-americano usa o aparato tecnológico hodierno para voltar ao passado, aos primórdios do cinema, e oportunizar, para leigos e amantes do cinema mudo, a possibilidade de ver filmes (ainda que em fragmentos) raros, preciosidades que passam despercebidas hoje em dia. Enfim, só tenho a agradecer ao Scorsese por ter me proporcionado momentos tão prazerosos, onde pude realmente VIVER a magia do cinema, vendo alguns dos meus filmes preferidos em 3D!!!No final das contas, deixei a sala com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos...
"Você já pensou de onde veem os seus sonhos? É aqui que eles são fabricados. LINDO!
Franco Nero e a pistola mais rápida do Oeste. Excedendo-se um pouco quanto ao uso da câmera lenta (algumas cenas de tiroteio/luta parecem uma dança coreografada) e com uma música chiclete, "Keoma" é a despedida dos westners spaghetti e um dos filmes mais notáveis deste gênero.
Definindo "The Purple Rose of Cairo" em uma palavra: Poético. Metalinguístico, cinema refletindo sobre o cinema. Cecília é a cinéfila mais meiga que já vi. Woody construiu uma narrativa sensível, com homeopáticas doses de humor (as reiteradas piadinhas sobre comunistas). Identificação imediata com a Cecília, quanto ao fato de ficar "sonhando" com os filmes favoritos, de vê-los váriias vezes..Sem falar que eu sou APAIXONADA pelas trilhas sonoras dos filmes do Woody:) "Quando ela respira, o meu coração dança".LINDO!
"Giant" é um filme inovador em vários aspectos: crítica ao patriarcalismo, ao tratamento dispensado aos mexicanos (e seus descendentes), retrata as disputas entre pecuaristas (velho Texas) e exploradores de petróleo (novo Texas), dentre outros. Além de possuir uma tríade de peso: Liz Taylor, Rock Hudson e James Dean (estrelando o seu último filme). O diretor George Stevens, acostumado com closes de todos os tipos, filmou basicamente em planos gerais, o que resultou num efeito muito interessante: a casa dos Reata parece perdida na imensidão da fazenda. Uma curiosidade sobre o filme: Em uma das tomadas, James Dean saiu de mansinho das filmagens para assistir a uma corrida de carros, sendo que todos já estavam prontos para gravar.
O que Bergman fez em "Gritos e sussurros" não dá para dimensionar em palavras, muito menos em um simples comentário. Para se entender um filme-arte deste nível é preciso, antes de mais nada, senti-lo e, ao se fazer isto, devo alerta-los que é difícil sair incólume. Em "Gritos e sussurros" encontramos um Bergman mais maduro, intenso. Utilizando planos gerais e muitos closes, o diretor analisa o relacionamento de três irmãs - uma delas em estado terminal - num ambiente onde a dor e o sofrimento são levados ao extremo (o clima mórbido ficou magistralmente registrado na fotografia de Sven Nykvist,no uso e abuso da cor vermelha no cenário). Numa casa de campo isolada, observamos o desgaste físico e psicológico das personagens (imagino que o uso constante da imagem do relógio sirva para reiterar isto) . Bergman faz uma crítica ácida ao moralismo social
quando Karin mutila-se para não ter mais relações com o marido, numa interpretação aterradora de Ingrid Thulin
. Neste filme, o diretor parece ter dado um "trégua" nos seus conflitos internos: o ambiente é permeado de religiosidade, centrando-se especificamente em Agnes. Numa das cenas inspiradíssimas, em que Agnes é embalada por Anna, a imagem lembra a estátua Pietà, de Michelangelo, numa nítida inspiração religiosa. Não dá para destacar uma interpretação em especial. Penso que as atrizes atuaram cada uma no seu limite, trazendo muito da experiência dramática adquirida no teatro para compor as personagens. O filme foi indicado a cinco oscars, incluindo melhor filme e diretor. Ganhou o prêmio de fotografia.
Juntamente com Metropolis, de Fritz Lang,2001: A space odyssey, é um dos marcos da ficção científica moderna. Inovador, visionário, revolucionário são alguns dos adjetivos que podemos atribuir ao filme de Kubrick. Antes de 2001, os filmes de ficção científica norte-americanos eram de baixo orçamento, os típicos "filmes B". Kubrick soube como aproveitar o momento histórico, a corrida espacial, e usá-lo a seu favor. Profético: um ano após o seu lançamento, os primeiros astronautas pisaram na lua. Evolução humana, exploração espacial,alta tecnologia, vida extraterreste são os principais temas abordados pelo filme. Os 25 minutos iniciais mostram a "Aurora do Homem", os primeiros hominídeos.
Tive a IMPRESSÃO de que a evolução dos primeiros hominídeos atrelou-se ao contato estabelecido com o monolito, que os "ensinou" a usar a violência.
Há um salto de milhões de anos e, então, somos surpreendidos por uma "valsa espacial":a música Danúbio Azul é executada tendo como plano o espaço sideral. Como diria Arthur Clarke, "A maior evolução do homem é a conquista do espaço". Dentre todos os avanços tecnológicos previstos no filme, destaco o computador Hal (o personagem principal da história).
Aqui o diretor confundiu a minha cabeça: poderia Hal demonstrar sentimentos?? Tive a impressão que sim, devido ao instinto de sobrevivência que ele apresentou, e que é típico dos animais. Kubrick foi visionário mais uma vez, alertando-nos sobre a evolução tecnológica. Seriam os computadores, robôs, etc. capazes de atos ruins?
Hal é o personagem mais interessante da estória e um dos mais enigmáticos e complexos do cinema. O desfecho do filme é impressionante..Seria um olhar sobre o nosso futuro? Na época em que foi lançado, "2001: a space odyssey" não foi tão bem recebido como esperavam o diretor e a própria MGM(os gastos com a produção e divulgação foram os mais altos da história do estúdio, até então). Hoje, é um marco da ficção científica e inspiração para muitos diretores renomados como George Lucas, James Cameron e Spielberg. Recomendadíssimo.
Tanta subjetividade que QUASE desemboca num marasmo sem limites. Godard usa e abusa da linguagem para questionar a própria linguagem, analisa psico-etno-sociologicamente o cotidiano dos seus personagens e as mudanças (e mazelas) capitalistas que assolam a sua amada Paris e toca na polêmica questão da Guerra do Vietnã. Alguns diálogos são bem marcantes, especialmente alguns monólogos narrados pelo próprio diretor. Chamaram a minha atenção, em especial:
O sonho do menino; no qual ele dizia ver uma passagem por entre um abismo, onde somente uma pessoa poderia passar. Eis que aparecem dois gêmeos e, ao atravessar, os dois garotos se fudem num só. Os gêmeos eram o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul.>> A alegoria mais interessante do filme,na minha modesta opinião. Além de ser uma clara manifestação das convicções políticas do diretor. Outra coisa que achei interessante foi aquele diálogo sobre o sapato norte-americano (usado para pisotear tanto vietnamitas quanto sul-americanos) e o monólogo de Godard tendo um café como pano de fundo. Adorei a homenagem à Anna Karina no comecinho do filme (há um pôster da Nana -"Vivre sa Vie" - no apartamento de Gerard)...
Coloridíssimo e cheio de marcas capitalistas famosas (tem até sabão OMO!!), marcas que o diretor fez questão de destacar, 2 ou 3 choises que je sais d'elle é um filme de transição nouvelle vague-cinema político. Dessa fase,ainda prefiro o psicodélico Week-end...
Um dos maiores nomes do expressionismo alemão,juntamente com "O Gabinete do Dr.Caligari", Nosferatu, o filme mais conhecido de Murnau, é uma adaptação não autorizada de Drácula.
O filme,que fez escola entre os de terror, é dividido em quatro atos. Música marcante, interpretações exageradas, jogo de sombras (principalmente), preferência por ambientes soturnos são algumas de suas características. Sem falar na tensão entre Ellen e o conde Orlock..dá uma apreensão danada!!
É uma obra obrigatória para os amantes do gênero. Ou melhor, do jeito que o cinema e a literatura vêm deturpando o conceito de "vampiro", "Nosferatu" deveria ser um item obrigatório para todo mundo que curte cinema!!Afinal, o conde Orlock faz jus à sua condição, honra a fama de "criatura maldita" intrínseca a sua condição de vampiro.
Enfim, diretores e escritores de todo o mundo, por favor, aprendam com os antigos!!!
Tenho sérios problemas com títulos em português, principalmente quando eles conseguem passar uma falsa idéia acerca do sentido intrínseco dos meus filmes preferidos. Em Vivre SA Vie não é diferente. Seguindo uma tradução literal (e que melhor se adequaria à obra), o título seria "Viver SUA Vida". Aliás, este era um adágio bastante popular entre as prostitutas francesas. A própria Nana confirma isso ao afirmar que nós somos os responsáveis por tudo o que nos acontece.
A estória é contada através de 12 quadros, num fluxo não necessariamente linear. Godard retoma aqui, em algumas cenas, uma técnica já utilizada - embora em menor intensidade - em "Acossado", que é filmar os seus atores de costas. Destarte, o espectador termina por ser incluído, de uma certa forma, na cena, como se assumisse também um papel na trama. Essa estilização é típica do teatro brechtiano,o qual Godard já havia tido contato, e objetiva a transformação do espectador de mero agente passivo para um ser crítico, ativo, consciente.
Nana é um encanto de menina-mulher. O próprio cineasta não poupou elogios à Anna Karina, dizendo que ela parecia uma "bonequinha saída dos filmes de Selznick". Karina consegue passar tanta verdade apenas com o olhar..isso é raro de se ver hoje em dia. O cineasta francês fez uma linda homenagem ao cinema de Carl Dreyer, através do filme "Le Passion de Jeanne d'Arc".
A cena em que os olhos lacrimosos de Falconetti, na tela do cinema, rapidamente se cruzam com os igualmente lacrimosos olhos de Nana é uma das coisas mais lindas que eu já vi no cinema. Sem falar que a idéia da morte como libertação parece ter sido livremente inspirada no filme de Dreyer.
Nana é uma vítima do destino que traçou para si. O submundo da prostituição é mostrado sem nenhum glamour, de forma crua e violenta, através da câmera-metralhadora do diretor e dos jump cuts estilizados. Outro ponto altíssimo do filme são as várias referências filosóficas: Montaigne, Platão, Baudelaire,Edgar Poe, o transcendentalismo kantiano, além de referências a Brecht; tudo isso - junto e misturado - regrado a deliciosas conversas..uma, aliás, muito especial.
Em suma, "é preciso emprestar-se aos outros e doar-se a si mesmo". Uma obra de arte!.
¿Cómo es vivir una vida vacía? ¿Cómo es vivir una vida llena de nada?
Um filme precioso, sem dúvidas. Pesquisei e descobri que os únicos dois oscars de melhor filme estrangeiro que saíram para a América Latina pertencem à Argentina ("La Historia Oficial" e "El secreto de sus ojos". Este recebeu também o Prêmio Goya e aquele o Globo de Ouro). Não que o oscar seja, necessariamente, significado de qualidade; mas não dá-lo a este filme seria mais um dos grandes despropósitos cometidos pela Academia.
Enfim; uma adaptação decente,onde não há "sobras" no roteiro, direção primorosa (amei os planos e contraplanos magistralmente confrontados nos flashbacks) e boas atuações (como já elogiaram merecidamente o Darín, saúdo também Pablo Rago e Guillermo Francella).
Quanto à efetivação da justiça,a verossimilhança entre o nosso sistema judiciário e o argentino é explícita.
Perdão Louis,mas Lestat é a personificação do mal, ou seja, ele realmente faz jus a sua condição de vampiro: sanguinário, sarcástico, sensualíssimo. Tom Cruise merece todo o meu respeito com essa produção. Kirsten Dunst já demostrava talento desde novinha. Amei a referência ao filme "Nosferatu". Tenho uma saudadezinha de filmes como ele, onde vampiro faz jus ao nome.
Week-end tornou-se mais conhecido pela sequência apocalítica do enoooorme engarrafamento (300m), com vários acidentes e pessoas mortas/machucadas.Todavia, o cenário apocalítico não se restringe ao travelling inicial, ele ganha força com o aparecimento de figuras históricas e de revolucionários canibais. Quando foi exibido na França, vários jovens tulmutuaram as salas de cinema. É importante lembrar que um ano depois estourava o Maio de 68, a Revolução Estudantil. Um dos maiores méritos de Godard foi encontrar o momento exato de captar toda a tensão política e trazê-la para a telona. É um filme revolucionário, sem dúvidas, porque rompe com a forma de se filmar. Godard vai muito além: Não espere nada pronto, ele te instiga, questiona, permite o espectador tirar as suas próprias conclusões..."Isto é um filme ou é a realidade?" Filosofia pura!!Diálogos platônicos, sartreanos...É a realidade ora!!Afirma um dos personagens. Uma crítica nada sutil ao ideário burguês capitalista: através das peripécias do ambicioso casal protagonista, Godard tece um enredo linear (!), repleto de simbolismos e de diálogos nonsense. No decurso da estória, o diretor levanta questões polêmicas acerca do contexto econômico e político, usando os seus personagens para denunciar a velha luta de classes. Os diálogos são impagáveis (é um filme do Godard né!). Ver Jesus ser chamado de comunista não tem preço!!!O casal protagonista é a caricatura fiel do modo de vida burguês (observado pela lente godardiana): eles representam o falso moralismo, a individualização, a ambição desmedida.Por fim, só me resta elogiar a disposição das cores, que criou um efeito visual realmente muito bom, e as referências literárias e filosóficas."Em um mundo onde cão come cão, quem liga para uma amor que já morreu?"
O maior mérito deste filme é que ele consegue atingir, despretensiosamente, a veia sentimental de quem já teve um cãozinho de estimação. Tenho que concordar com o que disseram aí embaixo,que a melhor atuação é a do cachorro (o Owen Wilson, por exemplo,consegue manter a mesma expressão durante todo o filme!!). Não tem como não se divertir com as "neuras" do Marley,com as suas trapalhadas, a dancinha com a Jennifer...Assim como também foi impossível não chorar nos minutos finais. Por isso, confesso sem nenhum medo de parecer piegas: ri com Marley, mas ele me fez chorar muito mais...
”L´amour en fuite” encerra o ciclo de aventuras - e desventuras - de Antoine Doinel, num clima saudosista, onde se retomam vários momentos da infância, adolescência e fase adulta do protagonista através de flashbacks das quatro produções anteriores: Les 400 Coups, Antoine et Colette, Baisers Volés e Domicile Conjugal.
Em ”L´amour en fuite”, Doinel se divorcia amigavelmente de Christine e, finalmente, consegue um emprego fixo numa gráfica. Concomitantemente, namora Sabine, uma vendedora de discos, por quem se apaixonou através de uma foto.
O ambiente é nostálgico e perfeito para os amantes das aventuras de Antoine. Também é um acerto de contas com o passado, tanto de Doinel quanto o de Truffaut. Os romances efêmeros e a imaturidade amorosa de Antoine são justificadas pelo abandono pela mãe, que ele sofreu ainda na infância.
A conversa com o amante da mãe, Julien, serviu como uma espécie de conciliação com o seu passado (do protagonista e do diretor), porque se o relacionamento entre Doinel e a mãe não deu certo, é de se esperar que ele também tenha a sua parcela de culpa. No final das contas, ela o amava da maneira ”anárquica” dela. Finalmente ele conseguiu entender isso.
O reencontro com Colette, seu primeiro amor e primeira decepção, é outro ponto alto da trama. Ela é a responsável por expor publicamente a imaturidade do protagonista (usando, inclusive, trechos do próprio livro dele!!), que só se interessa por uma mulher até o momento da conquista e que, necessariamente, precisa estar cercado pela família da garota. Colette tem uma grande importância para a história de Antoine não só por ter sido o seu primeiro amor, mas porque muito do comportamento amoroso desvairado do protagonista pode ser encarado, à primeira vista (e SÓ à primeira vista), como uma consequência dessa rejeição. Depois, nós entendemos que o motivo é outro.
O romance com Sabine parece ser verdadeiro. Há de se lembrar que, neste longa, Doinel já está com 35 anos e que o amor exige maturidade. Sem falar que a circunstância através da qual ele se apaixona pela moça é bem excêntrica (e romântica!).
Em suma, L´amour en fuite não é somente a despedida perfeita de um dos personagens mais amados do cinema. É também um acerto de contas - e conciliação - de Truffaut com o seu passado, mas precisamente com a sua mãe. Eu, como cinéfila e amante dos filmes franceses, só tenho a agradecer ao personagem que me fez amar ainda mais o cinema e ao diretor que mostrou ser possível fazer verdadeiras obras de arte com um orçamento bem limitado. Só me resta encerrar com a linda canção de Alain Souchon.. (...) ”A peine installé, je quitte le deux-pièces cuisine.On peut s'appeler Colette, Antoine ou Sabine.Toute ma vie, c'est courir après des choses qui se sauvent :Des jeunes filles parfumées, des bouquets de pleurs, des roses...C´est l´amour en fuite, l´amour en fuite...”
Contando com o média-metragem Antoine et Colette, Domicile Conjugal é o quarto filme com Antoine Doinel. Ao contrário das outras três produções, este não foi recebido muito bem pela crítica..infelizmente! A idéia do filme surgiu de Henri Langlois, um dos fundadores do Cahiers du Cinèma e amigo do Truffaut, que desejava saber como seria a vida de casado de Doinel. Em Domicílio Conjugal, Doinel já está com quase trinta anos, mas continua imaturo no amor e é incapaz de se manter em um emprego fixo.
O destaque mais importante deste filme, a meu ver, são as tentativas frustradas de Antoine de escrever um livro...só entendemos realmente a importância do livro no último filme de Doinel, Amor en Fuite
Há bons momentos cômicos, nos quais é possível um sorriso leve, mas nada de exageros. O diretor soube aproveitar muito bem os coadjuvantes: o homem que pede dinheiro emprestado constantemente, a garçonete que flerta com Doinel, os vizinhos italianos...Através deste filme, pode-se entender uma das razões da imaturidade do nosso heroi - a partir de uma revelação do próprio personagem - quando ele menciona que não consegue se apaixonar apenas por uma mulher, mas por toda a sua família. Segundo o meu humilde entendimento, esta é uma clara tentativa de preencher AQUELE vazio da sua infância. Nós, que acompanhamos as aventuras de Antoine desde à infância, sabemos que ele foi criado em uma família totalmente desestruturada. A consequência é que ele vê nas famílias das moças com que se relaciona, primeiro Colette e depois Christine, a família que não teve. Em suma, um belo retrato de um casamento condenado; não por falta de amor, mais por falta de maturidade do nosso heroi, pontuado com um terno olhar sobre a paternidade.
Belíssima homenagem ao amor, de forma geral. Aliás, Truffaut sabia falar de amor como ninguém. Em "Baisers Volés", apreciamos a instabilidade amorosa e profissional de Antoine Doinel, aqui com uns vinte e poucos anos. Antoine não foi nada precoce no amor, pelo contrário, acredito que a decepção com Collete o tenha afetado mais do que deveria. A partir de então, o nosso heroi passou a contentar-se com amores provisórios, em migalhas: procurando em algumas prostitutas, numa sensata Christine, numa admirável senhora casada... É incrível como sentimos a onipresença do diretor em cada cena, graças ao modelo de cinema autoral desenvolvido pelos cahiers, do qual Truffaut foi um fiel representante. Conseguimos senti-lo através das constantes referências à leitura e escrita: Doinel lendo Balzac (um dos autores preferidos do Truffaut), escrevendo uma carta de amor à Fabienne Tabard, os meigos bilhetinhos trocados com Christine. Tudo isso faz com que a sua forma de fazer cinema transpareça pureza e verossimilhança. Antoine, Christine ou Madame Tabard poderiam ser qualquer um de nós. Não posso deixar de elogiar Delphine Seyrig. Sua elegância é afrodisíaca. Entendo porque Doinel encantou-se com ela: dicção perfeita, o jeito de se portar e gesticular. Não fiquei nada surpresa ao saber que era atriz de teatro, pelo contrário, sua interpretação, ao mesmo tempo tão enxuta e elegante, bem que a denunciou!!! Por fim, a música...um bálsamo para a alma.. Que reste-t-il de nos amours/Que reste-t-il de ces beaux jours/Une photo, vieille photo/De ma jeunesse (...) Bonheur fané, cheveux au vent/Baisers volés, rêves mouvants/Que reste-t-il de tout cela/Dites-le-moi (...)
Indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro. Não levou, mas isso realmente importa?? Penso que não. O que importa é que, através de filmes como este, Truffaut eternizou-se como o "cineasta do amor", contribuindo com preciosidades para o cinema. Seus amores provisórios MUITO contribuiram para fazer de Truffaut um cineasta definitivo:D
O argumento (ou ponta-pé inicial, como preferirem) do filme é realmente muito bom. Acredito que se vc o analisa sob o prisma atual do desenvolvimento da ciência e da medicina, o tema abordado não é impossível de acontecer, pelo menos em um futuro próximo. É aí onde reside o problema: até onde o ser humano pode brincar de Deus e com que direito ele pode usar e abusar da vida do outro. Acredito que o filme peca por não adentrar nas questões éticas, tendo em vista que elas não são abordadas nem mesmo superficialmente. Outra coisa que me incomodou bastante foi a passividade dos personagens. Eles são resignados demais; o que os tornou, aos meus olhos, um tanto desacreditados .
uma parte que mostra bem isso é quando o tommy diz que pode não ser um bom humano, mas é um bom doador
Fora isso tudo, o filme ainda sofre com gravíssimos erros de continuação, o que fez com que algumas cenas parecessem deslocadas, desconexas. Isso é muito comum em filmes que são adaptações de livros, mas o modo como o enredo é conduzido, aqui, termina por não convencer em algumas partes.
Toni Venturi prestou um grande serviço público com esse documentário. Tenho orgulho de produções brasileiras como esta. É impressionante, e ao mesmo tempo frustrante, saber que já existiram escolas públicas como os Ginásios Vocacionais. Baseada no método de educação freireana, voltado para um pensar crítico, onde o aluno tinha a consciência de ser protagonista de sua própria história e com um plano de trabalho totalmente inovador (onde o próprio aluno construia o plano de curso); Maria Nilde e sua equipe revolucionaram o ensino público há mais de quarenta anos atrás. Outra coisa que eu achei o máximo foi o fato de estudarem o filho do banqueiro e o filho do porteiro na mesma escola, ou seja, zero de descriminação:quem ali estudava o fazia por seu próprio mérito, já que foi aprovado no vestibulinho, exame obrigatório de entrada na instituição. Outra coisa fascinante era a inexistência de hierarquização professor-aluno (fato revolucionário para os padrões da época) e a ênfase da importância de se fazer auto-críticas constantemente. Com idéias tão vanguardistas, o Vocacional terminou sendo taxado por subversivo pelo regime militar. A própria Maria Nilde foi presa. Numa época onde pensar poderia ser extremamente perigoso; o trabalho desenvolvido pelos Ginásios Vocacionais, baseado essencialmente na construção de um saber crítico voltado para a realidade, foi considerado pelo regime militar como uma propaganda subversiva, que corrompia a juventude. Depois disso, o Vocacional nunca mais foi o mesmo, fechando definitivamente as portas anos depois. Como eu já disse, é impressionante e - ao mesmo tempo - frustrante, saber que existiram escolas públicas assim. Ao analisarmos a realidade das nossas instituições de ensino públicas, constatamos um total descaso, um sucateamento do ensino público. O Vocacional apresentava um padrão de qualidade de ensino que, infelizmente, as nossas atuais escolas públicas estão à anos-luz de alcançar.
Provavelmente, é a obra mais conhecida e mais auto-pessoal de Bergman. Ambientada na Suécia medieval do séc.XII, "O sétimo selo" consegue ser ,concomitantemente, existencialista e surreal, filosófico e cômico,e, principalmente, religiosamente crítico. O filme tem como abertura uma passagem do livro das revelações-o Apocalipse-em uma harmonia perfeita com a música Dies Irae, que se apresenta de sobressalto. O pano de fundo não poderia ser mais aterrador: numa época onde imperava a fome, a guerra e a peste; onde a Igreja pregava a fé através do medo, o cavaleiro Antonius Block (alter-ego do próprio Bergman) regressa da terra santa, onde estave em campanha por dez anos, juntamente com o seu fiel escudeiro, Jons. Depois de presenciar tantas mazelas e sofrimento, o cavaleiro começa a se questionar sobre a existência de Deus: Seria ele a personificação dos nossos próprios medos? Eis que surge a Morte (personificada)a sua frente, querendo dar-lhe o gélido abraço, e Antonius a desafia para um jogo de xadrez. O que eu achei bem interessante, nesse momento, foi a feição plácida do cavaleiro: foi como se ele já esperasse por aquilo, mas precisava conseguir um tempo (por isso a idéia do desafio de xadrez) para adquirir conhecimento - e não meras suposições religiosas vagas - para que a sua vida tenha algum sentido.
Uma figura que merece destaque é o escudeiro Jons. Niilista, sarcástico, parvo e cético ("Deus está no alto. Ele está tão longe. Enquanto o irmão diabo, o vemos a todo instante"), ele é o oposto do seu patrão. Na sua jornada com Antonius, eles encontram um casal de saltimbancos, Jof e Mia, que vivem pacatamente com o filhinho de um ano. Os saltimbancos apresentam uma intensa alegria de viver, que contrasta com o caos da época. Antonius se encanta com tamanha felicidade e amor, que ele pensava não puder encontrar no meio de tanta miséria,
tanto que termina por salvar a vida do casal, quando eles estão acampados no meio da floresta e a Morte aparece para dar continuidade ao jogo.
Enfim, é um obra icônica, com uma crítica religiosa incisiva e repleta de questionamentos - é Bergman né?! - que emergem da tela e abrangem o espectador. Por exemplo, que idéia estupidamente brilhante nos é apresentada pelo diretor: é possível um mero mortal ludibriar a Morte no seu próprio jogo? E que belíssimo pano de fundo foi a cena da dança com a Morte!Acredito que uma citação do filósofo Heidegger é bastante válida para sintetizar essa obra do gênio Bergman: A única certeza da vida é a Morte.
Chantagem e Confissão
3.7 59 Assista AgoraBlackmail tem a sua importância histórica para o cinema inglês, mas por ser um filme do Hitchcock eu esperava muito mais. O filme tem um bom andamento e consegue manter o suspense até o final, porém, na íntegra é bem morno.
Hitch já trabalhava assassinatos com faca nessa época. Sua obra-prima ainda estava por vir
Duas Semanas De Prazer
3.9 25Interessante como o Fred Astaire, que é incrível, não consegue apagar o brilho do também ótimo Bing Crosby. Só uma observação: Se tal hotel fosse situado no Brasil, ele funcionaria quase todos os dias:D
Curiosidade: A música "White Christmas" foi composta no set de filmagem de Top Hat (1935, também estrelando Fred Astaire) por Irving Berlin, que cuidou da música, escreveu o argumento e também atuou em Holiday Inn.
Ópera do Malandro
3.6 51Amo demais essa época histórica, o "malandro carioca" trabalhado na beca e na navalha, as rodas de samba do Rio de Janeiro.Acrescente trilha sonora e roteiro de Chico Buarque...
Ópera do Malandro é um excelente musical brasileiro que poucos brasileiros conhecem. É uma pena, pois esta obra é prova da nossa capacidade de fazer SIM bons filmes. Mas,o que realmente corta o coração, é saber que os nossos filmes bons quase sempre ficam excluídos do NOSSO cenário cultural (comercial). Muita gente conhece Cilada ou Bruna Surfistinha, mas quantos conhecem Ópera do Malandro ou Cinemas, aspirinas e urubus??O que ainda salva são os cinemas alternativos, ainda que poucos e limitados às metrópoles.
Enfim, gostei muito deste filme. Apreciei bastante o malandro construído pelo Celulari (só faltou um jogo de capoeira mais trabalhado), mas quem realmente roubou a minha atenção foi a Geni. MARAVILHOSA!!. Roubava a atenção cada vez que entrava em cena..."Joga pedra na Geni!Joga pedra na Geni!Ela é feita pra apanhar. Ela é boa de cuspir. Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni!!
Mudando um pouco de assunto, para quem gosta da temática retratada no filme, recomendo o livro do Roberto Da Mata, "Carnavais, Malandros e Heróis".Muito bom!
Sai da Frente
3.8 34Quando assisto aos filmes do Mazzaropi só lembro do meu avô!!!
"Ruim por ruim, vote em mim">>atualíssimo!!O cachorro "coronerr", uma graça..Uma boa comédia brasileira, do tipo que não se faz mais (pelo menos no que diz respeito aos filmes que participam do circuito nacional..).
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraScorsese e suas reviravoltas...Pensei que HUGO me decepcionaria, levando em conta os seus cinquenta minutos iniciais. No entanto, como numa das mágicas do Miélès, Scorsese me surpreende com uma declaração de amor incondicional ao cinema. Só mesmo um cinéfilo apaixonado poderia homenagear outro gênio com tanta sensibilidade. Como se não fosse suficiente a linda homenagem ao Méliès, o diretor ainda acrescentou várias referências literárias.
A referência ao meu livro favorito, "Les Misérables", de Victor Hugo, tirou-me um sorriso maior que o do gato da Alice
Uma coisa que achei interessante foi o fato do cenário principal ser uma estação de trem (clara inspiração lumeriana?!), além de rever fragmentos de alguns filmes antigos conhecidos.
Asa Butterfield é uma graça. Aqueles grandes olhos azuis, capazes de captar a luz e a magia do cinema, muito devem ter influenciado na sua escolha para o papel. Aliás, a dupla mirim é um encanto!!Ben Kingsley está muito bem no papel de Miélès, além de ter ficado muito parecido fisicamente com ele.
Em seu primeiro filme 3D, o diretor norte-americano usa o aparato tecnológico hodierno para voltar ao passado, aos primórdios do cinema, e oportunizar, para leigos e amantes do cinema mudo, a possibilidade de ver filmes (ainda que em fragmentos) raros, preciosidades que passam despercebidas hoje em dia. Enfim, só tenho a agradecer ao Scorsese por ter me proporcionado momentos tão prazerosos, onde pude realmente VIVER a magia do cinema, vendo alguns dos meus filmes preferidos em 3D!!!No final das contas, deixei a sala com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos...
"Você já pensou de onde veem os seus sonhos? É aqui que eles são fabricados. LINDO!
Keoma
4.0 83 Assista AgoraFranco Nero e a pistola mais rápida do Oeste. Excedendo-se um pouco quanto ao uso da câmera lenta (algumas cenas de tiroteio/luta parecem uma dança coreografada) e com uma música chiclete, "Keoma" é a despedida dos westners spaghetti e um dos filmes mais notáveis deste gênero.
A Rosa Púrpura do Cairo
4.1 590 Assista AgoraDefinindo "The Purple Rose of Cairo" em uma palavra: Poético.
Metalinguístico, cinema refletindo sobre o cinema. Cecília é a cinéfila mais meiga que já vi.
Woody construiu uma narrativa sensível, com homeopáticas doses de humor (as reiteradas piadinhas sobre comunistas). Identificação imediata com a Cecília, quanto ao fato de ficar "sonhando" com os filmes favoritos, de vê-los váriias vezes..Sem falar que eu sou APAIXONADA pelas trilhas sonoras dos filmes do Woody:)
"Quando ela respira, o meu coração dança".LINDO!
Assim Caminha a Humanidade
4.2 229 Assista Agora"Giant" é um filme inovador em vários aspectos: crítica ao patriarcalismo, ao tratamento dispensado aos mexicanos (e seus descendentes), retrata as disputas entre pecuaristas (velho Texas) e exploradores de petróleo (novo Texas), dentre outros. Além de possuir uma tríade de peso: Liz Taylor, Rock Hudson e James Dean (estrelando o seu último filme).
O diretor George Stevens, acostumado com closes de todos os tipos, filmou basicamente em planos gerais, o que resultou num efeito muito interessante: a casa dos Reata parece perdida na imensidão da fazenda.
Uma curiosidade sobre o filme: Em uma das tomadas, James Dean saiu de mansinho das filmagens para assistir a uma corrida de carros, sendo que todos já estavam prontos para gravar.
Pena que a minha cena favorita do filme; a do discurso de Jett, bêbado, no hotel, não foi dramatizada por James Dean...
Gritos e Sussurros
4.3 472O que Bergman fez em "Gritos e sussurros" não dá para dimensionar em palavras, muito menos em um simples comentário. Para se entender um filme-arte deste nível é preciso, antes de mais nada, senti-lo e, ao se fazer isto, devo alerta-los que é difícil sair incólume.
Em "Gritos e sussurros" encontramos um Bergman mais maduro, intenso. Utilizando planos gerais e muitos closes, o diretor analisa o relacionamento de três irmãs - uma delas em estado terminal - num ambiente onde a dor e o sofrimento são levados ao extremo (o clima mórbido ficou magistralmente registrado na fotografia de Sven Nykvist,no uso e abuso da cor vermelha no cenário).
Numa casa de campo isolada, observamos o desgaste físico e psicológico das personagens (imagino que o uso constante da imagem do relógio sirva para reiterar isto) . Bergman faz uma crítica ácida ao moralismo social
quando Karin mutila-se para não ter mais relações com o marido, numa interpretação aterradora de Ingrid Thulin
Não dá para destacar uma interpretação em especial. Penso que as atrizes atuaram cada uma no seu limite, trazendo muito da experiência dramática adquirida no teatro para compor as personagens. O filme foi indicado a cinco oscars, incluindo melhor filme e diretor. Ganhou o prêmio de fotografia.
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraJuntamente com Metropolis, de Fritz Lang,2001: A space odyssey, é um dos marcos da ficção científica moderna. Inovador, visionário, revolucionário são alguns dos adjetivos que podemos atribuir ao filme de Kubrick. Antes de 2001, os filmes de ficção científica norte-americanos eram de baixo orçamento, os típicos "filmes B".
Kubrick soube como aproveitar o momento histórico, a corrida espacial, e usá-lo a seu favor. Profético: um ano após o seu lançamento, os primeiros astronautas pisaram na lua. Evolução humana, exploração espacial,alta tecnologia, vida extraterreste são os principais temas abordados pelo filme. Os 25 minutos iniciais mostram a "Aurora do Homem", os primeiros hominídeos.
Tive a IMPRESSÃO de que a evolução dos primeiros hominídeos atrelou-se ao contato estabelecido com o monolito, que os "ensinou" a usar a violência.
Há um salto de milhões de anos e, então, somos surpreendidos por uma "valsa espacial":a música Danúbio Azul é executada tendo como plano o espaço sideral. Como diria Arthur Clarke, "A maior evolução do homem é a conquista do espaço". Dentre todos os avanços tecnológicos previstos no filme, destaco o computador Hal (o personagem principal da história).
Aqui o diretor confundiu a minha cabeça: poderia Hal demonstrar sentimentos?? Tive a impressão que sim, devido ao instinto de sobrevivência que ele apresentou, e que é típico dos animais. Kubrick foi visionário mais uma vez, alertando-nos sobre a evolução tecnológica. Seriam os computadores, robôs, etc. capazes de atos ruins?
Hal é o personagem mais interessante da estória e um dos mais enigmáticos e complexos do cinema. O desfecho do filme é impressionante..Seria um olhar sobre o nosso futuro? Na época em que foi lançado, "2001: a space odyssey" não foi tão bem recebido como esperavam o diretor e a própria MGM(os gastos com a produção e divulgação foram os mais altos da história do estúdio, até então). Hoje, é um marco da ficção científica e inspiração para muitos diretores renomados como George Lucas, James Cameron e Spielberg. Recomendadíssimo.
Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela
3.7 82 Assista AgoraTanta subjetividade que QUASE desemboca num marasmo sem limites. Godard usa e abusa da linguagem para questionar a própria linguagem, analisa psico-etno-sociologicamente o cotidiano dos seus personagens e as mudanças (e mazelas) capitalistas que assolam a sua amada Paris e toca na polêmica questão da Guerra do Vietnã. Alguns diálogos são bem marcantes, especialmente alguns monólogos narrados pelo próprio diretor. Chamaram a minha atenção, em especial:
O sonho do menino; no qual ele dizia ver uma passagem por entre um abismo, onde somente uma pessoa poderia passar. Eis que aparecem dois gêmeos e, ao atravessar, os dois garotos se fudem num só. Os gêmeos eram o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul.>> A alegoria mais interessante do filme,na minha modesta opinião. Além de ser uma clara manifestação das convicções políticas do diretor.
Outra coisa que achei interessante foi aquele diálogo sobre o sapato norte-americano (usado para pisotear tanto vietnamitas quanto sul-americanos) e o monólogo de Godard tendo um café como pano de fundo.
Adorei a homenagem à Anna Karina no comecinho do filme (há um pôster da Nana -"Vivre sa Vie" - no apartamento de Gerard)...
Coloridíssimo e cheio de marcas capitalistas famosas (tem até sabão OMO!!), marcas que o diretor fez questão de destacar, 2 ou 3 choises que je sais d'elle é um filme de transição nouvelle vague-cinema político. Dessa fase,ainda prefiro o psicodélico Week-end...
Nosferatu
4.1 628 Assista AgoraUm dos maiores nomes do expressionismo alemão,juntamente com "O Gabinete do Dr.Caligari", Nosferatu, o filme mais conhecido de Murnau, é uma adaptação não autorizada de Drácula.
O filme,que fez escola entre os de terror, é dividido em quatro atos. Música marcante, interpretações exageradas, jogo de sombras (principalmente), preferência por ambientes soturnos são algumas de suas características. Sem falar na tensão entre Ellen e o conde Orlock..dá uma apreensão danada!!
É uma obra obrigatória para os amantes do gênero. Ou melhor, do jeito que o cinema e a literatura vêm deturpando o conceito de "vampiro", "Nosferatu" deveria ser um item obrigatório para todo mundo que curte cinema!!Afinal, o conde Orlock faz jus à sua condição, honra a fama de "criatura maldita" intrínseca a sua condição de vampiro.
Enfim, diretores e escritores de todo o mundo, por favor, aprendam com os antigos!!!
Viver a Vida
4.2 391Tenho sérios problemas com títulos em português, principalmente quando eles conseguem passar uma falsa idéia acerca do sentido intrínseco dos meus filmes preferidos. Em Vivre SA Vie não é diferente. Seguindo uma tradução literal (e que melhor se adequaria à obra), o título seria "Viver SUA Vida". Aliás, este era um adágio bastante popular entre as prostitutas francesas. A própria Nana confirma isso ao afirmar que nós somos os responsáveis por tudo o que nos acontece.
A estória é contada através de 12 quadros, num fluxo não necessariamente linear. Godard retoma aqui, em algumas cenas, uma técnica já utilizada - embora em menor intensidade - em "Acossado", que é filmar os seus atores de costas. Destarte, o espectador termina por ser incluído, de uma certa forma, na cena, como se assumisse também um papel na trama. Essa estilização é típica do teatro brechtiano,o qual Godard já havia tido contato, e objetiva a transformação do espectador de mero agente passivo para um ser crítico, ativo, consciente.
Nana é um encanto de menina-mulher. O próprio cineasta não poupou elogios à Anna Karina, dizendo que ela parecia uma "bonequinha saída dos filmes de Selznick". Karina consegue passar tanta verdade apenas com o olhar..isso é raro de se ver hoje em dia. O cineasta francês fez uma linda homenagem ao cinema de Carl Dreyer, através do filme "Le Passion de Jeanne d'Arc".
A cena em que os olhos lacrimosos de Falconetti, na tela do cinema, rapidamente se cruzam com os igualmente lacrimosos olhos de Nana é uma das coisas mais lindas que eu já vi no cinema. Sem falar que a idéia da morte como libertação parece ter sido livremente inspirada no filme de Dreyer.
Nana é uma vítima do destino que traçou para si. O submundo da prostituição é mostrado sem nenhum glamour, de forma crua e violenta, através da câmera-metralhadora do diretor e dos jump cuts estilizados. Outro ponto altíssimo do filme são as várias referências filosóficas: Montaigne, Platão, Baudelaire,Edgar Poe, o transcendentalismo kantiano, além de referências a Brecht; tudo isso - junto e misturado - regrado a deliciosas conversas..uma, aliás, muito especial.
Em suma, "é preciso emprestar-se aos outros e doar-se a si mesmo". Uma obra de arte!.
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1K Assista Agora¿Cómo es vivir una vida vacía? ¿Cómo es vivir una vida llena de nada?
Um filme precioso, sem dúvidas. Pesquisei e descobri que os únicos dois oscars de melhor filme estrangeiro que saíram para a América Latina pertencem à Argentina ("La Historia Oficial" e "El secreto de sus ojos". Este recebeu também o Prêmio Goya e aquele o Globo de Ouro). Não que o oscar seja, necessariamente, significado de qualidade; mas não dá-lo a este filme seria mais um dos grandes despropósitos cometidos pela Academia.
Enfim; uma adaptação decente,onde não há "sobras" no roteiro, direção primorosa (amei os planos e contraplanos magistralmente confrontados nos flashbacks) e boas atuações (como já elogiaram merecidamente o Darín, saúdo também Pablo Rago e Guillermo Francella).
Quanto à efetivação da justiça,a verossimilhança entre o nosso sistema judiciário e o argentino é explícita.
Entrevista Com o Vampiro
4.1 2,2K Assista AgoraPerdão Louis,mas Lestat é a personificação do mal, ou seja, ele realmente faz jus a sua condição de vampiro: sanguinário, sarcástico, sensualíssimo. Tom Cruise merece todo o meu respeito com essa produção. Kirsten Dunst já demostrava talento desde novinha.
Amei a referência ao filme "Nosferatu". Tenho uma saudadezinha de filmes como ele, onde vampiro faz jus ao nome.
Week-End à Francesa
3.8 108Week-end tornou-se mais conhecido pela sequência apocalítica do enoooorme engarrafamento (300m), com vários acidentes e pessoas mortas/machucadas.Todavia, o cenário apocalítico não se restringe ao travelling inicial, ele ganha força com o aparecimento de figuras históricas e de revolucionários canibais. Quando foi exibido na França, vários jovens tulmutuaram as salas de cinema. É importante lembrar que um ano depois estourava o Maio de 68, a Revolução Estudantil. Um dos maiores méritos de Godard foi encontrar o momento exato de captar toda a tensão política e trazê-la para a telona. É um filme revolucionário, sem dúvidas, porque rompe com a forma de se filmar. Godard vai muito além: Não espere nada pronto, ele te instiga, questiona, permite o espectador tirar as suas próprias conclusões..."Isto é um filme ou é a realidade?" Filosofia pura!!Diálogos platônicos, sartreanos...É a realidade ora!!Afirma um dos personagens.
Uma crítica nada sutil ao ideário burguês capitalista: através das peripécias do ambicioso casal protagonista, Godard tece um enredo linear (!), repleto de simbolismos e de diálogos nonsense. No decurso da estória, o diretor levanta questões polêmicas acerca do contexto econômico e político, usando os seus personagens para denunciar a velha luta de classes. Os diálogos são impagáveis (é um filme do Godard né!). Ver Jesus ser chamado de comunista não tem preço!!!O casal protagonista é a caricatura fiel do modo de vida burguês (observado pela lente godardiana): eles representam o falso moralismo, a individualização, a ambição desmedida.Por fim, só me resta elogiar a disposição das cores, que criou um efeito visual realmente muito bom, e as referências literárias e filosóficas."Em um mundo onde cão come cão, quem liga para uma amor que já morreu?"
Marley e Eu
3.9 3,3K Assista AgoraO maior mérito deste filme é que ele consegue atingir, despretensiosamente, a veia sentimental de quem já teve um cãozinho de estimação. Tenho que concordar com o que disseram aí embaixo,que a melhor atuação é a do cachorro (o Owen Wilson, por exemplo,consegue manter a mesma expressão durante todo o filme!!).
Não tem como não se divertir com as "neuras" do Marley,com as suas trapalhadas, a dancinha com a Jennifer...Assim como também foi impossível não chorar nos minutos finais. Por isso, confesso sem nenhum medo de parecer piegas: ri com Marley, mas ele me fez chorar muito mais...
O Amor em Fuga
4.1 92 Assista AgoraEnfim, a despedida!!E que despedida estupenda!!!!
”L´amour en fuite” encerra o ciclo de aventuras - e desventuras - de Antoine Doinel, num clima saudosista, onde se retomam vários momentos da infância, adolescência e fase adulta do protagonista através de flashbacks das quatro produções anteriores: Les 400 Coups, Antoine et Colette, Baisers Volés e Domicile Conjugal.
Em ”L´amour en fuite”, Doinel se divorcia amigavelmente de Christine e, finalmente, consegue um emprego fixo numa gráfica. Concomitantemente, namora Sabine, uma vendedora de discos, por quem se apaixonou através de uma foto.
O ambiente é nostálgico e perfeito para os amantes das aventuras de Antoine. Também é um acerto de contas com o passado, tanto de Doinel quanto o de Truffaut. Os romances efêmeros e a imaturidade amorosa de Antoine são justificadas pelo abandono pela mãe, que ele sofreu ainda na infância.
A conversa com o amante da mãe, Julien, serviu como uma espécie de conciliação com o seu passado (do protagonista e do diretor), porque se o relacionamento entre Doinel e a mãe não deu certo, é de se esperar que ele também tenha a sua parcela de culpa. No final das contas, ela o amava da maneira ”anárquica” dela. Finalmente ele conseguiu entender isso.
O reencontro com Colette, seu primeiro amor e primeira decepção, é outro ponto alto da trama. Ela é a responsável por expor publicamente a imaturidade do protagonista (usando, inclusive, trechos do próprio livro dele!!), que só se interessa por uma mulher até o momento da conquista e que, necessariamente, precisa estar cercado pela família da garota. Colette tem uma grande importância para a história de Antoine não só por ter sido o seu primeiro amor, mas porque muito do comportamento amoroso desvairado do protagonista pode ser encarado, à primeira vista (e SÓ à primeira vista), como uma consequência dessa rejeição. Depois, nós entendemos que o motivo é outro.
O romance com Sabine parece ser verdadeiro. Há de se lembrar que, neste longa, Doinel já está com 35 anos e que o amor exige maturidade. Sem falar que a circunstância através da qual ele se apaixona pela moça é bem excêntrica (e romântica!).
Em suma, L´amour en fuite não é somente a despedida perfeita de um dos personagens mais amados do cinema. É também um acerto de contas - e conciliação - de Truffaut com o seu passado, mas precisamente com a sua mãe. Eu, como cinéfila e amante dos filmes franceses, só tenho a agradecer ao personagem que me fez amar ainda mais o cinema e ao diretor que mostrou ser possível fazer verdadeiras obras de arte com um orçamento bem limitado. Só me resta encerrar com a linda canção de Alain Souchon..
(...)
”A peine installé, je quitte le deux-pièces cuisine.On peut s'appeler Colette, Antoine ou Sabine.Toute ma vie, c'est courir après des choses qui se sauvent :Des jeunes filles parfumées, des bouquets de pleurs, des roses...C´est l´amour en fuite, l´amour en fuite...”
Domicílio Conjugal
4.1 114 Assista AgoraContando com o média-metragem Antoine et Colette, Domicile Conjugal é o quarto filme com Antoine Doinel. Ao contrário das outras três produções, este não foi recebido muito bem pela crítica..infelizmente!
A idéia do filme surgiu de Henri Langlois, um dos fundadores do Cahiers du Cinèma e amigo do Truffaut, que desejava saber como seria a vida de casado de Doinel.
Em Domicílio Conjugal, Doinel já está com quase trinta anos, mas continua imaturo no amor e é incapaz de se manter em um emprego fixo.
O destaque mais importante deste filme, a meu ver, são as tentativas frustradas de Antoine de escrever um livro...só entendemos realmente a importância do livro no último filme de Doinel, Amor en Fuite
Há bons momentos cômicos, nos quais é possível um sorriso leve, mas nada de exageros. O diretor soube aproveitar muito bem os coadjuvantes: o homem que pede dinheiro emprestado constantemente, a garçonete que flerta com Doinel, os vizinhos italianos...Através deste filme, pode-se entender uma das razões da imaturidade do nosso heroi - a partir de uma revelação do próprio personagem - quando ele menciona que não consegue se apaixonar apenas por uma mulher, mas por toda a sua família. Segundo o meu humilde entendimento, esta é uma clara tentativa de preencher AQUELE vazio da sua infância. Nós, que acompanhamos as aventuras de Antoine desde à infância, sabemos que ele foi criado em uma família totalmente desestruturada. A consequência é que ele vê nas famílias das moças com que se relaciona, primeiro Colette e depois Christine, a família que não teve.
Em suma, um belo retrato de um casamento condenado; não por falta de amor, mais por falta de maturidade do nosso heroi, pontuado com um terno olhar sobre a paternidade.
Beijos Proibidos
4.1 138 Assista AgoraBelíssima homenagem ao amor, de forma geral. Aliás, Truffaut sabia falar de amor como ninguém. Em "Baisers Volés", apreciamos a instabilidade amorosa e profissional de Antoine Doinel, aqui com uns vinte e poucos anos.
Antoine não foi nada precoce no amor, pelo contrário, acredito que a decepção com Collete o tenha afetado mais do que deveria. A partir de então, o nosso heroi passou a contentar-se com amores provisórios, em migalhas: procurando em algumas prostitutas, numa sensata Christine, numa admirável senhora casada...
É incrível como sentimos a onipresença do diretor em cada cena, graças ao modelo de cinema autoral desenvolvido pelos cahiers, do qual Truffaut foi um fiel representante. Conseguimos senti-lo através das constantes referências à leitura e escrita: Doinel lendo Balzac (um dos autores preferidos do Truffaut), escrevendo uma carta de amor à Fabienne Tabard, os meigos bilhetinhos trocados com Christine. Tudo isso faz com que a sua forma de fazer cinema transpareça pureza e verossimilhança. Antoine, Christine ou Madame Tabard poderiam ser qualquer um de nós.
Não posso deixar de elogiar Delphine Seyrig. Sua elegância é afrodisíaca. Entendo porque Doinel encantou-se com ela: dicção perfeita, o jeito de se portar e gesticular. Não fiquei nada surpresa ao saber que era atriz de teatro, pelo contrário, sua interpretação, ao mesmo tempo tão enxuta e elegante, bem que a denunciou!!!
Por fim, a música...um bálsamo para a alma..
Que reste-t-il de nos amours/Que reste-t-il de ces beaux jours/Une photo, vieille photo/De ma jeunesse
(...)
Bonheur fané, cheveux au vent/Baisers volés, rêves mouvants/Que reste-t-il de tout cela/Dites-le-moi (...)
Indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro. Não levou, mas isso realmente importa?? Penso que não. O que importa é que, através de filmes como este, Truffaut eternizou-se como o "cineasta do amor", contribuindo com preciosidades para o cinema.
Seus amores provisórios MUITO contribuiram para fazer de Truffaut um cineasta definitivo:D
Não Me Abandone Jamais
3.8 2,1K Assista AgoraO argumento (ou ponta-pé inicial, como preferirem) do filme é realmente muito bom. Acredito que se vc o analisa sob o prisma atual do desenvolvimento da ciência e da medicina, o tema abordado não é impossível de acontecer, pelo menos em um futuro próximo. É aí onde reside o problema: até onde o ser humano pode brincar de Deus e com que direito ele pode usar e abusar da vida do outro. Acredito que o filme peca por não adentrar nas questões éticas, tendo em vista que elas não são abordadas nem mesmo superficialmente. Outra coisa que me incomodou bastante foi a passividade dos personagens. Eles são resignados demais; o que os tornou, aos meus olhos, um tanto desacreditados .
uma parte que mostra bem isso é quando o tommy diz que pode não ser um bom humano, mas é um bom doador
Fora isso tudo, o filme ainda sofre com gravíssimos erros de continuação, o que fez com que algumas cenas parecessem deslocadas, desconexas. Isso é muito comum em filmes que são adaptações de livros, mas o modo como o enredo é conduzido, aqui, termina por não convencer em algumas partes.
Vocacional: Uma Aventura Humana
4.4 12Toni Venturi prestou um grande serviço público com esse documentário. Tenho orgulho de produções brasileiras como esta. É impressionante, e ao mesmo tempo frustrante, saber que já existiram escolas públicas como os Ginásios Vocacionais. Baseada no método de educação freireana, voltado para um pensar crítico, onde o aluno tinha a consciência de ser protagonista de sua própria história e com um plano de trabalho totalmente inovador (onde o próprio aluno construia o plano de curso); Maria Nilde e sua equipe revolucionaram o ensino público há mais de quarenta anos atrás.
Outra coisa que eu achei o máximo foi o fato de estudarem o filho do banqueiro e o filho do porteiro na mesma escola, ou seja, zero de descriminação:quem ali estudava o fazia por seu próprio mérito, já que foi aprovado no vestibulinho, exame obrigatório de entrada na instituição. Outra coisa fascinante era a inexistência de hierarquização professor-aluno (fato revolucionário para os padrões da época) e a ênfase da importância de se fazer auto-críticas constantemente.
Com idéias tão vanguardistas, o Vocacional terminou sendo taxado por subversivo pelo regime militar. A própria Maria Nilde foi presa. Numa época onde pensar poderia ser extremamente perigoso; o trabalho desenvolvido pelos Ginásios Vocacionais, baseado essencialmente na construção de um saber crítico voltado para a realidade, foi considerado pelo regime militar como uma propaganda subversiva, que corrompia a juventude. Depois disso, o Vocacional nunca mais foi o mesmo, fechando definitivamente as portas anos depois.
Como eu já disse, é impressionante e - ao mesmo tempo - frustrante, saber que existiram escolas públicas assim. Ao analisarmos a realidade das nossas instituições de ensino públicas, constatamos um total descaso, um sucateamento do ensino público. O Vocacional apresentava um padrão de qualidade de ensino que, infelizmente, as nossas atuais escolas públicas estão à anos-luz de alcançar.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KProvavelmente, é a obra mais conhecida e mais auto-pessoal de Bergman. Ambientada na Suécia medieval do séc.XII, "O sétimo selo" consegue ser ,concomitantemente, existencialista e surreal, filosófico e cômico,e, principalmente, religiosamente crítico. O filme tem como abertura uma passagem do livro das revelações-o Apocalipse-em uma harmonia perfeita com a música Dies Irae, que se apresenta de sobressalto. O pano de fundo não poderia ser mais aterrador: numa época onde imperava a fome, a guerra e a peste; onde a Igreja pregava a fé através do medo, o cavaleiro Antonius Block (alter-ego do próprio Bergman) regressa da terra santa, onde estave em campanha por dez anos, juntamente com o seu fiel escudeiro, Jons. Depois de presenciar tantas mazelas e sofrimento, o cavaleiro começa a se questionar sobre a existência de Deus: Seria ele a personificação dos nossos próprios medos? Eis que surge a Morte (personificada)a sua frente, querendo dar-lhe o gélido abraço, e Antonius a desafia para um jogo de xadrez. O que eu achei bem interessante, nesse momento, foi a feição plácida do cavaleiro: foi como se ele já esperasse por aquilo, mas precisava conseguir um tempo (por isso a idéia do desafio de xadrez) para adquirir conhecimento - e não meras suposições religiosas vagas - para que a sua vida tenha algum sentido.
Uma figura que merece destaque é o escudeiro Jons. Niilista, sarcástico, parvo e cético ("Deus está no alto. Ele está tão longe. Enquanto o irmão diabo, o vemos a todo instante"), ele é o oposto do seu patrão. Na sua jornada com Antonius, eles encontram um casal de saltimbancos, Jof e Mia, que vivem pacatamente com o filhinho de um ano. Os saltimbancos apresentam uma intensa alegria de viver, que contrasta com o caos da época. Antonius se encanta com tamanha felicidade e amor, que ele pensava não puder encontrar no meio de tanta miséria,
tanto que termina por salvar a vida do casal, quando eles estão acampados no meio da floresta e a Morte aparece para dar continuidade ao jogo.
Enfim, é um obra icônica, com uma crítica religiosa incisiva e repleta de questionamentos - é Bergman né?! - que emergem da tela e abrangem o espectador. Por exemplo, que idéia estupidamente brilhante nos é apresentada pelo diretor: é possível um mero mortal ludibriar a Morte no seu próprio jogo? E que belíssimo pano de fundo foi a cena da dança com a Morte!Acredito que uma citação do filósofo Heidegger é bastante válida para sintetizar essa obra do gênio Bergman: A única certeza da vida é a Morte.
Faroeste Caboclo
3.2 2,4KNão acredito que Isis Valverde vai interpretar a Maria Lúcia...poderiam ter convocado uma ATRIZ n鬬