as primeiras reações que estão saindo na internet estão dando a entender que o filme está surpreendente! e falam, principalmente, que o ben mendelsohn está roubando a cena! acho que vai ser mais um sucesso da marvel!
finalmente conseguiram faze rum filme trash do predador. humor previsível e risível. enredo deplorável. me impressionei de ver sterling k brown e olivia munn em um filme como esse
"Marvel’s Agents of SHIELD - 5ª Temporada | Crítica
Mais um ano excelente de AoS que a fez garantir uma sexta temporada
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Nick Blood, Ruth Negga, Natalia Cordova-Buckley, Adrian Pasdar, Jeff Ward, J. August Richards, Briana Venskus, Catherine Dent, Dominic Rains, Joel Stoffer, Peter Mensah, Dove Cameron, Florence Faivre.
Aviso: esse texto contém spoilers da trama!
Quanto o quarto ano de AoS terminou, os fãs foram deixados na expectativa com um dos maiores ganchos ao longo da história da série: como raios Coulson & Cia foram parar no espaço? Voltada para esse mistério nos primeiros episódios, Agents of SHIELD começa o que então seria sua última temporada, mas que, merecidamente, foi renovada para mais um ano.
Vinda de um excelente quarto ano, a série tinha o fardo de manter a qualidade a qual conseguiu se alicerçar a partir do terço final do primeiro ano. Para isso, a obra – que há muito tem vida independente dos filmes – resolve ser ainda mais corajosa que o ano anterior e coloca em sua mitologia as viagens no tempo (recurso que poderá vir a ser utilizado em Vingadores 4). Com muita calma, a obra vai inserindo informações para o conhecimento dos fãs, de modo que as coisas vão se assentando com muita naturalidade. Assim, os três arcos que aparentemente são bem independentes, na verdade, se entrelaçam de forma majestosa, assim como no ano passado.
Na verdade, a fórmula do roteiro utilizada foi exatamente a mesma, onde há um primeiro arco, mais enfadonho e cheio de informação (Kasius e a Destruidora de Mundos); o segundo, um pouco mais breve, com bastante ação (Ruby e a nova Hidra); e um terceiro, muito pequeno, com um clímax que aglutina bem os 22 episódios (Graviton e a ameaça de Thanos).
Seguindo os passos do irmão Joss Whedon (diretor dos dois primeiros Vingadores), Jed Whedon continua trabalhando o elenco com maestria. Se, por um lado temos a dupla Coulson/Daisy como principal, em certos momentos, a série consegue trabalhar muito bem Fitz/Simmons e Mack/Yo-yo. Até mesmo por isso, nesse ano, a May fica evidentemente em segundo plano, dando espaço para o crescimento das demais personagens.
Todo o elenco atua de forma uniforme e satisfatória, mas é impossível não destacar o trabalho de Iain de Caestecker. Desde o primeiro ano, Fitz sofre os maiores cliffhangers e os melhores contrastes (o Leopold, do Framework, é espetacular). A questão é que não se sabia se era o ator que era favorecido pelo personagem ou vice-versa. Agora, mesmo tendo poucos grandes momentos Fitz continua roubando as cenas, confirmando o talento do intérprete.
Idealizada como uma temporada conclusiva, o quinto ano de Agents of SHIELD busca informações de todos os outros anos da série com intuito de fechar um círculo perfeito – não por acaso, muitos personagens repetem tudo que fizemos nos trouxe até aqui, testando nossa inteligência e paciência. Portanto, temos de volta o Gravitonium, o soro da centopeia, Deatklock, etc.
O verdadeiro ponto baixo da série é o quão decepcionante é o distanciamento cada vez maior entre cinema e televisão. Mesmo mencionando a vinda de Thanos no arco final, os fãs precisam se contentar com meras menções dos eventos nas televisões e nos jornais, pois não há um envolvimento mais direto entre as mídias. É um verdadeiro anticlímax que a solução achada pelos roteiristas tenha sido finalizar a temporada antes do fatídico estalar de dedos do Titã Louco, de sorte que não podemos ver as consequências de seu ato.
Por mais que a séria tenha sido renovada para mais um ano, a quinta temporada de AoS é um claro final de ciclo. A série que começou mostrando o retorno de Coulson da morte, termina com ele finalmente abraçando seu destino, sabendo que fez o seu papel. Não só salvou o mundo todos os anos, mas também reuniu um grande de time de super-heróis. Parafraseando o querido agente, em seu brinde final: eu tive a oportunidade de viver com muitos super-heróis, nenhum deles maiores que vocês.
Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo. Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely. Com Josh Brolin, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Benedict Cumberbatch, Tom Holland, Chadwick Boseman, Zoe Saldana, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Peter Dinklage, Idris Elba, Danai Gurira, Benedict Wong, Pom Klementieff, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Chris Pratt.
Em 1980, com o lançamento da sequência de Star Wars: Uma Nova Esperança (que ainda não tinha esse título), as pessoas foram pegas de surpresa saindo do cinema após um filme em que, por incrível que pareça, os mocinhos não venciam. Como pode, no fim do filme, um dos mocinhos ter o braço amputado, o outro ser congelado e a outra sequestrada? Esse sentimento de derrotismo foi essencial para que em O Retorno de Jedi o espírito de superação pudesse compensar a perda de anos atrás.
Agora, em 2018, a história se repete em Vingadores: Guerra Infinita. O filme, prometido há mais de seis anos, é a culminação de um universo construído com zelo e planejamento desde o Homem de Ferro. Inclusive, não é exagero algum suspeitar que o filme estreou em 26 de abril, enquanto o primeiro filme de Tony Stark chegou às telonas no dia 30, há mais de dez anos.
A trama, facilitada ao longo das dezoito películas, é muito linear: Thanos, último sobrevivente de sua raça, anseia por encontrar o equilíbrio do universo. Para isso, ele vai em busca das Joias do Infinito, não poupando esforços para encontrá-la. Para quem acompanha o universo cinematográfico da Marvel, o enredo não tem novidade alguma. Partindo do ponto em que Thor: Ragnarok terminou, o filme consegue unir os super-heróis todos de forma muito fluida e natural.
De maneira muito inteligente, para não estragar o clímax que virá no próximo Vingadores (ainda sem título definido), os irmãos Russo optaram por dividi-los em duas equipes, com características semelhantes, a fim de deixar mais orgânico esse encontro dos Guardiões da Galáxia com os Vingadores, facilitando a troca de diálogos entre Homem de Ferro e o Senhor das Estrelas, por exemplo.
Além disso, agora fica mais evidente ainda a importância que Taika Watiti tem para Thor. Após usar de um humor ácido e autodepreciativo em Ragnarok, a jornada do Deus do Trovão com o Rocket e o Groot é um dos pontos mais altos do filme. É muito clara a crescente que o asgardiano vem tendo desde A Era de Ultron, onde é o primeiro a mensurar o impacto das Joias do Infinito na vida de todos. Não seria de se espantar que ele fosse um dos remanescentes da equipe antiga na fatídica transição para a nova geração.
Em termos de atuação, o blockbuster não fica com menos destaque. Em um filme em que o vilão é o protagonista, Brolin entrega uma atuação memorável no mesmo nível que Heath Ledger fez com o Coringa anos atrás. Parece que a Marvel repete o que fez com Killmonger (Pantera Negra) e constrói um vilão não-linear. Assim, ao mesmo tempo que abominamos as ações de Thanos, compreendemos seus ideais e por que ele faz o que faz.
A superpopulação, trabalhada por Thomas Maltus (progressão aritmética dos alimentos x progressão geométrica da população) até os pensadores contemporâneos, é um dos problemas mais iminentes que estamos por enfrentar. No caso do filme, essa questão se projeta da Terra ao universo, de sorte que o vilão acha que precisa eliminar metade de suas pessoas para atingir o equilíbrio perfeito. Sem teorias de higienização ou supremacia de alguma raça, o vilão deixa muito claro que não visa eliminar ricos ou pobres, deixando eles à própria sorte. Assim, fortalecendo a máxima de que “cada vilão é o herói dentro de sua própria história” o Titã acredita ser um messias e, para isso, não poupa esforços, inclusive assumindo certos sacrifícios e se ressentindo por eles.
Da mesma forma que o vilão, Downey Jr., o Homem de Ferro, entrega sua melhor atuação no manto do gênio, bilionário, playboy e filantropo. Sendo muito claro de que a invasão o assombra desde os eventos em Nova York, o ator é muito eficiente em tomar para si a responsabilidade de salvar o planeta.
Com menos destaque que a equipe que luta em Titan, a equipe da Terra também tem seus bons momentos. Por mais blazé que seja o relacionamento de Wanda com Visão, isso acaba sendo uma importante engrenagem na obra, até mesmo porque o andróide é um MacGuffin* ambulante. Com menos destaque, Capitão América, Pantera Negra, Viúva Negra e outros têm muitas cenas de ação e poucos diálogos, algo que os diretores já mencionaram que não se repetirá na sequência.
Claro, nem todas as escolhas do texto foram acertadas. Se por um lado a união dos heróis é muito natural, por outro, a Ordem Negra de Thanos (com exceção do Fauce de Ébano) é apresentada de forma displicente e descartados negligentemente. Sem impacto ou urgência, os generais de Thanos vão sendo eliminados de modo que Corvus Glaive e Estrela Negra mal falam.
Da mesma forma, a escolha do cliffhanger nos últimos dez minutos, da forma que foi tomada, tira o impacto almejado. É admirável a coragem do roteiro em matar Loki, Heimdall, Gamora e Visão. Contudo, a força do estalar dos dedos do Thanos é subtraída quando vemos que personagens como Homem-Aranha, Dr. Estranho e Pantera Negra estão entre as baixas, por exemplo;, pois são personagens que possuem seus contratos renovados para mais um filme. Portanto, da mesma forma que toma-se um salto de coragem ao eliminar alguns heróis, usa-se de outros para que o espectador se console ao começarem os créditos.
Vingadores: Guerra Infinita é um dos filmes mais emblemáticos do nicho que representa. Como muitos definem, trata-se de um filme-evento. Uma homenagem a todos aqueles que acompanham a saga desde sua fase embrionária, mas sem esquecer do espectador médio. Uma obra comprometida que tem o grande atributo de renovar uma categoria que estava começando a dar os primeiros traços de cansaço. E o melhor de tudo é a incerteza do futuro, já que a última frase dos créditos garante apenas que um nome vai voltar.
Thanos.
Nota: 6/6 (Ótimo)
*Na ficção, MacGuffin (às vezes McGuffin ou Maguffin) é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa."
Criado por Melissa Rosenberg. Com Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, Janet McTeer, J.R. Ramirez, Wil Traval, Leah Gibson, Rebecca De Mornay, Terry Chen, Nichole Yannety, Callum Keith Rennie, John Ventimiglia, David Tennant.
Uma das coisas que aprendemos na vida é que, em sagas – especialmente trilogias –, o segundo capítulo é o episódio mais sombrio. O Império Contra-Ataca, As Duas Torres, De Volta para o Futuro II e Batman – O Cavaleiro das Trevas são apenas alguns exemplos que comprovam o argumento. Lógico, existem exceções; Jessica Jones, todavia, que teve uma primeira temporada extremamente impactante mostrando o impacto dos abusos de Kilgrave em sua vida, consegue ser ainda mais melancólica.
O enredo da série é construído a partir das lacunas deixadas pelos anos anteriores, explorando mais a história do acidente de carro na infância de Jessica (Ritter) e as experiências que acabaram deixando-a com poderes meta-humanos. Todos os elementos que cativaram tanto o público ainda estão presentes: a narrativa continua densa e a atmosfera noir ainda se faz presente, embora numa intensidade mais moderada. Nesse ritmo, a séria continua se embrenhando nos traumas da heroína, mostrando que os eventos envolvendo Kilgrave (Tennant) foram apenas uma página de uma vida de rancor.
Novamente, nos deparamos com os mesmos problemas de tantas outras séries da Netflix. Os treze episódios facilmente poderiam ter sido simplificados a quatro, ou até mesmo a um longa-metragem, tamanha a falta de profundidade da trama. Para poder preencher a grade dos treze capítulos (e ser menos enfadonha do que já é), a série acaba lançando mão de subtramas desinteressantes e desnecessárias com Malcolm (Darville), Hogarth (Moss) e Trish (Taylor). Nenhum dos coadjuvantes se escapa, todos tem seu jeitinho especial de serem irritantes.
Aliás, é surpreendente que uma série nos cozinhe em banho-maria, de sete a oito episódios, para definir de forma concreta um vilão. São problemas de texto que foram tão facilmente evitados na segunda temporada de Demolidor – dividir os treze episódios em dois arcos distintos e uni-los nos dois últimos episódios –, que acabam assustando o espectador os enfrenta novamente em um claro retrocesso. Por incrível que pareça, o episódio emblemático vai acontecer no 11º capítulo apenas, onde as discussões mais importantes tomam corpo, para novamente baixar a bola nos últimos dois.
Verdade seja dita, tanto na primeira temporada quando em Os Defensores, as obras terminaram que a personagem enfim tinha aceitado seu manto de super-heroína. Agora, novamente, enfrentamos os mesmos questionamentos e as mesmas negações, um loop que aparentemente não terá fim.
Lógico, ainda estão lá os elementos que criaram a identidade da personagem. A fotografia intercalando os tons entre o azul e púrpura, a música noir urbana e a atuação de Krysten Ritter – cada vez mais empática e cativante como heroína – são pontos fora da curva, que vai ladeira abaixo. Outra característica que revitaliza de certa forma a Marvel na televisão é que os easter-eggs são menos contidos; seja em um garotinho comparando Jessica ao Capitão-América ou na detetive brincando com a expressão “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Em um artigo, o crítico de cinema Matt Singer é muito feliz em definir uma ideia geral das séries da Netflix: "cada vez mais, quando alguém me recomenda uma séria da Netflix, basicamente a mesma observação é feita: ‘você precisa insistir na série. Os primeiros episódios são bem lentos". Mais uma vez, a empresa de streaming e produtora não nega sua imagem de falta de coesão. Infelizmente, o ápice desse problema aconteceu com uma série que teve um primeiro ano fantástico. Mais um problema a ser enfrentado pela Jessica Jones.
Dirigido por Sean Baker. Escrito por Sean Baker e Chris Bergoch. Com Brooklyn Prince, Christopher Rivera, Aiden Malik, Valeria Cotto, Bria Vinaite, Willem Dafoe, Mela Murder.
Existem certas personalidades que caem nos mimos dos públicos que, por mais que se tente ver algum diferencial, não se vê nada além de uma personalidade pretensiosa. Esse é o caso de Sean Baker. Apaixonado por retratar o lado que a sociedade prefere não ver, o diretor – aclamado após Tangerina, que todos repetem incansavelmente que foi filmado integralmente em iPhones, um marketing proposital, desconfio –, volta a ser reverenciado em Projeto Florida, que mostra a periferia dos parques de Walt Disney World.
Seria muito legal falar sobre a trama do filme, isto é, se ele tivesse alguma. Na verdade, o filme se arrasta ao longo de sua duração sem nenhum enredo aparente. Apenas o dia após dia de crianças arteiras, mães negligentes e funcionários entediados. É frustrante ver a rotina sofrível dos personagens, sem objetivos, apenas vivendo um dia após o outro.
Assim, somos expostos a uma série de situações em que crianças, com atuações bem medíocres, ficam saçaricando de um lado para o outro, sem saber que o nome daquilo é tédio. Nos poucos momentos de lucidez, vemos uma parte da vida de Halley (Vinaite), mãe de Moonee (Prince), que precisa matar um leão por dia para poder garantir um teto para si e sua filha. Aliás, o diretor e roteirista tenta trazer de forma desastrosa certa humanidade aos personagens, o que acaba ficando forçado e desonesto. Com isso, vemos os diabretes rebolando, fazendo sinais obscenos, falando palavrões, na falha tentativa de mostrar que isso é natural a eles, mas apenas vira um fiasco.
Com atuações ruins e regulares, não era de se espantar que Willem Dafoe fosse indicado a melhor ator coadjuvante. Com o filme nivelado por baixo, quase no chão, o experiente ator surge como um farol em meio às sombras.
O roteiro, absolutamente vazio de engrenagens motoras, é maçante e moroso. Eivado de repetições, somos massacrados com as mesmas cenas dia após dia: é banho de banheira aqui, a mãe vendendo perfume ali, um sorvetinho lambido a mil línguas, e mais arte.
Se por um lado grande parte do filme não funciona de forma alguma, o mesmo não pode se dizer da fotografia. Abusando de cores vibrantes e muitos contrastes, conseguimos perceber o mundo através do olhar dos diabinhos, onde qualquer banalidade pode se transformar em algo fantástico.
Mostrando mais uma vez toda sua pretensão, Sean Baker tenta impressionar o público com a ordinariedade. Mais uma vez, não convence. Na verdade, a melhor notícia, após os longos 111 minutos de película é apenas uma: não teremos mais aquele maldito aposto “todo filmado em câmeras de iPhone”.
Confira a crítica do Catacrese com alguns pequenos spoilers!
"The Post – A Guerra Secreta | Crítica
Traçando um paralelo com a atual política norte-americana, Spielberg é claro: a imprensa serve aos governados, não aos governantes
Dirigido por Steven Spielberg. Roteiro por Liz Hannah e Josh Singer. Com Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Alison Brie, Carrie Coon.
Não é novidade a ninguém que Steven Spielberg é abertamente contra Donald Trump. Na verdade, seu ímpeto para criticá-lo é teu forte que, há apenas onze meses, o diretor lia o roteiro pela primeira vez. Assim, em toque de caixa, nasce The Post – A Guerra Secreta.
A trama do filme, baseada em fatos, narra a ascensão do jornal The Washington Post ao posto de um dos veículos midiáticos mais importantes do mundo. Nesse caso, trata-se de uma divulgação de documentos sigilosos do Pentágono que asseveravam que o governo sabia que a Guerra do Vietnã era uma batalha perdida. Com isso, precisaram lidar com a censura e a pressão do governo, inclusive através de ameaças de fechar o jornal e serem presos por traição.
O roteiro, por conta da iniciante Liz Hannah e de Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados, quando percebemos muita afinidade do roteirista com o mundo jornalístico), é muito coerente quando exibe elementos muitos distintos que caracterizam cada um dos personagens. Bradlee (Hanks), Graham (Streep) e McNamara (Greenwood) são representantes claros das forças que representam, quais sejam, a imprensa, a família e o Estado, respectivamente. Assim, Graham vê-se em um jogo constante em meio à queda de braço das instituições, de modo que precisa de coragem escolher lados e ignorar laços de amizade.
Com atuações excelentes, o filme não só se destaca por conteúdo, como também se firma pelos destaques individuais. Contudo, os verdadeiros destaques ficam por conta de Streep e Odenkirk, ambos perfeitamente transparentes apenas com o olhar – a cena de Graham ao telefone, quando decide publicar o material, é emblemática, pois vemos claramente suas preocupações e seus pensamentos.
A direção de Steven Spielberg, um dos maiores e mais versáteis diretores vivos, é excelente no momento em que consegue aliar à trama política, a importância social do empoderamento feminino. No início, Graham era apenas a herdeira de um jornal de bairro – basta ver nas primeiras cenas que Bradlee mal a olha nos olhos –, todavia, na medida em que os fatos vão ocorrendo, a personagem não só ganha seu respeito, mas também da bancada executiva do jornal (o momento em que Graham desse as escadas do Tribunal apenas sob os olhares admirados de mulheres é o firmamento do ideal feminista).
Claro, a obra não escapa dos clichês que Spielberg muitas vezes cai propositalmente para criar o laço com o espectador. As cenas da impressão do jornal com a música de triunfo de fundo, por mais belas que sejam, são o ápice do didatismo do diretor, quase uma autorização no sentido de “pronto, agora podemos comemorar”.
Em uma entrevista ao Express, Spielberg relata que “o filme foi feito com urgência por causa da atual administração do governo, atacando a imprensa e rotulando a verdade a seu bel-prazer”. Após encerrar a película, fica muito claro que sua intenção, de fato, não é ganhar o prêmio de melhor filme da Academia. Ele apenas quer deixar o protesto reverberar nas paredes do Teatro Dolby; e ninguém vai calar ele.
- Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio. - Oliver. Eu lembro de tudo.
Dirigido por Luca Guadagnino. Roteiro por James Ivory. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears.
O primeiro amor é sempre algo de difícil absorção. A vontade de estar junto, o nervosismo ao ver a pessoa, a insegurança de falar algo que não devia. Cada uma dessas etapas podemos ver em Eliot (Chalamet), seja em seus olhos trêmulos, nas suas costas curvadas, ou até mesmo em seus atos involuntários, como colocar um óculos para impressionar seu novo amor, Oliver (Hammer).
Com a trama lenta, feita para ser apreciada de forma contemplativa, o filme narra a história vista na perspectiva de Eliot, um adolescente de dezessete anos, que descobre o amor com Oliver, um aluno de seu pai (Stuhlbarg, parecidíssimo com o Robin Williams de Gênio Indomável) que vai passar um tempo em sua casa, no interior da Itália. Já nos primeiros minutos, podemos perceber que, por vermos o amor da perspectiva do jovem, a obra abunda de fotografias ensolaradas e bucólicas (por conta de Sayombhu Mukdeeprom) e figurino leve (de Giulia Piersanti), expondo muito a pele, deixando a atmosfera muito sensual. Por fim, a aura romântica se completa com a trilha sonora clássica e com a sutilidade com que os fatos vão se sucedendo.
Na verdade o erotismo é algo muito presente a todo momento. Sem nudez apelativa ou imagens explícitas, o trabalho faz questão de manter a pureza do primeiro amor. O início vagaroso (uma das maiores críticas da obra é o enredo arrastado nos primeiros dois atos) traça um paralelo perfeito com seu próprio argumento, como se fossem as preliminares do próprio ato sexual. A atração intelectual inicial, a confusão e a tensão física sedimentam um clímax de autoconhecimento que somente aflora no terceiro ato, que vai, sim, desmontar o mais duro dos corações.
Com um roteiro muito inteligente, a obra consegue escapar das armadilhas tradicionais que textos similares acabam cedendo. Ao retratar o filme por um coming of age, deixa-se de lado a questão da homofobia (uma vez que a família de Oliver é quase que integralmente ignorada). Não há preocupação com a sexualidade de ambos senão a entrega de um para o outro.
A atuação de Chalamet, como Eliot, é feita de forma muito sincera. O espectador realmente acredita nos sentimentos experimentados. Na verdade, sua forma de encarar suas experiências de peito aberto – Eliot em nenhum momento sente vergonha de se apaixonar por alguém do mesmo sexo – faz um contraste perfeito com a postura de Oliver, que claramente mostra-se afetado pelos pudores injustamente impostos por sua família.
O início paulatino talvez incomode a plateia mais imediatista, que pode considerar o filme um drama enfadonho. Entretanto, muito mais do que isso, Me Chame pelo Seu Nome é um filme sobre o amor. Como o próprio título faz questão de evidenciar, mais do que encontrarem um ao outro, eles encontraram a si mesmos. Ao chamarem ao outro pelo seu próprio nome, é evidente que não se trata de um simples casal, mas sim de reconhecer sua parte que falta.
Dirigido por Craig Gillespie. Escrito por Steven Rogers. Com Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Caitlin Carver, Mckenna Grace, Cara Mantella, Bobby Cannavale.
Presença constante em nossas vidas, a mídia volta e meia escolhe casos até exaurir o assunto e massacrar todos os envolvidos; aqui, aconteceu com o goleiro Bruno, Suzane Von Richthofen, casal Nardoni. Nos Estados Unidos não é diferente, antes do julgamento de O.J. Simpson, o país estava atônito com o caso de Tonya Harding, a patinadora que supostamente conspirou com um ataque a sua concorrente, Nancy Kerrigan.
Desde o início, a obra é bem sincera sobre que viés irá adotar. Na forma de mockumentary (falso documentário), o filme simula entrevistas com os envolvidos no caso. Em tom irônico, cenas das entrevistas são intercaladas com os fatos narrados. Assim, utilizando da ironia como novidade na narrativa, o trabalho se diferencia das demais biografias costumeiras. A bem da verdade, embora adote a versão de Tonya para os fatos, o roteiro tenta ao máximo ser empático com a vida da patinadora, mas nunca exculpante.
Graças a entoação escolhida, a obra consegue extrair o que há de melhor na performance de Margot Robbie. Na ironia a atriz cresce com todas suas viradas de olhos e acidez humorística. Interpretando Tonya desde os quinze anos da patinadora, até mesmo os bráquetes eram desnecessários, tamanha a eficiência de Robbie.
Tonya teve uma vida difícil. Moral, psicológica e fisicamente abusada por sua mãe e, mais tarde, por seu marido, a atleta constantemente tinha que viver com os hematomas e as humilhações provindas de ambos. Assim, desde a adolescência vê-se que, embora extremamente talentosa, Tonya não se identificava com as demais colegas – e nesse ponto o contraste é muito evidente, considerando a imagem angelical que o espectador tem de patinadoras. Nesse ponto, LaVona (interpretada por Janney) é o maior destaque do filme, já que, vinda da comédia, a atriz traz à tona o humor negro e, até mesmo, certa maldade como mãe da patinadora.
Curiosamente, Janney, considerada uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, divide o posto com Laurie Metcalf (Lady Bird), esta com mais destaque dramático que irônico. Ambas conhecidas pela veia humorística, mas que se transformaram em seus papeis paralelos de mães imperfeitas.
A cenas de patinação, considerando sua dificuldade óbvia em utilizar o CGI, são feitas de forma pouco comprometida. Em todos as sequências, o espectador percebe que a face de Robbie foi inserida digitalmente no corpo de uma dublê, tirando muito de seu impacto.
Com uma trilha sonora bem escolhida, Eu, Tonya é pautada por autos e baixos. Muito mais que um filme sobre a patinadora, a obra mostra que o que há por dentro de cada um. No gelo, não era apenas Tonya que esquecia de seus milhares de problemas; o marido redescobria o amor e a mãe se humanizava. Contudo, no último acorde, todos precisavam retornar à realidade, assim como em um sonho. Quem dera pudéssemos todos deslizar para sempre e deixar os problemas para trás.
Dirigido e escrito por Dan Gilroy. Com Denzel Washington, Colin Farrel, Carmen Ejogo, Lynda Gravatt, Amanda Warren, Hugo Armstrong, Sam Gilroy, Tony Plana, DeRon Horton, Amari Cheatom.
Quando Friedrich Nietzche lançou, em 1883, seu livro Assim Falou Zaratustra, o filósofo definiu o que, para ele, seria um Super Homem (Übermensch). Simploriamente falando, o pensador define o homo superior como aquele modelo a ser seguido pela humanidade. Aquele que mira estritamente a grandeza humana e renuncia seu próprio lazer para alcançá-la, isto é, partindo de sua própria individualidade, o coletivo se contaminaria por seus atos. Volta e meia, descobrimos super homens que muitas vezes nem sabem que o são. Esse é o caso de Roman J. Israel.
A trama do filme mostra a história de Roman J. Israel, um advogado inadequado socialmente – quase um autismo – e que é um verdadeiro gênio em matérias jurídicas. Entretanto, vive em meio as sombras, apenas trabalhando em seu escritório, enquanto seu único amigo é o sócio que vai ao tribunal e conversa com os clientes. Após uma fatalidade com seu sócio, Roman se vê sozinho e precisa enfrentar o mundo que sempre preferiu ignorar.
Roman é um advogado idealista; anseia em reformar o processo penal e se indigna com a indiferença de promotores alienados e robotizados pelo sistema. Contudo, é uma ilha em meio ao oceano. E a metáfora é perfeita quando se pode definir Pierce (Farrel) como shark, expressão norte-americana para advogados impiedosos e com muitos recursos. Visto em meio à necessidade de precisar interagir com o mundo, Roman (nosso super homem) se reduz em ordinariedade, afinal o homo superior, de acordo com Nietzche, não deve se misturar com outro ser que não seja superior também. Assim, o advogado não só instrumento de elevação a todos em sua volta, mas também se diminui ao experimentar sentimentos como amor e ganância.
Estreando na cadeira de direção em 2014, com O Abutre (estrelado por Jake Gyllenhaal), Dan Gilroy chocou o espectador com um retrato frio do jornalismo sensacionalista, mas que na verdade se justifica agora com este filme. Com muita sutilidade, o diretor traça um paralelo com outra definição nietzchiana (e somente agora se percebe isso): o último homem, símbolo da mediocridade e do apequenamento humano em meio a sociedade. Portanto, em dois filmes, o diretor lança mão de uma narrativa extremista para mostrar seu raciocínio: enquanto o abutre é um sociopata (o último homem), Roman é um advogado idealista com autismo leve não diagnosticado.
Partindo para a análise técnica, Denzel Washington faz um trabalho de excelência. Da mesma forma que Tom Hanks fez em Forrest Gump, ou Dustin Hoffman em Rain Man, Denzel se destaca pelo carisma. Merecedor de todo seu reconhecimento, o ator se mostra um dos mais talentosos em sempre trazer diferentes facetas a seus personagens. Enquanto em outros momentos o vimos interpretar personagens autossuficientes, muitas vezes autoritários, aqui temos uma pessoa frágil, confusa e insegura, porém determinada. Colin Farrel e Carmen Ejogo são muito eficientes nas vezes que contracenam com o ator.
Muito embora o roteiro seja bom a partir da análise filosófica, o texto começa a se perder um pouco a partir da metade, visto que toma ares de suspense em um afã de encerrar a trama tornando o clímax repentino e inesperado.
A despeito da atuação primorosa de Denzel Washington e do poder de nos proporcionar um debate rico, Roman J. Israel, Esq. é um filme tecnicamente fraco em um roteiro pouco convicto. Nada mais que uma ilustração do que ele mesmo quis nos passar. A atuação majestosa está para o filme, tal qual Roman está para o mundo. Uma ilha.
Filme da Marvel mais importante em termos de representatividade impressiona por ser um eco das lutas do passado
Dirigido por Ryan Coogler. Roteiro por Ryan Coogler e Joe Robert Cole. Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Sterling K. Brown, Angela Basset, Forest Whitaker, Andy Serkis, John Kani.
Quando foi anunciado o filme do Pantera Negra, parte dos fãs ficou receosa de como seria tratada a representação da comunidade negra nos cinemas. Outros super-heróis negros já tinham existido, é verdade, Hancock, Spawn e Steel, para apenas mencionar esses três; entretanto, nenhum teve a ambição de abraçar sua importância e fazer uma obra com um elenco quase exclusivamente negro. Eis que surge T’Challa.
Em uma história de origem clássica, Ryan Coogler, o diretor, nos leva a conhecer Wakanda nas semanas que se sucederam ao término do filme Capitão América: Guerra Civil. Após a morte de seu pai (T’Chaka, com John Kani reprisando o papel), T’Challa passa pela cerimônia de ser coroado rei. É difícil falar mais sobre a trama sem entregar spoilers da história, de sorte que esse é apenas o pano de fundo.
De forma muito interessante, a produção de design surpreende na hora de mostrar Wakanda. Quando somos apresentados ao avançado país pela primeira vez, nos deparamos com uma mistura orgânica de alta tecnologia com elementos tribais. As construções com as pinturas coloridas e as estacas de equilíbrio salientes nas extremidades, bem como as vestimentas dos personagens e a vegetação de savana nos arredores da cidade servem para criar a identidade do país fictício que funciona quase como um personagem do filme, tamanha sua riqueza em detalhes. Além disso, o belo jogo de cores – fazendo um contraste contínuo entre o púrpura, azul e o dourado – dá à obra um tom próprio e caracteriza o embate entre o herói e o vilão.
O roteiro do filme, também assinado por Coogler, se diferencia dos demais filmes da Marvel ao estabelecer um tom mais sério e discussões mais densas. Com isso, a importância de Erik Killmonger (Jordan) se acentua como um dos vilões mais profundos da franquia inteira. Amparado na premissa de que os fins justificam os meios, Killmonger é verossímil e resgata um debate muito vivo na década de sessenta: enquanto T’Challa é uma mistura de ideais de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, Killmonger é o grito dos próprio Panteras Negras – quase uma provocação do diretor com o nome histórico “Pantera Negra”.
Da mesma forma que se vê a importância da representatividade racial, ao mesmo tempo, vê-se uma valorização de gênero essencial nas telas. As Dora Milaje (lideradas por Danai Gurira) são guerreiras vigorosas e imbatíveis, fiéis à nação que pertencem, Shuri (Wright) é a líder de tecnologia de uma nação inteira, enquanto Nakia (Nyong’o) é uma lutadora hábil e a principal espiã de Wakanda que viaja o mundo.
Infelizmente, um dos pontos que ficou aquém do esperado são as poucas cenas de ação ao longo dos 134 minutos. Com exceção da luta dentro do cassino na Coreia do Sul, que é feita em um plano-sequência honesto, as outras coreografias são truncadas e cheias de cortes rápidos, que dificultam a própria localização do espectador. Aliado a isso, a obra parece sofrer para encontrar o caminho a ser percorrido, isto é, nos primeiros quarenta minutos o filme parece estar acontecendo sem trama alguma, apenas acompanhando a rotina do super-herói.
Estreando com toda imponência que esperada de um rei, Pantera Negra chega definitivamente ao MCU e trava suas garras (com o perdão do trocadilho) para ficar por um bom tempo. Da mesma forma que Doutor Estranho promete assumir a liderança de um futuro time, Pantera Negra pode tomar o manto da tecnologia do time. Aos poucos, os primeiros heróis vão ficando no passado, enquanto os novos mostram o potencial de seguir a estrada. Se eles serão igualmente capazes de fazer isso, apenas o futuro dirá.
"Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi | Crítica
A terra não vê cor
Dirigido por Dee Rees. Roteiro por Virgil Williams e Dee Rees. Com Garrett Hedlund, Carey Mulligan, Jason Clarke, Jonathan Banks, Jason Mitchell, Rob Morgan, Mary J. Blige, Kerry Cahill, Dylan Arnold.
Assim como um texto – afinal provém de um –, um filme precisa estar sempre muito atento ao seu argumento, sob pena de fugir do tema ou ficar deveras abrangente. Mudbound se enquadra perfeitamente no segundo caso; embora costuradas competentemente, as diferentes premissas acabam por causar certo estranhamento ao espectador já que 130 minutos acabam sendo poucos para mostrar todas as chagas da sociedade.
A trama se passa na década de 40, quando a vida de duas famílias (uma negra e uma branca) se cruza no Mississippi. Os McAllan – compostos pela mulher submissa, duas filhas pequenas, o marido distante e seu pai racista – e os Jacksons – uma família negra com cinco filhos, claramente no intuito de ajudar na agricultura familiar. Mesmo com todas as limitações impostas pelo mundo, Hap Jackson (Morgan) permite sua família sonhar; tudo que eles quiserem ser, serão.
Narrado em diferentes momentos pelos seus mais diversos personagens, o filme ganha um tom introspectivo e melancólico. Entretanto, se por um lado o filme ganha alcance ao mostrar os dramas de cada um (sempre com o racismo de pano de fundo), por outro ele fica com aspecto raso por apenas pincelar algumas críticas: a esposa infeliz e submissa, por exemplo, fica esquecido em meio ao filme. Aliás, esse é outro ponto em que há uma quebra de expectativa no texto do filme, no momento em que Ronsel (Mitchell) e Jamie (Hedlund) retornam da guerra, o filme se vira para o relacionamento de ambos, de modo que os demais personagens, antes protagonistas, viram meros coadjuvantes. Até nisso há uma metáfora, enquanto Jamie, caucasiano, é capitão e piloto de jatos, Ronsel, negro, é sargento e dirige tanques.
O tempo dedicado às diferentes sequelas sociais acaba por deixando o filme moroso e arrastado. O impacto que certos momentos deveriam causar se perde nas diversas frentes abertas na obra, perdendo muito da intensidade.
Mudbound é um filme de elenco uniforme. Sendo uma produção da Netflix, não houve investimento massivo em atores consagrados, de sorte que o elenco é harmonioso em si. A indicação de Mary J. Blige nada mais é do que a culminação disso, pois não há uma cena isolada que justifique sua indicação. Contudo, a canção Mighty River, que também concorre ao prêmio da Academia, possui uma letra forte, pertinente e atual em relação aos problemas tratados.
A fotografia espetacular é responsável por dar razão ao título do filme, a lama e o barro são presenças constantes no ambiente. Está na roupa, na pele, na casa. De todos. Seja preto, branco, rico ou pobre, a terra é a mesma para todos, é ela que absorve o suor, as lágrimas e o sangue, e é para ela que todos vamos ao cabo.
Há um momento no filme em que Hap olha para Ronsel e diz "desiste, não adianta discutir, eles sempre vão vencer". A triste história de negros libertos mas que são inferiorizados e hostilizados até hoje. Ao fim, há a esperança de dias melhores. Nas palavras da bela Mighty River: o tempo não conta mentiras, ele continua mudando e se movendo até que passa. Se você tiver sorte, ele vai ser generoso, como um rio fluindo através do tempo.
Leia a crítica do Catacrese SEM SPOILERS de Marshall:
"Marshall | Crítica
Quando o machismo e o racismo medem forças
Dirigido por Reginald Hudlin. Roteiro por Jacob Koskoff e Michael Koskoff. Com Chadwick Boseman, Josh Gad, Kate Hudson, Sterling K. Brown, Dan Stevens, James Cromwell, Keesha Sharp, Roger Guenveur Smith, Derrick Baskin, Barrett Doss, Zanete Shadwick, John Megaro.
Em certo momento, após o primeiro encontro com seu cliente, Thurgood Marshall é questionado por Bertha Lacaster: por que mulheres mentiriam ser estupradas, Sr. Marshall? Essa pergunta retumbaria durante todo o resto do filme, em um caso que coloca frente a frente a discriminação de raça e a de gênero. Sem saber a resposta no momento, Marshall não compreende o peso que esse questionamento teria no futuro.
Com muito ímpeto, Marshall é um filme biográfico. A trama acompanha um dos primeiros casos do jovem Thurgood Marshall (Boseman), o primeiro juiz afro-americano da Corte Suprema Americana, que trata da defesa de Joseph Spell (Brown), um negro que trabalhava para Eleanor Strubing, uma socialite branca (Hudson) e submissa ao marido, que o acusa de estupro.
Assim, em ambos os lados, há pessoas oprimidas. Se por um lado temos um negro vivendo à margem no estado racista de Connecticut, de outro, temos a mulher que teme o desprezo, não só da comunidade, mas teme as agressões do marido. Aliado a isso, há Sam Friedman (Gad), o advogado judeu obrigado a atuar no caso, e Loren Willis (Stevens), o promotor elitista e racista que atua na acusação.
Se por um lado o argumento-base acaba trazendo uma discussão densa – quase uma provocação sobre qual preconceito predomina em relação ao outro –, o roteiro escrito por quatro mãos acaba cedendo aos clichês de um típico filme de tribunal. Estão lá vários dos recursos narrativos que estamos acostumados: os insuperáveis insights durante as oitivas das testemunhas, os silêncios dramáticos antes de uma resposta, a resistência do juiz (Cromwell) em acatar os pedidos da defesa. Assim, mesmo com potencial, esse empobrecimento do texto, aliado ao histórico do diretor em episódios de séries televisivas, faz o filme entrar em uma roda de closes sem impacto e plot twists previsíveis.
Ao mesmo tempo que o roteiro e a direção pendem para o usual, o elenco extraordinário faz a diferença e traz o grande destaque do filme. Enquanto Boseman faz uma grande atuação como Marshall, o verdadeiro destaque fica por conta de Gad e Brown. Enquanto o primeiro mostra a evolução perfeita do advogado mecânico para alguém que se (re)apaixona pelo ofício e assume seu papel na luta pela igualdade, o último, com seus olhos arregalados e lacrimejantes, justifica todos os prêmios ganhados por This Is Us e The People v. O.J. Simpson: American Crime Story, e nos emociona sempre que está em cena. Aliás, Dan Stevens e James Cromwell fecham o elenco principal de forma muito competente, reforçando o sentimento segregacionista existente até hoje. Kate Hudson tem grande atuação também no momento em que leva sua personalidade enigmática até o último segundo; não como discernir se Eleanor sente raiva, alívio culpa ou arrependimento, já que são emoções perfeitamente cabíveis no momento, mas que dependem da leitura de cada espectador.
Muito mais do que um mero longa de tribunal, Marshall tem o mérito de ser provocativo até onde seu roteiro permite e revitaliza o espírito trazido por O Sol é Para Todos (1962) de combate ao racismo incrustado na sociedade. Um caso emblemático em que um advogado negro foi proibido de falar em julgamento e, mesmo assim, lutou até o fim para defender o acusado. Enquanto alguns podem dizer que isso é mimimi, filmes assim são necessários até que a ferida sare. Como bem dito por Thurgood, enquanto alguns veem apenas um negro no banco dos réus, para ele, é uma nação inteira.
Dirigido por James Franco. Roteiro por Scott Neustadter e Michael H. Weber. Com Dave Franco, James Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Alison Brie, Jacki Weaver, Paul Scheer, Zac Efron, Josh Hutcherson, June Diane Raphael, Megan Mullally.
Filmes sobre filmes tem um carinho especial pelo público. Partindo dos medianos Trovão Tropical (2008) e Hitchcock (2012) até os premiados Ed Wood (1994) e Argo (2012), os filmes que tratam de filmagens sempre contaram com a vantagem de mostrar como funcionam os bastidores ao espectador, ou, até mesmo, recontar polêmicas por de trás das câmeras.
Artista do Desastre vai muito além. Não se trata de um filme de sucesso ou uma obra fictícia, era necessário que James Franco nos recontasse a história de um dos piores filmes já feitos (The Room). A trama adapta o livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, escrito por Greg Sestero, vivido nas telonas por Dave Franco. Assim, o filme narra desde o momento em que Sestero encontra o peculiar Tommy Wiseau (James Franco) – idealizador do pior dos filmes – até sua premiére.
Para alcançar seu objetivo, o diretor e protagonista busca os trejeitos e a dicção de Wiseau, no intuito de dar verossimilhança aos problemas dos bastidores. Ao longo do enredo, podemos ver que são os atributos de Tommy que causam mal-estar nas filmagens; seja por sua malemolência, autoritarismo ou por sua aura de mistério, Wiseau nunca ganhou o respeito dos profissionais envolvidos na filmagem. Portanto, James Franco entregou-se de forma nunca que nunca o havia feito, tendo muito sucesso em sua empreitada. Possivelmente, a missão não teria tanto sucesso nas mãos de qualquer outro ator, uma vez que é requerida certa pachorra e senso de auto-depreciação.
Lógico, sozinho ele não haveria de conseguir. Para isso, trás para a obra sua famosa trupe que geralmente o acompanha. Dave Franco e Seth Rogen estão no elenco para reforçar o deboxe que é o causo que está sendo contado. A dedicação também é percebida nas cenas extraídas copiadas do filme original. Com alocações basicamente iguais, o elenco procura copiar as pífias atuações – em especial às de Wiseau – que tanto marcaram a produção.
À sua forma, Artista do Desastre é um filme de american dream. Um filme sobre aquela dupla fracassada que busca o sucesso em Los Angeles, mas enquanto um barra em sua própria incompetência, o outro empaca na gratidão que sente pelo amigo. Mesmo com todas as dificuldades – vocacionais, especialmente –, a dupla segue com seus ideais e não desistem perante às negativas.
Ao fim e ao cabo restou a vitória moral. O melhor dos piores, The Room adquiriu o status de cult por toda sua mística. Mesmo que o impacto não tenha sido o almejado por Wiseau (que queria seu drama concorredo ao Oscar), o filme alcança os sonhados aplausos. Acompanhados de boas gargalhadas é verdade. Mas, mesmo assim, ovacionado.
Nota: 4/6 (Bom)
PS: é importante destacar que, por mais excelência técnica que James Franco tenha demonstrado nas filmagens, sua ausência na lista dos indicados à melhor ator é pertinente. O profissional do cinema, independentemente da área ou de sua qualidade, é uma pessoa midiática, em que TODAS as suas atitudes ecoarão e repercutirão nas notícias. Considerando isso, o histórico dele como pessoa não indica tamanha recompensa. Para quem não sabe, Franco está envolvido em cinco casos de assédio em suas produções passadas. Não se trata de misturar o profissional com o pessoal; seus assédios foram feitos em ambiente de trabalho e – mesmo que fossem em qualquer outra circunstância – isso não pode ser corroborado pela Academia."
Em filme morno, Gary Oldman, auxiliado por uma maquiagem impecável, eleva o conceito do que é atuar
Dirigido por Joe Wright. Roteiro de Anthony McCarten. Com Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup, Stephen Dillane, Richard Lumsden, Nicholas Jones, Samuel West, David Schofield.
Winston Churchill é um dos personagens mais icônicos da história contemporânea. Político, historiador, ganhador de Prêmio Nobel de Literatura, o estadista foi o Primeiro-Ministro que liderou o Reino Unido nas amarguras da Segunda Guerra Mundial. Famoso por suas idiossincrasias o personagem foi interpretado inúmeras vezes nas películas; duas apenas esse ano com Brian Cox (Churchill) e, por último, Gary Oldman, em O Destino de Uma Nação.
A trama do filme acompanha um momento muito específico na vida do político. A obra narra os primeiros trinta dias de seu governo, desde sua posse, até o momento em que em que dá seu famoso discurso We Shall Fight on the Beaches perante à Câmara dos Comuns. Durante esse período, Churchill precisou lutar contra a descrença do Rei George VI, as maquinações de rivais políticos, além de ter tomado a difícil decisão sobre a evacuação dos soldados britânicos na praia de Dunquerque (sim, aquele filme do Nolan).
O grande destaque do filme definitivamente é na atuação estupenda de Oldman e sua respectiva maquiagem. Hábil em capturar não só os maneirismos, mas também o timbre da voz de Churchill, o ator – que já emocionou nos papéis de Drácula, Beethoven e Sirius Black – mostra-se um verdadeiro camaleão, de modo que fica absolutamente irreconhecível no papel. Ben Mendelsohn consegue, também, dar o devido suporte ao ator, de sorte que seus diálogos (embora muito expositivos), são os grandes momentos do fraco roteiro.
Aliás, a fotografia do filme é muito eficiente no momento em que retrata os ambientes de forma escura e esfumaçada, o que causa constantemente uma sensação de sufoco. A poeira, constantemente realçada pelos feixes luminosos que adentram o parlamento, traça em paralelo com a nebulosidade londrina e a fumaça da guerra que se aproxima.
Assim, a beleza estética e a excelência técnica dos atores, acabam abafando um roteiro fraco, ineficiente em reverberar a profundidade do momento vivido, e que tenta compensar isso através de diálogos pseudoeloquentes, que narram coisas já absorvidas pelo expectador. O peso da decisão de sacrificar quatro mil soldados para salvar os trezentos mil de Dunquerque é apenas pincelado, sem nenhum impacto narrativo.
A importância histórica do Primeiro-Ministro seduz o cinema a cada vez mais a retratar sua vivência. Churchill, embora extremamente conservador e defensor da higiene racial (parte discretamente omitida ao mostrar o premiê dialogando de forma emocionante com um negro no metrô) foi, quem sabe, o indivíduo mais importante no levante contra Adolf Hitler, ao iniciar as tratativas para ingresso dos Estados Unidos – então liderado pelo Presidente Franklin Roosevelt – em apoio aos Aliados.
O Destino de Uma Nação é o maior exemplo de que obras cinematográficas dificilmente serão homogêneas. A atuação fenomenal de Gary Oldman e a maquiagem utilizada são evidentes muletas que amparam um filme que, se não as tivesse, seria no máximo ordinário.
Confira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS para um dos favoritos ao Oscar de melhor filme!
"Três Anúncios Para um Crime | Crítica
Um dos maiores dilemas da vida em tela: o que diferencia a justiça da vingança
Dirigido e roteirizado por Martin McDonagh. Com Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Lucas Hedges, John Hawkes, Abbie Cornish, Samara Weaving, Peter Dinklage, Kerry Condon.
É muito complicado ter a visão eternamente analítica. Indubitavelmente um dia todos nós nos perderemos no limiar entre a justiça e a vingança. Enquanto a primeira é movida por valores éticos e morais, a segunda é o mais puro desejo de buscar a satisfação através da compensação. Assim nos foi ensinado, mas, mesmo que todos nós saibamos disso, é necessário sermos sensíveis e compreender outro ponto: a dor de uma perda cega, e, na perda, somem as barreiras.
É exatamente sobre isso que se trata Três Anúncios Para um Crime. Um filme denso, que mostra a vida de Mildred Hayes (McDormand) após o estupro e assassinato de sua filha. Desamparada pela ineficiência da polícia local, ela decide alugar três outdoors da estrada que leva a sua cidade, Ebbing, Missouri. Com o fundo vermelho e letras pretas de forma, ela questiona o que a polícia fez para resolver o crime. Com isso, desenrolam-se uma série de eventos típicos de uma comunidade pequena, enquanto alguns dizem que a polícia fez o que lhes era possível, outros apoiam as cobranças de Mildred.
Com um roteiro primoroso e atuações impecáveis, a obra se destaca por não apenas ser imparcial a ambas as visões, mas também estabelecer um background complexo para todos os personagens. Enquanto somos tocados pela vida de Mildred – eternamente afetada após a fatalidade –, percebemos também que polícia não podia fazer muito mais do que realmente fez (mas, mesmo assim, podia). McDormand mostra o quão versátil ela pode ser, mesmo atuando em grandes papéis como em Fargo, aqui, ela consegue se mostrar como se carregasse o peso do mundo nas costas, e estivesse prestes a desabar. Harrelson e Rockwell (como o Xerife Willoughby e o policial Jason Dixon, respectivamente) justificam suas indicações ao Oscar pela forma magistral com a qual aprofundaram e deram a importância a seus personagens. O elenco secundário trabalha com esmero em suas devidas cenas, não prejudicando o andamento do trabalho.
O maior mérito do trabalho é, definitivamente, questionar o direcionamento e o contágio da ira da protagonista. Enquanto no primeiro momento ela destinava suas forças contra a polícia, ao melhorar sua perspectiva, acaba precisando focar seus esforços no suposto culpado e, por fim, quando o maior dos desesperos toma conta, contra qualquer culpado. Na verdade, faz-se um bê-a-bá do nascimento do vigilantismo, onde o ódio é proporcional à insatisfação com a justiça.
Sem maniqueísmos, a obra justifica – mas jamais exculpa – o ato de cada um dos personagens. Enquanto Mildred age movida somente por desespero e remorso, o xerife apenas ri de sua própria incapacidade de fazer mais e Dixon é o policial imaturo que vive sob a asa da mãe controladora. Com todos seus grandes defeitos, mesmo assim não deixamos de torcer para que encontrem o que almejam. A mãe busca um encerramento; o xerife, paz; o policial, sucesso.
Sem sombra de dúvidas, Três Anúncios Para um Crime é uma das melhores produções a concorrer aos prêmios da academia. Atual, crítico e provocativo, o filme se destaca em todos os aspectos, principalmente por se relacionar ao mundo raivoso e sedento que vivemos. Que sirva de aviso a todos: no momento em que o ódio toma as rédeas, não há outro caminho senão a frustração.
tanto que no final do filme, mostra um carro com uma pessoa indo na direção que uma placa apontava Open House, mas não era a casa em que o Logan estava.
tirando isso, não tem mais nenhuma explicação possível. o filme não dá nenhum argumento para que se possa COMEÇAR a teorizar.
Como já diria o ditado: há sempre um pé torto para um chinelo velho.
Dirigido por Guillermo del Toro. Roteiro por Guillermo del Toro e Vanessa Taylor. Com Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy.
De todas as formas que pode se manifestar, o amor é sentimento mais inexplicável que existe. Seja na paixão, no erotismo, na amizade, ou (nesse caso) na empatia, o sentimento mais belo surge de forma arrebatadora e muda a vida de todos que o envolvem.
Com isso em mente, del Toro – se recuperando do pífio, mas belo, A Colina Escarlate – nos traz a um mundo com ares de Amélie Poulain. A fotografia sombria e, por vezes, surrealista serve para dar o contorno de fábula que o romance precisa ser contado. Na trama, Elisa (Hawkins), muda desde que tem alguma lembrança, faxineira de uma base secreta norte-americana, se apaixona por um ser aquático (Jones), que é cobaia para experimentos durante a Guerra Fria.
A paleta azul-esverdeada, que muitas vezes é usada para lançar mão de tons frios, aqui muda sua ênfase para ficarmos submersos. Sem frieza alguma, somos convidados a nos afogar em um romance em sua forma mais pura. Elisa, nunca completamente compreendida em virtude de sua deficiência, e um ser anfíbio, retirado de seu habitat natural, mas com inteligência psicológica e emocional para compreender os seres humanos a sua volta.
O design de produção esplêndido é uma constante nos trabalhos do diretor e produtor. Com mise-en-scène belos e provocativos, o espectador sempre sente que algo destoa da realidade, mas nunca há grande certeza no quê. Seriam as cores? A disposição dos móveis? Ou seriam as cenas climáticas ao som de Carmen Miranda?
Se existe uma palavra capaz de definir o elenco como um todo é carisma. Sally Hawkins é uma gigante interpretando a muda Elisa; enquanto Octavia Spencer (Zelda), sempre com atuações seguras, é a amiga preocupada e compreensiva. Michael Shannon (Richard), talvez um dos atores mais talentosos hoje, é um vilão digno da fábula que o envolve e Richard Jenkins se destaca por sua serenidade e por suas singelas cenas com Elisa.
De forma doce, Guillermo del Toro surpreende trazendo conto de fadas sobre o descobrimento do amor. Não importam aqui as diferenças biológicas, aliás, isso nunca é argumentado no filme. Há, sim, curiosidades quanto a anatomia do ser anfíbio, mas a questão de que ambos são de diferentes espécies nunca foi uma barreira, nem pelos amantes, nem por aqueles que os orbitavam.
Definitivamente, del Toro consegue dar a volta por cima e entregar um romance com sua assinatura e carimbo, embora não inove no enredo. Com um tema clichê (a superioridade animal do ser humano), em um mundo em que espécies de animais vivem em constante perigo de extinção e a ganância do homem parece não enxergar as consequências de seus atos, é revigorante ver ainda que vale a pena lutar pelo bem de uma espécie e, principalmente, do amor."
Repetindo alguns erros, O Justiceiro surge como a série mais crítica da parceria Marvel/Netflix
Criada por Steve Lightfoot. Com Jon Bernthal, Amber Rose Revah, Ebon Moss-Bachrach, Ben Barnes, Jaime Ray Newman, Kobi Frumer, Paul Schulze, Michael Nathanson, Ripley Sobo, Daniel Webber, Jason R. Moore, Kelli Barrett, Tony Plana, Deborah Ann Woll.
Um dos maiores orgulhos dos norte-americanos é a chamada Segunda Emenda à Constituição, aprovada em 1791, em meio aos ideais libertários da Revolução Francesa, que é o direito de portar armas de fogo. Mais de duzentos anos se passaram e, cada vez mais, esse diploma legal vem sendo alvo de críticas de juristas e intelectuais por um simples motivo: armas não evitam violência.
O Justiceiro veio para provocar exatamente esse pensamento no espectador. A trama continua o primeiro arco do segundo ano de Demolidor, ou seja, Frank Castle (Bernthal) vai atrás do responsáveis pela morte de sua família. Junto disso, se envolve em uma trama de espionagem militar que coloca toda conduta da CIA em xeque.
Mais visceral que as séries anteriores, a violência aqui é no intuito de causar desconforto. Não sou poucas as vezes o sangue escorre nas telas. Aqui, Castle e seus aliados levam tiros e matam. A mortalidade é uma presença constante na vida de todos. Todo dia pode ser o último.
No que toca ao elenco, a série consegue ser mais cativante de uma forma geral. Bernthal consegue ser brutal e comovente como antiherói, enquanto Barnes (Billy Russo) e Moore (Curtis Hoyle) evidenciam duas formas completamentes diferentes de superar os traumas da guerra; enquanto o último os enfrenta pelo enfrentamente cotidiano, o outro tenta esquecer e justificar suas ações.
Micro (Moss-Bachrach, parecido demais com o Andy Serkis) funciona como um contraponto perfeito à essência de Castle. Enquanto o Justiceiro busca vingança pela morte abrupta de sua família, Micro precisou se afastar deles para mantê-los protegidos, mas, mesmo assim, via-os todos os dias pelos monitores.
Deborah Ann Woll continua uma Karen Page cada vez mais forte e independente e, aqui, é somada com Rose Revah (Dinah Madani), uma agente federal determinada a ir ao fundo do mistério, mesmo que fragilizada pela morte do parceiro. Portanto, continuando o legado das demais séries, o elenco feminino é muito acertado, de sorte que os primeiros diálogos entre Page e Madani são repletos de meias palavras e ameaças veladas.
Webber parece condenado a fazer o papel de soldados traumatizados e frustrados. Repetindo seu papel de Lee Harvey Oswald (em 11.22.63), aqui ele vive Lewis Walcott, que ponto nuclear de uma trama secundária, mas que serve muito para expor as preocupações temáticas de forma clara e didática.
O deslocamento é uma constante ao longo da obra. Nos primeiros episódios, a câmera sempre filmava Castle de forma deslocada, deixando um dos lados vazios, apenas com paisagem, de forma que nos causa uma certa sensação de desequilíbrio. Na medida em que o enredo evolui, Castle é centralizado, evidenciando que o protagonista voltou a encontrar um propósito (I am home).
Repetindo os erros das demais séries, O Justiceiro muitas vezes parece alongar desnecessariamente cenas e tramas para justificar seus treze episódios. Justamente o ponto que foi o maior acerto da segunda temporada de Demolidor (dividir um ano em dois enredos autônomos, mas harmônicos), as demais séries parecem não querer repetir.
Adicionando novos elementos à discussão dos atos de heroísmo, a antiga dicotomia herói/vigilante ganha um novo ponto: o terrorismo.
Em seu primeiro ano na Netflix, O Justiceiro surge como um antiherói simples mas envolto por sombras. Através de seus coadjuvantes, a série foi enriquecida com complexidade e com a lembrança constante de que, embora vá além do razoável, há luz, sim, nas intenções daquele que veste a caveira.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista Agoraas primeiras reações que estão saindo na internet estão dando a entender que o filme está surpreendente! e falam, principalmente, que o ben mendelsohn está roubando a cena! acho que vai ser mais um sucesso da marvel!
A Favorita
3.9 1,2K Assista Agoranunca vi um chiaroscuro usado de forma tão provocativa.
a cena que a sarah vai com a vela e acha a abigal dormindo com a rainha: chiaroscuro + trilha sonora é de arrepiar
emma stone cada vez mais magnífica
O Predador
2.5 649finalmente conseguiram faze rum filme trash do predador. humor previsível e risível. enredo deplorável. me impressionei de ver sterling k brown e olivia munn em um filme como esse
Agentes da S.H.I.E.L.D. (5ª Temporada)
4.0 75 Assista AgoraCrítica do Catacrese COM SPOILERS!
"Marvel’s Agents of SHIELD - 5ª Temporada | Crítica
Mais um ano excelente de AoS que a fez garantir uma sexta temporada
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Nick Blood, Ruth Negga, Natalia Cordova-Buckley, Adrian Pasdar, Jeff Ward, J. August Richards, Briana Venskus, Catherine Dent, Dominic Rains, Joel Stoffer, Peter Mensah, Dove Cameron, Florence Faivre.
Aviso: esse texto contém spoilers da trama!
Quanto o quarto ano de AoS terminou, os fãs foram deixados na expectativa com um dos maiores ganchos ao longo da história da série: como raios Coulson & Cia foram parar no espaço? Voltada para esse mistério nos primeiros episódios, Agents of SHIELD começa o que então seria sua última temporada, mas que, merecidamente, foi renovada para mais um ano.
Vinda de um excelente quarto ano, a série tinha o fardo de manter a qualidade a qual conseguiu se alicerçar a partir do terço final do primeiro ano. Para isso, a obra – que há muito tem vida independente dos filmes – resolve ser ainda mais corajosa que o ano anterior e coloca em sua mitologia as viagens no tempo (recurso que poderá vir a ser utilizado em Vingadores 4). Com muita calma, a obra vai inserindo informações para o conhecimento dos fãs, de modo que as coisas vão se assentando com muita naturalidade. Assim, os três arcos que aparentemente são bem independentes, na verdade, se entrelaçam de forma majestosa, assim como no ano passado.
Na verdade, a fórmula do roteiro utilizada foi exatamente a mesma, onde há um primeiro arco, mais enfadonho e cheio de informação (Kasius e a Destruidora de Mundos); o segundo, um pouco mais breve, com bastante ação (Ruby e a nova Hidra); e um terceiro, muito pequeno, com um clímax que aglutina bem os 22 episódios (Graviton e a ameaça de Thanos).
Seguindo os passos do irmão Joss Whedon (diretor dos dois primeiros Vingadores), Jed Whedon continua trabalhando o elenco com maestria. Se, por um lado temos a dupla Coulson/Daisy como principal, em certos momentos, a série consegue trabalhar muito bem Fitz/Simmons e Mack/Yo-yo. Até mesmo por isso, nesse ano, a May fica evidentemente em segundo plano, dando espaço para o crescimento das demais personagens.
Todo o elenco atua de forma uniforme e satisfatória, mas é impossível não destacar o trabalho de Iain de Caestecker. Desde o primeiro ano, Fitz sofre os maiores cliffhangers e os melhores contrastes (o Leopold, do Framework, é espetacular). A questão é que não se sabia se era o ator que era favorecido pelo personagem ou vice-versa. Agora, mesmo tendo poucos grandes momentos Fitz continua roubando as cenas, confirmando o talento do intérprete.
Idealizada como uma temporada conclusiva, o quinto ano de Agents of SHIELD busca informações de todos os outros anos da série com intuito de fechar um círculo perfeito – não por acaso, muitos personagens repetem tudo que fizemos nos trouxe até aqui, testando nossa inteligência e paciência. Portanto, temos de volta o Gravitonium, o soro da centopeia, Deatklock, etc.
O verdadeiro ponto baixo da série é o quão decepcionante é o distanciamento cada vez maior entre cinema e televisão. Mesmo mencionando a vinda de Thanos no arco final, os fãs precisam se contentar com meras menções dos eventos nas televisões e nos jornais, pois não há um envolvimento mais direto entre as mídias. É um verdadeiro anticlímax que a solução achada pelos roteiristas tenha sido finalizar a temporada antes do fatídico estalar de dedos do Titã Louco, de sorte que não podemos ver as consequências de seu ato.
Por mais que a séria tenha sido renovada para mais um ano, a quinta temporada de AoS é um claro final de ciclo. A série que começou mostrando o retorno de Coulson da morte, termina com ele finalmente abraçando seu destino, sabendo que fez o seu papel. Não só salvou o mundo todos os anos, mas também reuniu um grande de time de super-heróis. Parafraseando o querido agente, em seu brinde final: eu tive a oportunidade de viver com muitos super-heróis, nenhum deles maiores que vocês.
Melhor que isso, só vendo eles nas telonas.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraConfira a crítica COM SPOILERS do Catacrese:
"Vingadores: Guerra Infinita | Crítica
O Império Contra-Ataca do século 21
Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo. Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely. Com Josh Brolin, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Benedict Cumberbatch, Tom Holland, Chadwick Boseman, Zoe Saldana, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Peter Dinklage, Idris Elba, Danai Gurira, Benedict Wong, Pom Klementieff, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Chris Pratt.
Em 1980, com o lançamento da sequência de Star Wars: Uma Nova Esperança (que ainda não tinha esse título), as pessoas foram pegas de surpresa saindo do cinema após um filme em que, por incrível que pareça, os mocinhos não venciam. Como pode, no fim do filme, um dos mocinhos ter o braço amputado, o outro ser congelado e a outra sequestrada? Esse sentimento de derrotismo foi essencial para que em O Retorno de Jedi o espírito de superação pudesse compensar a perda de anos atrás.
Agora, em 2018, a história se repete em Vingadores: Guerra Infinita. O filme, prometido há mais de seis anos, é a culminação de um universo construído com zelo e planejamento desde o Homem de Ferro. Inclusive, não é exagero algum suspeitar que o filme estreou em 26 de abril, enquanto o primeiro filme de Tony Stark chegou às telonas no dia 30, há mais de dez anos.
A trama, facilitada ao longo das dezoito películas, é muito linear: Thanos, último sobrevivente de sua raça, anseia por encontrar o equilíbrio do universo. Para isso, ele vai em busca das Joias do Infinito, não poupando esforços para encontrá-la. Para quem acompanha o universo cinematográfico da Marvel, o enredo não tem novidade alguma. Partindo do ponto em que Thor: Ragnarok terminou, o filme consegue unir os super-heróis todos de forma muito fluida e natural.
De maneira muito inteligente, para não estragar o clímax que virá no próximo Vingadores (ainda sem título definido), os irmãos Russo optaram por dividi-los em duas equipes, com características semelhantes, a fim de deixar mais orgânico esse encontro dos Guardiões da Galáxia com os Vingadores, facilitando a troca de diálogos entre Homem de Ferro e o Senhor das Estrelas, por exemplo.
Além disso, agora fica mais evidente ainda a importância que Taika Watiti tem para Thor. Após usar de um humor ácido e autodepreciativo em Ragnarok, a jornada do Deus do Trovão com o Rocket e o Groot é um dos pontos mais altos do filme. É muito clara a crescente que o asgardiano vem tendo desde A Era de Ultron, onde é o primeiro a mensurar o impacto das Joias do Infinito na vida de todos. Não seria de se espantar que ele fosse um dos remanescentes da equipe antiga na fatídica transição para a nova geração.
Em termos de atuação, o blockbuster não fica com menos destaque. Em um filme em que o vilão é o protagonista, Brolin entrega uma atuação memorável no mesmo nível que Heath Ledger fez com o Coringa anos atrás. Parece que a Marvel repete o que fez com Killmonger (Pantera Negra) e constrói um vilão não-linear. Assim, ao mesmo tempo que abominamos as ações de Thanos, compreendemos seus ideais e por que ele faz o que faz.
A superpopulação, trabalhada por Thomas Maltus (progressão aritmética dos alimentos x progressão geométrica da população) até os pensadores contemporâneos, é um dos problemas mais iminentes que estamos por enfrentar. No caso do filme, essa questão se projeta da Terra ao universo, de sorte que o vilão acha que precisa eliminar metade de suas pessoas para atingir o equilíbrio perfeito. Sem teorias de higienização ou supremacia de alguma raça, o vilão deixa muito claro que não visa eliminar ricos ou pobres, deixando eles à própria sorte. Assim, fortalecendo a máxima de que “cada vilão é o herói dentro de sua própria história” o Titã acredita ser um messias e, para isso, não poupa esforços, inclusive assumindo certos sacrifícios e se ressentindo por eles.
Da mesma forma que o vilão, Downey Jr., o Homem de Ferro, entrega sua melhor atuação no manto do gênio, bilionário, playboy e filantropo. Sendo muito claro de que a invasão o assombra desde os eventos em Nova York, o ator é muito eficiente em tomar para si a responsabilidade de salvar o planeta.
Com menos destaque que a equipe que luta em Titan, a equipe da Terra também tem seus bons momentos. Por mais blazé que seja o relacionamento de Wanda com Visão, isso acaba sendo uma importante engrenagem na obra, até mesmo porque o andróide é um MacGuffin* ambulante. Com menos destaque, Capitão América, Pantera Negra, Viúva Negra e outros têm muitas cenas de ação e poucos diálogos, algo que os diretores já mencionaram que não se repetirá na sequência.
Claro, nem todas as escolhas do texto foram acertadas. Se por um lado a união dos heróis é muito natural, por outro, a Ordem Negra de Thanos (com exceção do Fauce de Ébano) é apresentada de forma displicente e descartados negligentemente. Sem impacto ou urgência, os generais de Thanos vão sendo eliminados de modo que Corvus Glaive e Estrela Negra mal falam.
Da mesma forma, a escolha do cliffhanger nos últimos dez minutos, da forma que foi tomada, tira o impacto almejado. É admirável a coragem do roteiro em matar Loki, Heimdall, Gamora e Visão. Contudo, a força do estalar dos dedos do Thanos é subtraída quando vemos que personagens como Homem-Aranha, Dr. Estranho e Pantera Negra estão entre as baixas, por exemplo;, pois são personagens que possuem seus contratos renovados para mais um filme. Portanto, da mesma forma que toma-se um salto de coragem ao eliminar alguns heróis, usa-se de outros para que o espectador se console ao começarem os créditos.
Vingadores: Guerra Infinita é um dos filmes mais emblemáticos do nicho que representa. Como muitos definem, trata-se de um filme-evento. Uma homenagem a todos aqueles que acompanham a saga desde sua fase embrionária, mas sem esquecer do espectador médio. Uma obra comprometida que tem o grande atributo de renovar uma categoria que estava começando a dar os primeiros traços de cansaço. E o melhor de tudo é a incerteza do futuro, já que a última frase dos créditos garante apenas que um nome vai voltar.
Thanos.
Nota: 6/6 (Ótimo)
*Na ficção, MacGuffin (às vezes McGuffin ou Maguffin) é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa."
Jessica Jones (2ª Temporada)
3.6 286 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Jessica Jones – 2ª Temporada | Crítica
Os mesmos erros, só que maiores
Criado por Melissa Rosenberg. Com Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, Janet McTeer, J.R. Ramirez, Wil Traval, Leah Gibson, Rebecca De Mornay, Terry Chen, Nichole Yannety, Callum Keith Rennie, John Ventimiglia, David Tennant.
Uma das coisas que aprendemos na vida é que, em sagas – especialmente trilogias –, o segundo capítulo é o episódio mais sombrio. O Império Contra-Ataca, As Duas Torres, De Volta para o Futuro II e Batman – O Cavaleiro das Trevas são apenas alguns exemplos que comprovam o argumento. Lógico, existem exceções; Jessica Jones, todavia, que teve uma primeira temporada extremamente impactante mostrando o impacto dos abusos de Kilgrave em sua vida, consegue ser ainda mais melancólica.
O enredo da série é construído a partir das lacunas deixadas pelos anos anteriores, explorando mais a história do acidente de carro na infância de Jessica (Ritter) e as experiências que acabaram deixando-a com poderes meta-humanos. Todos os elementos que cativaram tanto o público ainda estão presentes: a narrativa continua densa e a atmosfera noir ainda se faz presente, embora numa intensidade mais moderada. Nesse ritmo, a séria continua se embrenhando nos traumas da heroína, mostrando que os eventos envolvendo Kilgrave (Tennant) foram apenas uma página de uma vida de rancor.
Novamente, nos deparamos com os mesmos problemas de tantas outras séries da Netflix. Os treze episódios facilmente poderiam ter sido simplificados a quatro, ou até mesmo a um longa-metragem, tamanha a falta de profundidade da trama. Para poder preencher a grade dos treze capítulos (e ser menos enfadonha do que já é), a série acaba lançando mão de subtramas desinteressantes e desnecessárias com Malcolm (Darville), Hogarth (Moss) e Trish (Taylor). Nenhum dos coadjuvantes se escapa, todos tem seu jeitinho especial de serem irritantes.
Aliás, é surpreendente que uma série nos cozinhe em banho-maria, de sete a oito episódios, para definir de forma concreta um vilão. São problemas de texto que foram tão facilmente evitados na segunda temporada de Demolidor – dividir os treze episódios em dois arcos distintos e uni-los nos dois últimos episódios –, que acabam assustando o espectador os enfrenta novamente em um claro retrocesso. Por incrível que pareça, o episódio emblemático vai acontecer no 11º capítulo apenas, onde as discussões mais importantes tomam corpo, para novamente baixar a bola nos últimos dois.
Verdade seja dita, tanto na primeira temporada quando em Os Defensores, as obras terminaram que a personagem enfim tinha aceitado seu manto de super-heroína. Agora, novamente, enfrentamos os mesmos questionamentos e as mesmas negações, um loop que aparentemente não terá fim.
Lógico, ainda estão lá os elementos que criaram a identidade da personagem. A fotografia intercalando os tons entre o azul e púrpura, a música noir urbana e a atuação de Krysten Ritter – cada vez mais empática e cativante como heroína – são pontos fora da curva, que vai ladeira abaixo. Outra característica que revitaliza de certa forma a Marvel na televisão é que os easter-eggs são menos contidos; seja em um garotinho comparando Jessica ao Capitão-América ou na detetive brincando com a expressão “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Em um artigo, o crítico de cinema Matt Singer é muito feliz em definir uma ideia geral das séries da Netflix: "cada vez mais, quando alguém me recomenda uma séria da Netflix, basicamente a mesma observação é feita: ‘você precisa insistir na série. Os primeiros episódios são bem lentos". Mais uma vez, a empresa de streaming e produtora não nega sua imagem de falta de coesão. Infelizmente, o ápice desse problema aconteceu com uma série que teve um primeiro ano fantástico. Mais um problema a ser enfrentado pela Jessica Jones.
Nota: 2/6 (Ruim)"
Projeto Flórida
4.1 1,0KConfira a crítica do Catacrese!
"Projeto Florida | Crítica
Banho. Perfume. Traquinice. Repetição.
Dirigido por Sean Baker. Escrito por Sean Baker e Chris Bergoch. Com Brooklyn Prince, Christopher Rivera, Aiden Malik, Valeria Cotto, Bria Vinaite, Willem Dafoe, Mela Murder.
Existem certas personalidades que caem nos mimos dos públicos que, por mais que se tente ver algum diferencial, não se vê nada além de uma personalidade pretensiosa. Esse é o caso de Sean Baker. Apaixonado por retratar o lado que a sociedade prefere não ver, o diretor – aclamado após Tangerina, que todos repetem incansavelmente que foi filmado integralmente em iPhones, um marketing proposital, desconfio –, volta a ser reverenciado em Projeto Florida, que mostra a periferia dos parques de Walt Disney World.
Seria muito legal falar sobre a trama do filme, isto é, se ele tivesse alguma. Na verdade, o filme se arrasta ao longo de sua duração sem nenhum enredo aparente. Apenas o dia após dia de crianças arteiras, mães negligentes e funcionários entediados. É frustrante ver a rotina sofrível dos personagens, sem objetivos, apenas vivendo um dia após o outro.
Assim, somos expostos a uma série de situações em que crianças, com atuações bem medíocres, ficam saçaricando de um lado para o outro, sem saber que o nome daquilo é tédio. Nos poucos momentos de lucidez, vemos uma parte da vida de Halley (Vinaite), mãe de Moonee (Prince), que precisa matar um leão por dia para poder garantir um teto para si e sua filha. Aliás, o diretor e roteirista tenta trazer de forma desastrosa certa humanidade aos personagens, o que acaba ficando forçado e desonesto. Com isso, vemos os diabretes rebolando, fazendo sinais obscenos, falando palavrões, na falha tentativa de mostrar que isso é natural a eles, mas apenas vira um fiasco.
Com atuações ruins e regulares, não era de se espantar que Willem Dafoe fosse indicado a melhor ator coadjuvante. Com o filme nivelado por baixo, quase no chão, o experiente ator surge como um farol em meio às sombras.
O roteiro, absolutamente vazio de engrenagens motoras, é maçante e moroso. Eivado de repetições, somos massacrados com as mesmas cenas dia após dia: é banho de banheira aqui, a mãe vendendo perfume ali, um sorvetinho lambido a mil línguas, e mais arte.
Se por um lado grande parte do filme não funciona de forma alguma, o mesmo não pode se dizer da fotografia. Abusando de cores vibrantes e muitos contrastes, conseguimos perceber o mundo através do olhar dos diabinhos, onde qualquer banalidade pode se transformar em algo fantástico.
Mostrando mais uma vez toda sua pretensão, Sean Baker tenta impressionar o público com a ordinariedade. Mais uma vez, não convence. Na verdade, a melhor notícia, após os longos 111 minutos de película é apenas uma: não teremos mais aquele maldito aposto “todo filmado em câmeras de iPhone”.
Nota: 2/6 (Ruim)"
Aladdin
4.0 726 Assista Agoraas noites da aráááááábiaaaaaaaaaaaaa e os dias tambééééééémmmmm...
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese com alguns pequenos spoilers!
"The Post – A Guerra Secreta | Crítica
Traçando um paralelo com a atual política norte-americana, Spielberg é claro: a imprensa serve aos governados, não aos governantes
Dirigido por Steven Spielberg. Roteiro por Liz Hannah e Josh Singer. Com Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Alison Brie, Carrie Coon.
Não é novidade a ninguém que Steven Spielberg é abertamente contra Donald Trump. Na verdade, seu ímpeto para criticá-lo é teu forte que, há apenas onze meses, o diretor lia o roteiro pela primeira vez. Assim, em toque de caixa, nasce The Post – A Guerra Secreta.
A trama do filme, baseada em fatos, narra a ascensão do jornal The Washington Post ao posto de um dos veículos midiáticos mais importantes do mundo. Nesse caso, trata-se de uma divulgação de documentos sigilosos do Pentágono que asseveravam que o governo sabia que a Guerra do Vietnã era uma batalha perdida. Com isso, precisaram lidar com a censura e a pressão do governo, inclusive através de ameaças de fechar o jornal e serem presos por traição.
O roteiro, por conta da iniciante Liz Hannah e de Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados, quando percebemos muita afinidade do roteirista com o mundo jornalístico), é muito coerente quando exibe elementos muitos distintos que caracterizam cada um dos personagens. Bradlee (Hanks), Graham (Streep) e McNamara (Greenwood) são representantes claros das forças que representam, quais sejam, a imprensa, a família e o Estado, respectivamente. Assim, Graham vê-se em um jogo constante em meio à queda de braço das instituições, de modo que precisa de coragem escolher lados e ignorar laços de amizade.
Com atuações excelentes, o filme não só se destaca por conteúdo, como também se firma pelos destaques individuais. Contudo, os verdadeiros destaques ficam por conta de Streep e Odenkirk, ambos perfeitamente transparentes apenas com o olhar – a cena de Graham ao telefone, quando decide publicar o material, é emblemática, pois vemos claramente suas preocupações e seus pensamentos.
A direção de Steven Spielberg, um dos maiores e mais versáteis diretores vivos, é excelente no momento em que consegue aliar à trama política, a importância social do empoderamento feminino. No início, Graham era apenas a herdeira de um jornal de bairro – basta ver nas primeiras cenas que Bradlee mal a olha nos olhos –, todavia, na medida em que os fatos vão ocorrendo, a personagem não só ganha seu respeito, mas também da bancada executiva do jornal (o momento em que Graham desse as escadas do Tribunal apenas sob os olhares admirados de mulheres é o firmamento do ideal feminista).
Claro, a obra não escapa dos clichês que Spielberg muitas vezes cai propositalmente para criar o laço com o espectador. As cenas da impressão do jornal com a música de triunfo de fundo, por mais belas que sejam, são o ápice do didatismo do diretor, quase uma autorização no sentido de “pronto, agora podemos comemorar”.
Em uma entrevista ao Express, Spielberg relata que “o filme foi feito com urgência por causa da atual administração do governo, atacando a imprensa e rotulando a verdade a seu bel-prazer”. Após encerrar a película, fica muito claro que sua intenção, de fato, não é ganhar o prêmio de melhor filme da Academia. Ele apenas quer deixar o protesto reverberar nas paredes do Teatro Dolby; e ninguém vai calar ele.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese!
"Me Chame pelo Seu Nome | Crítica
- Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio.
- Oliver. Eu lembro de tudo.
Dirigido por Luca Guadagnino. Roteiro por James Ivory. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears.
O primeiro amor é sempre algo de difícil absorção. A vontade de estar junto, o nervosismo ao ver a pessoa, a insegurança de falar algo que não devia. Cada uma dessas etapas podemos ver em Eliot (Chalamet), seja em seus olhos trêmulos, nas suas costas curvadas, ou até mesmo em seus atos involuntários, como colocar um óculos para impressionar seu novo amor, Oliver (Hammer).
Com a trama lenta, feita para ser apreciada de forma contemplativa, o filme narra a história vista na perspectiva de Eliot, um adolescente de dezessete anos, que descobre o amor com Oliver, um aluno de seu pai (Stuhlbarg, parecidíssimo com o Robin Williams de Gênio Indomável) que vai passar um tempo em sua casa, no interior da Itália. Já nos primeiros minutos, podemos perceber que, por vermos o amor da perspectiva do jovem, a obra abunda de fotografias ensolaradas e bucólicas (por conta de Sayombhu Mukdeeprom) e figurino leve (de Giulia Piersanti), expondo muito a pele, deixando a atmosfera muito sensual. Por fim, a aura romântica se completa com a trilha sonora clássica e com a sutilidade com que os fatos vão se sucedendo.
Na verdade o erotismo é algo muito presente a todo momento. Sem nudez apelativa ou imagens explícitas, o trabalho faz questão de manter a pureza do primeiro amor. O início vagaroso (uma das maiores críticas da obra é o enredo arrastado nos primeiros dois atos) traça um paralelo perfeito com seu próprio argumento, como se fossem as preliminares do próprio ato sexual. A atração intelectual inicial, a confusão e a tensão física sedimentam um clímax de autoconhecimento que somente aflora no terceiro ato, que vai, sim, desmontar o mais duro dos corações.
Com um roteiro muito inteligente, a obra consegue escapar das armadilhas tradicionais que textos similares acabam cedendo. Ao retratar o filme por um coming of age, deixa-se de lado a questão da homofobia (uma vez que a família de Oliver é quase que integralmente ignorada). Não há preocupação com a sexualidade de ambos senão a entrega de um para o outro.
A atuação de Chalamet, como Eliot, é feita de forma muito sincera. O espectador realmente acredita nos sentimentos experimentados. Na verdade, sua forma de encarar suas experiências de peito aberto – Eliot em nenhum momento sente vergonha de se apaixonar por alguém do mesmo sexo – faz um contraste perfeito com a postura de Oliver, que claramente mostra-se afetado pelos pudores injustamente impostos por sua família.
O início paulatino talvez incomode a plateia mais imediatista, que pode considerar o filme um drama enfadonho. Entretanto, muito mais do que isso, Me Chame pelo Seu Nome é um filme sobre o amor. Como o próprio título faz questão de evidenciar, mais do que encontrarem um ao outro, eles encontraram a si mesmos. Ao chamarem ao outro pelo seu próprio nome, é evidente que não se trata de um simples casal, mas sim de reconhecer sua parte que falta.
Nota: 4/6 (Bom)"
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Eu, Tonya | Crítica
Um mockumentary irônico sobre a verdade subjetiva
Dirigido por Craig Gillespie. Escrito por Steven Rogers. Com Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Caitlin Carver, Mckenna Grace, Cara Mantella, Bobby Cannavale.
Presença constante em nossas vidas, a mídia volta e meia escolhe casos até exaurir o assunto e massacrar todos os envolvidos; aqui, aconteceu com o goleiro Bruno, Suzane Von Richthofen, casal Nardoni. Nos Estados Unidos não é diferente, antes do julgamento de O.J. Simpson, o país estava atônito com o caso de Tonya Harding, a patinadora que supostamente conspirou com um ataque a sua concorrente, Nancy Kerrigan.
Desde o início, a obra é bem sincera sobre que viés irá adotar. Na forma de mockumentary (falso documentário), o filme simula entrevistas com os envolvidos no caso. Em tom irônico, cenas das entrevistas são intercaladas com os fatos narrados. Assim, utilizando da ironia como novidade na narrativa, o trabalho se diferencia das demais biografias costumeiras. A bem da verdade, embora adote a versão de Tonya para os fatos, o roteiro tenta ao máximo ser empático com a vida da patinadora, mas nunca exculpante.
Graças a entoação escolhida, a obra consegue extrair o que há de melhor na performance de Margot Robbie. Na ironia a atriz cresce com todas suas viradas de olhos e acidez humorística. Interpretando Tonya desde os quinze anos da patinadora, até mesmo os bráquetes eram desnecessários, tamanha a eficiência de Robbie.
Tonya teve uma vida difícil. Moral, psicológica e fisicamente abusada por sua mãe e, mais tarde, por seu marido, a atleta constantemente tinha que viver com os hematomas e as humilhações provindas de ambos. Assim, desde a adolescência vê-se que, embora extremamente talentosa, Tonya não se identificava com as demais colegas – e nesse ponto o contraste é muito evidente, considerando a imagem angelical que o espectador tem de patinadoras. Nesse ponto, LaVona (interpretada por Janney) é o maior destaque do filme, já que, vinda da comédia, a atriz traz à tona o humor negro e, até mesmo, certa maldade como mãe da patinadora.
Curiosamente, Janney, considerada uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, divide o posto com Laurie Metcalf (Lady Bird), esta com mais destaque dramático que irônico. Ambas conhecidas pela veia humorística, mas que se transformaram em seus papeis paralelos de mães imperfeitas.
A cenas de patinação, considerando sua dificuldade óbvia em utilizar o CGI, são feitas de forma pouco comprometida. Em todos as sequências, o espectador percebe que a face de Robbie foi inserida digitalmente no corpo de uma dublê, tirando muito de seu impacto.
Com uma trilha sonora bem escolhida, Eu, Tonya é pautada por autos e baixos. Muito mais que um filme sobre a patinadora, a obra mostra que o que há por dentro de cada um. No gelo, não era apenas Tonya que esquecia de seus milhares de problemas; o marido redescobria o amor e a mãe se humanizava. Contudo, no último acorde, todos precisavam retornar à realidade, assim como em um sonho. Quem dera pudéssemos todos deslizar para sempre e deixar os problemas para trás.
Nota: 4/6 (Bom)"
Roman J. Israel
3.2 209 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese sobre o filme!
"Roman J. Israel, Esq. | Crítica
O verdadeiro super homem
Dirigido e escrito por Dan Gilroy. Com Denzel Washington, Colin Farrel, Carmen Ejogo, Lynda Gravatt, Amanda Warren, Hugo Armstrong, Sam Gilroy, Tony Plana, DeRon Horton, Amari Cheatom.
Quando Friedrich Nietzche lançou, em 1883, seu livro Assim Falou Zaratustra, o filósofo definiu o que, para ele, seria um Super Homem (Übermensch). Simploriamente falando, o pensador define o homo superior como aquele modelo a ser seguido pela humanidade. Aquele que mira estritamente a grandeza humana e renuncia seu próprio lazer para alcançá-la, isto é, partindo de sua própria individualidade, o coletivo se contaminaria por seus atos. Volta e meia, descobrimos super homens que muitas vezes nem sabem que o são. Esse é o caso de Roman J. Israel.
A trama do filme mostra a história de Roman J. Israel, um advogado inadequado socialmente – quase um autismo – e que é um verdadeiro gênio em matérias jurídicas. Entretanto, vive em meio as sombras, apenas trabalhando em seu escritório, enquanto seu único amigo é o sócio que vai ao tribunal e conversa com os clientes. Após uma fatalidade com seu sócio, Roman se vê sozinho e precisa enfrentar o mundo que sempre preferiu ignorar.
Roman é um advogado idealista; anseia em reformar o processo penal e se indigna com a indiferença de promotores alienados e robotizados pelo sistema. Contudo, é uma ilha em meio ao oceano. E a metáfora é perfeita quando se pode definir Pierce (Farrel) como shark, expressão norte-americana para advogados impiedosos e com muitos recursos. Visto em meio à necessidade de precisar interagir com o mundo, Roman (nosso super homem) se reduz em ordinariedade, afinal o homo superior, de acordo com Nietzche, não deve se misturar com outro ser que não seja superior também. Assim, o advogado não só instrumento de elevação a todos em sua volta, mas também se diminui ao experimentar sentimentos como amor e ganância.
Estreando na cadeira de direção em 2014, com O Abutre (estrelado por Jake Gyllenhaal), Dan Gilroy chocou o espectador com um retrato frio do jornalismo sensacionalista, mas que na verdade se justifica agora com este filme. Com muita sutilidade, o diretor traça um paralelo com outra definição nietzchiana (e somente agora se percebe isso): o último homem, símbolo da mediocridade e do apequenamento humano em meio a sociedade. Portanto, em dois filmes, o diretor lança mão de uma narrativa extremista para mostrar seu raciocínio: enquanto o abutre é um sociopata (o último homem), Roman é um advogado idealista com autismo leve não diagnosticado.
Partindo para a análise técnica, Denzel Washington faz um trabalho de excelência. Da mesma forma que Tom Hanks fez em Forrest Gump, ou Dustin Hoffman em Rain Man, Denzel se destaca pelo carisma. Merecedor de todo seu reconhecimento, o ator se mostra um dos mais talentosos em sempre trazer diferentes facetas a seus personagens. Enquanto em outros momentos o vimos interpretar personagens autossuficientes, muitas vezes autoritários, aqui temos uma pessoa frágil, confusa e insegura, porém determinada. Colin Farrel e Carmen Ejogo são muito eficientes nas vezes que contracenam com o ator.
Muito embora o roteiro seja bom a partir da análise filosófica, o texto começa a se perder um pouco a partir da metade, visto que toma ares de suspense em um afã de encerrar a trama tornando o clímax repentino e inesperado.
A despeito da atuação primorosa de Denzel Washington e do poder de nos proporcionar um debate rico, Roman J. Israel, Esq. é um filme tecnicamente fraco em um roteiro pouco convicto. Nada mais que uma ilustração do que ele mesmo quis nos passar. A atuação majestosa está para o filme, tal qual Roman está para o mundo. Uma ilha.
Nota: 3/6 (Regular)"
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraConfira a crítica SEM SPOILERS do Catacrese:
"Pantera Negra | Crítica
Filme da Marvel mais importante em termos de representatividade impressiona por ser um eco das lutas do passado
Dirigido por Ryan Coogler. Roteiro por Ryan Coogler e Joe Robert Cole. Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Sterling K. Brown, Angela Basset, Forest Whitaker, Andy Serkis, John Kani.
Quando foi anunciado o filme do Pantera Negra, parte dos fãs ficou receosa de como seria tratada a representação da comunidade negra nos cinemas. Outros super-heróis negros já tinham existido, é verdade, Hancock, Spawn e Steel, para apenas mencionar esses três; entretanto, nenhum teve a ambição de abraçar sua importância e fazer uma obra com um elenco quase exclusivamente negro. Eis que surge T’Challa.
Em uma história de origem clássica, Ryan Coogler, o diretor, nos leva a conhecer Wakanda nas semanas que se sucederam ao término do filme Capitão América: Guerra Civil. Após a morte de seu pai (T’Chaka, com John Kani reprisando o papel), T’Challa passa pela cerimônia de ser coroado rei. É difícil falar mais sobre a trama sem entregar spoilers da história, de sorte que esse é apenas o pano de fundo.
De forma muito interessante, a produção de design surpreende na hora de mostrar Wakanda. Quando somos apresentados ao avançado país pela primeira vez, nos deparamos com uma mistura orgânica de alta tecnologia com elementos tribais. As construções com as pinturas coloridas e as estacas de equilíbrio salientes nas extremidades, bem como as vestimentas dos personagens e a vegetação de savana nos arredores da cidade servem para criar a identidade do país fictício que funciona quase como um personagem do filme, tamanha sua riqueza em detalhes. Além disso, o belo jogo de cores – fazendo um contraste contínuo entre o púrpura, azul e o dourado – dá à obra um tom próprio e caracteriza o embate entre o herói e o vilão.
O roteiro do filme, também assinado por Coogler, se diferencia dos demais filmes da Marvel ao estabelecer um tom mais sério e discussões mais densas. Com isso, a importância de Erik Killmonger (Jordan) se acentua como um dos vilões mais profundos da franquia inteira. Amparado na premissa de que os fins justificam os meios, Killmonger é verossímil e resgata um debate muito vivo na década de sessenta: enquanto T’Challa é uma mistura de ideais de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, Killmonger é o grito dos próprio Panteras Negras – quase uma provocação do diretor com o nome histórico “Pantera Negra”.
Da mesma forma que se vê a importância da representatividade racial, ao mesmo tempo, vê-se uma valorização de gênero essencial nas telas. As Dora Milaje (lideradas por Danai Gurira) são guerreiras vigorosas e imbatíveis, fiéis à nação que pertencem, Shuri (Wright) é a líder de tecnologia de uma nação inteira, enquanto Nakia (Nyong’o) é uma lutadora hábil e a principal espiã de Wakanda que viaja o mundo.
Infelizmente, um dos pontos que ficou aquém do esperado são as poucas cenas de ação ao longo dos 134 minutos. Com exceção da luta dentro do cassino na Coreia do Sul, que é feita em um plano-sequência honesto, as outras coreografias são truncadas e cheias de cortes rápidos, que dificultam a própria localização do espectador. Aliado a isso, a obra parece sofrer para encontrar o caminho a ser percorrido, isto é, nos primeiros quarenta minutos o filme parece estar acontecendo sem trama alguma, apenas acompanhando a rotina do super-herói.
Estreando com toda imponência que esperada de um rei, Pantera Negra chega definitivamente ao MCU e trava suas garras (com o perdão do trocadilho) para ficar por um bom tempo. Da mesma forma que Doutor Estranho promete assumir a liderança de um futuro time, Pantera Negra pode tomar o manto da tecnologia do time. Aos poucos, os primeiros heróis vão ficando no passado, enquanto os novos mostram o potencial de seguir a estrada. Se eles serão igualmente capazes de fazer isso, apenas o futuro dirá.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
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Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi | Crítica
A terra não vê cor
Dirigido por Dee Rees. Roteiro por Virgil Williams e Dee Rees. Com Garrett Hedlund, Carey Mulligan, Jason Clarke, Jonathan Banks, Jason Mitchell, Rob Morgan, Mary J. Blige, Kerry Cahill, Dylan Arnold.
Assim como um texto – afinal provém de um –, um filme precisa estar sempre muito atento ao seu argumento, sob pena de fugir do tema ou ficar deveras abrangente. Mudbound se enquadra perfeitamente no segundo caso; embora costuradas competentemente, as diferentes premissas acabam por causar certo estranhamento ao espectador já que 130 minutos acabam sendo poucos para mostrar todas as chagas da sociedade.
A trama se passa na década de 40, quando a vida de duas famílias (uma negra e uma branca) se cruza no Mississippi. Os McAllan – compostos pela mulher submissa, duas filhas pequenas, o marido distante e seu pai racista – e os Jacksons – uma família negra com cinco filhos, claramente no intuito de ajudar na agricultura familiar. Mesmo com todas as limitações impostas pelo mundo, Hap Jackson (Morgan) permite sua família sonhar; tudo que eles quiserem ser, serão.
Narrado em diferentes momentos pelos seus mais diversos personagens, o filme ganha um tom introspectivo e melancólico. Entretanto, se por um lado o filme ganha alcance ao mostrar os dramas de cada um (sempre com o racismo de pano de fundo), por outro ele fica com aspecto raso por apenas pincelar algumas críticas: a esposa infeliz e submissa, por exemplo, fica esquecido em meio ao filme. Aliás, esse é outro ponto em que há uma quebra de expectativa no texto do filme, no momento em que Ronsel (Mitchell) e Jamie (Hedlund) retornam da guerra, o filme se vira para o relacionamento de ambos, de modo que os demais personagens, antes protagonistas, viram meros coadjuvantes. Até nisso há uma metáfora, enquanto Jamie, caucasiano, é capitão e piloto de jatos, Ronsel, negro, é sargento e dirige tanques.
O tempo dedicado às diferentes sequelas sociais acaba por deixando o filme moroso e arrastado. O impacto que certos momentos deveriam causar se perde nas diversas frentes abertas na obra, perdendo muito da intensidade.
Mudbound é um filme de elenco uniforme. Sendo uma produção da Netflix, não houve investimento massivo em atores consagrados, de sorte que o elenco é harmonioso em si. A indicação de Mary J. Blige nada mais é do que a culminação disso, pois não há uma cena isolada que justifique sua indicação. Contudo, a canção Mighty River, que também concorre ao prêmio da Academia, possui uma letra forte, pertinente e atual em relação aos problemas tratados.
A fotografia espetacular é responsável por dar razão ao título do filme, a lama e o barro são presenças constantes no ambiente. Está na roupa, na pele, na casa. De todos. Seja preto, branco, rico ou pobre, a terra é a mesma para todos, é ela que absorve o suor, as lágrimas e o sangue, e é para ela que todos vamos ao cabo.
Há um momento no filme em que Hap olha para Ronsel e diz "desiste, não adianta discutir, eles sempre vão vencer". A triste história de negros libertos mas que são inferiorizados e hostilizados até hoje. Ao fim, há a esperança de dias melhores. Nas palavras da bela Mighty River: o tempo não conta mentiras, ele continua mudando e se movendo até que passa. Se você tiver sorte, ele vai ser generoso, como um rio fluindo através do tempo.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
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Marshall: Igualdade e Justiça
3.8 130 Assista AgoraLeia a crítica do Catacrese SEM SPOILERS de Marshall:
"Marshall | Crítica
Quando o machismo e o racismo medem forças
Dirigido por Reginald Hudlin. Roteiro por Jacob Koskoff e Michael Koskoff. Com Chadwick Boseman, Josh Gad, Kate Hudson, Sterling K. Brown, Dan Stevens, James Cromwell, Keesha Sharp, Roger Guenveur Smith, Derrick Baskin, Barrett Doss, Zanete Shadwick, John Megaro.
Em certo momento, após o primeiro encontro com seu cliente, Thurgood Marshall é questionado por Bertha Lacaster: por que mulheres mentiriam ser estupradas, Sr. Marshall? Essa pergunta retumbaria durante todo o resto do filme, em um caso que coloca frente a frente a discriminação de raça e a de gênero. Sem saber a resposta no momento, Marshall não compreende o peso que esse questionamento teria no futuro.
Com muito ímpeto, Marshall é um filme biográfico. A trama acompanha um dos primeiros casos do jovem Thurgood Marshall (Boseman), o primeiro juiz afro-americano da Corte Suprema Americana, que trata da defesa de Joseph Spell (Brown), um negro que trabalhava para Eleanor Strubing, uma socialite branca (Hudson) e submissa ao marido, que o acusa de estupro.
Assim, em ambos os lados, há pessoas oprimidas. Se por um lado temos um negro vivendo à margem no estado racista de Connecticut, de outro, temos a mulher que teme o desprezo, não só da comunidade, mas teme as agressões do marido. Aliado a isso, há Sam Friedman (Gad), o advogado judeu obrigado a atuar no caso, e Loren Willis (Stevens), o promotor elitista e racista que atua na acusação.
Se por um lado o argumento-base acaba trazendo uma discussão densa – quase uma provocação sobre qual preconceito predomina em relação ao outro –, o roteiro escrito por quatro mãos acaba cedendo aos clichês de um típico filme de tribunal. Estão lá vários dos recursos narrativos que estamos acostumados: os insuperáveis insights durante as oitivas das testemunhas, os silêncios dramáticos antes de uma resposta, a resistência do juiz (Cromwell) em acatar os pedidos da defesa. Assim, mesmo com potencial, esse empobrecimento do texto, aliado ao histórico do diretor em episódios de séries televisivas, faz o filme entrar em uma roda de closes sem impacto e plot twists previsíveis.
Ao mesmo tempo que o roteiro e a direção pendem para o usual, o elenco extraordinário faz a diferença e traz o grande destaque do filme. Enquanto Boseman faz uma grande atuação como Marshall, o verdadeiro destaque fica por conta de Gad e Brown. Enquanto o primeiro mostra a evolução perfeita do advogado mecânico para alguém que se (re)apaixona pelo ofício e assume seu papel na luta pela igualdade, o último, com seus olhos arregalados e lacrimejantes, justifica todos os prêmios ganhados por This Is Us e The People v. O.J. Simpson: American Crime Story, e nos emociona sempre que está em cena. Aliás, Dan Stevens e James Cromwell fecham o elenco principal de forma muito competente, reforçando o sentimento segregacionista existente até hoje. Kate Hudson tem grande atuação também no momento em que leva sua personalidade enigmática até o último segundo; não como discernir se Eleanor sente raiva, alívio culpa ou arrependimento, já que são emoções perfeitamente cabíveis no momento, mas que dependem da leitura de cada espectador.
Muito mais do que um mero longa de tribunal, Marshall tem o mérito de ser provocativo até onde seu roteiro permite e revitaliza o espírito trazido por O Sol é Para Todos (1962) de combate ao racismo incrustado na sociedade. Um caso emblemático em que um advogado negro foi proibido de falar em julgamento e, mesmo assim, lutou até o fim para defender o acusado. Enquanto alguns podem dizer que isso é mimimi, filmes assim são necessários até que a ferida sare. Como bem dito por Thurgood, enquanto alguns veem apenas um negro no banco dos réus, para ele, é uma nação inteira.
Nota: 4/6 (Bom)"
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Artista do Desastre
3.8 554 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese, SEM SPOILERS:
"Artista do Desastre | Crítica
Um bom filme sobre um dos piores filmes
Dirigido por James Franco. Roteiro por Scott Neustadter e Michael H. Weber. Com Dave Franco, James Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Alison Brie, Jacki Weaver, Paul Scheer, Zac Efron, Josh Hutcherson, June Diane Raphael, Megan Mullally.
Filmes sobre filmes tem um carinho especial pelo público. Partindo dos medianos Trovão Tropical (2008) e Hitchcock (2012) até os premiados Ed Wood (1994) e Argo (2012), os filmes que tratam de filmagens sempre contaram com a vantagem de mostrar como funcionam os bastidores ao espectador, ou, até mesmo, recontar polêmicas por de trás das câmeras.
Artista do Desastre vai muito além. Não se trata de um filme de sucesso ou uma obra fictícia, era necessário que James Franco nos recontasse a história de um dos piores filmes já feitos (The Room). A trama adapta o livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, escrito por Greg Sestero, vivido nas telonas por Dave Franco. Assim, o filme narra desde o momento em que Sestero encontra o peculiar Tommy Wiseau (James Franco) – idealizador do pior dos filmes – até sua premiére.
Para alcançar seu objetivo, o diretor e protagonista busca os trejeitos e a dicção de Wiseau, no intuito de dar verossimilhança aos problemas dos bastidores. Ao longo do enredo, podemos ver que são os atributos de Tommy que causam mal-estar nas filmagens; seja por sua malemolência, autoritarismo ou por sua aura de mistério, Wiseau nunca ganhou o respeito dos profissionais envolvidos na filmagem. Portanto, James Franco entregou-se de forma nunca que nunca o havia feito, tendo muito sucesso em sua empreitada. Possivelmente, a missão não teria tanto sucesso nas mãos de qualquer outro ator, uma vez que é requerida certa pachorra e senso de auto-depreciação.
Lógico, sozinho ele não haveria de conseguir. Para isso, trás para a obra sua famosa trupe que geralmente o acompanha. Dave Franco e Seth Rogen estão no elenco para reforçar o deboxe que é o causo que está sendo contado. A dedicação também é percebida nas cenas extraídas copiadas do filme original. Com alocações basicamente iguais, o elenco procura copiar as pífias atuações – em especial às de Wiseau – que tanto marcaram a produção.
À sua forma, Artista do Desastre é um filme de american dream. Um filme sobre aquela dupla fracassada que busca o sucesso em Los Angeles, mas enquanto um barra em sua própria incompetência, o outro empaca na gratidão que sente pelo amigo. Mesmo com todas as dificuldades – vocacionais, especialmente –, a dupla segue com seus ideais e não desistem perante às negativas.
Ao fim e ao cabo restou a vitória moral. O melhor dos piores, The Room adquiriu o status de cult por toda sua mística. Mesmo que o impacto não tenha sido o almejado por Wiseau (que queria seu drama concorredo ao Oscar), o filme alcança os sonhados aplausos. Acompanhados de boas gargalhadas é verdade. Mas, mesmo assim, ovacionado.
Nota: 4/6 (Bom)
PS: é importante destacar que, por mais excelência técnica que James Franco tenha demonstrado nas filmagens, sua ausência na lista dos indicados à melhor ator é pertinente. O profissional do cinema, independentemente da área ou de sua qualidade, é uma pessoa midiática, em que TODAS as suas atitudes ecoarão e repercutirão nas notícias. Considerando isso, o histórico dele como pessoa não indica tamanha recompensa. Para quem não sabe, Franco está envolvido em cinco casos de assédio em suas produções passadas. Não se trata de misturar o profissional com o pessoal; seus assédios foram feitos em ambiente de trabalho e – mesmo que fossem em qualquer outra circunstância – isso não pode ser corroborado pela Academia."
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Han Solo: Uma História Star Wars
3.3 638 Assista Agoramarquei que quero ver, mas to com medo
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraConfira a crítica SEM SPOILERS do Catacrese:
"O Destino de Uma Nação | Crítica
Em filme morno, Gary Oldman, auxiliado por uma maquiagem impecável, eleva o conceito do que é atuar
Dirigido por Joe Wright. Roteiro de Anthony McCarten. Com Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup, Stephen Dillane, Richard Lumsden, Nicholas Jones, Samuel West, David Schofield.
Winston Churchill é um dos personagens mais icônicos da história contemporânea. Político, historiador, ganhador de Prêmio Nobel de Literatura, o estadista foi o Primeiro-Ministro que liderou o Reino Unido nas amarguras da Segunda Guerra Mundial. Famoso por suas idiossincrasias o personagem foi interpretado inúmeras vezes nas películas; duas apenas esse ano com Brian Cox (Churchill) e, por último, Gary Oldman, em O Destino de Uma Nação.
A trama do filme acompanha um momento muito específico na vida do político. A obra narra os primeiros trinta dias de seu governo, desde sua posse, até o momento em que em que dá seu famoso discurso We Shall Fight on the Beaches perante à Câmara dos Comuns. Durante esse período, Churchill precisou lutar contra a descrença do Rei George VI, as maquinações de rivais políticos, além de ter tomado a difícil decisão sobre a evacuação dos soldados britânicos na praia de Dunquerque (sim, aquele filme do Nolan).
O grande destaque do filme definitivamente é na atuação estupenda de Oldman e sua respectiva maquiagem. Hábil em capturar não só os maneirismos, mas também o timbre da voz de Churchill, o ator – que já emocionou nos papéis de Drácula, Beethoven e Sirius Black – mostra-se um verdadeiro camaleão, de modo que fica absolutamente irreconhecível no papel. Ben Mendelsohn consegue, também, dar o devido suporte ao ator, de sorte que seus diálogos (embora muito expositivos), são os grandes momentos do fraco roteiro.
Aliás, a fotografia do filme é muito eficiente no momento em que retrata os ambientes de forma escura e esfumaçada, o que causa constantemente uma sensação de sufoco. A poeira, constantemente realçada pelos feixes luminosos que adentram o parlamento, traça em paralelo com a nebulosidade londrina e a fumaça da guerra que se aproxima.
Assim, a beleza estética e a excelência técnica dos atores, acabam abafando um roteiro fraco, ineficiente em reverberar a profundidade do momento vivido, e que tenta compensar isso através de diálogos pseudoeloquentes, que narram coisas já absorvidas pelo expectador. O peso da decisão de sacrificar quatro mil soldados para salvar os trezentos mil de Dunquerque é apenas pincelado, sem nenhum impacto narrativo.
A importância histórica do Primeiro-Ministro seduz o cinema a cada vez mais a retratar sua vivência. Churchill, embora extremamente conservador e defensor da higiene racial (parte discretamente omitida ao mostrar o premiê dialogando de forma emocionante com um negro no metrô) foi, quem sabe, o indivíduo mais importante no levante contra Adolf Hitler, ao iniciar as tratativas para ingresso dos Estados Unidos – então liderado pelo Presidente Franklin Roosevelt – em apoio aos Aliados.
O Destino de Uma Nação é o maior exemplo de que obras cinematográficas dificilmente serão homogêneas. A atuação fenomenal de Gary Oldman e a maquiagem utilizada são evidentes muletas que amparam um filme que, se não as tivesse, seria no máximo ordinário.
Nota: 4/6 (Bom)"
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Jogos Mortais: Jigsaw
2.8 706 Assista Agoracansei já
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS para um dos favoritos ao Oscar de melhor filme!
"Três Anúncios Para um Crime | Crítica
Um dos maiores dilemas da vida em tela: o que diferencia a justiça da vingança
Dirigido e roteirizado por Martin McDonagh. Com Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Lucas Hedges, John Hawkes, Abbie Cornish, Samara Weaving, Peter Dinklage, Kerry Condon.
É muito complicado ter a visão eternamente analítica. Indubitavelmente um dia todos nós nos perderemos no limiar entre a justiça e a vingança. Enquanto a primeira é movida por valores éticos e morais, a segunda é o mais puro desejo de buscar a satisfação através da compensação. Assim nos foi ensinado, mas, mesmo que todos nós saibamos disso, é necessário sermos sensíveis e compreender outro ponto: a dor de uma perda cega, e, na perda, somem as barreiras.
É exatamente sobre isso que se trata Três Anúncios Para um Crime. Um filme denso, que mostra a vida de Mildred Hayes (McDormand) após o estupro e assassinato de sua filha. Desamparada pela ineficiência da polícia local, ela decide alugar três outdoors da estrada que leva a sua cidade, Ebbing, Missouri. Com o fundo vermelho e letras pretas de forma, ela questiona o que a polícia fez para resolver o crime. Com isso, desenrolam-se uma série de eventos típicos de uma comunidade pequena, enquanto alguns dizem que a polícia fez o que lhes era possível, outros apoiam as cobranças de Mildred.
Com um roteiro primoroso e atuações impecáveis, a obra se destaca por não apenas ser imparcial a ambas as visões, mas também estabelecer um background complexo para todos os personagens. Enquanto somos tocados pela vida de Mildred – eternamente afetada após a fatalidade –, percebemos também que polícia não podia fazer muito mais do que realmente fez (mas, mesmo assim, podia). McDormand mostra o quão versátil ela pode ser, mesmo atuando em grandes papéis como em Fargo, aqui, ela consegue se mostrar como se carregasse o peso do mundo nas costas, e estivesse prestes a desabar. Harrelson e Rockwell (como o Xerife Willoughby e o policial Jason Dixon, respectivamente) justificam suas indicações ao Oscar pela forma magistral com a qual aprofundaram e deram a importância a seus personagens. O elenco secundário trabalha com esmero em suas devidas cenas, não prejudicando o andamento do trabalho.
O maior mérito do trabalho é, definitivamente, questionar o direcionamento e o contágio da ira da protagonista. Enquanto no primeiro momento ela destinava suas forças contra a polícia, ao melhorar sua perspectiva, acaba precisando focar seus esforços no suposto culpado e, por fim, quando o maior dos desesperos toma conta, contra qualquer culpado. Na verdade, faz-se um bê-a-bá do nascimento do vigilantismo, onde o ódio é proporcional à insatisfação com a justiça.
Sem maniqueísmos, a obra justifica – mas jamais exculpa – o ato de cada um dos personagens. Enquanto Mildred age movida somente por desespero e remorso, o xerife apenas ri de sua própria incapacidade de fazer mais e Dixon é o policial imaturo que vive sob a asa da mãe controladora. Com todos seus grandes defeitos, mesmo assim não deixamos de torcer para que encontrem o que almejam. A mãe busca um encerramento; o xerife, paz; o policial, sucesso.
Sem sombra de dúvidas, Três Anúncios Para um Crime é uma das melhores produções a concorrer aos prêmios da academia. Atual, crítico e provocativo, o filme se destaca em todos os aspectos, principalmente por se relacionar ao mundo raivoso e sedento que vivemos. Que sirva de aviso a todos: no momento em que o ódio toma as rédeas, não há outro caminho senão a frustração.
Nota: 6/6 (Ótimo)"
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Vende-se Esta Casa
1.4 989 Assista Agoraa única explicação que achei mais razoável é o filme ser um serial killer de Open Houses.
tanto que no final do filme, mostra um carro com uma pessoa indo na direção que uma placa apontava Open House, mas não era a casa em que o Logan estava.
tirando isso, não tem mais nenhuma explicação possível. o filme não dá nenhum argumento para que se possa COMEÇAR a teorizar.
Vende-se Esta Casa
1.4 989 Assista AgoraComeçou muito bacana, o meio foi bem clichê e o final foi uma bosta total.
A Forma da Água
3.9 2,7KConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"A Forma da Água | Crítica
Como já diria o ditado: há sempre um pé torto para um chinelo velho.
Dirigido por Guillermo del Toro. Roteiro por Guillermo del Toro e Vanessa Taylor. Com Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy.
De todas as formas que pode se manifestar, o amor é sentimento mais inexplicável que existe. Seja na paixão, no erotismo, na amizade, ou (nesse caso) na empatia, o sentimento mais belo surge de forma arrebatadora e muda a vida de todos que o envolvem.
Com isso em mente, del Toro – se recuperando do pífio, mas belo, A Colina Escarlate – nos traz a um mundo com ares de Amélie Poulain. A fotografia sombria e, por vezes, surrealista serve para dar o contorno de fábula que o romance precisa ser contado. Na trama, Elisa (Hawkins), muda desde que tem alguma lembrança, faxineira de uma base secreta norte-americana, se apaixona por um ser aquático (Jones), que é cobaia para experimentos durante a Guerra Fria.
A paleta azul-esverdeada, que muitas vezes é usada para lançar mão de tons frios, aqui muda sua ênfase para ficarmos submersos. Sem frieza alguma, somos convidados a nos afogar em um romance em sua forma mais pura. Elisa, nunca completamente compreendida em virtude de sua deficiência, e um ser anfíbio, retirado de seu habitat natural, mas com inteligência psicológica e emocional para compreender os seres humanos a sua volta.
O design de produção esplêndido é uma constante nos trabalhos do diretor e produtor. Com mise-en-scène belos e provocativos, o espectador sempre sente que algo destoa da realidade, mas nunca há grande certeza no quê. Seriam as cores? A disposição dos móveis? Ou seriam as cenas climáticas ao som de Carmen Miranda?
Se existe uma palavra capaz de definir o elenco como um todo é carisma. Sally Hawkins é uma gigante interpretando a muda Elisa; enquanto Octavia Spencer (Zelda), sempre com atuações seguras, é a amiga preocupada e compreensiva. Michael Shannon (Richard), talvez um dos atores mais talentosos hoje, é um vilão digno da fábula que o envolve e Richard Jenkins se destaca por sua serenidade e por suas singelas cenas com Elisa.
De forma doce, Guillermo del Toro surpreende trazendo conto de fadas sobre o descobrimento do amor. Não importam aqui as diferenças biológicas, aliás, isso nunca é argumentado no filme. Há, sim, curiosidades quanto a anatomia do ser anfíbio, mas a questão de que ambos são de diferentes espécies nunca foi uma barreira, nem pelos amantes, nem por aqueles que os orbitavam.
Definitivamente, del Toro consegue dar a volta por cima e entregar um romance com sua assinatura e carimbo, embora não inove no enredo. Com um tema clichê (a superioridade animal do ser humano), em um mundo em que espécies de animais vivem em constante perigo de extinção e a ganância do homem parece não enxergar as consequências de seus atos, é revigorante ver ainda que vale a pena lutar pelo bem de uma espécie e, principalmente, do amor."
Nota: 5/6 (Muito Bom)
O Justiceiro (1ª Temporada)
4.2 569Confira a crítica do Catacrese, SEM SPOILERS!
"O Justiceiro | Crítica
Repetindo alguns erros, O Justiceiro surge como a série mais crítica da parceria Marvel/Netflix
Criada por Steve Lightfoot. Com Jon Bernthal, Amber Rose Revah, Ebon Moss-Bachrach, Ben Barnes, Jaime Ray Newman, Kobi Frumer, Paul Schulze, Michael Nathanson, Ripley Sobo, Daniel Webber, Jason R. Moore, Kelli Barrett, Tony Plana, Deborah Ann Woll.
Um dos maiores orgulhos dos norte-americanos é a chamada Segunda Emenda à Constituição, aprovada em 1791, em meio aos ideais libertários da Revolução Francesa, que é o direito de portar armas de fogo. Mais de duzentos anos se passaram e, cada vez mais, esse diploma legal vem sendo alvo de críticas de juristas e intelectuais por um simples motivo: armas não evitam violência.
O Justiceiro veio para provocar exatamente esse pensamento no espectador. A trama continua o primeiro arco do segundo ano de Demolidor, ou seja, Frank Castle (Bernthal) vai atrás do responsáveis pela morte de sua família. Junto disso, se envolve em uma trama de espionagem militar que coloca toda conduta da CIA em xeque.
Mais visceral que as séries anteriores, a violência aqui é no intuito de causar desconforto. Não sou poucas as vezes o sangue escorre nas telas. Aqui, Castle e seus aliados levam tiros e matam. A mortalidade é uma presença constante na vida de todos. Todo dia pode ser o último.
No que toca ao elenco, a série consegue ser mais cativante de uma forma geral. Bernthal consegue ser brutal e comovente como antiherói, enquanto Barnes (Billy Russo) e Moore (Curtis Hoyle) evidenciam duas formas completamentes diferentes de superar os traumas da guerra; enquanto o último os enfrenta pelo enfrentamente cotidiano, o outro tenta esquecer e justificar suas ações.
Micro (Moss-Bachrach, parecido demais com o Andy Serkis) funciona como um contraponto perfeito à essência de Castle. Enquanto o Justiceiro busca vingança pela morte abrupta de sua família, Micro precisou se afastar deles para mantê-los protegidos, mas, mesmo assim, via-os todos os dias pelos monitores.
Deborah Ann Woll continua uma Karen Page cada vez mais forte e independente e, aqui, é somada com Rose Revah (Dinah Madani), uma agente federal determinada a ir ao fundo do mistério, mesmo que fragilizada pela morte do parceiro. Portanto, continuando o legado das demais séries, o elenco feminino é muito acertado, de sorte que os primeiros diálogos entre Page e Madani são repletos de meias palavras e ameaças veladas.
Webber parece condenado a fazer o papel de soldados traumatizados e frustrados. Repetindo seu papel de Lee Harvey Oswald (em 11.22.63), aqui ele vive Lewis Walcott, que ponto nuclear de uma trama secundária, mas que serve muito para expor as preocupações temáticas de forma clara e didática.
O deslocamento é uma constante ao longo da obra. Nos primeiros episódios, a câmera sempre filmava Castle de forma deslocada, deixando um dos lados vazios, apenas com paisagem, de forma que nos causa uma certa sensação de desequilíbrio. Na medida em que o enredo evolui, Castle é centralizado, evidenciando que o protagonista voltou a encontrar um propósito (I am home).
Repetindo os erros das demais séries, O Justiceiro muitas vezes parece alongar desnecessariamente cenas e tramas para justificar seus treze episódios. Justamente o ponto que foi o maior acerto da segunda temporada de Demolidor (dividir um ano em dois enredos autônomos, mas harmônicos), as demais séries parecem não querer repetir.
Adicionando novos elementos à discussão dos atos de heroísmo, a antiga dicotomia herói/vigilante ganha um novo ponto: o terrorismo.
Em seu primeiro ano na Netflix, O Justiceiro surge como um antiherói simples mas envolto por sombras. Através de seus coadjuvantes, a série foi enriquecida com complexidade e com a lembrança constante de que, embora vá além do razoável, há luz, sim, nas intenções daquele que veste a caveira.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
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