Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
É muito gostoso rever esta obra-prima de Sofia Coppola. Lost in Translation (no Brasil, Encontros e Desencontros) é um filme iluminado. Mais do que isso, é um filme afinado. Pois muito de seu sucesso é devido ao perfeito uso do som. Na verdade, tudo foi desenvolvido de forma tão perfeita que é difícil saber por onde começar a falar bem: as locações, a fotografia, o elenco, os diálogos, a música... tudo contribui para a felicíssima experiência que o filme promove, atingindo o espectador em suas mais profundas emoções.
Há que se ressaltar o papel importante que o Japão tem na história, situando os protagonistas em um local muito distante de seus lares, uma ilha, onde a língua é incompreensível e o povo tem comportamentos que surgem como exóticos — retratando o deslocamento e a estranheza que ambos estão sentindo em suas vidas.
O ator Bob Harris (Bill Murray, perfeito) chega a Tóquio para passar alguns dias, onde gravará comerciais para a campanha de uma marca de wisky. No luxuoso hotel onde fica hospedado conhece Charlotte (Scarlett Johansson), uma bela jovem deixada sozinha por seu marido fotógrafo enquanto ele faz um trabalho fora. O encontro dessas duas almas torturadas pelas dúvidas da vida adulta lhes marcará para sempre.
Lost in Translation possui muitas virtudes, mas a maior delas é a de situar o espectador dentro de uma história sem grandes acontecimentos externos, porém de grande beleza emocional. A dupla apenas conversa, passeia e faz coisas simples como ir a um hospital para tratar uma ferida na unha do pé, mas é tudo tão bem orquestrado pelos sons diegéticos e por uma simpatia visual, que coloca o espectador dentro desta pequena grande jornada interna na alma de duas criaturas apaixonantes.
Há um termo usado na psicoterapia chamado rapport: trata-se do estabelecimento de uma sintonia fina entre duas pessoas, que ocorre de maneira sutil, quase invisível. Podemos não notar, mas muitas vezes simpatizamos com pessoas que estão tendo algum rapport conosco, às vezes porque o movimentos dos olhos estão parecidos com o nosso, ou então o ritmo como ela batuca as mãos é o mesmo que estamos impondo aos nossos pés, por exemplo. Pois Bob e Charlotte estabelecem um intenso rapport entre si, e o melhor: nós, que estamos os assistindo, entramos em rapport com eles, e somos capazes de sentir o que eles estão sentindo. É por isso que, em determinados momentos, eles nem precisam falar, pois eles (e nós) sabemos o que estão pensando. Isso fica claro em alguns momentos tocantes (e aí é outra mostra do importante papel dos sons no filme) em que as letras das músicas falam por eles.
E é também por isso que uma das cenas mais belas, quando Bob sussurra algo no ouvido dela, é tão majestosa: não sabemos o que ele lhe falou, mas não importa. Aquilo parece mais um sopro de esperança e de beleza na sua vida. É triste ver a despedida dos dois, que terão que voltar às suas vidas de rotinas, dúvidas e responsabilidades. Mas aquela esperança mágica a que eles tiveram contato em uma semana em Tóquio... esta eles levaram para si, e nós trazemos conosco.
Mais um filme da série "ainda bem que não assisti quando era criança, senão ficaria traumatizado". Provável primeiro filme de vampiro da história do cinema, Nosferatu (1922) é um clássico do expressionismo alemão, indispensável para qualquer fã de terror.
A produção é, na verdade, uma adaptação de Dracula, mas problemas envolvendo os direitos autorais fizeram com que os realizadores trocassem os nomes dos personagens. Fora isso, o filme é até bastante fiel ao livro.
Não sei exatamente o que tanto me atrai nos filmes mudos, dos anos 20. Gosto desses filmes muito mais do que os produzidos nos anos 50, por exemplo. Acho que pode ser o fato de que eles lembram sonhos. No caso de um filme de terror mudo, é o que mais se aproxima de um pesadelo.
Imagino que este seja um dos poucos trabalhos, senão o único, capaz de apresentar uma síntese da obra de Woody Allen: nele há, paralelamente, uma trama de suspense e uma tragicômica. Há os diálogos engraçados, assim como momentos de grande tensão. Há ótimas atuações, e o próprio Allen está no elenco, interpretando aquela sua velha persona neurótica, falastrona e pessimista que faz tanto sucesso. E também há uma direção e um roteiro bastante criativos, como nem sempre se vê nos filmes dele.
Quem gosta de Woody Allen sabe que há dois tipos básicos de filmes que ele entrega: os suspenses (Matchpoint, Sonho de Cassandra) e as comédias (Tudo Pode Dar Certo, Dirigindo no Escuro). Normalmente há um pouco de suspense nas comédias; porém, nos suspenses, há um humor muito sutil e elegante, o qual pode passar despercebido (não vemos em Matchpoint, por exemplo, um personagem que já causa risos só pela aparência cômica ou pelas piadinhas infames). Pois bem: Crimes e Pecados segue justamente duas histórias, uma de suspense e outra de humor, saindo-se muito bem em ambas. E é por isso que sempre vou considerar este filme como referência para se apreciar o cinema de Allen (e o cinema em geral).
A trama de suspense é bastante parecida com a de Matchpoint e de Cassandra's Dream, envolvendo assassinato e a culpa que se segue no assassino. Já a tragicomédia mostra Allen como um cineasta fracassado que se vê obrigado a dirigir um documentário sobre seu irritante e bem-sucedido cunhado, a quem ele detesta.
Cheio de divagações filosóficas e religiosas, Crimes e Pecados culmina em uma magnífica cena final, quando as duas histórias se encontram, na qual Allen usa de forma muito inteligente a metalinguagem. É um momento instigante do cinema, usando a arte e a vida para se falar da arte e da vida. Genial!
Uma graça esta produção infantil francesa, no melhor sentido da palavra "infantil". Há quanto tempo eu não via um filme com crianças realmente graciosas (e não aquelas pentelhas de Os Batutinhas, por exemplo). Aqui a história nem importa tanto, apesar de ser interessante: a verdadeira graça de O Pequeno Nicolau está na inocência do olhar infantil sobre o mundo. E na profunda psicologia dos personagens. O roteiro é cheio de situações interessantes que até lembra uma série de tirinhas de quadrinhos adaptadas para o cinema, mas todas interligadas de forma orgânica. Um filme para ver, rever, e guardar para se assistir com os filhos.
Greenberg não é mais uma comédia de Ben Stiller. Trata-se de um drama com alguns toques inteligentes de humor, no qual ele encarna um homem de 40 anos que vive uma crise típica da sua idade. Solteiro, sem filhos e com um histórico de problemas psiquiátricos, ele vive como marceneiro enquanto vê seu irmão e alguns amigos prosperarem, e procura acreditar que esta foi sua opção de vida.
A direção de Noah Baumbach é bastante sensível, abordando corretamente a melancolia e a angústia dos protagonistas. O roteiro apresenta, portanto, algumas faces da decepção sofrida por adultos quando estes percebem que não podem viver para sempre como jovens. É um filme atraente, principalmente devido a simpatia que seus personagens causam no público: todos sofrem, até mesmo o cachorro, que tem uma doença auto-imune. E se há uma recorrente tentativa de buscarem a felicidade perdida através de um retorno ao comportamento juvenil, Baumbach mostra que isso só causa mal-estar e exaustão.
As comparações mais óbvias a se fazer é com Lost in Translation e Sideways, mas sem a mesma genialidade daquelas.
om esse péssimo título nacional, não será de estranhar que muita gente deixe passar em branco esta simpática e despretenciosa comédia — portanto é melhor referir-se ao filme pelo nome original, Hot Tub Time Machine (literalmente, "banheira máquina do tempo"). Trata-se de uma verdadeira homenagem às comédias dos anos 80, que consegue ser tão honesta ao estilo que parece que, em muitos momentos, realmente foi produzida naquela época. Conta a história de três amigos de meia idade que voltam no tempo até 1986, quando eram adolescentes. O roteiro não se importa em explicar detalhes da viagem no tempo, preferindo investir em piadas sobre aquela divertida década. Mistura de Pork's (a censura é R nos EUA) com pitadas de De Volta Para o Futuro.
Jim Carrey encarna um golpista gay que ganhou muito dinheiro com inteligentes fraudes e que conseguiu fugir 14 vezes da cadeia devido aos seu talento para enganar os outros. E é uma história real! Sim, apesar de ser difícil decidir se o filme é uma comédia típica das de Jim Carrey ou se é um drama pesado. O negócio é que a produção funciona como ambos os gêneros, pesando mais para a comédia. A participação de Rodrigo Santoro é pequena, mas fiquei surpreso com sua atuação, principalmente em uma cena em particular. O brasileiro tem futuro em Hollywood.
Novo trabalho de Woody Allen, e dos bons. Na verdade não há nada de muito novo aqui, mas afinal, o que é que podemos esperar de um novo filme dele? Eu sempre rio muito de várias piadas, apesar de saber que o cara é ateu e pessimista ao extremo. E apesar de saber que o filme terá um óbvio e "inesperado" final feliz, mesmo que isso seja apenas sarcasmo do cineasta. Desta vez o roteiro traz o relacionamento entre um insuportável idoso (que poderia muito bem ter sido interpretado por Allen) e uma jovem caipira que vai morar em Nova Iorque.
Caramba, a Pixar acertou outra vez no alvo! A animação é fantástica, encerrando (?) a trilogia de forma inesquecível. Um dos desenhos animados mais sombrios e melancólicos que já vi, e que me fez chorar várias vezes durante a projeção. Clássico!
Clássico de 1955, dirigido por William Wyler, com Humphrey Bogart em papel de vilão. Traz a história de uma família cuja casa é invadida por três bandidos em fuga e a mantêm como refém, até um embate final. Há uma boa dose de tensão, apesar de alguns problemas típicos de filmes da época, mas ainda funciona. A história é levemente baseada em fatos reais. Achei interessante a mistura que faz entre os film noir e aqueles clássicos filmes água com açúcar protagonizados por uma família de classe média. Foi refilmado em 1990 por Michael Cimino, com Mickey Rourke no papel que foi de Bogart.
É muito bom rever, depois de muitos anos, este clássico do cinema, considerado por muitos críticos como um dos melhores filmes já feitos. Só o original uso de elementos de film noir em uma ficção científica já é genial, mas ainda temos muita coisa com que ficarmos embasbacados durante toda a duração, a começar pelo visual futurista. Se há algum problema, é o fato de ser muito curto, pois nos deixa muito curiosos para saber mais a respeito dos interessantíssimos replicantes interpretados pelos jovens Rutger Hauer, Daryl Hanna e Sean Young. Baseado no livro Do the Androids Dream of Eletric Sheep?, de Philip K. Dick. Foi e continua sendo referência para muitas ficções científicas.
Interessante terror espanhol, baseado no universo de H.P. Lovecraft, e que faz justiça ao autor: a presença de mansões misteriosas, pessoas desaparecidas e ocultismo contribui para criar um clima bastante sombrio e charmoso, digno de romances góticos.
O início mostra uma jovem corretora indo avaliar a macabra mansão Valdemar, no interior da Espanha, depois que um colega de trabalho desapareceu. Como a moça também não retorna, a empresa contrata um detetive particular para encontrá-la, e é quando a presidente da imobiliária lhe conta a história por trás do imóvel. A maior parte do filme relata esse flashback sobre o que aconteceu com o apaixonado casal Valdemar, que viveu na casa no século 19 e cuja história termina em tragédia depois que o marido precisa pagar um favor ao famoso ocultista Aleister Crowley.
Além de Crowley há na trama a participação de outros três sinistros personagens reais : Bram Stoker, Lizzie Borden e Belle Gunnes. E esta mistura com a realidade não soa gratuita, pois em vários momentos o roteiro procura usar o momento histórico na trama, com menções a costumes da época, a doenças que ainda não tinham cura e ao início de movimentos como o feminismo e o espiritismo.
O fator sobrenatural só entra nesta parte da história depois que os personagens já foram bastante desenvolvidos, o que é crucial para uma tensão sempre crescente, aumentando o drama dos protagonistas.
La Herencia Valdemar é um ótimo programa para quem gosta de terror e já está cansado das bobagens produzidas ultimamente em Hollywood. Um filme que consegue resgatar muitos elementos clássicos do gênero, tanto do cinema quanto da literatura, do folclore e da História. E o melhor: esta é apenas a primeira parte. Após os créditos finais há cenas da continuação, cuja estreia é prometida para outubro de 2010, e que já revelam que vem coisa ainda melhor por aí, principalmente para os fãs dos Mitos de Cthulhu.
Seguindo a receita de que continuações devem reforçar tudo o que deu certo no original, o segundo filme da série Milennium mostra-se como uma versão bombada do primeiro, com mais violência, uma trama mais complexa, vilões mais caricatos e elevando a personagem Lisbeth Salander quase à condição de uma super-heroína. Aqui o seu destino volta a cruzar com o do jornalista Blomkvist depois que este descobre uma rede de tráfico de mulheres. O mais interessante do roteiro é que amarra pontas deixadas soltas no primeiro filme e se aprofunda nas feridas da protagonista, mantendo-se coeso ao tema "crimes praticados contra mulheres". Há muito mais ação do que no primeiro filme, e certos exageros podem desgostar aqueles que esperavam uma trama mais realista, mas há de se convir que os vilões fazem o espectador realmente temer pela segurança dos heróis. Comparando-se com Os Homens que Não Amavam as Mulheres, creio que o primeiro era mais charmoso, mas o segundo só podia seguir o caminho que seguiu para manter a série interessante e renovada, sem perder a personalidade.
Eu já havia percebido que o diretor Neil Marshall era um cara sem talento quando vi o ruim Dog Soldiers. Porém, o ótimo The Descent havia feito eu dar uma chance para o cara. Doomsday é uma idiota tentativa de misturar Extermínio, Fuga de Nova Iorque e Mad Max, inclusive copiando cenas na cara dura. Mas o filme com que ele mais consegue se parecer é o fraco Corrida Mortal (de Paul W.S. Anderson)
A aguardada cinebiografia do maior médium do Brasil (do mundo, na verdade) é um grande filme nacional. Muitos olharam com desconfiança, incluindo eu, o fato de ser dirigido pelo Daniel Filho e por contar com tantos atores da Globo no elenco: puro preconceito! O diretor entregou realmente um filme de cinema, e o elenco trabalha tão bem que esquecemos que já conhecemos aquelas carinhas há tanto tempo. Letícia Sabatella, por exemplo, tem uma participação tão especial que é uma pena que não tenha mais tempo em tela. Giovana Antonelli tem o seu melhor papel até hoje. A dinâmica entre Cristiane Torloni e Tony Ramos é fantástica, resultando em duas atuações muito emocionantes, dignas de Oscar. E olha que ainda nem falei dos principais: os intérpretes do protagonista. O trabalho de Nelson Xavier é fantástico, daquelas atuações mediúnicas mesmo (como a de Daniel Oliveira em Cazuza, a de Val Kilmer em The Doors e a de Jamie Foxx em Ray). Porém, é um trabalho que até empalidece diante da interpretação do médium mais jovem. Angelo Antonio encarna Chico de um modo tão doce, e tão ingênuo, com aquele sotaque "minerim", que para mim foi um dos personagens mais apaixonantes que já vi no cinema.
Pois bem, apresentado o trabalho dos atores, vamos ao roteiro. Baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, o filme conseguiu extrair as melhores partes do livro, e ainda inovou: ao invés da narração em ordem cronológica, a história começa durante a histórica participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, quando ele foi colocado à prova por vários entrevistadores. Ao responder questões sobre sua vida, ele vai recordando e acompanhamos suas memórias desde que era menino na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Volta e meia o filme deixa as lembranças de lado e retorna ao programa, cujas cenas são inseridas de forma muito orgânica na trama. E além disso, acompanhamos o caso do diretor do Pinga Fogo, interpretado por Tony Ramos: um ateu que perdeu o filho e que vive uma crise no casamento por conta desta tragédia. Esta parte é inspirada no famoso caso real em que uma carta psicografada por Chico foi aceita como prova em um tribunal e libertou um réu da cadeia, já que a própria vítima disse ter sido morta por acidente de disparo de arma de fogo. Portanto, o roteiro foge de ser episódico e mostra-se mais dinâmico do que o livro. Uma questão interessante que preciso comentar é o fato de que o texto não subestima a inteligência do espectador: há várias sequências em que não está tudo explicadinho, e o público precisa prestar muita atenção e usar o cérebro para entender, como no caso dos jornalistas da revista Cruzeiro que tentaram enganar Chico passando-se por jornalistas estrangeiros, mas foram desmascarados. Ok, roteiro aprovado, vamos comentar a direção de Daniel Filho.
Talvez seja neste ponto que o filme peque um pouco. Mesmo assim, não é nada que estrague o trabalho final. Só acho que o diretor poderia ser mais sutil em alguns momentos, como quando insere uma luz vermelha diante de um prostíbulo, ou quando todos os passageiros de um avião falam juntos a mesma palavra, quase estragando a piada que havia sido contada anteriormente. Outro ponto quase negativo que tenho que comentar é a trilha sonora equivocada. Quer dizer, os temas de suspense são bem intrigantes. Mas os melancólicos deixam a desejar, e caso eles fossem melhores poderiam fazer o filme ser mais emocionante. Mas creio que sejam pecadilhos diante da grandeza do filme. Pois para quem esperava uma produção em tom novelesco, como Olga, por exemplo, Chico Xavier é um Filme com F maiúsculo, realizado com técnicas de Cinema, e não de TV.
Assim, para fechar bem meu comentário sobre o filme, quero apenas dizer que várias cenas não sairão da cabeça do espectador: a do avião em pane, os doces momentos do padre interpretado por Pedro Paulo Rangel, as durezas do espírito Emmanuel, as marcas na barriga do pequeno Chico ocasionadas pela sua madrinha que lhe espetava garfos, o momento em que Tony Ramos cede às evidências e muda sua posição quanto à veracidade das cartas psicografadas, entre muitas outras.
Chico Xavier - o filme - é um retrato apaixonado do homem Chico Xavier, e dá pouco espaço para o mundo espiritual, preferindo concentrar-se naquilo que era visível para nós, aqui na Terra, sem criar um manifesto espírita no cinema. Se o público tiver motivos para admirar mais o médium depois de assistir a esta obra, será exclusivamente pelos seus admiráveis e inegáveis atributos humanistas, e não pelos seus méritos mediúnicos.
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraE sempre tem uns MOLAMBOS (hahahaha) que não querem ver!
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraÉ cedo para falar, mas este filme tem jeito de ser o melhor do ano!
Simplesmente Feliz
3.4 254Ah, sim: a protagonista é praticamente uma versão humana do Bob Esponja.
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1KÀs vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Luiz Fernando Riesemberg
Clube da Lua
3.9 80Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Luiz Fernando Riesemberg
O Mesmo Amor, a Mesma Chuva
3.8 131Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Luiz Fernando Riesemberg
O Filho da Noiva
4.1 297Às vezes fico tentando achar uma razão para eu gostar de tanto de certos filmes. Por exemplo: o que será que me leva a me emocionar com as tramas do diretor argentino Juan Jose Campanella? Pois vou tentar transpor em palavras esta difícil tarefa.
Os filmes em questão são apenas quatro, e cada um deles é surpreendentemente eficaz ao me levar, em segundos, dos risos às lágrimas, surtindo um efeito amenizador no espírito que poucas terapias conseguiriam.
As obras de Campanella, sempre protagonizadas pelo magnífico ator Ricardo Darín, giram em torno de algo de inestimável valor sentimental para o herói, que pode ser algo físico, como um velho restaurante herdado dos pais, ou um antigo clube familiar de bailes. Mas também pode ser algo intangível, como a vontade de se viver como escritor, ou um amor platônico. De qualquer forma, retratam, com beleza poética, o personagem principal com algum forte apego a coisas que não possuem valor material, de tão valiosas que são.
Em O Filho da Noiva, por exemplo, temos Rafael, que por questões financeiras pensa em vender o antigo restaurante que era dos seus pais. Porém, toda sua infância foi passada naquela cozinha e entre aquelas mesas, sentindo todos aqueles aromas de massas, molhos e temperos de comida italiana. Além disso ainda há os funcionários antigos, que já são praticamente parte da família do protagonista, e que representam mais um elo com aqueles tempos bonitos e prósperos da fase de ouro do estabelecimento.
Já para o sonhador Jorge, personagem de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, a dificuldade está em abandonar sua profissão de escritor de contos românticos em uma revista e adequar-se aos novos tempos e realidades, após a abertura política do país.
Em Clube da Lua, Darín encarna Román, um taxista que, em plena crise econômica, se vê, junto com os outros sócios, no dilema de vender ou não o hoje decadente clube de dança, de passado tão glorioso, onde ele próprio nasceu.
E por fim, em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito é um procurador de justiça que precisou se afastar da mulher que ama, e que era também sua chefe, sem nunca ter lhe confessado o sentimento, apesar dos olhos dela lhe corresponderem este amor.
São tramas sentimentais que resgatam aqueles nossos sonhos do passado que, muitas vezes, foram deixados de lado diante das responsabilidades da vida adulta. E Ricardo Darín é o ator perfeito para essas histórias: quando o vemos com aqueles seus infantis olhos azuis, apresentando o comportamento de uma pessoa fracassada e embrutecida, voltamo-nos para nossa própria vida, perguntando-nos o que aconteceu com aquela criança que já fomos um dia, e que cultivava aqueles sonhos mágicos de outrora.
Seguindo uma perfeita e realista lógica, Campanella não torna as coisas fáceis nos roteiros que escreve, e é por isso que nos identificamos ainda mais com eles. Para os personagens, não é possível largar tudo para o alto, a fim de resgatar aqueles sonhos infantis. A vida adulta tem suas cobranças, e não há como voltar no tempo. A cada ano que passa estamos com nosso corpo mais gasto, e cada atitude que tomamos gera uma consequência. Rafael tem uma filha adolescente, um pai velho e uma mãe com Alzheimer. Jorge precisa continuar a ganhar seu salário agora que ninguém mais quer ler seus contos. Román quer ver o clube brilhar como antigamente, mas há impostos a pagar e reformas a se fazer. E Benjamin ama uma mulher, mas corre o risco de morrer se continuar ao lado dela.
A realidade, cruel como um espelho, bate à porta dos personagens de Campanella da mesma forma que bate à nossa, todos os dias. Apesar disso, a magia e o bom humor nunca deixam de os visitar, mesmo que em doses homeopáticas. Quem nunca riu, mesmo quando esteve passando por uma situação difícil? Quem não possui um amigo que nos anima diante de um grande problema? E quem nunca viu, ante uma tristeza, um velho e desbotado amor recuperar seu brilho?
Pois é essa a graça que vejo nesses filmes. A todo momento me sinto apegado a algum elo de um passado que surge macio e brilhante, em contraste com uma realidade cinza e complicada. Assim como nos filmes do diretor argentino, aquele meu eu-criança pergunta para o meu eu-adulto o que foi que aconteceu para as coisas terem tomado este caminho. E também me pergunta o que é que eu posso fazer agora para melhorar o hoje, se é que posso, já que a vida atual tem tantas responsabilidades e complicações.
Felizmente, os filmes não acabam em um artificial final feliz, e nem de forma negativa. Predomina na conclusão das histórias um equilíbrio, otimista porém realista, agridoce, mostrando que ninguém pode voltar no tempo e mudar alguma parte do passado, mas é possível resgatar aqueles mesmos sonhos e sentimentos, e adaptá-los ao nosso contexto atual. Isto permite a esse eu-adulto (que não voltará a ser aquela criança), resgatar aquela visão infantil para melhorar a vida de hoje.
Campanella diz, portanto, ao seu público:
A vida, em muitos aspectos, pode não parecer tão boa hoje quanto você já achou que ela seria um dia. Temos dificuldades, precisamos de dinheiro, devemos cuidar do nosso corpo que vai ficando cada vez mais frágil, e temos que doar nosso tempo a certos assuntos que nem sempre nos agradam. Além disso, às vezes surgem obstáculos externos dos quais não temos nenhuma culpa, como uma crise financeira e mortes de pessoas queridas. Mas, mesmo assim, temos que continuar olhando com aquele mesmo olhar infantil que já tivemos um dia.
Agir assim não significa que a vida vai ficar como a de um conto de fadas. Mas vai tornar o fardo mais leve, o amor vai continuar tendo uma força indestrutível e os nossos sonhos sempre estarão, de algum modo, se realizando.
Luiz Fernando Riesemberg
Simplesmente Feliz
3.4 254A protagonista é às vezes irritante, parecida com algum maluco personagem de desenho animado. Porém, o que vale é a mensagem do filme.
Pesadelo No Vale da Morte
3.0 42 Assista AgoraUau, não me lembrava deste. Marcou minha infância, nos bons tempos do Supercine. Recordo que começava bem calminho, como se fosse um drama familiar.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7KÉ muito gostoso rever esta obra-prima de Sofia Coppola. Lost in Translation (no Brasil, Encontros e Desencontros) é um filme iluminado. Mais do que isso, é um filme afinado. Pois muito de seu sucesso é devido ao perfeito uso do som. Na verdade, tudo foi desenvolvido de forma tão perfeita que é difícil saber por onde começar a falar bem: as locações, a fotografia, o elenco, os diálogos, a música... tudo contribui para a felicíssima experiência que o filme promove, atingindo o espectador em suas mais profundas emoções.
Há que se ressaltar o papel importante que o Japão tem na história, situando os protagonistas em um local muito distante de seus lares, uma ilha, onde a língua é incompreensível e o povo tem comportamentos que surgem como exóticos — retratando o deslocamento e a estranheza que ambos estão sentindo em suas vidas.
O ator Bob Harris (Bill Murray, perfeito) chega a Tóquio para passar alguns dias, onde gravará comerciais para a campanha de uma marca de wisky. No luxuoso hotel onde fica hospedado conhece Charlotte (Scarlett Johansson), uma bela jovem deixada sozinha por seu marido fotógrafo enquanto ele faz um trabalho fora. O encontro dessas duas almas torturadas pelas dúvidas da vida adulta lhes marcará para sempre.
Lost in Translation possui muitas virtudes, mas a maior delas é a de situar o espectador dentro de uma história sem grandes acontecimentos externos, porém de grande beleza emocional. A dupla apenas conversa, passeia e faz coisas simples como ir a um hospital para tratar uma ferida na unha do pé, mas é tudo tão bem orquestrado pelos sons diegéticos e por uma simpatia visual, que coloca o espectador dentro desta pequena grande jornada interna na alma de duas criaturas apaixonantes.
Há um termo usado na psicoterapia chamado rapport: trata-se do estabelecimento de uma sintonia fina entre duas pessoas, que ocorre de maneira sutil, quase invisível. Podemos não notar, mas muitas vezes simpatizamos com pessoas que estão tendo algum rapport conosco, às vezes porque o movimentos dos olhos estão parecidos com o nosso, ou então o ritmo como ela batuca as mãos é o mesmo que estamos impondo aos nossos pés, por exemplo. Pois Bob e Charlotte estabelecem um intenso rapport entre si, e o melhor: nós, que estamos os assistindo, entramos em rapport com eles, e somos capazes de sentir o que eles estão sentindo. É por isso que, em determinados momentos, eles nem precisam falar, pois eles (e nós) sabemos o que estão pensando. Isso fica claro em alguns momentos tocantes (e aí é outra mostra do importante papel dos sons no filme) em que as letras das músicas falam por eles.
E é também por isso que uma das cenas mais belas, quando Bob sussurra algo no ouvido dela, é tão majestosa: não sabemos o que ele lhe falou, mas não importa. Aquilo parece mais um sopro de esperança e de beleza na sua vida. É triste ver a despedida dos dois, que terão que voltar às suas vidas de rotinas, dúvidas e responsabilidades. Mas aquela esperança mágica a que eles tiveram contato em uma semana em Tóquio... esta eles levaram para si, e nós trazemos conosco.
Nosferatu
4.1 627 Assista AgoraMais um filme da série "ainda bem que não assisti quando era criança, senão ficaria traumatizado". Provável primeiro filme de vampiro da história do cinema, Nosferatu (1922) é um clássico do expressionismo alemão, indispensável para qualquer fã de terror.
A produção é, na verdade, uma adaptação de Dracula, mas problemas envolvendo os direitos autorais fizeram com que os realizadores trocassem os nomes dos personagens. Fora isso, o filme é até bastante fiel ao livro.
Não sei exatamente o que tanto me atrai nos filmes mudos, dos anos 20. Gosto desses filmes muito mais do que os produzidos nos anos 50, por exemplo. Acho que pode ser o fato de que eles lembram sonhos. No caso de um filme de terror mudo, é o que mais se aproxima de um pesadelo.
Crimes e Pecados
4.0 184Imagino que este seja um dos poucos trabalhos, senão o único, capaz de apresentar uma síntese da obra de Woody Allen: nele há, paralelamente, uma trama de suspense e uma tragicômica. Há os diálogos engraçados, assim como momentos de grande tensão. Há ótimas atuações, e o próprio Allen está no elenco, interpretando aquela sua velha persona neurótica, falastrona e pessimista que faz tanto sucesso. E também há uma direção e um roteiro bastante criativos, como nem sempre se vê nos filmes dele.
Quem gosta de Woody Allen sabe que há dois tipos básicos de filmes que ele entrega: os suspenses (Matchpoint, Sonho de Cassandra) e as comédias (Tudo Pode Dar Certo, Dirigindo no Escuro). Normalmente há um pouco de suspense nas comédias; porém, nos suspenses, há um humor muito sutil e elegante, o qual pode passar despercebido (não vemos em Matchpoint, por exemplo, um personagem que já causa risos só pela aparência cômica ou pelas piadinhas infames). Pois bem: Crimes e Pecados segue justamente duas histórias, uma de suspense e outra de humor, saindo-se muito bem em ambas. E é por isso que sempre vou considerar este filme como referência para se apreciar o cinema de Allen (e o cinema em geral).
A trama de suspense é bastante parecida com a de Matchpoint e de Cassandra's Dream, envolvendo assassinato e a culpa que se segue no assassino. Já a tragicomédia mostra Allen como um cineasta fracassado que se vê obrigado a dirigir um documentário sobre seu irritante e bem-sucedido cunhado, a quem ele detesta.
Cheio de divagações filosóficas e religiosas, Crimes e Pecados culmina em uma magnífica cena final, quando as duas histórias se encontram, na qual Allen usa de forma muito inteligente a metalinguagem. É um momento instigante do cinema, usando a arte e a vida para se falar da arte e da vida. Genial!
O Pequeno Nicolau
4.1 965Uma graça esta produção infantil francesa, no melhor sentido da palavra "infantil". Há quanto tempo eu não via um filme com crianças realmente graciosas (e não aquelas pentelhas de Os Batutinhas, por exemplo). Aqui a história nem importa tanto, apesar de ser interessante: a verdadeira graça de O Pequeno Nicolau está na inocência do olhar infantil sobre o mundo. E na profunda psicologia dos personagens. O roteiro é cheio de situações interessantes que até lembra uma série de tirinhas de quadrinhos adaptadas para o cinema, mas todas interligadas de forma orgânica. Um filme para ver, rever, e guardar para se assistir com os filhos.
O Solteirão
2.6 282 Assista AgoraGreenberg não é mais uma comédia de Ben Stiller. Trata-se de um drama com alguns toques inteligentes de humor, no qual ele encarna um homem de 40 anos que vive uma crise típica da sua idade. Solteiro, sem filhos e com um histórico de problemas psiquiátricos, ele vive como marceneiro enquanto vê seu irmão e alguns amigos prosperarem, e procura acreditar que esta foi sua opção de vida.
A direção de Noah Baumbach é bastante sensível, abordando corretamente a melancolia e a angústia dos protagonistas. O roteiro apresenta, portanto, algumas faces da decepção sofrida por adultos quando estes percebem que não podem viver para sempre como jovens. É um filme atraente, principalmente devido a simpatia que seus personagens causam no público: todos sofrem, até mesmo o cachorro, que tem uma doença auto-imune. E se há uma recorrente tentativa de buscarem a felicidade perdida através de um retorno ao comportamento juvenil, Baumbach mostra que isso só causa mal-estar e exaustão.
As comparações mais óbvias a se fazer é com Lost in Translation e Sideways, mas sem a mesma genialidade daquelas.
A Ressaca
3.1 932 Assista Agoraom esse péssimo título nacional, não será de estranhar que muita gente deixe passar em branco esta simpática e despretenciosa comédia — portanto é melhor referir-se ao filme pelo nome original, Hot Tub Time Machine (literalmente, "banheira máquina do tempo"). Trata-se de uma verdadeira homenagem às comédias dos anos 80, que consegue ser tão honesta ao estilo que parece que, em muitos momentos, realmente foi produzida naquela época. Conta a história de três amigos de meia idade que voltam no tempo até 1986, quando eram adolescentes. O roteiro não se importa em explicar detalhes da viagem no tempo, preferindo investir em piadas sobre aquela divertida década. Mistura de Pork's (a censura é R nos EUA) com pitadas de De Volta Para o Futuro.
O Golpista do Ano
3.2 1,3KJim Carrey encarna um golpista gay que ganhou muito dinheiro com inteligentes fraudes e que conseguiu fugir 14 vezes da cadeia devido aos seu talento para enganar os outros. E é uma história real! Sim, apesar de ser difícil decidir se o filme é uma comédia típica das de Jim Carrey ou se é um drama pesado. O negócio é que a produção funciona como ambos os gêneros, pesando mais para a comédia. A participação de Rodrigo Santoro é pequena, mas fiquei surpreso com sua atuação, principalmente em uma cena em particular. O brasileiro tem futuro em Hollywood.
Tudo Pode Dar Certo
4.0 1,1KNovo trabalho de Woody Allen, e dos bons. Na verdade não há nada de muito novo aqui, mas afinal, o que é que podemos esperar de um novo filme dele? Eu sempre rio muito de várias piadas, apesar de saber que o cara é ateu e pessimista ao extremo. E apesar de saber que o filme terá um óbvio e "inesperado" final feliz, mesmo que isso seja apenas sarcasmo do cineasta. Desta vez o roteiro traz o relacionamento entre um insuportável idoso (que poderia muito bem ter sido interpretado por Allen) e uma jovem caipira que vai morar em Nova Iorque.
Toy Story 3
4.4 3,6K Assista AgoraCaramba, a Pixar acertou outra vez no alvo! A animação é fantástica, encerrando (?) a trilogia de forma inesquecível. Um dos desenhos animados mais sombrios e melancólicos que já vi, e que me fez chorar várias vezes durante a projeção. Clássico!
Horas de Desespero
3.9 27Clássico de 1955, dirigido por William Wyler, com Humphrey Bogart em papel de vilão. Traz a história de uma família cuja casa é invadida por três bandidos em fuga e a mantêm como refém, até um embate final. Há uma boa dose de tensão, apesar de alguns problemas típicos de filmes da época, mas ainda funciona. A história é levemente baseada em fatos reais. Achei interessante a mistura que faz entre os film noir e aqueles clássicos filmes água com açúcar protagonizados por uma família de classe média. Foi refilmado em 1990 por Michael Cimino, com Mickey Rourke no papel que foi de Bogart.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraÉ muito bom rever, depois de muitos anos, este clássico do cinema, considerado por muitos críticos como um dos melhores filmes já feitos. Só o original uso de elementos de film noir em uma ficção científica já é genial, mas ainda temos muita coisa com que ficarmos embasbacados durante toda a duração, a começar pelo visual futurista. Se há algum problema, é o fato de ser muito curto, pois nos deixa muito curiosos para saber mais a respeito dos interessantíssimos replicantes interpretados pelos jovens Rutger Hauer, Daryl Hanna e Sean Young. Baseado no livro Do the Androids Dream of Eletric Sheep?, de Philip K. Dick. Foi e continua sendo referência para muitas ficções científicas.
O Legado Valdemar
3.3 117Interessante terror espanhol, baseado no universo de H.P. Lovecraft, e que faz justiça ao autor: a presença de mansões misteriosas, pessoas desaparecidas e ocultismo contribui para criar um clima bastante sombrio e charmoso, digno de romances góticos.
O início mostra uma jovem corretora indo avaliar a macabra mansão Valdemar, no interior da Espanha, depois que um colega de trabalho desapareceu. Como a moça também não retorna, a empresa contrata um detetive particular para encontrá-la, e é quando a presidente da imobiliária lhe conta a história por trás do imóvel. A maior parte do filme relata esse flashback sobre o que aconteceu com o apaixonado casal Valdemar, que viveu na casa no século 19 e cuja história termina em tragédia depois que o marido precisa pagar um favor ao famoso ocultista Aleister Crowley.
Além de Crowley há na trama a participação de outros três sinistros personagens reais : Bram Stoker, Lizzie Borden e Belle Gunnes. E esta mistura com a realidade não soa gratuita, pois em vários momentos o roteiro procura usar o momento histórico na trama, com menções a costumes da época, a doenças que ainda não tinham cura e ao início de movimentos como o feminismo e o espiritismo.
O fator sobrenatural só entra nesta parte da história depois que os personagens já foram bastante desenvolvidos, o que é crucial para uma tensão sempre crescente, aumentando o drama dos protagonistas.
La Herencia Valdemar é um ótimo programa para quem gosta de terror e já está cansado das bobagens produzidas ultimamente em Hollywood. Um filme que consegue resgatar muitos elementos clássicos do gênero, tanto do cinema quanto da literatura, do folclore e da História. E o melhor: esta é apenas a primeira parte. Após os créditos finais há cenas da continuação, cuja estreia é prometida para outubro de 2010, e que já revelam que vem coisa ainda melhor por aí, principalmente para os fãs dos Mitos de Cthulhu.
Millennium II - A Menina que Brincava com Fogo
3.9 572Seguindo a receita de que continuações devem reforçar tudo o que deu certo no original, o segundo filme da série Milennium mostra-se como uma versão bombada do primeiro, com mais violência, uma trama mais complexa, vilões mais caricatos e elevando a personagem Lisbeth Salander quase à condição de uma super-heroína. Aqui o seu destino volta a cruzar com o do jornalista Blomkvist depois que este descobre uma rede de tráfico de mulheres. O mais interessante do roteiro é que amarra pontas deixadas soltas no primeiro filme e se aprofunda nas feridas da protagonista, mantendo-se coeso ao tema "crimes praticados contra mulheres". Há muito mais ação do que no primeiro filme, e certos exageros podem desgostar aqueles que esperavam uma trama mais realista, mas há de se convir que os vilões fazem o espectador realmente temer pela segurança dos heróis. Comparando-se com Os Homens que Não Amavam as Mulheres, creio que o primeiro era mais charmoso, mas o segundo só podia seguir o caminho que seguiu para manter a série interessante e renovada, sem perder a personalidade.
Juízo Final
2.7 225 Assista AgoraEu já havia percebido que o diretor Neil Marshall era um cara sem talento quando vi o ruim Dog Soldiers. Porém, o ótimo The Descent havia feito eu dar uma chance para o cara. Doomsday é uma idiota tentativa de misturar Extermínio, Fuga de Nova Iorque e Mad Max, inclusive copiando cenas na cara dura. Mas o filme com que ele mais consegue se parecer é o fraco Corrida Mortal (de Paul W.S. Anderson)
Chico Xavier
3.5 857 Assista AgoraA aguardada cinebiografia do maior médium do Brasil (do mundo, na verdade) é um grande filme nacional. Muitos olharam com desconfiança, incluindo eu, o fato de ser dirigido pelo Daniel Filho e por contar com tantos atores da Globo no elenco: puro preconceito! O diretor entregou realmente um filme de cinema, e o elenco trabalha tão bem que esquecemos que já conhecemos aquelas carinhas há tanto tempo. Letícia Sabatella, por exemplo, tem uma participação tão especial que é uma pena que não tenha mais tempo em tela. Giovana Antonelli tem o seu melhor papel até hoje. A dinâmica entre Cristiane Torloni e Tony Ramos é fantástica, resultando em duas atuações muito emocionantes, dignas de Oscar. E olha que ainda nem falei dos principais: os intérpretes do protagonista. O trabalho de Nelson Xavier é fantástico, daquelas atuações mediúnicas mesmo (como a de Daniel Oliveira em Cazuza, a de Val Kilmer em The Doors e a de Jamie Foxx em Ray). Porém, é um trabalho que até empalidece diante da interpretação do médium mais jovem. Angelo Antonio encarna Chico de um modo tão doce, e tão ingênuo, com aquele sotaque "minerim", que para mim foi um dos personagens mais apaixonantes que já vi no cinema.
Pois bem, apresentado o trabalho dos atores, vamos ao roteiro. Baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, o filme conseguiu extrair as melhores partes do livro, e ainda inovou: ao invés da narração em ordem cronológica, a história começa durante a histórica participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, quando ele foi colocado à prova por vários entrevistadores. Ao responder questões sobre sua vida, ele vai recordando e acompanhamos suas memórias desde que era menino na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Volta e meia o filme deixa as lembranças de lado e retorna ao programa, cujas cenas são inseridas de forma muito orgânica na trama. E além disso, acompanhamos o caso do diretor do Pinga Fogo, interpretado por Tony Ramos: um ateu que perdeu o filho e que vive uma crise no casamento por conta desta tragédia. Esta parte é inspirada no famoso caso real em que uma carta psicografada por Chico foi aceita como prova em um tribunal e libertou um réu da cadeia, já que a própria vítima disse ter sido morta por acidente de disparo de arma de fogo. Portanto, o roteiro foge de ser episódico e mostra-se mais dinâmico do que o livro. Uma questão interessante que preciso comentar é o fato de que o texto não subestima a inteligência do espectador: há várias sequências em que não está tudo explicadinho, e o público precisa prestar muita atenção e usar o cérebro para entender, como no caso dos jornalistas da revista Cruzeiro que tentaram enganar Chico passando-se por jornalistas estrangeiros, mas foram desmascarados.
Ok, roteiro aprovado, vamos comentar a direção de Daniel Filho.
Talvez seja neste ponto que o filme peque um pouco. Mesmo assim, não é nada que estrague o trabalho final. Só acho que o diretor poderia ser mais sutil em alguns momentos, como quando insere uma luz vermelha diante de um prostíbulo, ou quando todos os passageiros de um avião falam juntos a mesma palavra, quase estragando a piada que havia sido contada anteriormente. Outro ponto quase negativo que tenho que comentar é a trilha sonora equivocada. Quer dizer, os temas de suspense são bem intrigantes. Mas os melancólicos deixam a desejar, e caso eles fossem melhores poderiam fazer o filme ser mais emocionante. Mas creio que sejam pecadilhos diante da grandeza do filme. Pois para quem esperava uma produção em tom novelesco, como Olga, por exemplo, Chico Xavier é um Filme com F maiúsculo, realizado com técnicas de Cinema, e não de TV.
Assim, para fechar bem meu comentário sobre o filme, quero apenas dizer que várias cenas não sairão da cabeça do espectador: a do avião em pane, os doces momentos do padre interpretado por Pedro Paulo Rangel, as durezas do espírito Emmanuel, as marcas na barriga do pequeno Chico ocasionadas pela sua madrinha que lhe espetava garfos, o momento em que Tony Ramos cede às evidências e muda sua posição quanto à veracidade das cartas psicografadas, entre muitas outras.
Chico Xavier - o filme - é um retrato apaixonado do homem Chico Xavier, e dá pouco espaço para o mundo espiritual, preferindo concentrar-se naquilo que era visível para nós, aqui na Terra, sem criar um manifesto espírita no cinema. Se o público tiver motivos para admirar mais o médium depois de assistir a esta obra, será exclusivamente pelos seus admiráveis e inegáveis atributos humanistas, e não pelos seus méritos mediúnicos.