Na minha infância, sempre achei mais fácil gostar do vilão que do herói. Acho que por identificação. Não que eu queira dominar o mundo, mas o mocinho geralmente me parecia limitado, preso na sua própria moral. Quando me deparei com a figura anti-herói gostei, era alguém real, alguém que sofria e descontava. Jordan Belfort em o O Lobo de Wall Street consegue ser esses três personagens em uma evolução (ou in-) irônica, nojenta e admirável. O roteiro é um misto entre estudo de personagem e analise de um período, dissecando também a mudança dos hábitos e valores da sociedade nova-iorquina, destacando a distancia entre a ambição da geração Baby Boomer e a realização do sonho americano por cidadãos comuns. Essa dualidade segue na narrativa em praticamente todos os momentos do filme. Scorsese consegue nos fazer dar gargalhadas no início de uma sequencia não compreender ao meio, sentir repulsa no final e nos arrepender de ter rido depois! Tudo isso sendo fiel a essência do personagem e sem soar artificial ou incoerente. Um arco dramático completo e fechado, mesmo repletos de regressos e atalhos.
A essência de um filme de terror é causar medo. Mas isso não significa que todo filme que dá medo é bom. Uma panela caindo no chão da cozinha no meio da madrugada dá muito medo. O Senhor Babadook não quer só nos assustar, não que ele não consiga, pelo contrario, mas há uma complexa sublimidade ali, há uma leitura maior. Todas as escolhas da diretora, do elenco ao figurino, passando pela direção de arte, fotografia e roteiro, foram feitas para funcionar tanto na história literal como na sub-trama. E se a primeira consegue fazer um “bicho papão” ser aterrorizante sem ter que apelar para efeitos sonoros altíssimos ou exagerar no uso de CGI, a segunda não dá medo, mas deprime e machuca ao mostrar a dura rotina de uma mãe solteira tentando superar o luto do marido. Ao fim do filme, ainda assustado e incomodado vi que existem medos que passam e outros que não. Todos devem ser superados e para seguirmos em frente ele precisam ser eliminados ou, na nossa impotência, domados.
Como vi o filme legendado, vi que traduziram “Folk Music” como “Musica Popular”. Na hora protestei. Mas há uma ironia involuntária nesse erro de tradução que contempla o dilema do protagonista e a melancolia que isso traz na vida dele. Llewyn é um músico talentoso, bonito e dedicado, mas isso nunca o impede de ser arrogante, pretencioso e egoísta, além de paupérrimo. E aí mora o dilema, querer ser um músico famoso, mas não um popular. Ele sabe do seu potencial e da qualidade do seu trabalho, mas não querer ser reconhecido por todos, apenas por alguns. A habilidade que os Cohen têm para nos conseguir nos passar tudo isso, mas sem transforma-lo em um completo babaca é fantástica. Nós sabemos o que ele almeja, vemos como seus amigos e familiares o enxergam, mas no fundo estamos torcendo para ele e sentimos sua frustração quando ele falha. A moldura que envolve toda essa trama não poderia ser mais bonita. Uma fotografia é belíssima justamente por saber ser feia, em seus planos amplos, cinzas e claros, aumentado ainda mais a solidão de quem está enquadrado (geralmente Llewyn). O desenho de som é o destaque, suas fusões entre trilha sonora e sons diegéticos só o tornam mais orgânico e fluido. Ao final ficamos com vontade de frequentar o pub em Greenwich Village, de comprar o disco Inside Llewyn Davis e de chorar ainda mais com Bob Dylan.
Ser adolescente é tão bom quanto tirar um siso inflamado. Há o incomodo, o desconhecimento, a dor e o sorvete, muito sorvete. Questões já tão exploradas como a descoberta do sexo, primeiros amores, autoconhecimento etc, são tratadas de uma maneira tão delicada e natural que é impossível não se identificar. Isso fica claro em cenas como a que Giovana, na beirada da piscina, fica enrubescida com o questionamento irônico de Leonardo, “Ah então porque você não me beija?”, ou mesmo com o sensível momento que um pai ensina pela primeira vez ao filho como fazer a barba. O simples toma uma forma multidimensional e abrangente e aí nos encontramos, mesmo em personagens de idades e personalidades tão diferentes.
A cada novo filme de Wes Anderson, sempre me faço a pergunta se gosto dele apenas por gostar de sua estética ou por ele fazer bons filmes independente disso. Uma vez que ninguém faz melhor oque ele faz, e a cada produção há mais identidade em seus trabalhos, isso geraria um ciclo vicioso que no fim o único fã do diretor seria ele mesmo. Senti isso em Viagem a Darjeeling (que me soou gratuito e morno), mas O Grande Hotel Budapeste é a prova contraria de todo esse raciocínio. A maneira que o diretor se reinventa, mantendo a essência do seu trabalho é maravilhosa. A complexidade de camadas da história, a fotografia funcional, os diálogos metalinguísticos e por fim o impecável design de produção. Um filme sobre um livro, sobre uma lembrança de uma conversa, sobre um relato de uma vivencia passada, sobre a história de um homem. Um filme, antes de tudo, sobre Narrativa. É tanto, que ele não se limita a passear apenas por uma linguagem, seu viés literário e teatral é fluido e encantador.
Sempre que vejo um bom filme de gênero nacional, não importa qual, tenho uma boba e boa sensação. Algo como: “Damos conta de tudo!”. Boba, pois, sim damos conta, de muito mais e à muito tempo e boa porque ver um suspense/terror, do Mutarelli, com a Sandy funcionar tão bem é simplesmente fantástico! Quando eu Era Vivo é um daqueles raros filmes que funcionam em várias estancias. Há uma alegoria em suas entrelinhas (para mim sobre o falho sistema de saúde mental do país), mas interpreta-lo ou não, não influencia na narrativa de uma forma geral. A construção dos personagens e das relações entre eles é tão densa que chega a causar desconforto à medida que as vemos. Vamos nos decompondo junto ao protagonista, imergindo naquele universo oculto, depressivo e assustador.
Nenhuma ideia, premissa, argumento ou roteiro é ruim o suficiente para que não valha mais uma tentativa em Hollywood. Por isso o “simples” No Limite do Amanhã consegue ser metalinguístico e alegórico ao mesmo tempo em que divertido e inteligente. Dotado de uma estética original e bem estruturada, faz valer todo o dinheiro que foi desprendido para CGI, figurino e maquiagem. Mas ao contrário de tantos filmes de ação e aventura, esse não é o seu único ponto forte. A trama é convidativa e complexa, sabendo bem utilizar artifícios naturais dos personagens (principalmente do produtor Cruise) para enriquecer a narrativa. A semelhança com o clássico Feitiço do Tempo é notável, mas como está tão bem inserida em um universo tão diferente, ficamos com a sensação de releitura e homenagem e não plagio.
Esse é o 5° filme da franquia, o 7° se contarmos os spin-offs. Sair da sala sorrindo já é um mérito e tanto. Mas, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido conseguiu ir além. Me fez sair da sala querendo ver mais! O segredo da trama é o bom uso dos vários personagens, mesmo sendo muitos, eles nunca soam gratuitos ou limitados somente ao uso do seus poderes. O truque de revisitar velhos conhecidos também é infalível, seja apenas por poucos instantes ou estruturando o protagonista. O trabalho de design de produção é excelente, tanto no futuro como nos anos 70 existe uma logica fiel e bem desenvolvida para figurino e direção de arte, isso acaba funcionando como ancora para nos situarmos cronologicamente durante a projeção. Para mim o reboot da franquia conseguiu o improvável, renovar as energias e os ânimos de personagens, sem afasta-los de sua essência. Um deleite para novos e veteranos fãs!
Gosto da Disney, cresci cantando as músicas de Aladdin, adorei a renovação da energia em filmes como Enrolados e Detona Ralph, mas Frozen me conquistou de uma maneira tão plena que me fez mudar os parâmetros de como eu via as animações do estúdio. Se for fazer uma soma numérica, não há nada de muito novo. Boas canções, alivio cômico, protagonista feminina e um universo real, porém com toques de magia. Mas é na soma não numérica que a verdade do filme se esconde. Desde “As Cores do Vento” eu não via uma cumplicidade tão grande entre a animação gráfica e a essência dos personagens. Seja o momento da canção principal, ou durante o lamento infantil de Anna, a funcionalidade das cenas são perfeitas. Cada momento é tão bem ornamentado e cronometrado que mesmo vendo seguidas vezes, encontramos detalhes escondidos ou gags sobrepostas. Somado a isso há o clímax e conclusão do filme que simplesmente conseguiu dar uma visão de amor mais complexa e abrangente que todos os outros filmes que a Disney já fez, além de ser corajosa e original. Frozen é um marcador histórico na animação e porque não no Cinema.
A primeira opinião positiva que ouvi sobre Boyhood foi: “É um filme lindo, apesar de ser sobre nada”. Concordo em parte. O Cinema como forma de escapismo não é novidade, mas nunca vimos tantas produções só com esse objetivo sendo feitas por ano. Não que eu não goste ou os menospreze. Até porque não perco um X-Men por nada. Mas hoje, mais do que nunca, filmes que não mostram nada nos dizem ter uma vida de “nada” e Boyhood é exatamente o contrario. Complicado...Até hoje sempre pensei que minha vida não renderia nem um curta, porque alguém iria ver isso? Mas tenho certeza que tudo que vivi foi importante, e fatal, para eu estar escrevendo isso aqui agora. Destino existe. Mas só se olharmos para trás. Todos os acontecimentos na vida de Mason, todos os momentos (aproveitados ou não) foram os seus construtores, foram o seu Deus. Isso é lindo, isso é o “nada” mais lindo que já vi e ver esse “nada” em um filme que demorou 12 anos para ser finalizado é de um metalinguismo tão pungente que só me faz ainda mais próximo do Cinema!
Eu amei Ninfomaniaca, vi devorando cada minute do filme, chorei (pela protagonista e pelo Cinema), virei a cara, me excitei... Mas não sei sobre o que é filme. O clima de revisão de obra misturado com estudo sobre vicio, junto ao lobby gigante que o filme teve, me deixou o mesmo tempo sem saber se o diretor me manipulava por me emocionar ou por achar que não devia me emocionar. Terminei o volume 1 em êxtase. “Entendi, não é nada sobre sexo, o explicito deixa de ser gratuito justamente por ser explicito. Genial!” Mas, no volume 2 foi que toda a minha euforia escorreu sala a fora. Nesta segunda parte, ela simplesmente desconstrói tudo que tinha julgado ter sido fantástico na primeira. As digressões, o uso do sexo, a motivação da protagonista, o papel dos personagens letras... Até o final, quando vi a assinatura de Von Trier, mesmo que obvia, me perguntei seria um resgate? Uma zombaria? Realmente uma mensagem? Não sei, maravilhadamente eu não sei.
Amor á uma filha que ainda não nasceu, é amor? Á uma personagem de ficção, á um perfil falso de internet, ainda assim é amor? Ela (Her), não responde nenhuma dessas questões, nem mesmo trata diretamente sobre nenhuma delas, mas há uma sensação que o filme constrói em quem o assiste que compartilha o mesmo vazio, plenamente preenchido. Com uma construção gráfica perfeita, que preza um conceito amplo e bem pensado sobre o que pode ser o futuro, Ela usa o amor como um meio comum, uma liga, para falar do convívio que nos une como uma sociedade, e é aí que mora a abrangência do filme. Por ser plural, funciona como uma análise atemporal das relações entre os seres humanos, seja pelo profundo e vazio significado de uma sintética carta escrita a mão ou pelo falso sentimento de aproximação que os aparelhos de comunicação atuais nos causa. Impossível não falar da atuação de Scarlett Johansson, pelo talento em si e pela funcionalidade que traz a trama. Nunca a vimos tão perto, mesmo ela não estando lá.
O que primeiro me chamou a atenção em Sob a Pele foi sua atmosfera crua e sombria que ao mesmo tempo me causou repulsa e interesse. Aquele universo claramente era a terra onde moramos, mas no mínimo sob um ponto de vista de fora, realmente de fora. Ocupando em nos retirar de nosso lugar comum, o excepcional trabalho de design de produção se mostra autentico e funcional, seja por seus interiores sufocantes ou pelas locações frias e ordinárias, que por isso mesmo acabam se tornando únicas. Há uma sequencia em especial, que conseguiu me causar completo terror e desamparo, mesmo só tendo um personagem em foco, um e parte de outro. Ainda no âmbito estético é interessante notar como o contraste da fotografia contribui para nos jogar de um mundo a outro (nunca geograficamente). Em quanto a terra nos aparece sempre fria, cinza e suja, a “terra”, por outro lado, assume notoriamente um visual clean. Mesmo que muito escuro, beirando a completa escuridão, nos abraçando e envolvendo (as vezes literalmente). A base conceitual do roteiro é nos aprestamada com um grau tal de segurança que mesmo complexas sequencias lógicas não precisam ser esmiuçadas e explicadas para se tornarem naturais e facilmente assimiladas. Isso que faz com que a arque do filme em si seja uma aula de ficção cientifica. Onde a ficção (sensu stricto) não é estruturada apenas sobre um novo universo baseado em sua representação gráfica, mas sim em ideias e conceitos novos formando um novo universo. Ficando impossível de não se atrelar o desfecho a um viés filosófico questionador e profundamente angustiante e melancólico.
A cena inicial de A Grande Beleza exprime bem o sentimento que o filme me inspirou ao vê-lo. Eu não sei se a vida é bela, mas com certeza há beleza na vida e ela é estonteante o suficiente para emocionar, marcar, ferir e, pobre do senhor oriental, matar. Esses assuntos são propostos com o mesmo grau de seriedade em cenas de conversas após um sexo casual ou discussões entre melhores amigos sobre a vida e sua finitude. A carga de diálogos me remeteu a Declínio do Império Americano, tamanha a densidade dos assuntos ali discutidos e a plenitude dos personagens em destrincha-los. Vide a sequencia que Jep Gambardella resolve, mesmo indo contra os pedidos dos amigos, dizer o que pensa sobre a vida e o “legado” de Stefania. Interessante notar que mesmo protestando, os amigos de Jep concordam, ao menos em parte, com o que ele diz, tornando ainda mais real o seu discurso, já que ao localizar a escritora no tempo ele termina por enxergar também o seu declínio e vazio interno. Realismo esse que nos remete diretamente ao clássico cinema italiano, conseguindo emular elementos de Fellini a uma estética nostálgica e, claro, linda.
Que surpresa descobrir ao final do filme que se tratava de uma produção americana. Digo isso pois há uma metalinguismo tão bonito na paciência e delicadeza em que o documentário é feito que tudo nos remete à densa e bela harmonia da cozinha japonesa. Jiro – The dreams of sushi além de cumprir o objetivo de nos contar sobre aquela tradição secular mostrando a história de vida do chef Jiro, aflora os sentimentos ali envolvidos em uma narrativa lenta, mas nunca morosa ou cansativa. Note como as cores da fotografia (nas locações externas) fazem rimas visuais com as peças preparadas pelo restaurante. Um doc raro, por ser ao mesmo tempo tão fidedigno e realista, mas apaixonado e onírico. A metáfora já é velha e vem pronta, mas é de fato um filme que alimenta.
Está tudo perdido aqui. Escutar essa frase nos primeiros minutos do filme, sem dúvida já nos derrota de antemão. Ainda mais quando acompanhamos a fibra e força do velejador ("Our Man"). A sua tranquilidade nos é transmitida e desconfio que isso é essencial para conseguirmos ver o filme sem morrer de angustia. A serenidade e experiencia passada pelo excelente trabalho de Redford funcionam ao mesmo tempo como um alivio dramático, quando notamos sua placida expressão e seus movimentos calmos e seguros ao ocorrer novas adversidades e ao mesmo tempo como um impulso ao desespero. Ao percebermos que nem ele consegue resolver um problema, ou que perdeu o autocontrole, vemos que aí sim tem um grande problema! Esse realismo passado conversa diretamente por dois elementos essenciais em Até o Fim, a performance do protagonista e a construção daquele universo. Dado que não demandaria nenhuma grande inovação para o designe de produção, Chandor investe no desenho de som, o grande responsável por nos inserir ao mar. A complexidade e riqueza dos detalhes sonoros não nos deixa nunca sair do filme, mesmo quando escutamos a fabulosa trilha sonora criada por Alex Ebert, notamos nela uma sinceridade tão profunda e bela que a assimilamos como um lamento ou mesmo (pessoalmente) uma oração ao nada. Um grande filme, com estrutura e forma, mesmo sendo tão simples e implacável.
Uma alegoria política hilária e crítica! As entrelinhas podem ou não serem lidas, não comprometendo a experiencia nem o filme em si. Sendo esse o metalinguismo tão pungente e completo que faz de O Baile dos Bombeiros um ensaio de o que seria Formam para o cinema!
Como renovar um gênero super explorado e já a tanto tempo engessado e pré-moldado? Não há uma resposta direta, ainda mais levando em conta o número elevado desse tipo de produção, mas sem nenhuma dúvida a quebra de expectativa é um artificio que caminha na direção da solução. Evitando ao máximo spoilers, O Segredo da Cabana sabe nos surpreender em diferentes níveis. Fazendo ao mesmo tempo uma construção, análise crítica e total desconstrução, com viés cômico, do gênero terror. Dotado de uma estética ao mesmo tempo clássica e inventiva, o verdadeiro segredo do filme está no tom (ritmo) da narrativa, que mesmo quando parece errar, acerta.
A tendencia do mercado em investir cada vez mais em remakes não é um mal do nosso tempo. Refilmar um sucesso independente da época, é uma aposta quase ganha, falando em resultados financeiros. Já que em aspectos cinematográficos o comum são fracassos quando muito filmes completamente gratuitos... Porém (ufa!), em A Morte do Demônio se nota algo mais do que uma copia moderna. Há, além de um respeito sincero e admiração pela obra original, uma contribuição estética e narrativa bem estruturada e perfeitamente orgânica a franquia. A escolha por efeitos práticos com apenas retocagens digitais, foi um grande acerto, deixando claro que tecnologia de efeitos especiais deve sempre somar e não substituir técnicas. Em suma, deu certo! Sabendo passar ao mesmo tempo toda aquela atmosfera de terror com um viés trash, mas nunca sendo autodepreciativo ou involuntariamente cômico.
Existem dois principais públicos que assistem continuações de bons e consagrados filmes. Os que vão ver apenas pelo sucesso do filme precedente e só querem rever seus personagens prediletos e os que temem (muitas vezes em um pessimismo infundado) que a sequencia macule todo um universo já criado e estabelecido. Acontece que sou do segundo tipo e ao que me parece é o primeiro que anda engrossando as bilheterias e gerando faturamentos astronômicos. Ruim para mim... Mas não tão ruim quando vemos projetos que conseguiram agradar a estes dois grupos. Universidade dos Monstros nos apresenta novas questões e relações entre já tão conhecidos personagens, gerando um arco completo não só no próprio filme mas (por saber inserir orgânicas referencias) também fechado no filme inicial de 2001. Um filme divertido, esteticamente atrativo, com uma simples e bonita mensagem infantil e uma moral inteligente e profunda. Um Pixar puro sangue!
O Cinema sempre nos comove, emociona, assusta ou diverte apenas por um motivo: Identificação. Pode perguntar para Lacan, ele explica... Logo é algo magico (me desculpe o pieguismo) quando nos reconhecemos em um personagem, sentimos suas dores e comemoramos suas alegrias. Mas personagens em suma são seres completos (ou assim deveriam ser) logo eles tem amigos, manias, defeitos e mais, estão inseridos em um universo tão, ou mais, complexo quanto eles próprios. Aí reside Os Suspeitos. Um filme que angustia não somente pelo drama sofrido pelos seus personagens, mas pela atmosfera, lindamente criada, por Villeneuve. Um exercício cinematográfico completo, onde a coordenação entre direção, fotografia e montagem geram um complexo e rico cenário, que nos deixa tenso e aflitos, quando imersos e plenos e triunfantes quando lembramos que tudo aquilo é Cinema e acima de tudo, arte!
Muitos filmes são bons, alguns excelentes, mas ainda sim são muitos, graças a Deus. Mas alguns poucos, além de nós entreter por completo nos dão uma aula não só de cinema mas de filosofia, sociologia... De arte! Gravidade se enquadra por completo nessa categoria. Apesar de um roteiro simples e direto a direção de Cuarón sabe extrair o melhor e mais intenso de cada cena. A quantidade de referencias e simbolismos gráficos que o filme nos mostra é fantástica. Exemplo a cena que a Dra. Ryan Stone, em um momento de falso alívio, descansa em posição fetal remetendo diretamente, pelo menos para mim, ao Starchild de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Mas não para por aí esta mesma cena faz um linda rima ao final do filme, podendo ser interpretada como a evolução de cada ser humano ou mesmo de toda a vida na Terra! Lindo... Tecnicamente o filme é impecável. Desde a fotografia de Lubezki, ampla e "universal", nunca nos deixando nos localizar por completo na geografia, mas sempre situando os personagens. Detalhe para as imagens da Terra que dependendo da posição do sol e dos continentes que aparecem indicam o estado de espirito dos personagens, se mostrando uma ferramente ao mesmo tempo estética e funcional. O desenho de som também impressiona. Um filme com essa quantidade de cenas de ação ficar marcado pelo silencio?! É de uma habilidade estupenda. Que presente nesse morno 2013, um filme completo e marcante!
Aos fãs duas cenas deletadas, infelizmente... Está em Dinamarques, mas tudo bem! Valem a pena!!! http://www.youtube.com/watch?v=O03vX6toFbo http://www.youtube.com/watch?v=OiAYvmp-tFg
Acho muito difícil avaliar um documentário cujo o tema me fascina, mas que possua uma estrutura tão simplista e medíocre. Agente sai da sessão, satisfeito não por ter visto um bom doc, mas sim por ter ouvido e aprendido tanto sobre um ídolo, ou tema fascinante. E para mim Lovecraft: Fear of the Unknown se encaixa perfeitamente neste contexto. Não há nada de atrativo ao filme, a não ser o personagem tema. Ele usa um molde engessado e super explorado de documentários científicos ou biográficos encomendados. Uma pena, já que dado o universo de Lovecraftm poderíamos esperar algo tão mais sombrio e único.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraNa minha infância, sempre achei mais fácil gostar do vilão que do herói. Acho que por identificação. Não que eu queira dominar o mundo, mas o mocinho geralmente me parecia limitado, preso na sua própria moral. Quando me deparei com a figura anti-herói gostei, era alguém real, alguém que sofria e descontava. Jordan Belfort em o O Lobo de Wall Street consegue ser esses três personagens em uma evolução (ou in-) irônica, nojenta e admirável. O roteiro é um misto entre estudo de personagem e analise de um período, dissecando também a mudança dos hábitos e valores da sociedade nova-iorquina, destacando a distancia entre a ambição da geração Baby Boomer e a realização do sonho americano por cidadãos comuns. Essa dualidade segue na narrativa em praticamente todos os momentos do filme. Scorsese consegue nos fazer dar gargalhadas no início de uma sequencia não compreender ao meio, sentir repulsa no final e nos arrepender de ter rido depois! Tudo isso sendo fiel a essência do personagem e sem soar artificial ou incoerente. Um arco dramático completo e fechado, mesmo repletos de regressos e atalhos.
O Babadook
3.5 2,0KA essência de um filme de terror é causar medo. Mas isso não significa que todo filme que dá medo é bom. Uma panela caindo no chão da cozinha no meio da madrugada dá muito medo. O Senhor Babadook não quer só nos assustar, não que ele não consiga, pelo contrario, mas há uma complexa sublimidade ali, há uma leitura maior. Todas as escolhas da diretora, do elenco ao figurino, passando pela direção de arte, fotografia e roteiro, foram feitas para funcionar tanto na história literal como na sub-trama. E se a primeira consegue fazer um “bicho papão” ser aterrorizante sem ter que apelar para efeitos sonoros altíssimos ou exagerar no uso de CGI, a segunda não dá medo, mas deprime e machuca ao mostrar a dura rotina de uma mãe solteira tentando superar o luto do marido. Ao fim do filme, ainda assustado e incomodado vi que existem medos que passam e outros que não. Todos devem ser superados e para seguirmos em frente ele precisam ser eliminados ou, na nossa impotência, domados.
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Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista AgoraComo vi o filme legendado, vi que traduziram “Folk Music” como “Musica Popular”. Na hora protestei. Mas há uma ironia involuntária nesse erro de tradução que contempla o dilema do protagonista e a melancolia que isso traz na vida dele. Llewyn é um músico talentoso, bonito e dedicado, mas isso nunca o impede de ser arrogante, pretencioso e egoísta, além de paupérrimo. E aí mora o dilema, querer ser um músico famoso, mas não um popular. Ele sabe do seu potencial e da qualidade do seu trabalho, mas não querer ser reconhecido por todos, apenas por alguns. A habilidade que os Cohen têm para nos conseguir nos passar tudo isso, mas sem transforma-lo em um completo babaca é fantástica. Nós sabemos o que ele almeja, vemos como seus amigos e familiares o enxergam, mas no fundo estamos torcendo para ele e sentimos sua frustração quando ele falha. A moldura que envolve toda essa trama não poderia ser mais bonita. Uma fotografia é belíssima justamente por saber ser feia, em seus planos amplos, cinzas e claros, aumentado ainda mais a solidão de quem está enquadrado (geralmente Llewyn). O desenho de som é o destaque, suas fusões entre trilha sonora e sons diegéticos só o tornam mais orgânico e fluido. Ao final ficamos com vontade de frequentar o pub em Greenwich Village, de comprar o disco Inside Llewyn Davis e de chorar ainda mais com Bob Dylan.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraSer adolescente é tão bom quanto tirar um siso inflamado. Há o incomodo, o desconhecimento, a dor e o sorvete, muito sorvete. Questões já tão exploradas como a descoberta do sexo, primeiros amores, autoconhecimento etc, são tratadas de uma maneira tão delicada e natural que é impossível não se identificar. Isso fica claro em cenas como a que Giovana, na beirada da piscina, fica enrubescida com o questionamento irônico de Leonardo, “Ah então porque você não me beija?”, ou mesmo com o sensível momento que um pai ensina pela primeira vez ao filho como fazer a barba. O simples toma uma forma multidimensional e abrangente e aí nos encontramos, mesmo em personagens de idades e personalidades tão diferentes.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KA cada novo filme de Wes Anderson, sempre me faço a pergunta se gosto dele apenas por gostar de sua estética ou por ele fazer bons filmes independente disso. Uma vez que ninguém faz melhor oque ele faz, e a cada produção há mais identidade em seus trabalhos, isso geraria um ciclo vicioso que no fim o único fã do diretor seria ele mesmo. Senti isso em Viagem a Darjeeling (que me soou gratuito e morno), mas O Grande Hotel Budapeste é a prova contraria de todo esse raciocínio. A maneira que o diretor se reinventa, mantendo a essência do seu trabalho é maravilhosa. A complexidade de camadas da história, a fotografia funcional, os diálogos metalinguísticos e por fim o impecável design de produção. Um filme sobre um livro, sobre uma lembrança de uma conversa, sobre um relato de uma vivencia passada, sobre a história de um homem. Um filme, antes de tudo, sobre Narrativa. É tanto, que ele não se limita a passear apenas por uma linguagem, seu viés literário e teatral é fluido e encantador.
Quando Eu Era Vivo
2.9 323Sempre que vejo um bom filme de gênero nacional, não importa qual, tenho uma boba e boa sensação. Algo como: “Damos conta de tudo!”. Boba, pois, sim damos conta, de muito mais e à muito tempo e boa porque ver um suspense/terror, do Mutarelli, com a Sandy funcionar tão bem é simplesmente fantástico! Quando eu Era Vivo é um daqueles raros filmes que funcionam em várias estancias. Há uma alegoria em suas entrelinhas (para mim sobre o falho sistema de saúde mental do país), mas interpreta-lo ou não, não influencia na narrativa de uma forma geral. A construção dos personagens e das relações entre eles é tão densa que chega a causar desconforto à medida que as vemos. Vamos nos decompondo junto ao protagonista, imergindo naquele universo oculto, depressivo e assustador.
No Limite do Amanhã
3.8 1,5K Assista AgoraNenhuma ideia, premissa, argumento ou roteiro é ruim o suficiente para que não valha mais uma tentativa em Hollywood. Por isso o “simples” No Limite do Amanhã consegue ser metalinguístico e alegórico ao mesmo tempo em que divertido e inteligente. Dotado de uma estética original e bem estruturada, faz valer todo o dinheiro que foi desprendido para CGI, figurino e maquiagem. Mas ao contrário de tantos filmes de ação e aventura, esse não é o seu único ponto forte. A trama é convidativa e complexa, sabendo bem utilizar artifícios naturais dos personagens (principalmente do produtor Cruise) para enriquecer a narrativa. A semelhança com o clássico Feitiço do Tempo é notável, mas como está tão bem inserida em um universo tão diferente, ficamos com a sensação de releitura e homenagem e não plagio.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraEsse é o 5° filme da franquia, o 7° se contarmos os spin-offs. Sair da sala sorrindo já é um mérito e tanto. Mas, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido conseguiu ir além. Me fez sair da sala querendo ver mais! O segredo da trama é o bom uso dos vários personagens, mesmo sendo muitos, eles nunca soam gratuitos ou limitados somente ao uso do seus poderes. O truque de revisitar velhos conhecidos também é infalível, seja apenas por poucos instantes ou estruturando o protagonista. O trabalho de design de produção é excelente, tanto no futuro como nos anos 70 existe uma logica fiel e bem desenvolvida para figurino e direção de arte, isso acaba funcionando como ancora para nos situarmos cronologicamente durante a projeção. Para mim o reboot da franquia conseguiu o improvável, renovar as energias e os ânimos de personagens, sem afasta-los de sua essência. Um deleite para novos e veteranos fãs!
Frozen: Uma Aventura Congelante
3.9 3,0K Assista AgoraGosto da Disney, cresci cantando as músicas de Aladdin, adorei a renovação da energia em filmes como Enrolados e Detona Ralph, mas Frozen me conquistou de uma maneira tão plena que me fez mudar os parâmetros de como eu via as animações do estúdio. Se for fazer uma soma numérica, não há nada de muito novo. Boas canções, alivio cômico, protagonista feminina e um universo real, porém com toques de magia. Mas é na soma não numérica que a verdade do filme se esconde. Desde “As Cores do Vento” eu não via uma cumplicidade tão grande entre a animação gráfica e a essência dos personagens. Seja o momento da canção principal, ou durante o lamento infantil de Anna, a funcionalidade das cenas são perfeitas. Cada momento é tão bem ornamentado e cronometrado que mesmo vendo seguidas vezes, encontramos detalhes escondidos ou gags sobrepostas. Somado a isso há o clímax e conclusão do filme que simplesmente conseguiu dar uma visão de amor mais complexa e abrangente que todos os outros filmes que a Disney já fez, além de ser corajosa e original. Frozen é um marcador histórico na animação e porque não no Cinema.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraA primeira opinião positiva que ouvi sobre Boyhood foi: “É um filme lindo, apesar de ser sobre nada”. Concordo em parte. O Cinema como forma de escapismo não é novidade, mas nunca vimos tantas produções só com esse objetivo sendo feitas por ano. Não que eu não goste ou os menospreze. Até porque não perco um X-Men por nada. Mas hoje, mais do que nunca, filmes que não mostram nada nos dizem ter uma vida de “nada” e Boyhood é exatamente o contrario. Complicado...Até hoje sempre pensei que minha vida não renderia nem um curta, porque alguém iria ver isso? Mas tenho certeza que tudo que vivi foi importante, e fatal, para eu estar escrevendo isso aqui agora. Destino existe. Mas só se olharmos para trás. Todos os acontecimentos na vida de Mason, todos os momentos (aproveitados ou não) foram os seus construtores, foram o seu Deus. Isso é lindo, isso é o “nada” mais lindo que já vi e ver esse “nada” em um filme que demorou 12 anos para ser finalizado é de um metalinguismo tão pungente que só me faz ainda mais próximo do Cinema!
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraEu amei Ninfomaniaca, vi devorando cada minute do filme, chorei (pela protagonista e pelo Cinema), virei a cara, me excitei... Mas não sei sobre o que é filme. O clima de revisão de obra misturado com estudo sobre vicio, junto ao lobby gigante que o filme teve, me deixou o mesmo tempo sem saber se o diretor me manipulava por me emocionar ou por achar que não devia me emocionar. Terminei o volume 1 em êxtase. “Entendi, não é nada sobre sexo, o explicito deixa de ser gratuito justamente por ser explicito. Genial!” Mas, no volume 2 foi que toda a minha euforia escorreu sala a fora. Nesta segunda parte, ela simplesmente desconstrói tudo que tinha julgado ter sido fantástico na primeira. As digressões, o uso do sexo, a motivação da protagonista, o papel dos personagens letras... Até o final, quando vi a assinatura de Von Trier, mesmo que obvia, me perguntei seria um resgate? Uma zombaria? Realmente uma mensagem? Não sei, maravilhadamente eu não sei.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraAmor á uma filha que ainda não nasceu, é amor? Á uma personagem de ficção, á um perfil falso de internet, ainda assim é amor? Ela (Her), não responde nenhuma dessas questões, nem mesmo trata diretamente sobre nenhuma delas, mas há uma sensação que o filme constrói em quem o assiste que compartilha o mesmo vazio, plenamente preenchido. Com uma construção gráfica perfeita, que preza um conceito amplo e bem pensado sobre o que pode ser o futuro, Ela usa o amor como um meio comum, uma liga, para falar do convívio que nos une como uma sociedade, e é aí que mora a abrangência do filme. Por ser plural, funciona como uma análise atemporal das relações entre os seres humanos, seja pelo profundo e vazio significado de uma sintética carta escrita a mão ou pelo falso sentimento de aproximação que os aparelhos de comunicação atuais nos causa. Impossível não falar da atuação de Scarlett Johansson, pelo talento em si e pela funcionalidade que traz a trama. Nunca a vimos tão perto, mesmo ela não estando lá.
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraO que primeiro me chamou a atenção em Sob a Pele foi sua atmosfera crua e sombria que ao mesmo tempo me causou repulsa e interesse. Aquele universo claramente era a terra onde moramos, mas no mínimo sob um ponto de vista de fora, realmente de fora. Ocupando em nos retirar de nosso lugar comum, o excepcional trabalho de design de produção se mostra autentico e funcional, seja por seus interiores sufocantes ou pelas locações frias e ordinárias, que por isso mesmo acabam se tornando únicas. Há uma sequencia em especial, que conseguiu me causar completo terror e desamparo, mesmo só tendo um personagem em foco, um e parte de outro. Ainda no âmbito estético é interessante notar como o contraste da fotografia contribui para nos jogar de um mundo a outro (nunca geograficamente). Em quanto a terra nos aparece sempre fria, cinza e suja, a “terra”, por outro lado, assume notoriamente um visual clean. Mesmo que muito escuro, beirando a completa escuridão, nos abraçando e envolvendo (as vezes literalmente). A base conceitual do roteiro é nos aprestamada com um grau tal de segurança que mesmo complexas sequencias lógicas não precisam ser esmiuçadas e explicadas para se tornarem naturais e facilmente assimiladas. Isso que faz com que a arque do filme em si seja uma aula de ficção cientifica. Onde a ficção (sensu stricto) não é estruturada apenas sobre um novo universo baseado em sua representação gráfica, mas sim em ideias e conceitos novos formando um novo universo. Ficando impossível de não se atrelar o desfecho a um viés filosófico questionador e profundamente angustiante e melancólico.
A Grande Beleza
3.9 463 Assista AgoraA cena inicial de A Grande Beleza exprime bem o sentimento que o filme me inspirou ao vê-lo. Eu não sei se a vida é bela, mas com certeza há beleza na vida e ela é estonteante o suficiente para emocionar, marcar, ferir e, pobre do senhor oriental, matar. Esses assuntos são propostos com o mesmo grau de seriedade em cenas de conversas após um sexo casual ou discussões entre melhores amigos sobre a vida e sua finitude.
A carga de diálogos me remeteu a Declínio do Império Americano, tamanha a densidade dos assuntos ali discutidos e a plenitude dos personagens em destrincha-los. Vide a sequencia que Jep Gambardella resolve, mesmo indo contra os pedidos dos amigos, dizer o que pensa sobre a vida e o “legado” de Stefania. Interessante notar que mesmo protestando, os amigos de Jep concordam, ao menos em parte, com o que ele diz, tornando ainda mais real o seu discurso, já que ao localizar a escritora no tempo ele termina por enxergar também o seu declínio e vazio interno.
Realismo esse que nos remete diretamente ao clássico cinema italiano, conseguindo emular elementos de Fellini a uma estética nostálgica e, claro, linda.
O Sushi dos Sonhos de Jiro
4.2 83Que surpresa descobrir ao final do filme que se tratava de uma produção americana. Digo isso pois há uma metalinguismo tão bonito na paciência e delicadeza em que o documentário é feito que tudo nos remete à densa e bela harmonia da cozinha japonesa. Jiro – The dreams of sushi além de cumprir o objetivo de nos contar sobre aquela tradição secular mostrando a história de vida do chef Jiro, aflora os sentimentos ali envolvidos em uma narrativa lenta, mas nunca morosa ou cansativa. Note como as cores da fotografia (nas locações externas) fazem rimas visuais com as peças preparadas pelo restaurante. Um doc raro, por ser ao mesmo tempo tão fidedigno e realista, mas apaixonado e onírico. A metáfora já é velha e vem pronta, mas é de fato um filme que alimenta.
Até o Fim
3.4 418 Assista AgoraEstá tudo perdido aqui. Escutar essa frase nos primeiros minutos do filme, sem dúvida já nos derrota de antemão. Ainda mais quando acompanhamos a fibra e força do velejador ("Our Man"). A sua tranquilidade nos é transmitida e desconfio que isso é essencial para conseguirmos ver o filme sem morrer de angustia. A serenidade e experiencia passada pelo excelente trabalho de Redford funcionam ao mesmo tempo como um alivio dramático, quando notamos sua placida expressão e seus movimentos calmos e seguros ao ocorrer novas adversidades e ao mesmo tempo como um impulso ao desespero. Ao percebermos que nem ele consegue resolver um problema, ou que perdeu o autocontrole, vemos que aí sim tem um grande problema! Esse realismo passado conversa diretamente por dois elementos essenciais em Até o Fim, a performance do protagonista e a construção daquele universo. Dado que não demandaria nenhuma grande inovação para o designe de produção, Chandor investe no desenho de som, o grande responsável por nos inserir ao mar. A complexidade e riqueza dos detalhes sonoros não nos deixa nunca sair do filme, mesmo quando escutamos a fabulosa trilha sonora criada por Alex Ebert, notamos nela uma sinceridade tão profunda e bela que a assimilamos como um lamento ou mesmo (pessoalmente) uma oração ao nada. Um grande filme, com estrutura e forma, mesmo sendo tão simples e implacável.
O Baile dos Bombeiros
3.8 45 Assista AgoraUma alegoria política hilária e crítica! As entrelinhas podem ou não serem lidas, não comprometendo a experiencia nem o filme em si. Sendo esse o metalinguismo tão pungente e completo que faz de O Baile dos Bombeiros um ensaio de o que seria Formam para o cinema!
O Segredo da Cabana
3.0 3,2KComo renovar um gênero super explorado e já a tanto tempo engessado e pré-moldado? Não há uma resposta direta, ainda mais levando em conta o número elevado desse tipo de produção, mas sem nenhuma dúvida a quebra de expectativa é um artificio que caminha na direção da solução. Evitando ao máximo spoilers, O Segredo da Cabana sabe nos surpreender em diferentes níveis. Fazendo ao mesmo tempo uma construção, análise crítica e total desconstrução, com viés cômico, do gênero terror. Dotado de uma estética ao mesmo tempo clássica e inventiva, o verdadeiro segredo do filme está no tom (ritmo) da narrativa, que mesmo quando parece errar, acerta.
A Morte do Demônio
3.2 3,9K Assista AgoraA tendencia do mercado em investir cada vez mais em remakes não é um mal do nosso tempo. Refilmar um sucesso independente da época, é uma aposta quase ganha, falando em resultados financeiros. Já que em aspectos cinematográficos o comum são fracassos quando muito filmes completamente gratuitos... Porém (ufa!), em A Morte do Demônio se nota algo mais do que uma copia moderna. Há, além de um respeito sincero e admiração pela obra original, uma contribuição estética e narrativa bem estruturada e perfeitamente orgânica a franquia. A escolha por efeitos práticos com apenas retocagens digitais, foi um grande acerto, deixando claro que tecnologia de efeitos especiais deve sempre somar e não substituir técnicas. Em suma, deu certo! Sabendo passar ao mesmo tempo toda aquela atmosfera de terror com um viés trash, mas nunca sendo autodepreciativo ou involuntariamente cômico.
Universidade Monstros
3.9 1,8K Assista AgoraExistem dois principais públicos que assistem continuações de bons e consagrados filmes. Os que vão ver apenas pelo sucesso do filme precedente e só querem rever seus personagens prediletos e os que temem (muitas vezes em um pessimismo infundado) que a sequencia macule todo um universo já criado e estabelecido. Acontece que sou do segundo tipo e ao que me parece é o primeiro que anda engrossando as bilheterias e gerando faturamentos astronômicos. Ruim para mim... Mas não tão ruim quando vemos projetos que conseguiram agradar a estes dois grupos. Universidade dos Monstros nos apresenta novas questões e relações entre já tão conhecidos personagens, gerando um arco completo não só no próprio filme mas (por saber inserir orgânicas referencias) também fechado no filme inicial de 2001. Um filme divertido, esteticamente atrativo, com uma simples e bonita mensagem infantil e uma moral inteligente e profunda. Um Pixar puro sangue!
Os Suspeitos
4.1 2,7K Assista AgoraO Cinema sempre nos comove, emociona, assusta ou diverte apenas por um motivo: Identificação. Pode perguntar para Lacan, ele explica... Logo é algo magico (me desculpe o pieguismo) quando nos reconhecemos em um personagem, sentimos suas dores e comemoramos suas alegrias. Mas personagens em suma são seres completos (ou assim deveriam ser) logo eles tem amigos, manias, defeitos e mais, estão inseridos em um universo tão, ou mais, complexo quanto eles próprios. Aí reside Os Suspeitos. Um filme que angustia não somente pelo drama sofrido pelos seus personagens, mas pela atmosfera, lindamente criada, por Villeneuve. Um exercício cinematográfico completo, onde a coordenação entre direção, fotografia e montagem geram um complexo e rico cenário, que nos deixa tenso e aflitos, quando imersos e plenos e triunfantes quando lembramos que tudo aquilo é Cinema e acima de tudo, arte!
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraMuitos filmes são bons, alguns excelentes, mas ainda sim são muitos, graças a Deus. Mas alguns poucos, além de nós entreter por completo nos dão uma aula não só de cinema mas de filosofia, sociologia... De arte!
Gravidade se enquadra por completo nessa categoria. Apesar de um roteiro simples e direto a direção de Cuarón sabe extrair o melhor e mais intenso de cada cena. A quantidade de referencias e simbolismos gráficos que o filme nos mostra é fantástica. Exemplo a cena que a Dra. Ryan Stone, em um momento de falso alívio, descansa em posição fetal remetendo diretamente, pelo menos para mim, ao Starchild de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Mas não para por aí esta mesma cena faz um linda rima ao final do filme, podendo ser interpretada como a evolução de cada ser humano ou mesmo de toda a vida na Terra! Lindo... Tecnicamente o filme é impecável. Desde a fotografia de Lubezki, ampla e "universal", nunca nos deixando nos localizar por completo na geografia, mas sempre situando os personagens. Detalhe para as imagens da Terra que dependendo da posição do sol e dos continentes que aparecem indicam o estado de espirito dos personagens, se mostrando uma ferramente ao mesmo tempo estética e funcional. O desenho de som também impressiona. Um filme com essa quantidade de cenas de ação ficar marcado pelo silencio?! É de uma habilidade estupenda. Que presente nesse morno 2013, um filme completo e marcante!
Reptilicus
2.3 17 Assista AgoraAos fãs duas cenas deletadas, infelizmente...
Está em Dinamarques, mas tudo bem! Valem a pena!!!
http://www.youtube.com/watch?v=O03vX6toFbo
http://www.youtube.com/watch?v=OiAYvmp-tFg
Lovecraft: Medo do Desconhecido
4.1 25 Assista AgoraAcho muito difícil avaliar um documentário cujo o tema me fascina, mas que possua uma estrutura tão simplista e medíocre. Agente sai da sessão, satisfeito não por ter visto um bom doc, mas sim por ter ouvido e aprendido tanto sobre um ídolo, ou tema fascinante. E para mim Lovecraft: Fear of the Unknown se encaixa perfeitamente neste contexto. Não há nada de atrativo ao filme, a não ser o personagem tema. Ele usa um molde engessado e super explorado de documentários científicos ou biográficos encomendados. Uma pena, já que dado o universo de Lovecraftm poderíamos esperar algo tão mais sombrio e único.