Na maioria do tempo fraco, e no geral decepcionante. Desperdiça atores de primeira linha e passa uma desagradável sensação de ser a mera alegoria de alguma outra obra que se pretendia alcançar. Um Terry Gilliam em clima de ocaso melancólico.
Um ótimo filme, com três aspectos que se destacam com louvor. O primeiro é a excelente química em tela da dupla Mortensen e Ali, ambos em atuações de luxo, irretocáveis.
O segundo é a forma habilíssima com a qual a direção e o roteiro conseguem enquadrar um assunto tão sério quanto o da segregação racial no sul dos EUA da virada dos anos 50 para os 60. O filme é tocado sem pesar na mão, com extrema elegância, leveza, sem descambar para o arroubo panfletário-revolucionário -preferindo sempre um caminho mais sensível e poético- e ainda assim conseguir passar perfeitamente a sua mensagem mais profunda: a do encontro entre duas almas que vão se livrando de estereótipos e deixando que no esapaço aberto cresça a empatia, o respeito, a justiça e principalmente, a amizade.
E o terceiro, reside na fotografia e no tratamento visual geral do filme, que conseguem emoldurar de maneira perfeita a qualidade da trama, criando uma "embalagem" perfeita para um produto de alta qualidade.
É muito fácil perder a mão em uma cinebiografia que retrate uma figura complexa, multifacetada ou artisticamente influente. Quando se trata de uma figura que é presença certa nos primeiros lugares de qualquer lista dos maiores artistas populares de todos os tempos, como é o caso de James Brown, o desafio é ainda maior.
Neste filme, o diretor Tate Taylor de Histórias Cruzadas consegue não só acertar a mão no sentido técnico e produzir um filme com o qual é possível se conectar com facilidade, como também conseguiu comandar uma competente equipe de atores. Destaque óbvio para um então praticamente desconhecido Chadwick Boseman, que convence muito bem no papel do biografado James Brown.
A união entre os bons desempenhos e a direção segura de Taylor consegue criar uma ótima cinebiografia. Cria um bom estudo emocional do retratado, indo até um pouco mais fundo que o padrão hollywoodiano normalmente vai. Um bom quadro geral da carreira, com uma bem-vinda quebra da linearidade com vai-e-vens que atendem bem ao roteiro, uma decisão criativa que se tivesse sido feita de forma mais tradicional resultaria em uma obra bem mais cansativa.
Pra quem gosta de cinebiografias e filmes relacionados à música, é um filme e tanto pra se ver.
A atuação cativante de Tom Hanks carrega 80% do filme nas costas. Embora a trama seja edificante e positiva, talvez a aceitação desse filme tenha sofrido num choque com a realidade. O conceito de "pessoas tão fudidas e quebradas quanto Lloyd Vogel" ser a regra hoje em dia é algo tão presente que chega perto de fazer pessoas como o Mr. Rogers serem ignoradas como se "não pudesse existir alguém assim".
No mais, a direção de arte ao escolher reproduzir demais uma estética de TV sessentista/setentista, e tornar isso certas vezes confuso (mesmo que intencionalmente) no trânsito entre o "mundo mágico" do Mr. Rogers e a "realidade dura" de Lloyd, acaba emprestando ao filme uma estranheza que não ajuda a elevar o filme.
No fim, tudo de que vai se lembrar é de Tom Hanks fazendo um papel encantador, por mais que o filme tivesse uma mensagem mais ampla para transmitir, talvez a mais importante de todas seja: "Estamos tentando dar ao mundo maneiras positivas de LIDAR COM SEUS SENTIMENTOS!"
Por incrível que pareça, o fato de ser um filme C britânico, de baixíssimo orçamento não é o que faz com que esse filme mereça uma nota baixa. Até que o roteiro é razoavelmente estruturado, a ponto de fazer com que você ao menos queira saber o que vai acontecer mais pra frente, o que convenhamos já é uma façanha que muitos filmes C não alcançam. O grande problema aqui está na direção de atores, que coitados, ficaram longe de conseguir transmitir a situação (teoricamente) tensa que se desenrola na trama. Quase deu, mas não foi dessa vez.
Uma triste decepção. Você assiste não esperando muita coisa, mas se supreende com uma premissa fantástica, com o fato do filme ser bem feitinho, bem fotografado, com atuações e produção OK, enfim... podia ser um verdadeiro achado como o I Origins - O Universo no Olhar (2014), que também mostra as possíveis consequências emocionais e humanas de uma descoberta científica altamente disruptiva.
O grande porém, a grande mancada de William foi no roteiro. Enquanto o roteiro de I Origins conseguia misturar com perfeição e equilíbrio a parte "científica" com a parte emocional da história, William foi desequilíbrio puro. O filme começa de maneira interessante, curiosa e científica, mas à medida que avança vai virando uma espécie de Dawson's Creek com Malhação e toques de High School Musical. E pra horror de quem assiste, isso vai tomando tempo da trama até virar 80% do tempo.
Os poucos momentos depois do nascimento de William onde algum fato "científico" é apresentado dentro do roteiro, são justamente os momentos em que o filme se torna interessante o suficiente pra fazer você querer continuar assistindo. Aí tome de mais 20 minutos, meia hora de drama adolescente de péssima categoria até acontecer de novo.
horroroso, talvez um dos mais covardemente escritos e filmados que eu vi nos últimos tempos. Aquele tipo de final que no momento seguinte você consegue pensar em pelo menos uma duas, três, até cinco maneiras de terminar com um pouco mais de dignidade.
Este é um daqueles filmes onde é difícil ter um meio termo: ou você adora ou simplesmente ele não te pega.
Pra qualquer interessado na história e política do século XX, (e principalmente nos controversos acontecimentos envolvendo a União Soviética) não tem jeito, esse é um daqueles filmes que são se deve deixar escapar. A sua premissa por si só, beira o apavorante. O filme fala de eventos históricos terríveis, trágicos, que aconteceram de fato, e anda no fio da navalha ao utilizar esse pano de fundo como cenário para uma comédia das mais escrachadas.
A despeito disso, direção e roteiro conseguem a façanha quase impossível de transformar esse pedaço negro da história em um teatro do absurdo, uma ópera bufa da qual é difícil não rir -embora às vezes possa ser uma risada mais de nervoso do que de humor. Roteirizado de maneira esplêndida por uma equipe capitaneada pelo também diretor Armando Iannucci, o timing competentíssimo para a sátira política, mais um desempenho absurdo de um elenco de feras (com destaque para o trio Steve Buscemi, Simon Russel Beale e Jeffrey Tambor) fazem com que o espetáculo funcione como um relógio. A média dos desempenhos do elenco é alta, com performances impagáveis na maioria, com um tempo de comédia perfeitamente adaptados. Eles parecem realmente estarem se divertindo num palco de uma peça de teatro, em companhia de atores amigos com quem tem muito entrosamento, e não necessariamente em um filme. Esse fator se soma ao roteiro como um dos grandes acertos do filme.
Na essência, os célebres “expurgos de Stálin” configuram um assunto tão sombrio, que para jogar um pouco de luz sobre os crimes contra a humanidade cometidos naquele período, o único modo de fazê-lo era abraçando o absurdo, pois de outra forma a única alternativa seria fazer um documentário -o que certamente não era o caso. Ianucci consegue desviar com genialidade da revolta que poderia causar em algumas pessoas ao relembrar o público de que a natureza dos personagens colocados em clima de constante tensão na comédia (“sofrendo” pela perda de seu líder, ao mesmo tempo em que desenrolam uma delicada tapeçaria de intrigas) só encontra lugar em uma trágica pantomima de absurdidades. Tudo isso embalado por diálogos afiadíssimos, atuações de primeiríssima e um roteiro habilidoso.
Manteve o nível da primeira. Apesar de ter chutado mais o balde no esquema "novelão", com situações dignas de novela mexicana (enfermidades trágicas que se curam de um episódio para o outro, mortes inesperadas e trágicas e gente desenganada pelos médicos se curando de repente), ainda assim não cai a nota. A trama é construída para funcionar (e suportar) uma carga de dramalhão que faria outras séries e outros roteiros parecerem ridículos. Ponto a favor da série, que embora tenha alguns elementos que não funcionariam bem se fosse feita de outra forma, aqui funciona perfeitamente.
Pontos a destacar: - Lord Crawley safadão nessa S02; - Ethel prêmio de maior analfabeta emocional e otária que se acha malandra; - Dr. Clarkson (e todo mundo também) estressadaço com a mãe do Matthew; - Sor Jorah Mormont não se dá bem no amor mesmo; - Thomas e Sarah detestáveis, dá vontade de matar; - Bates com a vida mais enrolada que carretel de linha, impressionante não se sabe como a Anna aguenta; - Matthew passava mais tempo de roupa civil do que de uniforme, estando alistado na guerra. Lord Crawley passava mais tempo de uniforme do que de roupa civil mesmo não estando alistado na guerra;
Embora nesse filme Tarantino deixe seu pendor para o formulaico e a autorreferência no talo, paradoxalmente talvez esse seja disparado o melhor "filme do Tarantino para quem não é fã irracional do Tarantino que acha até o que ele faz na privada genial".
Apesar de seguir a receita do "se a História tivesse sido diferente" da qual o diretor já lançou mão anteriormente, e possuir todo pacote de tarantinismos que fazem a torcida organizada tarantinomaníaca delirar, mas que deixam quem não é torcedor meio naquela de "meh", o grande valor desse filme pra quem não é fã alucinado do homem está em outro lugar. A reconstituição de uma era específica de Hollywood, diferente das presentes no velho oeste de Django e Hateful Eight e da Europa na II Guerra de Bastardos Inglórios, é tão mais cuidadosa (e até artística), demonstra um sentimento de admiração e de nostalgia tão mais sinceros (e com uma carga mais atenuada do costumeiro cinismo), que fica difícil não perceber que este é um Tarantino especial.
Talvez a maior virtude do filme, seja sua unidade consistir em (diferente de outras produções suas) fazer com que tanto as atuações do elenco, o apuro visual e a direção de arte, e o carinho explícito no roteiro, tudo isso junto servir como uma declaração de fã a um certo período da história de Hollywood em formato de audiovisual. Nesse sentido, mesmo tendo presentes elementos comuns a outros filmes seus, a coesão desses elementos aqui parece muito maior, e o resultado, agradavelmente mais homogêneo e de mais fácil digestão que o normal da casa.
Embora a premissa da trama seja algo resumível em uma linha, e por ser um filme de guerra, não apresente nada em termos de roteiro que já não tenha sido visto em dezenas de outros filmes a retratarem a mais terrível das experiências humanas, o grande mérito desse filme -o que realmente o transforma em uma obra digna de figurar nos anais do cinema- não reside no quê, nem no porquê, mas no COMO.
Sam Mendes ao capitanear essa produção, demonstra com uma técnica refinada comparável à de um artesão experiente e a minuciosidade de um maestro virtuoso, ter sido capaz de montar uma sinfonia visual que pode ser vista, sem exagero, como uma obra de arte. 1917 é algo estupefaciente, chocante e ao mesmo tempo horripilantemente belo, como se estivéssemos em uma realidade paralela onde a Guernica de Pablo Picasso fosse um filme, e não uma pintura.
Há muitas questões técnicas, visuais e cinematográficas que poderiam fazer com que um comentário a respeito desse filme se estendesse por parágrafos e mais parágrafos. Só que para um comentário curto em uma rede social de aficionados por filmes como essa, basta dizer que pouquíssimas vezes na história do audiovisual os conceitos de "beleza", "humanidade" e "guerra" conseguiram se aproximar com tanta honestidade quanto neste filme. Uma verdadeira tour de force, uma verdadeira EXPERIÊNCIA cinematográfica que merece mais que ser vista... merece ser absorvida, em toda a sua absoluta grandiloquência técnica, em toda sua exposição crua e honesta dos espectros sombrios e trágicos da guerra.
Um filme pra entrar para a história.
Apenas uma pequeno detalhe separa esse filme da mais absoluta perfeição...
depois de cortar no arame farpado, enfiar na lama, enfiar em um cadáver podre que estava sendo comido por ratos, enfaixar com um pano, e nadar em rios, deixando com a umidade perfeita e escuro e quentinho pras bactérias fazerem a festa, aquela mão ferida do Cabo Scofield devia ter chegado do tamanho de uma melancia no final do filme! Haja antibiótico pra segurar essa onda, malandro!
Mas ainda assim, brincadeiras à parte, uma obra e tanto!
Depois de uma primeira temporada promissora, capaz de empolgar justamente por romper com o clima de "Malhação/Novelinha adolescente", das outras séries da DC, a expectativa era de que a tendência se mantivesse na segunda.
Era esperado que o roteiro se mantivesse focado na construção dos personagens e na incorporação do seu legado nos quadrinhos em um universo live action, mas nessa segunda temporada todas as esperanças são frustradas.
Embora tentem seguir trazendo uma trama inspirada com certo grau de fidelidade nos elementos das HQs, as toneladas de sacarose, discussão de relação e foco no aspecto folhetinesco que amaldiçoa as séries da DC acabou condenando essa segunda temporada. Um nojo. Comparada com a primeira, essa segunda temporada é capaz de dar crise em diabético.
Uma primeira temporada promissora. Conseguiu fugir de um padrão muito repetido, principalmente nas séries da DC, de deixar o lado ficção de super-herói de lado e focar demais no lado "novela da Globo-discussão de relação interminável". Ok, que seria esperar demais que as questões emocionais fossem zeradas, mas os roteiristas conseguiram com habilidade jogar o foco na história, e trazer com muita honestidade para o live action a estrutura e as referências dos quadrinhos de forma muito correta e bem adaptada. De uma forma que muitas vezes, nem os roteiristas de cinema conseguem fazer com tamanha eficiência.
Uma boa notícia. Se a próxima temporada conseguir manter essa levada, teremos aí uma série capaz de fazer os Arrows, Flashes e Birds of Prey da vida caírem no esquecimento.
A série é bem feita e se escora numa premissa poderosa. Mas em certos momentos, parece que o roteiro se acovarda diante de tomar uma posição mais definitiva, sempre dando um passo atrás antes de colocar um momento decisivo às claras ou não. Ainda assim, é o tipo de situação que pode evoluir (ou descer pelo ralo) em uma próxima (ou próximas) temporada(s).
O maior desconforto que fica ao assistir a série é o fato de
na maior parte do tempo, tudo que Al Masih, o suposto messias faz é responder perguntas com outras perguntas, o que acaba se tornando um recurso cansativo, uma muleta do roteiro que tira bastante do que poderia ser o "encanto" do personagem.
Um novelão adorável. Produção impecável, assim como a reconstituição de época, um recorte cuidadoso do período histórico em que a série se desenrola. Personagens muito bem desenvolvidos, e uma sábia construção de caráteres que foge ao maniqueísmo imbecil e rastaqüera do "burguês malvado/proletário bonzinho". Os atores, na grande maioria dando show de desempenho, contribuindo para criar personagens inesquecíveis. Um primor de série.
Um insulto à inteligência de quem assiste a cada 10 minutos. Péssimas premissas pra construir uma história, e um roteiro que passa o resto do filme tentando consertar isso,sem conseguir.
Se, e apenas se, esse filme for visto como um filme baseado em um livro do Stephen King, que por acaso é uma sequência da história iniciada em outro livro do mesmo autor, e não como uma heresia contra o sacrossanto filme de um sacrossanto diretor com todas as comparações e rants que decorrem da condição de fã irracional cujo estado emocional eclipsa completamente o cérebro, é possível perceber que fizeram um filme bem legal aqui.
Independente de quem esteja por trás do projeto, e independente de ser série de TV ou filme, já foi provado e comprovado que adaptar os escritos de King para o audiovisual é uma tarefa melindrosa. Grandes nomes falham, pequenos nomes também. Na maioria das vezes fica ruim, uma vez ou outra sai um negócio bom.
E Doutor Sono é um desses casos onde se você entra com o coração aberto e a cabeça livre de purismos, acaba sendo premiado com uma experiência positiva, um trabalho bem cuidado e uma adaptação que ao mesmo tempo respeita a obra original e a inteligência de quem assiste.
Quando você assiste o filme já adulto, algumas falhas acabam aparecendo um pouco mais irritantes, perceptíveis e evitáveis do que quando assistido na adolescência/juventude. Só que ainda assim, é um filme querido. Ele funciona como um tributo para o Kiss (e através de sua excelente trilha sonora, com sucessos de outras bandas também) para a cena do rock pesado do fim dos 70/início dos 80s exatamente como "Febre de Juventude" de Reobert Zemeckis funcionou para a beatlemania nos 60s.
O tom de puro amor de fã que transborda em todos os cantos do filme consegue fazer com que mesmo nos momentos mais bobos e mais clichê de comédia adolescente, o filme funcione melhor até do que deveria. O elenco em perfeita sintonia, com participações de veteranos talentosíssimos como Lin Shaye e novatos que ainda iriam dar muito o que falar (Melanie Lynskey, adorável) e pontas bem escolhidas acabam por fazer o filme render ao máximo. É como muitas das letras do KISS: uma bobagem se você for ver bem, mas olha, como funciona na hora que começa a tocar. Puro rock'n roll.
Este filme não só por seu tema, mas também pelo zeitgeist impresso em praticamente todos os seus aspectos, poderia muito bem ser um segmento adicional do consagrado Réquiem For a Dream de Darren Aronofsky.
O clima, o sentimento e o senso de urgência cada vez mais gritantes gritam vício o tempo todo. O tom extrapola o simples cautionary tale ou a mera lição de moral... já começa de um ponto em que mostra o caldo entornado, o ponto limite ultrapassado. Não é uma história sobre um cara que vai fazer uma merda grande na vida se não tomar jeito. É sobre um cara para o qual não existe jeito algum, que já fez a merda grande e tudo que você assiste é o curto trajeto entre a merda feita e a consequência inexorável do fato.
Um filme muito bem atuado, dirigido com uma elegância e arte ímpares, mas que não agradará a todos os paladares. Pode deixar facilmente algumas almas mais suscetíveis bem mal de cabeça. Mas ainda assim é um filme relevante, que mostra um Adam Sandler esbanjando talento, algo que muitos gostariam de ver com mais frequência.
Trata-se de um dos filmes com o melhor tratamento visual que vi nos últimos tempos. Um primor em fotografia, direção de arte, e cinematografia. Só que tem um porém. Um porém enorme. Um porém do tamanho de um balão a gás, com cestinha e tudo.
Ao fazer um filme que retratasse as aventuras de James Glashier (um cientista real, transformado no filme em um mero nerd, covardão, desajeitado, inseguro e ridicularizado) e Amelia Wren, uma aeronauta circense/socialite/cientista/milionária, quase uma Tony Stark do século XIX, que perdeu o marido também aeronauta em um acidente de balão,uma injustiça histórica é feita.
O filme omite não só a existência do parceiro de pesquisas de Glashier, o também cientista Henry Tracy Coxwell, como também omite a importância de Glashier, um pioneiro dos primórdios do estudo da meterologia, que ao realizar 28 vôos experimentais entre os anos de 1862 e 1866, conseguiu através dos seus estudos (e sem nenhuma versão vitoriana da Lara Croft dando cambalhotas por cima do balão), transformar uma ideia inicialmente ridicularizada em um ramo real, relevante e respeitado da ciência.
Ao tentar fazer um revisionismo histórico canhestro,o filme causa um estranhamento não por fazer algo que o cinema já fez várias vezes (com qualidade, intenções e resultados variáveis), mas pela maneira covarde com que o faz. Ao invés de ter a coragem de ao menos fazer o revisionismo de maneira crítica, militante ou ideologicamente motivada, porém admitindo claramente que o faz, criando uma história do tipo realidade paralela ou deixando claro que se trata de uma alegoria pretendendo o resultado desejado, o que acontece é um escamoteamento totalmente fake da história real, onde um dos personagens reais é diminuído e outro é sumariamente eliminado, para a inclusão de uma personagem fictícia que passa a ser o "deus ex machina" supremo da trama. E o tempo todo tenta-se vender malandramente a trama como algo bem próximo da realidade, quando não é o caso.
Sem contar com o fato de que a forma como escreveram a personagem principal tem muito mais a ver com um wishful thinking-fetiche da juventude de hoje e nada, absolutamente nada a ver com a realidade da época, nem mesmo com a realidade das personagens pioneiras que a produção alega ter se utilizado para inspirá-la. Tivessem realmente tentado se inspirar nas heroínas do passado, e não fazer média e proselitismo com as fantasias revolucionárias-fake de uma parcela iludida e adestrada do público atual, mesmo a presença dessa personagem fictícia poderia ter se tornado um ponto a honrar o filme, e não algo que fizesse com que ele parecesse o engodo que é.
Uma pena. Um filme tão belo tecnicamente merecia um roteiro e intenções menos proselitistas por trás de sua produção.
Um drama extremamente bem dirigido, mais uma pequena joia da produção espanhola. Como tem dado gosto de ver essa gente fazendo cinema: filmes de nível internacional, temáticas universais, simples e poderosos.
Uma baita atuação de Luis Tosar, uma história forte, com uma trama bem contada, bem desenvolvida e altamente verdadeira sobre as escolhas (de merda) que fazemos na vida e o quanto elas afetam não apenas a nós (como gostam de pensar os de mente curta) mas também aqueles a quem amamos e que dependem de nós.
Em uma espiral de fechamento e consequências, o filme por mais desconfortável que seja em alguns momentos, prende justamente por jogar na cara do espectador a verdade sobre a vida: ela é dura, feia e vai te bater forte. Você tem, obrigatoriamente que aprender a desviar das porradas que ela vai te dar. Se recusar-se a isso, só vai sofrer mais do que os que aprendem. E ponto final.
Que pena que dá do Mario. Que raiva que dá do irmão drogado que iniciou todo o turbilhão de merda na vida de toda a família. E que cena final mais triste!
É um filme duro, mas também é um cautionary tale como poucos que já vi, e só por isso já vale e muito, pra quem tiver olhos pra ver e coração pra absorver a lição.
Darren Aronofsky é um dos meus diretores prediletos. E não digo isso como fã irracional, daquele tipo que submete sua admiração de maneira tão incondicional que é capaz de se apaixonar até pelo produto que seu ídolo deixar no vaso sanitário. No caso de Aronofsky sou um admirador profundo de sua capacidade de traduzir sentimentos na tela de uma maneira que outros diretores não conseguem. E essa capacidade, por mais que advenha da sua habilidade profissional, é algo que vai conquistar mais a minha atenção em algumas de suas obras, e menos em outras. Enquanto O Lutador, Cisne Negro e o (até o momento, para mim) insuperável Réquiem para um sonho ficam no lado das obras que tornaram Aronofsky um dos diretores a quem mais admiro,
Este Mãe se junta a Fonte da Vida e Noé no campo dos filmes que me cativaram menos no conjunto da obra Aronofskiana. Longe de ser um filme ruim (assim como os outros dois citados). Mas ao mesmo tempo me passou o tempo todo uma sensação incômoda de que era um filme que se esforçava demais pra ser melhor do que realmente era. Acabou não sendo um filme tão bom pra mim.
A temporada de estreia da série representou um sopro de qualidade e respeito ao material original. E olha que qualidade e respeito, nem sempre são tão fáceis de encontrar na franquia Star Wars, como seria de se esperar. Sendo talvez o produto mais lucrativo e universal da cultura pop atual, algo que há muito, comprovadamente 'se vende sozinho", às vezes as equipes criativas por trás da série acabam não conseguindo impor em suas obras (ou a aspectos delas) uma qualidade que fique à altura do legado que todo esse universo representa. Filmes recentes foram vítimas disso.
O publico esperava que com o choque de realidade entre os episódios 7, 8 e 9, essa fase atribulada e com interpretações equivocadas do legado da franquia terminasse, e o público poudesse finalmente ter o que desejava desde o princípio - boas histórias no universo de Star Wars, nada além disso.
Daí chegaram até o público os capítulos dessa série, que capturam a atenção e fazem o espectador desejar mais. Que fazem com que você se relacione com os personagens na tela ao ver suas fraquezas juntamente com suas forças. O Mandaloriano enfrentou mais desafios e adversidades em dois ou três episódios dessa temporada que a Rey em três filmes de duas ou três horas. Como é possível um personagem carregar tanto conteúdo e representar tanta complexidade e diversidade de questões, mesmo falando apenas algumas linhas de texto? Como se consegue traduzir clássicos do western para um universo de ficção científica de maneira convincente, interessante e ainda assim fazer algo que já foi feito antes parecer algo bastante novo?
A resposta é com uma produção brilhante, episódios com direções brilhantes, roteiro brilhante e execução brilhante, no geral. Do tipo que deixa qualquer um ansioso para saber o que vem pela frente. Ao showrunner Jon Favreau, a gratidão e o respeito que são merecidos.
O Homem Que Matou Dom Quixote
3.2 86 Assista AgoraNa maioria do tempo fraco, e no geral decepcionante. Desperdiça atores de primeira linha e passa uma desagradável sensação de ser a mera alegoria de alguma outra obra que se pretendia alcançar. Um Terry Gilliam em clima de ocaso melancólico.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraUm ótimo filme, com três aspectos que se destacam com louvor. O primeiro é a excelente química em tela da dupla Mortensen e Ali, ambos em atuações de luxo, irretocáveis.
O segundo é a forma habilíssima com a qual a direção e o roteiro conseguem enquadrar um assunto tão sério quanto o da segregação racial no sul dos EUA da virada dos anos 50 para os 60. O filme é tocado sem pesar na mão, com extrema elegância, leveza, sem descambar para o arroubo panfletário-revolucionário -preferindo sempre um caminho mais sensível e poético- e ainda assim conseguir passar perfeitamente a sua mensagem mais profunda: a do encontro entre duas almas que vão se livrando de estereótipos e deixando que no esapaço aberto cresça a empatia, o respeito, a justiça e principalmente, a amizade.
E o terceiro, reside na fotografia e no tratamento visual geral do filme, que conseguem emoldurar de maneira perfeita a qualidade da trama, criando uma "embalagem" perfeita para um produto de alta qualidade.
Constantine
3.8 1,7K Assista AgoraConseguiu ser melhor do que se esperava, mas não conseguiu ser tão bom quanto deveria.
Get on Up - A História de James Brown
3.6 157 Assista AgoraÉ muito fácil perder a mão em uma cinebiografia que retrate uma figura complexa, multifacetada ou artisticamente influente. Quando se trata de uma figura que é presença certa nos primeiros lugares de qualquer lista dos maiores artistas populares de todos os tempos, como é o caso de James Brown, o desafio é ainda maior.
Neste filme, o diretor Tate Taylor de Histórias Cruzadas consegue não só acertar a mão no sentido técnico e produzir um filme com o qual é possível se conectar com facilidade, como também conseguiu comandar uma competente equipe de atores. Destaque óbvio para um então praticamente desconhecido Chadwick Boseman, que convence muito bem no papel do biografado James Brown.
A união entre os bons desempenhos e a direção segura de Taylor consegue criar uma ótima cinebiografia. Cria um bom estudo emocional do retratado, indo até um pouco mais fundo que o padrão hollywoodiano normalmente vai. Um bom quadro geral da carreira, com uma bem-vinda quebra da linearidade com vai-e-vens que atendem bem ao roteiro, uma decisão criativa que se tivesse sido feita de forma mais tradicional resultaria em uma obra bem mais cansativa.
Pra quem gosta de cinebiografias e filmes relacionados à música, é um filme e tanto pra se ver.
Um Lindo Dia Na Vizinhança
3.5 274 Assista AgoraA atuação cativante de Tom Hanks carrega 80% do filme nas costas. Embora a trama seja edificante e positiva, talvez a aceitação desse filme tenha sofrido num choque com a realidade. O conceito de "pessoas tão fudidas e quebradas quanto Lloyd Vogel" ser a regra hoje em dia é algo tão presente que chega perto de fazer pessoas como o Mr. Rogers serem ignoradas como se "não pudesse existir alguém assim".
No mais, a direção de arte ao escolher reproduzir demais uma estética de TV sessentista/setentista, e tornar isso certas vezes confuso (mesmo que intencionalmente) no trânsito entre o "mundo mágico" do Mr. Rogers e a "realidade dura" de Lloyd, acaba emprestando ao filme uma estranheza que não ajuda a elevar o filme.
No fim, tudo de que vai se lembrar é de Tom Hanks fazendo um papel encantador, por mais que o filme tivesse uma mensagem mais ampla para transmitir, talvez a mais importante de todas seja: "Estamos tentando dar ao mundo maneiras positivas de LIDAR COM SEUS SENTIMENTOS!"
Alien Outbreak
1.2 4 Assista AgoraPor incrível que pareça, o fato de ser um filme C britânico, de baixíssimo orçamento não é o que faz com que esse filme mereça uma nota baixa. Até que o roteiro é razoavelmente estruturado, a ponto de fazer com que você ao menos queira saber o que vai acontecer mais pra frente, o que convenhamos já é uma façanha que muitos filmes C não alcançam. O grande problema aqui está na direção de atores, que coitados, ficaram longe de conseguir transmitir a situação (teoricamente) tensa que se desenrola na trama. Quase deu, mas não foi dessa vez.
William
1.5 2Uma triste decepção. Você assiste não esperando muita coisa, mas se supreende com uma premissa fantástica, com o fato do filme ser bem feitinho, bem fotografado, com atuações e produção OK, enfim... podia ser um verdadeiro achado como o I Origins - O Universo no Olhar (2014), que também mostra as possíveis consequências emocionais e humanas de uma descoberta científica altamente disruptiva.
O grande porém, a grande mancada de William foi no roteiro. Enquanto o roteiro de I Origins conseguia misturar com perfeição e equilíbrio a parte "científica" com a parte emocional da história, William foi desequilíbrio puro. O filme começa de maneira interessante, curiosa e científica, mas à medida que avança vai virando uma espécie de Dawson's Creek com Malhação e toques de High School Musical. E pra horror de quem assiste, isso vai tomando tempo da trama até virar 80% do tempo.
Os poucos momentos depois do nascimento de William onde algum fato "científico" é apresentado dentro do roteiro, são justamente os momentos em que o filme se torna interessante o suficiente pra fazer você querer continuar assistindo. Aí tome de mais 20 minutos, meia hora de drama adolescente de péssima categoria até acontecer de novo.
E a cereja no bolo de merda é o final,
horroroso, talvez um dos mais covardemente escritos e filmados que eu vi nos últimos tempos. Aquele tipo de final que no momento seguinte você consegue pensar em pelo menos uma duas, três, até cinco maneiras de terminar com um pouco mais de dignidade.
A Morte de Stalin
3.6 135 Assista AgoraEste é um daqueles filmes onde é difícil ter um meio termo: ou você adora ou simplesmente ele não te pega.
Pra qualquer interessado na história e política do século XX, (e principalmente nos controversos acontecimentos envolvendo a União Soviética) não tem jeito, esse é um daqueles filmes que são se deve deixar escapar. A sua premissa por si só, beira o apavorante. O filme fala de eventos históricos terríveis, trágicos, que aconteceram de fato, e anda no fio da navalha ao utilizar esse pano de fundo como cenário para uma comédia das mais escrachadas.
A despeito disso, direção e roteiro conseguem a façanha quase impossível de transformar esse pedaço negro da história em um teatro do absurdo, uma ópera bufa da qual é difícil não rir -embora às vezes possa ser uma risada mais de nervoso do que de humor. Roteirizado de maneira esplêndida por uma equipe capitaneada pelo também diretor Armando Iannucci, o timing competentíssimo para a sátira política, mais um desempenho absurdo de um elenco de feras (com destaque para o trio Steve Buscemi, Simon Russel Beale e Jeffrey Tambor) fazem com que o espetáculo funcione como um relógio. A média dos desempenhos do elenco é alta, com performances impagáveis na maioria, com um tempo de comédia perfeitamente adaptados. Eles parecem realmente estarem se divertindo num palco de uma peça de teatro, em companhia de atores amigos com quem tem muito entrosamento, e não necessariamente em um filme. Esse fator se soma ao roteiro como um dos grandes acertos do filme.
Na essência, os célebres “expurgos de Stálin” configuram um assunto tão sombrio, que para jogar um pouco de luz sobre os crimes contra a humanidade cometidos naquele período, o único modo de fazê-lo era abraçando o absurdo, pois de outra forma a única alternativa seria fazer um documentário -o que certamente não era o caso. Ianucci consegue desviar com genialidade da revolta que poderia causar em algumas pessoas ao relembrar o público de que a natureza dos personagens colocados em clima de constante tensão na comédia (“sofrendo” pela perda de seu líder, ao mesmo tempo em que desenrolam uma delicada tapeçaria de intrigas) só encontra lugar em uma trágica pantomima de absurdidades. Tudo isso embalado por diálogos afiadíssimos, atuações de primeiríssima e um roteiro habilidoso.
Downton Abbey (2ª Temporada)
4.6 186 Assista AgoraManteve o nível da primeira. Apesar de ter chutado mais o balde no esquema "novelão", com situações dignas de novela mexicana (enfermidades trágicas que se curam de um episódio para o outro, mortes inesperadas e trágicas e gente desenganada pelos médicos se curando de repente), ainda assim não cai a nota. A trama é construída para funcionar (e suportar) uma carga de dramalhão que faria outras séries e outros roteiros parecerem ridículos. Ponto a favor da série, que embora tenha alguns elementos que não funcionariam bem se fosse feita de outra forma, aqui funciona perfeitamente.
Pontos a destacar:
- Lord Crawley safadão nessa S02;
- Ethel prêmio de maior analfabeta emocional e otária que se acha malandra;
- Dr. Clarkson (e todo mundo também) estressadaço com a mãe do Matthew;
- Sor Jorah Mormont não se dá bem no amor mesmo;
- Thomas e Sarah detestáveis, dá vontade de matar;
- Bates com a vida mais enrolada que carretel de linha, impressionante não se sabe como a Anna aguenta;
- Matthew passava mais tempo de roupa civil do que de uniforme, estando alistado na guerra. Lord Crawley passava mais tempo de uniforme do que de roupa civil mesmo não estando alistado na guerra;
Boa temporada, anyway. Vamos ver a próxima.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraEmbora nesse filme Tarantino deixe seu pendor para o formulaico e a autorreferência no talo, paradoxalmente talvez esse seja disparado o melhor "filme do Tarantino para quem não é fã irracional do Tarantino que acha até o que ele faz na privada genial".
Apesar de seguir a receita do "se a História tivesse sido diferente" da qual o diretor já lançou mão anteriormente, e possuir todo pacote de tarantinismos que fazem a torcida organizada tarantinomaníaca delirar, mas que deixam quem não é torcedor meio naquela de "meh", o grande valor desse filme pra quem não é fã alucinado do homem está em outro lugar. A reconstituição de uma era específica de Hollywood, diferente das presentes no velho oeste de Django e Hateful Eight e da Europa na II Guerra de Bastardos Inglórios, é tão mais cuidadosa (e até artística), demonstra um sentimento de admiração e de nostalgia tão mais sinceros (e com uma carga mais atenuada do costumeiro cinismo), que fica difícil não perceber que este é um Tarantino especial.
Talvez a maior virtude do filme, seja sua unidade consistir em (diferente de outras produções suas) fazer com que tanto as atuações do elenco, o apuro visual e a direção de arte, e o carinho explícito no roteiro, tudo isso junto servir como uma declaração de fã a um certo período da história de Hollywood em formato de audiovisual. Nesse sentido, mesmo tendo presentes elementos comuns a outros filmes seus, a coesão desses elementos aqui parece muito maior, e o resultado, agradavelmente mais homogêneo e de mais fácil digestão que o normal da casa.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraEmbora a premissa da trama seja algo resumível em uma linha, e por ser um filme de guerra, não apresente nada em termos de roteiro que já não tenha sido visto em dezenas de outros filmes a retratarem a mais terrível das experiências humanas, o grande mérito desse filme -o que realmente o transforma em uma obra digna de figurar nos anais do cinema- não reside no quê, nem no porquê, mas no COMO.
Sam Mendes ao capitanear essa produção, demonstra com uma técnica refinada comparável à de um artesão experiente e a minuciosidade de um maestro virtuoso, ter sido capaz de montar uma sinfonia visual que pode ser vista, sem exagero, como uma obra de arte. 1917 é algo estupefaciente, chocante e ao mesmo tempo horripilantemente belo, como se estivéssemos em uma realidade paralela onde a Guernica de Pablo Picasso fosse um filme, e não uma pintura.
Há muitas questões técnicas, visuais e cinematográficas que poderiam fazer com que um comentário a respeito desse filme se estendesse por parágrafos e mais parágrafos. Só que para um comentário curto em uma rede social de aficionados por filmes como essa, basta dizer que pouquíssimas vezes na história do audiovisual os conceitos de "beleza", "humanidade" e "guerra" conseguiram se aproximar com tanta honestidade quanto neste filme. Uma verdadeira tour de force, uma verdadeira EXPERIÊNCIA cinematográfica que merece mais que ser vista... merece ser absorvida, em toda a sua absoluta grandiloquência técnica, em toda sua exposição crua e honesta dos espectros sombrios e trágicos da guerra.
Um filme pra entrar para a história.
Apenas uma pequeno detalhe separa esse filme da mais absoluta perfeição...
depois de cortar no arame farpado, enfiar na lama, enfiar em um cadáver podre que estava sendo comido por ratos, enfaixar com um pano, e nadar em rios, deixando com a umidade perfeita e escuro e quentinho pras bactérias fazerem a festa, aquela mão ferida do Cabo Scofield devia ter chegado do tamanho de uma melancia no final do filme! Haja antibiótico pra segurar essa onda, malandro!
Mas ainda assim, brincadeiras à parte, uma obra e tanto!
Titãs (2ª Temporada)
3.3 214 Assista AgoraUma decepção completa.
Depois de uma primeira temporada promissora, capaz de empolgar justamente por romper com o clima de "Malhação/Novelinha adolescente", das outras séries da DC, a expectativa era de que a tendência se mantivesse na segunda.
Era esperado que o roteiro se mantivesse focado na construção dos personagens e na incorporação do seu legado nos quadrinhos em um universo live action, mas nessa segunda temporada todas as esperanças são frustradas.
Embora tentem seguir trazendo uma trama inspirada com certo grau de fidelidade nos elementos das HQs, as toneladas de sacarose, discussão de relação e foco no aspecto folhetinesco que amaldiçoa as séries da DC acabou condenando essa segunda temporada. Um nojo. Comparada com a primeira, essa segunda temporada é capaz de dar crise em diabético.
Titãs (1ª Temporada)
3.8 443 Assista AgoraUma primeira temporada promissora. Conseguiu fugir de um padrão muito repetido, principalmente nas séries da DC, de deixar o lado ficção de super-herói de lado e focar demais no lado "novela da Globo-discussão de relação interminável". Ok, que seria esperar demais que as questões emocionais fossem zeradas, mas os roteiristas conseguiram com habilidade jogar o foco na história, e trazer com muita honestidade para o live action a estrutura e as referências dos quadrinhos de forma muito correta e bem adaptada. De uma forma que muitas vezes, nem os roteiristas de cinema conseguem fazer com tamanha eficiência.
Uma boa notícia. Se a próxima temporada conseguir manter essa levada, teremos aí uma série capaz de fazer os Arrows, Flashes e Birds of Prey da vida caírem no esquecimento.
Messiah (1ª Temporada)
3.8 165 Assista AgoraA série é bem feita e se escora numa premissa poderosa. Mas em certos momentos, parece que o roteiro se acovarda diante de tomar uma posição mais definitiva, sempre dando um passo atrás antes de colocar um momento decisivo às claras ou não. Ainda assim, é o tipo de situação que pode evoluir (ou descer pelo ralo) em uma próxima (ou próximas) temporada(s).
O maior desconforto que fica ao assistir a série é o fato de
na maior parte do tempo, tudo que Al Masih, o suposto messias faz é responder perguntas com outras perguntas, o que acaba se tornando um recurso cansativo, uma muleta do roteiro que tira bastante do que poderia ser o "encanto" do personagem.
Entre Realidades
2.9 307 Assista AgoraNão entendi por que fazer um filme sobre uma "mulher socialmente estranha", se basta entrar no Twitter pra ter uma overdose do tema.
Downton Abbey (1ª Temporada)
4.6 371 Assista AgoraUm novelão adorável. Produção impecável, assim como a reconstituição de época, um recorte cuidadoso do período histórico em que a série se desenrola. Personagens muito bem desenvolvidos, e uma sábia construção de caráteres que foge ao maniqueísmo imbecil e rastaqüera do "burguês malvado/proletário bonzinho". Os atores, na grande maioria dando show de desempenho, contribuindo para criar personagens inesquecíveis. Um primor de série.
O Limite da Traição
3.2 597Um insulto à inteligência de quem assiste a cada 10 minutos. Péssimas premissas pra construir uma história, e um roteiro que passa o resto do filme tentando consertar isso,sem conseguir.
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraSe, e apenas se, esse filme for visto como um filme baseado em um livro do Stephen King, que por acaso é uma sequência da história iniciada em outro livro do mesmo autor, e não como uma heresia contra o sacrossanto filme de um sacrossanto diretor com todas as comparações e rants que decorrem da condição de fã irracional cujo estado emocional eclipsa completamente o cérebro, é possível perceber que fizeram um filme bem legal aqui.
Independente de quem esteja por trás do projeto, e independente de ser série de TV ou filme, já foi provado e comprovado que adaptar os escritos de King para o audiovisual é uma tarefa melindrosa. Grandes nomes falham, pequenos nomes também. Na maioria das vezes fica ruim, uma vez ou outra sai um negócio bom.
E Doutor Sono é um desses casos onde se você entra com o coração aberto e a cabeça livre de purismos, acaba sendo premiado com uma experiência positiva, um trabalho bem cuidado e uma adaptação que ao mesmo tempo respeita a obra original e a inteligência de quem assiste.
Detroit, a Cidade do Rock
4.0 549 Assista AgoraQuando você assiste o filme já adulto, algumas falhas acabam aparecendo um pouco mais irritantes, perceptíveis e evitáveis do que quando assistido na adolescência/juventude. Só que ainda assim, é um filme querido. Ele funciona como um tributo para o Kiss (e através de sua excelente trilha sonora, com sucessos de outras bandas também) para a cena do rock pesado do fim dos 70/início dos 80s exatamente como "Febre de Juventude" de Reobert Zemeckis funcionou para a beatlemania nos 60s.
O tom de puro amor de fã que transborda em todos os cantos do filme consegue fazer com que mesmo nos momentos mais bobos e mais clichê de comédia adolescente, o filme funcione melhor até do que deveria. O elenco em perfeita sintonia, com participações de veteranos talentosíssimos como Lin Shaye e novatos que ainda iriam dar muito o que falar (Melanie Lynskey, adorável) e pontas bem escolhidas acabam por fazer o filme render ao máximo. É como muitas das letras do KISS: uma bobagem se você for ver bem, mas olha, como funciona na hora que começa a tocar. Puro rock'n roll.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraEste filme não só por seu tema, mas também pelo zeitgeist impresso em praticamente todos os seus aspectos, poderia muito bem ser um segmento adicional do consagrado Réquiem For a Dream de Darren Aronofsky.
O clima, o sentimento e o senso de urgência cada vez mais gritantes gritam vício o tempo todo. O tom extrapola o simples cautionary tale ou a mera lição de moral... já começa de um ponto em que mostra o caldo entornado, o ponto limite ultrapassado. Não é uma história sobre um cara que vai fazer uma merda grande na vida se não tomar jeito. É sobre um cara para o qual não existe jeito algum, que já fez a merda grande e tudo que você assiste é o curto trajeto entre a merda feita e a consequência inexorável do fato.
Um filme muito bem atuado, dirigido com uma elegância e arte ímpares, mas que não agradará a todos os paladares. Pode deixar facilmente algumas almas mais suscetíveis bem mal de cabeça. Mas ainda assim é um filme relevante, que mostra um Adam Sandler esbanjando talento, algo que muitos gostariam de ver com mais frequência.
Os Aeronautas
3.5 117 Assista AgoraTrata-se de um dos filmes com o melhor tratamento visual que vi nos últimos tempos. Um primor em fotografia, direção de arte, e cinematografia. Só que tem um porém. Um porém enorme. Um porém do tamanho de um balão a gás, com cestinha e tudo.
Ao fazer um filme que retratasse as aventuras de James Glashier (um cientista real, transformado no filme em um mero nerd, covardão, desajeitado, inseguro e ridicularizado) e Amelia Wren, uma aeronauta circense/socialite/cientista/milionária, quase uma Tony Stark do século XIX, que perdeu o marido também aeronauta em um acidente de balão,uma injustiça histórica é feita.
O filme omite não só a existência do parceiro de pesquisas de Glashier, o também cientista Henry Tracy Coxwell, como também omite a importância de Glashier, um pioneiro dos primórdios do estudo da meterologia, que ao realizar 28 vôos experimentais entre os anos de 1862 e 1866, conseguiu através dos seus estudos (e sem nenhuma versão vitoriana da Lara Croft dando cambalhotas por cima do balão), transformar uma ideia inicialmente ridicularizada em um ramo real, relevante e respeitado da ciência.
Ao tentar fazer um revisionismo histórico canhestro,o filme causa um estranhamento não por fazer algo que o cinema já fez várias vezes (com qualidade, intenções e resultados variáveis), mas pela maneira covarde com que o faz. Ao invés de ter a coragem de ao menos fazer o revisionismo de maneira crítica, militante ou ideologicamente motivada, porém admitindo claramente que o faz, criando uma história do tipo realidade paralela ou deixando claro que se trata de uma alegoria pretendendo o resultado desejado, o que acontece é um escamoteamento totalmente fake da história real, onde um dos personagens reais é diminuído e outro é sumariamente eliminado, para a inclusão de uma personagem fictícia que passa a ser o "deus ex machina" supremo da trama. E o tempo todo tenta-se vender malandramente a trama como algo bem próximo da realidade, quando não é o caso.
Sem contar com o fato de que a forma como escreveram a personagem principal tem muito mais a ver com um wishful thinking-fetiche da juventude de hoje e nada, absolutamente nada a ver com a realidade da época, nem mesmo com a realidade das personagens pioneiras que a produção alega ter se utilizado para inspirá-la. Tivessem realmente tentado se inspirar nas heroínas do passado, e não fazer média e proselitismo com as fantasias revolucionárias-fake de uma parcela iludida e adestrada do público atual, mesmo a presença dessa personagem fictícia poderia ter se tornado um ponto a honrar o filme, e não algo que fizesse com que ele parecesse o engodo que é.
Uma pena. Um filme tão belo tecnicamente merecia um roteiro e intenções menos proselitistas por trás de sua produção.
Quem com Ferro Fere
3.5 130 Assista AgoraUm drama extremamente bem dirigido, mais uma pequena joia da produção espanhola. Como tem dado gosto de ver essa gente fazendo cinema: filmes de nível internacional, temáticas universais, simples e poderosos.
Uma baita atuação de Luis Tosar, uma história forte, com uma trama bem contada, bem desenvolvida e altamente verdadeira sobre as escolhas (de merda) que fazemos na vida e o quanto elas afetam não apenas a nós (como gostam de pensar os de mente curta) mas também aqueles a quem amamos e que dependem de nós.
Em uma espiral de fechamento e consequências, o filme por mais desconfortável que seja em alguns momentos, prende justamente por jogar na cara do espectador a verdade sobre a vida: ela é dura, feia e vai te bater forte. Você tem, obrigatoriamente que aprender a desviar das porradas que ela vai te dar. Se recusar-se a isso, só vai sofrer mais do que os que aprendem. E ponto final.
Que pena que dá do Mario. Que raiva que dá do irmão drogado que iniciou todo o turbilhão de merda na vida de toda a família. E que cena final mais triste!
É um filme duro, mas também é um cautionary tale como poucos que já vi, e só por isso já vale e muito, pra quem tiver olhos pra ver e coração pra absorver a lição.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraDarren Aronofsky é um dos meus diretores prediletos. E não digo isso como fã irracional, daquele tipo que submete sua admiração de maneira tão incondicional que é capaz de se apaixonar até pelo produto que seu ídolo deixar no vaso sanitário. No caso de Aronofsky sou um admirador profundo de sua capacidade de traduzir sentimentos na tela de uma maneira que outros diretores não conseguem. E essa capacidade, por mais que advenha da sua habilidade profissional, é algo que vai conquistar mais a minha atenção em algumas de suas obras, e menos em outras. Enquanto O Lutador, Cisne Negro e o (até o momento, para mim) insuperável Réquiem para um sonho ficam no lado das obras que tornaram Aronofsky um dos diretores a quem mais admiro,
Este Mãe se junta a Fonte da Vida e Noé no campo dos filmes que me cativaram menos no conjunto da obra Aronofskiana. Longe de ser um filme ruim (assim como os outros dois citados). Mas ao mesmo tempo me passou o tempo todo uma sensação incômoda de que era um filme que se esforçava demais pra ser melhor do que realmente era. Acabou não sendo um filme tão bom pra mim.
O Mandaloriano: Star Wars (1ª Temporada)
4.4 532 Assista AgoraA temporada de estreia da série representou um sopro de qualidade e respeito ao material original. E olha que qualidade e respeito, nem sempre são tão fáceis de encontrar na franquia Star Wars, como seria de se esperar. Sendo talvez o produto mais lucrativo e universal da cultura pop atual, algo que há muito, comprovadamente 'se vende sozinho", às vezes as equipes criativas por trás da série acabam não conseguindo impor em suas obras (ou a aspectos delas) uma qualidade que fique à altura do legado que todo esse universo representa. Filmes recentes foram vítimas disso.
O publico esperava que com o choque de realidade entre os episódios 7, 8 e 9, essa fase atribulada e com interpretações equivocadas do legado da franquia terminasse, e o público poudesse finalmente ter o que desejava desde o princípio - boas histórias no universo de Star Wars, nada além disso.
Daí chegaram até o público os capítulos dessa série, que capturam a atenção e fazem o espectador desejar mais. Que fazem com que você se relacione com os personagens na tela ao ver suas fraquezas juntamente com suas forças. O Mandaloriano enfrentou mais desafios e adversidades em dois ou três episódios dessa temporada que a Rey em três filmes de duas ou três horas. Como é possível um personagem carregar tanto conteúdo e representar tanta complexidade e diversidade de questões, mesmo falando apenas algumas linhas de texto? Como se consegue traduzir clássicos do western para um universo de ficção científica de maneira convincente, interessante e ainda assim fazer algo que já foi feito antes parecer algo bastante novo?
A resposta é com uma produção brilhante, episódios com direções brilhantes, roteiro brilhante e execução brilhante, no geral. Do tipo que deixa qualquer um ansioso para saber o que vem pela frente. Ao showrunner Jon Favreau, a gratidão e o respeito que são merecidos.