Tal qual a impunidade sofrida por cada indivíduo na noite de '67, o tom de Detroit é capaz de enfurecer e trazer lágrimas aos olhos em diversos momentos, a forma de Kathryn Bigelow que vem se aprimorando desde o Oscar de 2010 atinge um pico espetacular no novo longa, com um ótimo desenvolvimento de personagens, porém sem perder o tom realístico com um quê de documentário. Boyega e Will Pouter estão fantásticos no filme, mas a história em si toma a forma de protagonista no filme, sem tirar a atenção do que Mark Boal deseja transmitir. Excelente filme.
Esmurrar a parede, dar um abraço em cada membro da minha família e esmurrar a parede novamente foram, em sequência, os sentimentos que senti durante o retorno de Dee Rees como diretora de um longa. Mudbound é implacável em diversos sentidos, extremamente surpreendente em alguns momentos e audacioso em sua conclusão,
A expectativa de justiça em meio a covardias desumanas é uma constante intrigante em filmes como este, algo que, além de várias outras proezas, rendeu o Oscar ao 12 Years a Slave em 2011. Porém Mudbound é um pouco mais suave durante seu desenvolvimento, no qual foca-se inteiramente em uma introdução narratória de vários personagens incrivelmente bem resolvidos, com excelentes atuações e picos dramáticos. É um daqueles filmes que escolhe primeiro cativar o espectador para depois agir, expondo sua problematização de maneira completamente inesperada, o que soa proposital e apelativo, mas compensa devido à surpresa.
Mudbound, além de um filme sobre guerra e racismo, é uma reflexão sobre o amor familiar, o amor despreconceituoso ao próximo e as consequências de um comportamento fora do padrão da sociedade, uma obra extramamente íntima mas ao mesmo tempo extremamente brutal, um dos pontos altos do ano.
Além disso, Rees decidiu dar dois finais para o filme ou aquilo tudo foi só uma reflexão comparativa entre o final real x final sonhado pelo protagonista? Em fim, excelente filme.
O mais novo esforço de Zack Snyder em parceria com a DC entrega desta vez algo mais colorido e mais bem humorado, Liga da Justiça toma alguns passos tímidos em direção aos filmes da Marvel, mas as complicações durante sua criação ficam evidentes na compressão absurda de conteúdo, jogando no mínimo cerca de 40 minutos de trama no lixo.
Com o suicídio da filha do diretor durante a produção, Snyder abandona o filme e os reflexos se evidenciam no ritmo apressado da trama, que muito provavelmente passava de 160 minutos de duração originalmente, porém barrada posteriormente pela Warner e muito mal comprimida no resultado final. Os cortes bruscos esclarecem que o objetivo era apenas manter as cenas chaves e conectá-las de forma lógica, cortando assim qualquer prolongamento emocional ou desenvolvimento de personagem que poderia existir.
Além dos problemas técnicos, o roteiro em si sofre do mesmo problema que praticamente todos os filmes do gênero sofrem, desta vez o vilão é uma espécie de líder apocalíptico extraterrestre com um dos piores desenvolvimentos que eu vi no gênero neste ano, um vilão que poderia ser vencido a qualquer momento e de qualquer forma no filme e poucas pessoas no cinema ligariam, dês de que exista um alívio cômico após a batalha final.
Os pontos positivos do filme são encontrados em praticamente qualquer filme da Marvel, as cenas de ação são grandiosas, muitos dos alívios cômicos funcionam, porém Liga da Justiça consegue ficar no meio da ponte entre seriedade e humor, jamais definindo de forma clara qual será o seu tom. Da mesma forma, eu como consumidor da peça fico no meio da ponte quanto sua qualidade, ainda há chão para trilhar.
A constante narração e o close em Brad atinge um pico de desenvolvimento de personagem orquestrado com maestria por uma performance de Ben Stiller que brilha tanto quanto brilha em filmes como Walter Mitty e While We're Young. Desta vez, narrando e sentindo na pele as crises vivenciadas por um pai ao notar o inevitável amadurecimento de seu filho, Ben como Brad inveja seus amigos de infância e toda sua aparente luxúria, mas se encontra reflexivo ao descobrir a realidade na qual eles estão inseridos.
Brad's Status é um ótimo filme sobre a relação pai e filho, com alguns picos emocionais, excelente desenvolvimento de personagem e uma ótima trilha sonora. Filmes como este quebram a fama do ator como "aquele ator de comédia" e demonstram um grande potencial no ator para futuros dramas.
A mais nova adição ao extenso catálogo da A24 é um thriller dramático surpreendente vindo das mãos dos irmãos Safdie. Frenético e brutal ao som de Oneotrix Point Never contando cada passo apressado da melhor performance de Pattinson, o longa prende toda sua audiência na borda de seus assentos até o último segundo, retratando a avalanche criada pelo protagonista após cada tentativa de corrigir seus erros. Certamente um dos melhores thrillers do ano.
Tendo particularmente odiado completamente os dois filmes anteriores da então triologia por se levarem a sério de mais frente ao absurdo roteiro no qual estão inseridos, minhas expectativas para Thor Ragnarok eram baixas, mas saí surpreendido por quão divertido o filme acabou sendo.
O tom ao qual um roteiro é levado é de suma importância e pode muito bem estragar completamente ou melhorar um filme, aspecto este que a Marvel vem acertando com proeza em seus esforços mais recentes. Thor Ragnarok varia bem entre um humor físico em partes absurdo e o humor referencial, fazendo uso e refinando um pouco mais a mesma receita de bolo utilizada em Guardiões da Galáxia, mas em um tom um pouco mais original. Todo o absurdo da conexão entre a mitologia do protagonista e o mundo real é levado em um tom muito bem humorado, com um visual extremamente colorido no fundo.
O problema aqui é o mesmo encontrado em cada filme da Marvel e em praticamente todos os filmes de herói já feitos, a vilã do filme é um completo fracasso em criar um mistério ou psicopatia tão bem explorados em vilões como Darth Vader e o Coringa de Heath Ledger. Hela em Ragnarok passa longe de ser tão bem desenvolvida quanto os citados e me fez revirar os olhos a cada segundo de tela.
Conclusão, mais um filme 3.5/5 da Marvel, com um excelente tom e visual, um péssimo vilão e uma mesma estrutura de filme já repetida pela Marvel a um bom tempo.
Trinta e cinco anos atrás Blade Runner marcou a história do cinema como um dos primeiros filmes a criarem futuros tecnológicos recheados de críticas sociais e indagações filosóficas. Dois anos atrás Mad Max provou que não importa quantas décadas passem, sempre será possível retomar o universo criado de maneira grandiosa. Hoje, Blade Runner 2049 atinge um novo patamar, sendo uma sequel que reflete o coração do universo criado, batendo ano a ano quase como uma realidade paralela, sem perder mas sim acrescentar riqueza, complexidade e beleza ao universo balzaquiano.
De "Sapper's Tree" a "Tears in the Rain" Hans Zimmer nos conduziu pelos 165 minutos mais dourados de 2017. Tudo no universo evoluiu ou envelheceu, marcas como Atari que hoje já nem se quer existem se mantém preservadas nesta realidade alternativa, todos esses pequenos detalhes fazem a atmosfera do longa um de seus melhores personagens, mas com certeza absoluta o mais absurdo do filme são seus visuais, este é o filme mais lindo e grandioso que já vi, uma obra que em um IMAX da vida tira o fôlego de qualquer um.
O principal é óbviamente a trama, cada segundo de Blade Runner 2049 é meticulosamente pensado, forjado como um questionário na mais pura expressão artística. Gosling como K, assim como todos no cinema, foi exposto a crises existenciais, explorou seu interior em buscas de respostas, teve um brilho de esperança e se viu tendo que aceitar quem ele era. Ao expor que não só K, mas muitos já passaram pelas mesmas crises, na esperança de serem indivíduos diferentes e especiais (milagres), o filme constrói tijolo por tijolo uma crítica social espetacular, coerente do começo ao fim.
Assim como em A Chegada, Villeneuve utiliza cenas chaves do filme para construir uma metáfora e no final destrinchá-la, conectando os pontos e entregando um filme ainda mais recompensdador que o prequel, justamente por isso é tão difícil falar sobre esse filme sem dar spoiler, fato é que os que forem de cabeça vazia para o filme rapidamente mergulharão na sua trama e terão uma experiência fantástica.
Blade Runner 2049 é a sequel mais ambiciosa do cinema até então, gritando riqueza a cada frame, mas não encontra tal grandiosidade visual como abrigo para uma trama mediocre, pelo contrário, preserva e evolui as qualidades de seu precursor, mantendo as críticas sociais e o estímulo à reflexão metafísica, é um filme que me fez esboçar um dos sorrisos mais sinceros durante sua longa duração.
Se "It" já foi uma grande surpresa vinda de uma adaptação de Stephen King, Gerald's Game era ainda menos esperado, mas surpreendeu pela fidelidade com o livro. Infelizmente esse é um dos casos raros onde temos uma adaptação impecável de um livro meia boca.
Sem desmerecer o mestre King, mas existem tantas obras extarodinárias em sua carreira que Gerald's Game passa despercibido, porém possui uma qualidade que poucas histórias de King como "1408" possúem, que é a de se passar em um só ambiente.
Muitos dos prós do longa se comparam com os de filmes como "127 Horas", as alucinações da protagonista parte servem como desenvolvimento de personagem e parte servem como construção de uma certa tensão ou angústia, sentimentos esses muito bem transmitidos no filme. Num geral, Carla Gugino está ok no papel, enquanto Bruce Greenwood é constantemente essa figura selvagem equivalente ao pai da protagonista.
Mas no que o longa realmente se destaca é a direção e adaptação de roteiro, Mike Falanagan continua no seu streak de ótimos thrillers, sem uso algum de jump scares para a construção de momentos assustadores. No geral, o filme como adaptação funciona impecavelmente, porém como disse, a história do livro nunca foi uma das melhores.
A escolha de Tom Cruise como Barry Seal estabelece dês do início uma personalidade para o longa biográfico, sendo tal extremamente coerente com a insanidade dos fatos relatados no filme, que muitas vezes são levados de maneira leve e cômica, conseguindo fugir com proeza da sensação de se estar assistindo a um documentário.
Doug Liman seguiu a receita de bolo, um ótimo roteiro biográfico seguido de uma ótima escolha de elenco, boas atuações e num geral uma experiência divertida. O que faltou foi mais ritmo, ponto no qual muitos filmes biográficos pecam, os 115 minutos as vezes podem soar tediosos, mas num geral é uma ótima obra.
O John Wick da Charlize Theron somente enfatizou o quão fantástica sua atuação em filmes de ação pode ser depois do incrível Mad Max de 2015. Todavia a originalidade visual e musical do filme combinada com as ótimas cenas de ação ainda não conseguiram me impactar tanto quanto a qualidade baixa do roteiro e as irritantes quebras de ritmo que ele possui. De qualquer forma, ainda é um filme muito divertido.
Um dos eventos mais recorrentes no cinema moderno é a vangloriação de filmes que não apresentam uma resposta concreta, muito disso se deve à obras fantásticas como Donnie Darko e O Homem Duplicado que praticamente criaram um novo gênero digamos assim.
Todavia, "mother!" está longe de funcionar fora de suas metáforas, suas ideias nada mais são que amarrações em lógicas diferentes das já feitas anteriormente no cinema, com alguns brilhantismos em atuação, direção e cinematografia que juntos resultam na perfeita transmissão das emoções desejadas pelo diretor, sendo estes os únicos pontos positivos que consegui encontrar na obra.
Em Mãe!, a completa ausência de personagens e diversidade de cenários faz o longa soar como um pesadelo perturbador, raramente abrindo espaço para que o espectador reflita sobre as metáforas apresentadas. Pode funcionar para o público alvo ao qual foi vendido como um "filme de terror", mas está longe de ser conivente com a instigação à reflexão tanto praticada no filme.
Sim, as metáforas religiosas estão lá, são coerentes e possíveis de serem provadas na amarração de diversas cenas específicas, porém este era o mínimo esperado de um filme que é completamente ilogico fora de suas metáforas. Além disso, sua conclusão lógica que resulta em um loop torna toda a mensagem ainda mais irrelevante e "senso comum" de certa forma, inúmeros filmes já exploraram diferentes maneiras de representar a religião, a Bíblia, a criação e destruição do planeta e do próprio homem, acho incoerente dizer que Mãe! é algo inédito para o cinema ou que aborda tais temas de maneira extraordinária. Passa longe da complexidade dos filmes anteriormente citados ou do próprio "Requiem for a Dream" do Aronofsky.
Concluindo, Mãe! é a prova de que a indústria de filmes mainstream está tão fraca ao ponto de filmes metafóricos não tão bem resolvidos como este em questão serem vistos como obras primas, mas na realidade não passam de um amaranhado de boas atuações, um roteiro mediano e uma mensagem um tanto quanto óbvia e já muito explorada anteriormente.
It quebra com a sequência de adaptações medíocres das obras do mestre King tentando ser O Iluminado de Kubrick, o filme é coerente com o livro, visualmente perturbador e sem muitos jumpscares baratos, todos os momentos de terror do filme são no mínimo estranhamente divertidos. A obra trabalha com alívios cômicos com maestria, as vezes até melhor do que o próprio livro. Até então este é sem duvidas o melhor filme de terror do ano, com uma excelente direção, boas atuações e uma ótima adaptação de roteiro. Me deixou ansioso por uma segunda parte, contando a história deles adultos.
Alternando constantemente entre o choro e as gargalhadas, The Big Sick consegue ser um dos melhores filmes de 2017. A progressão das personagens flui naturalmente conforme a trama se desenvolve e a complexidade sutil de seu roteiro se aflora. Kumail é quase um personagem genérico no começo do filme, sem muitas nuances emocionais, mas se aproxima mais e mais da realidade a cada cena, enquanto a tempestade que virá em sua família, carreira e relacionamento amoroso se aproxima. Holly Hunter é extraordinária, ela é aquele tipo de pessoa fechada que conforme você se aproxima, se abre e revela ser uma pessoa incrível. Já Zoe Kazan do outro lado é desde o início a personificação de uma "namorada perfeita", mas sem muita glamourização o filme logo expõe suas fraquezas e medos, tornando Emily extremamente humana.
Concluindo, tudo em The Big Sick é coerente e realista, as vezes brutal, as vezes cômico, mas certamente a somatória de suas qualidades resulta em quase uma obra biográfica sendo levada ao tom e à personalidade de seu autor, Kumail, deixando-a passar despercebida como uma comédia dramática. Excelente filme.
"Seriam as mãos da Marvel capazes de finalmente acertar em cheio com uma das histórias mais recontadas dos quadrinhos no cinema?" era uma pergunta que eu me fazia ao assistir aos trailers de Homecoming, mas depois de ver o filme saí um pouco desapontado.
Homecoming é magnífico em capturar o espírito de Peter Parker, espelhando toda a juventude e inexperiência de Peter dos quadrinhos. Ao mesmo tempo, falha em tentar adaptar o personagem ao universo extremamente tecnológico da Marvel, simplesmente ignorando habilidades como o "sentido aranha", que tinham grande peso na identidade do personagem como um super-herói. Em Homecoming o aranha virou um brinquedo nas mãos de Tony Stark, onde a sua roupa é o foco das atenções e não seus poderes, que nos quadrinhos eram os que o tornavam especial.
De qualquer forma a constante qualidade nas inúmeras piadas do filme o tornam extremamente descontraído e divertido, com méritos para boas atuações num geral e uma ótima fotografia (é raro ver Nova Iorque tão viva e colorida).
Este é um exemplo clássico de uma terrível campanha de marketing para um ótimo filme. Com o selo da A24, pode-se esperar algo extremamente diferente do convencional, ainda mais quando se trata do gênero Terror / Suspense.
Talvez o causador de suspiros e resmungos da platéia no final de Ao Cair da Noite seja o mesmo de filmes como Donnie Darko e O Homem Duplicado: a falta de um desfecho concreto. Neste caso, a ficção claustrofóbica em um mundo pós-apocalíptico gira em torno de pesadelos cotidianos recheados de metáforas e da tensão criada a cada noite no filme, elevando graduativamente o nível de suspense do público. Num geral, uma cinematografia maravilhosa ao som de uma trilha sonora incrível e com ótimas atuações te fazem relevar a falta de ritmo do Thriller.
Ben Younger em pouquíssimos momentos específicos no filme demonstra uma enorme maestria na criação de cenas espetaculares, mas infelizmente em toda sua duração Bleed for This não escapa dos clichês dos filmes de boxe, e apesar de contar uma linda história de superação, não consegue ser nada mais que um bom filme.
O retrato perfeito da antítese de qualquer grandiosidade, Paterson desenvolve-se vagarosamente dentro de um loop rotineiro, utilizando-se de toda a sensibilidade em Adam Driver e Golshifteh Farahani para criar um casal adorável, onde separados contrastam sonhos e personalidades únicas, mas juntos reluzem uma simplicidade incrívelmente realista.
Ao invés de se tornar ordinária, a vida do protagonista é enriquecida a cada dia, conforme diferentes acontecimentos e personalidades surgem em seu caminho, Paterson constrói reflexões que engrandecem sua poesia. Apesar de aparentemente não chegar em finalidade alguma, Jim Jarmusch conseguiu capturar perfeitamente o cotidiano, a simplicidade da vida e a beleza nos talentos e sonhos de cada um.
Ao reconstruir uma estética com mais de 50 anos de idade e aplicá-la em todos os aspectos possíveis do filme, Anna Biller cria uma espécie de "Under the Skin da década de 60", abordando o empoderamento da mulher de uma maneira grotesca e até mesmo psicopática. A bravura de Biller por criar este bolo de clichês é brilhante, mas ao mesmo tempo inconsequente, ao desconsiderar os avanços nas técnicas de criação de roteiro e atuação, Biller tornou os picos de emoção do filme simplesmente forçados demais, tentando cativar uma personalidade 100% cult ao filme.
The Love Witch é uma experiência no mínimo empolgante, sua estética retrô foi aplicada com excelência, Elle Evans captura o tom grotesco e sedutor de sua personagem muito bem, mas o resto do elenco se afunda na estética do roteiro de tal maneira que as atuações num geral são muito forçadas.
Finalmente um filme capaz de matar a saudades de filmes tão simples e reais que maracaram grandes carreiras como a de John Hughes. A empatia que eu senti assistindo "Quase 18" foi enorme, por manter-se constantemente coerente, ele consegue retratar muito bem a confusão vivenciada nesta idade, a supervalorização da autoimagem e do status social perturbam a protagonista de tal maneira que a deprime e aos poucos corrói sua personalidade.
Mas além de tudo, o filme ainda consegue retratar todos os impactos que estes conflitos da protagonista causam, seja em sua mãe, em seu professor (brilhante atuação de Woody Harrelson) ou em seu irmão e sua melhor amiga. Logo após atingir seu pico caótico, um simples abraço derruba a protagonista, a faz perceber que o homem certo para ela estava sempre ao seu lado e rapidamente a recompõe, concluindo com um lindo final, que apesar de ser feliz, acaba sendo o mínimo que poderia acontecer depois de tudo.
"Quase 18" é impecável no que se propõe a fazer, uma linda estréia para Kelly Fremon Craig e mais uma ótima performance de Hailee Steinfeld, certamente está no meu top 10 de 2016.
Com tamanha brutalidade, a consternação do fiel é colocada ao extremo em Silence, Andrew Garfield espelha a destruição da finesse da fé após tantas provações com uma atuação espetacular, é visível em seu rosto nuances entre a cessão e afinco. Esta é a primeira obra em anos marcada de um roteiro e direção de Scorsese, todavia sua originalidade técnica foi deixada de lado para enfatizar a trama, Silence não é um filme típico de Scorsese, este trabalha com o contraste cultural e religioso com maestria, seus longos 161 minutos são pesados, reflexivos e emocionantes.
Não vejo Silence ganhando diversos Oscars, após experienciar o filme ficou claro que Scorsese não criou algo para agradar a academia, mas sim para contar uma história de grande relevância e peso emocional para ele em particular, é uma linda jornada.
O constante baque de 135 minutos mantém-se firme na série de desventuras da vida mesmo em seus momentos de maior brilho e esperança, projetando-se como um dos dramas mais humanos da década, Manchester by the Sea é brutal e pé no chão, não atinge um solene pico de felicidade em momento algum e até soa como uma experiência torturosa em momentos. Transformando o filme em um longo worskshop de atuação, Casey Affleck consegue ser indistinguível de Lee Chandler, ao mesmo tempo que Kenneth Lonergan consegue desenvolver Lee com flashbacks e picos de emoção até um ponto em que lágrimas escorreram do meu rosto em certas cenas.
A receita de bolo do drama foi estritamente seguida aqui, Lonergan misturou atuação e desenvolvimento de personagem com tamanha maestria que eu só consigo afirmar que Manchester by the Sea é um dos melhores filmes de 2016.
La La Land não reinventa o gênero, mas grita originalidade ao compactuar o retrô e o moderno, a transição elipse e o plano sequência, prova que é possível atingir o excepcional sem revolucionar, mas sim misturar o que deu certo antes com toda a paixão pela música de Damien Chazelle. Nuances entre o clichê e o acerto provam que tudo em La La Land é planejado, dês da brilhante química entre Stone e Gosling até os espetáculos visuais e sonoros dos musicais em plano sequência. Como se não bastasse, sua reflexiva sequência final em forma de musical brinca com a cerne da trama: a paixão é repleta de possibilidades, tonalidades e notas musicais, dança nas estrelas ao som de belas melodias, porém as decisões da vida são reais e quase sempre não tem volta.
À dois anos atrás Birdman te desbancou, mas 2016 é seu Chazelle.
Há três anos atrás a Walt Disney Animation Studios lançou um grande sucesso de bilheteria; o mais marcante de "Frozen" foram as cenas musicais do filme. Seguindo a mesma linha, a Disney volta em 2016 com "Moana".
A constante evolução tecnológica nas animações é sempre ressaltada nas análises, com "Moana" não é diferente, visualmente extraordinário, o filme consegue carregar muito do peso emocional desejado só nas técnicas visuais em si, mas até então esse é o padrão da Disney nos últimos anos. O que realmente brilha no filme é toda a sua ambientação e a montanha russa emocional que os personagens passam, além da trama principal que é no mínimo interessante. Porém esse filme tenta tanto repetir o feito de "Frozen" que ele acaba ficando com muito tempo de tela dedicado aos musicais, alguns são definitivamente bonitos ou engraçados, mas outros soam repetitivos e de certa forma irritantes.
De qualquer forma, "Moana" foi uma das primeiras animações que tiveram uma reviravolta no roteiro, o que tornou o final simplesmente fantástico e com uma mensagem bonita no final. Toda a jornada de "Moana", apesar de cair em clichês de animações para a família, como por exemplo a montanha russa das situações que as personagens passam, na qual fica variando entre sucesso e falha o filme inteiro, foi uma jornada divertida, visualmente espetacular e com uma boa mensagem no final.
Detroit em Rebelião
4.0 193 Assista AgoraTal qual a impunidade sofrida por cada indivíduo na noite de '67, o tom de Detroit é capaz de enfurecer e trazer lágrimas aos olhos em diversos momentos, a forma de Kathryn Bigelow que vem se aprimorando desde o Oscar de 2010 atinge um pico espetacular no novo longa, com um ótimo desenvolvimento de personagens, porém sem perder o tom realístico com um quê de documentário. Boyega e Will Pouter estão fantásticos no filme, mas a história em si toma a forma de protagonista no filme, sem tirar a atenção do que Mark Boal deseja transmitir. Excelente filme.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 322 Assista AgoraEsmurrar a parede, dar um abraço em cada membro da minha família e esmurrar a parede novamente foram, em sequência, os sentimentos que senti durante o retorno de Dee Rees como diretora de um longa. Mudbound é implacável em diversos sentidos, extremamente surpreendente em alguns momentos e audacioso em sua conclusão,
A expectativa de justiça em meio a covardias desumanas é uma constante intrigante em filmes como este, algo que, além de várias outras proezas, rendeu o Oscar ao 12 Years a Slave em 2011. Porém Mudbound é um pouco mais suave durante seu desenvolvimento, no qual foca-se inteiramente em uma introdução narratória de vários personagens incrivelmente bem resolvidos, com excelentes atuações e picos dramáticos. É um daqueles filmes que escolhe primeiro cativar o espectador para depois agir, expondo sua problematização de maneira completamente inesperada, o que soa proposital e apelativo, mas compensa devido à surpresa.
Mudbound, além de um filme sobre guerra e racismo, é uma reflexão sobre o amor familiar, o amor despreconceituoso ao próximo e as consequências de um comportamento fora do padrão da sociedade, uma obra extramamente íntima mas ao mesmo tempo extremamente brutal, um dos pontos altos do ano.
Além disso, Rees decidiu dar dois finais para o filme ou aquilo tudo foi só uma reflexão comparativa entre o final real x final sonhado pelo protagonista? Em fim, excelente filme.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraO mais novo esforço de Zack Snyder em parceria com a DC entrega desta vez algo mais colorido e mais bem humorado, Liga da Justiça toma alguns passos tímidos em direção aos filmes da Marvel, mas as complicações durante sua criação ficam evidentes na compressão absurda de conteúdo, jogando no mínimo cerca de 40 minutos de trama no lixo.
Com o suicídio da filha do diretor durante a produção, Snyder abandona o filme e os reflexos se evidenciam no ritmo apressado da trama, que muito provavelmente passava de 160 minutos de duração originalmente, porém barrada posteriormente pela Warner e muito mal comprimida no resultado final. Os cortes bruscos esclarecem que o objetivo era apenas manter as cenas chaves e conectá-las de forma lógica, cortando assim qualquer prolongamento emocional ou desenvolvimento de personagem que poderia existir.
Além dos problemas técnicos, o roteiro em si sofre do mesmo problema que praticamente todos os filmes do gênero sofrem, desta vez o vilão é uma espécie de líder apocalíptico extraterrestre com um dos piores desenvolvimentos que eu vi no gênero neste ano, um vilão que poderia ser vencido a qualquer momento e de qualquer forma no filme e poucas pessoas no cinema ligariam, dês de que exista um alívio cômico após a batalha final.
Os pontos positivos do filme são encontrados em praticamente qualquer filme da Marvel, as cenas de ação são grandiosas, muitos dos alívios cômicos funcionam, porém Liga da Justiça consegue ficar no meio da ponte entre seriedade e humor, jamais definindo de forma clara qual será o seu tom. Da mesma forma, eu como consumidor da peça fico no meio da ponte quanto sua qualidade, ainda há chão para trilhar.
O Estado das Coisas
3.4 103 Assista AgoraA constante narração e o close em Brad atinge um pico de desenvolvimento de personagem orquestrado com maestria por uma performance de Ben Stiller que brilha tanto quanto brilha em filmes como Walter Mitty e While We're Young. Desta vez, narrando e sentindo na pele as crises vivenciadas por um pai ao notar o inevitável amadurecimento de seu filho, Ben como Brad inveja seus amigos de infância e toda sua aparente luxúria, mas se encontra reflexivo ao descobrir a realidade na qual eles estão inseridos.
Brad's Status é um ótimo filme sobre a relação pai e filho, com alguns picos emocionais, excelente desenvolvimento de personagem e uma ótima trilha sonora. Filmes como este quebram a fama do ator como "aquele ator de comédia" e demonstram um grande potencial no ator para futuros dramas.
Bom Comportamento
3.8 393A mais nova adição ao extenso catálogo da A24 é um thriller dramático surpreendente vindo das mãos dos irmãos Safdie. Frenético e brutal ao som de Oneotrix Point Never contando cada passo apressado da melhor performance de Pattinson, o longa prende toda sua audiência na borda de seus assentos até o último segundo, retratando a avalanche criada pelo protagonista após cada tentativa de corrigir seus erros. Certamente um dos melhores thrillers do ano.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraTendo particularmente odiado completamente os dois filmes anteriores da então triologia por se levarem a sério de mais frente ao absurdo roteiro no qual estão inseridos, minhas expectativas para Thor Ragnarok eram baixas, mas saí surpreendido por quão divertido o filme acabou sendo.
O tom ao qual um roteiro é levado é de suma importância e pode muito bem estragar completamente ou melhorar um filme, aspecto este que a Marvel vem acertando com proeza em seus esforços mais recentes. Thor Ragnarok varia bem entre um humor físico em partes absurdo e o humor referencial, fazendo uso e refinando um pouco mais a mesma receita de bolo utilizada em Guardiões da Galáxia, mas em um tom um pouco mais original. Todo o absurdo da conexão entre a mitologia do protagonista e o mundo real é levado em um tom muito bem humorado, com um visual extremamente colorido no fundo.
O problema aqui é o mesmo encontrado em cada filme da Marvel e em praticamente todos os filmes de herói já feitos, a vilã do filme é um completo fracasso em criar um mistério ou psicopatia tão bem explorados em vilões como Darth Vader e o Coringa de Heath Ledger. Hela em Ragnarok passa longe de ser tão bem desenvolvida quanto os citados e me fez revirar os olhos a cada segundo de tela.
Conclusão, mais um filme 3.5/5 da Marvel, com um excelente tom e visual, um péssimo vilão e uma mesma estrutura de filme já repetida pela Marvel a um bom tempo.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraTrinta e cinco anos atrás Blade Runner marcou a história do cinema como um dos primeiros filmes a criarem futuros tecnológicos recheados de críticas sociais e indagações filosóficas. Dois anos atrás Mad Max provou que não importa quantas décadas passem, sempre será possível retomar o universo criado de maneira grandiosa. Hoje, Blade Runner 2049 atinge um novo patamar, sendo uma sequel que reflete o coração do universo criado, batendo ano a ano quase como uma realidade paralela, sem perder mas sim acrescentar riqueza, complexidade e beleza ao universo balzaquiano.
De "Sapper's Tree" a "Tears in the Rain" Hans Zimmer nos conduziu pelos 165 minutos mais dourados de 2017. Tudo no universo evoluiu ou envelheceu, marcas como Atari que hoje já nem se quer existem se mantém preservadas nesta realidade alternativa, todos esses pequenos detalhes fazem a atmosfera do longa um de seus melhores personagens, mas com certeza absoluta o mais absurdo do filme são seus visuais, este é o filme mais lindo e grandioso que já vi, uma obra que em um IMAX da vida tira o fôlego de qualquer um.
O principal é óbviamente a trama, cada segundo de Blade Runner 2049 é meticulosamente pensado, forjado como um questionário na mais pura expressão artística. Gosling como K, assim como todos no cinema, foi exposto a crises existenciais, explorou seu interior em buscas de respostas, teve um brilho de esperança e se viu tendo que aceitar quem ele era. Ao expor que não só K, mas muitos já passaram pelas mesmas crises, na esperança de serem indivíduos diferentes e especiais (milagres), o filme constrói tijolo por tijolo uma crítica social espetacular, coerente do começo ao fim.
Assim como em A Chegada, Villeneuve utiliza cenas chaves do filme para construir uma metáfora e no final destrinchá-la, conectando os pontos e entregando um filme ainda mais recompensdador que o prequel, justamente por isso é tão difícil falar sobre esse filme sem dar spoiler, fato é que os que forem de cabeça vazia para o filme rapidamente mergulharão na sua trama e terão uma experiência fantástica.
Blade Runner 2049 é a sequel mais ambiciosa do cinema até então, gritando riqueza a cada frame, mas não encontra tal grandiosidade visual como abrigo para uma trama mediocre, pelo contrário, preserva e evolui as qualidades de seu precursor, mantendo as críticas sociais e o estímulo à reflexão metafísica, é um filme que me fez esboçar um dos sorrisos mais sinceros durante sua longa duração.
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraSe "It" já foi uma grande surpresa vinda de uma adaptação de Stephen King, Gerald's Game era ainda menos esperado, mas surpreendeu pela fidelidade com o livro. Infelizmente esse é um dos casos raros onde temos uma adaptação impecável de um livro meia boca.
Sem desmerecer o mestre King, mas existem tantas obras extarodinárias em sua carreira que Gerald's Game passa despercibido, porém possui uma qualidade que poucas histórias de King como "1408" possúem, que é a de se passar em um só ambiente.
Muitos dos prós do longa se comparam com os de filmes como "127 Horas", as alucinações da protagonista parte servem como desenvolvimento de personagem e parte servem como construção de uma certa tensão ou angústia, sentimentos esses muito bem transmitidos no filme. Num geral, Carla Gugino está ok no papel, enquanto Bruce Greenwood é constantemente essa figura selvagem equivalente ao pai da protagonista.
Mas no que o longa realmente se destaca é a direção e adaptação de roteiro, Mike Falanagan continua no seu streak de ótimos thrillers, sem uso algum de jump scares para a construção de momentos assustadores. No geral, o filme como adaptação funciona impecavelmente, porém como disse, a história do livro nunca foi uma das melhores.
Feito na América
3.6 357 Assista AgoraA escolha de Tom Cruise como Barry Seal estabelece dês do início uma personalidade para o longa biográfico, sendo tal extremamente coerente com a insanidade dos fatos relatados no filme, que muitas vezes são levados de maneira leve e cômica, conseguindo fugir com proeza da sensação de se estar assistindo a um documentário.
Doug Liman seguiu a receita de bolo, um ótimo roteiro biográfico seguido de uma ótima escolha de elenco, boas atuações e num geral uma experiência divertida. O que faltou foi mais ritmo, ponto no qual muitos filmes biográficos pecam, os 115 minutos as vezes podem soar tediosos, mas num geral é uma ótima obra.
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraO John Wick da Charlize Theron somente enfatizou o quão fantástica sua atuação em filmes de ação pode ser depois do incrível Mad Max de 2015. Todavia a originalidade visual e musical do filme combinada com as ótimas cenas de ação ainda não conseguiram me impactar tanto quanto a qualidade baixa do roteiro e as irritantes quebras de ritmo que ele possui. De qualquer forma, ainda é um filme muito divertido.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraUm dos eventos mais recorrentes no cinema moderno é a vangloriação de filmes que não apresentam uma resposta concreta, muito disso se deve à obras fantásticas como Donnie Darko e O Homem Duplicado que praticamente criaram um novo gênero digamos assim.
Todavia, "mother!" está longe de funcionar fora de suas metáforas, suas ideias nada mais são que amarrações em lógicas diferentes das já feitas anteriormente no cinema, com alguns brilhantismos em atuação, direção e cinematografia que juntos resultam na perfeita transmissão das emoções desejadas pelo diretor, sendo estes os únicos pontos positivos que consegui encontrar na obra.
Em Mãe!, a completa ausência de personagens e diversidade de cenários faz o longa soar como um pesadelo perturbador, raramente abrindo espaço para que o espectador reflita sobre as metáforas apresentadas. Pode funcionar para o público alvo ao qual foi vendido como um "filme de terror", mas está longe de ser conivente com a instigação à reflexão tanto praticada no filme.
Sim, as metáforas religiosas estão lá, são coerentes e possíveis de serem provadas na amarração de diversas cenas específicas, porém este era o mínimo esperado de um filme que é completamente ilogico fora de suas metáforas. Além disso, sua conclusão lógica que resulta em um loop torna toda a mensagem ainda mais irrelevante e "senso comum" de certa forma, inúmeros filmes já exploraram diferentes maneiras de representar a religião, a Bíblia, a criação e destruição do planeta e do próprio homem, acho incoerente dizer que Mãe! é algo inédito para o cinema ou que aborda tais temas de maneira extraordinária. Passa longe da complexidade dos filmes anteriormente citados ou do próprio "Requiem for a Dream" do Aronofsky.
Concluindo, Mãe! é a prova de que a indústria de filmes mainstream está tão fraca ao ponto de filmes metafóricos não tão bem resolvidos como este em questão serem vistos como obras primas, mas na realidade não passam de um amaranhado de boas atuações, um roteiro mediano e uma mensagem um tanto quanto óbvia e já muito explorada anteriormente.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraIt quebra com a sequência de adaptações medíocres das obras do mestre King tentando ser O Iluminado de Kubrick, o filme é coerente com o livro, visualmente perturbador e sem muitos jumpscares baratos, todos os momentos de terror do filme são no mínimo estranhamente divertidos. A obra trabalha com alívios cômicos com maestria, as vezes até melhor do que o próprio livro. Até então este é sem duvidas o melhor filme de terror do ano, com uma excelente direção, boas atuações e uma ótima adaptação de roteiro. Me deixou ansioso por uma segunda parte, contando a história deles adultos.
Doentes de Amor
3.7 379 Assista AgoraAlternando constantemente entre o choro e as gargalhadas, The Big Sick consegue ser um dos melhores filmes de 2017. A progressão das personagens flui naturalmente conforme a trama se desenvolve e a complexidade sutil de seu roteiro se aflora. Kumail é quase um personagem genérico no começo do filme, sem muitas nuances emocionais, mas se aproxima mais e mais da realidade a cada cena, enquanto a tempestade que virá em sua família, carreira e relacionamento amoroso se aproxima. Holly Hunter é extraordinária, ela é aquele tipo de pessoa fechada que conforme você se aproxima, se abre e revela ser uma pessoa incrível. Já Zoe Kazan do outro lado é desde o início a personificação de uma "namorada perfeita", mas sem muita glamourização o filme logo expõe suas fraquezas e medos, tornando Emily extremamente humana.
Concluindo, tudo em The Big Sick é coerente e realista, as vezes brutal, as vezes cômico, mas certamente a somatória de suas qualidades resulta em quase uma obra biográfica sendo levada ao tom e à personalidade de seu autor, Kumail, deixando-a passar despercebida como uma comédia dramática. Excelente filme.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista Agora"Seriam as mãos da Marvel capazes de finalmente acertar em cheio com uma das histórias mais recontadas dos quadrinhos no cinema?" era uma pergunta que eu me fazia ao assistir aos trailers de Homecoming, mas depois de ver o filme saí um pouco desapontado.
Homecoming é magnífico em capturar o espírito de Peter Parker, espelhando toda a juventude e inexperiência de Peter dos quadrinhos. Ao mesmo tempo, falha em tentar adaptar o personagem ao universo extremamente tecnológico da Marvel, simplesmente ignorando habilidades como o "sentido aranha", que tinham grande peso na identidade do personagem como um super-herói. Em Homecoming o aranha virou um brinquedo nas mãos de Tony Stark, onde a sua roupa é o foco das atenções e não seus poderes, que nos quadrinhos eram os que o tornavam especial.
De qualquer forma a constante qualidade nas inúmeras piadas do filme o tornam extremamente descontraído e divertido, com méritos para boas atuações num geral e uma ótima fotografia (é raro ver Nova Iorque tão viva e colorida).
Ao Cair da Noite
3.1 977 Assista AgoraEste é um exemplo clássico de uma terrível campanha de marketing para um ótimo filme. Com o selo da A24, pode-se esperar algo extremamente diferente do convencional, ainda mais quando se trata do gênero Terror / Suspense.
Talvez o causador de suspiros e resmungos da platéia no final de Ao Cair da Noite seja o mesmo de filmes como Donnie Darko e O Homem Duplicado: a falta de um desfecho concreto. Neste caso, a ficção claustrofóbica em um mundo pós-apocalíptico gira em torno de pesadelos cotidianos recheados de metáforas e da tensão criada a cada noite no filme, elevando graduativamente o nível de suspense do público. Num geral, uma cinematografia maravilhosa ao som de uma trilha sonora incrível e com ótimas atuações te fazem relevar a falta de ritmo do Thriller.
Sangue Pela Glória
3.4 64 Assista AgoraBen Younger em pouquíssimos momentos específicos no filme demonstra uma enorme maestria na criação de cenas espetaculares, mas infelizmente em toda sua duração Bleed for This não escapa dos clichês dos filmes de boxe, e apesar de contar uma linda história de superação, não consegue ser nada mais que um bom filme.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraO retrato perfeito da antítese de qualquer grandiosidade, Paterson desenvolve-se vagarosamente dentro de um loop rotineiro, utilizando-se de toda a sensibilidade em Adam Driver e Golshifteh Farahani para criar um casal adorável, onde separados contrastam sonhos e personalidades únicas, mas juntos reluzem uma simplicidade incrívelmente realista.
Ao invés de se tornar ordinária, a vida do protagonista é enriquecida a cada dia, conforme diferentes acontecimentos e personalidades surgem em seu caminho, Paterson constrói reflexões que engrandecem sua poesia. Apesar de aparentemente não chegar em finalidade alguma, Jim Jarmusch conseguiu capturar perfeitamente o cotidiano, a simplicidade da vida e a beleza nos talentos e sonhos de cada um.
A Bruxa do Amor
3.6 207 Assista AgoraAo reconstruir uma estética com mais de 50 anos de idade e aplicá-la em todos os aspectos possíveis do filme, Anna Biller cria uma espécie de "Under the Skin da década de 60", abordando o empoderamento da mulher de uma maneira grotesca e até mesmo psicopática. A bravura de Biller por criar este bolo de clichês é brilhante, mas ao mesmo tempo inconsequente, ao desconsiderar os avanços nas técnicas de criação de roteiro e atuação, Biller tornou os picos de emoção do filme simplesmente forçados demais, tentando cativar uma personalidade 100% cult ao filme.
The Love Witch é uma experiência no mínimo empolgante, sua estética retrô foi aplicada com excelência, Elle Evans captura o tom grotesco e sedutor de sua personagem muito bem, mas o resto do elenco se afunda na estética do roteiro de tal maneira que as atuações num geral são muito forçadas.
Quase 18
3.7 608 Assista AgoraFinalmente um filme capaz de matar a saudades de filmes tão simples e reais que maracaram grandes carreiras como a de John Hughes. A empatia que eu senti assistindo "Quase 18" foi enorme, por manter-se constantemente coerente, ele consegue retratar muito bem a confusão vivenciada nesta idade, a supervalorização da autoimagem e do status social perturbam a protagonista de tal maneira que a deprime e aos poucos corrói sua personalidade.
Mas além de tudo, o filme ainda consegue retratar todos os impactos que estes conflitos da protagonista causam, seja em sua mãe, em seu professor (brilhante atuação de Woody Harrelson) ou em seu irmão e sua melhor amiga. Logo após atingir seu pico caótico, um simples abraço derruba a protagonista, a faz perceber que o homem certo para ela estava sempre ao seu lado e rapidamente a recompõe, concluindo com um lindo final, que apesar de ser feliz, acaba sendo o mínimo que poderia acontecer depois de tudo.
"Quase 18" é impecável no que se propõe a fazer, uma linda estréia para Kelly Fremon Craig e mais uma ótima performance de Hailee Steinfeld, certamente está no meu top 10 de 2016.
Silêncio
3.8 578Com tamanha brutalidade, a consternação do fiel é colocada ao extremo em Silence, Andrew Garfield espelha a destruição da finesse da fé após tantas provações com uma atuação espetacular, é visível em seu rosto nuances entre a cessão e afinco. Esta é a primeira obra em anos marcada de um roteiro e direção de Scorsese, todavia sua originalidade técnica foi deixada de lado para enfatizar a trama, Silence não é um filme típico de Scorsese, este trabalha com o contraste cultural e religioso com maestria, seus longos 161 minutos são pesados, reflexivos e emocionantes.
Não vejo Silence ganhando diversos Oscars, após experienciar o filme ficou claro que Scorsese não criou algo para agradar a academia, mas sim para contar uma história de grande relevância e peso emocional para ele em particular, é uma linda jornada.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraO constante baque de 135 minutos mantém-se firme na série de desventuras da vida mesmo em seus momentos de maior brilho e esperança, projetando-se como um dos dramas mais humanos da década, Manchester by the Sea é brutal e pé no chão, não atinge um solene pico de felicidade em momento algum e até soa como uma experiência torturosa em momentos. Transformando o filme em um longo worskshop de atuação, Casey Affleck consegue ser indistinguível de Lee Chandler, ao mesmo tempo que Kenneth Lonergan consegue desenvolver Lee com flashbacks e picos de emoção até um ponto em que lágrimas escorreram do meu rosto em certas cenas.
A receita de bolo do drama foi estritamente seguida aqui, Lonergan misturou atuação e desenvolvimento de personagem com tamanha maestria que eu só consigo afirmar que Manchester by the Sea é um dos melhores filmes de 2016.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraHoje já é dia 19 e aparente a estreia no "Brasil" não passa de alguns cinemas no Rio, em SP e em Recife :\
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLa La Land não reinventa o gênero, mas grita originalidade ao compactuar o retrô e o moderno, a transição elipse e o plano sequência, prova que é possível atingir o excepcional sem revolucionar, mas sim misturar o que deu certo antes com toda a paixão pela música de Damien Chazelle. Nuances entre o clichê e o acerto provam que tudo em La La Land é planejado, dês da brilhante química entre Stone e Gosling até os espetáculos visuais e sonoros dos musicais em plano sequência. Como se não bastasse, sua reflexiva sequência final em forma de musical brinca com a cerne da trama: a paixão é repleta de possibilidades, tonalidades e notas musicais, dança nas estrelas ao som de belas melodias, porém as decisões da vida são reais e quase sempre não tem volta.
À dois anos atrás Birdman te desbancou, mas 2016 é seu Chazelle.
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KHá três anos atrás a Walt Disney Animation Studios lançou um grande sucesso de bilheteria; o mais marcante de "Frozen" foram as cenas musicais do filme. Seguindo a mesma linha, a Disney volta em 2016 com "Moana".
A constante evolução tecnológica nas animações é sempre ressaltada nas análises, com "Moana" não é diferente, visualmente extraordinário, o filme consegue carregar muito do peso emocional desejado só nas técnicas visuais em si, mas até então esse é o padrão da Disney nos últimos anos. O que realmente brilha no filme é toda a sua ambientação e a montanha russa emocional que os personagens passam, além da trama principal que é no mínimo interessante. Porém esse filme tenta tanto repetir o feito de "Frozen" que ele acaba ficando com muito tempo de tela dedicado aos musicais, alguns são definitivamente bonitos ou engraçados, mas outros soam repetitivos e de certa forma irritantes.
De qualquer forma, "Moana" foi uma das primeiras animações que tiveram uma reviravolta no roteiro, o que tornou o final simplesmente fantástico e com uma mensagem bonita no final. Toda a jornada de "Moana", apesar de cair em clichês de animações para a família, como por exemplo a montanha russa das situações que as personagens passam, na qual fica variando entre sucesso e falha o filme inteiro, foi uma jornada divertida, visualmente espetacular e com uma boa mensagem no final.