Inserido em contexto pós-2ª guerra mundial, Belle de Jour é um daqueles filmes que nos servem como fonte primária de uma época. Época interessantíssima essa já que Severine é um símbolo da contestação dos costumes burgueses estabelecidos desde inícios do século 20. O alter ego de Severine é a síntese da libertação sexual dos anos de 1960, movimento iniciado com a contracultura em diversas partes do mundo ocidental. De fato, nota-se em Severine um pouco do “cadáver esquisito”, influência do surrealismo. A dona de casa, a burguesa e a prostituta estão em conflito constante em Severine. Sua educação sem dúvida foi orientada no sentido de transforma-la em dona de casa, os abusos na infância a iniciaram nesse mundo sexualmente permissivo, sua beleza proporcionou um “bom casamento” e a conjuntura lhe permitiu sair dos sonhos.
John Hughes. Muito mais que um filme sobre a juventude nos anos de 1980, Hughes nos apresenta em “Clube dos Cinco” todas as tensões da adolescência, em especial na sociedade estadunidense dos anos de 1980, acelerada, inaugurando novos conceitos de comportamento e estética. Nascido no ano de 1950, Hughes fez parte de uma geração onde a criança e o adolescente não ocupavam lugar relevante dentro da ordem social. Hughes vivenciou a chamada “época de ouro americana”, de grande crescimento econômico após a 2ª Guerra Mundial, novos atores sociais, contracultura... Os personagens de Hughes sintetizam os rótulos do adolescente americano, cheio de dúvidas, estigmatizados... O final da redação de Brian é emblemático, “...um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso...”. Durante todo o filme Hughes tenta nos dizer que aquelas pessoas são mais que rótulos. Possuem suas próprias contradições, seus próprios medos. Talvez a grande lição de Hughes com esse filme seja tentar nos mostrar uma outra faceta da juventude.
O filme nos transporta para momentos de suma importância da política brasileira. Nosso guia é o personagem de PAULO AUTRAN, tenente Gui. Este personagem, em idade já avançada, relembra os momentos nos quais o exército assumiu o protagonismo na política brasileira. Tenentismo, Golpe de 1930, Revolução Constitucionalista de 1932, Golpe de 1964. Olha para o passado com desgosto, questionando suas próprias escolhas. Ciranda ideológica: direitistas, esquerdistas e extrema-direitistas.
Um filme consistente. Principalmente o início. A fórmula de utilizar o espectador como interlocutor nos transforma em testemunhas do experimento. O tema é ácido, pouco debatido em filmes (vide o filme Hannah Arendt), mas intensamente estudado no campo da sociologia e filosofia (o problema da modernidade). Questão central do filme: Como pessoas cultas, academicamente educadas, cidadãos de uma das partes mais “desenvolvidas” do mundo puderam levar a cabo o extermínio industrial de seres humanos? O experimento de Milgram se debruça em apenas uma das facetas do extermínio, qual seja, a obediência. Se mostrou um filme sóbrio sobre o tema. Gostei.
Um pouco ingênuo, mas nos apresenta um período de fundamental importância da história. Mas para além do tema sobre processo de criminosos de guerra, o filme nos mostra de forma clara o resultado do processo de desnazificação, o qual criou “categorias” de nazistas de acordo com a sua importância dentro do regime e de acordo com a sua função de fato. Como preencher cargos dentro da RFA se quase todos eram nazistas? Desqualificando sua importância dentro do regime. Tal como colocado pelo procurador geral, o mais importante não era o julgamento do indivíduo como criminoso, mas o julgamento de toda a superestrutura criada para cometer crimes contra a humanidade.
Qual é o resultado da mistura entre um Freak Show e o Cirque du Soleil? Mad Max: Fury Road. Tom Hardy não soube transpotar para o personagem toda a tensão de um homem que perdeu sua família quando a sociedade começou a degringolar. A personagem de Charlize Theron poderia ter perfeitamente feito as vezes de protagonista, solo. Muita pirotecnia, parecia um Fla – Flu. Além disso, não apresentou nada de novo. Ser perseguido pelo deserto dirigindo um caminhão? Acho que já vi esse filme. E é só...
O filme não é tão ácido quanto “Cronicamente Inviável”, que tenta propor, assim como “Que horas ela volta?”, uma reflexão sobre o comportamento das classes dirigentes. Mas acho que a proposta era essa. Haja vista a escolha de Regina Casé para o papel de Val. Esse personagem é leve, descontraído. Em contrapartida, o personagem de Camila Márdina, Jéssica, é o oposto disso. É mais pesado, mais formal. "Ela olha tudo parecendo o presidente da república". A cena do diálogo na mesa de jantar é emblemática. A personagem Bárbara diz “Coitadinha, não teve um bom estudo!”. Mas muito mais que mostrar um cotidiano epidérmico nas relações do anacrônico empregado doméstico brasileiro, o filme vai mais fundo. Jéssica subverte o cotidiano da residência. Frases como “Um quarto com uma cama tão macia e ninguém usando” ou “Não é Bárbara, é dona Bárbara”, esta dita por sua mãe, nos transportam para a conservadora sociedade brasileira de sempre, mas que sempre se utiliza de seus mecanismos de disfarce, tal como a cordialidade. A cordialidade é a palavra-chave. Ela está nas principais cenas. “Val, você é como se fosse da familia”.
Decepcionante! Quando soube que o roteiro seria dos Coen achei interessante, já que, no geral, seus filmes apresentam personagens com profundidade psicológica. Não sei se foi a direção de Spielberg, não sei se o casamento não deu certo, mas o filme não empolgou, não nos apresentou à tensão da Guerra Fria dentro do contexto da Inteligência Americana e Soviética. Em alguns momentos beira o cômico, mas tudo bem, essa é uma das marcas de Spielberg. Poderiam ter explorado a carga histórica do personagem de Hanks, o qual teria feito parte do grupo de advogados americanos que participou do processo de Nuremberg. Da mesma forma, poderiam ter explorado o personagem de Rylance, ou seja, “é russo?”, “é alemão?”, “a quanto tempo está infiltrado nos Estados Unidos?”. É uma pena, poderia ter sido um filme melhor do que foi.
O documentário nos apresenta a análise política de pessoas comuns, que vivem a politica diariamente. Perguntas didáticas como “O que é política?” e “O que é democracia?” são feitas a cidadãos que tem a política partidária como muito distante de seu cotidiano. A experiência democrática insipiente do brasileiro é colocada à mostra na emissão das opiniões. Por outro lado, as análises mais surpreendentes partem de personagens improváveis. O momento escolhido para rodar o documentário era importante para a política brasileira, qual seja, campanha e pós-eleição de Lula. O “intervalo” ocorre porque é pedido um momento de reflexão em meio à euforia. Ele é “clandestino” porque era quase heresia dizer que a eleição do primeiro presidente operário não teria resultados positivos. Vozes eloquentes são ouvidas no documentário. A experiência política educa.
Antes de qualquer coisa a grande protagonista do filme é a natureza. A hostilidade da fauna e flora saltam a todo o momento da tela. O recado que parecem transmitir para os personagens é o de que “vocês não deveriam estar aqui”. Mais do que uma história sobre vingança, a sobrevivência sem dúvida ocupa lugar central. Para os personagens não há limites na busca da sobrevivência.
Visconti nos transporta para Itália de meados do século XIX quando do processo de unificação do país. O retrato que Visconti nos mostra da Sicília é único, pois destaca em grande medida as particularidades culturais do sul da Itália. Destaque para a cena do jantar, onde está a família de origem burguesa como convidada. O riso estridente da moça e a troca de olhares dos presentes simboliza o fim dos costumes aristocráticos. Novos comportamentos, novos atores sociais.
Claudio Assis segue sua tendência alternativa com “Febre do Rato”. O grupo de amigos faz as vezes da sociedade brasileira, com todas as contradições internas. O personagem Zizo nos apresenta as contradições da sociedade recifense. Inspirado por Bakunin, Zizo subverte o comportamento. Assis mais uma vez resgata as ruinas da cidade de Recife, apresentando a decadência da aristocracia pernambucana. Ao mesmo tempo, com as imagens de prédios de classe média ao lado de favelas, nos mostra que o projeto burguês de sociedade também não deu certo. Por fim, um quê de sebastianismo quando o protagonista Zizo desaparece em meio a batalha.
Silvio Tendler mostra nesse documentário sua impressão sobre o seu tempo. Contemporâneo dos eventos narrados, o diretor se coloca como personagem direto e ativo nas transformações da sociedade brasileira pós segunda guerra mundial. Para o diretor, o século XX começa definitivamente com a barbárie. Primeira e segunda guerras. Coube a geração que nasceu nos anos 40 a missão de perseguir novas perspectivas, novos paradigmas contrários aos praticados pelas gerações de fins do século XIX. A utopia e o desencanto do autor caminham lado a lado. Um se alimenta do outro.
O filme é muito bom. É o que esperamos quando vemos roteiro e direção dos Coen. História muito bem construída. Os dois principais personagens fazem muito bem o papel proposto de “caça e caçador”. Mas, além disso, destaque para o personagem de Tommy Lee Jones. Não me refiro à atuação, mas sim a importância real desse personagem para o enredo. O sheriff Ed funciona como uma bússola para entendermos o duelo entre Lleweyn Moss, veterano da guerra do Vietnã, e Anton Chigurh, subproduto do tráfico de drogas. Os diálogos do sheriff nos transportam constantemente para uma sociedade que é a antítese da que teve como referência para forma-lo. A carga histórica desse personagem salta da tela. Os Coen nos mostram um personagem que provavelmente nasceu na década de 1920, contemporâneo de pelo menos 03 guerras das quais os Estados Unidos foi protagonista. A geração anterior a sua remonta ao século XIX, outros valores, outra sociedade, outros problemas. O sheriff Ed Tom Bell é a voz de uma geração que assiste, absorta, à mutação de uma sociedade antes pautada por princípios mais conservadores. Para esse personagem, cuja idade gira ao redor dos 60 anos, sua geração não consegue acompanhar e entender a acelerada sociedade americana dos anos 80.
Acho que se pudéssemos atribuir um conceito à atmosfera retratada no filme, certamente seria “Lost Generation”.
Muita correria. Parece que o diretor estava preocupado em despejar o maior número de informações no menor tempo possível. A impressão que tive foi que a história desse filme não cabia nele e que poderia ser trabalhada de forma mais cadenciada, explorando nuances psicológicas na formação dos personagens. Parecia fim de novela da Rede Globo. Por outro lado, apresentou alguns personagens interessantes.
Quando pensamos no regime nazista logo nos lembramos das imagens produzidas pelos filmes de propaganda (alemães ou não), pelo cinema comercial e pela própria cobertura desse fenômeno político. A obra "Eichmann em Jerusalém", da já consagrada escritora de "As origens do totalitarismo", desconstrói a imagem clássica de um membro da máquina nazista. Ao se deparar, já no julgamento de Eichmann, com a aparência e narrativa extremamente frágeis, Arendt constrói o conceito da " Banalidade do Mal", onde, grosso modo, o réu era apenas um agente de uma super estrutura. O filme retrata otimamente a dificuldade do público especializado e da comunidade judaica internacional após a publicação da cobertura.
Atire a primeira pedra quem nunca buscou incessantemente a aprovação e reconhecimento a todo custo. Sem dúvida grande destaque para a trilha sonora. Protagonista como fã de Buddy Rich, um dos ícones na bateria no jazz.
Para quem gosta de jazz, ótima trilha sonora. Apresenta ao público um dos cenários dos quadrinhos underground. Amizade de Pekar com Crumb, este ícone dos underground. Destaque para a personalidade depressiva de Pekar, inspiração para escrever os roteiros. De fato os histórias falam sobre o cotidiano e, talvez, estejam um pouco distante culturalmente da nossa realidade, mas sem dúvida serviram como inspiração para sitcoms recentes, tal como Seinfeld.
Quando falamos em filmes sobre o Vietnã em geral esperamos apenas ação. Neste filme Coppola consegue introduzir um personagem principal integralmente introspectivo refletindo sobre o seu papel na guerra e relativizando a loucura no conflito. Destaque para os elementos tradicionais introduzidos pelo diretor, tais como a cavalaria americana e sua carga histórica nos conflitos e a decadência da colonização francesa na indochina.
Coragem do diretor ao rodar um filme sobre a Guerra Fria em plena Guerra Fria. Destaque para uma das cenas mais emblemáticas do cinema mundial, qual seja, um americano cavalgando uma bomba atômica. Com esta cena Kubrick resumiu toda a inconsequência e "caipirice" americanas. Não esqueçamos da bela atuação de Peter Sellers.
Filme segue o direcionamento do cinema pernambucano mais recente. Algo de contemplativo, tal como Baixio das Bestas. O protagonista é o som ambiente. Destaque para a sempre presente referência à aristocracia pernambucana, conservadorismo, etc.
A Bela da Tarde
4.1 355 Assista AgoraInserido em contexto pós-2ª guerra mundial, Belle de Jour é um daqueles filmes que nos servem como fonte primária de uma época. Época interessantíssima essa já que Severine é um símbolo da contestação dos costumes burgueses estabelecidos desde inícios do século 20. O alter ego de Severine é a síntese da libertação sexual dos anos de 1960, movimento iniciado com a contracultura em diversas partes do mundo ocidental. De fato, nota-se em Severine um pouco do “cadáver esquisito”, influência do surrealismo. A dona de casa, a burguesa e a prostituta estão em conflito constante em Severine. Sua educação sem dúvida foi orientada no sentido de transforma-la em dona de casa, os abusos na infância a iniciaram nesse mundo sexualmente permissivo, sua beleza proporcionou um “bom casamento” e a conjuntura lhe permitiu sair dos sonhos.
Clube dos Cinco
4.2 2,7K Assista AgoraJohn Hughes. Muito mais que um filme sobre a juventude nos anos de 1980, Hughes nos apresenta em “Clube dos Cinco” todas as tensões da adolescência, em especial na sociedade estadunidense dos anos de 1980, acelerada, inaugurando novos conceitos de comportamento e estética. Nascido no ano de 1950, Hughes fez parte de uma geração onde a criança e o adolescente não ocupavam lugar relevante dentro da ordem social. Hughes vivenciou a chamada “época de ouro americana”, de grande crescimento econômico após a 2ª Guerra Mundial, novos atores sociais, contracultura... Os personagens de Hughes sintetizam os rótulos do adolescente americano, cheio de dúvidas, estigmatizados... O final da redação de Brian é emblemático, “...um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso...”. Durante todo o filme Hughes tenta nos dizer que aquelas pessoas são mais que rótulos. Possuem suas próprias contradições, seus próprios medos. Talvez a grande lição de Hughes com esse filme seja tentar nos mostrar uma outra faceta da juventude.
O País dos Tenentes
3.2 7O filme nos transporta para momentos de suma importância da política brasileira. Nosso guia é o personagem de PAULO AUTRAN, tenente Gui. Este personagem, em idade já avançada, relembra os momentos nos quais o exército assumiu o protagonismo na política brasileira. Tenentismo, Golpe de 1930, Revolução Constitucionalista de 1932, Golpe de 1964. Olha para o passado com desgosto, questionando suas próprias escolhas. Ciranda ideológica: direitistas, esquerdistas e extrema-direitistas.
O Experimento de Milgram
3.5 165 Assista AgoraUm filme consistente. Principalmente o início. A fórmula de utilizar o espectador como interlocutor nos transforma em testemunhas do experimento. O tema é ácido, pouco debatido em filmes (vide o filme Hannah Arendt), mas intensamente estudado no campo da sociologia e filosofia (o problema da modernidade). Questão central do filme: Como pessoas cultas, academicamente educadas, cidadãos de uma das partes mais “desenvolvidas” do mundo puderam levar a cabo o extermínio industrial de seres humanos? O experimento de Milgram se debruça em apenas uma das facetas do extermínio, qual seja, a obediência.
Se mostrou um filme sóbrio sobre o tema. Gostei.
Labirinto de Mentiras
3.8 51 Assista AgoraUm pouco ingênuo, mas nos apresenta um período de fundamental importância da história. Mas para além do tema sobre processo de criminosos de guerra, o filme nos mostra de forma clara o resultado do processo de desnazificação, o qual criou “categorias” de nazistas de acordo com a sua importância dentro do regime e de acordo com a sua função de fato. Como preencher cargos dentro da RFA se quase todos eram nazistas? Desqualificando sua importância dentro do regime.
Tal como colocado pelo procurador geral, o mais importante não era o julgamento do indivíduo como criminoso, mas o julgamento de toda a superestrutura criada para cometer crimes contra a humanidade.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraQual é o resultado da mistura entre um Freak Show e o Cirque du Soleil? Mad Max: Fury Road.
Tom Hardy não soube transpotar para o personagem toda a tensão de um homem que perdeu sua família quando a sociedade começou a degringolar. A personagem de Charlize Theron poderia ter perfeitamente feito as vezes de protagonista, solo.
Muita pirotecnia, parecia um Fla – Flu. Além disso, não apresentou nada de novo. Ser perseguido pelo deserto dirigindo um caminhão? Acho que já vi esse filme.
E é só...
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraO filme não é tão ácido quanto “Cronicamente Inviável”, que tenta propor, assim como “Que horas ela volta?”, uma reflexão sobre o comportamento das classes dirigentes. Mas acho que a proposta era essa. Haja vista a escolha de Regina Casé para o papel de Val. Esse personagem é leve, descontraído. Em contrapartida, o personagem de Camila Márdina, Jéssica, é o oposto disso. É mais pesado, mais formal. "Ela olha tudo parecendo o presidente da república". A cena do diálogo na mesa de jantar é emblemática. A personagem Bárbara diz “Coitadinha, não teve um bom estudo!”. Mas muito mais que mostrar um cotidiano epidérmico nas relações do anacrônico empregado doméstico brasileiro, o filme vai mais fundo. Jéssica subverte o cotidiano da residência. Frases como “Um quarto com uma cama tão macia e ninguém usando” ou “Não é Bárbara, é dona Bárbara”, esta dita por sua mãe, nos transportam para a conservadora sociedade brasileira de sempre, mas que sempre se utiliza de seus mecanismos de disfarce, tal como a cordialidade. A cordialidade é a palavra-chave. Ela está nas principais cenas. “Val, você é como se fosse da familia”.
Ponte dos Espiões
3.7 695Decepcionante! Quando soube que o roteiro seria dos Coen achei interessante, já que, no geral, seus filmes apresentam personagens com profundidade psicológica. Não sei se foi a direção de Spielberg, não sei se o casamento não deu certo, mas o filme não empolgou, não nos apresentou à tensão da Guerra Fria dentro do contexto da Inteligência Americana e Soviética. Em alguns momentos beira o cômico, mas tudo bem, essa é uma das marcas de Spielberg. Poderiam ter explorado a carga histórica do personagem de Hanks, o qual teria feito parte do grupo de advogados americanos que participou do processo de Nuremberg. Da mesma forma, poderiam ter explorado o personagem de Rylance, ou seja, “é russo?”, “é alemão?”, “a quanto tempo está infiltrado nos Estados Unidos?”.
É uma pena, poderia ter sido um filme melhor do que foi.
Intervalo Clandestino
2.8 6O documentário nos apresenta a análise política de pessoas comuns, que vivem a politica diariamente. Perguntas didáticas como “O que é política?” e “O que é democracia?” são feitas a cidadãos que tem a política partidária como muito distante de seu cotidiano. A experiência democrática insipiente do brasileiro é colocada à mostra na emissão das opiniões. Por outro lado, as análises mais surpreendentes partem de personagens improváveis.
O momento escolhido para rodar o documentário era importante para a política brasileira, qual seja, campanha e pós-eleição de Lula. O “intervalo” ocorre porque é pedido um momento de reflexão em meio à euforia. Ele é “clandestino” porque era quase heresia dizer que a eleição do primeiro presidente operário não teria resultados positivos. Vozes eloquentes são ouvidas no documentário. A experiência política educa.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraAntes de qualquer coisa a grande protagonista do filme é a natureza. A hostilidade da fauna e flora saltam a todo o momento da tela. O recado que parecem transmitir para os personagens é o de que “vocês não deveriam estar aqui”. Mais do que uma história sobre vingança, a sobrevivência sem dúvida ocupa lugar central. Para os personagens não há limites na busca da sobrevivência.
O Leopardo
4.2 108 Assista AgoraVisconti nos transporta para Itália de meados do século XIX quando do processo de unificação do país. O retrato que Visconti nos mostra da Sicília é único, pois destaca em grande medida as particularidades culturais do sul da Itália. Destaque para a cena do jantar, onde está a família de origem burguesa como convidada. O riso estridente da moça e a troca de olhares dos presentes simboliza o fim dos costumes aristocráticos. Novos comportamentos, novos atores sociais.
Febre do Rato
4.0 654Claudio Assis segue sua tendência alternativa com “Febre do Rato”. O grupo de amigos faz as vezes da sociedade brasileira, com todas as contradições internas. O personagem Zizo nos apresenta as contradições da sociedade recifense. Inspirado por Bakunin, Zizo subverte o comportamento.
Assis mais uma vez resgata as ruinas da cidade de Recife, apresentando a decadência da aristocracia pernambucana. Ao mesmo tempo, com as imagens de prédios de classe média ao lado de favelas, nos mostra que o projeto burguês de sociedade também não deu certo.
Por fim, um quê de sebastianismo quando o protagonista Zizo desaparece em meio a batalha.
Utopia e Barbárie
4.5 86 Assista AgoraSilvio Tendler mostra nesse documentário sua impressão sobre o seu tempo. Contemporâneo dos eventos narrados, o diretor se coloca como personagem direto e ativo nas transformações da sociedade brasileira pós segunda guerra mundial.
Para o diretor, o século XX começa definitivamente com a barbárie. Primeira e segunda guerras. Coube a geração que nasceu nos anos 40 a missão de perseguir novas perspectivas, novos paradigmas contrários aos praticados pelas gerações de fins do século XIX.
A utopia e o desencanto do autor caminham lado a lado. Um se alimenta do outro.
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista AgoraO filme é muito bom. É o que esperamos quando vemos roteiro e direção dos Coen. História muito bem construída. Os dois principais personagens fazem muito bem o papel proposto de “caça e caçador”. Mas, além disso, destaque para o personagem de Tommy Lee Jones. Não me refiro à atuação, mas sim a importância real desse personagem para o enredo. O sheriff Ed funciona como uma bússola para entendermos o duelo entre Lleweyn Moss, veterano da guerra do Vietnã, e Anton Chigurh, subproduto do tráfico de drogas. Os diálogos do sheriff nos transportam constantemente para uma sociedade que é a antítese da que teve como referência para forma-lo. A carga histórica desse personagem salta da tela. Os Coen nos mostram um personagem que provavelmente nasceu na década de 1920, contemporâneo de pelo menos 03 guerras das quais os Estados Unidos foi protagonista. A geração anterior a sua remonta ao século XIX, outros valores, outra sociedade, outros problemas. O sheriff Ed Tom Bell é a voz de uma geração que assiste, absorta, à mutação de uma sociedade antes pautada por princípios mais conservadores. Para esse personagem, cuja idade gira ao redor dos 60 anos, sua geração não consegue acompanhar e entender a acelerada sociedade americana dos anos 80.
Acho que se pudéssemos atribuir um conceito à atmosfera retratada no filme, certamente seria “Lost Generation”.
Viajei, mas é isso...
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraMuita correria.
Parece que o diretor estava preocupado em despejar o maior número de informações no menor tempo possível. A impressão que tive foi que a história desse filme não cabia nele e que poderia ser trabalhada de forma mais cadenciada, explorando nuances psicológicas na formação dos personagens. Parecia fim de novela da Rede Globo.
Por outro lado, apresentou alguns personagens interessantes.
Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo
4.0 195Quando pensamos no regime nazista logo nos lembramos das imagens produzidas pelos filmes de propaganda (alemães ou não), pelo cinema comercial e pela própria cobertura desse fenômeno político. A obra "Eichmann em Jerusalém", da já consagrada escritora de "As origens do totalitarismo", desconstrói a imagem clássica de um membro da máquina nazista.
Ao se deparar, já no julgamento de Eichmann, com a aparência e narrativa extremamente frágeis, Arendt constrói o conceito da " Banalidade do Mal", onde, grosso modo, o réu era apenas um agente de uma super estrutura.
O filme retrata otimamente a dificuldade do público especializado e da comunidade judaica internacional após a publicação da cobertura.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,2K Assista AgoraAtire a primeira pedra quem nunca buscou incessantemente a aprovação e reconhecimento a todo custo.
Sem dúvida grande destaque para a trilha sonora. Protagonista como fã de Buddy Rich, um dos ícones na bateria no jazz.
Anti-Herói Americano
4.0 161 Assista AgoraPara quem gosta de jazz, ótima trilha sonora. Apresenta ao público um dos cenários dos quadrinhos underground. Amizade de Pekar com Crumb, este ícone dos underground. Destaque para a personalidade depressiva de Pekar, inspiração para escrever os roteiros.
De fato os histórias falam sobre o cotidiano e, talvez, estejam um pouco distante culturalmente da nossa realidade, mas sem dúvida serviram como inspiração para sitcoms recentes, tal como Seinfeld.
Apocalypse Now
4.3 1,2K Assista AgoraQuando falamos em filmes sobre o Vietnã em geral esperamos apenas ação. Neste filme Coppola consegue introduzir um personagem principal integralmente introspectivo refletindo sobre o seu papel na guerra e relativizando a loucura no conflito. Destaque para os elementos tradicionais introduzidos pelo diretor, tais como a cavalaria americana e sua carga histórica nos conflitos e a decadência da colonização francesa na indochina.
Dr. Fantástico
4.2 676 Assista AgoraCoragem do diretor ao rodar um filme sobre a Guerra Fria em plena Guerra Fria. Destaque para uma das cenas mais emblemáticas do cinema mundial, qual seja, um americano cavalgando uma bomba atômica. Com esta cena Kubrick resumiu toda a inconsequência e "caipirice" americanas. Não esqueçamos da bela atuação de Peter Sellers.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraFilme segue o direcionamento do cinema pernambucano mais recente. Algo de contemplativo, tal como Baixio das Bestas. O protagonista é o som ambiente. Destaque para a sempre presente referência à aristocracia pernambucana, conservadorismo, etc.
Beasts of No Nation
4.3 830 Assista AgoraUm murro na cara do ocidente!!!