O cenário da população em situação de rua é muito mais complexo que a falta de dinheiro, pois embora esse seja o fator mais evidente, outros elementos também se somam. ... No filme Entre Vales acompanhamos a história de uma pessoa que perdeu tudo, mas sem grandes eventos cataclismicos, simplesmente o processo cotidiano de derrotas com um casamento vazio e um trabalho que já extraiu tudo que podia e agora abandona seu empregado. ... A narrativa se desenvolve entre o presente e o passado com o aterro sanitário como local de passagem, trabalhando com metáforas muitas vezes pouco discretas sobre o fracasso e a perda. ... Os dramas brasileiros dos últimos vinte anos costumam seguir uma cartilha que é bastante funcional, linguagem mais realista com caráter quase documental que se abstém de diálogos desnecessários para focar na riqueza dos sons ambientes, filmagens sem tripé e tomadas mais longas e reflexivas.
Predadores sempre pensam esta no topo da cadeia, até que encontram algo pior. ... Em Invasores acompanhamos Anna, uma jovem agorafobica que cuida de seu irmão com uma doença terminal, até que ele morre e durante o velório sua casa é invadida por três bandidos. ... Mas não se engane, não é um simples filme de invasão, embora o título sugira, pois algo bem pior e inesperado acaba acontecendo na casa. ... Um suspense de baixo orçamento, mas com uma ótima somatória de direção, roteiro e atuação que surpreende.
Os antigos espíritos do mal resolveram atacar a cidade de São Paulo com a forma decadente de Anhangá. ... Em Skull - a Máscara de Anhangá temos um slasher tupiniquim com um assassino possuído e mascarado matando geral na cidade de São Paulo enquanto uma policial tenta descobrir o que está acontecendo e o descendente do antigo guardião procura evitar o fim do mundo. ... Tudo começa na Amazônia da década de 1940, com um ritual demoníaco feito por nazistas e utilizando o crânio de Anhangá, claro que nada funciona do jeito que eles esperavam e então avançamos para o presente. ... O filme se vale de uma estética e narrativa que remete ao trash oitentista e ajuda a justificar o baixo orçamento, mas o problema não está nos efeitos especiais (em sua maioria práticos); e sim na atuação e direção de atores que não expressam naturalidade. ... Há algumas escolhas de montagem e roteiro também questionáveis como uma introdução extensa sem diálogos e coreografias de luta fracas que falham em criar a ambiência. Para ao longo do filme presenciamos um pastiche com o noir em momentos pontuais ou sequências bobas de susto que se mostram sem propósito. ... O roteiro também se perde nas críticas que faz à nossa sociedade que é racista e acredita numa hierarquia cultural e machista, mas esta última, que poderia ser representada pelo papel da policial, acaba sendo prejudicada pela violência fetichizada das personagens femininas.
A amizade pode surgir das situações mais estranhas. ... Em Ponto de Inflexão acompanhamos Jack que, depois de roubar a máfia, se esconde no apartamento de Ludovico, precisando conviver, acabam ajudando um ao outro. Em paralelo os capangas do chefão roubado tentam encontrar o dinheiro e o responsável pelo roubo. ... Um drama sobre pessoas e suas neuroses que até possui alguns momentos mais leves, mas que nunca deixa o espectador esquecer a violência que permeia Jack e que acaba transportando para a fortaleza psicológica de Ludovico. ... Simples, praticamente restrito a um único cenário, mas com bons personagens e diálogos que em tão pouco tempo consegue fazer o espectador se importar e passar a torcer por um futuro para os dois.
Numa Tokyo devastada por uma anormalidade cósmica que a deixou semisubmersa e com bolhas gravitacionais surgindo aleatoriamente e destruindo tudo à volta, gangues disputam mantimentos em competições de parkour. ... Esse é o bizarro cenário da animação Bubble, onde acompanhamos Hibiki, um jovem com habilidades quase sobre humanas de saltar sobre escombros que sofre um acidente e é salvo por uma garota com poderes misteriosos. ... Mas se tanto roteiro, como arte conseguem nos transportar o dinamismo e velocidade deste peculiar esporte urbano, por outro lado, não tiveram tanto sucesso no desenvolvimento da interação entre os protagonistas, prejudicando a mistura romântico-dramática de Pequena Sereia e Pinóquio. ... O romance mal desenvolvido deriva da falha em dar mais clareza aos elementos fantásticos de uma personagem específica. Ainda assim, paradoxalmente o mesmo roteiro se perde no excesso de explicações expositivas para o cenário, muitas vezes redundante ao expor verbalmente informações que a própria produção já tinha passado de forma mais natural.
Quando o barco está afundando, só nos resta usar o máximo de ironia para tentar se divertir um pouco. ... Em Três Verões conhecemos Madalena, a caseira da mansão da família Lira que foi surpreendida com a prisão de seu patrão e ter seu nome usado em várias atividades ilícitas enquanto planejava as festividades de fim de ano. ... Assim, ao longo de 3 anos acompanhamos os funcionários da mansão que, sem receber salário e na falta de esperança por melhora, começam a vender tudo que encontram na casa para arrecadar dinheiro para seus salários e as contas. ... É uma comédia dramática dominado pela Regina Casé no papel da Madalena, sempre entregando aquela inocência otimista e irônica frente às piores situações; ela é acompanhada pelo veterano Rogério Fróes, que faz o patriarca da família Lira, mas que foi abandonado por ela. ... Tecnicamente, porém, se estende muito em algumas sequências, principalmente a festa na introdução que, junto à estrutura episódica, deixaram o ritmo irregular. A captação de som também falha em alguns momentos e os diálogos ficam prejudicados.
A tão desejada democracia estadunidense é muito simples, uma máquina de destruir opositores e não permitir que a balança do poder mude de lado. Estratégia que se volta não apenas para o exterior, mas para sua própria população. ... Esse ataque contra o próprio povo pode ser identificado na década de 1960, pois quando a população que sempre foi segregada e violentada passou a se manifestar por direitos e liberdades, a casta mais poderosa, essencialmente preconceituosa e racista, entrou em estado de alerta. ... Em Judas e o Messias Negro conhecemos a célula de Chicago do Partido dos Panteras Negras em 1968. Momento que Fred Hampton se destacava como um líder carismático responsável por unir as gangues da cidade, grupos pobres e excluídos vindos de diferentes origens (alguns até conflitantes) que encontraram uma causa comum pela qual lutar. ... Nesse cenário temos também William O'Neal, um ladrão de carros que é coagido pelo FBI para entrar nos Panteras Negras e servir como informante. É principalmente a partir desse personagem que acompanhamos a história, sempre na constante tensão dele ser descoberto, ou pior, que tenha sucesso e torne-se o responsável por acabar com o grupo revolucionário. ... O roteiro desenvolve principalmente as relações familiares e fraternais do círculo interno desta célula dos Panteras Negras, e apresenta o cenário político por meio dos conflitos indiretos vindos das decisões e falas inflamadas do Fred Hampton, enquanto o governo e o FBI articula seus planos, sempre evidenciando suas motivações racistas. ... Apesar dos ótimos aspectos técnicos, o filme se destaca pelas ótimas atuações, em especial Daniel Kaluya que alterna entre os momentos mais pacatos das cenas caseiras com a eloquência de seus discursos públicos e inflamados. ... Buscando um caráter quase documental em meio aos eventos romanceada, temos como complemento, imagens de arquivo pautando o que é mostrado
Quando poemas saem das páginas de um livro para a película de um filme a história narrada é o que menos importa. ... Unicórnio é uma adaptação de dois contos de Hilda Hilst, esteticamente experimental e de difícil definição narrativa, acompanhamos mãe e filha vivendo numa propriedade rural longe de tudo. Até que a chegada de um novo vizinho que cria cabras muda tudo. ... Quase como comentários sobre os acontecimentos, temos a garota conversando com o pai que supostamente está internado em um hospital psiquiátrico. ... O filme se destaca por seus elementos técnicos, mas mesmo eles possuem escolhas não muito funcionais, como a bela fotografia que recebe um reforço nos tons amarelados e saturados, mas que se perde espremido por uma razão de aspecto extremamente horizontalizada. ... Outro destaque é o som que conecta a escolha de desenvolvimento narrativo com poucos diálogos ao necessário cuidado ao ambientar a partir de sons diegético como ranger de portas, sinos de animais e o vento. ... O unicórnio aparece como sonho e metáfora da relação maternal ambígua de admiração e repulsa da garota. Da mesma forma que a existência das paredes conversa com sua ausência completa e causam o mesmo sentimento de aprisionamento. ... Infelizmente, uma série de escolhas estéticas tornaram a produção, que parecia convidar à reflexão e contemplação, em algo claustrofóbico e sonolento.
Embora no Brasil não tenhamos a supercultura do "Homem/Mulher do tempo" como celebridade, gostamos de assistir as previsões que vez ou outra se mostram erradas, mas e se alguém que realmente acertasse tudo tivesse o primeiro erro? ... Em Granizo acompanhamos Miguel Flores o homem do tempo que não erra, pelo menos assim foi ao longo de 20 anos, até que uma chuva de granizo destrói a cidade e junto vai toda sua credibilidade e fanbase. ... Afastado do emprego, foge de Buenos Aires para Córdoba, onde mora sua filha, por onde passa por um momento onde pode repensar seu relacionamento familiar e como lida com a fama que conquistou. ... A premissa da comédia pode parecer absurda, mas é divertida, em especial por causa do carismático Guillermo Francella que consegue trazer humor no drama que vive de forma natural, sem exageros.
O Brasil ainda tenta produzir filmes de gênero e apesar de um ou outro destaque, continua entrando bastante. ... Em A princesa da Yakuza acompanhamos uma garota que perdeu a família quando era criança num massacre da Yakuza e foi adotada pelo avô; além dela também conhecemos um cara desmemoriado que foge do hospital com uma espada. ... Na melhor das hipóteses temos um festival de estereótipos ambulantes amarrados numa trama clichê sobre o passado voltando para assombrar os descendentes. O roteiro é baseado numa HQ nacional escrita pelo Danilo Beyruth, Samurai Shirô, mas o dinamismo dos quadrinhos definitivamente não funcionou na versão em carne e osso. ... O filme parece gritar exagero a todo momento, desde a escolha por uma iluminação neon com alta saturação e brilho, às misturas de estilos de filmagem que parece utilizar toda a cartilha de cinema. Em muitos momentos me senti assistindo algo anacrônico, uma produção atual que reúne as falhas das décadas de 1980 a 2000. ... Além disso, temos o exagero narrativo, todos os personagens parecem se levar muito a série com frases de efeito, olhares malvados cruzando os ambientes e coreografias entre ruins e medianas, que deixam como resultado algo impossível de levar à sério.
Nos estúdios Ghibli temos praticamente dois tipos de filmes, aqueles que descobrem o fantástico no cotidiano e os que mergulham na fantasia para discutir sobre os problemas e desafios do mundo contemporâneo. ... Mas dentre tantas animações uma se destaca por fugir dessas duas categorias e apresentar um enorme experimentalismo estético: Meus Vizinhos, os Yamada. ... Uma história simples sobre uma família de classe média contada pelo que parece ser a imaginação da filha mais nova, uma criança na faixa dos sete anos que transforma tudo o que ouve de seus pais numa narrativa divertida apresentada com traço de rascunho em lápis e colorido com aquarela. ... Dividido em vários capítulos, assistimos a animação como se maratonássemos uma série episódio após o outro. Mas por causa da forma como a animação foi desenvolvida, parece que estamos lendo alguma tirinha de HQ que seria facilmente publicada nos jornais. ... Essa impressão de história em quadrinhos não é a toa, pois a base que serviu de inspiração foi o mangá Nonochan de Hisaichi Ishii. Um sucesso no Japão que vem sendo publicado desde 1991. ... É interessante como todos os membros da família se tornam quase arquétipos dos quais podemos reconhecer apesar das diferenças culturais. No entanto, o caráter episódico que permite piadas rápidas e pontuais, acaba tornando a experiência um pouco cansativa. ...
Quando os gráficos dos jogos ainda engatinhavam na década de 1980 os programadores precisavam usar toda sua imaginação para manter o público entretido, foi assim que nasceram os RPGs por linha de comando. ... Escolha ou Morra é uma espécie de versão de baixíssimo orçamento de Jumanji no gênero horror. Nele, acompanhamos Kayla uma garota que encontra o jogo oitentista Curs>r e ao iniciá-lo é obrigada a fazer escolhas de vida ou morte sobre as pessoas à sua volta. ... A premissa não é tão inovadora, mas seria suficientemente interessante se o desenvolvimento não fosse tão fraco, parece um filme B da década de 1990 e nem estou falando por causa dos efeitos especiais. ... Tudo é mal resolvido, da narrativa travada e sem propósito, aos atores deslocados, a protagonista então é surpreendentemente ruim. Talvez tudo se resolveria melhor num curta, ou num daqueles filmes interativos, mas não dá forma como foi entregue. ... O que mais me surpreendeu foi a presença do Asa Butterfield que devia estar com muitos boletos atrasados para "escolher" esse roteiro. E temos também como maior decepção a participação do Robert Englund, que foi prometida na fase de produção, mas malemal entregou a voz para uma gravação.
A Pandemia apenas acentuou, mas as narrativas sobre o fim do mundo como o conhecemos já vinham aumentado no cinema. ... Em Agora Estamos Sozinhos acompanhamos Del, um bibliotecário que pensou ser o último sobrevivente da espécie humana. Ele passa o tempo limpando todas as casas abandonadas da cidade e buscando sustento até descobrir não ser o último com a chegada de Grace que abala a rotina já estabelecida, mas provoca Del a sair do isolamento que vivia antes mesmo de todas as pessoas da cidade morrerem. ... Uma ficção científica intimista sobre o fim da humanidade, e que levanta questões sobre como levamos nossas vidas em isolamento ou comunidade, aceitação e estagnação, a felicidade encontrada na ignorância em oposição ao conhecimento do fim. ... É um filme de baixo orçamento, mas que soube construir perfeitamente o cenário de desolação melancólico e claustrofóbico por meio de uma fotografia azulada e recorrentemente emoldurada em sombras ou corredores, com ritmo lento e conduzida por poucos diálogos. ... A interação entre os personagens de Peter Dinklage e Ellen Fanning leva o filme e eles mostram como são atores excepcionais ao transmitir dor, medo, surpresa ou decepção com mínimas mudanças na expressão. .... Agora, como é irritante escolher um filme na Amazon e descobrir que ele só tem dublado, caramba, o streaming não é rico o suficiente para colocar legendas?
Aos pés do Monte Fuji no Japão, uma densa floresta é conhecida por seu turismo particular, um onde quem vai, não volta mais, cenário perfeito para um filme de terror ... Vila dos Suicídios é mais uma produção que utiliza essa floresta para ambientar sua história dando continuidade à série temática de Takashi Shimizu sobre vilas assombradas. Nesse caso ele desenvolveu sua história a partir de uma lenda urbana sobre as pessoas que não conseguiram se matar na floresta e passaram a viver numa espécie de vila. ... Prepare-se então para mais uma produção problemática, tudo começa com um carro margeando a floresta e quase atropelando duas crianças que saem entre as árvores. Em seguida uma Youtuber faz uma live na floresta e encontra algo que não queria; depois passamos a vez para uma de suas fãs, Hibiki Amasawa, uma garota retraída que assiste a morte da Youtuber e ao descobrir uma estranha caixa de madeira debaixo de casa desencadeia uma série de mortes. ... Apesar de tomar um tempo maior com Hibiki, logo ela é substituída mais uma vez numa tentativa de surpreender e acrescer o terror, mas definitivamente falha sem entregar um protagonista que podemos nos importar e à medida que o filme passa, sempre tem alguém para virar o principal e morrer ou ser retirado de cena em seguida. ... O roteiro tem sérios problemas em apresentar personagens, e estes são jogados aos montes na história num entra e sai confuso que não possibilita nenhuma conexão, um dos maiores problemas do filme anterior de Takashi, Vila dos Uivos, que ele repete mais uma vez. ... Outra semelhança com essa produção anterior é a forma como usa espíritos para guiar a narrativa com alguns sustos, mas mesmo isso não é bem colocado e a história se mostra tediosa em uma duração excessivamente longa. ... O mais incômodo é que existem boas ideias, a imaginação para criar novos conceitos visuais e narrativos poderiam gerar algo muito inovador, mas simplesmente não consegue e vemos todo o potencial sendo desperdiçado e dissolvendo na nossa frente.
Parece que o Nicolas Cage desistiu de escolher roteiros pelo conteúdo e passou a decidir simplesmente por palavras-chave, desta vez: insônia. ... Em Ajuste de Contas, Cage ganha a liberdade depois de quase 20 anos preso para tratar de uma condição de saúde: insônia crônica que pode matá-lo. Além disso, o próprio título entrega que o passado não fica para trás e preparar uma vingança parece inevitável. ... Sim, é um filme de clichês e momentos constrangedoramente bregas, apesar disso ele consegue trazer outros elementos como as alucinações que assombram o personagem pela falta de sono, e a relação pai e filho com dimensões interessantes. ... Mas por fim o resultado é no máximo razoável, pois passamos por uma gangorra de ideias boas e outras bem ruins, que faz parecer que o filme foi amarrado na mesa de montagem como se tivessem juntado fragmentos de vários outras filmes. Uma boa montagem, pois existe coesão entre as partes, mas totalmente irregular entre as partes.
Em 2015 Poorna Malavarth foi a mulher mais jovem a escalar o Monte Everest aos 13 anos e 11 meses, mas sua jornada até o ponto mais alto do mundo não se restringe à escalada. ... Em Poorna acompanhamos duas narrativas entrelaçadas, a vida da garota que sai de um vilarejo rural indiano; e o secretário do governo Praveen Kumar que depois de voltar do Reino Unido entra em contato com a precariedade do estudo em seu país e começa a traçar planos de investimento e mudar a percepção do governo, professores e da própria sociedade. ... O filme começa com a garota lutando contra a febre já próximo do Everest, no último campo de apoio antes do topo. Em seguida volta no tempo e nos leva para o cotidiano pobre com costumes de desvalorização do ensino, em especial das mulheres que tem como papel social apenas casar para ajudar a família. ... Sua produção apresenta características independentes com dos atores amadores, mas depois de um breve estranhamento, é fácil se deixar levar pelos desafios enfrentados por Poorna e o secretário Kumar. ... Além disso, temos um roteiro muito detalhista na apresentação da cultura do país, expondo questões controversas sem medo, ainda que também sem demonstrar juízos de valor diretamente. Assim, apresenta um interessante panorama cultural, uma oportunidade de imersão antropológica.
Lobisomem é um jogo de cartas de blefe e papel escondido bem conhecido que entre as inúmeras variações temos o Detetive. Cada um pega uma carta que representa um tipo de personagem e ganha quem sobrar por último. ... Bem simples e difícil de transpor para um filme, Um Lobo Entre Nós tentou e para construir uma narrativa no entorno ainda utilizou fórmulas típicas dos livros de Agatha Christie. ... É assim que passamos a conhecer os excêntricos moradores da pequena cidade de Beaverfield que, por causa de uma nevasca e a morte do cachorro de estimação de um deles, todos se abrigam no único hotel da cidade desconfiando um do outro. ... É uma comédia exageradamente caricata com personagens estranhos que não se dão bem, com quase todos os ator se completamente fora de tom. Mas o pior é que para algo que se pretende misterioso, tudo é extremamente previsível.
Todas famílias tem seus segredos, mas alguns podem ser mais aterrorizantes. ... Em Segredos do Castelo acompanhamos as irmãs Mary e Constance Blackwood, elas perderam os pais num violento assassinato por envenenamento sem solução e o tio cadeirante. ... Esse tio vem perdendo progressivamente suas capacidades mentais, mas tenta escrever um livro de memórias; a filha mais velha foi investigada como principal suspeita pela morte dos pais, mas inocentada; e a irmã mais nova sofre diretamente com o ódio da cidade, pois é a única que sai da propriedade e se protege com feitiços. ... Os moradores do vilarejo nunca gostaram dos Blackwood por serem ricos e arrogantes, mas após o assassinato passaram a ser mais agressivos. Tudo ia mal, mas sob controle, até a chegada de um primo distante que começa a mudar a dinâmica da casa. ... Mas os segredos do título nacional vão muito além e não são esclarecidos, vemos apenas nas entrelinhas um patriarca odiado por explorar a comunidade e que possivelmente abusava da filha mais velha. ... É um filme com personagens excêntricos que não lidaram bem com o luto e ganha uma aura de fábula e atmosfera claustrofóbica a partir da misteriosa narração de Mary e da fotografia que mescla um colorido anos 1960 e o obscuro gótico. O ritmo de tensão crescente dividido em vários capítulos seguindo a semana.
Quando o mundo te ignora, o Heavy Metal pode ser a solução. ... Em Metal Lords acompanhamos dois adolescentes tentando emplacar sua banda de Doom Pós Metal na batalha das bandas enquanto vivem suas vidas como adolescentes, conhecendo garotas, arranjando brigas e jogando RPG. ... Como história não temos nada de novo, a jornada de pessoas excluídas que encontram algo em que se destacam e precisam superar desafios... Ok, isso resume metade dos filmes já lançados, mas quando o conteúdo não é novidade, outras coisas precisam se destacar. ... Assim, temos uma ótima química entre personagens embalada por várias vertentes do Metal que vai de Metallica à Anthrax passando por Judas Priest e muito mais. Com direito a participação especial de alguns membros dessas bandas.
Na atual época das revisitas à clássicos das décadas anteriores, chegou a vez de A Lenda de Candyman,filme de terror trash com crítica social dos anos de 1990 baseado num conto de Clive Barker. ... Assim, nessa continuação, que ignora as outras continuações, acompanhamos um artista que, em busca de inspiração, invade um antigo conjunto habitacional criado para a população mais pobre da cidade de Chicago, mas que no presente vem sofrendo um processo de gentrificação com o esvaziamento dos locais e aumento de aluguéis. ... Embora não tão explícito, a franquia sempre reservava algo a mais que um simples slasher de assassino imparável. No entanto, falta ao filme atual um terror mais direto, há sim toda a criação de uma ambientação, mas a narrativa, o ritmo, as escolhas feitas pela diretora para conduzir uma trama sobre racismo, levaram o filme para algo mais voltado ao drama social apenas com elementos do terror. ... O roteiro não tem pressa, vai pontuando aos poucos a história e criando a ambientação a partir dos cenários e flashbacks. Deste último, temos a utilização de um interessante recurso de teatro de sombras com marionetes para trazer ao espectador os eventos do primeiro filme. Mas é uma história deturpada e que corresponde à visão de quem está contando, não exatamente ao que ocorreu no filme. ... Temos então uma produção sustentada por simbologias, que levanta questões sobre o racismo e seu impacto em grupos negros de diferentes esferas sociais; assim como eleva o conjunto habitacional Cabrini-Green à condição de personagem ao retornar a narrativa ao mesmo local do filme original e mostrar a pressão da especulação imobiliária ao longo do tempo que força a gentrificação do espaço.
Nem toda obra de um grande diretor ganha o devido reconhecimento, as vezes por arriscar em outros gêneros, outras por fugir de todas as convenções. Virgínia é uma mistura dos dois casos, uma pérola escondida que Francis Ford Coppola escreveu, produziu e dirigiu. ... Em Virgínia acompanhamos um autor de livros de terror que chega em uma cidadezinha para uma tarde de autógrafos, sem muito sucesso, seu ponto alto é conhecer o xerife que também escreve e quer fazer uma parceria para contar sobre o passado sangrento da cidade. ... Logo o escritor se torna detetive e entre o mundo terreno e o dos sonhos começa a desvendar a série de assassinatos que ocorreram na década de 1950 e podem estar acontecendo no presente, sempre contando com a visita do misterioso Alan Poe. ... É um roteiro que tem vários dos elementos típicos de Stephen King, trazendo referências para a atmosfera ou mesmo satirizando o autor, mas que vai se tornando cada vez mais mergulhando no surreal. ... A cidade preconceituosa representada pelo xerife no presente e um pastor no passado, duas figuras de suposta segurança que escondem o pior que podemos encontrar na humanidade. A própria cidade é assombrada por um passado e tem além de ruínas abandonadas uma torre de relógio com sete faces, cada uma marcando um horário diferente. ... Coppola também brinca com as possibilidades técnicas de um baixo orçamento e a estética gótica do terror livre de qualquer exigência de grandes estúdios. E assim ele alterna entre o tom morno e tedioso com cores terrosas do real contrastando com o preto e branco super saturado do onírico que utiliza os efeitos que vimos Sin City e Spirit, ambos do Frank Miller. ... A estranheza é coroada com o nunca explicado momento em que a câmera "veste" óculos com lentes coloridas, daqueles antigos que pegamos no cinema para ter uma percepção de visão 3d.
Não tem jeito, a Pandemia afetou todo o mundo de uma forma ou de outra, e se esse tema continuará a ser utilizado outra e outra vez, que seja com um pouco de imaginação. ... No filme A Bolha acompanhando os bastidores de uma franquia interminável de ação que, no meio da Pandemia, isola toda a equipe para fazer mais uma continuação. ... A ideia de uma comédia mostrando a indústria do cinema desesperada por produzir qualquer coisa enquanto todo o resto foi paralisado explorando toda a cadeia é interessante, assim como ver astros egocêntricos defendendo causas apenas para ganhar mais likes nas redes sociais, poderia render algo. ... Mas o filme assume uma comédia pastelão com pouquíssima graça de sarcasmos rasos que no máximo tiram um ou outro sorriso ao associarmos à algo que existe de verdade. A caricatura é tão exagerada, de personagens e situações, que as pretensões críticas acabam não passando do bobo na maior parte do tempo.
A história do amor proibido de dois jovens em famílias rivais foi imortalizado por Shakespeare e virou ele mesmo um subgênero do romance. E para se destacar nesse tipo de trama, Amor Sublime Amor trata o conflito com muita cantoria numa Nova York que sofre com as transformações urbanas da década de 1950. ... Assim, acompanhamos o amor proibido entre Tony e Maria que precisam enfrentar as gangues dos Jets, estadunidenses pobres e descendentes de irlandeses; contra os Sharks, porto riquenhos recém chegados ao bairro e que sofre com a especulação imobiliária e gentrificação. ... É um musical pode funcionar até para quem não gosta desse tipo de filme, pois embora tenhamos números de dança e cantoria, eles não são tão generalizados como alguns exemplares do gênero. ... Trata-se da regravação de um clássico de 1961, que por sua vez foi adaptado de uma peça da Broadway lançada em 1957. De forma a levantar um questionamento sobre a necessidade de regravar um filme que é um marco do cinema, ainda que tenha acontecido modificações pontuais em alguns elementos que atualmente percebemos problemáticos do original. ... O elenco porto riquenho é o destaque, em especial Rita Moreno que tinha vencido o Oscar em 1961 no papel de Anita, está também a melhor atriz da versão atual, interpretada pela ótima Ariana DeBose. Os cenários grandiosos são preenchidos cuidadosamente com elementos do final da década de 1950 e a fotografia nós joga definitivamente na época retratada. ... Vale mencionar a interessante escolha do diretor (Spielberg) em deixar grade parte dos diálogos dos porto riquenhos em espanhol e sem legenda, funcionando quase como provocação ao público estadunidense preconceituoso e que insiste em ignorar que parte considerável de sua população é de origem hispânica ... Ainda assim, achei o filme cansativo e com problemas no ritmo, e se de um lado temos personagem carismáticos, os irlandeses são muito sem graça e prejudicam nossa imersão no filme. ...
Numa guerra não importa o lado que você estiver, as maiores vítimas serão sempre as pessoas comuns. ... Em Bombardeio acompanhamos múltiplas narrativas que convergem pouco a pouco para um grande clímax, mas temos principalmente três núcleos: crianças que tentam entender o caos à sua volta e as influências que recebe dos adultos; uma freira e um soldado nazista em crise com suas crenças; e pilotos da força aérea britânica se preparando para um ataque. ... Um drama de guerra sob a perspectiva das vítimas apresentado a partir de um roteiro bem divido em dois momentos: a apresentação dos personagens que cultivam nossa empatia antes do "efeito guerra" realmente acontecer, momento o qual até a esperança é permitida. ... A partir da segunda metade do filme, passamos para o drama que abraça completamente a narrativa a partir de um único recorte, simples, mas suficiente para falar sobre o que é uma guerra. ... O final abrupto que ficou um pouco estranho, pois os personagens são abandonados à medida que o roteiro não os considera mais necessários para a trama principal, e não se importa em deixar alguns que alguns deixem sua conclusão em aberto.
Entre Vales
3.2 23O cenário da população em situação de rua é muito mais complexo que a falta de dinheiro, pois embora esse seja o fator mais evidente, outros elementos também se somam.
...
No filme Entre Vales acompanhamos a história de uma pessoa que perdeu tudo, mas sem grandes eventos cataclismicos, simplesmente o processo cotidiano de derrotas com um casamento vazio e um trabalho que já extraiu tudo que podia e agora abandona seu empregado.
...
A narrativa se desenvolve entre o presente e o passado com o aterro sanitário como local de passagem, trabalhando com metáforas muitas vezes pouco discretas sobre o fracasso e a perda.
...
Os dramas brasileiros dos últimos vinte anos costumam seguir uma cartilha que é bastante funcional, linguagem mais realista com caráter quase documental que se abstém de diálogos desnecessários para focar na riqueza dos sons ambientes, filmagens sem tripé e tomadas mais longas e reflexivas.
Invasores
2.6 188 Assista AgoraPredadores sempre pensam esta no topo da cadeia, até que encontram algo pior.
...
Em Invasores acompanhamos Anna, uma jovem agorafobica que cuida de seu irmão com uma doença terminal, até que ele morre e durante o velório sua casa é invadida por três bandidos.
...
Mas não se engane, não é um simples filme de invasão, embora o título sugira, pois algo bem pior e inesperado acaba acontecendo na casa.
...
Um suspense de baixo orçamento, mas com uma ótima somatória de direção, roteiro e atuação que surpreende.
Skull: A Máscara de Anhangá
2.8 73 Assista AgoraOs antigos espíritos do mal resolveram atacar a cidade de São Paulo com a forma decadente de Anhangá.
...
Em Skull - a Máscara de Anhangá temos um slasher tupiniquim com um assassino possuído e mascarado matando geral na cidade de São Paulo enquanto uma policial tenta descobrir o que está acontecendo e o descendente do antigo guardião procura evitar o fim do mundo.
...
Tudo começa na Amazônia da década de 1940, com um ritual demoníaco feito por nazistas e utilizando o crânio de Anhangá, claro que nada funciona do jeito que eles esperavam e então avançamos para o presente.
...
O filme se vale de uma estética e narrativa que remete ao trash oitentista e ajuda a justificar o baixo orçamento, mas o problema não está nos efeitos especiais (em sua maioria práticos); e sim na atuação e direção de atores que não expressam naturalidade.
...
Há algumas escolhas de montagem e roteiro também questionáveis como uma introdução extensa sem diálogos e coreografias de luta fracas que falham em criar a ambiência. Para ao longo do filme presenciamos um pastiche com o noir em momentos pontuais ou sequências bobas de susto que se mostram sem propósito.
...
O roteiro também se perde nas críticas que faz à nossa sociedade que é racista e acredita numa hierarquia cultural e machista, mas esta última, que poderia ser representada pelo papel da policial, acaba sendo prejudicada pela violência fetichizada das personagens femininas.
Ponto de Inflexão
3.3 21 Assista AgoraA amizade pode surgir das situações mais estranhas.
...
Em Ponto de Inflexão acompanhamos Jack que, depois de roubar a máfia, se esconde no apartamento de Ludovico, precisando conviver, acabam ajudando um ao outro. Em paralelo os capangas do chefão roubado tentam encontrar o dinheiro e o responsável pelo roubo.
...
Um drama sobre pessoas e suas neuroses que até possui alguns momentos mais leves, mas que nunca deixa o espectador esquecer a violência que permeia Jack e que acaba transportando para a fortaleza psicológica de Ludovico.
...
Simples, praticamente restrito a um único cenário, mas com bons personagens e diálogos que em tão pouco tempo consegue fazer o espectador se importar e passar a torcer por um futuro para os dois.
Bubble
3.3 37 Assista AgoraNuma Tokyo devastada por uma anormalidade cósmica que a deixou semisubmersa e com bolhas gravitacionais surgindo aleatoriamente e destruindo tudo à volta, gangues disputam mantimentos em competições de parkour.
...
Esse é o bizarro cenário da animação Bubble, onde acompanhamos Hibiki, um jovem com habilidades quase sobre humanas de saltar sobre escombros que sofre um acidente e é salvo por uma garota com poderes misteriosos.
...
Mas se tanto roteiro, como arte conseguem nos transportar o dinamismo e velocidade deste peculiar esporte urbano, por outro lado, não tiveram tanto sucesso no desenvolvimento da interação entre os protagonistas, prejudicando a mistura romântico-dramática de Pequena Sereia e Pinóquio.
...
O romance mal desenvolvido deriva da falha em dar mais clareza aos elementos fantásticos de uma personagem específica. Ainda assim, paradoxalmente o mesmo roteiro se perde no excesso de explicações expositivas para o cenário, muitas vezes redundante ao expor verbalmente informações que a própria produção já tinha passado de forma mais natural.
Três Verões
3.2 78Quando o barco está afundando, só nos resta usar o máximo de ironia para tentar se divertir um pouco.
...
Em Três Verões conhecemos Madalena, a caseira da mansão da família Lira que foi surpreendida com a prisão de seu patrão e ter seu nome usado em várias atividades ilícitas enquanto planejava as festividades de fim de ano.
...
Assim, ao longo de 3 anos acompanhamos os funcionários da mansão que, sem receber salário e na falta de esperança por melhora, começam a vender tudo que encontram na casa para arrecadar dinheiro para seus salários e as contas.
...
É uma comédia dramática dominado pela Regina Casé no papel da Madalena, sempre entregando aquela inocência otimista e irônica frente às piores situações; ela é acompanhada pelo veterano Rogério Fróes, que faz o patriarca da família Lira, mas que foi abandonado por ela.
...
Tecnicamente, porém, se estende muito em algumas sequências, principalmente a festa na introdução que, junto à estrutura episódica, deixaram o ritmo irregular. A captação de som também falha em alguns momentos e os diálogos ficam prejudicados.
Judas e o Messias Negro
4.1 516 Assista AgoraA tão desejada democracia estadunidense é muito simples, uma máquina de destruir opositores e não permitir que a balança do poder mude de lado. Estratégia que se volta não apenas para o exterior, mas para sua própria população.
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Esse ataque contra o próprio povo pode ser identificado na década de 1960, pois quando a população que sempre foi segregada e violentada passou a se manifestar por direitos e liberdades, a casta mais poderosa, essencialmente preconceituosa e racista, entrou em estado de alerta.
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Em Judas e o Messias Negro conhecemos a célula de Chicago do Partido dos Panteras Negras em 1968. Momento que Fred Hampton se destacava como um líder carismático responsável por unir as gangues da cidade, grupos pobres e excluídos vindos de diferentes origens (alguns até conflitantes) que encontraram uma causa comum pela qual lutar.
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Nesse cenário temos também William O'Neal, um ladrão de carros que é coagido pelo FBI para entrar nos Panteras Negras e servir como informante. É principalmente a partir desse personagem que acompanhamos a história, sempre na constante tensão dele ser descoberto, ou pior, que tenha sucesso e torne-se o responsável por acabar com o grupo revolucionário.
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O roteiro desenvolve principalmente as relações familiares e fraternais do círculo interno desta célula dos Panteras Negras, e apresenta o cenário político por meio dos conflitos indiretos vindos das decisões e falas inflamadas do Fred Hampton, enquanto o governo e o FBI articula seus planos, sempre evidenciando suas motivações racistas.
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Apesar dos ótimos aspectos técnicos, o filme se destaca pelas ótimas atuações, em especial Daniel Kaluya que alterna entre os momentos mais pacatos das cenas caseiras com a eloquência de seus discursos públicos e inflamados.
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Buscando um caráter quase documental em meio aos eventos romanceada, temos como complemento, imagens de arquivo pautando o que é mostrado
Unicórnio
3.0 51Quando poemas saem das páginas de um livro para a película de um filme a história narrada é o que menos importa.
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Unicórnio é uma adaptação de dois contos de Hilda Hilst, esteticamente experimental e de difícil definição narrativa, acompanhamos mãe e filha vivendo numa propriedade rural longe de tudo. Até que a chegada de um novo vizinho que cria cabras muda tudo.
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Quase como comentários sobre os acontecimentos, temos a garota conversando com o pai que supostamente está internado em um hospital psiquiátrico.
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O filme se destaca por seus elementos técnicos, mas mesmo eles possuem escolhas não muito funcionais, como a bela fotografia que recebe um reforço nos tons amarelados e saturados, mas que se perde espremido por uma razão de aspecto extremamente horizontalizada.
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Outro destaque é o som que conecta a escolha de desenvolvimento narrativo com poucos diálogos ao necessário cuidado ao ambientar a partir de sons diegético como ranger de portas, sinos de animais e o vento.
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O unicórnio aparece como sonho e metáfora da relação maternal ambígua de admiração e repulsa da garota. Da mesma forma que a existência das paredes conversa com sua ausência completa e causam o mesmo sentimento de aprisionamento.
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Infelizmente, uma série de escolhas estéticas tornaram a produção, que parecia convidar à reflexão e contemplação, em algo claustrofóbico e sonolento.
Granizo
3.0 58Embora no Brasil não tenhamos a supercultura do "Homem/Mulher do tempo" como celebridade, gostamos de assistir as previsões que vez ou outra se mostram erradas, mas e se alguém que realmente acertasse tudo tivesse o primeiro erro?
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Em Granizo acompanhamos Miguel Flores o homem do tempo que não erra, pelo menos assim foi ao longo de 20 anos, até que uma chuva de granizo destrói a cidade e junto vai toda sua credibilidade e fanbase.
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Afastado do emprego, foge de Buenos Aires para Córdoba, onde mora sua filha, por onde passa por um momento onde pode repensar seu relacionamento familiar e como lida com a fama que conquistou.
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A premissa da comédia pode parecer absurda, mas é divertida, em especial por causa do carismático Guillermo Francella que consegue trazer humor no drama que vive de forma natural, sem exageros.
A Princesa da Yakuza
2.4 54 Assista AgoraO Brasil ainda tenta produzir filmes de gênero e apesar de um ou outro destaque, continua entrando bastante.
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Em A princesa da Yakuza acompanhamos uma garota que perdeu a família quando era criança num massacre da Yakuza e foi adotada pelo avô; além dela também conhecemos um cara desmemoriado que foge do hospital com uma espada.
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Na melhor das hipóteses temos um festival de estereótipos ambulantes amarrados numa trama clichê sobre o passado voltando para assombrar os descendentes. O roteiro é baseado numa HQ nacional escrita pelo Danilo Beyruth, Samurai Shirô, mas o dinamismo dos quadrinhos definitivamente não funcionou na versão em carne e osso.
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O filme parece gritar exagero a todo momento, desde a escolha por uma iluminação neon com alta saturação e brilho, às misturas de estilos de filmagem que parece utilizar toda a cartilha de cinema. Em muitos momentos me senti assistindo algo anacrônico, uma produção atual que reúne as falhas das décadas de 1980 a 2000.
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Além disso, temos o exagero narrativo, todos os personagens parecem se levar muito a série com frases de efeito, olhares malvados cruzando os ambientes e coreografias entre ruins e medianas, que deixam como resultado algo impossível de levar à sério.
Meus Vizinhos, os Yamadas
3.9 119 Assista AgoraNos estúdios Ghibli temos praticamente dois tipos de filmes, aqueles que descobrem o fantástico no cotidiano e os que mergulham na fantasia para discutir sobre os problemas e desafios do mundo contemporâneo.
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Mas dentre tantas animações uma se destaca por fugir dessas duas categorias e apresentar um enorme experimentalismo estético: Meus Vizinhos, os Yamada.
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Uma história simples sobre uma família de classe média contada pelo que parece ser a imaginação da filha mais nova, uma criança na faixa dos sete anos que transforma tudo o que ouve de seus pais numa narrativa divertida apresentada com traço de rascunho em lápis e colorido com aquarela.
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Dividido em vários capítulos, assistimos a animação como se maratonássemos uma série episódio após o outro. Mas por causa da forma como a animação foi desenvolvida, parece que estamos lendo alguma tirinha de HQ que seria facilmente publicada nos jornais.
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Essa impressão de história em quadrinhos não é a toa, pois a base que serviu de inspiração foi o mangá Nonochan de Hisaichi Ishii. Um sucesso no Japão que vem sendo publicado desde 1991.
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É interessante como todos os membros da família se tornam quase arquétipos dos quais podemos reconhecer apesar das diferenças culturais. No entanto, o caráter episódico que permite piadas rápidas e pontuais, acaba tornando a experiência um pouco cansativa.
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Escolha ou Morra
2.1 242 Assista AgoraQuando os gráficos dos jogos ainda engatinhavam na década de 1980 os programadores precisavam usar toda sua imaginação para manter o público entretido, foi assim que nasceram os RPGs por linha de comando.
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Escolha ou Morra é uma espécie de versão de baixíssimo orçamento de Jumanji no gênero horror. Nele, acompanhamos Kayla uma garota que encontra o jogo oitentista Curs>r e ao iniciá-lo é obrigada a fazer escolhas de vida ou morte sobre as pessoas à sua volta.
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A premissa não é tão inovadora, mas seria suficientemente interessante se o desenvolvimento não fosse tão fraco, parece um filme B da década de 1990 e nem estou falando por causa dos efeitos especiais.
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Tudo é mal resolvido, da narrativa travada e sem propósito, aos atores deslocados, a protagonista então é surpreendentemente ruim. Talvez tudo se resolveria melhor num curta, ou num daqueles filmes interativos, mas não dá forma como foi entregue.
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O que mais me surpreendeu foi a presença do Asa Butterfield que devia estar com muitos boletos atrasados para "escolher" esse roteiro. E temos também como maior decepção a participação do Robert Englund, que foi prometida na fase de produção, mas malemal entregou a voz para uma gravação.
Agora Estamos Sozinhos
2.7 127 Assista AgoraA Pandemia apenas acentuou, mas as narrativas sobre o fim do mundo como o conhecemos já vinham aumentado no cinema.
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Em Agora Estamos Sozinhos acompanhamos Del, um bibliotecário que pensou ser o último sobrevivente da espécie humana. Ele passa o tempo limpando todas as casas abandonadas da cidade e buscando sustento até descobrir não ser o último com a chegada de Grace que abala a rotina já estabelecida, mas provoca Del a sair do isolamento que vivia antes mesmo de todas as pessoas da cidade morrerem.
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Uma ficção científica intimista sobre o fim da humanidade, e que levanta questões sobre como levamos nossas vidas em isolamento ou comunidade, aceitação e estagnação, a felicidade encontrada na ignorância em oposição ao conhecimento do fim.
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É um filme de baixo orçamento, mas que soube construir perfeitamente o cenário de desolação melancólico e claustrofóbico por meio de uma fotografia azulada e recorrentemente emoldurada em sombras ou corredores, com ritmo lento e conduzida por poucos diálogos.
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A interação entre os personagens de Peter Dinklage e Ellen Fanning leva o filme e eles mostram como são atores excepcionais ao transmitir dor, medo, surpresa ou decepção com mínimas mudanças na expressão.
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Agora, como é irritante escolher um filme na Amazon e descobrir que ele só tem dublado, caramba, o streaming não é rico o suficiente para colocar legendas?
A Vila dos Suicídios
1.9 33 Assista AgoraAos pés do Monte Fuji no Japão, uma densa floresta é conhecida por seu turismo particular, um onde quem vai, não volta mais, cenário perfeito para um filme de terror
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Vila dos Suicídios é mais uma produção que utiliza essa floresta para ambientar sua história dando continuidade à série temática de Takashi Shimizu sobre vilas assombradas. Nesse caso ele desenvolveu sua história a partir de uma lenda urbana sobre as pessoas que não conseguiram se matar na floresta e passaram a viver numa espécie de vila.
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Prepare-se então para mais uma produção problemática, tudo começa com um carro margeando a floresta e quase atropelando duas crianças que saem entre as árvores. Em seguida uma Youtuber faz uma live na floresta e encontra algo que não queria; depois passamos a vez para uma de suas fãs, Hibiki Amasawa, uma garota retraída que assiste a morte da Youtuber e ao descobrir uma estranha caixa de madeira debaixo de casa desencadeia uma série de mortes.
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Apesar de tomar um tempo maior com Hibiki, logo ela é substituída mais uma vez numa tentativa de surpreender e acrescer o terror, mas definitivamente falha sem entregar um protagonista que podemos nos importar e à medida que o filme passa, sempre tem alguém para virar o principal e morrer ou ser retirado de cena em seguida.
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O roteiro tem sérios problemas em apresentar personagens, e estes são jogados aos montes na história num entra e sai confuso que não possibilita nenhuma conexão, um dos maiores problemas do filme anterior de Takashi, Vila dos Uivos, que ele repete mais uma vez.
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Outra semelhança com essa produção anterior é a forma como usa espíritos para guiar a narrativa com alguns sustos, mas mesmo isso não é bem colocado e a história se mostra tediosa em uma duração excessivamente longa.
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O mais incômodo é que existem boas ideias, a imaginação para criar novos conceitos visuais e narrativos poderiam gerar algo muito inovador, mas simplesmente não consegue e vemos todo o potencial sendo desperdiçado e dissolvendo na nossa frente.
Ajuste de Contas
2.3 56Parece que o Nicolas Cage desistiu de escolher roteiros pelo conteúdo e passou a decidir simplesmente por palavras-chave, desta vez: insônia.
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Em Ajuste de Contas, Cage ganha a liberdade depois de quase 20 anos preso para tratar de uma condição de saúde: insônia crônica que pode matá-lo. Além disso, o próprio título entrega que o passado não fica para trás e preparar uma vingança parece inevitável.
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Sim, é um filme de clichês e momentos constrangedoramente bregas, apesar disso ele consegue trazer outros elementos como as alucinações que assombram o personagem pela falta de sono, e a relação pai e filho com dimensões interessantes.
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Mas por fim o resultado é no máximo razoável, pois passamos por uma gangorra de ideias boas e outras bem ruins, que faz parecer que o filme foi amarrado na mesa de montagem como se tivessem juntado fragmentos de vários outras filmes. Uma boa montagem, pois existe coesão entre as partes, mas totalmente irregular entre as partes.
Poorna
3.8 4Em 2015 Poorna Malavarth foi a mulher mais jovem a escalar o Monte Everest aos 13 anos e 11 meses, mas sua jornada até o ponto mais alto do mundo não se restringe à escalada.
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Em Poorna acompanhamos duas narrativas entrelaçadas, a vida da garota que sai de um vilarejo rural indiano; e o secretário do governo Praveen Kumar que depois de voltar do Reino Unido entra em contato com a precariedade do estudo em seu país e começa a traçar planos de investimento e mudar a percepção do governo, professores e da própria sociedade.
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O filme começa com a garota lutando contra a febre já próximo do Everest, no último campo de apoio antes do topo. Em seguida volta no tempo e nos leva para o cotidiano pobre com costumes de desvalorização do ensino, em especial das mulheres que tem como papel social apenas casar para ajudar a família.
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Sua produção apresenta características independentes com dos atores amadores, mas depois de um breve estranhamento, é fácil se deixar levar pelos desafios enfrentados por Poorna e o secretário Kumar.
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Além disso, temos um roteiro muito detalhista na apresentação da cultura do país, expondo questões controversas sem medo, ainda que também sem demonstrar juízos de valor diretamente. Assim, apresenta um interessante panorama cultural, uma oportunidade de imersão antropológica.
Um Lobo entre Nós
2.7 79 Assista AgoraLobisomem é um jogo de cartas de blefe e papel escondido bem conhecido que entre as inúmeras variações temos o Detetive. Cada um pega uma carta que representa um tipo de personagem e ganha quem sobrar por último.
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Bem simples e difícil de transpor para um filme, Um Lobo Entre Nós tentou e para construir uma narrativa no entorno ainda utilizou fórmulas típicas dos livros de Agatha Christie.
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É assim que passamos a conhecer os excêntricos moradores da pequena cidade de Beaverfield que, por causa de uma nevasca e a morte do cachorro de estimação de um deles, todos se abrigam no único hotel da cidade desconfiando um do outro.
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É uma comédia exageradamente caricata com personagens estranhos que não se dão bem, com quase todos os ator se completamente fora de tom. Mas o pior é que para algo que se pretende misterioso, tudo é extremamente previsível.
Os Segredos do Castelo
2.6 56 Assista AgoraTodas famílias tem seus segredos, mas alguns podem ser mais aterrorizantes.
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Em Segredos do Castelo acompanhamos as irmãs Mary e Constance Blackwood, elas perderam os pais num violento assassinato por envenenamento sem solução e o tio cadeirante.
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Esse tio vem perdendo progressivamente suas capacidades mentais, mas tenta escrever um livro de memórias; a filha mais velha foi investigada como principal suspeita pela morte dos pais, mas inocentada; e a irmã mais nova sofre diretamente com o ódio da cidade, pois é a única que sai da propriedade e se protege com feitiços.
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Os moradores do vilarejo nunca gostaram dos Blackwood por serem ricos e arrogantes, mas após o assassinato passaram a ser mais agressivos. Tudo ia mal, mas sob controle, até a chegada de um primo distante que começa a mudar a dinâmica da casa.
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Mas os segredos do título nacional vão muito além e não são esclarecidos, vemos apenas nas entrelinhas um patriarca odiado por explorar a comunidade e que possivelmente abusava da filha mais velha.
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É um filme com personagens excêntricos que não lidaram bem com o luto e ganha uma aura de fábula e atmosfera claustrofóbica a partir da misteriosa narração de Mary e da fotografia que mescla um colorido anos 1960 e o obscuro gótico. O ritmo de tensão crescente dividido em vários capítulos seguindo a semana.
Metal Lords
3.5 309 Assista AgoraQuando o mundo te ignora, o Heavy Metal pode ser a solução.
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Em Metal Lords acompanhamos dois adolescentes tentando emplacar sua banda de Doom Pós Metal na batalha das bandas enquanto vivem suas vidas como adolescentes, conhecendo garotas, arranjando brigas e jogando RPG.
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Como história não temos nada de novo, a jornada de pessoas excluídas que encontram algo em que se destacam e precisam superar desafios... Ok, isso resume metade dos filmes já lançados, mas quando o conteúdo não é novidade, outras coisas precisam se destacar.
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Assim, temos uma ótima química entre personagens embalada por várias vertentes do Metal que vai de Metallica à Anthrax passando por Judas Priest e muito mais. Com direito a participação especial de alguns membros dessas bandas.
A Lenda de Candyman
3.3 509 Assista AgoraNa atual época das revisitas à clássicos das décadas anteriores, chegou a vez de A Lenda de Candyman,filme de terror trash com crítica social dos anos de 1990 baseado num conto de Clive Barker.
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Assim, nessa continuação, que ignora as outras continuações, acompanhamos um artista que, em busca de inspiração, invade um antigo conjunto habitacional criado para a população mais pobre da cidade de Chicago, mas que no presente vem sofrendo um processo de gentrificação com o esvaziamento dos locais e aumento de aluguéis.
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Embora não tão explícito, a franquia sempre reservava algo a mais que um simples slasher de assassino imparável. No entanto, falta ao filme atual um terror mais direto, há sim toda a criação de uma ambientação, mas a narrativa, o ritmo, as escolhas feitas pela diretora para conduzir uma trama sobre racismo, levaram o filme para algo mais voltado ao drama social apenas com elementos do terror.
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O roteiro não tem pressa, vai pontuando aos poucos a história e criando a ambientação a partir dos cenários e flashbacks. Deste último, temos a utilização de um interessante recurso de teatro de sombras com marionetes para trazer ao espectador os eventos do primeiro filme. Mas é uma história deturpada e que corresponde à visão de quem está contando, não exatamente ao que ocorreu no filme.
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Temos então uma produção sustentada por simbologias, que levanta questões sobre o racismo e seu impacto em grupos negros de diferentes esferas sociais; assim como eleva o conjunto habitacional Cabrini-Green à condição de personagem ao retornar a narrativa ao mesmo local do filme original e mostrar a pressão da especulação imobiliária ao longo do tempo que força a gentrificação do espaço.
Virgínia
2.3 256 Assista AgoraNem toda obra de um grande diretor ganha o devido reconhecimento, as vezes por arriscar em outros gêneros, outras por fugir de todas as convenções. Virgínia é uma mistura dos dois casos, uma pérola escondida que Francis Ford Coppola escreveu, produziu e dirigiu.
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Em Virgínia acompanhamos um autor de livros de terror que chega em uma cidadezinha para uma tarde de autógrafos, sem muito sucesso, seu ponto alto é conhecer o xerife que também escreve e quer fazer uma parceria para contar sobre o passado sangrento da cidade.
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Logo o escritor se torna detetive e entre o mundo terreno e o dos sonhos começa a desvendar a série de assassinatos que ocorreram na década de 1950 e podem estar acontecendo no presente, sempre contando com a visita do misterioso Alan Poe.
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É um roteiro que tem vários dos elementos típicos de Stephen King, trazendo referências para a atmosfera ou mesmo satirizando o autor, mas que vai se tornando cada vez mais mergulhando no surreal.
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A cidade preconceituosa representada pelo xerife no presente e um pastor no passado, duas figuras de suposta segurança que escondem o pior que podemos encontrar na humanidade. A própria cidade é assombrada por um passado e tem além de ruínas abandonadas uma torre de relógio com sete faces, cada uma marcando um horário diferente.
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Coppola também brinca com as possibilidades técnicas de um baixo orçamento e a estética gótica do terror livre de qualquer exigência de grandes estúdios. E assim ele alterna entre o tom morno e tedioso com cores terrosas do real contrastando com o preto e branco super saturado do onírico que utiliza os efeitos que vimos Sin City e Spirit, ambos do Frank Miller.
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A estranheza é coroada com o nunca explicado momento em que a câmera "veste" óculos com lentes coloridas, daqueles antigos que pegamos no cinema para ter uma percepção de visão 3d.
A Bolha
2.3 78Não tem jeito, a Pandemia afetou todo o mundo de uma forma ou de outra, e se esse tema continuará a ser utilizado outra e outra vez, que seja com um pouco de imaginação.
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No filme A Bolha acompanhando os bastidores de uma franquia interminável de ação que, no meio da Pandemia, isola toda a equipe para fazer mais uma continuação.
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A ideia de uma comédia mostrando a indústria do cinema desesperada por produzir qualquer coisa enquanto todo o resto foi paralisado explorando toda a cadeia é interessante, assim como ver astros egocêntricos defendendo causas apenas para ganhar mais likes nas redes sociais, poderia render algo.
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Mas o filme assume uma comédia pastelão com pouquíssima graça de sarcasmos rasos que no máximo tiram um ou outro sorriso ao associarmos à algo que existe de verdade. A caricatura é tão exagerada, de personagens e situações, que as pretensões críticas acabam não passando do bobo na maior parte do tempo.
Amor, Sublime Amor
3.4 355 Assista AgoraA história do amor proibido de dois jovens em famílias rivais foi imortalizado por Shakespeare e virou ele mesmo um subgênero do romance. E para se destacar nesse tipo de trama, Amor Sublime Amor trata o conflito com muita cantoria numa Nova York que sofre com as transformações urbanas da década de 1950.
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Assim, acompanhamos o amor proibido entre Tony e Maria que precisam enfrentar as gangues dos Jets, estadunidenses pobres e descendentes de irlandeses; contra os Sharks, porto riquenhos recém chegados ao bairro e que sofre com a especulação imobiliária e gentrificação.
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É um musical pode funcionar até para quem não gosta desse tipo de filme, pois embora tenhamos números de dança e cantoria, eles não são tão generalizados como alguns exemplares do gênero.
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Trata-se da regravação de um clássico de 1961, que por sua vez foi adaptado de uma peça da Broadway lançada em 1957. De forma a levantar um questionamento sobre a necessidade de regravar um filme que é um marco do cinema, ainda que tenha acontecido modificações pontuais em alguns elementos que atualmente percebemos problemáticos do original.
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O elenco porto riquenho é o destaque, em especial Rita Moreno que tinha vencido o Oscar em 1961 no papel de Anita, está também a melhor atriz da versão atual, interpretada pela ótima Ariana DeBose. Os cenários grandiosos são preenchidos cuidadosamente com elementos do final da década de 1950 e a fotografia nós joga definitivamente na época retratada.
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Vale mencionar a interessante escolha do diretor (Spielberg) em deixar grade parte dos diálogos dos porto riquenhos em espanhol e sem legenda, funcionando quase como provocação ao público estadunidense preconceituoso e que insiste em ignorar que parte considerável de sua população é de origem hispânica
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Ainda assim, achei o filme cansativo e com problemas no ritmo, e se de um lado temos personagem carismáticos, os irlandeses são muito sem graça e prejudicam nossa imersão no filme.
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O Bombardeio
3.8 157 Assista AgoraNuma guerra não importa o lado que você estiver, as maiores vítimas serão sempre as pessoas comuns.
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Em Bombardeio acompanhamos múltiplas narrativas que convergem pouco a pouco para um grande clímax, mas temos principalmente três núcleos: crianças que tentam entender o caos à sua volta e as influências que recebe dos adultos; uma freira e um soldado nazista em crise com suas crenças; e pilotos da força aérea britânica se preparando para um ataque.
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Um drama de guerra sob a perspectiva das vítimas apresentado a partir de um roteiro bem divido em dois momentos: a apresentação dos personagens que cultivam nossa empatia antes do "efeito guerra" realmente acontecer, momento o qual até a esperança é permitida.
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A partir da segunda metade do filme, passamos para o drama que abraça completamente a narrativa a partir de um único recorte, simples, mas suficiente para falar sobre o que é uma guerra.
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O final abrupto que ficou um pouco estranho, pois os personagens são abandonados à medida que o roteiro não os considera mais necessários para a trama principal, e não se importa em deixar alguns que alguns deixem sua conclusão em aberto.