A loucura como instinto de sobrevivência (Coringa, de Todd Phillips, é o filme-denúncia do ano)
Eu tenho andado pelas ruas do Rio de Janeiro nos últimos tempos e acompanhado notícias a respeito do mundo pela internet e pela tv e confesso: ando descrente do que vem por aí. Tenho a legítima sensação de que a sociedade perdeu sua lucidez (e isso é muito grave!). Não é de hoje que percebo a falta de relevância da humanidade no que concerne a valorizar o que realmente merece valor. Todo dia me deparo com deformadores de opinião online, programações televisivas alienantes, feitas para lobotomizar uma sociedade que não tem parâmetro para quase nada. E pior: essas mesmas pessoas ainda buscam popularidade por seus atos, digamos, sórdidos. E acreditava piamente que estava vendo tudo isso sozinho.
Até assistir Coringa, do diretor Todd Phillips.
O longa - que ganhou a pecha de polêmico antes mesmo de ficar pronto, por conta de uma parte moralista da sociedade que adora colocar panos quentes ou cercear a liberdade dos outros quando bem lhe convém - conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, devastador!), um sobrevivente deste mundo falido em que vivemos, que vive de pequenos bicos que faz como palhaço enquanto cuida de sua mãe enferma. Seu maior sonho é tornar-se um humorista do stand-up comedy tão famoso quanto o seu ídolo, Murray Franklin (Robert de Niro). Contudo, ele não se adequa ao padrão do que a sociedade conservadora considera "apto" para uma carreira como essa, e passa sua existência lutando para permanecer vivo um dia de cada vez, enquanto paga as contas.
Ele volta e meia é agredido, sofre deboche de seus próprios colegas de trabalho, é visto como "o esquisito" do local. E sua risada sarcástica, fruto de uma condição psicológica que possui, retrata melhor do que palavras a maneira como ele se posiciona diante do sarcasmo e da ironia dos demais.
A partir do momento em que comete seus primeiros assassinatos e logo a seguir conhece a verdade sobre sua própria história de vida um gatilho é disparado em sua mente e tudo aquilo que ele manteve aprisionado dentro de si, tentando compreender ou fazer parte do contexto social, perde completamente o sentido. E é nesse exato momento que sua loucura - que nada mais é do que uma forma de instinto de sobrevivência em relação ao mundo - toma controle da situação, fazendo nascer um dos seres humanos mais brutais e maquiavélicos que já existiram.
Pior do que isso: seus atos bárbaros e levianos viram motivo de orgulho para a parte menos favorecida da sociedade (os chamados palhaços, na visão de quem detém o poder e nada faz pelos mais pobres). Ele passa a ser visto como um símbolo desse reacionarismo muito vigente no mundo contemporâneo em que habitamos, e talvez por isso muitos espectadores comecem a dizer que o filme não passa de uma glamourização do mundo do crime e da bandidagem, algo que já havia acontecido anos atrás com o longa O lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, sobre a vida dos inescrupulosos agentes da bolsa de valores norte-americana.
Pergunto-me então nesse momento: como impedir o inevitável, quando nos deparamos com um mundo extremamente dividido, desigual e baseado numa concentração de renda brutal? Que me desculpem os defensores da moral e dos bons costumes, mas me parece quase impossível que num contexto desses não apareça um louco como Arthur Fleck. O contrário é que seria uma grande ironia.
Como pano de fundo à paranóia do Coringa, o diretor - que ficou consagrado aqui no Brasil pela trilogia Se beber, não case - recorre a filmes icônicos dos anos 70, como Táxi Driver e Rede de intrigas e traz um pouco do espírito anárquico do extraordinário O rei da comédia.
Aliás, falando em anarquia, a construção do personagem feita por Phoenix, que mostrou uma fisicalidade que eu não via no cinema desde os tempos de Buster Keaton, dá margem - pelo menos para mim - para pensá-lo como um grande agente da anarquia deste século XXI, que anda prometendo em seus discursos de ódio uma "nova ordem mundial" baseado certamente em atos catastróficos.
O monólogo final do protagonista e todo desastre recorrente por conta disso, confesso, me deixou apavorado sobre o mundo em que estamos vivendo, bem como temeroso sobre o tipo de espectador que assistirá este filme. Não o recomendo para pessoas de estômago e cabeça fraca. Seu roteiro, embora simples, é duro, incisivo, parece uma faca na jugular dos moralistas de plantão. Não é à toa que tem tanta gente temerosa dele sendo exibido numa época como atual. Porém, ao contrário dos conservadores, acredito sim que ele deva ser assistido e entendido nas suas entrelinhas, e não simplesmente aplaudindo ou repudiando sua violência. Já passou da hora de nós, como sociedade, encararmos a violência como um assunto a ser debatido seriamente e não varrido para debaixo do tapete. E nesse sentido Coringa dá um show à parte ao mostrar as distorções frequentes de uma sociedade ilógica e doente.
Ao final da sessão, diferentemente dos filmes dos Vingadores, nada de aplausos. Não é um filme de super-heróis, onde homens de bem salvarão a nação de algum mal. Pelo contrário. é um filme que fala da sociedade como a própria vilã da história e isso deixa um gosto amargo na boca. Contudo, tem que ser desse jeito. Isso tem que ser engolido como um xarope ruim.
Pois ou acordamos ou o desfecho desse sintoma será ainda pior...
AD ASTRA é melancólico para aqueles fãs da adrenalina, do corre-corre, do CGI dominando a tela, mas para quem é cinéfilo deve ser assistido. Seja pela composição visual e a cinematografia impecável, seja pelo quase niilismo da vida do engenheiro espacial vivido pelo Brad Pitt (que boicota a família por conta de uma hierarquia no trabalho que não justifica tamanho sofrimento ou renúncia).
Só assistam se sentirem que é pra você. No mais... É aquele filme que segue a linha gosto adquirido. Você pode achar um tédio ou uma obra-prima. Fica a critério do público.
AMOR DE MENINA me fez lembrar de um clássico da minha adolescência. Falo de O ÚLTIMO AMERICANO VIRGEM. Eram aqueles tempos em que a América adorava mostrar no seu cinema os hormônios exaltados dos jovens, sempre em busca de farra e belas mulheres (de preferência, sem roupa). Fãs de PORKY's e O CLUBE DOS CAFAJESTES vão adorar!
Persigo BLAZE, O ESCÂNDALO desde que vi o trailer dele num anúncio do antigo Intercine na Rede Globo (aquela sessão em que você ligava e escolhia o que queria assistir). Na época em que o filme foi escolhido eu não pude assistí-lo, pois tive que ir numa insuportável festa de 15 anos e fiquei pesaroso por conferir a história do político que se apaixona pela bela stripper (vivida pela atriz Lolita Davidovich) e compra briga com seu próprio partido para mantê-la ao seu lado. E valeu a espera até encontrar uma cópia pirata dele.
Meu pai, que era fã do Paul Newman de graça, certamente teria gostado.
O OLHO E A FACA é aquele tipo de cinema brasileiro que eu tenho achado que já deu, não convence, não atinge o seu público. Acaba por se tornar um investimento que não se justifica. O que é uma pena, pois a premissa era até boa.
Precisamos ser mais seletivos no que tange a aprovar certos projetos em certas leis de incentivo.
PREDADORES ASSASSINOS é praticamente um Tubarão B, com bons jumpscares e uma "mocinha" (se é possível caber uma mocinha dentro dessa estrutura) que funciona a contento para os fãs do gênero terror/suspense.
P.S: eu tenho a impressão de que o diretor Alexandre Aja tem algum tipo de trauma com água. Ele adora o tema!
RAMBO ATÉ O FIM é o desfecho de uma franquia que já deveria ter acabado há tempos. Stallone até tenta, mas não consegue fugir do filão brucutu, "vamos arrebentar geral", etc etc etc... Pior: o filme emula a América pós-Trump, retratando os mexicanos como o problema e mostrando a eterna visão do quanto os americanos após o 11 de setembro se tornaram pessoas atormentadas (logo, vão caçar os culpados a qualquer custo). Achei o filme extremamente preconceituoso e cheio de clichês. E, além disso, o diretor me pareceu marinheiro de primeira viagem. Uma pena. A franquia merecia um final menos melancólico e obscuro. Só vale mesmo para os fanáticos que acompanham essa saga desde 1982 e não têm senso crítico para entender que tudo na vida tem início, meio e fim.
CRIMES OBSCUROS, de Alexandros Avranas, fala da perseguição unilateral pela verdade (mesmo quando ela não passa de um mero ponto de vista fanatizado por aquele que quer descobrir a suposta verdade). Jim Carrey volta aos papéis dramáticos - território no qual ele também se saiu bem toda vez que arriscou - na pele de um policial autodestrutivo que quer dar a volta por cima em sua carreira combalida. Para isso, adentrará um mundo sórdido que muito lembra o universo policial criado pelo cineasta Joel Schumacher no longa 8MM. Sexualização extremada de mulheres, envolvimento do chefe de polícia com o crime organizado, a obsessão do policial dito honesto (na teoria) pelo mundo criminal cada vez mais popularizado em tempos de mídias sensacionalistas e redes sociais. Uma pena que filmes como esse não chegam ao circuito comercial, pois o interesse dos donos das salas de projeção hoje em dia são outros.
RAMBO ATÉ O FIM é o desfecho de uma franquia que já deveria ter acabado há tempos. Stallone até tenta, mas não consegue fugir do filão brucutu, "vamos arrebentar geral", etc etc etc... Pior: o filme emula a América pós-Trump, retratando os mexicanos como o problema e mostrando a eterna visão do quanto os americanos após o 11 de setembro se tornaram pessoas atormentadas (logo, vão caçar os culpados a qualquer custo). Achei o filme extremamente preconceituoso e cheio de clichês. E, além disso, o diretor me pareceu marinheiro de primeira viagem. Uma pena. A franquia merecia um final menos melancólico e obscuro. Só vale mesmo para os fanáticos que acompanham essa saga desde 1982 e não têm senso crítico para entender que tudo na vida tem início, meio e fim.
Em meio a tantos filmes efêmeros sobre violência urbana e assassinos seriais e criminosos estilizados, O ANJO, de Luis Ortega, pega a contramão e explora o âmbito da trangressão num filme belíssimo e instigante (com a luxuosa produção de Pedro Almodóvar). Mais uma vez a argentina acerta em cheio e mostra um caminho que o nosso cinema, por exemplo, ainda não aprendeu a trilhar direito. Conheçam!!!
BEBÊ DE ROSEMARY é o filme que me tornou fã do cineasta Roman Polanski, por sua ousadia cinematográfica e sua coragem em abordar temas polêmicos por natureza. E Mia Farrow - que sabotou a própria carreira por conta de escolhas e declarações infelizes - incorpora a mãe que terá o rebento diabólico numa atuação quase claustrofóbica. Uma pena que há tempos o diretor não produza projetos ambiciosos como esse aqui!
A segunda história, "Gato preto" (baseado em A queda da casa de Usher), com Harvey Keitel é melhor que a primeira. Confesso que me surpreendi, levando em consideração que eu não sou um grande fã do diretor Dario Argento.
BONS COMPANHEIROS é meu filme preferido de Martin Scorsese. Digo mais: sinto falta dessa época, em que Scorsese era o rei da sétima arte americana. E espero que ele volte - nem que seja um pouco - a essa vertente em seu próximo projeto, O IRLANDÊS.
O trio composto por De Niro, Joe Pesci e Ray Liotta funciona com um único corpo e mente, dispostos a qualquer atitude para salvar suas vidas e enriquecer a qualquer custo.
Cheguei a ler o romance homônimo de Nicolas Pileggi após ver o filme no cinema, tamanha minha admiração pela história e pela maneira como o projeto foi concebido.
Daqueles filmes para deixar o espectador de boca aberta por horas...
O EXORCISTA é o melhor filme de terror que eu vi em toda a minha vida e acho difícil que isso seja superado algum dia.
Detalhe: tem gente que resume terror a bobagens como JOGOS MORTAIS e não considera o filme de WIlliam Friedkin nem pertencente ao gênero. Fazer o quê!
Eu me tornei tão curioso acerca do tema exorcismo que, na época, cheguei a entrar no site do Vaticano para tentar descobrir e entender como funciona todo o processo. E fiquei de cabelo mais em pé ainda...
DE VOLTA PARA O FUTURO, de Zemeckis, não perdeu sua cara de apaixonante, de nostalgia, de café com bolinho de chuva da vovó... Eu sei o que vocês vão dizer: "esse cara pirou, associando a ficção-científica mais cult de hollywood com a relação dele com a própria vó!". Mas é a única maneira que eu consigo encontrar para explicar minha devoção a esse filme.
A saga de Martin McFly para reajustar a linha do tempo que ele próprio e o Doutor Brown bagunçaram pautou toda a minha adolescência, a começar pela música-tema. E é triste saber que o ator Michael J. Fox hoje convive com seu Mal de Parkinson enquanto Christopher Lloyd permanece no ostracismo.
Uma total falta de respeito com o filme, que virou trilogia fácil, e com a própria equipe que o criou.
TUBARÃO continua, entra ano sai ano, a obra-prima de Steven Spielberg (ao lado, é claro, de A LISTA DE SCHINDLER). Lembro de quando li o romance homônimo do escritor Peter Benchley e abandonei pela metade, achando trama um saco. E após assistir a versão audiovisual pela primeira vez (e vi muitas), fiquei me perguntando por dias: "como esse cara conseguiu fazer uma adaptação melhor do que o original?". Eram os anos 70 e Spielberg era um diretor novato, em início de carreira. Mais: o tubarão mecânico, protagonista do filme, não queria trabalhar de jeito nenhum. E mesmo assim... Conseguiu o impossível! Com o tempo o diretor foi cooptado pelo mercado e hoje recrimina o streaming como produtor de conteúdo. Já seu longa continua mais atual do que nunca e parâmetro para qualquer produção já realizada no gênero.
Não viu ainda? Honestamente... Você não é cinéfilo.
SOMENTE DEUS POR TESTEMUNHA, de Roy Ward Baker foi, com certeza, a fonte de inspiração para que o diretor James Cameron realizasse o seu premiado TITANIC. Embora filmado em preto e branco não perde em nada seu charme e romantismo e entrega um resultado ousado para os padrões da época (anterior ao CGI e as efeitos especiais de última geração).
A MULA é um tapa na cara daqueles cinéfilos que acham que o tempo e a carreira de Clint Eastwood já acabou!
Na pele do veterano Earl Stone, que transporta drogas de um ponto a outro da América, Clint entrega um de seus filmes mais lúcidos dos últimos anos. O diretor de SOBRE MENINOS E LOBOS e MENINA DE OURO prova para as gerações mais novas que talento não tem idade, muito menos prazo de validade.
Adoro documentários e FREE SOLO foi vencedor do Oscar na categoria, mas confesso que não entendi toda a comoção que o filme gerou na época de seu lançamento. O filme, dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, conta a história de Alex Honnold, especialista em escaladas sem uso de proteção.
Na boa... Achei extremamente forçado o tom sentimentalista (o sofrimento da namorada com a escolha do amado, etc) para um filme que versa sobre um indivíduo que escolheu como opção de vida colocar a própria vida em risco. Mas enfim... É o tipo de produção - a que envolve esportes radicais - que costuma fazer um sucesso imenso nos EUA.
TURMA DA MÔNICA - LAÇOS, de Daniel Rezende (Montador de CIDADE DE DEUS e TROPA DE ELITE) é tudo aquilo que os fãs de Maurício de Sousa aguardaram por anos. A turminha - Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali - vai à luta para descobrir o paradeiro de Floquinho, que foi sequestrado, e apronta inúmeras confusões. Em outras palavras: pura nostalgia.
E pelo que andei lendo parece que virão por aí duas continuações. Ou seja: ainda dá tempo dos fãs verem Bidu, Mingau (o gato da Magali), Maria Cascuda (namorada do Cascão) e outras figuras clássicas do gibi.
STUCK, de Michael Berry, fez eu me lembrar de uma sequência do magnífico R.E.N.T - OS BOÊMIOS, de Chris Columbus, mas parou por aí. O diretor se utiliza de um vagão do metrô como confessionário para um grupo de pessoas que vive em crise momentânea em suas vidas. As canções utilizadas não têm nada de realmente marcante e do elenco quem mais se destaca é o fenomenal Giancarlo Esposito (que já havia chamado a minha atenção anteriormente no seriado BREAKING BAD). No mais, um projeto que poderia ter rendido mais se o realizador tivesse mais coragem.
AURORA, de Yam Laranas, é uma espécie de Titanic macabro em que as almas dos sobreviventes de um naufrágio ficam vagando dentro de uma pousada quase falida. A premissa parecia até interessante, lembrando em certos momentos passagens do blockbuster RESIDENT EVIL, mas o diretor acaba por escolher um ritmo mais vagaroso, cansando o público com uma narrativa para lá de melancólica.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraA loucura como instinto de sobrevivência
(Coringa, de Todd Phillips, é o filme-denúncia do ano)
Eu tenho andado pelas ruas do Rio de Janeiro nos últimos tempos e acompanhado notícias a respeito do mundo pela internet e pela tv e confesso: ando descrente do que vem por aí. Tenho a legítima sensação de que a sociedade perdeu sua lucidez (e isso é muito grave!). Não é de hoje que percebo a falta de relevância da humanidade no que concerne a valorizar o que realmente merece valor. Todo dia me deparo com deformadores de opinião online, programações televisivas alienantes, feitas para lobotomizar uma sociedade que não tem parâmetro para quase nada. E pior: essas mesmas pessoas ainda buscam popularidade por seus atos, digamos, sórdidos. E acreditava piamente que estava vendo tudo isso sozinho.
Até assistir Coringa, do diretor Todd Phillips.
O longa - que ganhou a pecha de polêmico antes mesmo de ficar pronto, por conta de uma parte moralista da sociedade que adora colocar panos quentes ou cercear a liberdade dos outros quando bem lhe convém - conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, devastador!), um sobrevivente deste mundo falido em que vivemos, que vive de pequenos bicos que faz como palhaço enquanto cuida de sua mãe enferma. Seu maior sonho é tornar-se um humorista do stand-up comedy tão famoso quanto o seu ídolo, Murray Franklin (Robert de Niro). Contudo, ele não se adequa ao padrão do que a sociedade conservadora considera "apto" para uma carreira como essa, e passa sua existência lutando para permanecer vivo um dia de cada vez, enquanto paga as contas.
Ele volta e meia é agredido, sofre deboche de seus próprios colegas de trabalho, é visto como "o esquisito" do local. E sua risada sarcástica, fruto de uma condição psicológica que possui, retrata melhor do que palavras a maneira como ele se posiciona diante do sarcasmo e da ironia dos demais.
A partir do momento em que comete seus primeiros assassinatos e logo a seguir conhece a verdade sobre sua própria história de vida um gatilho é disparado em sua mente e tudo aquilo que ele manteve aprisionado dentro de si, tentando compreender ou fazer parte do contexto social, perde completamente o sentido. E é nesse exato momento que sua loucura - que nada mais é do que uma forma de instinto de sobrevivência em relação ao mundo - toma controle da situação, fazendo nascer um dos seres humanos mais brutais e maquiavélicos que já existiram.
Pior do que isso: seus atos bárbaros e levianos viram motivo de orgulho para a parte menos favorecida da sociedade (os chamados palhaços, na visão de quem detém o poder e nada faz pelos mais pobres). Ele passa a ser visto como um símbolo desse reacionarismo muito vigente no mundo contemporâneo em que habitamos, e talvez por isso muitos espectadores comecem a dizer que o filme não passa de uma glamourização do mundo do crime e da bandidagem, algo que já havia acontecido anos atrás com o longa O lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, sobre a vida dos inescrupulosos agentes da bolsa de valores norte-americana.
Pergunto-me então nesse momento: como impedir o inevitável, quando nos deparamos com um mundo extremamente dividido, desigual e baseado numa concentração de renda brutal? Que me desculpem os defensores da moral e dos bons costumes, mas me parece quase impossível que num contexto desses não apareça um louco como Arthur Fleck. O contrário é que seria uma grande ironia.
Como pano de fundo à paranóia do Coringa, o diretor - que ficou consagrado aqui no Brasil pela trilogia Se beber, não case - recorre a filmes icônicos dos anos 70, como Táxi Driver e Rede de intrigas e traz um pouco do espírito anárquico do extraordinário O rei da comédia.
Aliás, falando em anarquia, a construção do personagem feita por Phoenix, que mostrou uma fisicalidade que eu não via no cinema desde os tempos de Buster Keaton, dá margem - pelo menos para mim - para pensá-lo como um grande agente da anarquia deste século XXI, que anda prometendo em seus discursos de ódio uma "nova ordem mundial" baseado certamente em atos catastróficos.
O monólogo final do protagonista e todo desastre recorrente por conta disso, confesso, me deixou apavorado sobre o mundo em que estamos vivendo, bem como temeroso sobre o tipo de espectador que assistirá este filme. Não o recomendo para pessoas de estômago e cabeça fraca. Seu roteiro, embora simples, é duro, incisivo, parece uma faca na jugular dos moralistas de plantão. Não é à toa que tem tanta gente temerosa dele sendo exibido numa época como atual. Porém, ao contrário dos conservadores, acredito sim que ele deva ser assistido e entendido nas suas entrelinhas, e não simplesmente aplaudindo ou repudiando sua violência. Já passou da hora de nós, como sociedade, encararmos a violência como um assunto a ser debatido seriamente e não varrido para debaixo do tapete. E nesse sentido Coringa dá um show à parte ao mostrar as distorções frequentes de uma sociedade ilógica e doente.
Ao final da sessão, diferentemente dos filmes dos Vingadores, nada de aplausos. Não é um filme de super-heróis, onde homens de bem salvarão a nação de algum mal. Pelo contrário. é um filme que fala da sociedade como a própria vilã da história e isso deixa um gosto amargo na boca. Contudo, tem que ser desse jeito. Isso tem que ser engolido como um xarope ruim.
Pois ou acordamos ou o desfecho desse sintoma será ainda pior...
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 853 Assista AgoraAD ASTRA é melancólico para aqueles fãs da adrenalina, do corre-corre, do CGI dominando a tela, mas para quem é cinéfilo deve ser assistido. Seja pela composição visual e a cinematografia impecável, seja pelo quase niilismo da vida do engenheiro espacial vivido pelo Brad Pitt (que boicota a família por conta de uma hierarquia no trabalho que não justifica tamanho sofrimento ou renúncia).
Só assistam se sentirem que é pra você. No mais... É aquele filme que segue a linha gosto adquirido. Você pode achar um tédio ou uma obra-prima. Fica a critério do público.
Amor de Menina
3.6 17AMOR DE MENINA me fez lembrar de um clássico da minha adolescência. Falo de O ÚLTIMO AMERICANO VIRGEM. Eram aqueles tempos em que a América adorava mostrar no seu cinema os hormônios exaltados dos jovens, sempre em busca de farra e belas mulheres (de preferência, sem roupa). Fãs de PORKY's e O CLUBE DOS CAFAJESTES vão adorar!
Blaze: O Escândalo
3.0 10Persigo BLAZE, O ESCÂNDALO desde que vi o trailer dele num anúncio do antigo Intercine na Rede Globo (aquela sessão em que você ligava e escolhia o que queria assistir). Na época em que o filme foi escolhido eu não pude assistí-lo, pois tive que ir numa insuportável festa de 15 anos e fiquei pesaroso por conferir a história do político que se apaixona pela bela stripper (vivida pela atriz Lolita Davidovich) e compra briga com seu próprio partido para mantê-la ao seu lado. E valeu a espera até encontrar uma cópia pirata dele.
Meu pai, que era fã do Paul Newman de graça, certamente teria gostado.
O Olho e a Faca
2.3 21O OLHO E A FACA é aquele tipo de cinema brasileiro que eu tenho achado que já deu, não convence, não atinge o seu público. Acaba por se tornar um investimento que não se justifica. O que é uma pena, pois a premissa era até boa.
Precisamos ser mais seletivos no que tange a aprovar certos projetos em certas leis de incentivo.
Predadores Assassinos
3.2 772 Assista AgoraPREDADORES ASSASSINOS é praticamente um Tubarão B, com bons jumpscares e uma "mocinha" (se é possível caber uma mocinha dentro dessa estrutura) que funciona a contento para os fãs do gênero terror/suspense.
P.S: eu tenho a impressão de que o diretor Alexandre Aja tem algum tipo de trauma com água. Ele adora o tema!
Rambo: Até o Fim
3.2 551 Assista AgoraRAMBO ATÉ O FIM é o desfecho de uma franquia que já deveria ter acabado há tempos. Stallone até tenta, mas não consegue fugir do filão brucutu, "vamos arrebentar geral", etc etc etc... Pior: o filme emula a América pós-Trump, retratando os mexicanos como o problema e mostrando a eterna visão do quanto os americanos após o 11 de setembro se tornaram pessoas atormentadas (logo, vão caçar os culpados a qualquer custo). Achei o filme extremamente preconceituoso e cheio de clichês. E, além disso, o diretor me pareceu marinheiro de primeira viagem. Uma pena. A franquia merecia um final menos melancólico e obscuro.
Só vale mesmo para os fanáticos que acompanham essa saga desde 1982 e não têm senso crítico para entender que tudo na vida tem início, meio e fim.
Crimes Obscuros
2.3 128 Assista AgoraCRIMES OBSCUROS, de Alexandros Avranas, fala da perseguição unilateral pela verdade (mesmo quando ela não passa de um mero ponto de vista fanatizado por aquele que quer descobrir a suposta verdade). Jim Carrey volta aos papéis dramáticos - território no qual ele também se saiu bem toda vez que arriscou - na pele de um policial autodestrutivo que quer dar a volta por cima em sua carreira combalida. Para isso, adentrará um mundo sórdido que muito lembra o universo policial criado pelo cineasta Joel Schumacher no longa 8MM. Sexualização extremada de mulheres, envolvimento do chefe de polícia com o crime organizado, a obsessão do policial dito honesto (na teoria) pelo mundo criminal cada vez mais popularizado em tempos de mídias sensacionalistas e redes sociais. Uma pena que filmes como esse não chegam ao circuito comercial, pois o interesse dos donos das salas de projeção hoje em dia são outros.
Rambo: Até o Fim
3.2 551 Assista AgoraRAMBO ATÉ O FIM é o desfecho de uma franquia que já deveria ter acabado há tempos. Stallone até tenta, mas não consegue fugir do filão brucutu, "vamos arrebentar geral", etc etc etc... Pior: o filme emula a América pós-Trump, retratando os mexicanos como o problema e mostrando a eterna visão do quanto os americanos após o 11 de setembro se tornaram pessoas atormentadas (logo, vão caçar os culpados a qualquer custo). Achei o filme extremamente preconceituoso e cheio de clichês. E, além disso, o diretor me pareceu marinheiro de primeira viagem. Uma pena. A franquia merecia um final menos melancólico e obscuro.
Só vale mesmo para os fanáticos que acompanham essa saga desde 1982 e não têm senso crítico para entender que tudo na vida tem início, meio e fim.
O Anjo
3.6 191Em meio a tantos filmes efêmeros sobre violência urbana e assassinos seriais e criminosos estilizados, O ANJO, de Luis Ortega, pega a contramão e explora o âmbito da trangressão num filme belíssimo e instigante (com a luxuosa produção de Pedro Almodóvar).
Mais uma vez a argentina acerta em cheio e mostra um caminho que o nosso cinema, por exemplo, ainda não aprendeu a trilhar direito. Conheçam!!!
Quanto Mais Idiota Melhor
3.2 175Certos filmes só existem para provar que o público cinéfilo tem uma profunda admiração por mediocridade. QUANTO MAIS IDIOTA MELHOR é um deles!
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraBEBÊ DE ROSEMARY é o filme que me tornou fã do cineasta Roman Polanski, por sua ousadia cinematográfica e sua coragem em abordar temas polêmicos por natureza. E Mia Farrow - que sabotou a própria carreira por conta de escolhas e declarações infelizes - incorpora a mãe que terá o rebento diabólico numa atuação quase claustrofóbica.
Uma pena que há tempos o diretor não produza projetos ambiciosos como esse aqui!
Dois Olhos Satânicos
3.5 49A segunda história, "Gato preto" (baseado em A queda da casa de Usher), com Harvey Keitel é melhor que a primeira. Confesso que me surpreendi, levando em consideração que eu não sou um grande fã do diretor Dario Argento.
O Feiticeiro
3.1 14E pensar que o Orson Welles, diretor de clássicos do cinema norte-americano como CIDADÃO KANE e A DAMA DE SHANGAI, participou dessa bomba!!!
Os Bons Companheiros
4.4 1,2K Assista AgoraBONS COMPANHEIROS é meu filme preferido de Martin Scorsese. Digo mais: sinto falta dessa época, em que Scorsese era o rei da sétima arte americana. E espero que ele volte - nem que seja um pouco - a essa vertente em seu próximo projeto, O IRLANDÊS.
O trio composto por De Niro, Joe Pesci e Ray Liotta funciona com um único corpo e mente, dispostos a qualquer atitude para salvar suas vidas e enriquecer a qualquer custo.
Cheguei a ler o romance homônimo de Nicolas Pileggi após ver o filme no cinema, tamanha minha admiração pela história e pela maneira como o projeto foi concebido.
Daqueles filmes para deixar o espectador de boca aberta por horas...
O Exorcista
4.1 2,3K Assista AgoraO EXORCISTA é o melhor filme de terror que eu vi em toda a minha vida e acho difícil que isso seja superado algum dia.
Detalhe: tem gente que resume terror a bobagens como JOGOS MORTAIS e não considera o filme de WIlliam Friedkin nem pertencente ao gênero. Fazer o quê!
Eu me tornei tão curioso acerca do tema exorcismo que, na época, cheguei a entrar no site do Vaticano para tentar descobrir e entender como funciona todo o processo. E fiquei de cabelo mais em pé ainda...
De Volta Para o Futuro
4.4 1,8K Assista AgoraDE VOLTA PARA O FUTURO, de Zemeckis, não perdeu sua cara de apaixonante, de nostalgia, de café com bolinho de chuva da vovó... Eu sei o que vocês vão dizer: "esse cara pirou, associando a ficção-científica mais cult de hollywood com a relação dele com a própria vó!". Mas é a única maneira que eu consigo encontrar para explicar minha devoção a esse filme.
A saga de Martin McFly para reajustar a linha do tempo que ele próprio e o Doutor Brown bagunçaram pautou toda a minha adolescência, a começar pela música-tema. E é triste saber que o ator Michael J. Fox hoje convive com seu Mal de Parkinson enquanto Christopher Lloyd permanece no ostracismo.
Uma total falta de respeito com o filme, que virou trilogia fácil, e com a própria equipe que o criou.
Tubarão
3.7 1,2K Assista AgoraTUBARÃO continua, entra ano sai ano, a obra-prima de Steven Spielberg (ao lado, é claro, de A LISTA DE SCHINDLER). Lembro de quando li o romance homônimo do escritor Peter Benchley e abandonei pela metade, achando trama um saco. E após assistir a versão audiovisual pela primeira vez (e vi muitas), fiquei me perguntando por dias: "como esse cara conseguiu fazer uma adaptação melhor do que o original?". Eram os anos 70 e Spielberg era um diretor novato, em início de carreira. Mais: o tubarão mecânico, protagonista do filme, não queria trabalhar de jeito nenhum. E mesmo assim... Conseguiu o impossível! Com o tempo o diretor foi cooptado pelo mercado e hoje recrimina o streaming como produtor de conteúdo. Já seu longa continua mais atual do que nunca e parâmetro para qualquer produção já realizada no gênero.
Não viu ainda? Honestamente... Você não é cinéfilo.
Somente Deus Por Testemunha
4.0 52SOMENTE DEUS POR TESTEMUNHA, de Roy Ward Baker foi, com certeza, a fonte de inspiração para que o diretor James Cameron realizasse o seu premiado TITANIC. Embora filmado em preto e branco não perde em nada seu charme e romantismo e entrega um resultado ousado para os padrões da época (anterior ao CGI e as efeitos especiais de última geração).
Recomendo aos amantes da sétima arte clássica!
A Mula
3.6 355 Assista AgoraA MULA é um tapa na cara daqueles cinéfilos que acham que o tempo e a carreira de Clint Eastwood já acabou!
Na pele do veterano Earl Stone, que transporta drogas de um ponto a outro da América, Clint entrega um de seus filmes mais lúcidos dos últimos anos. O diretor de SOBRE MENINOS E LOBOS e MENINA DE OURO prova para as gerações mais novas que talento não tem idade, muito menos prazo de validade.
Fenomenal!!!
Free Solo
4.1 158 Assista AgoraAdoro documentários e FREE SOLO foi vencedor do Oscar na categoria, mas confesso que não entendi toda a comoção que o filme gerou na época de seu lançamento. O filme, dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, conta a história de Alex Honnold, especialista em escaladas sem uso de proteção.
Na boa... Achei extremamente forçado o tom sentimentalista (o sofrimento da namorada com a escolha do amado, etc) para um filme que versa sobre um indivíduo que escolheu como opção de vida colocar a própria vida em risco. Mas enfim... É o tipo de produção - a que envolve esportes radicais - que costuma fazer um sucesso imenso nos EUA.
Turma da Mônica: Laços
3.6 607 Assista AgoraTURMA DA MÔNICA - LAÇOS, de Daniel Rezende (Montador de CIDADE DE DEUS e TROPA DE ELITE) é tudo aquilo que os fãs de Maurício de Sousa aguardaram por anos. A turminha - Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali - vai à luta para descobrir o paradeiro de Floquinho, que foi sequestrado, e apronta inúmeras confusões. Em outras palavras: pura nostalgia.
E pelo que andei lendo parece que virão por aí duas continuações. Ou seja: ainda dá tempo dos fãs verem Bidu, Mingau (o gato da Magali), Maria Cascuda (namorada do Cascão) e outras figuras clássicas do gibi.
Stuck
3.1 19STUCK, de Michael Berry, fez eu me lembrar de uma sequência do magnífico R.E.N.T - OS BOÊMIOS, de Chris Columbus, mas parou por aí. O diretor se utiliza de um vagão do metrô como confessionário para um grupo de pessoas que vive em crise momentânea em suas vidas. As canções utilizadas não têm nada de realmente marcante e do elenco quem mais se destaca é o fenomenal Giancarlo Esposito (que já havia chamado a minha atenção anteriormente no seriado BREAKING BAD). No mais, um projeto que poderia ter rendido mais se o realizador tivesse mais coragem.
Aurora - O Resgate das Almas
2.3 26 Assista AgoraAURORA, de Yam Laranas, é uma espécie de Titanic macabro em que as almas dos sobreviventes de um naufrágio ficam vagando dentro de uma pousada quase falida. A premissa parecia até interessante, lembrando em certos momentos passagens do blockbuster RESIDENT EVIL, mas o diretor acaba por escolher um ritmo mais vagaroso, cansando o público com uma narrativa para lá de melancólica.