Antônia é um filme importante pelo que retrata e por quem o filme retrata. Gosto do tom carlosreichenbacheriano que a Tata Amaral reveste a história das meninas, mas que torna seu realismo menos embrutecido por meio de uma musicalidade contagiante. Esse olhar feminino para uma história feminina e periférica tem uma sentido positivo que afasta o filme de um docudrama (as atuações várias vezes suscitam o improviso e funcionam bem nesse esquema) na medida em que a música da o tom do filme e do caminho das personagens. Antônia é um olhar único no cinema nacional para a cena do rap paulistano por uma perspectiva feminina, mais rara ainda, assim como a formação de um girl group que só funcionou nas tela. Parecia um sonho e deve ter sido assim pra elas. O sonho é desfeito com a morte de Cindy Mendes (quem melhor cantava rap entre as quatro) antes do quarenta anos de idade. É a queda triste na realidade que não deixa de nos lembrar que Antônia era um retrato da sociedade. Duro de acreditar que pouca coisa mudou, que o sonho muitas vezes não se concretiza.
Fredrich March e Kim Novak em atuações primorosas. Uma raridade em seu tempo por questionar o status quo do macho e desconstruir a suposta invencibilidade do masculinismo.
Amoral e muito delicado. Um filme que em seu tempo conseguiu ser mais audacioso do que Bob & Carol & Ted & Alice; aliás, escrito com tanta sinceridade e otimismo por essa alteridade que o amor livre possui, que permanece inovador cinquenta anos depois. Belíssima a restauração em 4K.
Postando aqui a minha crítica do letterboxd (onde o povo tá reclamando sem parar):
Um pouco surpreso com as críticas nesta página, as pessoas parecem que não sabem de onde estão falando, nem sobre quem estão falando ou mesmo do que estão falando e isso é gravíssimo. A quantidade de depoimentos de homens que incomodou tanto é um reflexo do meio musical do tempo da Elis até os dias de hoje. O melhor exemplo são as filmagens em 16mm, Elis e a filha do Tom são quase sempre as únicas mulheres naquele ambiente cheio de homens o tempo todo. Esse era o meio artístico em que a Elis trabalhava e isso não explica a musicalidade enorme dela, mas ajuda a dar uma dimensão de como foi difícil pra ela se afirmar num meio artístico frequentemente tão prejudicial para as mulheres. Não existe a possibilidade de que esse documentário fosse construído sem contextualizações sobre aquele momento específico da música brasileira ou sobre ambos os artistas protagonistas (falecidos) já que há um valor educacional forte em um documentário como esses que não deve ser subestimado; assim como também me pareceria sem sentido e até injusto limar entrevistas com os profissionais envolvidos na gravação do álbum, afinal eles também deram sua contribuição a essa obra artística coletiva - repito, coletiva, não se trata de um trabalho individual. O último ponto que acho que muita gente aqui não levou em conta é que provavelmente as filmagens feitas em 16mm não cobrem assim tanto tempo de tela a ponto de rechear três episódios como é o caso do documentário dos Beatles Get Back. Embora elas tenham sido realizadas com maior ou menor pretensão em sua finalidade (algumas vezes sem nenhuma, totalmente fora de foco), não ficou a aparência de que exista muito mais coisa fora o que foi mostrado em tela (e chega a ser repetido em alguns momentos). A edição foi certeira em construir uma narrativa que privilegia as histórias por detrás do álbum entrelaçando-as às imagens inéditas, que por si só não se submetem totalmente ao roteiro e pulsam vida própria, exprimindo toda a tensão e o choque do encontro de Elis e Tom, a criação musical e como tudo isso resultou num afeto profundo e recíproco entre esses dois grandes artistas que fica explícito ao final. No mais, tirei uma estrela só pelo comentário do André Midani na capa da gaita sobre a morte da Elis; o tipo de aforismo que de tão presunçoso acaba sendo desnecessário.
Intenso, hipnótico, sedutor... seriam as palavras chave do Rio do Desejo. É um filme sobre sentimentos fortes, sobre seres que ardem e clamam por afeto e proteção. E que ao serem reprimidos causam sofrimento e dor pra depois explodirem. É o anti Cidade Baixa do Sérgio Machado, verdadeiro maestro que conduz esse elenco afinadíssimo conforme a sua música, numa mise-en-scène primorosa que incorpora o cenário amazônico de maneira rara e perspicaz (observem o barulho dos animais... aliás, o sound design desse filme é soberbo, feito pra ser visto numa sala de cinema mesmo). Nenhuma imagem aqui está à deriva; é detalhe que abunda simbolismo, é construção de uma narrativa que vai terminar mal, nós já sabemos e eles sabem disso e não podem evitar. A tensão sexual sufocante que se estabelece desde o início é o prenúncio de algo que não se poderá evitar, a tragédia do final. Lindo.
Alfredo Sternheim entrega uma boa releitura do clássico filme alemão que projetou Marlene Dietrich ao estrelato, coadunando elementos do melodrama formal com crítica social e recorte de classe, notáveis na construção da personagem do professor - um típico brasileiro médio do milagre econômico. Mas o tom do filme é mais o de uma comédia de costumes, como o conflito do amor livre simbolizado em Laura versus o amor romântico do professor (que o roteiro despreza, mas também se interessa mais do que por Laura). Anjo Loiro é um filme que envelheceu de um jeito curioso; não necessariamente ruim, ainda que datado, com certeza. Mas seu final traz um realismo irônico bastante atual e debochado.
Caótico. Mira o drama psicológico de Spencer ou Jackie de Pablo Larraín, mas o roteiro aqui não sabe muito bem para qual direção seguir. Cauã e sua canastrice habitual dão conta do recado, mas os problemas aqui são de outra ordem que não é a interpretação dos atores. Um filme que se propõe ser uma reflexão sobre Pedro I no ano do bicentenário da independência do Brasil, mas se abstém de qualquer crítica ao lado autoritário desse governante, conivente com o projeto de nação escravagista e oligárquica, é no mínimo questionável. Não existe sequer menção ao motivo do imperador ter abdicado ao trono do Brasil. Laís ainda cede à agenda politicamente correta ao abordar o drama de pessoas escravizadas, mas sem se aprofundar verdadeiramente no assunto. No entanto, o filme também não é um retrato fiel da vida privada de Pedro, já que a autora insiste em boatos sem comprovação histórica (a agressão física à imperatriz). É um filme imaginado, como um sonho que mais se parece com um pesadelo. E assim a história do Brasil continua sendo miseravelmente mal aproveitada pela filmografia nacional.
É um problema de gênero que esse filme não tenha sido visto, não tenha circulado mais, não tenha sido apreciado; é um preconceito de gênero que cineastas mulheres (ainda) têm que lidar. Linda estreia de Anna Karina na direção, num grande esforço certamente, também como roteirista e produtora. Anna Karina é uma atriz que desde o início se especializou em personagens tragicômicas e em Vivre Ensemble ela parece amadurecer tremendamente essas personagens numa maturidade balzaquiana e um pouco tola, ainda que humanista e sadia, obviamente atenta ao espírito do seu tempo - as cenas em Nova York... Anna soube aprender com os grandes cineastas com quem trabalhou, vários; mas ela é, antes de tudo, muito nouvelle vague e isso fica evidente em como enquadra os seus planos, na montagem, no roteiro. É um filme com personalidade, sim, a de Anna Karina. Ótima atuação de Michel Lancelot.
Nem parece que fazem trinta anos que lançaram esse inusitado thriller erótico que se distingue pela crítica social ao abuso policial, por meio do repulsivo personagem interpretado pelo ótimo Ray Liotta.
Gostei bastante do livro de Patricia Highsmith em que se baseia este filme e acreditem, é uma adaptação quase fiel. A direção de Adrian Lyne é impecável e tem a sua assinatura, e achei correta a opção do Sam Levinson, de Euphoria, em focar a trama mais na dinâmica do casal tóxico Melinda e Vic, sem moralizar nem vilanizar muito um dos personagens, porque ambos são péssimos caráteres. Aceitando essa proposta, o fim, ainda que bastante contraditório em sentido, é coerente e inovador; embora sem dúvidas precipitado e mal finalizado. Ana de Armas e Ben Affleck parecem muito à vontade em seus papéis.
Não é tão ruim quanto dizem; na verdade, quase ninguém viu mesmo. O filme seria muito melhor se focasse principalmente nos subenredos dos aspirantes do sucesso em Cannes, do que no romance entre Carradine e Vitti. Uma dupla de grandes atores, que embora entrosados, foram servidos de diálogos e roteiro bastante piegas.
Vamos lá. A premissa era muito boa, uma mulher interpretando uma personagem masculina, mas parou por aí. Vadim tentou brincar com a realidade, fazendo Bardot interpretar mais uma vez aquilo de que ela era chamada na vida real: uma devoradora de homens. Mas a semelhança com a realidade para por aí, Don Juan se pretende um filme inspirado por uma lenda, mas ainda sendo um espelho da realidade; entretanto, só consegue ser um filme fantasioso. Começa meio farsesco (e poderia seguir bem assim), mas derrapa num dramalhão terrivelmente ruim. Depois melhora nas cenas com Jane Birkin para então voltar ao tom melodramático anterior e terminar da pior maneira possível. Em pleno 1973, Don Juan era um filme tremendamente machista, que envelheceu muito mal. Vadim literalmente sepultou a carreira de Brigitte Bardot, com uma personagem que até era promissora, afinal, uma vilã; mas que tem um destino absolutamente misógino nas mãos do diretor; à parte alguns diálogos interessantes, não sobra quase nada de bom. Foi o último filme de BB, depois haveria somente uma participação especial no mais esquecível ainda Colinot (1973). Ela chegou a declarar que gostaria de fazer um último bom filme e houveram boatos, mas já era tarde, o tempo havia passado. Em cinema ele passa rápido demais. Nenhuma grande estrela encerrou uma carreira voluntariamente depois de um grande filme. Ao que parece foi melhor assim para ela...
Eu estive me perguntando o que Pablo Larraín pretende filmando perfis femininos do século passado; espero que seja uma trilogia, porque existe um fio condutor comum tanto em Jackie, como agora em Spencer; não são cinebiografias, são dramas psicológicos de aristocratas altamente assediadas pela mídia internacional, em momentos chave de suas vidas (nada) privadas. Na história de Jackie esse turning point foi o assassinato de JFK, já em Spencer, é a iminente separação da Princesa Diana. Ambas mulheres recorrem constantemente em seus pensamentos à outras figuras históricas femininas de seus respectivos países; no caso de Jackie trata-se de Mary Lincoln - a viúva de Abraham Lincoln que enfrentou vários problemas depois de assistir o assassinato do marido. Diana, por sua vez, tem devaneios com Ana Bolena, a esposa decapitada de Henrique VIII. Isto não são coincidências de roteiro. Larraín me parece estar costurando uma trilogia de mulheres em momentos de emoções afloradas, e diga-se de passagem, faz isso brilhantemente. Kristen Stewart transmite absolutamente tudo numa atuação irretocável, com um olhar tão tristonho quanto ao mesmo tempo otimista em seu anseio pela felicidade e pela libertação. Que venha a próxima.
Deliciosamente anárquico. Paul Verhoeven dirige uma obra multifacetada, cheia de crítica social e cinismo; corrupção, insanidade e deboche. Uma história real de amor lésbico misturada à devoção e loucura pela fé. Eu não esperava que Verhoeven conseguisse ultrapassar a ousadia de Elle, mas ele se superou. Benedetta parece o encontro de um thriller erótico dos anos 90 com insights maravilhosos de A Religiosa de Jacques Rivette e Perfume - história de um assassino. Ele ainda acerta ao conceder à protagonista o mesmo privilégio que a história lhe reservou e de alguma forma encobre toda manifestação sobrenatural: o benefício da dúvida. Virginie Efira certamente merece o estrelato internacional, pois permanece em todos os quadros que aparece como uma chama que ilumina a tela incessantemente.
Rio Babilônia
2.9 69Continua atual e relevante o épico carioca de Neville. Um filme que envelheceu muito bem, o que fala bastante sobre o nosso tempo também
Antônia: O Filme
2.7 54Antônia é um filme importante pelo que retrata e por quem o filme retrata. Gosto do tom carlosreichenbacheriano que a Tata Amaral reveste a história das meninas, mas que torna seu realismo menos embrutecido por meio de uma musicalidade contagiante. Esse olhar feminino para uma história feminina e periférica tem uma sentido positivo que afasta o filme de um docudrama (as atuações várias vezes suscitam o improviso e funcionam bem nesse esquema) na medida em que a música da o tom do filme e do caminho das personagens. Antônia é um olhar único no cinema nacional para a cena do rap paulistano por uma perspectiva feminina, mais rara ainda, assim como a formação de um girl group que só funcionou nas tela. Parecia um sonho e deve ter sido assim pra elas. O sonho é desfeito com a morte de Cindy Mendes (quem melhor cantava rap entre as quatro) antes do quarenta anos de idade. É a queda triste na realidade que não deixa de nos lembrar que Antônia era um retrato da sociedade. Duro de acreditar que pouca coisa mudou, que o sonho muitas vezes não se concretiza.
Crepúsculo de uma Paixão
3.6 2Fredrich March e Kim Novak em atuações primorosas. Uma raridade em seu tempo por questionar o status quo do macho e desconstruir a suposta invencibilidade do masculinismo.
Os Homens que Eu Tive
3.4 13Amoral e muito delicado. Um filme que em seu tempo conseguiu ser mais audacioso do que Bob & Carol & Ted & Alice; aliás, escrito com tanta sinceridade e otimismo por essa alteridade que o amor livre possui, que permanece inovador cinquenta anos depois. Belíssima a restauração em 4K.
Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você
3.9 28 Assista AgoraPostando aqui a minha crítica do letterboxd (onde o povo tá reclamando sem parar):
Um pouco surpreso com as críticas nesta página, as pessoas parecem que não sabem de onde estão falando, nem sobre quem estão falando ou mesmo do que estão falando e isso é gravíssimo. A quantidade de depoimentos de homens que incomodou tanto é um reflexo do meio musical do tempo da Elis até os dias de hoje. O melhor exemplo são as filmagens em 16mm, Elis e a filha do Tom são quase sempre as únicas mulheres naquele ambiente cheio de homens o tempo todo. Esse era o meio artístico em que a Elis trabalhava e isso não explica a musicalidade enorme dela, mas ajuda a dar uma dimensão de como foi difícil pra ela se afirmar num meio artístico frequentemente tão prejudicial para as mulheres. Não existe a possibilidade de que esse documentário fosse construído sem contextualizações sobre aquele momento específico da música brasileira ou sobre ambos os artistas protagonistas (falecidos) já que há um valor educacional forte em um documentário como esses que não deve ser subestimado; assim como também me pareceria sem sentido e até injusto limar entrevistas com os profissionais envolvidos na gravação do álbum, afinal eles também deram sua contribuição a essa obra artística coletiva - repito, coletiva, não se trata de um trabalho individual. O último ponto que acho que muita gente aqui não levou em conta é que provavelmente as filmagens feitas em 16mm não cobrem assim tanto tempo de tela a ponto de rechear três episódios como é o caso do documentário dos Beatles Get Back. Embora elas tenham sido realizadas com maior ou menor pretensão em sua finalidade (algumas vezes sem nenhuma, totalmente fora de foco), não ficou a aparência de que exista muito mais coisa fora o que foi mostrado em tela (e chega a ser repetido em alguns momentos). A edição foi certeira em construir uma narrativa que privilegia as histórias por detrás do álbum entrelaçando-as às imagens inéditas, que por si só não se submetem totalmente ao roteiro e pulsam vida própria, exprimindo toda a tensão e o choque do encontro de Elis e Tom, a criação musical e como tudo isso resultou num afeto profundo e recíproco entre esses dois grandes artistas que fica explícito ao final. No mais, tirei uma estrela só pelo comentário do André Midani na capa da gaita sobre a morte da Elis; o tipo de aforismo que de tão presunçoso acaba sendo desnecessário.
Esculturas da Vida
3.3 16 Assista Agoracomédia das sutilezas
Um belo monstro
3.3 4Um exercício apurado em cafonice
Pearl
3.9 987Por uma novela da Globo onde Mia Goth seja a neta malvada da Maria Gladys
O Rio do Desejo
3.4 45Intenso, hipnótico, sedutor... seriam as palavras chave do Rio do Desejo.
É um filme sobre sentimentos fortes, sobre seres que ardem e clamam por afeto e proteção. E que ao serem reprimidos causam sofrimento e dor pra depois explodirem. É o anti Cidade Baixa do Sérgio Machado, verdadeiro maestro que conduz esse elenco afinadíssimo conforme a sua música, numa mise-en-scène primorosa que incorpora o cenário amazônico de maneira rara e perspicaz (observem o barulho dos animais... aliás, o sound design desse filme é soberbo, feito pra ser visto numa sala de cinema mesmo). Nenhuma imagem aqui está à deriva; é detalhe que abunda simbolismo, é construção de uma narrativa que vai terminar mal, nós já sabemos e eles sabem disso e não podem evitar. A tensão sexual sufocante que se estabelece desde o início é o prenúncio de algo que não se poderá evitar, a tragédia do final. Lindo.
Anjo Loiro
3.5 8Alfredo Sternheim entrega uma boa releitura do clássico filme alemão que projetou Marlene Dietrich ao estrelato, coadunando elementos do melodrama formal com crítica social e recorte de classe, notáveis na construção da personagem do professor - um típico brasileiro médio do milagre econômico. Mas o tom do filme é mais o de uma comédia de costumes, como o conflito do amor livre simbolizado em Laura versus o amor romântico do professor (que o roteiro despreza, mas também se interessa mais do que por Laura). Anjo Loiro é um filme que envelheceu de um jeito curioso; não necessariamente ruim, ainda que datado, com certeza. Mas seu final traz um realismo irônico bastante atual e debochado.
A Viagem de Pedro
3.2 23 Assista AgoraCaótico. Mira o drama psicológico de Spencer ou Jackie de Pablo Larraín, mas o roteiro aqui não sabe muito bem para qual direção seguir. Cauã e sua canastrice habitual dão conta do recado, mas os problemas aqui são de outra ordem que não é a interpretação dos atores. Um filme que se propõe ser uma reflexão sobre Pedro I no ano do bicentenário da independência do Brasil, mas se abstém de qualquer crítica ao lado autoritário desse governante, conivente com o projeto de nação escravagista e oligárquica, é no mínimo questionável. Não existe sequer menção ao motivo do imperador ter abdicado ao trono do Brasil. Laís ainda cede à agenda politicamente correta ao abordar o drama de pessoas escravizadas, mas sem se aprofundar verdadeiramente no assunto. No entanto, o filme também não é um retrato fiel da vida privada de Pedro, já que a autora insiste em boatos sem comprovação histórica (a agressão física à imperatriz). É um filme imaginado, como um sonho que mais se parece com um pesadelo. E assim a história do Brasil continua sendo miseravelmente mal aproveitada pela filmografia nacional.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraParece uma cópia esquisita de Titanic.
Copacabana
3.7 35Medíocre... Me pergunto como Carmen pôde colocar o próprio dinheiro numa produção desse nível, que só serviu para rebaixá-la como artista.
Vivre Ensemble
3.9 2É um problema de gênero que esse filme não tenha sido visto, não tenha circulado mais, não tenha sido apreciado; é um preconceito de gênero que cineastas mulheres (ainda) têm que lidar. Linda estreia de Anna Karina na direção, num grande esforço certamente, também como roteirista e produtora. Anna Karina é uma atriz que desde o início se especializou em personagens tragicômicas e em Vivre Ensemble ela parece amadurecer tremendamente essas personagens numa maturidade balzaquiana e um pouco tola, ainda que humanista e sadia, obviamente atenta ao espírito do seu tempo - as cenas em Nova York... Anna soube aprender com os grandes cineastas com quem trabalhou, vários; mas ela é, antes de tudo, muito nouvelle vague e isso fica evidente em como enquadra os seus planos, na montagem, no roteiro. É um filme com personalidade, sim, a de Anna Karina. Ótima atuação de Michel Lancelot.
O Colecionador
4.1 113Incel
Eu Te Verei no Inferno, Querida
3.0 1Cafonice intrínseca
Obsessão Fatal
3.3 57Nem parece que fazem trinta anos que lançaram esse inusitado thriller erótico que se distingue pela crítica social ao abuso policial, por meio do repulsivo personagem interpretado pelo ótimo Ray Liotta.
Vivendo na Corda Bamba
3.9 10Como envelheceu bem esse filme!
Águas Profundas
2.5 362 Assista AgoraGostei bastante do livro de Patricia Highsmith em que se baseia este filme e acreditem, é uma adaptação quase fiel. A direção de Adrian Lyne é impecável e tem a sua assinatura, e achei correta a opção do Sam Levinson, de Euphoria, em focar a trama mais na dinâmica do casal tóxico Melinda e Vic, sem moralizar nem vilanizar muito um dos personagens, porque ambos são péssimos caráteres. Aceitando essa proposta, o fim, ainda que bastante contraditório em sentido, é coerente e inovador; embora sem dúvidas precipitado e mal finalizado. Ana de Armas e Ben Affleck parecem muito à vontade em seus papéis.
Um Caso Quase Perfeito
3.5 1Não é tão ruim quanto dizem; na verdade, quase ninguém viu mesmo. O filme seria muito melhor se focasse principalmente nos subenredos dos aspirantes do sucesso em Cannes, do que no romance entre Carradine e Vitti. Uma dupla de grandes atores, que embora entrosados, foram servidos de diálogos e roteiro bastante piegas.
Se Don Juan Fosse Mulher
3.4 41Vamos lá. A premissa era muito boa, uma mulher interpretando uma personagem masculina, mas parou por aí. Vadim tentou brincar com a realidade, fazendo Bardot interpretar mais uma vez aquilo de que ela era chamada na vida real: uma devoradora de homens. Mas a semelhança com a realidade para por aí, Don Juan se pretende um filme inspirado por uma lenda, mas ainda sendo um espelho da realidade; entretanto, só consegue ser um filme fantasioso. Começa meio farsesco (e poderia seguir bem assim), mas derrapa num dramalhão terrivelmente ruim. Depois melhora nas cenas com Jane Birkin para então voltar ao tom melodramático anterior e terminar da pior maneira possível. Em pleno 1973, Don Juan era um filme tremendamente machista, que envelheceu muito mal. Vadim literalmente sepultou a carreira de Brigitte Bardot, com uma personagem que até era promissora, afinal, uma vilã; mas que tem um destino absolutamente misógino nas mãos do diretor; à parte alguns diálogos interessantes, não sobra quase nada de bom. Foi o último filme de BB, depois haveria somente uma participação especial no mais esquecível ainda Colinot (1973). Ela chegou a declarar que gostaria de fazer um último bom filme e houveram boatos, mas já era tarde, o tempo havia passado. Em cinema ele passa rápido demais. Nenhuma grande estrela encerrou uma carreira voluntariamente depois de um grande filme. Ao que parece foi melhor assim para ela...
Vento Seco
3.2 89Um filme completamente perdido em meio a tantas referências utilizadas pelo diretor...
Spencer
3.7 569 Assista AgoraEu estive me perguntando o que Pablo Larraín pretende filmando perfis femininos do século passado; espero que seja uma trilogia, porque existe um fio condutor comum tanto em Jackie, como agora em Spencer; não são cinebiografias, são dramas psicológicos de aristocratas altamente assediadas pela mídia internacional, em momentos chave de suas vidas (nada) privadas. Na história de Jackie esse turning point foi o assassinato de JFK, já em Spencer, é a iminente separação da Princesa Diana. Ambas mulheres recorrem constantemente em seus pensamentos à outras figuras históricas femininas de seus respectivos países; no caso de Jackie trata-se de Mary Lincoln - a viúva de Abraham Lincoln que enfrentou vários problemas depois de assistir o assassinato do marido. Diana, por sua vez, tem devaneios com Ana Bolena, a esposa decapitada de Henrique VIII. Isto não são coincidências de roteiro. Larraín me parece estar costurando uma trilogia de mulheres em momentos de emoções afloradas, e diga-se de passagem, faz isso brilhantemente. Kristen Stewart transmite absolutamente tudo numa atuação irretocável, com um olhar tão tristonho quanto ao mesmo tempo otimista em seu anseio pela felicidade e pela libertação. Que venha a próxima.
Benedetta
3.5 198 Assista AgoraDeliciosamente anárquico. Paul Verhoeven dirige uma obra multifacetada, cheia de crítica social e cinismo; corrupção, insanidade e deboche. Uma história real de amor lésbico misturada à devoção e loucura pela fé. Eu não esperava que Verhoeven conseguisse ultrapassar a ousadia de Elle, mas ele se superou. Benedetta parece o encontro de um thriller erótico dos anos 90 com insights maravilhosos de A Religiosa de Jacques Rivette e Perfume - história de um assassino. Ele ainda acerta ao conceder à protagonista o mesmo privilégio que a história lhe reservou e de alguma forma encobre toda manifestação sobrenatural: o benefício da dúvida. Virginie Efira certamente merece o estrelato internacional, pois permanece em todos os quadros que aparece como uma chama que ilumina a tela incessantemente.