Jack Ridge é um agricultor que também é um ex-pianista superstar local. Programado para voltar à música, ele machuca a mão depois de socar uma parede. Mas. o fardo de brincar com uma mão machucada e administrar sua fazenda pode ser demais para ele.
Fred é um jovem escritor, deslocado em seu mundo. Um rapaz que se leva muito a sério, embora não adote a mesma atitude para com os outros. E, com isto, vai ter que aguentar as consequências de seu comportamento, sem perceber o imenso vazio existencial em que se encontra.
"45 anos" (2015) dirigido por Andrew Haigh (Weekend - 2011) é um drama melancólico, mas belíssimo que demonstra o quão difícil é lidar com o fato de que nunca conheceremos uma pessoa por completo. As escolhas feitas na vida pesam e será que apenas o amor é capaz de superar tudo o que acontece em um relacionamento?
Falta apenas uma semana para o 45º aniversário de casamento de Kate Mercer (Charlotte Rampling) e o planejamento para a festa está indo bem. Contudo, uma carta chega para seu marido, passada cinco décadas o corpo de seu primeiro amor foi descoberto, congelado e preservado nas geleiras dos Alpes Suíços. Geoff (Tom Courtenay) se desestabiliza emocionalmente, não consegue se conter, Kate de início o ouve, o compreende, mas ele se preocupa demasiadamente com tal notícia e tudo o que Kate parece fazer é invisível aos seus olhos, como a festa de 45 anos que acontecerá dentro de uma semana. Ele relembra o relacionamento passado e chega um momento em que Kate não admite mais, e aí ela descobre um forte segredo. Kate vai da curiosidade à inquietação, começa a reinterpretar seu presente.
A sensação que o filme causa é de pura angústia e medo, pois você escolhe se casar com alguém que também fez igual escolha, passa-se uma vida juntos, mas aí na velhice descobre que, talvez, nunca tenha sido de fato importante. Que nunca foi a escolha real. Dilacerante olhar para trás. Imagine você perceber que seu marido viveu um luto e que conduziu a vida dele e a sua baseado no que poderia ter sido com a outra.
“Advantageous” (2015) dirigido por Jennifer Phang é um filme melancólico que passeia por muitas questões existenciais. Em uma cidade no futuro próximo onde a opulência ofusca dificuldades econômicas, Gwen e sua filha, Jules, fazem tudo o que podem para manter a alegria, apesar de toda a instabilidade em volta do seu mundo.
Gwen (Jacqueline Kim – também roteirista) é mãe de Jules (Samantha Kim), uma menina de 13 anos muito inteligente. As duas tentam sobreviver em um mundo extremamente luxuoso e tecnológico. Somos apresentados a um futuro clean, mas mascarado, telefonemas e conferências são feitos através de hologramas e a estética nunca esteve tão em alta. Gwen trabalha em uma empresa que prima pela beleza e que antes de tudo ataca o psicológico das pessoas. Gwen já não representa mais o conceito da empresa, está envelhecida e não se encaixa nos padrões atuais. E, portanto o futuro de sua filha está em risco ao perder esse emprego. Interessante o conteúdo do longa, ainda mais por ter sido feito por mulheres, a visão em torno das pressões, seja elas estéticas ou morais. Gwen é mãe solteira, precisa trabalhar duro e lidar com o meio que diz que não há espaço pra ela, Jules é sua vida e é capaz de tudo para dar um futuro garantido a sua filha...
“Mot Naturen” (2014) dirigido e protagonizado por Ole Giæver (Fjellet – 2011) é um filme introspectivo do qual retrata a viagem existencial de Martin, que desesperado por causa de seu cotidiano vai para às montanhas passar um fim de semana essencial e quase pueril. Mergulhamos dentro de seus pensamentos e partilhamos de seus sentimentos e fantasias.
O filme retrata de forma incrível o ser humano e o como pensamos. Martin é o clássico modelo de homem na sociedade, trabalhador, casado e pai de um menino, ele está claramente sufocado com sua vida e olha para seus colegas e esposa de modo distante, ele parece não se encaixar em nada. Martin não deseja sair para beber com os seus colegas de trabalho e nem passar o fim de semana com a família, então arranja suas coisas e vai para às montanhas, seus questionamentos passeiam por vários aspectos, desde os mais reflexivos, a divertidas, ou imaginativas situações. Martin é um cara comum, não é feito de qualidades apenas, como a maioria aparenta, por isso se sente desesperado e tenta se recuperar de tudo isso sozinho, longe da confusão cotidiana. Mas quando chega se pergunta se esta é a decisão certa, pois ele poderia estar junto de sua família, brincando com seu filho, do qual não é muito próximo, várias vezes seus pensamentos pairam sobre isso e Martin não sabe muito bem como ser pai. Vemos alguns flashbacks de quando era criança e sutilmente exemplifica um pouco de sua personalidade atual...
“Gluckauf” (2015) dirigido por Remy van Heugten é um filme holandês intenso marcado pela dura relação entre pai e filho.
Em Limburg, área onde havia uma próspera indústria de mineração, Lei (Bart Slegers) está desempregado e vive de pequenas maracutaias, divorciado da mulher ele busca o filho Jeffrey (Vincent van der Valk) para viver consigo. Sua vida desregrada afeta a personalidade do garoto que cresce em meio a pobreza e violência. Lei o ensina a caçar e conforme se desenvolve sua índole se torna cada vez mais agressiva. O amor entre eles é sufocante, são bandidos modernos e lutam para sobreviver na província de Limburg, no sul holandês empobrecido e negligenciado. Jeffrey trafica drogas e namora Nicole (Joy Verberk), enquanto seu pai vende coisas roubadas e de segunda mão. Lei está endividado com Vester (Johan Leysen), um criminoso impiedoso e, Jeffrey como um bom filho decide quitar essa dívida, mas para isso acontecer acaba se submetendo a situações degradantes. Vester vê futuro em Jeffrey e lhe confere serviços que o fará ascender na organização. Seu pai ao ver que seu filho se sobressaiu entra em conflito consigo mesmo, um misto de inveja e preocupação o invade...
"Tangerina" (2015) dirigido por Sean Baker (Uma Estranha Amizade - 2012) é cinema independente e completamente despretensioso, coloca em pauta um universo pouco retratado, o cotidiano de duas travestis que se prostituem e cuja amizade se fortalece a cada situação apresentada.
Utilizando poucos recursos e um roteiro simples, Sean Baker expõe o underground, protagonistas que quase nunca o cinema explora. "Tangerina" vem sendo muito comentado por ter sido filmado apenas com três IPhones, o que deu um aspecto descompromissado e real à história. É bem realizado, traz enquadramentos interessantes e que nada devem as produções que utilizam grandes equipamentos.
O filme é uma espécie de road movie pelos becos de Los Angeles, após Sin-Dee Rella (Kiki Kitana Rodriguez) sair da prisão temporária e Alexandra (Mya Taylor) lhe contar que seu namorado Chester (James Ransone) a traiu com uma branquela com uma "racha de verdade", ela decide encontrá-lo e se vingar. Alexandra a segue nesta jornada pelas calçadas, metrôs e táxis. Também acompanhamos Razmik (Karren Karagulian), um taxista que apesar de ter família e filhos sai a procura de travestis para se satisfazer, por conta dele observamos no decorrer vários tipos de pessoas que frequentam o seu táxi, desde bêbados, traficantes, prostitutas e travestis...
"Cinco Graças" (2015) é uma produção francesa, porém a direção é da turca Deniz Gamze Ergüven, que toca de maneira sensível em um assunto muito importante, o empoderamento da mulher na sociedade turca contemporânea.
No início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.
O título original "Mustang" representa muito bem a personalidade indomável destas garotas, elas não são submissas, questionam e lutam para conseguir liberdade. "Cinco Graças" por vezes remete a "Virgens Suicidas" (1999), de Sofia Coppola, o fanatismo religioso, a opressão contra as adolescentes e a revolta gerada, mas a obra de Deniz vai mais além e tem marca própria, denuncia preceitos rigorosos designados como parte de uma cultura para oprimir as mulheres...
"Uma Nova Amiga" (2014) baseado em um conto de Ruth Rendel e dirigido por François Ozon (Jovem e Bela - 2013), é um drama psicológico que traz um tema tabu e nos faz confrontar valores morais.
Claire (Anaïs Demoustier) e Laura (Isild Le Besco) são melhores amigas, desde que se encontraram no colégio nunca mais se separaram, passaram por todas as fases e descobertas juntas, até que Laura morre após dar à luz. Claire devastada promete cuidar de sua filha e do marido David (Romain Duris). Um dia, Claire vai até a casa do viúvo e o que vê a choca; David está vestido de mulher segurando a bebê no colo. Ele muito calmo pede que ela o escute, prontamente se troca e começa a contar seu segredo. A verdade é que David sempre gostou de se vestir de mulher, e segundo ele a esposa sabia disso, mas o casamento e a sociedade acabou aprisionando esse seu lado, depois da morte de Laura a necessidade surgiu novamente ajudando-o a superar o luto e a cuidar de sua filha. Claire no começo acha estranho e até o chama de pervertido, mas com a convivência seus sentimentos vão mudando, o que de início supria a carência da amiga termina por se transformar em paixão.
O longa de Ozon surpreende por sua capacidade de nos tirar da zona de conforto e pensar na situação de David, por muitas vezes ele é questionado se é gay, travesti, doido ou doente, a mania de querer respostas para tudo e encaixar as pessoas num padrão é bem explicitada. Ele é o personagem mais terno e real, todos os outros, assim como Claire se escondem, são retraídos. Quando David decide de fato assumir sua identidade feminina é como se um respiro de alívio acontecesse, as cenas são delicadas e recheadas de um humor sutil, mas sem nunca perder a dramaticidade...
"The Lobster" (2015) dirigido por Yorgos Lanthimos é original, curioso, estranho e repleto de metáforas, é o primeiro filme em língua inglesa do diretor grego, e mais uma vez ele nos apresenta uma obra inusitada, mas muito interessante.
A história se passa num futuro próximo, onde uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é preso e enviado ao Hotel, onde terá 45 dias para encontrar um(a) parceiro(a). Caso não encontrem ninguém, eles são transformados em um animal de sua preferência e soltos no meio da Floresta.
David (Colin Farrell) recentemente foi deixado pela mulher, e portanto se tornou um hóspede do hotel, que mantém regras diárias para que as pessoas possam encontrar o par perfeito, os gostos precisam ser iguais, os defeitos, e tudo é comprovado em um teste depois. David optou por se tornar uma lagosta caso não conseguir uma parceira, mas com o passar dos dias percebe que o melhor é escolher alguém. O tom de absurdo e o humor negro faz parte de todo o filme, umas das passagens mais bizarras é a da caçada humana para conseguirem dias extras no local...
"Meu ponto é... você pode sair do ciclo de uma pessoa. Mas não pode sair do seu."
"Rainha do Mundo" (2015) dirigido por Alex Ross Perry (Cala a Boca Philip - 2014) é um terror psicológico que no seu decorrer se intensifica e modifica sentimentos, como a amizade em inveja e acolhimento em uma troca de farpas. A atmosfera de tensão se dá do começo ao fim e alucinamos junto com Catherine, vivida por Elisabeth Moss, numa atuação soberba. Ela e Virginia (Katherine Waterston) são melhores amigas e cresceram juntas. Todos os anos vão relaxar na casa do lago que pertence a família de Virginia, as duas usufruem dos privilégios que possuem e não há muito para se preocupar, até que a vida de Catherine desmorona com o abandono do namorado e a morte do pai, desolada pede ajuda a sua amiga, que a leva até a casa do lago. Porém, a confiança das duas está abalada, devido os mal-entendidos e acontecimentos sucedidos no ano passado. O ambiente que era para se tornar um abrigo a Catherine acaba se transformando num inferno, lembranças surgem e sua mente vai ficando perturbada, principalmente quando surge Rich (Patrick Fugit), o vizinho de Virginia que insiste em chamar Catherine de mimada, entre outras coisas.
Virginia exibe um semblante duro, sua preocupação com a amiga é distante e sempre faz questão de criticá-la, não entendemos o porquê se comporta assim, já que são melhores amigas. O passado se mistura com o presente compondo um mosaico de situações, e a partir daí Catherine sente os sinais de depressão e loucura. O clima do filme é claustrofóbico, apesar do ambiente dizer o contrário, o lago, a floresta seria sinônimo de liberdade e renovação, os closes são de tirar o fôlego e frisa o estado psicológico da protagonista, não sobra espaço pra mais nada. A trilha sonora destoante também contribui para perturbar. A atuação de Elisabeth Moss é intensa, pesada, nossos sentimentos para com ela mudam muito, sua degradação psicológica é agoniante...
"Love" (2015) dirigido pelo sempre polêmico Gaspar Noé (Enter the Void - 2009), disserta sobre a relação amorosa de Murphy (Karl Glusman), um americano que estuda cinema em Paris e Electra (Aomi Muyock), estudante de artes. A relação é mostrada ao longo do filme quando Murphy começa a relembrar, a intensa paixão é explorada em todos os detalhes, desde o encantamento inicial aos estilhaços do final.
Murphy está frustrado com a vida atual que leva, ao lado de Omi (Klara Kristin) e do filho. Um dia, ele recebe um telefonema da mãe de sua ex-namorada, Electra, perguntando se ele sabe onde ela está, já que está desaparecida há meses. Mesmo sem a encontrar há anos, a ligação desencadeia uma forte onda saudosista em Murphy, que começa a relembrar fatos marcantes do relacionamento que tiveram.
Todas as características de Gaspar Noé estão presentes, o existencialismo, a psicodelia, a fotografia estilizada, os cortes que imitam piscar de olhos. Seus filmes sempre geram sentimentos controversos e sinestésicos, a câmera nos faz viajar. "Love" mostra o amor sob o ponto de vista do sexo, por vezes simples, repetitivo e sem profundidade. Sem dúvidas a estética se sobressai. As cenas são maravilhosamente bem orquestradas, ângulos diferenciados, hipnotiza o espectador e mantém toda a atmosfera erótica, o destaque vai para a cena do Ménage à Trois.
Para quem pensa em assistir o filme especialmente por conter cenas de sexo explícito é bom saber que dificilmente irá se excitar vendo-as, até porque as cenas não foram feitas para isso, geralmente elas carregam sentimentos confusos e aleatórios, como quando o casal vai até um clube de swing, mas também há as partes em que o sexo é romantizado, claro sem nenhum clichê, afinal trata-se de uma obra que tem o sexo como o protagonista...
"Body" (2015) da polonesa Malgorzata Szumowska (W Imie - 2013) é um filme que a princípio pode causar um certo estranhamento em relação ao tema, mas é um sensível retrato do como as pessoas lidam de diferentes formas diante ao luto. A diretora utiliza também um tom cômico, mas o drama jamais perde sua força, as personagens são convincentes e geram bastante desconforto, é difícil encarar as suas dores.
Um perito criminal (Janusz Gajos) e sua filha (Justyna Suwala), que sofre de anorexia tentam lidar com a morte da pessoa mais próxima que eles tinham. Já no início percebemos o quão diferente é a sua abordagem, enquanto o perito examina o local que uma pessoa se enforcou, esta de repente se levanta e sai andando, deixando todos atônitos. É claro, precisa-se ter certo desprendimento e saber que o filme fala por meio de metáforas.
O espiritismo em certo ponto exerce grande influência sobre pai e filha, mesmo que ele seja cético se dá o direito de questionar algumas coisas, Anna (Maja Ostaszewska), a terapeuta de Olga, é médium, e é ela que vem para despertar nele sentimentos escondidos, Anna revela que a sua esposa tem uma mensagem pra ele e então o perito começa a perceber "sinais". Acostumado a lidar com corpos diariamente, é distante da filha que tenta chamar sua atenção provocando o vômito após ingerir comida, Olga é frágil, seus desabafos na terapia dilaceram nosso coração...
"Queda Livre" (2014) dirigido pelo interessante diretor húngaro György Pálfi (Taxidermia - 2006) é uma mescla de absurdo, ironia e fantasia. É incrível que seu filme seja ao mesmo tempo belo e grotesco. A tristeza está disfarçada de cinismo, há inúmeras críticas, mas pela surrealidade fica difícil acertar o que de fato quer dizer. O filme reúne algumas histórias a partir do suicídio malsucedido de uma velha (Piroska Molnar), ela se joga do alto do prédio de onde mora, mas se levanta e junta suas coisas. Ao ver o elevador quebrado precisa subir os sete lances de escada, e daí a cada andar conhecemos as figuras que habitam o local e suas excentricidades.
É humor negro que não acaba mais, o diretor oferece ao espectador uma visão bizarra e ampliada do como o ser humano se comporta, os contos são todos interligados e a beleza fica por conta da fotografia, cada um tem a sua paleta de cores e ângulos diferenciados, além da trilha sonora eletrônica de Amon Tobin que intensifica toda a estranheza.
No primeiro conto observamos um guru tentando fazer seus alunos acreditarem no poder da mente podendo até ultrapassar uma parede. Como em todos os outros as possibilidades de interpretação são abertas, somos atraídos a prestar atenção e a desvendar os significados que refletem na sociedade em que vivemos. Na segunda história temos uma festa de cantores líricos, cuja anfitriã está nua, ela recebe os convidados enquanto o marido a apresenta a homens que a elogiam, aqui fica fácil perceber que a nudez dela significa invasão, o desconforto pelos olhares e também pelo marido a deixar de lado. Na terceira há o casal com fobia de germes, para se tocarem se enrolam em papel filme, a paranoia pela qualidade de vida chega ao ponto da obsessão...
"O Quarto de Jack" (2015) dirigido por Lenny Abrahamson (Frank - 2014) é baseado no best-seller "Room", escrito por Emma Donoghue. É um filme que contém uma carga dramática intensa e surpreende pela atmosfera criada. O ideal seria não saber muito sobre o filme, particularmente teve grande impacto sobre mim por conta disso, não conhecia o livro e li somente a sinopse, que conta a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino que acaba de completar cinco anos, e que é criado por sua mãe, Joy (Brie Larson). Como toda boa mãe, Joy se dedica a manter Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada normal: eles estão presos em um espaço minúsculo apenas com uma claraboia.
A sensação causada é de angústia, o inocente garotinho não sabe da existência de um mundo exterior, não tem ideia do que existe, para ele aquele quarto é o mundo, o restante, o que vê na TV é apenas de mentira. O espaço mínimo é muito bem utilizado, a câmera explora todos os objetos e cantos, sabe aquela impressão de que tudo é grande quando somos crianças?
Jacob Tremblay faz nosso coração ficar apertado, uma atuação segura para uma criança, realmente excelente. Seu personagem é um garotinho esperto, mas ingênuo, com seus longos cabelos passa os dias comendo cereal, assistindo TV, imaginando, e dormindo no armário. Brie Larson (Short Term 12 - 2012) é intensa, de cara lavada e com aspecto adoentado, ao mesmo tempo que parece frágil possui uma força interior muito grande, Jack é a força que a move...
"Táxi Teerã" dirigido por Jafar Panahi (O Balão Branco - 1995, Ouro Carmim - 2003, Fora do Jogo - 2006), um dos mais influentes diretores da New Wave iraniana, traz neste longa diversas questões que rondam as sociedades islâmicas, uma importante obra já que ele está proibido de conceber filmes desde 2010, com a alegação de que seus filmes vão contra o regime. Panahi lançou "Isto não é um Filme" em 2011 e "Cortinas Fechadas" em 2013 de forma clandestina.
Em 2010 Panahi desagradou às autoridades iranianas ao apoiar Mir Hussein Mussavi, o candidato oposicionista, na eleição presidencial de junho de 2009. Posteriormente, sua casa foi invadida, e a sua coleção de filmes, tachada de "obscena", foi apreendida. O cineasta foi preso em março de 2010 e, durante seus 88 dias de detenção, fez greve de fome. Com a mobilização de várias personalidades foi liberado após pagar fiança, mas foi proibido de produzir filmes, dar entrevistas e sair do país durante 20 anos...
"1001 Gramas" dirigido por Bent Hamer (Caro Sr. Horten - 2007) é um filme interessante, porém pode não chamar tanta a atenção por conta do tema inusitado e a narrativa lenta, mas em seu desenrolar acaba surpreendendo e metaforiza de maneira incrível sobre os pesos e as medidas da vida.
Divorciada recentemente, a cientista norueguesa Marie (Ane Dahl Torp) segue rigidamente o roteiro de seu trabalho. O orgulho do instituto de medida onde trabalha é um quilo de peso perfeito, modelo para todas as medições do país, que Marie deve levar para uma grande conferência na França. É sua primeira vez no evento, e a primeira vez que seu pai, colega seu e uma lenda entre cientistas, não vai estar presente. Quando uma emergência familiar abala Marie, ela se vê forçada a encarar novos universos.
Marie tem uma vida toda equilibrada, mas se sente só, seu único contato é com o pai, um famoso cientista e companheiro de trabalho, ela é uma pessoa fria e triste, seu ex-marido está aos poucos levando todos os móveis de sua imensa casa, o que caracteriza um vazio que se nega a enxergar. Sua única distração é visitar seu pai na fazenda, porém as coisas pioram quando ele adoece e para continuar a seguir o desejo dele vai até a França para a convenção dos quilos. Lá, ela conhece Pi (Laurent Stocker), que deixou as certezas e os números de lado para encarar as possibilidades da vida. Os melhores diálogos do filme se dão no momento em que o dois estão juntos...
"Voltando Para Casa" (2014) dirigido pelo mestre Zhang Yimou (Uma Mulher, uma Arma e uma Loja de Macarrão - 2009, A Árvore do Amor - 2010) é uma linda e comovente história de amor que se passa na época da Revolução Cultural e os anos que se seguiram após seu término. Um drama intenso, sensível e poderoso.
Lu Yanshi (Chen Daoming) é um prisioneiro político durante a revolução cultural, mas consegue fugir e ir atrás de sua família para poder ir para bem longe, porém a sua filha Dandan (Zhang Huiwen) está do lado do partido, e por nunca ter conhecido o pai acaba destruindo o reencontro. A cena na estação de trem marcará para sempre a vida da esposa Feng Wanyu (Gong Li), que infelizmente, nunca mais será a mesma. Nos anos 70, no final da revolução, Lu Yanshi é liberto e enfim pode retornar à sua casa, só que se depara com uma situação difícil, Feng não se lembra dele, não consegue perceber que Lu é seu marido, ela sofre um tipo de amnésia causada por uma queda que sofreu devido ao terror que viveu anos atrás. Daí pra frente acompanhamos todo o carinho que Lu oferece a sua mulher, dia após dia tentando com que ela veja que não precisa mais esperar, mas Feng continua a ir na estação de trem esperando o regresso do marido. Dandan já não é mais bailarina e trabalha duro em uma fábrica, arrependida por tudo que fez irá ajudar seu pai a cuidar de sua mãe e fazê-la entender que ele voltou...
"Lições de Harmonia" (2013) dirigido pelo cazaque Emir Baigazin é uma pancada, é um filme que se utiliza da violência, o título é uma ironia e uma crítica às instituições de ensino e todos os segmentos rígidos que ao invés de educar promovem revolta.
Aslan (Timur Aidarbekov) tem 13 anos, é criado por sua avó e faz as vezes de pastor, a cena inicial já choca, certo dia durante um exame médico na escola é humilhado por seus colegas, isso gera um transtorno no garoto que atormentado pela dúvida, se esforça para ficar limpo, além de sua obsessão pela perfeição, ele controla tudo ao seu redor. Essa compulsão lhe trará situações cada vez mais difíceis. É um longa primoroso, a sua fotografia é austera, e o desenrolar dessa história desencadeará na destruição do ser humano. A marginalização e a violência é muito bem delineada. Aslan vive num povoado em algum lugar do Cazaquistão, um ambiente inóspito que provoca ainda mais a sensação de solidão, excluído do convívio dos outros alunos depois do episódio do bullying, Aslan passa seus dias a torturar baratas em sua casa, a estripar ovelhas e manter um ritual de limpeza. Na escola, o domínio de uma gangue liderado por Bolat (Aslan Anarbayev), que por sua vez, segue ordens de um pessoal mais velho para arrancar dinheiro dos meninos, faz da rotina um martírio. A crueldade é a lição e Aslan aos poucos começa a entrar em harmonia com ela. É uma obra interessante, repleta de metáforas, mas por vários momentos o diretor parece esconder informações importantes do espectador, mas mesmo assim não deixa de ter sua força e proporcionar o desconforto em relação a violência institucionalizada, o que acaba moldando a personalidade do jovem e o transformando por completo...
"Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer" (2015) dirigido por Alfonso Gomez-Rejon (Red Band Society - 2014) é baseado no livro homônimo de Jesse Andrews, que também assina o roteiro. A história gira em torno de Greg (Thomas Mann), que está levando o último ano do ensino médio o mais anonimamente possível, evitando interações sociais, enquanto, em segredo, está fazendo animados filmes bizarros com Earl (RJ Cyler), seu único amigo. Mas tanto o anonimato quanto a amizade dos dois é abalada quando a mãe de Greg o força a fazer amizade com uma colega de classe que tem leucemia.
O filme não é um romance e nem lamenta a doença da garota, ele foge dos clichês e surpreende com um drama sutil com ótimas pitadas de humor. O protagonista não tem qualquer carisma, anti-social e autodepreciativo, ele caminha pelos corredores da escola sem aparecer de fato, não se encaixa em nenhuma tribo, mas mantém uma formalidade com todos sem jamais se aproximar. Greg e Earl são amigos desde a infância e adoram filmes de arte, em razão disso têm como hobby produzir pequenos filmes baseados em clássicas cenas do cinema, mas mantêm isso em segredo devido a qualidade dos vídeos. Os dois são tão isolados que preferem se esconder no intervalo na sala do professor Mr. McCarthy (Jon Bernthal), que também não fica atrás em esquisitices...
"O Esgrimista" dirigido por Klaus Härö (Cartas ao Padre Jacob - 2009) é um belo filme que reúne alguns elementos bem convencionais, mas que mesmo assim surpreende pela maneira que aborda a esperança em tempos tão difíceis.
Centrando-se no momento pós-segunda guerra, quando estonianos que lutaram pela Alemanha são perseguidos pelo Governo da União Soviética. Baseado em fatos reais, conta a história do esgrimista Endel Nelis, que nos anos 50 criou uma escola de esgrima para crianças na Estônia. Märt Avandi vive Endel, que fugindo da polícia secreta russa volta para a Estônia e vai parar na pequena cidade de Haapsalu. Lá consegue emprego como professor e tem que criar um clube de esportes. Esgrimista, resolve ensinar sua modalidade às crianças do local. A escola carece de materiais esportivos e as crianças não veem muitas perspectivas, a chegada de Endel ilumina o ambiente, a sua decisão em ensinar esgrima às crianças dá um novo ar, mas por outro lado enfurece o diretor, que vê o esporte como sendo de elite e não para crianças pobres. Então, começa a investigar a vida de Endel, enquanto este se desdobra para arrumar recursos e ensinar o esporte. Alguns se sobressaem e se interessam cada vez mais, porém Endel não leva muito jeito para ensinar, é bruto e se desestabiliza diante os erros, mas acaba cativando os alunos. Ele também se envolve com uma professora e inicia um romance que ajudará com que compreenda ainda mais as crianças.
Não tenho medo de morrer. Não sei se Deus existe ou não, mas prefiro acreditar. E quando olho para o universo, espero que nosso espírito vá para algum lugar, onde nos reconheçamos uns aos outros. Além dos meus pais, eu adoraria rever meu melhor amigo Shaunie, que morreu quando tinha 21 anos. Eu adoraria passar tempo com ele, viajando de carona pelo céu, como fazíamos aqui na Terra quando éramos jovens. Também adoraria encontrar todas as pessoas maravilhosas que tentaram tornar o mundo melhor e trabalharam pela justiça e pela paz no mundo. Para mim, isso é o mais importante. E quando analisamos as grandes religiões, filosofias e ideologias, e tentamos simplificar dogmas e teologias complexos, tudo se resume ao amor. Então espero que meu espírito seja levado para um grande balé e uma grande dança cósmica de amor, onde não haja mais sofrimento nem tristeza. Onde não possamos mais magoar ou ser magoados. E onde possamos realmente celebrar o grande dom da consciência, o grande dom de ser, o grande dom da vida. E se, afinal, Deus não existir, ainda sou grato pelo dom da vida. Sempre penso... que as últimas palavras que gostaria de dizer antes de morrer são: "Obrigado. Obrigado pelo dom da vida".
Um regresso da guerra nunca é fácil. Alegria genuína pode rapidamente se transformar em desespero inexplicável quando soldados voltam para a vida civil. Viaje até a Holanda para encontrar uma mulher cujos problemas começam assim que seu marido e irmão voltam do serviço no Afeganistão em A Guerra de Stella. A Guerra de Stella é um drama holandês que oferece um olhar realista e intrigante sobre o tema delicado de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) entre os jovens soldados de volta do campo de batalha. No filme, a mãe trabalhadora Stella se despede de seu irmão e marido, bem como dos homens de sua cidade que são enviados em uma missão internacional para o Afeganistão. Seu marido envia cartas de vídeo para fazer os meses passarem mais facilmente para Stella e sua filha, mas depois que seu irmão é morto em ação, não é fácil fazer a vida voltar à normalidade. O marido de Stella está profundamente traumatizado com a experiência, e os membros de sua unidade escondem de Stella a verdade sobre a morte de seu irmão. Quando percebe que não tem nada a perder, ela tenta fazer justiça com suas próprias mãos. Em A Guerra de Stella, o famoso diretor Diederik Van Rooijen (escritor e diretor da série de sucesso Penoza e nomeado pela Universal Studios para dirigir o remake do filme de Alfred Hitchcock, Os Pássaros) retrata com verdade pungente um assunto crucial entre cineastas independentes europeus: TEPT. Estes filmes (tais como A Hero’s Welcome ou In Our Name, que foram ao ar anteriormente no Eurochannel) provam que as vítimas da guerra vão muito além dos campos de batalha.
Filhas do Sol
4.1 79Festival Varilux de Cinema Francês
2019
As Far as the Eye Can See
1Jack Ridge é um agricultor que também é um ex-pianista superstar local. Programado para voltar à música, ele machuca a mão depois de socar uma parede. Mas. o fardo de brincar com uma mão machucada e administrar sua fazenda pode ser demais para ele.
Free Range
3.3 1Sinopse:
Fred é um jovem escritor, deslocado em seu mundo. Um rapaz que se leva muito a sério, embora não adote a mesma atitude para com os outros. E, com isto, vai ter que aguentar as consequências de seu comportamento, sem perceber o imenso vazio existencial em que se encontra.
45 Anos
3.7 254 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"45 anos" (2015) dirigido por Andrew Haigh (Weekend - 2011) é um drama melancólico, mas belíssimo que demonstra o quão difícil é lidar com o fato de que nunca conheceremos uma pessoa por completo. As escolhas feitas na vida pesam e será que apenas o amor é capaz de superar tudo o que acontece em um relacionamento?
Falta apenas uma semana para o 45º aniversário de casamento de Kate Mercer (Charlotte Rampling) e o planejamento para a festa está indo bem. Contudo, uma carta chega para seu marido, passada cinco décadas o corpo de seu primeiro amor foi descoberto, congelado e preservado nas geleiras dos Alpes Suíços. Geoff (Tom Courtenay) se desestabiliza emocionalmente, não consegue se conter, Kate de início o ouve, o compreende, mas ele se preocupa demasiadamente com tal notícia e tudo o que Kate parece fazer é invisível aos seus olhos, como a festa de 45 anos que acontecerá dentro de uma semana. Ele relembra o relacionamento passado e chega um momento em que Kate não admite mais, e aí ela descobre um forte segredo. Kate vai da curiosidade à inquietação, começa a reinterpretar seu presente.
A sensação que o filme causa é de pura angústia e medo, pois você escolhe se casar com alguém que também fez igual escolha, passa-se uma vida juntos, mas aí na velhice descobre que, talvez, nunca tenha sido de fato importante. Que nunca foi a escolha real. Dilacerante olhar para trás. Imagine você perceber que seu marido viveu um luto e que conduziu a vida dele e a sua baseado no que poderia ter sido com a outra.
Advantageous
3.4 77 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
“Advantageous” (2015) dirigido por Jennifer Phang é um filme melancólico que passeia por muitas questões existenciais. Em uma cidade no futuro próximo onde a opulência ofusca dificuldades econômicas, Gwen e sua filha, Jules, fazem tudo o que podem para manter a alegria, apesar de toda a instabilidade em volta do seu mundo.
Gwen (Jacqueline Kim – também roteirista) é mãe de Jules (Samantha Kim), uma menina de 13 anos muito inteligente. As duas tentam sobreviver em um mundo extremamente luxuoso e tecnológico. Somos apresentados a um futuro clean, mas mascarado, telefonemas e conferências são feitos através de hologramas e a estética nunca esteve tão em alta. Gwen trabalha em uma empresa que prima pela beleza e que antes de tudo ataca o psicológico das pessoas. Gwen já não representa mais o conceito da empresa, está envelhecida e não se encaixa nos padrões atuais. E, portanto o futuro de sua filha está em risco ao perder esse emprego. Interessante o conteúdo do longa, ainda mais por ter sido feito por mulheres, a visão em torno das pressões, seja elas estéticas ou morais. Gwen é mãe solteira, precisa trabalhar duro e lidar com o meio que diz que não há espaço pra ela, Jules é sua vida e é capaz de tudo para dar um futuro garantido a sua filha...
In Natura
3.5 40blog Pitada Cult de Cinema:
“Mot Naturen” (2014) dirigido e protagonizado por Ole Giæver (Fjellet – 2011) é um filme introspectivo do qual retrata a viagem existencial de Martin, que desesperado por causa de seu cotidiano vai para às montanhas passar um fim de semana essencial e quase pueril. Mergulhamos dentro de seus pensamentos e partilhamos de seus sentimentos e fantasias.
O filme retrata de forma incrível o ser humano e o como pensamos. Martin é o clássico modelo de homem na sociedade, trabalhador, casado e pai de um menino, ele está claramente sufocado com sua vida e olha para seus colegas e esposa de modo distante, ele parece não se encaixar em nada. Martin não deseja sair para beber com os seus colegas de trabalho e nem passar o fim de semana com a família, então arranja suas coisas e vai para às montanhas, seus questionamentos passeiam por vários aspectos, desde os mais reflexivos, a divertidas, ou imaginativas situações. Martin é um cara comum, não é feito de qualidades apenas, como a maioria aparenta, por isso se sente desesperado e tenta se recuperar de tudo isso sozinho, longe da confusão cotidiana. Mas quando chega se pergunta se esta é a decisão certa, pois ele poderia estar junto de sua família, brincando com seu filho, do qual não é muito próximo, várias vezes seus pensamentos pairam sobre isso e Martin não sabe muito bem como ser pai. Vemos alguns flashbacks de quando era criança e sutilmente exemplifica um pouco de sua personalidade atual...
Gluckauf
3.5 2blog Pitada Cult de Cinema:
“Gluckauf” (2015) dirigido por Remy van Heugten é um filme holandês intenso marcado pela dura relação entre pai e filho.
Em Limburg, área onde havia uma próspera indústria de mineração, Lei (Bart Slegers) está desempregado e vive de pequenas maracutaias, divorciado da mulher ele busca o filho Jeffrey (Vincent van der Valk) para viver consigo. Sua vida desregrada afeta a personalidade do garoto que cresce em meio a pobreza e violência. Lei o ensina a caçar e conforme se desenvolve sua índole se torna cada vez mais agressiva. O amor entre eles é sufocante, são bandidos modernos e lutam para sobreviver na província de Limburg, no sul holandês empobrecido e negligenciado. Jeffrey trafica drogas e namora Nicole (Joy Verberk), enquanto seu pai vende coisas roubadas e de segunda mão. Lei está endividado com Vester (Johan Leysen), um criminoso impiedoso e, Jeffrey como um bom filho decide quitar essa dívida, mas para isso acontecer acaba se submetendo a situações degradantes. Vester vê futuro em Jeffrey e lhe confere serviços que o fará ascender na organização. Seu pai ao ver que seu filho se sobressaiu entra em conflito consigo mesmo, um misto de inveja e preocupação o invade...
Tangerina
4.0 278 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Tangerina" (2015) dirigido por Sean Baker (Uma Estranha Amizade - 2012) é cinema independente e completamente despretensioso, coloca em pauta um universo pouco retratado, o cotidiano de duas travestis que se prostituem e cuja amizade se fortalece a cada situação apresentada.
Utilizando poucos recursos e um roteiro simples, Sean Baker expõe o underground, protagonistas que quase nunca o cinema explora. "Tangerina" vem sendo muito comentado por ter sido filmado apenas com três IPhones, o que deu um aspecto descompromissado e real à história. É bem realizado, traz enquadramentos interessantes e que nada devem as produções que utilizam grandes equipamentos.
O filme é uma espécie de road movie pelos becos de Los Angeles, após Sin-Dee Rella (Kiki Kitana Rodriguez) sair da prisão temporária e Alexandra (Mya Taylor) lhe contar que seu namorado Chester (James Ransone) a traiu com uma branquela com uma "racha de verdade", ela decide encontrá-lo e se vingar. Alexandra a segue nesta jornada pelas calçadas, metrôs e táxis. Também acompanhamos Razmik (Karren Karagulian), um taxista que apesar de ter família e filhos sai a procura de travestis para se satisfazer, por conta dele observamos no decorrer vários tipos de pessoas que frequentam o seu táxi, desde bêbados, traficantes, prostitutas e travestis...
Cinco Graças
4.3 329 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Cinco Graças" (2015) é uma produção francesa, porém a direção é da turca Deniz Gamze Ergüven, que toca de maneira sensível em um assunto muito importante, o empoderamento da mulher na sociedade turca contemporânea.
No início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.
O título original "Mustang" representa muito bem a personalidade indomável destas garotas, elas não são submissas, questionam e lutam para conseguir liberdade. "Cinco Graças" por vezes remete a "Virgens Suicidas" (1999), de Sofia Coppola, o fanatismo religioso, a opressão contra as adolescentes e a revolta gerada, mas a obra de Deniz vai mais além e tem marca própria, denuncia preceitos rigorosos designados como parte de uma cultura para oprimir as mulheres...
Uma Nova Amiga
3.7 120 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Uma Nova Amiga" (2014) baseado em um conto de Ruth Rendel e dirigido por François Ozon (Jovem e Bela - 2013), é um drama psicológico que traz um tema tabu e nos faz confrontar valores morais.
Claire (Anaïs Demoustier) e Laura (Isild Le Besco) são melhores amigas, desde que se encontraram no colégio nunca mais se separaram, passaram por todas as fases e descobertas juntas, até que Laura morre após dar à luz. Claire devastada promete cuidar de sua filha e do marido David (Romain Duris). Um dia, Claire vai até a casa do viúvo e o que vê a choca; David está vestido de mulher segurando a bebê no colo. Ele muito calmo pede que ela o escute, prontamente se troca e começa a contar seu segredo. A verdade é que David sempre gostou de se vestir de mulher, e segundo ele a esposa sabia disso, mas o casamento e a sociedade acabou aprisionando esse seu lado, depois da morte de Laura a necessidade surgiu novamente ajudando-o a superar o luto e a cuidar de sua filha. Claire no começo acha estranho e até o chama de pervertido, mas com a convivência seus sentimentos vão mudando, o que de início supria a carência da amiga termina por se transformar em paixão.
O longa de Ozon surpreende por sua capacidade de nos tirar da zona de conforto e pensar na situação de David, por muitas vezes ele é questionado se é gay, travesti, doido ou doente, a mania de querer respostas para tudo e encaixar as pessoas num padrão é bem explicitada. Ele é o personagem mais terno e real, todos os outros, assim como Claire se escondem, são retraídos. Quando David decide de fato assumir sua identidade feminina é como se um respiro de alívio acontecesse, as cenas são delicadas e recheadas de um humor sutil, mas sem nunca perder a dramaticidade...
O Lagosta
3.8 1,4K Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"The Lobster" (2015) dirigido por Yorgos Lanthimos é original, curioso, estranho e repleto de metáforas, é o primeiro filme em língua inglesa do diretor grego, e mais uma vez ele nos apresenta uma obra inusitada, mas muito interessante.
A história se passa num futuro próximo, onde uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é preso e enviado ao Hotel, onde terá 45 dias para encontrar um(a) parceiro(a). Caso não encontrem ninguém, eles são transformados em um animal de sua preferência e soltos no meio da Floresta.
David (Colin Farrell) recentemente foi deixado pela mulher, e portanto se tornou um hóspede do hotel, que mantém regras diárias para que as pessoas possam encontrar o par perfeito, os gostos precisam ser iguais, os defeitos, e tudo é comprovado em um teste depois. David optou por se tornar uma lagosta caso não conseguir uma parceira, mas com o passar dos dias percebe que o melhor é escolher alguém. O tom de absurdo e o humor negro faz parte de todo o filme, umas das passagens mais bizarras é a da caçada humana para conseguirem dias extras no local...
Rainha do Mundo
3.2 90 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Meu ponto é... você pode sair do ciclo de uma pessoa. Mas não pode sair do seu."
"Rainha do Mundo" (2015) dirigido por Alex Ross Perry (Cala a Boca Philip - 2014) é um terror psicológico que no seu decorrer se intensifica e modifica sentimentos, como a amizade em inveja e acolhimento em uma troca de farpas. A atmosfera de tensão se dá do começo ao fim e alucinamos junto com Catherine, vivida por Elisabeth Moss, numa atuação soberba. Ela e Virginia (Katherine Waterston) são melhores amigas e cresceram juntas. Todos os anos vão relaxar na casa do lago que pertence a família de Virginia, as duas usufruem dos privilégios que possuem e não há muito para se preocupar, até que a vida de Catherine desmorona com o abandono do namorado e a morte do pai, desolada pede ajuda a sua amiga, que a leva até a casa do lago. Porém, a confiança das duas está abalada, devido os mal-entendidos e acontecimentos sucedidos no ano passado. O ambiente que era para se tornar um abrigo a Catherine acaba se transformando num inferno, lembranças surgem e sua mente vai ficando perturbada, principalmente quando surge Rich (Patrick Fugit), o vizinho de Virginia que insiste em chamar Catherine de mimada, entre outras coisas.
Virginia exibe um semblante duro, sua preocupação com a amiga é distante e sempre faz questão de criticá-la, não entendemos o porquê se comporta assim, já que são melhores amigas. O passado se mistura com o presente compondo um mosaico de situações, e a partir daí Catherine sente os sinais de depressão e loucura. O clima do filme é claustrofóbico, apesar do ambiente dizer o contrário, o lago, a floresta seria sinônimo de liberdade e renovação, os closes são de tirar o fôlego e frisa o estado psicológico da protagonista, não sobra espaço pra mais nada. A trilha sonora destoante também contribui para perturbar. A atuação de Elisabeth Moss é intensa, pesada, nossos sentimentos para com ela mudam muito, sua degradação psicológica é agoniante...
Love
3.5 882 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Love" (2015) dirigido pelo sempre polêmico Gaspar Noé (Enter the Void - 2009), disserta sobre a relação amorosa de Murphy (Karl Glusman), um americano que estuda cinema em Paris e Electra (Aomi Muyock), estudante de artes. A relação é mostrada ao longo do filme quando Murphy começa a relembrar, a intensa paixão é explorada em todos os detalhes, desde o encantamento inicial aos estilhaços do final.
Murphy está frustrado com a vida atual que leva, ao lado de Omi (Klara Kristin) e do filho. Um dia, ele recebe um telefonema da mãe de sua ex-namorada, Electra, perguntando se ele sabe onde ela está, já que está desaparecida há meses. Mesmo sem a encontrar há anos, a ligação desencadeia uma forte onda saudosista em Murphy, que começa a relembrar fatos marcantes do relacionamento que tiveram.
Todas as características de Gaspar Noé estão presentes, o existencialismo, a psicodelia, a fotografia estilizada, os cortes que imitam piscar de olhos. Seus filmes sempre geram sentimentos controversos e sinestésicos, a câmera nos faz viajar. "Love" mostra o amor sob o ponto de vista do sexo, por vezes simples, repetitivo e sem profundidade. Sem dúvidas a estética se sobressai. As cenas são maravilhosamente bem orquestradas, ângulos diferenciados, hipnotiza o espectador e mantém toda a atmosfera erótica, o destaque vai para a cena do Ménage à Trois.
Para quem pensa em assistir o filme especialmente por conter cenas de sexo explícito é bom saber que dificilmente irá se excitar vendo-as, até porque as cenas não foram feitas para isso, geralmente elas carregam sentimentos confusos e aleatórios, como quando o casal vai até um clube de swing, mas também há as partes em que o sexo é romantizado, claro sem nenhum clichê, afinal trata-se de uma obra que tem o sexo como o protagonista...
Body
3.2 22 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Body" (2015) da polonesa Malgorzata Szumowska (W Imie - 2013) é um filme que a princípio pode causar um certo estranhamento em relação ao tema, mas é um sensível retrato do como as pessoas lidam de diferentes formas diante ao luto. A diretora utiliza também um tom cômico, mas o drama jamais perde sua força, as personagens são convincentes e geram bastante desconforto, é difícil encarar as suas dores.
Um perito criminal (Janusz Gajos) e sua filha (Justyna Suwala), que sofre de anorexia tentam lidar com a morte da pessoa mais próxima que eles tinham. Já no início percebemos o quão diferente é a sua abordagem, enquanto o perito examina o local que uma pessoa se enforcou, esta de repente se levanta e sai andando, deixando todos atônitos. É claro, precisa-se ter certo desprendimento e saber que o filme fala por meio de metáforas.
O espiritismo em certo ponto exerce grande influência sobre pai e filha, mesmo que ele seja cético se dá o direito de questionar algumas coisas, Anna (Maja Ostaszewska), a terapeuta de Olga, é médium, e é ela que vem para despertar nele sentimentos escondidos, Anna revela que a sua esposa tem uma mensagem pra ele e então o perito começa a perceber "sinais". Acostumado a lidar com corpos diariamente, é distante da filha que tenta chamar sua atenção provocando o vômito após ingerir comida, Olga é frágil, seus desabafos na terapia dilaceram nosso coração...
Queda Livre
3.8 20blog Pitada Cult de Cinema:
"Queda Livre" (2014) dirigido pelo interessante diretor húngaro György Pálfi (Taxidermia - 2006) é uma mescla de absurdo, ironia e fantasia. É incrível que seu filme seja ao mesmo tempo belo e grotesco. A tristeza está disfarçada de cinismo, há inúmeras críticas, mas pela surrealidade fica difícil acertar o que de fato quer dizer. O filme reúne algumas histórias a partir do suicídio malsucedido de uma velha (Piroska Molnar), ela se joga do alto do prédio de onde mora, mas se levanta e junta suas coisas. Ao ver o elevador quebrado precisa subir os sete lances de escada, e daí a cada andar conhecemos as figuras que habitam o local e suas excentricidades.
É humor negro que não acaba mais, o diretor oferece ao espectador uma visão bizarra e ampliada do como o ser humano se comporta, os contos são todos interligados e a beleza fica por conta da fotografia, cada um tem a sua paleta de cores e ângulos diferenciados, além da trilha sonora eletrônica de Amon Tobin que intensifica toda a estranheza.
No primeiro conto observamos um guru tentando fazer seus alunos acreditarem no poder da mente podendo até ultrapassar uma parede. Como em todos os outros as possibilidades de interpretação são abertas, somos atraídos a prestar atenção e a desvendar os significados que refletem na sociedade em que vivemos. Na segunda história temos uma festa de cantores líricos, cuja anfitriã está nua, ela recebe os convidados enquanto o marido a apresenta a homens que a elogiam, aqui fica fácil perceber que a nudez dela significa invasão, o desconforto pelos olhares e também pelo marido a deixar de lado. Na terceira há o casal com fobia de germes, para se tocarem se enrolam em papel filme, a paranoia pela qualidade de vida chega ao ponto da obsessão...
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"O Quarto de Jack" (2015) dirigido por Lenny Abrahamson (Frank - 2014) é baseado no best-seller "Room", escrito por Emma Donoghue. É um filme que contém uma carga dramática intensa e surpreende pela atmosfera criada. O ideal seria não saber muito sobre o filme, particularmente teve grande impacto sobre mim por conta disso, não conhecia o livro e li somente a sinopse, que conta a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino que acaba de completar cinco anos, e que é criado por sua mãe, Joy (Brie Larson). Como toda boa mãe, Joy se dedica a manter Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada normal: eles estão presos em um espaço minúsculo apenas com uma claraboia.
A sensação causada é de angústia, o inocente garotinho não sabe da existência de um mundo exterior, não tem ideia do que existe, para ele aquele quarto é o mundo, o restante, o que vê na TV é apenas de mentira. O espaço mínimo é muito bem utilizado, a câmera explora todos os objetos e cantos, sabe aquela impressão de que tudo é grande quando somos crianças?
Jacob Tremblay faz nosso coração ficar apertado, uma atuação segura para uma criança, realmente excelente. Seu personagem é um garotinho esperto, mas ingênuo, com seus longos cabelos passa os dias comendo cereal, assistindo TV, imaginando, e dormindo no armário. Brie Larson (Short Term 12 - 2012) é intensa, de cara lavada e com aspecto adoentado, ao mesmo tempo que parece frágil possui uma força interior muito grande, Jack é a força que a move...
Táxi Teerã
4.0 80 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Táxi Teerã" dirigido por Jafar Panahi (O Balão Branco - 1995, Ouro Carmim - 2003, Fora do Jogo - 2006), um dos mais influentes diretores da New Wave iraniana, traz neste longa diversas questões que rondam as sociedades islâmicas, uma importante obra já que ele está proibido de conceber filmes desde 2010, com a alegação de que seus filmes vão contra o regime. Panahi lançou "Isto não é um Filme" em 2011 e "Cortinas Fechadas" em 2013 de forma clandestina.
Em 2010 Panahi desagradou às autoridades iranianas ao apoiar Mir Hussein Mussavi, o candidato oposicionista, na eleição presidencial de junho de 2009. Posteriormente, sua casa foi invadida, e a sua coleção de filmes, tachada de "obscena", foi apreendida. O cineasta foi preso em março de 2010 e, durante seus 88 dias de detenção, fez greve de fome. Com a mobilização de várias personalidades foi liberado após pagar fiança, mas foi proibido de produzir filmes, dar entrevistas e sair do país durante 20 anos...
1001 Gramas
2.9 9blog Pitada Cult de Cinema:
"1001 Gramas" dirigido por Bent Hamer (Caro Sr. Horten - 2007) é um filme interessante, porém pode não chamar tanta a atenção por conta do tema inusitado e a narrativa lenta, mas em seu desenrolar acaba surpreendendo e metaforiza de maneira incrível sobre os pesos e as medidas da vida.
Divorciada recentemente, a cientista norueguesa Marie (Ane Dahl Torp) segue rigidamente o roteiro de seu trabalho. O orgulho do instituto de medida onde trabalha é um quilo de peso perfeito, modelo para todas as medições do país, que Marie deve levar para uma grande conferência na França. É sua primeira vez no evento, e a primeira vez que seu pai, colega seu e uma lenda entre cientistas, não vai estar presente. Quando uma emergência familiar abala Marie, ela se vê forçada a encarar novos universos.
Marie tem uma vida toda equilibrada, mas se sente só, seu único contato é com o pai, um famoso cientista e companheiro de trabalho, ela é uma pessoa fria e triste, seu ex-marido está aos poucos levando todos os móveis de sua imensa casa, o que caracteriza um vazio que se nega a enxergar. Sua única distração é visitar seu pai na fazenda, porém as coisas pioram quando ele adoece e para continuar a seguir o desejo dele vai até a França para a convenção dos quilos. Lá, ela conhece Pi (Laurent Stocker), que deixou as certezas e os números de lado para encarar as possibilidades da vida. Os melhores diálogos do filme se dão no momento em que o dois estão juntos...
Amor Para a Eternidade
4.0 52 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Voltando Para Casa" (2014) dirigido pelo mestre Zhang Yimou (Uma Mulher, uma Arma e uma Loja de Macarrão - 2009, A Árvore do Amor - 2010) é uma linda e comovente história de amor que se passa na época da Revolução Cultural e os anos que se seguiram após seu término. Um drama intenso, sensível e poderoso.
Lu Yanshi (Chen Daoming) é um prisioneiro político durante a revolução cultural, mas consegue fugir e ir atrás de sua família para poder ir para bem longe, porém a sua filha Dandan (Zhang Huiwen) está do lado do partido, e por nunca ter conhecido o pai acaba destruindo o reencontro. A cena na estação de trem marcará para sempre a vida da esposa Feng Wanyu (Gong Li), que infelizmente, nunca mais será a mesma. Nos anos 70, no final da revolução, Lu Yanshi é liberto e enfim pode retornar à sua casa, só que se depara com uma situação difícil, Feng não se lembra dele, não consegue perceber que Lu é seu marido, ela sofre um tipo de amnésia causada por uma queda que sofreu devido ao terror que viveu anos atrás. Daí pra frente acompanhamos todo o carinho que Lu oferece a sua mulher, dia após dia tentando com que ela veja que não precisa mais esperar, mas Feng continua a ir na estação de trem esperando o regresso do marido. Dandan já não é mais bailarina e trabalha duro em uma fábrica, arrependida por tudo que fez irá ajudar seu pai a cuidar de sua mãe e fazê-la entender que ele voltou...
Lições de Harmonia
3.8 15blog Pitada Cult de Cinema:
"Lições de Harmonia" (2013) dirigido pelo cazaque Emir Baigazin é uma pancada, é um filme que se utiliza da violência, o título é uma ironia e uma crítica às instituições de ensino e todos os segmentos rígidos que ao invés de educar promovem revolta.
Aslan (Timur Aidarbekov) tem 13 anos, é criado por sua avó e faz as vezes de pastor, a cena inicial já choca, certo dia durante um exame médico na escola é humilhado por seus colegas, isso gera um transtorno no garoto que atormentado pela dúvida, se esforça para ficar limpo, além de sua obsessão pela perfeição, ele controla tudo ao seu redor. Essa compulsão lhe trará situações cada vez mais difíceis. É um longa primoroso, a sua fotografia é austera, e o desenrolar dessa história desencadeará na destruição do ser humano. A marginalização e a violência é muito bem delineada.
Aslan vive num povoado em algum lugar do Cazaquistão, um ambiente inóspito que provoca ainda mais a sensação de solidão, excluído do convívio dos outros alunos depois do episódio do bullying, Aslan passa seus dias a torturar baratas em sua casa, a estripar ovelhas e manter um ritual de limpeza. Na escola, o domínio de uma gangue liderado por Bolat (Aslan Anarbayev), que por sua vez, segue ordens de um pessoal mais velho para arrancar dinheiro dos meninos, faz da rotina um martírio. A crueldade é a lição e Aslan aos poucos começa a entrar em harmonia com ela.
É uma obra interessante, repleta de metáforas, mas por vários momentos o diretor parece esconder informações importantes do espectador, mas mesmo assim não deixa de ter sua força e proporcionar o desconforto em relação a violência institucionalizada, o que acaba moldando a personalidade do jovem e o transformando por completo...
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer
4.0 888 Assista Agorablog Pitada Cult de Cinema:
"Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer" (2015) dirigido por Alfonso Gomez-Rejon (Red Band Society - 2014) é baseado no livro homônimo de Jesse Andrews, que também assina o roteiro. A história gira em torno de Greg (Thomas Mann), que está levando o último ano do ensino médio o mais anonimamente possível, evitando interações sociais, enquanto, em segredo, está fazendo animados filmes bizarros com Earl (RJ Cyler), seu único amigo. Mas tanto o anonimato quanto a amizade dos dois é abalada quando a mãe de Greg o força a fazer amizade com uma colega de classe que tem leucemia.
O filme não é um romance e nem lamenta a doença da garota, ele foge dos clichês e surpreende com um drama sutil com ótimas pitadas de humor. O protagonista não tem qualquer carisma, anti-social e autodepreciativo, ele caminha pelos corredores da escola sem aparecer de fato, não se encaixa em nenhuma tribo, mas mantém uma formalidade com todos sem jamais se aproximar. Greg e Earl são amigos desde a infância e adoram filmes de arte, em razão disso têm como hobby produzir pequenos filmes baseados em clássicas cenas do cinema, mas mantêm isso em segredo devido a qualidade dos vídeos. Os dois são tão isolados que preferem se esconder no intervalo na sala do professor Mr. McCarthy (Jon Bernthal), que também não fica atrás em esquisitices...
O Esgrimista
3.5 17blog Pitada Cult de Cinema:
"O Esgrimista" dirigido por Klaus Härö (Cartas ao Padre Jacob - 2009) é um belo filme que reúne alguns elementos bem convencionais, mas que mesmo assim surpreende pela maneira que aborda a esperança em tempos tão difíceis.
Centrando-se no momento pós-segunda guerra, quando estonianos que lutaram pela Alemanha são perseguidos pelo Governo da União Soviética. Baseado em fatos reais, conta a história do esgrimista Endel Nelis, que nos anos 50 criou uma escola de esgrima para crianças na Estônia. Märt Avandi vive Endel, que fugindo da polícia secreta russa volta para a Estônia e vai parar na pequena cidade de Haapsalu. Lá consegue emprego como professor e tem que criar um clube de esportes. Esgrimista, resolve ensinar sua modalidade às crianças do local. A escola carece de materiais esportivos e as crianças não veem muitas perspectivas, a chegada de Endel ilumina o ambiente, a sua decisão em ensinar esgrima às crianças dá um novo ar, mas por outro lado enfurece o diretor, que vê o esporte como sendo de elite e não para crianças pobres. Então, começa a investigar a vida de Endel, enquanto este se desdobra para arrumar recursos e ensinar o esporte. Alguns se sobressaem e se interessam cada vez mais, porém Endel não leva muito jeito para ensinar, é bruto e se desestabiliza diante os erros, mas acaba cativando os alunos. Ele também se envolve com uma professora e inicia um romance que ajudará com que compreenda ainda mais as crianças.
Humano - Uma Viagem pela Vida
4.7 325 Assista AgoraHuman: Part 2 (1h:17m:15s)
Não tenho medo de morrer. Não sei se Deus existe ou não, mas prefiro acreditar. E quando olho para o universo, espero que nosso espírito vá para algum lugar, onde nos reconheçamos uns aos outros. Além dos meus pais, eu adoraria rever meu melhor amigo Shaunie, que morreu quando tinha 21 anos. Eu adoraria passar tempo com ele, viajando de carona pelo céu, como fazíamos aqui na Terra quando éramos jovens. Também adoraria encontrar todas as pessoas maravilhosas que tentaram tornar o mundo melhor e trabalharam pela justiça e pela paz no mundo. Para mim, isso é o mais importante. E quando analisamos as grandes religiões, filosofias e ideologias, e tentamos simplificar dogmas e teologias complexos, tudo se resume ao amor. Então espero que meu espírito seja levado para um grande balé e uma grande dança cósmica de amor, onde não haja mais sofrimento nem tristeza. Onde não possamos mais magoar ou ser magoados. E onde possamos realmente celebrar o grande dom da consciência, o grande dom de ser, o grande dom da vida. E se, afinal, Deus não existir, ainda sou grato pelo dom da vida. Sempre penso... que as últimas palavras que gostaria de dizer antes de morrer são: "Obrigado. Obrigado pelo dom da vida".
A Guerra de Stella
2Um regresso da guerra nunca é fácil. Alegria genuína pode rapidamente se transformar em desespero inexplicável quando soldados voltam para a vida civil. Viaje até a Holanda para encontrar uma mulher cujos problemas começam assim que seu marido e irmão voltam do serviço no Afeganistão em A Guerra de Stella.
A Guerra de Stella é um drama holandês que oferece um olhar realista e intrigante sobre o tema delicado de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) entre os jovens soldados de volta do campo de batalha.
No filme, a mãe trabalhadora Stella se despede de seu irmão e marido, bem como dos homens de sua cidade que são enviados em uma missão internacional para o Afeganistão. Seu marido envia cartas de vídeo para fazer os meses passarem mais facilmente para Stella e sua filha, mas depois que seu irmão é morto em ação, não é fácil fazer a vida voltar à normalidade.
O marido de Stella está profundamente traumatizado com a experiência, e os membros de sua unidade escondem de Stella a verdade sobre a morte de seu irmão. Quando percebe que não tem nada a perder, ela tenta fazer justiça com suas próprias mãos.
Em A Guerra de Stella, o famoso diretor Diederik Van Rooijen (escritor e diretor da série de sucesso Penoza e nomeado pela Universal Studios para dirigir o remake do filme de Alfred Hitchcock, Os Pássaros) retrata com verdade pungente um assunto crucial entre cineastas independentes europeus: TEPT. Estes filmes (tais como A Hero’s Welcome ou In Our Name, que foram ao ar anteriormente no Eurochannel) provam que as vítimas da guerra vão muito além dos campos de batalha.
- Fonte: http://www.eurochannel.com/pt/