Os ecos de "Cinema Paradiso" são evidentes na forma como a trama vai se desenrolando (a referência chega a ser expressa em determinada cena), mas, ao contrário do exemplar italiano, Iberê Carvalho não deixa seu filme se entregar tanto às armadilhas do sentimentalismo para trazer à tona o lado mais emotivo do seu espectador. Há uma honestidade admirável na maneira como as cenas são captadas pela câmera, o que evita que o espectador sinta a manipulação sentimental que eventualmente aparece em determinado momento ou outro.
"Sem se deixar levar pelas armadilhas típicas de um filme centrado em um conflito familiar, Ceylan opta por diálogos que, inicialmente, utilizam situações do cotidiano dessas personagens para enfatizar a verdadeira persona por trás das ações aparentemente boas que elas tomam. Enquanto trabalha nessa toada, Sono de Inverno é um acuradíssimo retrato psicológico de uma sociedade moralmente torpe. Contudo, assim que o filme passa da metade de sua metragem, os diálogos começam a se tornar cada vez mais expositivos, descrevendo explicitamente o que era sutilmente detalhado anteriormente. Ou seja, o que antes era envolvente, torna-se óbvio e redundante sob o ponto de vista do desenvolvimento da dramaturgia"
"A angústia de Coutinho pode até se justificar, porém, como em todo filme seu, conseguimos alcançar os personagens que o diretor sempre buscou encontrar em quase cinco décadas no ofício. De fato, os adolescentes apresentados pelo filme demonstram uma visão de mundo distante do deslumbramento, afinal são jovens de uma classe humilde, marcados por conflitos familiares (a falta da figura paterna é uma constante) e pelas consequências do bullying, do preconceito racial e do abuso sexual. Com sua infalível naturalidade, Coutinho extrai desses adolescentes a esperança por um futuro profissional que proporcione a realização de seus desejos, os quais, em sua maioria, giram em torno da retribuição pelos esforços feitos pelos pais para que eles, os filhos, pudessem chegar naquela posição".
"O problema é que o filme demonstra grande dificuldade em fugir dos estereótipos que circundam as diferenças sociais brasileiras, tornando-se um sucessivo repeteco de tudo o que há de mais superficial nesse debate. Não bastasse o fato da premissa do menino rico que passa a enxergar a realidade social dissonante já ser batida o suficiente, Casa Grande ainda se vale de situações extremamente constrangedoras para enfatizar a visão de mundo espúria que a família de Jean possui. Diálogos de pura vergonha alheia são proferidos a torto e a direito, como "quem quer andar de ônibus?", "comunicação não é profissão", "as mentes do Plano Real saíram da PUC", e só deixam claro que o filme é mais cômico do que qualquer outra coisa".
"Trata-se, assim, de um filme assumidamente teatral, no qual os atores se movimentam de forma pré-planejada, os planos são compostos com rigor cirúrgico e a montagem é precisa, ou seja, toda a enxuta estrutura da obra está organizada para transformar o texto como um elemento essencialmente cinematográfico. Nesse sentido, os atores exercem papel fundamental na captação da força da palavra do autor russo e Pascal Cervo e Astrid Adverbe são brilhantes na composição de duas almas profundamente fragilizadas pela retração, no caso de Fiódor, e pela desilusão, no caso de Natascha, e que partilham suas instabilidades até encontrarem, entre si, um alicerce emocional".
"É interessante notar como Jones constrói esse western profundamente feminista por meio da contraposição entre Mary Bee e seu companheiro de jornada, o Sr. Briggs. Ela, como dito, é a personificação da mulher à frente de seu tempo e, por isso, alvo de constante aversão pelos homens. Há um desejo irrepreensível de ser amada, sendo cada rejeição masculina um duro golpe contra o que ela representa. Em sentido oposto, Briggs é o homem avesso ao contato, preocupado essencialmente com o materialismo, incapaz de sentir qualquer coisa positiva em relação à mulher".
"Pelo tema social complexo e espinhoso, Branco Sai, Preto Fica parte das sombras produzidas pela noite para desenvolver um relato genuinamente das trevas. Afinal, Sartana e Marquim são exemplos precisos do cidadão negro constantemente violentado pelo histórico racismo velado e pela brutalidade de políticas estatais que, em vez de incluir, contribuem para o sucessivo quadro de exclusão do negro das relações sociais. O fato de ambos rememorarem os tempos de juventude - tempos estes em que a diversão aludia a uma aparente liberdade - no baile do Quarteirão com ares melancólicos, ressalta a condição de não permissão para o negro frequentar um espaço público, que vigora até os dias atuais".
"O que importa, na realidade, não é onde o jogo de gato e rato irá desaguar, mas sim na captação de toda uma ambientação e no seu reflexo sobre as personagens que cruzam o caminho de Doc. Vemos policiais reacionários, dentistas viciados e mulherengos, traficantes, nazistas e adeptos do naturalismo entrarem em cena como se fossem palhaços sem graça buscando o riso, enquanto Doc mantém uma silhueta perdida, sem compreender o que está a sua volta. Por meio desse cenário, Anderson chega no cerne de um país em transição, do movimento libertário do fim dos anos 60 até a crise política desencadeada pelo escândalo do Watergate, e seu impacto na população que, como as personagens, transita de forma errante". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/vicio-inerente-2014.html
"David Cronenberg, no ápice do controle de sua encenação, trabalha no limite entre o deboche e a afeição por esses personagens que são marginalizados, ao mesmo tempo em que são partes fundantes de um sistema moralmente torpe. A corrosividade é o seu instrumento de equilíbrio, embora ciente de que trabalha em um ambiente de exageros e falsidades. Nada mais efetivo, portanto, do que a sua habitual frontalidade para expor, sem qualquer luxo, as patologias daqueles que constroem o paradigma da indústria cinematográfica" Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/mapas-para-as-estrelas-2014.html
"Curiosamente, Graf não tem interesse em salientar a importância do trabalho de Schiller para a época. Tirando algumas menções aqui e acolá, Duas Irmãs, Uma Paixão é essencialmente um filme centralizado na relação amorosa do trio central, a qual vai ganhando contornos psicologicamente mais complexos assim que a trama se desenvolve. De um início marcado por um relacionamento estranhamente sincero e honesto, decorrente de um pacto celebrado pelas irmãs ainda jovens, o filme vai se tornando cada vez mais interessante assim que fatores externos entram no caminho dos três e desestabilizam essa relação harmoniosa. As personalidades afloram, os embates antes velados se tornam assíduos e as divergências vêm à tona, culminando no distanciamento e na degradação de uma relação de sangue" Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/03/duas-irmas-uma-paixao-2014.html
"Um olhar que também é natural, sem pieguices e momentos bombásticos, e que dá margem a um drama direto e gracioso sobre os altos e baixos de uma vida que busca concretizar uma paixão. Há uma aparência de distanciamento que, na realidade, é uma máscara para o fascínio de Hansen- Løve sobre o peso da passagem do tempo sobre uma pessoa que só quer viver a juventude não sendo mais jovem. De repente, Paul está com trinta anos, falido e tocando garage em festas de casamento para meia dúzia de pessoas". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/03/eden-2014.html
"Nesse sentido, Eastwood reverte a lógica dos filmes pacifistas e não faz seu personagem cair em prantos e crises existenciais, tampouco tem o interesse de abordar diretamente as reais motivações por trás da Guerra do Iraque. Seu foco é tão somente a derrocada de Kyle enquanto ser humano e a desilusão de ver os ideais do personagem sucumbindo perante a realidade. Não há orgulho em ter matado 160 pessoas, não há vitória no assassinato de mulheres e crianças e Kyle sabe disso, mas se recusa a aceitá-lo e, principalmente, expô-lo em público. O companheiro o cumprimenta por ter evitado a explosão do comboio ou por tê-lo salvado de uma situação extrema, mas Kyle não se sente confortável com os elogios e congratulações (e, novamente, a atuação de Cooper é cirúrgica nestas cenas). Novamente, o discurso patriótico se torna um escudo contra a verdade inaceitável". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/sniper-americano-2014.html
"Nessa jornada intergaláctica, os Wachowski lançam mão de teorias científicas bizarras para explicar a imortalidade, o culto aos genes e o valor do tempo para aqueles que governam o universo. Mas o grosso do caldo é mesmo a coragem dos diretores em usar o dinheiro de uma grande corporação mundial para alçar o ser humano à condição de mero produto de consumo e, com isso, tecer uma (ainda que breve) crítica à sociedade que só visa o lucro". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/o-destino-de-jupiter-2015.html
"Birdman, que não segue caminho oposto, tem também a sua quota de prepotência: um (aparente) único plano-sequência nos leva pelos bastidores da peça de teatro dirigida, escrita e atuada por Riggan Thomson (um Michael Keaton interpretando a si mesmo), um ex-intérprete de um super-herói que busca ser levado a sério. Em meio às crises de consciência de Riggan enquanto homem e artista, o roteiro assinado a quatro mãos ainda deixa observações e comentários supostamente pertinentes acerca do estado atual do cinema e do teatro, que vão desde os excessivos filmes baseados em gibis até a máxima do crítico ser um artista frustrado". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/birdman-ou-inesperada-virtude-da.html
"É com essa potência que a dupla Cláudio Marques e Marília Hughes inicia um filme sobre um momento político muito particular da história brasileira, o qual ainda não havia sido abordado de maneira tão direta pelo cinema nacional. O cenário imediato ao pós-ditadura é visto pelos diretores como algo profundamente melancólico, em que a incerteza do futuro político do país, após vinte anos de rígidas restrições, é um temor praticamente universal da população. De forma inteligente, o filme o registra através da juventude da época, isto é, de uma geração que vivenciará o novo regime político do país, seja ele qual for". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/depois-da-chuva-2015.html
"Na realidade, Sissako faz um filme de resistência ao lançar um olhar crítico às ações levadas a cabo pelos jihadistas por meio de uma série de cenas sensíveis e certeiras. Assim, quando filma os extremistas discutindo futebol e, posteriormente, a população local praticando o esporte sem uma bola, o diretor africano ressalta o uso da lei como um instrumento de dominação, e não como um fator de ordem social, razão pela qual os oprimidos buscam, sempre que podem, escapar de sua arbitrariedade. E é por isso que, em outra cena marcante, uma mulher protesta pela manutenção de um hábito e de uma cultura cantando durante as chibatadas, que, ironicamente, são uma punição pelo canto da noite anterior". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/01/timbuktu-2014.html
"Damien Chazelle não tem a intenção de perder tempo ao encenar a disputa física e psicológica entre Andrew e Fletcher, que permeará seu filme, tanto que já o abre num travelling que joga o espectador para o primeiro encontro dos dois, no qual as premissas da conflituosa relação já são estabelecidas. O que vem adiante é um tenso embate entre duas figuras que se retroalimentam dos respectivos sadismos e que estão dispostas a levar uma a outra ao limite do desumano. Fletcher usa da tortura psicológica e da agressão física para incentivar seus alunos a irem sempre além de suas habilidades musicais usuais, algo que parece obstinar Andrew a seguir as rígidas determinações de seu mestre, como se elas o levassem, de fato, à grandiosidade. Qualquer um que venha interferir nessa meta será rifado de seu caminho". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/01/whiplash-em-busca-da-perfeicao-2014.html
"A base é a mesma, isto é, um road movie que encaixa os protagonistas em uma série de situações aparentemente usuais, mas que remontam ao ideário do norte-americano contemporâneo. Estão lá a família rica perversa e com tendências assassinas, os nerds aficionados por ciência e o conservadorismo interiorano. Todos são vítimas da subversão corrosiva das personagens criadas pelos irmãos Farrelly, as quais geralmente possuem alguma deficiência, mas, no fim, são mais normais do que aqueles que as cercam. Débi e Lóide e suas constantes inconveniências fazem graça das regras de conduta sedimentadas pelo bom mocismo hodierno sem que isso importe em um julgamento moral. Pelo contrário, estamos diante de um manifesto pelo despudor e pela quebra dos parâmetros sociais". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/debi-loide-2.html
"Assim como em A Origem (2010), Interestelar se vale de uma intricada premissa para construir uma história que envolva e atraia a atenção de seu espectador pela pretensa complexidade em que os elementos científicos são interligados pelo roteiro. Contudo, não demora muito tempo para notarmos que, mais uma vez, Nolan, no fundo, menospreza a capacidade intelectual de seu público e logo passa a inserir uma série de passagens explicativas no filme, como se estivéssemos diante de uma aula de física do ensino médio. Lá estão personagens explicando com exemplar didática as mais complexas teorias desenvolvidas pelo físico Kip Thorne ou mesmo desenhando em uma pequena lousa o que virá a seguir. Ou seja, a complexidade é meramente ilustrativa, tendo em vista que, uma hora ou outra, o Telecurso 2000 entrará em cena e deixará tudo esmiuçado para o espectador". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/interestelar-2014.html
"O resultado é justamente a naturalidade de um processo consciente das diversas modificações sociais, políticas e comportamentais de uma década e o seu impacto sobre as personagens, que são amoldadas de acordo com o modismo do tempo que estão inseridas, mas sem perder a particularidade de cada uma. Os atores crescem diante dos olhos do público e a sensação é de estarmos diante de um documentário sobre a vida daquelas pessoas, especialmente porque Linklater foge de exacerbações e opta por um contexto de unidade dramática, sem os conhecidos "grandes momentos" dessa forma de registro". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/boyhood-da-infancia-juventude-2014.html
"Embora exista essa relação de aproveitamento, não há maniqueísmo em Era Uma Vez em Nova York. Pelo contrário, Gray constrói personagens cuja reprovabilidade de conduta deriva da necessidade de sobrevivência numa terra alheia e indiferente às suas condições sociais. A prostituição, assim, se torna uma alternativa real e palpável de faturar dinheiro e, consequentemente, de viver na América de forma minimamente digna. Tanto é assim que Ewa e Bruno têm plena consciência da torpeza de seus atos, principalmente a primeira, cuja influência católica adiciona um dilema entre o sacro e o profano que enriquece ainda mais a personagem". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/09/era-uma-vez-em-nova-york-2014.html
"Os primeiros quinze minutos, dos mais intensos vistos no cinema recente, já introduzem a essência dessa figura interpretada com maestria por Gerárd Depardieu: um homem de imenso poder e forma física, descrente da condição humana e subjulgador de mulheres em suas orgias sucessivas. O sexo é o seu principal instrumento de dominação, algo que Ferrara faz questão de ressaltar por meio de sua câmera despudorada. Nesses quinze minutos, vemos um ser animalesco, que se move e grita como um touro sem rédeas, preocupado apenas com o seu próprio bem-estar. O sexo torna-se, então, vetor de sua amoralidade". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/09/bem-vindo-nova-york-2014.html
"É claro que, em se tratando de uma obra de Woody Allen, o desconhecido e o espiritual não sobrevivem diante da descrença do diretor e de seus alter-egos, e Magia ao Luar prefere se reservar a ser um eficiente, preciso e conciso retrato sobre a necessidade de ilusão em meio a razão". Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/09/magia-ao-luar-2014.html
No teatro da grande tela, a vida é uma celebração. O testamento cinematográfico do mestre Resnais é uma ode à arte, à vida, à morte. Texto no: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/07/amar-beber-e-cantar-2014.html
O Último Cine Drive-in
3.5 69Os ecos de "Cinema Paradiso" são evidentes na forma como a trama vai se desenrolando (a referência chega a ser expressa em determinada cena), mas, ao contrário do exemplar italiano, Iberê Carvalho não deixa seu filme se entregar tanto às armadilhas do sentimentalismo para trazer à tona o lado mais emotivo do seu espectador. Há uma honestidade admirável na maneira como as cenas são captadas pela câmera, o que evita que o espectador sinta a manipulação sentimental que eventualmente aparece em determinado momento ou outro.
Sono de Inverno
4.0 133 Assista Agora"Sem se deixar levar pelas armadilhas típicas de um filme centrado em um conflito familiar, Ceylan opta por diálogos que, inicialmente, utilizam situações do cotidiano dessas personagens para enfatizar a verdadeira persona por trás das ações aparentemente boas que elas tomam. Enquanto trabalha nessa toada, Sono de Inverno é um acuradíssimo retrato psicológico de uma sociedade moralmente torpe. Contudo, assim que o filme passa da metade de sua metragem, os diálogos começam a se tornar cada vez mais expositivos, descrevendo explicitamente o que era sutilmente detalhado anteriormente. Ou seja, o que antes era envolvente, torna-se óbvio e redundante sob o ponto de vista do desenvolvimento da dramaturgia"
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/06/sono-de-inverno-2014.html
Últimas Conversas
4.2 108"A angústia de Coutinho pode até se justificar, porém, como em todo filme seu, conseguimos alcançar os personagens que o diretor sempre buscou encontrar em quase cinco décadas no ofício. De fato, os adolescentes apresentados pelo filme demonstram uma visão de mundo distante do deslumbramento, afinal são jovens de uma classe humilde, marcados por conflitos familiares (a falta da figura paterna é uma constante) e pelas consequências do bullying, do preconceito racial e do abuso sexual. Com sua infalível naturalidade, Coutinho extrai desses adolescentes a esperança por um futuro profissional que proporcione a realização de seus desejos, os quais, em sua maioria, giram em torno da retribuição pelos esforços feitos pelos pais para que eles, os filhos, pudessem chegar naquela posição".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/05/ultimas-conversas-2015.html
Casa Grande
3.5 576 Assista Agora"O problema é que o filme demonstra grande dificuldade em fugir dos estereótipos que circundam as diferenças sociais brasileiras, tornando-se um sucessivo repeteco de tudo o que há de mais superficial nesse debate. Não bastasse o fato da premissa do menino rico que passa a enxergar a realidade social dissonante já ser batida o suficiente, Casa Grande ainda se vale de situações extremamente constrangedoras para enfatizar a visão de mundo espúria que a família de Jean possui. Diálogos de pura vergonha alheia são proferidos a torto e a direito, como "quem quer andar de ônibus?", "comunicação não é profissão", "as mentes do Plano Real saíram da PUC", e só deixam claro que o filme é mais cômico do que qualquer outra coisa".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/05/casa-grande-2015.html
Noites Brancas no Píer
3.3 6"Trata-se, assim, de um filme assumidamente teatral, no qual os atores se movimentam de forma pré-planejada, os planos são compostos com rigor cirúrgico e a montagem é precisa, ou seja, toda a enxuta estrutura da obra está organizada para transformar o texto como um elemento essencialmente cinematográfico. Nesse sentido, os atores exercem papel fundamental na captação da força da palavra do autor russo e Pascal Cervo e Astrid Adverbe são brilhantes na composição de duas almas profundamente fragilizadas pela retração, no caso de Fiódor, e pela desilusão, no caso de Natascha, e que partilham suas instabilidades até encontrarem, entre si, um alicerce emocional".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/05/noites-brancas-no-pier-2014.html
Dívida de Honra
3.5 200 Assista Agora"É interessante notar como Jones constrói esse western profundamente feminista por meio da contraposição entre Mary Bee e seu companheiro de jornada, o Sr. Briggs. Ela, como dito, é a personificação da mulher à frente de seu tempo e, por isso, alvo de constante aversão pelos homens. Há um desejo irrepreensível de ser amada, sendo cada rejeição masculina um duro golpe contra o que ela representa. Em sentido oposto, Briggs é o homem avesso ao contato, preocupado essencialmente com o materialismo, incapaz de sentir qualquer coisa positiva em relação à mulher".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/divida-de-honra-2014.html
Branco Sai, Preto Fica
3.5 173"Pelo tema social complexo e espinhoso, Branco Sai, Preto Fica parte das sombras produzidas pela noite para desenvolver um relato genuinamente das trevas. Afinal, Sartana e Marquim são exemplos precisos do cidadão negro constantemente violentado pelo histórico racismo velado e pela brutalidade de políticas estatais que, em vez de incluir, contribuem para o sucessivo quadro de exclusão do negro das relações sociais. O fato de ambos rememorarem os tempos de juventude - tempos estes em que a diversão aludia a uma aparente liberdade - no baile do Quarteirão com ares melancólicos, ressalta a condição de não permissão para o negro frequentar um espaço público, que vigora até os dias atuais".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/branco-sai-preto-fica-2015.html
Vício Inerente
3.5 554 Assista Agora"O que importa, na realidade, não é onde o jogo de gato e rato irá desaguar, mas sim na captação de toda uma ambientação e no seu reflexo sobre as personagens que cruzam o caminho de Doc. Vemos policiais reacionários, dentistas viciados e mulherengos, traficantes, nazistas e adeptos do naturalismo entrarem em cena como se fossem palhaços sem graça buscando o riso, enquanto Doc mantém uma silhueta perdida, sem compreender o que está a sua volta. Por meio desse cenário, Anderson chega no cerne de um país em transição, do movimento libertário do fim dos anos 60 até a crise política desencadeada pelo escândalo do Watergate, e seu impacto na população que, como as personagens, transita de forma errante".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/vicio-inerente-2014.html
Mapas para as Estrelas
3.3 478 Assista Agora"David Cronenberg, no ápice do controle de sua encenação, trabalha no limite entre o deboche e a afeição por esses personagens que são marginalizados, ao mesmo tempo em que são partes fundantes de um sistema moralmente torpe. A corrosividade é o seu instrumento de equilíbrio, embora ciente de que trabalha em um ambiente de exageros e falsidades. Nada mais efetivo, portanto, do que a sua habitual frontalidade para expor, sem qualquer luxo, as patologias daqueles que constroem o paradigma da indústria cinematográfica"
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/04/mapas-para-as-estrelas-2014.html
Duas Irmãs, Uma Paixão
2.7 21 Assista Agora"Curiosamente, Graf não tem interesse em salientar a importância do trabalho de Schiller para a época. Tirando algumas menções aqui e acolá, Duas Irmãs, Uma Paixão é essencialmente um filme centralizado na relação amorosa do trio central, a qual vai ganhando contornos psicologicamente mais complexos assim que a trama se desenvolve. De um início marcado por um relacionamento estranhamente sincero e honesto, decorrente de um pacto celebrado pelas irmãs ainda jovens, o filme vai se tornando cada vez mais interessante assim que fatores externos entram no caminho dos três e desestabilizam essa relação harmoniosa. As personalidades afloram, os embates antes velados se tornam assíduos e as divergências vêm à tona, culminando no distanciamento e na degradação de uma relação de sangue"
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/03/duas-irmas-uma-paixao-2014.html
Eden
3.2 42 Assista Agora"Um olhar que também é natural, sem pieguices e momentos bombásticos, e que dá margem a um drama direto e gracioso sobre os altos e baixos de uma vida que busca concretizar uma paixão. Há uma aparência de distanciamento que, na realidade, é uma máscara para o fascínio de Hansen- Løve sobre o peso da passagem do tempo sobre uma pessoa que só quer viver a juventude não sendo mais jovem. De repente, Paul está com trinta anos, falido e tocando garage em festas de casamento para meia dúzia de pessoas".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/03/eden-2014.html
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista Agora"Nesse sentido, Eastwood reverte a lógica dos filmes pacifistas e não faz seu personagem cair em prantos e crises existenciais, tampouco tem o interesse de abordar diretamente as reais motivações por trás da Guerra do Iraque. Seu foco é tão somente a derrocada de Kyle enquanto ser humano e a desilusão de ver os ideais do personagem sucumbindo perante a realidade. Não há orgulho em ter matado 160 pessoas, não há vitória no assassinato de mulheres e crianças e Kyle sabe disso, mas se recusa a aceitá-lo e, principalmente, expô-lo em público. O companheiro o cumprimenta por ter evitado a explosão do comboio ou por tê-lo salvado de uma situação extrema, mas Kyle não se sente confortável com os elogios e congratulações (e, novamente, a atuação de Cooper é cirúrgica nestas cenas). Novamente, o discurso patriótico se torna um escudo contra a verdade inaceitável".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/sniper-americano-2014.html
O Destino de Júpiter
2.5 1,3K Assista Agora"Nessa jornada intergaláctica, os Wachowski lançam mão de teorias científicas bizarras para explicar a imortalidade, o culto aos genes e o valor do tempo para aqueles que governam o universo. Mas o grosso do caldo é mesmo a coragem dos diretores em usar o dinheiro de uma grande corporação mundial para alçar o ser humano à condição de mero produto de consumo e, com isso, tecer uma (ainda que breve) crítica à sociedade que só visa o lucro".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/o-destino-de-jupiter-2015.html
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista Agora"Birdman, que não segue caminho oposto, tem também a sua quota de prepotência: um (aparente) único plano-sequência nos leva pelos bastidores da peça de teatro dirigida, escrita e atuada por Riggan Thomson (um Michael Keaton interpretando a si mesmo), um ex-intérprete de um super-herói que busca ser levado a sério. Em meio às crises de consciência de Riggan enquanto homem e artista, o roteiro assinado a quatro mãos ainda deixa observações e comentários supostamente pertinentes acerca do estado atual do cinema e do teatro, que vão desde os excessivos filmes baseados em gibis até a máxima do crítico ser um artista frustrado".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/birdman-ou-inesperada-virtude-da.html
Depois da Chuva
2.9 50"É com essa potência que a dupla Cláudio Marques e Marília Hughes inicia um filme sobre um momento político muito particular da história brasileira, o qual ainda não havia sido abordado de maneira tão direta pelo cinema nacional. O cenário imediato ao pós-ditadura é visto pelos diretores como algo profundamente melancólico, em que a incerteza do futuro político do país, após vinte anos de rígidas restrições, é um temor praticamente universal da população. De forma inteligente, o filme o registra através da juventude da época, isto é, de uma geração que vivenciará o novo regime político do país, seja ele qual for".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/02/depois-da-chuva-2015.html
Timbuktu
3.8 134 Assista Agora"Na realidade, Sissako faz um filme de resistência ao lançar um olhar crítico às ações levadas a cabo pelos jihadistas por meio de uma série de cenas sensíveis e certeiras. Assim, quando filma os extremistas discutindo futebol e, posteriormente, a população local praticando o esporte sem uma bola, o diretor africano ressalta o uso da lei como um instrumento de dominação, e não como um fator de ordem social, razão pela qual os oprimidos buscam, sempre que podem, escapar de sua arbitrariedade. E é por isso que, em outra cena marcante, uma mulher protesta pela manutenção de um hábito e de uma cultura cantando durante as chibatadas, que, ironicamente, são uma punição pelo canto da noite anterior".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/01/timbuktu-2014.html
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista Agora"Damien Chazelle não tem a intenção de perder tempo ao encenar a disputa física e psicológica entre Andrew e Fletcher, que permeará seu filme, tanto que já o abre num travelling que joga o espectador para o primeiro encontro dos dois, no qual as premissas da conflituosa relação já são estabelecidas. O que vem adiante é um tenso embate entre duas figuras que se retroalimentam dos respectivos sadismos e que estão dispostas a levar uma a outra ao limite do desumano. Fletcher usa da tortura psicológica e da agressão física para incentivar seus alunos a irem sempre além de suas habilidades musicais usuais, algo que parece obstinar Andrew a seguir as rígidas determinações de seu mestre, como se elas o levassem, de fato, à grandiosidade. Qualquer um que venha interferir nessa meta será rifado de seu caminho".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2015/01/whiplash-em-busca-da-perfeicao-2014.html
Debi & Lóide 2
3.0 756 Assista Agora"A base é a mesma, isto é, um road movie que encaixa os protagonistas em uma série de situações aparentemente usuais, mas que remontam ao ideário do norte-americano contemporâneo. Estão lá a família rica perversa e com tendências assassinas, os nerds aficionados por ciência e o conservadorismo interiorano. Todos são vítimas da subversão corrosiva das personagens criadas pelos irmãos Farrelly, as quais geralmente possuem alguma deficiência, mas, no fim, são mais normais do que aqueles que as cercam. Débi e Lóide e suas constantes inconveniências fazem graça das regras de conduta sedimentadas pelo bom mocismo hodierno sem que isso importe em um julgamento moral. Pelo contrário, estamos diante de um manifesto pelo despudor e pela quebra dos parâmetros sociais".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/debi-loide-2.html
Interestelar
4.3 5,7K Assista Agora"Assim como em A Origem (2010), Interestelar se vale de uma intricada premissa para construir uma história que envolva e atraia a atenção de seu espectador pela pretensa complexidade em que os elementos científicos são interligados pelo roteiro. Contudo, não demora muito tempo para notarmos que, mais uma vez, Nolan, no fundo, menospreza a capacidade intelectual de seu público e logo passa a inserir uma série de passagens explicativas no filme, como se estivéssemos diante de uma aula de física do ensino médio. Lá estão personagens explicando com exemplar didática as mais complexas teorias desenvolvidas pelo físico Kip Thorne ou mesmo desenhando em uma pequena lousa o que virá a seguir. Ou seja, a complexidade é meramente ilustrativa, tendo em vista que, uma hora ou outra, o Telecurso 2000 entrará em cena e deixará tudo esmiuçado para o espectador".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/interestelar-2014.html
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista Agora"O resultado é justamente a naturalidade de um processo consciente das diversas modificações sociais, políticas e comportamentais de uma década e o seu impacto sobre as personagens, que são amoldadas de acordo com o modismo do tempo que estão inseridas, mas sem perder a particularidade de cada uma. Os atores crescem diante dos olhos do público e a sensação é de estarmos diante de um documentário sobre a vida daquelas pessoas, especialmente porque Linklater foge de exacerbações e opta por um contexto de unidade dramática, sem os conhecidos "grandes momentos" dessa forma de registro".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/11/boyhood-da-infancia-juventude-2014.html
Era Uma Vez em Nova York
3.5 296 Assista Agora"Embora exista essa relação de aproveitamento, não há maniqueísmo em Era Uma Vez em Nova York. Pelo contrário, Gray constrói personagens cuja reprovabilidade de conduta deriva da necessidade de sobrevivência numa terra alheia e indiferente às suas condições sociais. A prostituição, assim, se torna uma alternativa real e palpável de faturar dinheiro e, consequentemente, de viver na América de forma minimamente digna. Tanto é assim que Ewa e Bruno têm plena consciência da torpeza de seus atos, principalmente a primeira, cuja influência católica adiciona um dilema entre o sacro e o profano que enriquece ainda mais a personagem".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/09/era-uma-vez-em-nova-york-2014.html
Bem-vindo a Nova York
3.3 56 Assista Agora"Os primeiros quinze minutos, dos mais intensos vistos no cinema recente, já introduzem a essência dessa figura interpretada com maestria por Gerárd Depardieu: um homem de imenso poder e forma física, descrente da condição humana e subjulgador de mulheres em suas orgias sucessivas. O sexo é o seu principal instrumento de dominação, algo que Ferrara faz questão de ressaltar por meio de sua câmera despudorada. Nesses quinze minutos, vemos um ser animalesco, que se move e grita como um touro sem rédeas, preocupado apenas com o seu próprio bem-estar. O sexo torna-se, então, vetor de sua amoralidade".
Texto completo: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/09/bem-vindo-nova-york-2014.html
Magia ao Luar
3.4 569 Assista Agora"É claro que, em se tratando de uma obra de Woody Allen, o desconhecido e o espiritual não sobrevivem diante da descrença do diretor e de seus alter-egos, e Magia ao Luar prefere se reservar a ser um eficiente, preciso e conciso retrato sobre a necessidade de ilusão em meio a razão".
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Amar, Beber e Cantar
3.0 42 Assista AgoraNo teatro da grande tela, a vida é uma celebração. O testamento cinematográfico do mestre Resnais é uma ode à arte, à vida, à morte.
Texto no: http://www.discursocinematografico.com.br/2014/07/amar-beber-e-cantar-2014.html