Assistível, com alguns bons momentos, embora o conjunto não seja nada brilhante. Ainda mais se comparado a outros filmes da época, feito "Rio Babilônia". Destaque, óbvio, ao excelente trabalho de Milton Gonçalves. Seu personagem, o bicheiro Cacareco, é um dos melhores do cinema brasileiro. No mais, a dupla protagonista cumpre as expectativas, além de alguns bons coadjuvantes.
É uma lástima um argumento tão promissor desabar com uma realização burocrática e um Liam Neeson no piloto automático. Menos mal que James Nesbitt convence em seu personagem vingativo. Mas é pouco, muito pouco.
Depois do indigesto "Cronicamente Inviável", Sergio Bianchi segue em sua sina de questionador do caráter do brasileiro. Desta vez, porém, focado no marketing social e de como ele serve de pretexto para muita gente enriquecer às custas da miséria alheia. Contrapor essa premissa com uma visão menos maniqueísta da escravidão no Brasil é prova de que, goste-se ou não do cinema de Bianchi, ninguém poderá chamá-lo de acomodado. "Quanto Vale ou é por Quilo?" é um filme mais orgânico, cadenciado, com instantes de humor negro e menos discursos. As atuações neste filme, ao contrário do que ocorreu no antecessor, estão acima da média. Destaque para Ana Lúcia Torre, em dois papeis. Acima da temática social, este filme também sabe entreter.
Falar de relacionamentos quando ainda se é jovem, mas a paixão parece ter acabado. Questionar os limites da fidelidade. Tratar dos amores que surgem nos recessos dos namoros e que, com a sua retomada, seguem rumo indefinido. Eis alguns dos méritos de "Apenas Uma Noite". A escolha do elenco pode não ter sido a melhor possível, mas não é das piores. Guillaume Canet é o que sai melhor no quarteto principal. Keira Knightley e Eva Mendes dão conta do recado. Sam Worthington é o único que deixa a desejar. Já Griffin Dunne, em uma participação breve, é o contraponto maduro aos questionamentos do casal jovem. O único defeito do filme é a trilha sonora repetitiva. A cena inicial combina com o piano praticamente ininterrupto. Porém, depois de alguns minutos, o resultado é meio indigesto. De qualquer forma, os casais que assistirem a "Apenas Uma Noite" certamente terão muito no que pensar.
Projetos ambiciosos, em termos de cinema, demandam uma realização equilibrada, a fim de que as qualidades do argumento encontrem eco na sua concretização. É uma pena que "Cronicamente Inviável" não cumpra essa exigência. Sergio Bianchi é um provocador de primeira. Seus filmes costumam ser um inventário de críticas a este país tão esculhambado de nome Brasil. Interessante notar que não há proselitismo de espécie alguma neste filme. Não há a santificação dos movimentos sociais, tampouco o pedantismo dos neoconservadores que hoje estão na moda. E a fragmentação da trama em histórias esparsas que se cruzam em vários pontos é outro ponto a favor. Porém, os diálogos são discursivos demais. Mais parecem defesa de tese acadêmica. E a direção de atores é sofrível. Ótimos intérpretes são desperdiçados do começo ao fim. Há algumas exceções, é claro. As atuações de Claudia Mello e Maria Alice Vergueiro, nas cenas dos atropelamentos, superam a média. Infelizmente, é pouco. "Cronicamente Inviável" resulta em um filme que é necessário assistir, mas que frustrará quem busca uma experiência cinematográfica mais substanciosa.
Há algum tempo, os criadores de "South Park" desancaram Seth MacFarlane, dizendo que seus roteiros não eram bons por conta do excesso de "piadas descartáveis". Mesmo respeitando Trey Parker e Matt Stone, essa crítica é um tanto hipócrita, já que "South Park", em seus primeiros tempos, merecia a mesma avaliação que fizeram sobre Seth. E certos episódios de "Family Guy", "American Dad" e "The Cleveland Show" já revelavam, sob uma miríade de gags a granel, um criador original e coerente. "Ted", seu primeiro longa-metragem, comprova a boa impressão que Seth tem causado desde a segunda chance que "Family Guy" recebeu do canal Fox. "Simpsons" à parte, conseguir manter três boas animações ao mesmo tempo e ainda realizar um ótimo longa-metragem é coisa pra esfregar na fuça do Matt Groening com gosto. A trama de "Ted" gira em torno, basicamente, do trio John, Lori e Ted. Trata do conflito entre amadurecer ou seguir uma pós-adolescência sem prazo para acabar. É também sobre o medo da solidão, do valor da amizade e de como não é preciso fazer um filme xaroposo ou "edificante" para falar dessas coisas. Porque, palavra, há muito tempo eu não ria tanto no cinema, a ponto de me constranger com o silêncio da plateia em boa parte do filme. Certas tiradas não foram captadas pelo público médio brasileiro, devido a certas referências mais perceptíveis pelos americanos. Pior para quem não percebeu a graça desses momentos, pois demonstram o quanto estão integrados às personalidades dos protagonistas. Outro acerto em "Ted" está na bem-vinda disposição de certos artistas em brincarem com sua auto-imagem, com destaque para Sam J. Jones, ídolo de infância de muitos marmanjos já passados dos trinta anos, numa das melhores participações especiais do cinema nos últimos tempos. Também é preciso falar no cuidado com o qual Seth MacFarlane buscou reproduzir elementos dos anos 80 no prólogo da história. Convincente ao extremo. O elenco está ótimo. Mark Whalberg mergulha de cabeça no espírito do filme, demonstrando uma interação tão profunda com o urso Ted que, afora os ótimos efeitos especiais, ficamos realmente com a impressão de que não se trata de uma obra ficcional. Mila Kunis já estava habituada com o estilo demonstrado em "Ted" por dublar Meg em "Family Guy". Além dessa vantagem, ela está tão sexy quanto divertida, provando ser uma das melhores atrizes da sua época. E Giovanni Ribisi, então? Sua atuação no papel de um pai psicopata causa risos e temor, às vezes simultâneos. Para completar, a trilha sonora do veterano Walter Murphy, outro comparsa de MacFarlane a colaborar em "Ted"(outros dubladores dos seus desenhos estão no elenco, em papeis menores), é bastante adequada ao clima tão fabulesco quanto sarcárstico do filme. Recomendo este filme a todo mundo, até mesmo a um certo delegado da Polícia Federal, eleito deputado federal por um partido stalinista graças ao alto quociente eleitoral obtido pelo humorista Tiririca e que não presta atenção à classificação indicativa dos filmes aos quais assiste com seu filho pré-adolescente.
Os filmes de Sergio Bianchi estão ficando mais palatáveis, duns tempos pra cá. Mais cinema do que discurso, mais arte do que denúncia social. Embora, em certos momentos, ameace recorrer a alguns cacoetes de seus filmes anteriores, "Os Inquilinos" funciona ao retratar os temores de um homem comum, acossado pelas dificuldades do cotidiano e, em particular, pelos inquilinos misteriosos da casa ao lado. Até na direção de atores notamos o quanto Bianchi está ficando sutil. Sem as gritarias de outros filmes, há espaço para nuances inauditas, em especial quanto à personagem Iara. Superou as minhas expectativas, em especial quanto ao desfecho.
Impressiona o quanto este filme permanece vívido e empolgante, comprovando que um bom thriller prescinde de piruetas visuais ou de reviravoltas exibicionistas no roteiro. Ainda por cima, "Assalto ao Trem Pagador" também apresenta observações sociais sobre o Brasil da época da sua realização. O elenco está fantástico. Porém, preciso destacar a atuação de Eliezer Gomes, um excelente ator, precocemente falecido, que fez do seu Tião Medonho um dos melhores personagens do cinema brasileiro de todos os tempos. A conferir, sem falta.
Da nobre classe dos filmes humanistas que, sem apelar para a emotividade barata nem a lições de moral, trata de temas grandiosos com humildade e ternura. E nada melhor, em oposição a um ambiente racista feito o sul dos EUA, do que se valer da ótica das crianças, em especial da pequena Jean Louise e de como a defesa de um negro injustamente acusado de estupro por seu pai, um advogado honesto e generoso, formatará sua visão do mundo. Gregory Peck está simplesmente perfeito. Idem para Brock Peters, que interpreta o negro injustiçado. Reparem em Robert Duvall, estreando no cinema, no papel de Boo. E assistam a este filme, cujas qualidades estéticas servem à sua temática social, e vice-versa.
Este filme é bem mais memorável pela estrutura do seu roteiro, tantas vezes copiada mundo afora. Da minha parte, cabe alguma reavaliação. Até porque, por muito tempo, a fase final da carreira de Kurosawa me chamava mais a atenção.
Mais uma vez, a câmera de Karim Ainouz praticamente gruda nos personagens, como se expor seus corpos não fosse o bastante. Porém, o resultado não flui tão bem quanto em "Madame Satã", seu filme anterior. A ideia de nomear a protagonista com o mesmo prenome da sua intérprete faz parecer que o diretor quis se apropriar em demasia de características da própria atriz. Somando-se isso à mania de certos cineastas brasileiros de se escorarem demais no trabalho da preparadora de atores Fátima Toledo, fica a impressão de que são menos criativos e artisticamente autônomos do que o esperado. Deixando essa questão de lado, vamos ao filme em si. O argumento da mulher que leiloa o próprio corpo por uma noite de amor poderia ter sido explorada de forma mais sensacionalista nas mãos de um diretor desonesto. Felizmente esse risco não se concretiza em "O Céu de Suely". Nunca a música "Tudo Que Eu Tenho", sucesso da cantora Diana nos anos 70, soou tão bonita quanto em seu uso no filme. Não nego que fiquei meio saturado do meio para o final. Mesmo assim, é um bom filme brasileiro.
Já não era o Fellini com tintas neorealistas do princípio. Tampouco o Fellini psicodélico que viria na década seguinte. E, ainda assim, já se poderia dizer que era um grande cineasta. Difícil não se comover com a desventurada Gelsomina ou com o iracundo Zampanò. Talvez a força do filme resida demais nesses personagens do que em outros aspectos. Mesmo assim, vale ver.
Estranha homenagem a Roma: é o mínimo que se poderia dizer deste filme. Em vez de apelar a travellings para turistas, Fellini mostra o cenário oferecido, por exemplo, a quem chegasse a Roma via terra, nos já urbanamente caóticos anos 70. Inesquecíveis cenas, desde a fartura de comida nas primeiras cenas até o famigerado desfile de moda com roupas eclesiásticas. Deleitoso.
Para ilustrar o caráter atípico do protagonista, nada mais apropriado do que se valer de escatalogia (defecação com ópera, masturbação com cenas do extinto e sugestivo programa "Roletrando").
O Fellini dos primeiros tempos, adianto, não é dos meus preferidos. Contudo, é preciso reconhecer que "Abismo de Um Sonho" antecipa certos elementos que lhe seriam caros. Dentre os quais, o misto de comiseração e escárnio que nutre pelos sonhos das pessoas comuns. Mais simbólico do que efetivamente cinematográfico.
Fellini já havia passado do auge nessa época. Ainda assim, conseguia ser relevante. Para comprovar, tudo começa com a abertura à moda do cinema mudo, passando pelo desfile de tipos tão característicos dos seus filmes que justificaram sua passagem para o dicionário. E nada mais felliniano do que um rinoceronte no porão de um navio.
Fellini bancando o Pasolini? "Satyricon" é um ponto de encontro entre o onirismo do primeiro com a volúpia do segundo. Somente os anos 70 poderiam permitir tamanho arrojo visual e um tratamento tão liberado quanto a este relato dos costumes na Roma antiga. Às vezes o resultado pode parecer indigesto. Mas é um Fellini que vale a pena.
Embora o pretexto original para esta sequência seja a prova de amizade do diretor pelo seu ator mais constante, Jason Mewes, e sua recuperação do vício em drogas, é impossível não encarar "O Balconista 2" como uma espécie de balanço da carreira do próprio Kevin Smith, mesmo considerando que "O Império do Besteirol Contra-Ataca" já tivesse tal função. Mostrar os ex-colegas de trabalho da antiga locadora do filme original, agora numa lanchonete fast food, e cada vez mais descompassados quanto aos rumos de suas vidas, seria um ótimo pretexto para compará-los à atual geração. A cena em que Randal confronta sua adoração a "Guerra nas Estrelas" com a devoção de seu jovem colega geek pela trilogia "O Senhor dos Anéis" é um dos pontos altos do filme. Contudo, o excesso de apego do roteiro à vida regrada que Dante tanto deseja (ou ao menos assim pensa) ao querer casar e constituir família tira um pouco o frescor que o filme poderia ter. E a proposta da despedida de solteiro de Dante representa os piores defeitos do cinema de Kevin Smith. Ainda assim, há pontos a favor do filme. O maior deles é a atuação de Rosario Dawson. Ela, efetivamente, é a garota dos sonhos de todo aficcionado por cultura pop. Para quem tem mais de vinte e cinco anos, "O Balconista 2" poderá tanto deixar um sorriso no rosto com o momento Jacksons 5 no meio do filme quanto deixar muita gente pensativa e pensando no que fez da vida até este momento.
É muito prazeroso conhecer o resultado de um orçamento baixíssimo aliado a uma grande criatividade, um roteiro com diálogos impagáveis e tipos humanos verossímeis. Ao menos para quem viveu nos anos 90 e tem ideia da fauna que outrora habitava as hoje combalidas videolocadoras. Kevin Smith, a partir de "O Balconista", iniciou uma tentativa de imprimir um estilo próprio no cinema americano. É uma pena que, daí em diante, ele tenha sido tão irregular, mesmo se desconsiderarmos seus filmes menos pessoais. Não sei se a geração já nascida com os focinhos enterrados nas redes sociais apreciará essa crônica chamada "O Balconista". A eles, peço um pouco de boa vontade. Aos demais, nascidos da década de 80 para trás: quem vai chorar primeiro?
Por não cair mais nessa de que até mesmo os filmes medianos de Woody Allen são melhores do que a média do cinema contemporâneo, armei-me de algum ceticismo ao encarar este "Whatever Works", porcamente traduzido no Brasil por algo parecido com título de livro de auto-ajuda. Nada menos alleniano. Saber que o roteiro foi escrito originalmente para o lendário Zero Mostel me faz pensar o que aconteceria se Woody pudesse filmá-lo conforme seus planos originais. Porque, embora eu considere Larry David um dos maiores humoristas vivos, autor do excelente seriado "Curb Your Enthusiasm", os primeiros minutos do filme me fizeram pensar se prevaleceria o personagem-alter ego de Allen ou o comediante Larry. A disparada de frases misantropas e ranzinzas por parte do protagonista reforçou a minha desconfiança. Até a aparição de Evan Rachel Wood. Indo contra a maré, não considero Scarlett Johansson uma grande atriz, nem mesmo nos filmes em que trabalhou sob a direção de Woody Allen. E, descontada sua beleza, não dá para elevá-la ao nível de Diane Keaton e Mia Farrow, só para falar nas duas grandes musas da carreira do cineasta. Falei de Scarlett porque a babação de ovo que armaram a seu favor deveria ser dirigida a Evan. Ela é muito mais encantadora, além de melhor atriz. Além disso, consegue convencer num papel que, nas mãos de uma intérprete menos talentosa, não seria nada crível. Patricia Clarkson já havia trabalhado com Allen antes. Porém, somente aqui ele percebe que contava com uma ótima atriz ao seu dispor e aproveita seu personagem ao máximo. E, aos poucos, percebe-se que "Whatever Works" é o melhor filme de Woody Allen desde a década de 90. Digo isso porque, ao contrário de muitos, não considero grande coisa a fase europeia do diretor. Superestimada demais. Porém, uma das grandes vantagens de viajar é o valor que damos ao nosso habitat quando a ele retornamos. Assim acontece com "Whatever Works". Depois de espairecer, Woody Allen volta ao seu ambiente típico. E torço para que consiga patrocínio para continuar filmando em Nova York, em vez de fazer turismo a soldo mundo afora.
Há que se considerar, de pronto, a urgência deste filme. Sua realização, nos estertores da ditadura militar, por si só já é um espanto. Impressionante o realismo e a coerência em "Pra Frente, Brasil", bem mais do que se tem lido em tempos de Comissão da Verdade e tentativas de se rever a Anistia. Fugindo do enervante lugar comum de boa parte dos filmes que se passam durante o regime militar, não há, aqui, a glamurização espúria dos que recorreram à luta armada sob o pretexto de acabar com uma ditadura apenas para iniciar outra. O foco, nesta obra, é a ação de qualquer regime totalitário sobre o homem comum, alheio a ideologias e partidos políticos e que, a despeito disso, não está livre dos dissabores típicos de países onde a democracia não há. Fica bem claro que, sob um governo ditatorial, uma das maiores vítimas é o direito de ser neutro. Descontando-se os aspectos políticos de "Pra Frente, Brasil", temos um elenco dedicado, diálogos bem escritos e um roteiro tenso, bem comentado pela trilha sonora de Egberto Gismonti. Confesso que a meia hora final, que deveria ser a mais eletrizante, perde um pouco o rumo, se comparado com as empolgantes cenas iniciais. Mas é um defeito a ser relevado, posto que se trata de um filme adulto, bem resolvido e emblemático. Ainda mais por ter sido dirigido por Roberto Farias, do também representativo "Assalto ao Trem Pagador". "Pra Frente, Brasil" é um filme que as professoras de história podem passar para seus alunos sem que isso configure preguiça intelectual.
P.S.: Para melhor compreender o personagem do empresário vivido por Paulo Porto, incluido a "caixinha" dos empresários para financiar a repressão durante o regime militar, recomendo o documentário "Cidadão Boilesen". Até o sobrenome do industrial em "Pra Frente, Brasil" é uma referência ao infame colaborador da ditadura.
Após o entusiasmante "O Balconista", Kevin Smith pôde trabalhar com um orçamento um pouco mais folgado e uma distribuição duma major. Isso nem sempre resulta em algo à altura do trabalho de estreia. Assim foi nesta crônica sobre jovens imaturos em busca das suas amadas num shopping center. Exceto pelas intervenções alopradas da dupla Jay e Silent Bob e por uma ou outra gag avulsa, o filme mais enerva do que diverte. Aliás, o personagem vivido por Jason Lee é antipático, de tão imaturo. Como pode um filme da década de 90 ter envelhecido tanto?
Ainda não era o esgotamento do gênero dos filmes-paródia. E o diretor de "Top Gang!" fez parte do trio ZAZ, que nos legou "Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu!" e outros na mesma linha. Contudo, já começa a ficar cansativo o alinhamento serial de gags que tanto caracteriza esses filmes. Menos mal que Charlie Sheen já mostrava a grande habilidade de não se levar a sério. Idem para Valeria Golino e para o veterano Lloyd Bridges. No mais, apesar de algumas piadas terem passado do prazo de validade, ainda é possível rir um pouco com "Top Gang!". Pelo menos isso.
Lançado nos tempos seguintes à Anistia, este filme poderia servir até mesmo como registro histórico-sentimental por parte da geração acossada pelo regime militar que ainda vigorava na época desta produção, embora já numa fase mais branda. Porém, várias falhas impedem que "Paula - A História de uma Subversiva" seja até mesmo uma mera curiosidade. Tudo começa pelas interpretações. Dentre as razoáveis Regina Braga e Marlene França, passado pelo esforçado Walter Marins, apenas Armando Bogus brilha no papel do delegado que, mesmo não mais vivendo nos tempos mais repressivos da ditadura de 1964 a 1985, não abre mão da truculência no exercício da atividade policial. Porém, em termos de elenco, a escalação da sofrível Carina Cooper para a personagem-título configurou um erro indesculpável.
Em nenhum momento, a depender da atuação bisonha e forçada de Carina, nos convencemos de que Paula era uma criatura tão sedutora a ponto de arrastar seu professor, até então afastado dos problemas causados aos opositores do regime, a tantos dissabores que lhe custaram um casamento e atrasaram sua carreira profissional.
O roteiro apresenta uma estrutura razoável, arruinada pela pobreza de boa parte das falas. Infeliz tentativa de abordar os efeitos do regime militar em quem ousou contestá-lo.
O Rei do Rio
3.2 19 Assista AgoraAssistível, com alguns bons momentos, embora o conjunto não seja nada brilhante. Ainda mais se comparado a outros filmes da época, feito "Rio Babilônia".
Destaque, óbvio, ao excelente trabalho de Milton Gonçalves. Seu personagem, o bicheiro Cacareco, é um dos melhores do cinema brasileiro.
No mais, a dupla protagonista cumpre as expectativas, além de alguns bons coadjuvantes.
Rastros de Justiça
3.0 31É uma lástima um argumento tão promissor desabar com uma realização burocrática e um Liam Neeson no piloto automático. Menos mal que James Nesbitt convence em seu personagem vingativo. Mas é pouco, muito pouco.
Quanto Vale ou É por Quilo?
4.0 254Depois do indigesto "Cronicamente Inviável", Sergio Bianchi segue em sua sina de questionador do caráter do brasileiro. Desta vez, porém, focado no marketing social e de como ele serve de pretexto para muita gente enriquecer às custas da miséria alheia.
Contrapor essa premissa com uma visão menos maniqueísta da escravidão no Brasil é prova de que, goste-se ou não do cinema de Bianchi, ninguém poderá chamá-lo de acomodado.
"Quanto Vale ou é por Quilo?" é um filme mais orgânico, cadenciado, com instantes de humor negro e menos discursos. As atuações neste filme, ao contrário do que ocorreu no antecessor, estão acima da média. Destaque para Ana Lúcia Torre, em dois papeis.
Acima da temática social, este filme também sabe entreter.
Apenas uma Noite
3.5 788 Assista AgoraFalar de relacionamentos quando ainda se é jovem, mas a paixão parece ter acabado.
Questionar os limites da fidelidade.
Tratar dos amores que surgem nos recessos dos namoros e que, com a sua retomada, seguem rumo indefinido.
Eis alguns dos méritos de "Apenas Uma Noite".
A escolha do elenco pode não ter sido a melhor possível, mas não é das piores. Guillaume Canet é o que sai melhor no quarteto principal. Keira Knightley e Eva Mendes dão conta do recado. Sam Worthington é o único que deixa a desejar.
Já Griffin Dunne, em uma participação breve, é o contraponto maduro aos questionamentos do casal jovem.
O único defeito do filme é a trilha sonora repetitiva. A cena inicial combina com o piano praticamente ininterrupto. Porém, depois de alguns minutos, o resultado é meio indigesto.
De qualquer forma, os casais que assistirem a "Apenas Uma Noite" certamente terão muito no que pensar.
Cronicamente Inviável
4.0 140Projetos ambiciosos, em termos de cinema, demandam uma realização equilibrada, a fim de que as qualidades do argumento encontrem eco na sua concretização.
É uma pena que "Cronicamente Inviável" não cumpra essa exigência.
Sergio Bianchi é um provocador de primeira. Seus filmes costumam ser um inventário de críticas a este país tão esculhambado de nome Brasil.
Interessante notar que não há proselitismo de espécie alguma neste filme. Não há a santificação dos movimentos sociais, tampouco o pedantismo dos neoconservadores que hoje estão na moda.
E a fragmentação da trama em histórias esparsas que se cruzam em vários pontos é outro ponto a favor.
Porém, os diálogos são discursivos demais. Mais parecem defesa de tese acadêmica.
E a direção de atores é sofrível. Ótimos intérpretes são desperdiçados do começo ao fim. Há algumas exceções, é claro. As atuações de Claudia Mello e Maria Alice Vergueiro, nas cenas dos atropelamentos, superam a média. Infelizmente, é pouco.
"Cronicamente Inviável" resulta em um filme que é necessário assistir, mas que frustrará quem busca uma experiência cinematográfica mais substanciosa.
Ted
3.1 3,4K Assista AgoraHá algum tempo, os criadores de "South Park" desancaram Seth MacFarlane, dizendo que seus roteiros não eram bons por conta do excesso de "piadas descartáveis".
Mesmo respeitando Trey Parker e Matt Stone, essa crítica é um tanto hipócrita, já que "South Park", em seus primeiros tempos, merecia a mesma avaliação que fizeram sobre Seth.
E certos episódios de "Family Guy", "American Dad" e "The Cleveland Show" já revelavam, sob uma miríade de gags a granel, um criador original e coerente.
"Ted", seu primeiro longa-metragem, comprova a boa impressão que Seth tem causado desde a segunda chance que "Family Guy" recebeu do canal Fox.
"Simpsons" à parte, conseguir manter três boas animações ao mesmo tempo e ainda realizar um ótimo longa-metragem é coisa pra esfregar na fuça do Matt Groening com gosto.
A trama de "Ted" gira em torno, basicamente, do trio John, Lori e Ted. Trata do conflito entre amadurecer ou seguir uma pós-adolescência sem prazo para acabar.
É também sobre o medo da solidão, do valor da amizade e de como não é preciso fazer um filme xaroposo ou "edificante" para falar dessas coisas.
Porque, palavra, há muito tempo eu não ria tanto no cinema, a ponto de me constranger com o silêncio da plateia em boa parte do filme. Certas tiradas não foram captadas pelo público médio brasileiro, devido a certas referências mais perceptíveis pelos americanos.
Pior para quem não percebeu a graça desses momentos, pois demonstram o quanto estão integrados às personalidades dos protagonistas.
Outro acerto em "Ted" está na bem-vinda disposição de certos artistas em brincarem com sua auto-imagem, com destaque para Sam J. Jones, ídolo de infância de muitos marmanjos já passados dos trinta anos, numa das melhores participações especiais do cinema nos últimos tempos.
Também é preciso falar no cuidado com o qual Seth MacFarlane buscou reproduzir elementos dos anos 80 no prólogo da história. Convincente ao extremo.
O elenco está ótimo. Mark Whalberg mergulha de cabeça no espírito do filme, demonstrando uma interação tão profunda com o urso Ted que, afora os ótimos efeitos especiais, ficamos realmente com a impressão de que não se trata de uma obra ficcional.
Mila Kunis já estava habituada com o estilo demonstrado em "Ted" por dublar Meg em "Family Guy". Além dessa vantagem, ela está tão sexy quanto divertida, provando ser uma das melhores atrizes da sua época.
E Giovanni Ribisi, então? Sua atuação no papel de um pai psicopata causa risos e temor, às vezes simultâneos.
Para completar, a trilha sonora do veterano Walter Murphy, outro comparsa de MacFarlane a colaborar em "Ted"(outros dubladores dos seus desenhos estão no elenco, em papeis menores), é bastante adequada ao clima tão fabulesco quanto sarcárstico
do filme.
Recomendo este filme a todo mundo, até mesmo a um certo delegado da Polícia Federal, eleito deputado federal por um partido stalinista graças ao alto quociente eleitoral obtido pelo humorista Tiririca e que não presta atenção à classificação indicativa dos filmes aos quais assiste com seu filho pré-adolescente.
Os Inquilinos
3.5 67Os filmes de Sergio Bianchi estão ficando mais palatáveis, duns tempos pra cá.
Mais cinema do que discurso, mais arte do que denúncia social.
Embora, em certos momentos, ameace recorrer a alguns cacoetes de seus filmes anteriores, "Os Inquilinos" funciona ao retratar os temores de um homem comum, acossado pelas dificuldades do cotidiano e, em particular, pelos inquilinos misteriosos da casa ao lado.
Até na direção de atores notamos o quanto Bianchi está ficando sutil.
Sem as gritarias de outros filmes, há espaço para nuances inauditas, em especial quanto à personagem Iara.
Superou as minhas expectativas, em especial quanto ao desfecho.
O Assalto ao Trem Pagador
4.1 91Impressiona o quanto este filme permanece vívido e empolgante, comprovando que um bom thriller prescinde de piruetas visuais ou de reviravoltas exibicionistas no roteiro.
Ainda por cima, "Assalto ao Trem Pagador" também apresenta observações sociais sobre o Brasil da época da sua realização.
O elenco está fantástico. Porém, preciso destacar a atuação de Eliezer Gomes,
um excelente ator, precocemente falecido, que fez do seu Tião Medonho um dos melhores personagens do cinema brasileiro de todos os tempos.
A conferir, sem falta.
O Sol É Para Todos
4.3 415 Assista AgoraDa nobre classe dos filmes humanistas que, sem apelar para a emotividade barata nem a lições de moral, trata de temas grandiosos com humildade e ternura.
E nada melhor, em oposição a um ambiente racista feito o sul dos EUA, do que se valer da ótica das crianças, em especial da pequena Jean Louise e de como a defesa de um negro injustamente acusado de estupro por seu pai, um advogado honesto e generoso, formatará sua visão do mundo.
Gregory Peck está simplesmente perfeito. Idem para Brock Peters, que interpreta o negro injustiçado. Reparem em Robert Duvall, estreando no cinema, no papel de Boo.
E assistam a este filme, cujas qualidades estéticas servem à sua temática social, e vice-versa.
Rashomon
4.4 301 Assista AgoraEste filme é bem mais memorável pela estrutura do seu roteiro, tantas vezes copiada mundo afora.
Da minha parte, cabe alguma reavaliação. Até porque, por muito tempo, a fase final da carreira de Kurosawa me chamava mais a atenção.
O Céu de Suely
3.9 466 Assista AgoraMais uma vez, a câmera de Karim Ainouz praticamente gruda nos personagens, como se expor seus corpos não fosse o bastante.
Porém, o resultado não flui tão bem quanto em "Madame Satã", seu filme anterior.
A ideia de nomear a protagonista com o mesmo prenome da sua intérprete faz parecer que o diretor quis se apropriar em demasia de características da própria atriz.
Somando-se isso à mania de certos cineastas brasileiros de se escorarem demais no trabalho da preparadora de atores Fátima Toledo, fica a impressão de que são menos criativos e artisticamente autônomos do que o esperado.
Deixando essa questão de lado, vamos ao filme em si.
O argumento da mulher que leiloa o próprio corpo por uma noite de amor poderia ter sido explorada de forma mais sensacionalista nas mãos de um diretor desonesto. Felizmente esse risco não se concretiza em "O Céu de Suely".
Nunca a música "Tudo Que Eu Tenho", sucesso da cantora Diana nos anos 70, soou tão bonita quanto em seu uso no filme.
Não nego que fiquei meio saturado do meio para o final.
Mesmo assim, é um bom filme brasileiro.
A Estrada da Vida
4.3 228 Assista AgoraJá não era o Fellini com tintas neorealistas do princípio. Tampouco o Fellini psicodélico que viria na década seguinte.
E, ainda assim, já se poderia dizer que era um grande cineasta.
Difícil não se comover com a desventurada Gelsomina ou com o iracundo Zampanò.
Talvez a força do filme resida demais nesses personagens do que em outros aspectos.
Mesmo assim, vale ver.
Roma de Fellini
4.1 65 Assista AgoraEstranha homenagem a Roma: é o mínimo que se poderia dizer deste filme.
Em vez de apelar a travellings para turistas, Fellini mostra o cenário oferecido, por exemplo, a quem chegasse a Roma via terra, nos já urbanamente caóticos anos 70.
Inesquecíveis cenas, desde a fartura de comida nas primeiras cenas até o famigerado desfile de moda com roupas eclesiásticas.
Deleitoso.
SuperOutro
4.0 41Edgar Navarro criou o super-herói brasileiro por excelência em "Superoutro".
E brasileiro não por meio de estereótipos dos mais batidos.
Para ilustrar o caráter atípico do protagonista, nada mais apropriado do que se valer de escatalogia (defecação com ópera, masturbação com cenas do extinto e sugestivo programa "Roletrando").
Da estirpe dos filmes breves e impactantes.
Abismo de um Sonho
3.7 36 Assista AgoraO Fellini dos primeiros tempos, adianto, não é dos meus preferidos.
Contudo, é preciso reconhecer que "Abismo de Um Sonho" antecipa certos elementos que lhe seriam caros. Dentre os quais, o misto de comiseração e escárnio que nutre pelos sonhos das pessoas comuns.
Mais simbólico do que efetivamente cinematográfico.
E La Nave Va
4.0 70 Assista AgoraFellini já havia passado do auge nessa época. Ainda assim, conseguia ser relevante.
Para comprovar, tudo começa com a abertura à moda do cinema mudo, passando pelo desfile de tipos tão característicos dos seus filmes que justificaram sua passagem para o dicionário.
E nada mais felliniano do que um rinoceronte no porão de um navio.
Satyricon de Fellini
3.8 145 Assista AgoraFellini bancando o Pasolini?
"Satyricon" é um ponto de encontro entre o onirismo do primeiro com a volúpia do segundo.
Somente os anos 70 poderiam permitir tamanho arrojo visual e um tratamento tão liberado quanto a este relato dos costumes na Roma antiga.
Às vezes o resultado pode parecer indigesto. Mas é um Fellini que vale a pena.
O Balconista 2
3.6 126 Assista AgoraEmbora o pretexto original para esta sequência seja a prova de amizade do diretor pelo seu ator mais constante, Jason Mewes, e sua recuperação do vício em drogas, é impossível não encarar "O Balconista 2" como uma espécie de balanço da carreira do próprio Kevin Smith, mesmo considerando que "O Império do Besteirol Contra-Ataca" já tivesse tal função.
Mostrar os ex-colegas de trabalho da antiga locadora do filme original, agora numa lanchonete fast food, e cada vez mais descompassados quanto aos rumos de suas vidas, seria um ótimo pretexto para compará-los à atual geração.
A cena em que Randal confronta sua adoração a "Guerra nas Estrelas" com a devoção de seu jovem colega geek pela trilogia "O Senhor dos Anéis" é um dos pontos altos do filme.
Contudo, o excesso de apego do roteiro à vida regrada que Dante tanto deseja (ou ao menos assim pensa) ao querer casar e constituir família tira um pouco o frescor que o filme poderia ter.
E a proposta da despedida de solteiro de Dante representa os piores defeitos do cinema de Kevin Smith.
Ainda assim, há pontos a favor do filme. O maior deles é a atuação de Rosario Dawson.
Ela, efetivamente, é a garota dos sonhos de todo aficcionado por cultura pop.
Para quem tem mais de vinte e cinco anos, "O Balconista 2" poderá tanto deixar um sorriso no rosto com o momento Jacksons 5 no meio do filme quanto deixar muita gente pensativa e pensando no que fez da vida até este momento.
O Balconista
3.9 222 Assista AgoraÉ muito prazeroso conhecer o resultado de um orçamento baixíssimo aliado a uma grande criatividade, um roteiro com diálogos impagáveis e tipos humanos verossímeis. Ao menos para quem viveu nos anos 90 e tem ideia da fauna que outrora habitava as hoje combalidas videolocadoras.
Kevin Smith, a partir de "O Balconista", iniciou uma tentativa de imprimir um estilo próprio no cinema americano. É uma pena que, daí em diante, ele tenha sido tão irregular, mesmo se desconsiderarmos seus filmes menos pessoais.
Não sei se a geração já nascida com os focinhos enterrados nas redes sociais apreciará essa crônica chamada "O Balconista". A eles, peço um pouco de boa vontade.
Aos demais, nascidos da década de 80 para trás: quem vai chorar primeiro?
Tudo Pode Dar Certo
4.0 1,1KPor não cair mais nessa de que até mesmo os filmes medianos de Woody Allen são melhores do que a média do cinema contemporâneo, armei-me de algum ceticismo ao encarar este "Whatever Works", porcamente traduzido no Brasil por algo parecido com título de livro de auto-ajuda. Nada menos alleniano.
Saber que o roteiro foi escrito originalmente para o lendário Zero Mostel me faz pensar o que aconteceria se Woody pudesse filmá-lo conforme seus planos originais.
Porque, embora eu considere Larry David um dos maiores humoristas vivos, autor do excelente seriado "Curb Your Enthusiasm", os primeiros minutos do filme me fizeram pensar se prevaleceria o personagem-alter ego de Allen ou o comediante Larry.
A disparada de frases misantropas e ranzinzas por parte do protagonista reforçou a minha desconfiança.
Até a aparição de Evan Rachel Wood.
Indo contra a maré, não considero Scarlett Johansson uma grande atriz, nem mesmo nos filmes em que trabalhou sob a direção de Woody Allen. E, descontada sua beleza, não dá para elevá-la ao nível de Diane Keaton e Mia Farrow, só para falar nas duas grandes musas da carreira do cineasta.
Falei de Scarlett porque a babação de ovo que armaram a seu favor deveria ser dirigida a Evan. Ela é muito mais encantadora, além de melhor atriz.
Além disso, consegue convencer num papel que, nas mãos de uma intérprete menos talentosa, não seria nada crível.
Patricia Clarkson já havia trabalhado com Allen antes. Porém, somente aqui ele percebe que contava com uma ótima atriz ao seu dispor e aproveita seu personagem ao máximo.
E, aos poucos, percebe-se que "Whatever Works" é o melhor filme de Woody Allen desde a década de 90. Digo isso porque, ao contrário de muitos, não considero grande coisa a fase europeia do diretor. Superestimada demais.
Porém, uma das grandes vantagens de viajar é o valor que damos ao nosso habitat quando a ele retornamos. Assim acontece com "Whatever Works".
Depois de espairecer, Woody Allen volta ao seu ambiente típico.
E torço para que consiga patrocínio para continuar filmando em Nova York, em vez de fazer turismo a soldo mundo afora.
Pra Frente, Brasil
3.7 76Há que se considerar, de pronto, a urgência deste filme. Sua realização, nos estertores da ditadura militar, por si só já é um espanto.
Impressionante o realismo e a coerência em "Pra Frente, Brasil", bem mais do que se tem lido em tempos de Comissão da Verdade e tentativas de se rever a Anistia.
Fugindo do enervante lugar comum de boa parte dos filmes que se passam durante o regime militar, não há, aqui, a glamurização espúria dos que recorreram à luta armada sob o pretexto de acabar com uma ditadura apenas para iniciar outra.
O foco, nesta obra, é a ação de qualquer regime totalitário sobre o homem comum, alheio a ideologias e partidos políticos e que, a despeito disso, não está livre dos dissabores típicos de países onde a democracia não há.
Fica bem claro que, sob um governo ditatorial, uma das maiores vítimas é o direito de ser neutro.
Descontando-se os aspectos políticos de "Pra Frente, Brasil", temos um elenco dedicado, diálogos bem escritos e um roteiro tenso, bem comentado pela trilha sonora de Egberto Gismonti.
Confesso que a meia hora final, que deveria ser a mais eletrizante, perde um pouco o rumo, se comparado com as empolgantes cenas iniciais.
Mas é um defeito a ser relevado, posto que se trata de um filme adulto, bem resolvido e emblemático.
Ainda mais por ter sido dirigido por Roberto Farias, do também representativo "Assalto ao Trem Pagador".
"Pra Frente, Brasil" é um filme que as professoras de história podem passar para seus alunos sem que isso configure preguiça intelectual.
P.S.: Para melhor compreender o personagem do empresário vivido por Paulo Porto, incluido a "caixinha" dos empresários para financiar a repressão durante o regime militar, recomendo o documentário "Cidadão Boilesen". Até o sobrenome do industrial em "Pra Frente, Brasil" é uma referência ao infame colaborador da ditadura.
Barrados no Shopping
3.6 158 Assista AgoraApós o entusiasmante "O Balconista", Kevin Smith pôde trabalhar com um orçamento um pouco mais folgado e uma distribuição duma major.
Isso nem sempre resulta em algo à altura do trabalho de estreia.
Assim foi nesta crônica sobre jovens imaturos em busca das suas amadas num shopping center.
Exceto pelas intervenções alopradas da dupla Jay e Silent Bob e por uma ou outra gag avulsa, o filme mais enerva do que diverte.
Aliás, o personagem vivido por Jason Lee é antipático, de tão imaturo.
Como pode um filme da década de 90 ter envelhecido tanto?
Top Gang! Ases Muito Loucos
3.4 262 Assista AgoraAinda não era o esgotamento do gênero dos filmes-paródia.
E o diretor de "Top Gang!" fez parte do trio ZAZ, que nos legou "Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu!" e outros na mesma linha.
Contudo, já começa a ficar cansativo o alinhamento serial de gags que tanto caracteriza esses filmes.
Menos mal que Charlie Sheen já mostrava a grande habilidade de não se levar a sério. Idem para Valeria Golino e para o veterano Lloyd Bridges.
No mais, apesar de algumas piadas terem passado do prazo de validade, ainda é possível rir um pouco com "Top Gang!". Pelo menos isso.
Paula - A História de uma Subversiva
2.5 6Lançado nos tempos seguintes à Anistia, este filme poderia servir até mesmo como registro histórico-sentimental por parte da geração acossada pelo regime militar que ainda vigorava na época desta produção, embora já numa fase mais branda.
Porém, várias falhas impedem que "Paula - A História de uma Subversiva" seja até mesmo uma mera curiosidade.
Tudo começa pelas interpretações. Dentre as razoáveis Regina Braga e Marlene França, passado pelo esforçado Walter Marins, apenas Armando Bogus brilha no papel do delegado que, mesmo não mais vivendo nos tempos mais repressivos da ditadura de 1964 a 1985, não abre mão da truculência no exercício da atividade policial.
Porém, em termos de elenco, a escalação da sofrível Carina Cooper para a personagem-título configurou um erro indesculpável.
Em nenhum momento, a depender da atuação bisonha e forçada de Carina, nos convencemos de que Paula era uma criatura tão sedutora a ponto de arrastar seu professor, até então afastado dos problemas causados aos opositores do regime, a tantos dissabores que lhe custaram um casamento e atrasaram sua carreira profissional.
O roteiro apresenta uma estrutura razoável, arruinada pela pobreza de boa parte das falas.
Infeliz tentativa de abordar os efeitos do regime militar em quem ousou contestá-lo.