muito bem. Mas considerando que o impulso narrativo depende completamente dessa sua transformação em uma mulher independente, os caminhos que Eddie e outros homens determinam para ela acabam por comprometer a experiência geral desse filme. Na maior parte de I’m Your Woman, Julia Hart não cumpre sua promessa de fazer com que essa seja uma história que gira em torno de uma mulher; sua promessa de dar a Jean o primeiro plano, uma vez que os filmes desse gênero colocam as personagens mulheres sempre em segundo. É somente nos últimos 20 minutos que ela o faz, infelizmente.
Soderbergh não tem tempo para realmente explorar seus personagens e isso ajuda a criar ironias melodramáticas que afetam a credibilidade no que estamos vendo -
a filha e seus colegas são apresentados como os drogados que são sem qualquer tipo de explicação sobre o que teria levado uma menina “normal” à um vício tão extremo; é apenas e simplesmente uma justaposição fabricada do pai. Também acho pouco crível que a esposa de um chefão não tenha noção alguma do que se passa a ponto de ficar perdida com a prisão do marido - e quando eu decidi ignorar isso, a mulher, de repente, toma as rédeas do império em ruínas e se torna, da noite para o dia, uma operadora implacável e experiente, ordenando assassinatos e fazendo negociações táticas.
Traffic caminha sobre uma linha tênue entre um comentário social consciente e um suporte político pomposo - sofre do último, muitas vezes - e parece achar que as declarações que faz sejam mais profundas do que realmente são. No entanto, Soderbergh parece achar facilmente o equilíbrio entre a filmagem de estilo guerrilha e o polimento hollywoodiano de uma forma despretensiosa, o que dá a muitas cenas desse filme um impressionante senso de realismo.
Pra quem é fã de Lock, Stock e Snatch, RockNRolla é um retorno digno de Guy Ritchie a esse universo e ao diretor confiante que ele parece ter se esquecido de ser em Swept Away e Revolver. Esse filme é como um parente desaparecido há muito tempo e que, finalmente, está voltando pra casa. Não dá pra dizer que é como se ele tivesse recuperado seu potencial aparentemente perdido ou que seu RockNRolla tenha as mesmas virtudes que suas duas melhores obras, mas esse não decepciona.
O script de Schenk é sólido, mas também chega muito perto do piegas, com Earl tentando compensar décadas de negligência com dinheiro e fazendo várias corridas antes de, realmente, checar qual é a sua carga. Nós também nunca sabemos como ele se sente sobre ser uma mula, no fim das contas. E Eastwood pode não ser um ator com o maior alcance do mundo, mas aqueles papéis que ele consegue desempenhar, desempenha muito bem - considerando, especialmente, seus 88 anos na altura em que esse filme foi filmado.
Apesar de todas as suas limitações e de não estar, nem de longe, na mesma lista que os melhores filmes de Eastwood, respeito The Mule por seu caráter de redenção. A impressão que dá é de que esse seja também um pedido de desculpas, uma luta de Eastwood contra seu legado como ícone masculino e por sua frequente associação à política republicana - frente à um país que não funciona mais para ninguém, um lugar onde a tradição luta para acompanhar a modernidade, onde as relações raciais - ainda mais extremas hoje - caminham para um futuro de medo e incertezas, uma América que falha, a todo momento, com suas promessas de sucesso.
Talvez tenha tido sucesso no que se propôs: provocar reações histéricas em americanos de extrema-direita e um sentimento esmagador de indiferença no restante. E é verdade: no Iraque há predadores e vítimas. Mas as vítimas, com certeza, não são os americanos.
Propaganda de mal gosto, preguiçosa e sem nenhum limite moral. O bebê fake bizarro talvez seja o menor dos problemas de American Sniper.
Direção decente de Eastwood para um material bem pobre. Um filme sem impulso narrativo que não tem nada, absolutamente nada, a dizer. Com exceção da sequência de abertura, cativante e brilhantemente filmada, o filme não faz nada de interessante, e oscila entre três histórias desconexas sobre três pessoas andando por aí, contemplando sobre a morte, se encontrando e conversando sem motivo específico.
Como é muito comum com as pessoas que portam alguma deficiência, esse filme coloca Hawking de lado, de maneira educada, para ser sobre Jane; simplifica e emburrece a história de vida de um gênio, a fim de torná-la aceitável para um público de blockbusters. O fato de Eddie Redmayne, uma presença tão entediante, ter recebido tantos elogios pelo o que eu considero um desempenho ofensivo, está muito além da minha compreensão.
Esse é, de fato, um filme de muitas falhas. Mas também é um filme rico, abundante em pensamentos fascinantes, em excelentes perfomances de todo o elenco e de uma execução técnica quase perfeita. Nolan é um cineasta brilhante, mas suas tentativas de ser sentimental não combinam com sua natureza cerebral - e talvez seja essa a razão de um filme excelente ter se tornado apenas um filme muito bom em seu terceiro ato. Mesmo assim, Interstellar ainda é um filme impressionate; Nolan combina, de maneira soberba, pensamentos conscientes sobre ecologia, a natureza do tempo e a crença de uma criança em fantasmas, em algo coeso e cativante. Talvez esse seja o 2001 (sim, isso é uma heresia) que essa nova geração mereça, no fim das contas.
Paul Thomas Anderson nunca escolhe o caminho mais fácil. Cada frame, efeito sonoro e perfomance são feitos com uma intenção muito específica. Ele faz desse filme um banquete e deixa que seu público sinta cada textura, cada som e cada humor para que possamos também sentir cada dor e alegria que Reynolds experimenta. Cada pequeno detalhe que nos é mostrado parece ser meticulosa e minuciosamente examinado, da iluminação de um cômodo, passando pelo papel de parede até as pequenas feridas causadas pela agulha, visíveis nos dedos da incansável equipe de costureiras. Anderson tece uma peça de perfeição cinematográfica e não dá para esperar nada menos que isso vindo dele. Esse é um de seus filmes mais silenciosos, que grita pouco e pondera mais - mais sobre amor, sobre romance, sobre parcerias que podem ser construtivas e destrutivas ao mesmo tempo. Ele desenha impecavelmente a essência da arte colaborativa do cinema, que exige que todas as partes se movam no mesmo ritmo - e aqui, a trilha sonora merece menção especial, requintadamente afinada aos movimentos da câmera e de Woodcock.
Deveria ser um crime que Day-Lewis, um dos maiores atores do nosso tempo, um homem de extrema dedicação ao seu trabalho, diga seu adeus. Mas é recompensador que que ele nos deixe, emanando tanta intensidade, em uma perfomance nada menos que extraordinária.
Ninguém supera a capacidade de imersão de Tarkovsky. O enigma metafísico de Stalker é uma das conquistas mais impressionantes do cinema. Esse filme ousa não apenas questionar o papel da religião em nosso mundo, mas colocar em questão se "mesmo que nossa fé em Deus seja em vão, ela ainda está a serviço de um bem maior?"; a mentira é um mal, mesmo que traga alegria e esperança?; e se, no final, tudo isso for verdade?
Filmado em um lindo sépia dourado e, mais tarde, na Zona, em uma cor adoravelmente suave, Stalker é uma obra-prima como nenhuma outra, de tirar o fôlego. Como todos os filmes de Tarkovsky, é um trabalho lento e deliberado. Nenhum frame e som são desperdiçados - o uso do som aqui é especialmente impressionante. É como algo que saiu de um sonho, nos guiando por uma paisagem assombrada e desolada que pressagia assustadoramente o desastre de Chernobyl, que ocorreria sete anos depois. É uma obra hipnotizante e absolutamente inconfundível que é, inegavelmente, possível de ser alcançada somente por um artista no pico de seu elemento, no auge de seus poderes.
Uma obra perfeitamente imaculada, que usa a frieza da forma como o local é enquadrado e o frequente silêncio mortal do qual ela faz sua trilha sonora, para compensar a história profundamente humana que está sendo contada. A forma como o rosto de Hari é distorcido e dividido em dois por uma superfície espelhada; como Tarkovsky mergulha em um estilo completamente diferente para criar sequências surpreendentes e incomuns - que parecem estranhas mesmo dentro do contexto do filme - para melhor acentuar os momentos em que o relacionamento de Hari e Kelvin vai em novas direções.
Esse é um filme tão controlado que até o mais leve indício de afrouxar esse controle é empolgante e assustador ao mesmo tempo. E é essa a relação de Solarys com a viagem espacial, com o amor, com as questões do ser humano: as coisas que não podemos controlar são as melhores e, muito provavelmente, as que vão nos matar. E mesmo que não seja essa a maior insinuação estética desse filme, os momentos de caos não planejados, mesmo que em pequena escala - ervas daninhas à deriva, a edição inesperadamente rápida no meio de todas as tomadas mais longas, por exemplo - são os que me são mais memoráveis. E isso, tratando-se de Tarkovsky, certamente não é uma coincidência.
A paixão do Tarantino é o cinema e quem não compartilha dessa paixão com ele vai mesmo ter dúvidas sobre o pedigree desse filme que, para mim, é a sua obra mais madura, mais sofisticada e sua carta de amor à 7ª arte. E como todas as cartas de amor, essa é íntima, profunda, nostálgica, mas nada piegas. Definitivamente, não há tantos diretores por aí com essa capacidade de construir tensão de uma maneira tão sólida e elaborada e ainda assim ser desafiador e subversivo. Falem o que quiserem do cara, falem mal o quanto quiserem desse filme. Só não dá pra negar que, independente do seu gosto, Once Upon a Time in Hollywood tem as melhores características dos grandes filmes (e do cinema do Tarantino): grandes diálogos, personagens que te mantém presos à tela, um plot que divaga, uma trilha sonora que revive clássicos esquecidos por uma geração que provavelmente não sabe nem o que é Vanilla Fudge e a vontade em se fazer justiça com uma história que por si vai desculpando suas mazelas ao decorrer dos anos. No fim do dia, Tarantino tira esses caras maus e cu*ões de seus poleiros e os mostra como os idiotas que eles eram - com as melhores das melhores cenas de violência, AMÉM!
A relação aparentemente antagônica entre ódio e amor já demonstrou, como tantos outros extremos opostos, estar sujeita e uma drástica confusão empírica quando, de forma objetiva, analisamos o tempo e o esforço que dedicamos a insultar o objeto do nosso aborrecimento, para concluir que, de fato, não podemos viver sem ele. Uma das melhores cenas desse filme é quando Madre Sarah pergunta a Lady Bird - depois de ler seu ensaio sobre o quanto odeia viver em Sacramento - se todo aquele ódio não ocultava um sincero e profundo amor. Não são a mesma coisa? Amor e atenção? O filme de Gerwig não traz nada exatamente novo ao gênero, mas evita, com grande acerto, não cair nos erros mais recorrentes desse tipo de história: ela consegue fazer com que o ponto de vista não seja estranho aos espectadores que já passaram há muito dessa fase da vida; ela evidencia muitos dos erros que todos cometemos quanto enfrentamos situações nas quais temos que escolher entre nossos benefícios próprios e imediatos ou a solução mais adequada a longo prazo. Quantas vezes somos tão seguros antes de cometer erros e ainda assim, tão vulneráveis e manipuláveis diante das adversidades, em última análise? Greta Gerwig é uma grande promessa da comédia independente e um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, com certeza.
Three Billboards é um conto de sangue quente, fervendo de raiva e energia; um lamento catártico contra o zeitgeist da cultura do estupro e da brutalidade das instituições que falham em conter e investigar crimes como tal. É um grito de manifestação, um soco direto na mandíbula. O roteiro de McDonagh é brutal, sombrio, uma comédia que enche a boca de personagens imperfeitos e brilhantes pelas quais você se preocupa, não diferentemente do que nos foi oferecido por ele em In Bruges e 7 Psychopathts. No entanto, Three Billboards consegue nos entregar esses elementos com uma maestria e um grau de dificuldade ainda maiores, abordando seus assuntos com um nível superior de sátira e humanidade. E que presente é ter McDormand como Mildred! Ela capta uma raiva feminina coletiva elementar que vem borbulhando há anos de intimidação, medo e impunidade. Essa história nos deixa tristes, bravos, de saco cheio e ela é quem segura tudo isso e se manifesta por nós, soltando insultos veementes e maldosos que nos soam como sonetos, mesmo sendo ela tão vulnerável quanto nós. Poucas atrizes conseguem se virar e desenvolver tão bem uma personagem com tantas camadas. BRAVO! Merecia todas as estatuetas pelas quais foi indicado, sem sombra de dúvidas.
Raramente o estilo de Jarmusch é tão inerentemente adequado ao seu conteúdo. Quietude e silêncio, as virtudes cardeais de seu método, nunca foram tão pertinentes como em Only Lovers Left Alive. Seu filme foi filmado pela óptica da tristeza e da beleza, com um humor seco e a certeza de que até mesmo as coisas feitas para durar para sempre, na verdade, não duram. É tão elegante, surreal e diferente do que é feito no gênero, que não dá para ficar entediado.
Definitivamente John Ridley reverencia seu material, mas mesmo que seu filme só exista em uma área cinzenta entre fato e ficção, ele merece créditos por criar seu próprio ritmo - assim como Hendrix.
Lucy mostra se preocupar com a humanidade desperdiçando todo o seu potencial, o que é bem estranho para um filme com tantos tiroteios sem sentido. Eu adoro Besson, mas parece que aqui ele só tinha duas coisas em mente: Big Bang - em uma visão um tanto limitada- e bang bang.
O Jersey Boys de Eastwood é uma combinação particular de fracasso, arrogância, camaradagem, melodia e melancolia. Ele descartou a abordagem original de musical jukebox para transformar a história de Frank Valli and The Four Seasons em um bio-filme que cai perto dos filmes biográficos da indústria musical, como Ray e Walk The Line, e isso não é algo ruim. Como veículo para personagens, Jersey Boys é notavelmente observador e mesmo sendo extremamente dependente da força da música e do roteiro, felizmente ambos são muito impressionantes e se destacam muito mais que quaisquer deficiências que esse filme pode ter.
Enquanto as atuações são fortes e convincentes, a verdadeira estrela de Hanna é a direção inspirada de Joe Wright, que transforma um thriller de ação em um conto de fadas moderno. Não há dúvidas que ele tenha feito um filme tecnicamente competente e (ás vezes) imaginativo.
Enquanto as cenas de ação são de arregalar os olhos, para mim, o filme é ainda mais especial nos momentos mais calmos, com Thorin delirantemente megalomaníaco, questionado, justificando e desviando-se para o mal. The Desolation of Smaug ainda é melhor executado e meu preferido, mesmo que o script sacrifique um pouco do contexto para gerar um espetáculo, mas The Battle of the Five Armies, com seus visuais espetaculares e os ocasionais efeitos em 3D dá aos fãs algo para saborear, assim como as performances, que permaneceram excelentes ao decorrer da trilogia.
Infelizmente, a tão aguardada sequência de Sin City não prova ter sido válida a espera. Comparado ao primeiro filme, A Dame to Kill For é monótono, raso; uma paródia chata de seu antecessor.
Apesar da natureza entusiasmante da história e do tratamento pouco ocasional à insanidade, esse filme tem muito a dizer sobre a solidão e a importância da tolerância. Elwood pode ser um bêbado (ou não - ele chega a tomar alguma bebida, de fato?), pode ser delirante, mas também é mais feliz, menos neurótico e tem muito mais conteúdo que qualquer uma das outras pessoas chamadas normais que o cercam e que só estão atrás de seus próprios interesses. O que faz de Harvey o grande filme que é, é o fato de ser igualmente agradável, tanto como comédia, quanto como um comentário social maliciosamente inteligente. O Elwood P. Dowd de Stewart é um filósofo de fala mansa e amigo de todos - ele está desconcertante e faz com que o filme também seja.
Um olhar fascinante sobre depressão, arte e a luta de todos para encontrar um lugar no qual pertencemos. Brilhantemente dirigido, soberbamente escrito; trilha sonora e performance de Oscar Isaac igualmente maravilhosas. Eu senti afeição, empatia e senti que, finalmente os Coen encontraram um herói que eles amam.
Sou Sua Mulher
3.2 58Brosnaham entrega uma excelente perfomance e carrega a transformação de Jean de dona de casa suburbana em
uma assassina
Traffic: Ninguém Sai Limpo
3.7 215 Assista AgoraSoderbergh não tem tempo para realmente explorar seus personagens e isso ajuda a criar ironias melodramáticas que afetam a credibilidade no que estamos vendo -
a filha e seus colegas são apresentados como os drogados que são sem qualquer tipo de explicação sobre o que teria levado uma menina “normal” à um vício tão extremo; é apenas e simplesmente uma justaposição fabricada do pai. Também acho pouco crível que a esposa de um chefão não tenha noção alguma do que se passa a ponto de ficar perdida com a prisão do marido - e quando eu decidi ignorar isso, a mulher, de repente, toma as rédeas do império em ruínas e se torna, da noite para o dia, uma operadora implacável e experiente, ordenando assassinatos e fazendo negociações táticas.
Traffic caminha sobre uma linha tênue entre um comentário social consciente e um suporte político pomposo - sofre do último, muitas vezes - e parece achar que as declarações que faz sejam mais profundas do que realmente são. No entanto, Soderbergh parece achar facilmente o equilíbrio entre a filmagem de estilo guerrilha e o polimento hollywoodiano de uma forma despretensiosa, o que dá a muitas cenas desse filme um impressionante senso de realismo.
RocknRolla: A Grande Roubada
3.5 368 Assista AgoraPra quem é fã de Lock, Stock e Snatch, RockNRolla é um retorno digno de Guy Ritchie a esse universo e ao diretor confiante que ele parece ter se esquecido de ser em Swept Away e Revolver. Esse filme é como um parente desaparecido há muito tempo e que, finalmente, está voltando pra casa. Não dá pra dizer que é como se ele tivesse recuperado seu potencial aparentemente perdido ou que seu RockNRolla tenha as mesmas virtudes que suas duas melhores obras, mas esse não decepciona.
A Mula
3.6 354 Assista AgoraO script de Schenk é sólido, mas também chega muito perto do piegas, com Earl tentando compensar décadas de negligência com dinheiro e fazendo várias corridas antes de, realmente, checar qual é a sua carga. Nós também nunca sabemos como ele se sente sobre ser uma mula, no fim das contas. E Eastwood pode não ser um ator com o maior alcance do mundo, mas aqueles papéis que ele consegue desempenhar, desempenha muito bem - considerando, especialmente, seus 88 anos na altura em que esse filme foi filmado.
Apesar de todas as suas limitações e de não estar, nem de longe, na mesma lista que os melhores filmes de Eastwood, respeito The Mule por seu caráter de redenção. A impressão que dá é de que esse seja também um pedido de desculpas, uma luta de Eastwood contra seu legado como ícone masculino e por sua frequente associação à política republicana - frente à um país que não funciona mais para ninguém, um lugar onde a tradição luta para acompanhar a modernidade, onde as relações raciais - ainda mais extremas hoje - caminham para um futuro de medo e incertezas, uma América que falha, a todo momento, com suas promessas de sucesso.
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraTalvez tenha tido sucesso no que se propôs: provocar reações histéricas em americanos de extrema-direita e um sentimento esmagador de indiferença no restante. E é verdade: no Iraque há predadores e vítimas. Mas as vítimas, com certeza, não são os americanos.
Propaganda de mal gosto, preguiçosa e sem nenhum limite moral.
O bebê fake bizarro talvez seja o menor dos problemas de American Sniper.
Além da Vida
3.2 1,0K Assista AgoraDireção decente de Eastwood para um material bem pobre. Um filme sem impulso narrativo que não tem nada, absolutamente nada, a dizer. Com exceção da sequência de abertura, cativante e brilhantemente filmada, o filme não faz nada de interessante, e oscila entre três histórias desconexas sobre três pessoas andando por aí, contemplando sobre a morte, se encontrando e conversando sem motivo específico.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraComo é muito comum com as pessoas que portam alguma deficiência, esse filme coloca Hawking de lado, de maneira educada, para ser sobre Jane; simplifica e emburrece a história de vida de um gênio, a fim de torná-la aceitável para um público de blockbusters. O fato de Eddie Redmayne, uma presença tão entediante, ter recebido tantos elogios pelo o que eu considero um desempenho ofensivo, está muito além da minha compreensão.
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
3.3 404 Assista AgoraA volta de Gordon Gekko é decepcionante. Essa não é uma sátira às práticas corruptas de um capitalismo selvagem, e sim um drama sobre relacionamento.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraEsse é, de fato, um filme de muitas falhas. Mas também é um filme rico, abundante em pensamentos fascinantes, em excelentes perfomances de todo o elenco e de uma execução técnica quase perfeita. Nolan é um cineasta brilhante, mas suas tentativas de ser sentimental não combinam com sua natureza cerebral - e talvez seja essa a razão de um filme excelente ter se tornado apenas um filme muito bom em seu terceiro ato. Mesmo assim, Interstellar ainda é um filme impressionate; Nolan combina, de maneira soberba, pensamentos conscientes sobre ecologia, a natureza do tempo e a crença de uma criança em fantasmas, em algo coeso e cativante. Talvez esse seja o 2001 (sim, isso é uma heresia) que essa nova geração mereça, no fim das contas.
Letterboxd: jaxbrokenheart
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraPaul Thomas Anderson nunca escolhe o caminho mais fácil. Cada frame, efeito sonoro e perfomance são feitos com uma intenção muito específica. Ele faz desse filme um banquete e deixa que seu público sinta cada textura, cada som e cada humor para que possamos também sentir cada dor e alegria que Reynolds experimenta. Cada pequeno detalhe que nos é mostrado parece ser meticulosa e minuciosamente examinado, da iluminação de um cômodo, passando pelo papel de parede até as pequenas feridas causadas pela agulha, visíveis nos dedos da incansável equipe de costureiras. Anderson tece uma peça de perfeição cinematográfica e não dá para esperar nada menos que isso vindo dele. Esse é um de seus filmes mais silenciosos, que grita pouco e pondera mais - mais sobre amor, sobre romance, sobre parcerias que podem ser construtivas e destrutivas ao mesmo tempo. Ele desenha impecavelmente a essência da arte colaborativa do cinema, que exige que todas as partes se movam no mesmo ritmo - e aqui, a trilha sonora merece menção especial, requintadamente afinada aos movimentos da câmera e de Woodcock.
Deveria ser um crime que Day-Lewis, um dos maiores atores do nosso tempo, um homem de extrema dedicação ao seu trabalho, diga seu adeus. Mas é recompensador que que ele nos deixe, emanando tanta intensidade, em uma perfomance nada menos que extraordinária.
Letterboxd: jaxbrokenheart
Stalker
4.3 500 Assista AgoraNinguém supera a capacidade de imersão de Tarkovsky. O enigma metafísico de Stalker é uma das conquistas mais impressionantes do cinema. Esse filme ousa não apenas questionar o papel da religião em nosso mundo, mas colocar em questão se "mesmo que nossa fé em Deus seja em vão, ela ainda está a serviço de um bem maior?"; a mentira é um mal, mesmo que traga alegria e esperança?; e se, no final, tudo isso for verdade?
Filmado em um lindo sépia dourado e, mais tarde, na Zona, em uma cor adoravelmente suave, Stalker é uma obra-prima como nenhuma outra, de tirar o fôlego. Como todos os filmes de Tarkovsky, é um trabalho lento e deliberado. Nenhum frame e som são desperdiçados - o uso do som aqui é especialmente impressionante. É como algo que saiu de um sonho, nos guiando por uma paisagem assombrada e desolada que pressagia assustadoramente o desastre de Chernobyl, que ocorreria sete anos depois. É uma obra hipnotizante e absolutamente inconfundível que é, inegavelmente, possível de ser alcançada somente por um artista no pico de seu elemento, no auge de seus poderes.
Letterboxd: jaxbrokenheart
Solaris
4.2 368 Assista AgoraUma obra perfeitamente imaculada, que usa a frieza da forma como o local é enquadrado e o frequente silêncio mortal do qual ela faz sua trilha sonora, para compensar a história profundamente humana que está sendo contada. A forma como o rosto de Hari é distorcido e dividido em dois por uma superfície espelhada; como Tarkovsky mergulha em um estilo completamente diferente para criar sequências surpreendentes e incomuns - que parecem estranhas mesmo dentro do contexto do filme - para melhor acentuar os momentos em que o relacionamento de Hari e Kelvin vai em novas direções.
Esse é um filme tão controlado que até o mais leve indício de afrouxar esse controle é empolgante e assustador ao mesmo tempo. E é essa a relação de Solarys com a viagem espacial, com o amor, com as questões do ser humano: as coisas que não podemos controlar são as melhores e, muito provavelmente, as que vão nos matar. E mesmo que não seja essa a maior insinuação estética desse filme, os momentos de caos não planejados, mesmo que em pequena escala - ervas daninhas à deriva, a edição inesperadamente rápida no meio de todas as tomadas mais longas, por exemplo - são os que me são mais memoráveis. E isso, tratando-se de Tarkovsky, certamente não é uma coincidência.
Letterboxd: jaxbrokenheart
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraA paixão do Tarantino é o cinema e quem não compartilha dessa paixão com ele vai mesmo ter dúvidas sobre o pedigree desse filme que, para mim, é a sua obra mais madura, mais sofisticada e sua carta de amor à 7ª arte. E como todas as cartas de amor, essa é íntima, profunda, nostálgica, mas nada piegas. Definitivamente, não há tantos diretores por aí com essa capacidade de construir tensão de uma maneira tão sólida e elaborada e ainda assim ser desafiador e subversivo. Falem o que quiserem do cara, falem mal o quanto quiserem desse filme. Só não dá pra negar que, independente do seu gosto, Once Upon a Time in Hollywood tem as melhores características dos grandes filmes (e do cinema do Tarantino): grandes diálogos, personagens que te mantém presos à tela, um plot que divaga, uma trilha sonora que revive clássicos esquecidos por uma geração que provavelmente não sabe nem o que é Vanilla Fudge e a vontade em se fazer justiça com uma história que por si vai desculpando suas mazelas ao decorrer dos anos. No fim do dia, Tarantino tira esses caras maus e cu*ões de seus poleiros e os mostra como os idiotas que eles eram - com as melhores das melhores cenas de violência, AMÉM!
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraA relação aparentemente antagônica entre ódio e amor já demonstrou, como tantos outros extremos opostos, estar sujeita e uma drástica confusão empírica quando, de forma objetiva, analisamos o tempo e o esforço que dedicamos a insultar o objeto do nosso aborrecimento, para concluir que, de fato, não podemos viver sem ele. Uma das melhores cenas desse filme é quando Madre Sarah pergunta a Lady Bird - depois de ler seu ensaio sobre o quanto odeia viver em Sacramento - se todo aquele ódio não ocultava um sincero e profundo amor. Não são a mesma coisa? Amor e atenção? O filme de Gerwig não traz nada exatamente novo ao gênero, mas evita, com grande acerto, não cair nos erros mais recorrentes desse tipo de história: ela consegue fazer com que o ponto de vista não seja estranho aos espectadores que já passaram há muito dessa fase da vida; ela evidencia muitos dos erros que todos cometemos quanto enfrentamos situações nas quais temos que escolher entre nossos benefícios próprios e imediatos ou a solução mais adequada a longo prazo. Quantas vezes somos tão seguros antes de cometer erros e ainda assim, tão vulneráveis e manipuláveis diante das adversidades, em última análise? Greta Gerwig é uma grande promessa da comédia independente e um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, com certeza.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraThree Billboards é um conto de sangue quente, fervendo de raiva e energia; um lamento catártico contra o zeitgeist da cultura do estupro e da brutalidade das instituições que falham em conter e investigar crimes como tal. É um grito de manifestação, um soco direto na mandíbula. O roteiro de McDonagh é brutal, sombrio, uma comédia que enche a boca de personagens imperfeitos e brilhantes pelas quais você se preocupa, não diferentemente do que nos foi oferecido por ele em In Bruges e 7 Psychopathts. No entanto, Three Billboards consegue nos entregar esses elementos com uma maestria e um grau de dificuldade ainda maiores, abordando seus assuntos com um nível superior de sátira e humanidade. E que presente é ter McDormand como Mildred! Ela capta uma raiva feminina coletiva elementar que vem borbulhando há anos de intimidação, medo e impunidade. Essa história nos deixa tristes, bravos, de saco cheio e ela é quem segura tudo isso e se manifesta por nós, soltando insultos veementes e maldosos que nos soam como sonetos, mesmo sendo ela tão vulnerável quanto nós. Poucas atrizes conseguem se virar e desenvolver tão bem uma personagem com tantas camadas. BRAVO! Merecia todas as estatuetas pelas quais foi indicado, sem sombra de dúvidas.
Amantes Eternos
3.8 783 Assista AgoraRaramente o estilo de Jarmusch é tão inerentemente adequado ao seu conteúdo. Quietude e silêncio, as virtudes cardeais de seu método, nunca foram tão pertinentes como em Only Lovers Left Alive. Seu filme foi filmado pela óptica da tristeza e da beleza, com um humor seco e a certeza de que até mesmo as coisas feitas para durar para sempre, na verdade, não duram. É tão elegante, surreal e diferente do que é feito no gênero, que não dá para ficar entediado.
Jimi: Tudo a Meu Favor
3.0 113 Assista AgoraDefinitivamente John Ridley reverencia seu material, mas mesmo que seu filme só exista em uma área cinzenta entre fato e ficção, ele merece créditos por criar seu próprio ritmo - assim como Hendrix.
Lucy
3.3 3,3K Assista AgoraLucy mostra se preocupar com a humanidade desperdiçando todo o seu potencial, o que é bem estranho para um filme com tantos tiroteios sem sentido. Eu adoro Besson, mas parece que aqui ele só tinha duas coisas em mente: Big Bang - em uma visão um tanto limitada- e bang bang.
Jersey Boys - Em Busca da Música
3.6 166 Assista AgoraO Jersey Boys de Eastwood é uma combinação particular de fracasso, arrogância, camaradagem, melodia e melancolia. Ele descartou a abordagem original de musical jukebox para transformar a história de Frank Valli and The Four Seasons em um bio-filme que cai perto dos filmes biográficos da indústria musical, como Ray e Walk The Line, e isso não é algo ruim. Como veículo para personagens, Jersey Boys é notavelmente observador e mesmo sendo extremamente dependente da força da música e do roteiro, felizmente ambos são muito impressionantes e se destacam muito mais que quaisquer deficiências que esse filme pode ter.
Hanna
3.5 945 Assista AgoraEnquanto as atuações são fortes e convincentes, a verdadeira estrela de Hanna é a direção inspirada de Joe Wright, que transforma um thriller de ação em um conto de fadas moderno. Não há dúvidas que ele tenha feito um filme tecnicamente competente e (ás vezes) imaginativo.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
3.9 2,0K Assista AgoraEnquanto as cenas de ação são de arregalar os olhos, para mim, o filme é ainda mais especial nos momentos mais calmos, com Thorin delirantemente megalomaníaco, questionado, justificando e desviando-se para o mal. The Desolation of Smaug ainda é melhor executado e meu preferido, mesmo que o script sacrifique um pouco do contexto para gerar um espetáculo, mas The Battle of the Five Armies, com seus visuais espetaculares e os ocasionais efeitos em 3D dá aos fãs algo para saborear, assim como as performances, que permaneceram excelentes ao decorrer da trilogia.
Sin City: A Dama Fatal
3.4 974 Assista AgoraInfelizmente, a tão aguardada sequência de Sin City não prova ter sido válida a espera. Comparado ao primeiro filme, A Dame to Kill For é monótono, raso; uma paródia chata de seu antecessor.
Meu Amigo Harvey
4.2 131 Assista AgoraApesar da natureza entusiasmante da história e do tratamento pouco ocasional à insanidade, esse filme tem muito a dizer sobre a solidão e a importância da tolerância. Elwood pode ser um bêbado (ou não - ele chega a tomar alguma bebida, de fato?), pode ser delirante, mas também é mais feliz, menos neurótico e tem muito mais conteúdo que qualquer uma das outras pessoas chamadas normais que o cercam e que só estão atrás de seus próprios interesses. O que faz de Harvey o grande filme que é, é o fato de ser igualmente agradável, tanto como comédia, quanto como um comentário social maliciosamente inteligente. O Elwood P. Dowd de Stewart é um filósofo de fala mansa e amigo de todos - ele está desconcertante e faz com que o filme também seja.
Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista AgoraUm olhar fascinante sobre depressão, arte e a luta de todos para encontrar um lugar no qual pertencemos. Brilhantemente dirigido, soberbamente escrito; trilha sonora e performance de Oscar Isaac igualmente maravilhosas. Eu senti afeição, empatia e senti que, finalmente os Coen encontraram um herói que eles amam.