De forma inusitada e contraditória, vemos Aronofsky - um homem dito como ateu - dirigindo outra obra com referências bíblicas em sua narrativa, assim como vemos em Mãe (2017) e Noé (2014). A vida caótica e turbulenta de Charlie (Brendan Fraser) é apresentada ao público em formato 4:3, claramente, uma fotografia ousada e comum em filmes cults, como pode ser observado em outros longas da produtora A24, como Sombras da Vida (2017), dirigido por David Lowery. O diretor consegue personificar a baleia Moby Dick, romance de Herman Melville, pelo qual Charlie é tão obcecado, por conta de uma redação escrita por sua filha durante sua tenra infância. Pois, ele não é chamado assim de forma pejorativa, por conta de sua aparência física, mas por outros fatores conflitantes que nos levam até a conclusão do filme, como: vida amorosa, sexual e familiar.
Vemos a insistência do título do filme no protagonista, ao vermos que durante toda a narrativa, o clima fora da casa de Charlie encontra-se chuvoso e com aspecto de neblina, assim como podemos imaginar algo em alto mar. O que acaba remetendo novamente a Bíblia, no versículo 1:17 de Jonas. Como é de conhecimento popular, sabemos que Jonas permaneceu dentro da baleia por exatos três dias e três noites, semelhante ao que vemos no filme. Em que inicia-se durante a noite de segunda, chegando ao ápice, assim como seu término, na manhã de sexta-feira. Durante a permanência de Jonas dentro da Baleia, ele passa por momentos de provação e aceitamento, como Charlie, que evita falar do seu relacionamento que chegou ao fim, após a morte de seu companheiro; o abandono de sua família e a forma como ele acabou lidando com tudo isso, resultando em seu corpo enorme e estagnado na eterna mágoa. Arrisco dizer que Thomas (Ty Simpkins), primeiramente vindo como um missionário do Nova Vida, pode ser comparado a um anjo, um mensageiro, uma esperança e redenção de Charlie com Deus. Até mesmo o entregador da Gambino 's tem a sua importância, já que aparece repetidamente, como uma voz da consciência de Charlie, recordando-o se ele está realmente bem e/ou precisa de ajuda. O pássaro preto que visita Charlie para se alimentar das maçãs deixadas em um prato, pode ser o símbolo de mau agouro, o presságio de algo que não tem como evitar. Tendo essa ideia reforçada ao vermos que o prato se quebra, como uma conclusão de uma missão, que ele não precisará retornar futuramente. O final consegue impressionar o telespectador, que com chave de ouro, consegue fazer Charlie aceitar tudo que aconteceu, fazendo ele entender que não precisa se desculpar de maneira excessiva. Ele compreende que o que ele fez, já está feito. Assim, ele ascende aos céus, sendo recebido no seu paraíso astral, uma breve lembrança de verão, pisando na areia, acompanhado de sua filha e da mulher.
Até mesmo o enquadramento dos pés de Charlie entrando em contato com o mar, seria essa barreira que ele conseguiu ultrapassar, todo aquele desafio imposto ao protagonista, segundo a Jornada do Herói, de Joseph Campbell.
Quando soube do lançamento, eu fiquei animada, pois gostava do primeiro filme e acendeu uma pequena chama de esperança para saber sobre REALMENTE o passado da personagem. No entanto, apenas fica mais nebuloso, permanecendo incerto sobre o que resultou na pessoa que Esther (ou Leena) se tornou para estar no manicômio (E talvez isso possa ser uma desculpa para inventarem de fazer uma terceira continuação, explicando anos antes desse segundo filme).
De certa forma, não tem como não notar o envelhecimento da atriz, que atualmente, possui mais de 20 anos. Em certos momentos, o enquadramento está muito próximo ao seu rosto e podemos enxergar claramente que ela não se passaria por uma criança, como vemos no primeiro filme.
Uma coisa que me incomodou muito foram os inúmeros enquadramentos abertos (com efeito meio olho de peixe/contra-plongée), para tentar distorcer a altura da atriz com o ambiente, dando uma impressão que ela realmente é muito menor perto dos outros personagens (parece até que estou vendo uma versão de Alice no País das Maravilhas bizarro). Isso quando não posicionam a atriz próxima a um objeto, relativente alto, fazendo um corte com a câmera na altura dos ombros para parecer que ela é uma criança.
E claro, que acabaram usando um dublê de corpo na atriz, pois quando não utilizam da técnica citada anteriormente, eles sempre fazem com que a personagem esteja presente nas cenas de costas para a câmera (deve ser para economizar em efeitos 3D, podendo resultar em algo tosco e forçado).
E por último, houveram mais cenas com violência gráfica, porém olho pelo lado negativo, meio que para compensar a falta de enredo e para impressionar o público mais fácil, forçando a dizer que o filme é muito bom ou algo do tipo.
Tive uma experiência diferenciada, assim como um choque cultural ao pensar na situação ecônomica de Angola e em outros questionamentos, que acabaram por surgir durante o filme. A trilha sonora é única, variando entre a música clássica e cantada, em português de Portugal. A iluminação e a paleta de cores andam de mãos dadas, em que podemos ver que com simples tochas de luz, podem trazer um brilho e sentimento especial à cena, que reflete nas peles dos personagens.
Basicamente, a narrativa pode parecer simples por contar o dia-a-dia de Matacedo, que precisa consertar o ar condicionado caro do seu chefe, que se gaba em frente dele e de Zezinha, só por ter mais poder aquisitivo. O que não faz sentido, pois ele continua morando no mesmo quarteirão que os dois personagens citados anteriormente.
O ponto X da história que me fez parar para pensar foi o momento em que:
Houve o funeral do ar condicionado, em que ele foi posto em uma sala arrumada com direito às velas, lamentações e pessoas em cima de "seu corpo". Eu parei por um instante e cheguei a conclusão que um eletrodoméstico daquele, apesar de comum, como podemos ver no cenário do filme, ainda assim, é um artigo de luxo, que pode valer mais do que a vida de um ser humano no país.
Dei uma leve pesquisada sobre como é viver em Angola e fiquei de queixo caído. Enquanto as pessoas recebem um salário mínimo de um pouco mais de 21.000 Kwanzas, um ar condicionado simples chega a custar 10x mais que o que eles podem ganhar por mês. Angola é um dos países com maior custo de vida, segundo o jornal El País.
Mas Matacedo e Zezinha não aparentam estarem frustados com a realidade deles, apenas conformados com o dia a dia que precisam enfrentar, mesmo sabendo que o chefe deles é abusivo. Visto de longe, o filme traz uma leveza, que para alguns pode ser irrelevante, mas pode ser que estamos fazendo o mesmo que outros países, apenas tampando os olhos por não sabermos enxergar a mensagem subliminar por trás do cotidiano de um simples técnico de ar condicionado.
Com atmosfera soturna, Animal Cordial abrange toda a narrativa entre mistérios e muita cautela, pois não sabemos o que se passa na mente de cada personagem. O telespectador tenta solucionar um modo de fugir do local e chamar ajuda, de maneira fria e calculista, porém precisamos que todos os envolvidos façam um trabalho em equipe.
De característica terror slasher, o longa metragem trata a temática de maneira visceral, mas com classe. A fotografia não deixa que o público esqueça que estamos em um restaurante em São Paulo, logo, o modo como a violência é inserida, acaba tornando os enquadramentos ricos e artísticos, ao mesmo tempo. A diretora Gabriela Amaral Almeida consegue nos influenciar, o que era para olharmos com desprezo ou nojo, passamos a ver por outro ponto de vista.
A cena de sexo entre Inácio (Murilo Benício) e Sara (Luciana Paes) mostra a dramaticidade, o cru e o explícito, em que nada mais precisa ser escondido entre eles ou qualquer pessoa presente ali, eles nem se importam se alguém está ouvindo o que estão fazendo. É de perder o fôlego ao ver o ritmo entre os corpos, o barulho, a luz, o banho de sangue e a selvageria que encarna nos dois.
Não se engane pelas aparências, muito menos pelo o que os personagens podem transparecer nos primeiros momentos do filme. Tudo não passa de uma máscara, que irá cair com o desenrolar da história. Como é natural do Homem, todos nós possuímos uma parte oculta da nossa personalidade que ninguém conhece e são nessas horas, que elas acabam sendo reveladas da pior maneira.
Produzida por Rafael Cavalcanti, a trilha sonora é sombria e muito bem produzida. Pensei que fosse algo totalmente internacional. Com exceção da música dos créditos, todas as outras são de autoria brasileira, o que me deixou completamente impressionada. Além disso, acabamos nos tornando apreciadores do silêncio entre a falta de diálogos, pois enquanto a canção toca ao fundo da cena, os personagens parecem curtir o ambiente com toda o clima mórbido e assustador.
O enredo não é para todos, é sufocante. Capaz de colocar a corda no seu pescoço e esperar que pule da cadeira para se enforcar. São problemas que rondam as mulheres desde que o mundo diz ser mundo, infelizmente.
Mesmo que seja ambientado na década de 50, o filme mostra questões atuais que o feminismo está lutando contra diariamente. O título é sofisticado, porém quando você é mulher e começa a assistir, em poucos minutos, já nota sobre o quê e para quem está sendo direcionado. Trata-se da invisibilidade da Maria, da Clarice, da Joana, da Fernanda...Da Eurídice, e tantas outras.
Os enquadramentos utilizados são extremamente importantes para nos fazer questionar a posição de cada pessoa na mise-en-scène. Sempre vemos Eurídice (Carol Duarte) cortada pela metade, como forma de trazer a anonimidade, ela é reconhecida como uma mulher de costas, mas qual é a sua história? Em que ela gostaria de trabalhar? E seus estudos?
Outro enquadramento que vemos com frequência estão presentes quando Antenor (Gregório Duvivier) está em cena. Sabemos que Eurídice é alta, mas o que custa aumentar o enquadro? Não, é focado totalmente na estatura do homem, por mais que ele tenha incríveis 1,68 de altura.
O coração dói quando vemos Guida (Julia Stockler) juntando dinheiro para ver sua irmã, supostamente em Viena, e é barrada por precisar da autorização de seu marido, como se ela fosse um simples objeto, com reconhecimento de firma, que ela é legalmente pertencente a ele.
Ou quando Eurídice ganha o concurso de piano em 1º lugar e é recebida pela fragilidade de seu marido, com inveja e ignorância. Até a filha de Eurídice, que está com o machismo encrustado em sua tenra infância, questiona o pai: "Mas não era o sonho dela?", e o silêncio vem à tona.
O casamento deixa de ser uma união construída baseada no amor, apenas por interesses exclusivamente da família. Arranjada por um homem que nem chegou a tocar em suas mãos ou ter uma troca de olhares. Tudo vira um pesadelo ao ser violentada e drogada em sua noite de núpcias, sendo instruída para ser "boazinha" na cama com o seu marido.
Esse filme me deu calafrios e olhos marejados. Na minha mente, uma frase presente ao final do clipe Survivor da Clarice Falcão, regravação da versão da Destiny's Child surgiu: "É preciso ter coragem para ser mulher nesse mundo. Para viver como uma. Para escrever sobre elas".
Eu sempre quis assistir esse filme e não sei o motivo para procrastinar tanto assim, já que amo o fator mais importante: o musical. E eu já sabia de toda a premissa do filme e sobre as personagens também, apenas não tinha conhecimento do plot que acontece no final, que aquilo é o mais relevante e nunca ninguém conta aquele detalhe que fecha toda a trama. Fiquei surpreendida!
Bom, quando eu fiquei sabendo que era um musical, eu imaginei que seria algo Disney, que teria certas canções durante o filme e nada mais. No entanto, eu estava enganada, Tim Burton traz além disso, ele nos presenteia com um conteúdo digno de Broadway, ou seja, eu diria que o longa é feito de 85% de músicas, e o restante dividido em pequenos diálogos e créditos iniciais e finais.
Não recomendo assistir ao filme com legendas em inglês, pois o roteiro tem uma linguagem um tanto quanto rebuscado, que é super compreensível por se tratar de uma história "de época".
A ambientação é fantástica, pode ser muito bem utilizada em aulas de História para analisar os cenários e o modo de vida em Londres, uma época pobre e complicada. A vestimenta é fantástica: trajes ricos com toda a estética gótica e vitoriana que Burton é apaixonado.
O filtro utilizado nos enquadramentos traz aquela frieza na cena, a palidez e quase um tom azulado aos personagens. Você sente a dramaticidade, a tristeza e a dificuldade que a trama se apresenta.
E por último, não menos importante, podemos falar da trilha sonora. São músicas muito bem interpretadas, diálogos importantes que fazem nossa cabeça se perder durante a narrativa, imaginando que aquilo é real, assim como a insanidade presente na cabeça do personagem. No entanto, voltamos à realidade e descobrimos algo que poderia acontecer e lamentamos junto com Sweeney, Mrs. Lovett e as lâminas de barbear.
"Marriage Story" é uma obra totalmente empírica. Quem passou por um divórcio ou recorda da separação dos seus pais durante a vida, sabe como é o processo doloroso e demorado.
Nos monólogos das personagens, temos a impressão que somos apenas mais um espectador das peças de teatro, que eles organizam durante o filme. Vamos descobrindo as camadas mais profundas de cada um com o passar da trama, que todos eles têm o seu lado podre, assim como nós.
Achei interessante a técnica em que quando um deles começa a relatar algo que ocorreu e ele vai andando, falando e muda de cômodo. O som fica abafado, escutamos ele mexendo em pratos, assoando o nariz, porém o enquadramento não muda, permanecemos "sentados" apenas ouvindo.
Em alguns momentos, assim como quando passei pelo divórcio dos meus pais, vi aquele brilho nos olhos das personagens. Eles olham por um tempo demorado e, de repente, parece que eles caem em si, recapitulam e lembram o motivo de estarem discutindo, assim como uma discussão de verdade entre casais. Cada detalhe é mostrado: as longas discussões, os gritos e os choros, seguidos por pedidos de desculpas.
Eu captei aquele olhar termo entre as personagens quando Charlie (Adam Driver) ajoelha-se aos pés da Nicole (Scarlett Johansson), como forma de se redimir. Assim como em outras cenas, como: quando ele ajuda a empurrar o seu portão eletrônico, questiona o filho se ela está namorando alguém, antes dele bater a porta e ir embora, e por último, no final, em que ela o chama e dá aquele frio na barriga e esperança no coração deles ficarem juntos, mas ela apenas amarra o cadarço do seu tênis e o deixa ir embora com seu filho.
Rafiki é uma explosão de cores, em todos os sentidos, assim como imaginamos que a cultura africana seja. Principalmente, tratando-se de tonalidades que vão do rosa ao roxo, representando toda a sensibilidade e o lado feminino do filme, além da relação entre as personagens.
Muitas coisas foram desmistificadas em minha mente ao assistir, como: o idioma. Achei semelhante à Índia, em que a população é bilíngue. No Quênia, percebo que acontece a mesma coisa, uma horas eles estão falando em inglês, e em outra, em swahili. O inglês é mais popular entre as gerações mais novas, como vemos os jovens durante o filme.
No início, a narrativa é feliz e otimista. No entanto, caímos por terra e vemos que a realidade queniana não é bem assim. Assim como o Brasil, o Quênia é um país movido pela religião.
Uma das frases que me deixou boquiaberta foi a do pastor, em que ele diz: "A lei do Homem é igual a de Deus: não muda". Ele acredita no discurso de ódio, que não podemos ter a nossa liberdade de expressão, muito menos em amar a quem nós nos sentimos bem, independente do gênero.
Um filme como esse é importante para falarmos de algo tido como tabu, discutirmos e conseguirmos o devido espaço para todo o público LGBTQIA+. Mesmo em um mundo em que amar alguém é pecado, precisamos resistir e continuarmos na luta diária. Como diz Brendon Urie, vocalista da banda Panic! At The Disco, em Girls/Girls/Boys: "Love is not a choice"!
Após ver a nota dada ao filme, considero uma injustiça. Tudo bem que ele foi realizado a partir de crowd founding, sem contar que fica evidente que a produção foi de baixo custo, apesar de ter vários atores inseridos no elenco. Mas existem outros elementos que acabei me incomodando enquanto assistia, como os enquadramentos que não eram bons, muito menos o roteiro, que achei superficial e clichê em algumas partes.
Porém, devemos levar tudo em consideração. Essa longa metragem é um ativismo disfarçado, é uma crítica imensa à indústria da carne e do leite. Eu, como vegetariana, diria que esse filme é recomendado aos carnistas, que apesar de existir inúmeros documentários sobre o assunto, ainda assim, não ficam sensibilizados pelo o que acontecem com os animais. Então, o diretor Hans Stjernswärd convida o telespectador a trocar os papéis e pensarmos da seguinte forma: "Okay, você não sente pena dos diferentes a você, mas e dos seus semelhantes?".
Fiquei chocada com o momento da fertilização artificial realizada na Nora (Nora Yessayan), não imaginei que veria aquilo. Além disso, há o momento tenso em que vemos os homens com máscaras de animais retirando o bebê dos braços da própria mãe, matando-o em seguida, assim como é na realidade. Inseminam a fêmea para que ela possa produzir o leite e roubam o seu filho, no qual o leite é destinado.
Gostei da referência do banquete nos minutos finais, é algo que remete à A Última Ceia (1495-1498), pintada por Leonardo da Vinci. Vemos o quanto somos insignificantes por celebrarmos nossa vida, expondo algo que já foi uma vida ali.
São cenas para chocar, para trazer uma reflexão sobre o que colocamos na mesa para nos alimentar. Devemos parar com a alienação que o marketing nos vende em diversos lugares, estampandos em outdoors, sem medo de estarem admitindo aos quatro ventos que são assassinos. Afinal, por que a sua vida é mais importante do que a de um animal, independente da sua espécie?
Hoje em dia, quando me questionam qual é a minha animação japonesa favorita, com toda certeza, irei responder: Neon Genesis Evangelion!
Após assistir ao anime e ter minhas conclusões, que foram das melhores possíveis, vim prestigiar o filme dirigido também pelo Hideaki Anno. Estaria mentindo, caso disesse que é acessível e de fácil compreensão.
Muitas pessoas, quando questiono, nem sequer recordam do Evangelion. E quando lembram, não curtem a proposta. Por mais que categorizam como um anime do estilo Mecha, Evangelion não é bem assim. Ele é muito mais profundo do que isso!
Evangelion trata-se de pura psicologia, do entender como Ser Humano, de questionamentos e respostas compreendidas, e também, não tão compreendidas assim. É feito para refletirmos sobre quem somos e para onde vamos, o que faremos e o que deixaremos.
Assim como o Shinji faz a todo momento. Não queremos ser odiados. Todo mundo quer ser lembrado.
Não podemos esquecer que no momento em que o anime foi desenvolvido, Hideaki Anno sofria de depressão, além de ter cursado Psicologia. E, por conta disso, interpreto que ele quis passar como ele é por dentro para o seu público. Que ele possui, assim como todos nós, alter egos, personagens e conversas sem nexo, que transitam em nossa mente.
Do jeito mais sutil e nem tanto. Fomos apresentados a algo com muito drama, violência, intrigas e reviravoltas. Cheio de significantes e significados, rico em símbolos. Assim como é a nossa vida.
Nem tudo precisa fazer sentido. Temos manias e ficamos intrigados, pensamos que temos o dever de fazer isso. Somos tudo, e ao mesmo tempo, somos nada.
De início, o filme é muito turbulento, pois para quem não lê a sinopse, fica meio assustado com o que está passando com as personagens. Além da sensação de tensão, somos guiados pela trama em meio à angústia e à ansiedade.
A sensação para quem está assistindo é de total claustrofobia, já que a maioria das cenas são passadas em lugares totalmente fechados, com janelas cobertas; e em primeira pessoa, com a vista coberta por uma manta, dificultando totalmente a visão.
Durante a obra, é notável que estamos vulneráveis. Nós sofremos tentações, em que questionamos a veracidade dos fatos e ficamos em total dúvida sobre as decisões e rumos a serem feitos. Chegamos até a ficar contra certas personagens e vemos que poderíamos falhar, caso estivéssemos no lugar da protagonista.
É interessante como escolheram o pássaro, em especial, como detector de perigo. Pois os animais possuem verdadeiros "poderes psíquicos", eles reconhecem outras frequências sensoriais que somos incapazes de perceber.
As cenas não são cronológicas, elas foram alternadas entre passado e presente, evitando ser entediante e levantando perguntas sobre como tudo aconteceu ou como chegaram ali. Tornando cada aspecto atrativo.
O elenco é de peso. Ainda considero incrível, lembrando que é um filme desenvolvido pela Netflix. Vemos John Malcovich, de Being John Malkovich (1999); Sarah Paulson, de American Horror Story (2011 - Atualmente); Trevante Rhodes, de Moonlight (2016); e não menos importante, Sandra Bullock, de Velocidade Máxima (1994).
Para quem curte videogame, vai gostar muito da pegada semelhante ao jogo The Last of Us, exclusivo da Sony. O survival e o suspense andam lado a lado, em ambas as obras. Até mesmo o mistério acerca das pessoas que estão contaminadas, mas que continuam rondando de forma "zumbi" é igual.
E voltado à literatura, por ter esse aspecto de cobrir os olhos e passar a ter uma nova vida, realçando os outros sentidos, lembrou-me de Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Que anos mais tarde, foi adaptado aos cinemas também, sendo aprovado pelo próprio escritor.
Uma obra de aspecto musical, em que é praticamente impossível ficar sem cantar baixinho ou fazer lip sync. Queen é uma banda que está no repertório de todos nós, independente do gosto musical que temos preferência. Apesar de ser descrita como Rock, ela conseguia transitar entre outros gêneros musicais, como Ópera.
Conheci Rami Malek através de Mr. Robot e pensei que ele não teria tal talento para encarnar o Freddie Mercury, porém me enganei. Ele está surpreendente em sua atuação, impecável! Desde os trejeitos, o sotaque marcante inglês - sabendo que Malek é naturalizado como cidadão americano - e até no simples modo de andar. Casou muito bem as duas personalidades, do Mercury com Malek, pois ambos possuem uma origem africana.
A fotografia usa e abusa do contra-plongée. Queen conseguia conduzir uma multidão. Até quem não conhece muito bem da banda, assimila automaticamente que ela era tida como uma majestade, exigia-se admiração e respeito por onde passava.
Assim como da outra técnica de luz e sombra, o famoso Chiaroscuro, comum em obras de Caravaggio. Partes em que Mercury irá revelar à banda que contraiu o vírus da AIDS, vemos uma parte extremamente escura em seu rosto, o que seria algo que ele estava escondendo, um lado obscuro que desconheciam dele.
Apesar do filme ser sobre a banda, era quase obrigatório abordar sobre a vida privada do vocalista. Alguns pontos não exibiram, o que é totalmente compreensível, pois é complicado compilar tantos fatos em uma longa metragem, em uma única parte. Então, para uma obra cinematográfica de um pouco mais de duas horas, eles capturaram uma excelente parte da essência do que eu esperava.
Eu gostei da ambientação, realmente você vê que não é passado nos dias atuais, desde os eletrônicos como a televisão de tubo à moda, em que é possível reparar as garotas usarem um Tattoo Choker.
O enredo e o modo como o Zach reflete todos os passos para descobrir o assassino são interessantes. A fotografia é opaca, de forma que torna tudo mais misterioso na atmosfera do filme.
No início, nos deparamos com a cena de um cervo negro que invade uma sala de aula da escola e os policias o matam. A simbologia do cervo é remitido à arvore da vida, e é o que realmente acontece, tem ligação com o tempo restante de cada personagem. Ou seja, a morte está chegando.
Em uma das cenas, em que o Zach está sonhando durante a aula com a Alisson, em que é apaixonado. Reparei uma referência ao tão polêmico filme Anticristo (Antichrist), de 2009, dirigido pelo dinamarquês Lars von Trier.
Há uma discussão em volta da obra, em que já foi falado muitas vezes, envolvendo a ciência. Os psicopatas possuem um gene dentro do seu DNA, que pode ser despertado, dependendo do que ele realiza durante a sua vida.
E foi o que aconteceu com o Josh. Vamos supor que ele tinha, porém não havia o conhecimento e após o acidente com Daryl, ele ganhou o "gosto" de matar as pessoas. Sem ter o mínimo de compaixão, ele aparentava estar abatido após a morte do amigo, mas ele poderia apenas estar planejando a próxima vítima, invés de estar assustado como o Zach.
Com uma pegada voltada ao espiritual, é bom como abordam sobre os espirítos que desencarnam e o processo de aceitação, como o espiríto fica preso ao material e aos entes queridos. Gostei de como é tratado o fator tempo, pois em astral, não há horas ou minutos, tudo passa de acordo com o que escolhemos.
É um filme extremamente sensorial. É quieto e com poucos diálogos, mas cada um deles mexem com o nosso interior. Assim como a trilha sonora da banda indie Dark Rooms, é muito delicada, profunda e casa bem com o relacionamento entre as personagens.
A obra entra na discussão de que enquanto estamos vivos, em Terra, temos uma missão a cumprir. E vemos isso, quando C fica martelando na mente para descobrir o que está escrito no papel. Até que chega o momento, que depois do segredo revelado, ele se sente completo.
Creio que nem mesmo ele sabia que era aquilo que faltava para descansar, pois ele presencia o enquietamento do outro fantasma na casa ao lado, que aguardava alguém voltar. E, depois que a moradia foi demolida, esse outro fantasma viu que não restava nada e aceitou que não tinha mais quem esperar. E descansou.
Primeiramente, eu me certifiquei de que o filme estava sendo dirigido por uma mulher, pois não há ninguém melhor do que nós para discutir sobre o assunto. E não me impressionei, em chegar aqui, me deparar com a nota baixa, pois sabia que homens discordavam da trama.
Todo o conjunto da obra fez os meus olhos brilharem.
São expostos o machismo em diversas partes do nosso cotidiano, mesmo que de forma mais "escondida", como vemos em uma hora que entram no metrô e, logo acima, há uma propaganda de roupas intímas com um homem, fazendo as mesmas poses e exposição desnecessária.
Outro ponto que gostei, foi como a personagem principal Alexandra, transpira superioridade e mostra ao Damien, faz ele sentir na pele como é ser tratado como apenas mais um, um mero prêmio ou mais uma bolinha de gude, em sua coleção particular, organizada por anos.
Além desses pontos, foram citados outros que são muito importantes, que fala muito sobre a nossa luta no movimento feminista. Poderia ter tocado no assunto de aborto também, pois só é mostrado mulheres grávidas. Seria uma forma de reafirmar que somos donas do nosso corpo e de nossas próprias escolhas.
A respeito do final, não devemos esquecer que estamos falando do cinema francês/europeu, ele é assim, como a nossa vida, sem muitas explicações, apenas acaba e ficamos nos indagando o que deve ter acontecido depois. Posso citar como exemplo: La Vie D'Adèle (Azul É A Cor Mais Quente), que finaliza desse mesmo modo.
Do início à metade, pensei que seria mais um filme com aquele romance clichê. Passou pela minha cabeça, que a proposta era romantizar o encontro dos dois, dando a entender que a mulher é indecisa, que o "não" é sim.
Mas, da metade ao fim, vem o pulo do gato.
Foi uma surra de realidade. Eu me deparei com algo, que não apenas eu, mas a maioria das mulheres já viveram, em que o homem, durante a festa, parece um príncipe encantado, só falta te entregar o mundo, apenas para receber o que quer e o nosso "Sim", mesmo que contra a nossa vontade.
Tudo isso, apenas para ele ter o ego inflado e a má impressão de "sou irresistível". Para depois, tratar-nos como lixo, sendo frios e dando continuidade a vida, como se nada tivesse acontecido.
O meu interesse pelo filme despertou-se ao assistir o trailer.
Sabemos que no enredo, a Estela quer ir para a Califórnia, pois seu tio, um jornalista no meio musical, mora lá e ela quer conhecer todos os artistas, que ele teve a oportunidade de ver de perto, assim como realizar uma road trip.
Porém, acontece um imprevisto e ele retorna ao Brasil. E é nesta hora que o foco do filme fica perdido. Me perguntei: A questão é o quê? Seu tio que contraiu AIDS na década de 80? Sua primeira viagem ao exterior? Aventuras clichês de adolescentes? Ou o desespero e pressão sofrida por outros por conta da sua virgindade?
Em algumas cenas, as perguntas e assuntos soavam como uma interpretação um tanto quanto forçadas ou amadoras. Assim como os trajes, até mesmo dos figurantes, e a falta de gírias da época, me fizeram falta também. Senti a discordância na tentativa de situar-se no tempo descrito como "anos 80".
A trilha sonora é fantástica, recheada de clássicos. Com bandas brasileiras como Blitz e Metrô, dando espaço também para o new wave como The Cure e Joy Division.
1º) Paleta de cores - Encharcado de tonalidades vibrantes. Os olhos brilham ao ver tanta cor e tanta harmonia de luz durante as cenas, representando sentimentos fortes demais. 2º) Música - A trilha sonora nos carrega do início ao fim com muita facilidade e harmonia, todas as músicas são cativantes, principalmente o dueto da Emma Stone com o Ryan Gosling.
O enredo é tocante, você sente as dificuldades das personagens e ainda tem uma surra de realidade no final. Por mais que vemos aquele momento da Mia no Seb's imaginando um futuro diferente ao lado do Sebastian é de quebrar o coração, ainda mais com a música tema deles ao fundo.
Mas é totalmente compreensível, já que ela gostaria que ele fosse menos cabeça dura e estivesse mais presente ao lado dela, enquanto ele, queria que ela seguisse ele, por onde fosse. No final, fica evidente que ambos se respeitam, independente do caminho que seguiram, viram que foi o melhor a ser feito.
É ressaltado sobre um problema atual, muito popular que vem acontecendo no YouTube principalmente, em que as pessoas topam qualquer coisa em troca de fama, likes ou dinheiro, que podemos interpretar como um patrocínio para dar mais gosto de continuar no jogo.
E além disso, vemos que alguns desafios beiram a possibilidade de perder a vida, assemelhando-se ao jogo da "Baleia Azul". É como se fosse um "Jogos Mortais", só que com jogadores, até então, inocentes com um passado nada comprometedor.
O pior de tudo isso é que os "observadores" não fogem muito das pessoas da nossa realidade. Na Internet, existem milhões de pessoas que financiariam esse tipo de "entretenimento", mesmo que colocassem a vida de outras pessoas em perigo, todos seriam cúmplices de um show de horrores.
O filme é recheado de uma trilha sonora composta por músicas indies, como Halsey em "Hurricane", Melanie Martinez em "Soap" e Børns em "Electric Love".
Descobrimos e assistimos de perto a Laerte, como ela é por dentro. Ela é gente como a gente, que expõe suas inseguranças e seus pensamentos sobre o mundo em que vivemos.
Temos a questão sobre ser mulher, como devemos ter o nosso corpo e o que precisamos nos importar. Tive uma sensação de conforto, não é apenas por ser mulher, mas pelo fato de ter a impressão de estar sendo recebida na cozinha ou sala de estar dela. Podemos prestar atenção nos mínimos detalhes do cenário, cada um é cativante do seu modo.
É muito interessante, pois durante o processo do documentário, enquanto os assuntos e perguntas vão aparecendo, os cartuns da Laerte vão surgindo na tela. Todos eles estão relacionados com o momento do vídeo.
A história contém personagens que assemelham-se muito com a nossa realidade, ainda existem pessoas que assimilam AIDS com pessoas homossexuais, que pensam que é uma doença exclusiva deles.
Vemos a imagem daquele homem "cabra macho" que quer provar sempre que é o mais viril, que tem mais testosterona e recusa-se a tocar na mão de um homossexual com medo de "contaminar-se". E ao mesmo tempo, é possível ver pelos olhos de Ron como é complicado ser julgado e sofrer inúmeros preconceitos.
É um ótimo filme! Matthew McConaughey e Jared Leto souberam transmitir as dores, os medos e as angústias durante a trama.
É duro notar como atualmente, suas pinturas alcançaram um número gigantesco de pessoas e ele conseguiu realizar o que tinha como objetivo durante toda sua vida: tocá-las e demonstrar o que sentia ao pintar.
É possível analisar que mesmo nas cores vibrantes de suas obras, era evidente o sentimento de solidão e que ele estava gritando por um certo tipo de atenção. Ele era um homem fantástico e complexo, infelizmente, ele foi mal compreendido na sua época. Apenas seu irmão deveria realmente conhecer quem era Van Gogh por dentro ou não.
Esse filme serviu de lição para a minha vida, me inspirou muito.
Eu era como a protagonista, vivia achando que as pessoas precisavam cumprir "requisitos" para ser alguém ou até mesmo ser feliz, vivia 100% do meu tempo preocupada e achava que tinha a necessidade de saber o que estava fazendo com a minha vida.
E não é bem assim, a vida pode ser muito mais simples do que imaginamos e com as pessoas que estão em nossa volta, que querem o nosso bem!
Esse documentário foi o contato mais profundo que pude ter com algum diretor de cinema, já que ele forma uma ponte para os pensamentos, sua forma de interpretar o mundo e sobre sua família.
Tive a sensação de estar sentada, ouvindo Lynch contar tudo nos mínimos detalhes.
É curioso como sua mente é brilhante e imersa em mistérios. Ele é a própria incógnita em nossas vidas. Por mais que ele se esforce para tentar nos explicar, ele não consegue exprimir em palavras. Os verdadeiros artistas são assim mesmo!
Afinal, se ele conseguisse dizer tudo o que quisesse e sentisse em palavras, não haveria motivo para criar suas obras, sendo cinematográficas ou voltadas para as telas de pintura.
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraDe forma inusitada e contraditória, vemos Aronofsky - um homem dito como ateu - dirigindo outra obra com referências bíblicas em sua narrativa, assim como vemos em Mãe (2017) e Noé (2014).
A vida caótica e turbulenta de Charlie (Brendan Fraser) é apresentada ao público em formato 4:3, claramente, uma fotografia ousada e comum em filmes cults, como pode ser observado em outros longas da produtora A24, como Sombras da Vida (2017), dirigido por David Lowery.
O diretor consegue personificar a baleia Moby Dick, romance de Herman Melville, pelo qual Charlie é tão obcecado, por conta de uma redação escrita por sua filha durante sua tenra infância. Pois, ele não é chamado assim de forma pejorativa, por conta de sua aparência física, mas por outros fatores conflitantes que nos levam até a conclusão do filme, como: vida amorosa, sexual e familiar.
Vemos a insistência do título do filme no protagonista, ao vermos que durante toda a narrativa, o clima fora da casa de Charlie encontra-se chuvoso e com aspecto de neblina, assim como podemos imaginar algo em alto mar.
O que acaba remetendo novamente a Bíblia, no versículo 1:17 de Jonas. Como é de conhecimento popular, sabemos que Jonas permaneceu dentro da baleia por exatos três dias e três noites, semelhante ao que vemos no filme. Em que inicia-se durante a noite de segunda, chegando ao ápice, assim como seu término, na manhã de sexta-feira.
Durante a permanência de Jonas dentro da Baleia, ele passa por momentos de provação e aceitamento, como Charlie, que evita falar do seu relacionamento que chegou ao fim, após a morte de seu companheiro; o abandono de sua família e a forma como ele acabou lidando com tudo isso, resultando em seu corpo enorme e estagnado na eterna mágoa.
Arrisco dizer que Thomas (Ty Simpkins), primeiramente vindo como um missionário do Nova Vida, pode ser comparado a um anjo, um mensageiro, uma esperança e redenção de Charlie com Deus. Até mesmo o entregador da Gambino 's tem a sua importância, já que aparece repetidamente, como uma voz da consciência de Charlie, recordando-o se ele está realmente bem e/ou precisa de ajuda.
O pássaro preto que visita Charlie para se alimentar das maçãs deixadas em um prato, pode ser o símbolo de mau agouro, o presságio de algo que não tem como evitar. Tendo essa ideia reforçada ao vermos que o prato se quebra, como uma conclusão de uma missão, que ele não precisará retornar futuramente.
O final consegue impressionar o telespectador, que com chave de ouro, consegue fazer Charlie aceitar tudo que aconteceu, fazendo ele entender que não precisa se desculpar de maneira excessiva. Ele compreende que o que ele fez, já está feito. Assim, ele ascende aos céus, sendo recebido no seu paraíso astral, uma breve lembrança de verão, pisando na areia, acompanhado de sua filha e da mulher.
Até mesmo o enquadramento dos pés de Charlie entrando em contato com o mar, seria essa barreira que ele conseguiu ultrapassar, todo aquele desafio imposto ao protagonista, segundo a Jornada do Herói, de Joseph Campbell.
Órfã 2: A Origem
2.7 773 Assista AgoraQuando soube do lançamento, eu fiquei animada, pois gostava do primeiro filme e acendeu uma pequena chama de esperança para saber sobre REALMENTE o passado da personagem. No entanto, apenas fica mais nebuloso, permanecendo incerto sobre o que resultou na pessoa que Esther (ou Leena) se tornou para estar no manicômio (E talvez isso possa ser uma desculpa para inventarem de fazer uma terceira continuação, explicando anos antes desse segundo filme).
De certa forma, não tem como não notar o envelhecimento da atriz, que atualmente, possui mais de 20 anos. Em certos momentos, o enquadramento está muito próximo ao seu rosto e podemos enxergar claramente que ela não se passaria por uma criança, como vemos no primeiro filme.
Uma coisa que me incomodou muito foram os inúmeros enquadramentos abertos (com efeito meio olho de peixe/contra-plongée), para tentar distorcer a altura da atriz com o ambiente, dando uma impressão que ela realmente é muito menor perto dos outros personagens (parece até que estou vendo uma versão de Alice no País das Maravilhas bizarro). Isso quando não posicionam a atriz próxima a um objeto, relativente alto, fazendo um corte com a câmera na altura dos ombros para parecer que ela é uma criança.
E claro, que acabaram usando um dublê de corpo na atriz, pois quando não utilizam da técnica citada anteriormente, eles sempre fazem com que a personagem esteja presente nas cenas de costas para a câmera (deve ser para economizar em efeitos 3D, podendo resultar em algo tosco e forçado).
E por último, houveram mais cenas com violência gráfica, porém olho pelo lado negativo, meio que para compensar a falta de enredo e para impressionar o público mais fácil, forçando a dizer que o filme é muito bom ou algo do tipo.
Ar Condicionado
3.6 19Tive uma experiência diferenciada, assim como um choque cultural ao pensar na situação ecônomica de Angola e em outros questionamentos, que acabaram por surgir durante o filme. A trilha sonora é única, variando entre a música clássica e cantada, em português de Portugal. A iluminação e a paleta de cores andam de mãos dadas, em que podemos ver que com simples tochas de luz, podem trazer um brilho e sentimento especial à cena, que reflete nas peles dos personagens.
Basicamente, a narrativa pode parecer simples por contar o dia-a-dia de Matacedo, que precisa consertar o ar condicionado caro do seu chefe, que se gaba em frente dele e de Zezinha, só por ter mais poder aquisitivo. O que não faz sentido, pois ele continua morando no mesmo quarteirão que os dois personagens citados anteriormente.
O ponto X da história que me fez parar para pensar foi o momento em que:
Houve o funeral do ar condicionado, em que ele foi posto em uma sala arrumada com direito às velas, lamentações e pessoas em cima de "seu corpo". Eu parei por um instante e cheguei a conclusão que um eletrodoméstico daquele, apesar de comum, como podemos ver no cenário do filme, ainda assim, é um artigo de luxo, que pode valer mais do que a vida de um ser humano no país.
Dei uma leve pesquisada sobre como é viver em Angola e fiquei de queixo caído. Enquanto as pessoas recebem um salário mínimo de um pouco mais de 21.000 Kwanzas, um ar condicionado simples chega a custar 10x mais que o que eles podem ganhar por mês. Angola é um dos países com maior custo de vida, segundo o jornal El País.
Mas Matacedo e Zezinha não aparentam estarem frustados com a realidade deles, apenas conformados com o dia a dia que precisam enfrentar, mesmo sabendo que o chefe deles é abusivo. Visto de longe, o filme traz uma leveza, que para alguns pode ser irrelevante, mas pode ser que estamos fazendo o mesmo que outros países, apenas tampando os olhos por não sabermos enxergar a mensagem subliminar por trás do cotidiano de um simples técnico de ar condicionado.
O Animal Cordial
3.4 618 Assista AgoraCom atmosfera soturna, Animal Cordial abrange toda a narrativa entre mistérios e muita cautela, pois não sabemos o que se passa na mente de cada personagem. O telespectador tenta solucionar um modo de fugir do local e chamar ajuda, de maneira fria e calculista, porém precisamos que todos os envolvidos façam um trabalho em equipe.
De característica terror slasher, o longa metragem trata a temática de maneira visceral, mas com classe. A fotografia não deixa que o público esqueça que estamos em um restaurante em São Paulo, logo, o modo como a violência é inserida, acaba tornando os enquadramentos ricos e artísticos, ao mesmo tempo. A diretora Gabriela Amaral Almeida consegue nos influenciar, o que era para olharmos com desprezo ou nojo, passamos a ver por outro ponto de vista.
A cena de sexo entre Inácio (Murilo Benício) e Sara (Luciana Paes) mostra a dramaticidade, o cru e o explícito, em que nada mais precisa ser escondido entre eles ou qualquer pessoa presente ali, eles nem se importam se alguém está ouvindo o que estão fazendo. É de perder o fôlego ao ver o ritmo entre os corpos, o barulho, a luz, o banho de sangue e a selvageria que encarna nos dois.
Não se engane pelas aparências, muito menos pelo o que os personagens podem transparecer nos primeiros momentos do filme. Tudo não passa de uma máscara, que irá cair com o desenrolar da história. Como é natural do Homem, todos nós possuímos uma parte oculta da nossa personalidade que ninguém conhece e são nessas horas, que elas acabam sendo reveladas da pior maneira.
Produzida por Rafael Cavalcanti, a trilha sonora é sombria e muito bem produzida. Pensei que fosse algo totalmente internacional. Com exceção da música dos créditos, todas as outras são de autoria brasileira, o que me deixou completamente impressionada. Além disso, acabamos nos tornando apreciadores do silêncio entre a falta de diálogos, pois enquanto a canção toca ao fundo da cena, os personagens parecem curtir o ambiente com toda o clima mórbido e assustador.
A Vida Invisível
4.3 642O enredo não é para todos, é sufocante. Capaz de colocar a corda no seu pescoço e esperar que pule da cadeira para se enforcar. São problemas que rondam as mulheres desde que o mundo diz ser mundo, infelizmente.
Mesmo que seja ambientado na década de 50, o filme mostra questões atuais que o feminismo está lutando contra diariamente. O título é sofisticado, porém quando você é mulher e começa a assistir, em poucos minutos, já nota sobre o quê e para quem está sendo direcionado. Trata-se da invisibilidade da Maria, da Clarice, da Joana, da Fernanda...Da Eurídice, e tantas outras.
Os enquadramentos utilizados são extremamente importantes para nos fazer questionar a posição de cada pessoa na mise-en-scène. Sempre vemos Eurídice (Carol Duarte) cortada pela metade, como forma de trazer a anonimidade, ela é reconhecida como uma mulher de costas, mas qual é a sua história? Em que ela gostaria de trabalhar? E seus estudos?
Outro enquadramento que vemos com frequência estão presentes quando Antenor (Gregório Duvivier) está em cena. Sabemos que Eurídice é alta, mas o que custa aumentar o enquadro? Não, é focado totalmente na estatura do homem, por mais que ele tenha incríveis 1,68 de altura.
O coração dói quando vemos Guida (Julia Stockler) juntando dinheiro para ver sua irmã, supostamente em Viena, e é barrada por precisar da autorização de seu marido, como se ela fosse um simples objeto, com reconhecimento de firma, que ela é legalmente pertencente a ele.
Ou quando Eurídice ganha o concurso de piano em 1º lugar e é recebida pela fragilidade de seu marido, com inveja e ignorância. Até a filha de Eurídice, que está com o machismo encrustado em sua tenra infância, questiona o pai: "Mas não era o sonho dela?", e o silêncio vem à tona.
O casamento deixa de ser uma união construída baseada no amor, apenas por interesses exclusivamente da família. Arranjada por um homem que nem chegou a tocar em suas mãos ou ter uma troca de olhares. Tudo vira um pesadelo ao ser violentada e drogada em sua noite de núpcias, sendo instruída para ser "boazinha" na cama com o seu marido.
Esse filme me deu calafrios e olhos marejados. Na minha mente, uma frase presente ao final do clipe Survivor da Clarice Falcão, regravação da versão da Destiny's Child surgiu: "É preciso ter coragem para ser mulher nesse mundo. Para viver como uma. Para escrever sobre elas".
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
3.9 2,2K Assista AgoraEu sempre quis assistir esse filme e não sei o motivo para procrastinar tanto assim, já que amo o fator mais importante: o musical.
E eu já sabia de toda a premissa do filme e sobre as personagens também, apenas não tinha conhecimento do plot que acontece no final, que aquilo é o mais relevante e nunca ninguém conta aquele detalhe que fecha toda a trama. Fiquei surpreendida!
Bom, quando eu fiquei sabendo que era um musical, eu imaginei que seria algo Disney, que teria certas canções durante o filme e nada mais. No entanto, eu estava enganada, Tim Burton traz além disso, ele nos presenteia com um conteúdo digno de Broadway, ou seja, eu diria que o longa é feito de 85% de músicas, e o restante dividido em pequenos diálogos e créditos iniciais e finais.
Não recomendo assistir ao filme com legendas em inglês, pois o roteiro tem uma linguagem um tanto quanto rebuscado, que é super compreensível por se tratar de uma história "de época".
A ambientação é fantástica, pode ser muito bem utilizada em aulas de História para analisar os cenários e o modo de vida em Londres, uma época pobre e complicada. A vestimenta é fantástica: trajes ricos com toda a estética gótica e vitoriana que Burton é apaixonado.
O filtro utilizado nos enquadramentos traz aquela frieza na cena, a palidez e quase um tom azulado aos personagens. Você sente a dramaticidade, a tristeza e a dificuldade que a trama se apresenta.
E por último, não menos importante, podemos falar da trilha sonora. São músicas muito bem interpretadas, diálogos importantes que fazem nossa cabeça se perder durante a narrativa, imaginando que aquilo é real, assim como a insanidade presente na cabeça do personagem. No entanto, voltamos à realidade e descobrimos algo que poderia acontecer e lamentamos junto com Sweeney, Mrs. Lovett e as lâminas de barbear.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista Agora"Marriage Story" é uma obra totalmente empírica. Quem passou por um divórcio ou recorda da separação dos seus pais durante a vida, sabe como é o processo doloroso e demorado.
Nos monólogos das personagens, temos a impressão que somos apenas mais um espectador das peças de teatro, que eles organizam durante o filme. Vamos descobrindo as camadas mais profundas de cada um com o passar da trama, que todos eles têm o seu lado podre, assim como nós.
Achei interessante a técnica em que quando um deles começa a relatar algo que ocorreu e ele vai andando, falando e muda de cômodo. O som fica abafado, escutamos ele mexendo em pratos, assoando o nariz, porém o enquadramento não muda, permanecemos "sentados" apenas ouvindo.
Em alguns momentos, assim como quando passei pelo divórcio dos meus pais, vi aquele brilho nos olhos das personagens. Eles olham por um tempo demorado e, de repente, parece que eles caem em si, recapitulam e lembram o motivo de estarem discutindo, assim como uma discussão de verdade entre casais. Cada detalhe é mostrado: as longas discussões, os gritos e os choros, seguidos por pedidos de desculpas.
Eu captei aquele olhar termo entre as personagens quando Charlie (Adam Driver) ajoelha-se aos pés da Nicole (Scarlett Johansson), como forma de se redimir. Assim como em outras cenas, como: quando ele ajuda a empurrar o seu portão eletrônico, questiona o filho se ela está namorando alguém, antes dele bater a porta e ir embora, e por último, no final, em que ela o chama e dá aquele frio na barriga e esperança no coração deles ficarem juntos, mas ela apenas amarra o cadarço do seu tênis e o deixa ir embora com seu filho.
Rafiki
4.0 110 Assista AgoraRafiki é uma explosão de cores, em todos os sentidos, assim como imaginamos que a cultura africana seja. Principalmente, tratando-se de tonalidades que vão do rosa ao roxo, representando toda a sensibilidade e o lado feminino do filme, além da relação entre as personagens.
Muitas coisas foram desmistificadas em minha mente ao assistir, como: o idioma. Achei semelhante à Índia, em que a população é bilíngue. No Quênia, percebo que acontece a mesma coisa, uma horas eles estão falando em inglês, e em outra, em swahili. O inglês é mais popular entre as gerações mais novas, como vemos os jovens durante o filme.
No início, a narrativa é feliz e otimista. No entanto, caímos por terra e vemos que a realidade queniana não é bem assim. Assim como o Brasil, o Quênia é um país movido pela religião.
Uma das frases que me deixou boquiaberta foi a do pastor, em que ele diz: "A lei do Homem é igual a de Deus: não muda". Ele acredita no discurso de ódio, que não podemos ter a nossa liberdade de expressão, muito menos em amar a quem nós nos sentimos bem, independente do gênero.
Um filme como esse é importante para falarmos de algo tido como tabu, discutirmos e conseguirmos o devido espaço para todo o público LGBTQIA+. Mesmo em um mundo em que amar alguém é pecado, precisamos resistir e continuarmos na luta diária. Como diz Brendon Urie, vocalista da banda Panic! At The Disco, em Girls/Girls/Boys: "Love is not a choice"!
Os Canibais
1.9 184Após ver a nota dada ao filme, considero uma injustiça. Tudo bem que ele foi realizado a partir de crowd founding, sem contar que fica evidente que a produção foi de baixo custo, apesar de ter vários atores inseridos no elenco. Mas existem outros elementos que acabei me incomodando enquanto assistia, como os enquadramentos que não eram bons, muito menos o roteiro, que achei superficial e clichê em algumas partes.
Porém, devemos levar tudo em consideração. Essa longa metragem é um ativismo disfarçado, é uma crítica imensa à indústria da carne e do leite. Eu, como vegetariana, diria que esse filme é recomendado aos carnistas, que apesar de existir inúmeros documentários sobre o assunto, ainda assim, não ficam sensibilizados pelo o que acontecem com os animais. Então, o diretor Hans Stjernswärd convida o telespectador a trocar os papéis e pensarmos da seguinte forma: "Okay, você não sente pena dos diferentes a você, mas e dos seus semelhantes?".
Fiquei chocada com o momento da fertilização artificial realizada na Nora (Nora Yessayan), não imaginei que veria aquilo. Além disso, há o momento tenso em que vemos os homens com máscaras de animais retirando o bebê dos braços da própria mãe, matando-o em seguida, assim como é na realidade. Inseminam a fêmea para que ela possa produzir o leite e roubam o seu filho, no qual o leite é destinado.
Gostei da referência do banquete nos minutos finais, é algo que remete à A Última Ceia (1495-1498), pintada por Leonardo da Vinci. Vemos o quanto somos insignificantes por celebrarmos nossa vida, expondo algo que já foi uma vida ali.
São cenas para chocar, para trazer uma reflexão sobre o que colocamos na mesa para nos alimentar. Devemos parar com a alienação que o marketing nos vende em diversos lugares, estampandos em outdoors, sem medo de estarem admitindo aos quatro ventos que são assassinos. Afinal, por que a sua vida é mais importante do que a de um animal, independente da sua espécie?
Neon Genesis Evangelion: O Fim do Evangelho
4.3 253 Assista AgoraHoje em dia, quando me questionam qual é a minha animação japonesa favorita, com toda certeza, irei responder: Neon Genesis Evangelion!
Após assistir ao anime e ter minhas conclusões, que foram das melhores possíveis, vim prestigiar o filme dirigido também pelo Hideaki Anno. Estaria mentindo, caso disesse que é acessível e de fácil compreensão.
Muitas pessoas, quando questiono, nem sequer recordam do Evangelion. E quando lembram, não curtem a proposta. Por mais que categorizam como um anime do estilo Mecha, Evangelion não é bem assim. Ele é muito mais profundo do que isso!
Evangelion trata-se de pura psicologia, do entender como Ser Humano, de questionamentos e respostas compreendidas, e também, não tão compreendidas assim. É feito para refletirmos sobre quem somos e para onde vamos, o que faremos e o que deixaremos.
Assim como o Shinji faz a todo momento. Não queremos ser odiados. Todo mundo quer ser lembrado.
Não podemos esquecer que no momento em que o anime foi desenvolvido, Hideaki Anno sofria de depressão, além de ter cursado Psicologia. E, por conta disso, interpreto que ele quis passar como ele é por dentro para o seu público. Que ele possui, assim como todos nós, alter egos, personagens e conversas sem nexo, que transitam em nossa mente.
Do jeito mais sutil e nem tanto. Fomos apresentados a algo com muito drama, violência, intrigas e reviravoltas. Cheio de significantes e significados, rico em símbolos. Assim como é a nossa vida.
Nem tudo precisa fazer sentido. Temos manias e ficamos intrigados, pensamos que temos o dever de fazer isso. Somos tudo, e ao mesmo tempo, somos nada.
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraDe início, o filme é muito turbulento, pois para quem não lê a sinopse, fica meio assustado com o que está passando com as personagens. Além da sensação de tensão, somos guiados pela trama em meio à angústia e à ansiedade.
A sensação para quem está assistindo é de total claustrofobia, já que a maioria das cenas são passadas em lugares totalmente fechados, com janelas cobertas; e em primeira pessoa, com a vista coberta por uma manta, dificultando totalmente a visão.
Durante a obra, é notável que estamos vulneráveis. Nós sofremos tentações, em que questionamos a veracidade dos fatos e ficamos em total dúvida sobre as decisões e rumos a serem feitos. Chegamos até a ficar contra certas personagens e vemos que poderíamos falhar, caso estivéssemos no lugar da protagonista.
É interessante como escolheram o pássaro, em especial, como detector de perigo. Pois os animais possuem verdadeiros "poderes psíquicos", eles reconhecem outras frequências sensoriais que somos incapazes de perceber.
As cenas não são cronológicas, elas foram alternadas entre passado e presente, evitando ser entediante e levantando perguntas sobre como tudo aconteceu ou como chegaram ali. Tornando cada aspecto atrativo.
O elenco é de peso. Ainda considero incrível, lembrando que é um filme desenvolvido pela Netflix. Vemos John Malcovich, de Being John Malkovich (1999); Sarah Paulson, de American Horror Story (2011 - Atualmente); Trevante Rhodes, de Moonlight (2016); e não menos importante, Sandra Bullock, de Velocidade Máxima (1994).
Para quem curte videogame, vai gostar muito da pegada semelhante ao jogo The Last of Us, exclusivo da Sony. O survival e o suspense andam lado a lado, em ambas as obras. Até mesmo o mistério acerca das pessoas que estão contaminadas, mas que continuam rondando de forma "zumbi" é igual.
E voltado à literatura, por ter esse aspecto de cobrir os olhos e passar a ter uma nova vida, realçando os outros sentidos, lembrou-me de Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Que anos mais tarde, foi adaptado aos cinemas também, sendo aprovado pelo próprio escritor.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraUma obra de aspecto musical, em que é praticamente impossível ficar sem cantar baixinho ou fazer lip sync. Queen é uma banda que está no repertório de todos nós, independente do gosto musical que temos preferência. Apesar de ser descrita como Rock, ela conseguia transitar entre outros gêneros musicais, como Ópera.
Conheci Rami Malek através de Mr. Robot e pensei que ele não teria tal talento para encarnar o Freddie Mercury, porém me enganei. Ele está surpreendente em sua atuação, impecável! Desde os trejeitos, o sotaque marcante inglês - sabendo que Malek é naturalizado como cidadão americano - e até no simples modo de andar. Casou muito bem as duas personalidades, do Mercury com Malek, pois ambos possuem uma origem africana.
A fotografia usa e abusa do contra-plongée. Queen conseguia conduzir uma multidão. Até quem não conhece muito bem da banda, assimila automaticamente que ela era tida como uma majestade, exigia-se admiração e respeito por onde passava.
Assim como da outra técnica de luz e sombra, o famoso Chiaroscuro, comum em obras de Caravaggio. Partes em que Mercury irá revelar à banda que contraiu o vírus da AIDS, vemos uma parte extremamente escura em seu rosto, o que seria algo que ele estava escondendo, um lado obscuro que desconheciam dele.
Apesar do filme ser sobre a banda, era quase obrigatório abordar sobre a vida privada do vocalista. Alguns pontos não exibiram, o que é totalmente compreensível, pois é complicado compilar tantos fatos em uma longa metragem, em uma única parte. Então, para uma obra cinematográfica de um pouco mais de duas horas, eles capturaram uma excelente parte da essência do que eu esperava.
Tempos Obscuros
3.3 266Eu gostei da ambientação, realmente você vê que não é passado nos dias atuais, desde os eletrônicos como a televisão de tubo à moda, em que é possível reparar as garotas usarem um Tattoo Choker.
O enredo e o modo como o Zach reflete todos os passos para descobrir o assassino são interessantes. A fotografia é opaca, de forma que torna tudo mais misterioso na atmosfera do filme.
No início, nos deparamos com a cena de um cervo negro que invade uma sala de aula da escola e os policias o matam. A simbologia do cervo é remitido à arvore da vida, e é o que realmente acontece, tem ligação com o tempo restante de cada personagem. Ou seja, a morte está chegando.
Em uma das cenas, em que o Zach está sonhando durante a aula com a Alisson, em que é apaixonado. Reparei uma referência ao tão polêmico filme Anticristo (Antichrist), de 2009, dirigido pelo dinamarquês Lars von Trier.
Há uma discussão em volta da obra, em que já foi falado muitas vezes, envolvendo a ciência. Os psicopatas possuem um gene dentro do seu DNA, que pode ser despertado, dependendo do que ele realiza durante a sua vida.
E foi o que aconteceu com o Josh. Vamos supor que ele tinha, porém não havia o conhecimento e após o acidente com Daryl, ele ganhou o "gosto" de matar as pessoas. Sem ter o mínimo de compaixão, ele aparentava estar abatido após a morte do amigo, mas ele poderia apenas estar planejando a próxima vítima, invés de estar assustado como o Zach.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraCom uma pegada voltada ao espiritual, é bom como abordam sobre os espirítos que desencarnam e o processo de aceitação, como o espiríto fica preso ao material e aos entes queridos. Gostei de como é tratado o fator tempo, pois em astral, não há horas ou minutos, tudo passa de acordo com o que escolhemos.
É um filme extremamente sensorial. É quieto e com poucos diálogos, mas cada um deles mexem com o nosso interior. Assim como a trilha sonora da banda indie Dark Rooms, é muito delicada, profunda e casa bem com o relacionamento entre as personagens.
A obra entra na discussão de que enquanto estamos vivos, em Terra, temos uma missão a cumprir. E vemos isso, quando C fica martelando na mente para descobrir o que está escrito no papel. Até que chega o momento, que depois do segredo revelado, ele se sente completo.
Creio que nem mesmo ele sabia que era aquilo que faltava para descansar, pois ele presencia o enquietamento do outro fantasma na casa ao lado, que aguardava alguém voltar. E, depois que a moradia foi demolida, esse outro fantasma viu que não restava nada e aceitou que não tinha mais quem esperar. E descansou.
Eu Não Sou um Homem Fácil
3.5 737 Assista AgoraPrimeiramente, eu me certifiquei de que o filme estava sendo dirigido por uma mulher, pois não há ninguém melhor do que nós para discutir sobre o assunto. E não me impressionei, em chegar aqui, me deparar com a nota baixa, pois sabia que homens discordavam da trama.
Todo o conjunto da obra fez os meus olhos brilharem.
São expostos o machismo em diversas partes do nosso cotidiano, mesmo que de forma mais "escondida", como vemos em uma hora que entram no metrô e, logo acima, há uma propaganda de roupas intímas com um homem, fazendo as mesmas poses e exposição desnecessária.
Outro ponto que gostei, foi como a personagem principal Alexandra, transpira superioridade e mostra ao Damien, faz ele sentir na pele como é ser tratado como apenas mais um, um mero prêmio ou mais uma bolinha de gude, em sua coleção particular, organizada por anos.
Além desses pontos, foram citados outros que são muito importantes, que fala muito sobre a nossa luta no movimento feminista. Poderia ter tocado no assunto de aborto também, pois só é mostrado mulheres grávidas. Seria uma forma de reafirmar que somos donas do nosso corpo e de nossas próprias escolhas.
A respeito do final, não devemos esquecer que estamos falando do cinema francês/europeu, ele é assim, como a nossa vida, sem muitas explicações, apenas acaba e ficamos nos indagando o que deve ter acontecido depois. Posso citar como exemplo: La Vie D'Adèle (Azul É A Cor Mais Quente), que finaliza desse mesmo modo.
Stockholm
3.5 61Do início à metade, pensei que seria mais um filme com aquele romance clichê. Passou pela minha cabeça, que a proposta era romantizar o encontro dos dois, dando a entender que a mulher é indecisa, que o "não" é sim.
Mas, da metade ao fim, vem o pulo do gato.
Foi uma surra de realidade. Eu me deparei com algo, que não apenas eu, mas a maioria das mulheres já viveram, em que o homem, durante a festa, parece um príncipe encantado, só falta te entregar o mundo, apenas para receber o que quer e o nosso "Sim", mesmo que contra a nossa vontade.
Tudo isso, apenas para ele ter o ego inflado e a má impressão de "sou irresistível". Para depois, tratar-nos como lixo, sendo frios e dando continuidade a vida, como se nada tivesse acontecido.
Califórnia
3.5 302O meu interesse pelo filme despertou-se ao assistir o trailer.
Sabemos que no enredo, a Estela quer ir para a Califórnia, pois seu tio, um jornalista no meio musical, mora lá e ela quer conhecer todos os artistas, que ele teve a oportunidade de ver de perto, assim como realizar uma road trip.
Porém, acontece um imprevisto e ele retorna ao Brasil. E é nesta hora que o foco do filme fica perdido. Me perguntei: A questão é o quê? Seu tio que contraiu AIDS na década de 80? Sua primeira viagem ao exterior? Aventuras clichês de adolescentes? Ou o desespero e pressão sofrida por outros por conta da sua virgindade?
Em algumas cenas, as perguntas e assuntos soavam como uma interpretação um tanto quanto forçadas ou amadoras. Assim como os trajes, até mesmo dos figurantes, e a falta de gírias da época, me fizeram falta também. Senti a discordância na tentativa de situar-se no tempo descrito como "anos 80".
A trilha sonora é fantástica, recheada de clássicos. Com bandas brasileiras como Blitz e Metrô, dando espaço também para o new wave como The Cure e Joy Division.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraExistem dois pontos fortes nessa obra:
1º) Paleta de cores - Encharcado de tonalidades vibrantes. Os olhos brilham ao ver tanta cor e tanta harmonia de luz durante as cenas, representando sentimentos fortes demais.
2º) Música - A trilha sonora nos carrega do início ao fim com muita facilidade e harmonia, todas as músicas são cativantes, principalmente o dueto da Emma Stone com o Ryan Gosling.
O enredo é tocante, você sente as dificuldades das personagens e ainda tem uma surra de realidade no final. Por mais que vemos aquele momento da Mia no Seb's imaginando um futuro diferente ao lado do Sebastian é de quebrar o coração, ainda mais com a música tema deles ao fundo.
Mas é totalmente compreensível, já que ela gostaria que ele fosse menos cabeça dura e estivesse mais presente ao lado dela, enquanto ele, queria que ela seguisse ele, por onde fosse. No final, fica evidente que ambos se respeitam, independente do caminho que seguiram, viram que foi o melhor a ser feito.
Nerve: Um Jogo Sem Regras
3.3 1,2K Assista AgoraÉ ressaltado sobre um problema atual, muito popular que vem acontecendo no YouTube principalmente, em que as pessoas topam qualquer coisa em troca de fama, likes ou dinheiro, que podemos interpretar como um patrocínio para dar mais gosto de continuar no jogo.
E além disso, vemos que alguns desafios beiram a possibilidade de perder a vida, assemelhando-se ao jogo da "Baleia Azul". É como se fosse um "Jogos Mortais", só que com jogadores, até então, inocentes com um passado nada comprometedor.
O pior de tudo isso é que os "observadores" não fogem muito das pessoas da nossa realidade. Na Internet, existem milhões de pessoas que financiariam esse tipo de "entretenimento", mesmo que colocassem a vida de outras pessoas em perigo, todos seriam cúmplices de um show de horrores.
O filme é recheado de uma trilha sonora composta por músicas indies, como Halsey em "Hurricane", Melanie Martinez em "Soap" e Børns em "Electric Love".
Laerte-se
4.0 184Descobrimos e assistimos de perto a Laerte, como ela é por dentro. Ela é gente como a gente, que expõe suas inseguranças e seus pensamentos sobre o mundo em que vivemos.
Temos a questão sobre ser mulher, como devemos ter o nosso corpo e o que precisamos nos importar. Tive uma sensação de conforto, não é apenas por ser mulher, mas pelo fato de ter a impressão de estar sendo recebida na cozinha ou sala de estar dela. Podemos prestar atenção nos mínimos detalhes do cenário, cada um é cativante do seu modo.
É muito interessante, pois durante o processo do documentário, enquanto os assuntos e perguntas vão aparecendo, os cartuns da Laerte vão surgindo na tela. Todos eles estão relacionados com o momento do vídeo.
Creio que todos nós temos um pouco da Laerte.
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraA história contém personagens que assemelham-se muito com a nossa realidade, ainda existem pessoas que assimilam AIDS com pessoas homossexuais, que pensam que é uma doença exclusiva deles.
Vemos a imagem daquele homem "cabra macho" que quer provar sempre que é o mais viril, que tem mais testosterona e recusa-se a tocar na mão de um homossexual com medo de "contaminar-se". E ao mesmo tempo, é possível ver pelos olhos de Ron como é complicado ser julgado e sofrer inúmeros preconceitos.
É um ótimo filme! Matthew McConaughey e Jared Leto souberam transmitir as dores, os medos e as angústias durante a trama.
Van Gogh: Pintando com Palavras
4.5 51É duro notar como atualmente, suas pinturas alcançaram um número gigantesco de pessoas e ele conseguiu realizar o que tinha como objetivo durante toda sua vida: tocá-las e demonstrar o que sentia ao pintar.
É possível analisar que mesmo nas cores vibrantes de suas obras, era evidente o sentimento de solidão e que ele estava gritando por um certo tipo de atenção. Ele era um homem fantástico e complexo, infelizmente, ele foi mal compreendido na sua época. Apenas seu irmão deveria realmente conhecer quem era Van Gogh por dentro ou não.
Fica o questionamento.
Requisitos para Ser uma Pessoa Normal
3.9 265Esse filme serviu de lição para a minha vida, me inspirou muito.
Eu era como a protagonista, vivia achando que as pessoas precisavam cumprir "requisitos" para ser alguém ou até mesmo ser feliz, vivia 100% do meu tempo preocupada e achava que tinha a necessidade de saber o que estava fazendo com a minha vida.
E não é bem assim, a vida pode ser muito mais simples do que imaginamos e com as pessoas que estão em nossa volta, que querem o nosso bem!
David Lynch: A Vida de Um Artista
4.0 45Esse documentário foi o contato mais profundo que pude ter com algum diretor de cinema, já que ele forma uma ponte para os pensamentos, sua forma de interpretar o mundo e sobre sua família.
Tive a sensação de estar sentada, ouvindo Lynch contar tudo nos mínimos detalhes.
É curioso como sua mente é brilhante e imersa em mistérios. Ele é a própria incógnita em nossas vidas. Por mais que ele se esforce para tentar nos explicar, ele não consegue exprimir em palavras. Os verdadeiros artistas são assim mesmo!
Afinal, se ele conseguisse dizer tudo o que quisesse e sentisse em palavras, não haveria motivo para criar suas obras, sendo cinematográficas ou voltadas para as telas de pintura.