Muitas curiosidades rondam este majestoso e mítico filme, que ficou conhecido como “o filme perdido” ou “a obra incompleta” mais importante da história do cinema. A versão original tinha cerca de 9 horas de duração e o produtor executivo Irving Thalberg mandou reduzir a pouco mais de 2 horas. Naquela época era comum os estúdios reaproveitarem o nitrato de prata contido nas películas, dificilmente uma matriz original era preservada (sim, uma porção de filmes mudos foi extinta para sempre). Foi esse o provável destino das 7 horas excedentes desse, ainda que muita gente prefira acreditar que o material esteja num sótão qualquer, esperando um dia para ser descoberto. Seja o que for, existe uma versão restaurada de 4 horas, lançada nos anos 90, contendo as sequências já conhecidas mundo afora, acrescidas de fotos e intertítulos das cenas desaparecidas, permitindo aos cinéfilos terem uma noção do que o seu autor tinha em mente.
A MGM terminou por excluir dois enredos paralelos da versão oficial, mantendo somente a história do minerador McTeague (Gibson Gowland). Por décadas, o público ignorou a história dos vizinhos idosos que se amavam em segredo ou da vendedora de bilhetes de loteria que é assassinada pelo desconfiado e sinistro companheiro. Na verdade, ambas as tramas não fazem falta, embora haja aquela sensação de que poderiam ser base para outros dois grandes filmes. Sabe-se que Stroheim quis fazer uma adaptação fidelíssima da mais célebre novela do escritor naturalista americano Frank Norris. Irving Thalberg não botou fé, julgava que as plateias não se interessariam, que o filme era extremamente obscuro e pessimista, mesmo assim resolveu bancar o projeto.
“Quando falta dinheiro, o amor sai pela janela”, diz um ditado popular francês. A mensagem de Ouro e Maldição é quase um inverso (e, ao mesmo tempo, uma conclusão) desse pensamento. Há controvérsias quanto ao dinheiro trazer felicidade. O título original do filme (Greed) significa avareza, o pecado capital que permeia a história e que provoca a transformação radical de Trina (Zasu Pitts), personagem que, a princípio, é vista como uma moça ingênua, delicada e temerosa. Na segunda metade da fita, porém, após ganhar 5.000 dólares na loteria e se casar com McTeague, ela vira outra pessoa, um poço de mesquinhez. Em determinado momento, ela chega a forrar a cama com moedas de ouro e dorme sobre a própria fortuna, uma versão feminina do Tio Patinhas. A relação com o marido, de quem esconde cada centavo que acumula, vai se deteriorando aos poucos, ganhando proporções trágicas.
O dinheiro também modifica a conduta de McTeague, como não poderia deixar de ser, porém num plano mais metafísico. A agressividade o possui para saciar um desejo de passar o dia com os amigos no bar, gastar com coisas inúteis e tipicamente masculinas (analogia aos vícios do pai de McTeague, que é visto apenas por fotos da versão estendida). Ele não é mau, a decadência lhe extrai um pouco da moralidade. Sua origem é humilde, trabalhava como minerador de ouro numa cidadezinha rural da Califórnia até aprender uma profissão com um dentista. McTeague resolveu ir a San Francisco e logo se viu numa boa situação ao herdar as economias da mãe e abrir uma clínica odontológica. Entre um cliente e outro, conheceu Trina, que já estava comprometida com um sujeito chamado Marcus (Jean Hersholt), amigo de McTeague. Contrariando as expectativas, os dois amigos não brigaram de imediato, Marcus praticamente ofereceu Trina ao falso dentista sem nenhum interesse. Tudo é conduzido de maneira leve e idílica até o momento em que a moça ganha na loteria. É quando a maldição de fato começa...
Apresentados o problema e os personagens, o script caminha num vagaroso e detalhado desenrolar de desentendimentos e cobranças. McTeague, Trina e Marcus adquirem novas personalidades, sendo os dois últimos os que mais surpreendem. O ex-minerador segue como uma criança grande, fazendo o que os adultos lhe ordenam, reclamando às vezes e reagindo quando contrariado. A estranha sensibilidade de McTeague é simbolizada por uma paixão que cultiva pelos pássaros. No dia do casamento, oferece à esposa um casal de canários amarelos, animais que acabam representando o clima da casa em algumas tomadas (quando McTeague e Trina estão a sós na noite de núpcias, os pássaros dão a impressão de se beijar; quando McTeague e Trina estão discutindo, os pássaros parecem brigar). As intrigas levam o filme a um clímax ambientado na região desértica do Vale da Morte, entre a Califórnia e Nevada. Os produtores queriam que o final fosse rodado em estúdio, mas Stroheim, como sempre, fez a sua maneira: levou todo mundo para o deserto, onde os equipamentos precisavam ser resfriados com toalhas geladas a todo instante. O ator Jean Hersholt chegou a passar mal devido o forte calor e a desidratação (a água de toda a equipe foi racionada!), precisando ser hospitalizado durante as filmagens.
Quase 100 anos se passaram e Ouro e Maldição ainda motiva uma infinidade de histórias, reafirmando a própria lenda. As moedas de ouro espalhadas pela terra árida do Vale da Morte encontram resposta na aclamação máxima da crítica que a fita recebeu tardiamente. Talvez não tão tarde assim. Já nos anos 50, a revista inglesa Sight & Sound publicou sua primeira lista com as 10 maiores obras-primas do cinema de todos os tempos, colocando Ouro e Maldição no 7º lugar, posto respeitável para um trabalho “mutilado” (de acordo com as amargas e ressentidas palavras de Stroheim). Embora mutilado, é um filme de valor incalculável.
Até que ponto o ser humano necessita das religiões? Até que ponto a fé pode ser explorada e especulada? E por que e para que queremos nos curar? Esta pequena obra escrita e dirigida pela diretora austríaca Jessica Hausner discute estas questões e põe à prova o verdadeiro poder da fé curativa que existe dentro de nós.
Através de um grupo de peregrinos que vão a Lourdes – espécie de Meca católica no Vale dos Pirineus – numa romaria, Jessica faz um perfil interessantíssimo do ser humano.
Christine (a fantástica Sylvie Testud) é uma mulher extremamente dependente acometida de uma paralisia geral, que faz parte de um grupo de cura. Acompanhada de uma jovem enfermeira com os hormônios em ebulição e sua mãe, Christine em determinado ponto, confessa não ter muita fé católica e que as romarias são uma boa oportunidade para sair de casa e quebrar sua monótona rotina.
No entanto, Christine começa a movimentar-se e recuperar os movimentos das pernas e braços, tornando-se um símbolo de um milagre atribuído a Virgem Maria. O grupo, então, começa a questionar o merecimento da cura da mulher, e alguns até invejam a sua recuperação fazendo, deste jeito, um interessante painel do ser humano com suas idiossincrasias, virtudes e defeitos.
Jessica direciona todo o filme para a exploração do indivíduo sem abrir espaços para outras considerações de ordem espirituais ou místicas, centrando a narrativa apenas nas reações dos personagens do grupo. Há a rígida obreira chefa que sofre em silêncio, o padre que apenas repete os dogmas antiquados, as jovens obreiras ansiosas para dar uma escapadinha, os guardas aproveitadores, as idosas carolas que cuja principal função é criticar e etc.
Filmado inteiramente no santuário de Lourdes com o apoio da Igreja Católica, o filme apenas observa as pessoas com suas eternas deficiências morais e/ou físicas sem maiores questionamentos, trazendo à tona um curioso hábito bastante humano:
Estamos sempre à frente de nossos desejos, pois quando os realizamos, imediatamente substituímos por outros. É um eterno devir...
Baseado na peça ganhadora do prêmio Pulitzer e ganhador do Oscar de melhor filme de 1990, Conduzindo Miss Daisy, na verdade, possui a estrutura típica dos melodramas americanos.
Com o roteiro adaptado pelo próprio escritor – Alfred Uhry – o filme faz uma ligeira comparação entre os oprimidos e renegados através da singela história de uma judia idosa – a Miss Daisy do título – com Hoke, seu chofer negro.
Utilizando, como pano de fundo, as transformações históricas americanas (Martin Luther King, Coca Cola, as trocas dos carros) para, assim, definir melhor a passagem do tempo (também mostrada através das estações do ano) o filme trabalha basicamente com o mesmo esquema que sempre deu certo (e é usado até hoje) nas produções norte-americanas: casal, ou dupla, em posições diferentes e/ou antagônicas descobrem, que através do contato humano, podem reconciliar-se e encontrar a verdadeira união.
A direção do australiano Bruce Beresford (que amargou alguns fracassos após Miss Daisy) é linear embora se perceba, em diversos momentos, algum um apuro técnico subjetivo como, por exemplo, a apresentação da personagem principal. Bruce faz sempre questão de mostrar Miss Daisy através de molduras de portas e janelas de sua casa insinuando com isso a rigidez de sua postura. Somente quando Hook transpassa estes limites que percebemos a mudança em Miss Daisy.
A edição a cargo de Mark Warner (Dolores Clairborne) evita que a narrativa seja transformada em meros capítulos adquirindo um ritmo sem desvios na trajetória entre os dois personagens principais ao longo dos anos.
Jessica Tandy e Morgan Freeman exibem uma química carinhosa incrível. A dupla de atores conquista quem está assistindo através de pequenos tiques de seus personagens. O Hook de Freeman, por exemplo, é um negro velho comunicativo, embora abandonado pelos seus entes queridos, que vaga por um país repleto de preconceitos, e ansioso por um vínculo mais justo. Jessica Tandy (então com 81 anos) faz a rabugenta Miss Daisy com a elegância das grandes damas do teatro.
Na verdade o foco principal de Conduzindo Miss Daisy é a união dos desprezados e excluídos pela sociedade, neste caso, um negro e uma idosa judia. Ao unir estes dois segmentos, numa tocante cena final no asilo, a história envia a antiga, mas enaltecedora, mensagem de que o mundo seria bem melhor sem a segregação racial e o preconceito de que o idoso é um ser imprestável.
Como decifrar os limites da alma humana? Qual o início e o término da fronteira entre o sociável e a demência? Entre o a deturpação e a ética? Estas (e tantas outras) questões são feitas por Frederik Treves, renomado médico anatomista que cuidou de John Merrick – o homem elefante – enquanto este esteve sob seus cuidados no Hospital de Londres no final do século 19.
Baseado nos diários do Dr. Frederik (The Elephant Man and Other Reminiscences) e no livro de Ashley Montagu (The Elephant Man: A Study in Human Dignity), David Lynch montou um poderoso retrato sobre os paradigmas de uma sociedade em constante transformação.
Abrindo mão de ser historicamente correto, o filme não é uma biografia de John Merrick, um ser humano deformado e verdadeiro que viveu numa Inglaterra Vitoriana, às vésperas da Revolução Industrial. O roteiro apenas utiliza os personagens reais para traçar um painel sobre a conduta de uma sociedade apenas acostumada a perceber o evidente, sem se dar conta do gigantesco universo humano que está por trás das aparências.
Merrick era visto como uma aberração da ciência, até mesmo para o Dr. Frederick (Anthony Hopkins) que ao vê-lo pela primeira vez, chora silenciosamente, numa cena de tirar o fôlego. Levado ao Hospital Geral de Londres, Merrick é analisado e exibido como uma revelação científica, sendo aplaudido pelos colegas e tendo o reconhecimento de sua classe. É neste ponto que o médico começa a perceber que também utiliza o homem elefante como uma forma de ostentação e começa a questionar suas atitudes.
O filme, então, ganha contornos muito mais complexos do que as imagens possam oferecer.
Rodado numa maravilhosa fotografia P&B (do também ator Freddie Francis) que ressalta a cegueira da sociedade Vitoriana, O Homem Elefante de Lynch é um conto lúgubre e triste sobre o monstro interno que habita em todos nós. Lynch começa sua obra com uma grande capacidade de síntese alternando imagens do rosto angelical da mãe de Merrick com a de elefantes de pele rugosa.
A montagem utiliza os recursos fotográficos fechando ou abrindo as sequências da escuridão para a extrema claridade e vice-versa.
A grande habilidade de Lynch está em driblar os clichês emocionais de uma história com um caráter essencialmente melodramático e transformá-la numa discussão da conduta humana fazendo a ponte entre o desprezível e a distinção. Os exemplos são muitos, mas fica evidente na cena onde uma escória humana suja, podre e fétida invade o quarto, sem trancas, do indefeso, mas puro, homem elefante.
Além do mais, o filme relaciona-se com outras obras sobre deformados rejeitados pela sociedade, como em O Corcunda da Notre Dame e O Enigma de Kaspar Hauser.
A grandeza do espírito de Merrick emociona a todos sem apelações baratas nem demagogias e imediatamente nos identificamos com sua triste sina, afinal quem nunca foi rejeitado ou sentiu-se humilhado na vida? A cena onde Merrick arruma seu leito de morte é de cortar o coração até dos mais insensíveis.
Dizer algo sobre esse longa é um risco, já que qualquer palavra parece ser muito para comentar um filme que não precisa de nenhuma para passar sua mensagem. Mas "homens de palavras que somos" como diria Foucault, temos que dizer alguma coisa sobre o que nos toca.
Koyaanisqatsi não é um filme como os outros. É muito mais uma experiência cinematográfica onde o que é "pano de fundo" nos filmes convencionais é colocado em primeiro plano. Fotografia, montagem, trilha sonora, são mais evidenciados que o roteiro ou a mensagem explícita. É um filme pra ser sentido, não interpretado.
É claro que existe uma lógica que atravessa seus 87 minutos de duração, mas nem isso é mais importante que os sentimentos que vêm à tona durante a reprodução.
É um filme ambicioso, bonito e original, apesar de já ter mais de 35 anos. Recomendado a qualquer pessoa de qualquer idade em qualquer lugar do mundo, pois "Koyaanisqatsi" é um épico protagonizado pela própria humanidade.
Este pequeno drama íntimo e pessoal é uma espécie de pequena joia do Cinema. A produção francesa conta, em ritmo elegante, como o sofrimento da perda de alguém muito querido é transferido para algo (ou alguém) que ajude a suportar a dor.
Catherine Deneuve é Camille, uma elegante senhora que cria o filho de 20 e poucos anos, com total liberdade. Separada e dona de seu próprio negócio, ela compactua com as amizades do rapaz e dá todo suporte necessário a sua felicidade.
Camille literalmente desaba quando recebe a notícia mais trágica de sua vida: A morte do garoto por um acidente de carro. Após um tempo, Camille tenta, em vão, reorganizar sua vida que perdeu todo o sentido. No entanto, sua tristeza vai-se transformando numa espécie de confusão de extrema carência quando transfere para o melhor amigo do seu filho, Frank, (e que estava dirigindo o veículo na hora do acidente), a ausência de seu filho querido.
Ela contrata o rapaz, convida-o para sair e cobra atitudes com uma autoridade materna impressionante. A família estranha e resolve, através de uma medida judicial, afastar Camille de Frank.
Usando de uma trilha sonora muito interessante o diretor realça as cenas com a comoção exata, como na cena em que Camille escuta um CD com a canção Mysteries de Beth Gibbons.
Com movimentos delicados de câmera Gael Morel apenas testemunha a dor da personagem e deixa que o espectador tire suas próprias conclusões. Afinal: como tranquilizar o coração dilacerado de uma mãe?
Sabendo deste dilema o diretor não coloca nenhuma outra questão e foca, basicamente, suas lentes na emoção da perda, vivida com uma comovente interpretação de Catherine Deneuve, que é a alma do filme.
A atriz consegue transmitir a emoção real da morte de um filho sem ser muito dramática nem extremamente contida. O filme termina com um primeiríssimo plano no olhar de Denuve/Camille observando Frank dormindo. Seus olhos vigiam o rapaz com uma necessidade quase fisiológica de estar com alguma figura que sustente a fantasia de algum vínculo com seu filho.
Situações visualmente chocantes, que insistem em lembrar-nos que o mundo é mau e violento, sem quaisquer intenções de amenizar tais certezas: assim é a nova versão deste filme (a original, bem mais ingênua, com John Wayne no elenco — que ganhou pelo filme o único Oscar de sua carreira —, é de 1969 e foi dirigida por Henry Hathaway). O termo "remake", porém, é refutado veementemente pelor irmãos cineastas, que dizem ter feito um outro filme, baseado apenas no livro homônimo do autor Charles Portis, lançado em 1968.
Os irmãos Coen levam ao extremo algo que torna-os únicos no panorama do Cinema norte-americano: uma dureza no olhar sobre o mundo, levada duramente à frente, mas sem nunca perder a poesia.
Utilizando recursos literários como parábolas, simbólicas passagens e citações bíblicas, os irmãos Coen estão, a cada filme, mais alinhados com sua própria tradição narrativa: grandes planos, histórias lineares, sem tramas paralelas, aspereza nas fotografias e montagens e impensáveis reviravoltas acidentais, provocadas pelo poder do acaso sobre a vida (muitas vezes, com a morte como resultado).
As atuações estão sublimes (sendo algo de praxe nos filmes dos Coen): Matt Damon num dos melhores papéis de sua carreira; Josh Brolin é uma rocha; a estreante Hailee Steinfeld demonstra um notável vigor interpretando uma garota que busca vingança a todo custo; Jeff Bridges, num impecável trabalho, enche a tela com sua persona cartunesca (o sotaque e o timbre de voz de seu personagem são provas da imersão do ator em seus melhores momentos).
Com deslumbrantes tomadas, locações (lindas paisagens do Arkansas e Texas) e fotografia, o filme também presenteia-nos com um impecável trabalho de direção de arte e figurino, uma sólida trilha sonora (fazendo jus ao legado do mestre Ennio Morricone), além de um roteiro bem amarrado e sem falhas.
Eis um grandioso épico western (gênero tão importante, do qual o Cinema norte-americano muito deve); um reflexivo e consistente trabalho. Eis o crepúsculo dos anti-heróis.
Este filme busca essencialmente uma análise tênue sobre as percepções da vida. O diretor opta por buscar os sentimentos dos personagens em detrimento da própria ação.
Na verdade, tudo que é visto não passa de um rápido momento na iminência da morte. Através de 2 amigas de comportamentos diferentes, o filme fala sobre as incertezas que o futuro apresenta e os rumos variáveis que a vida pode tomar. É um filme bonito com uma proposta bem reflexiva e sem promessas de discurso algum.
Uma Thurman dá um brilho especial ao personagem de Diana, embora Evan Rachel faça apenas o básico. Mas as duas atrizes se complementam bastante.
Os flashbacks são bem editados e o diretor consegue, aos poucos, nos oferecer um ponto de vista analítico sem forçar barra alguma.
The Dead Girl é uma típica produção independente americana. Dirigido por Karen Moncrieff e com um elenco muito legal que inclui Toni Collette, Marcia Gay Harden, James Franco, Giovani Ribisi, Mary Steenburgen dentre outros, o filme traça um pequeno painel sobre a vida de várias pessoas em torno de uma menina encontrada morta num deserto.
São ao todo cinco episódios (a estranha, a irmã, a esposa, a mãe e a menina morta) que só tem em comum a garota do título. Em cada um deles, a menina morta tem um profundo impacto em suas vidas. Karen demonstra um bom domínio sobre o roteiro (escrito por ela) sem, em nenhum momento, perder o fio da meada, como é costume em filmes que contam várias histórias alternadas. O elenco é dos trunfos deste pequeno filme.
Percebe-se nitidamente que Karen é fã assumida de Alejandro González Iñárritu e arriscou fazer algo na linha de BABEL ao traçar um panorama em torno de um tema único. Apesar de não ter todo o talento de Alejandro, Karen mantém uma poderosa linha dramática e mantém o interesse durante toda a projeção. Seus personagens nos inspiram pena e ódio e ficamos observando que rumos eles tomam diante do impasse que a vida apresenta.
Da história não há conclusões a serem retiradas, apenas fica um pensamento sobre a fragilidade humana e como estamos todos interligados neste planeta.
Divertida alegoria sobre os costumes, tradições e comportamentos humanos de um grupo de pessoas no Pelourinho em Salvador.
Ó Paí, Ó consegue superar uma enorme barreira cultural e apresenta o que o brasileiro (mais precisamente o baiano) tem de melhor: a interatividade e espontaneidade humana.
Com tipos bem característicos, Ó Paí, Ó traça um painel peculiar deste recanto colonial baiano e faz uma comédia alegre e engraçada. Monique Gardenberg, espertamente, adicionou canções de Caetano e chamou integrantes do grupo OLODUM.
O resultado é panorama bem autêntico e verossímil da "alma baiana". O filme não é hipócrita e os personagens são exóticos sem ser caricatas. Se Fellini visitasse a Bahia, certamente ele faria um filme como este.
Monique desperta um sentimento de liberdade no espectador e a vontade é de sair correndo para visitar as ladeiras do pelourinho e comer um acarajé na baiana.
Carga Explosiva (péssimo título para o Transportador) é tudo que os filmes de ação gostariam de ser e não são. A combinação de um diretor chinês, com um roteirista francês e um ator inglês deram um ótimo caldo e The Transporter virou um excelente filme de ação bem ao gosto do século XXI.
Jason Statham tem um enorme carisma na tela e mesmo caladão, o ator explora as pequenas nuances de um personagem brutamontes e radicalmente certinho. Sempre elegante e milimetricamente preciso Frank Martin (Jason) é um profissional autônomo, um mercenário que faz "entregas" sem questionar as proveniências.
A partir deste ponto, Luc Besson escreve um roteiro amarradinho com tramoias que envolvem organizações que exploram a escravidão humana. Frank Martin é quase um personagem de histórias em quadrinhos que, num ritmo bem alucinante, nunca perde a razão e a ética.
O filme tem muita adrenalina e cenas incríveis de ação, mas tudo embalado com preocupação de não entregar tudo de bandeja.
Pode chamar do que quiser, mas Jason dá de 10000 a zero em Bruces Willis, Stallones, Schwarzeneggers e Van Dammes da vida.
Três garotas em férias na Espanha conhecem três rapazes que as levam para um passeio num iate em que eles trabalham. Uma inconsequente brincadeira sexual transforma-se num pesadelo insano e uma chacina sem fim. O título em inglês (Donkey Punch) refere-se a uma prática sexual inusitada que neutraliza a pessoa, dando uma porradinha na nuca.
Com esta premissa, o diretor Oliver Blackburn faz um ágil e eficiente thriller, onde a confiança é colocada em prova a toda hora. Os personagens são jovens, bonitos, alegres, mas não tem a mínima noção de um limite. As situações vão se acumulando e os personagens agem de forma muito convincente, sem nenhum maniqueísmo. As mortes são repentinas e na metade do filme, o espectador fica tentando adivinhar quem será a próxima vítima.
O filme não é lá uma Brastemp, mas atinge em cheio o objetivo tratado. E também tem lá sua mensagem ainda que um pouco deturpada. Sexo e drogas nunca foram uma boa combinação e, neste caso, acaba mesmo em tragédia.
A vida não é só feita de festas, sexo e bebedeiras e o filme fala como a falta de uma moral mais adulta faz falta nos jovens de hoje em dia.
É um thriller eficaz, com boas doses de suspense, cenas de sexo medianas e uma boa conclusão final.
É baseado na mesma história do longa norte-americano, O Exorcismo de Emily Rose. Mas não espere cenas convencionais de terror. Pois para quem prefere o horror costumeiro, o americano ficará na frente, pelas suas boas cenas. Entretanto, em se tratando do filme em si, o trabalho do diretor Hans-Christian Schmid é bem mais técnico, usando uma câmera que limita as testemunhas: os pais da garota, os padres, a amiga, o namorado e nós.
As coisas demoram a acontecer, mas enquanto isso, somos presenteados com uma fotografia natural que soa agradável e serve como uma sustentação para o espectador se sentir melhor enquanto assiste ao filme. O diretor vai ao extremo na construção da personagem. Nela acompanhamos desde sua personalidade meiga começando a usufruir da liberdade, antes não estabelecida pelos seus pais, principalmente a mãe, até o resultado degradável de sua aparência física e principalmente psicológica.
Mesmo com um roteiro contínuo e perfeccionista, o filme falha em não expor cenas nos momentos em que nós, observadores, necessitamos de algo que nos sustente a tela. Porém, os pacientes ganharam um presente nos últimos minutos em que confirma a perfeição que é a atuação da Sandra Hüller. É fantástico como a jovem transmite a alegria, o drama e principalmente o horror. Às vezes, temos a impressão de que efeitos estão sendo colocados nas cenas e assim realçando as feições horripilantes que ela nos mostra. Para quem elogiou Jennifer Carpenter em “Emily Rose”, ajoelhem-se a Sandra Hüller .
É um filme mais teórico do que prático. Eleva tanto a religião católica que às vezes nos sentimos incomodados, assim como nosso psicológico é preso em cenas subjetivas de possessão que mesmo sendo implícitas são assustadoras.
Os EUA adoram explorar, em filmes, situações que envolvem famílias desestruturadas por perdas ou mortes. Desde o fim da 2ª guerra, Hollywood fala de esposas que perderam o marido no front e tem que se virar para educar a família. Neste filme de 2007, a situação é a mesma, apenas inverteram os sexos. Grace do título é a esposa de Stanley (John Cusack) que morre na guerra do Iraque, logo no início do filme.
Usando de todos os artifícios melodramáticos, o diretor explora uma situação banal de uma família de classe média americana. É um road movie por excelência, daqueles que os personagens vão se redescobrindo ao longo da trajetória. Stanley e suas 2 filhas partem para uma viagem até a Florida para visitar um parque temático, sonho de consumo da caçula. Sem informar as crianças sobre a morte da mãe, o pai sofre internamente e vai satisfazendo os pequenos desejos de suas filhas. Após a visita ao parque, ele dá a notícia.
Basicamente não há um conflito em toda a história e sim um enorme sentimento de perda que envolve todos os personagens com exceção da caçulinha. Os EUA adoram transmitir a ideia que a família é o alicerce principal e que só o amor constrói, mas sabemos que esta utopia fica restrita a seus filmes, pois as famílias americanas vivem em desordem e não existe esta dedicação paterna e materna que vemos nos filmes.
No entanto Grace is Gone merece uma chance pelos 3 atores principais (John Cusack e as atrizes mirins: Shélan O'keefe e Gracie Bednarczyk. Há uma grande química entre os 3 e apesar de TODOS os clichês do gênero, existe emoção nas atitudes dos personagens. É uma produção bem modesta e que vai emocionar aos mais sensíveis.
Esta co-produção da Bélgica + Alemanha + Luxemburgo + França + UK (ufa) trata de uma questão bastante curiosa:
Uma avó, no desespero de arrumar grana para o tratamento do neto com uma doença rara, vai trabalhar numa sex shop, batendo punheta nos clientes, numa espécie de glory-hole (parede com um orifício na altura do pênis). As mãos macias da senhora fazem dela, a preferida do tal lugar, que a batiza com o nome de Irina Palm.
O diretor Sam Garbarski faz um filme, no mínimo, curioso sobre o sacrifício de uma avó que não poupa esforços para salvar seu querido neto. Mas esquece-se de imprimir um tom mais intimista ao seu personagem principal, que esconde o segredo de todos, inclusive do espectador.
Não há um questionamento maior sobre o tal sacrifício pois além de Maggie/Irina ser completamente introspectiva, o filme não explora todas as possibilidades sobre tal comportamento.
A escolha da atriz/cantora Marianne Faithfull é singular, mas, em minha opinião, a atriz é limitada em expressões dramáticas. Sua expressão sofredora é sempre a mesma, seja ao lado do netinho no hospital, ou batendo punheta, ou falando com sua melhor amiga. Na verdade Marianne não tira proveito de seu riquíssimo personagem, e apresenta apenas uma faceta da enorme multiplicidade que este papel oferece.
Mas Irina Palm é extremamente interessante pela sua história que, além de falar sobre um sacrifício inusitado, fala também que a ética pode despertar nos lugares mais esquisitos e onde menos se espera.
Dirigido pelo clipeiro McG (do horroroso As Panteras 2) o filme sustenta-se basicamente nas frenéticas cenas de ação (muito bem filmadas) e no sucesso da franquia aberta pelo Schwarzenneger/ Cameron.
Há uma sequência em especial que demonstra a maturidade do diretor. É quando o helicóptero de John Connor estraçalha no solo. A câmera, que estava fora, entra pela janela e cai junto com o personagem virando de cabeça pra baixo tornando tudo caótico e ameaçador. McQ sabe que um bom domínio de câmera é importante para trazer ao espectador o impacto necessário.
Mas os roteiristas John Brancatto e Michael Ferris (do Terminator 3) esqueceram de dar o brilho necessário ao principal personagem (John Connor). O resultado fica estranho, pois quem brilha é Marcus Wright (Sam Worthington), um meio homem, meio robô que literalmente salva o filme todo.
Mas, em minha opinião, os produtores estão lixando-se para consistência ou conexões profundas. Eles querem mostrar mega explosões, perseguições espetaculares e detonar (literalmente) as bilheterias.
E isso Terminator – Salvation alcança plenamente. É uma demonstração pirotécnica cinematográfica caríssima e com efeitos impressionantes.
Esta co-produção Uruguai, Brasil e França é uma demonstração genial de como cinema pode ser politicamente engajado sem ser chato nem didático.
Ao contar a história de um povoado situado na fronteira entre o Brasil e o Uruguai a espera da visita do Papa, os diretores César Charlone e Enrique Fernandez, resumem a situação de um grupo de expatriados na América do Sul.
Digo expatriados, pois vivendo na fronteira, eles dependem tanto da economia de ambos países e estão em constante movimento entre as fronteiras. É um povo que vive na eterna iminência da miséria, fazendo bicos e contrabandeando pequenas quantidades de mantimentos.
Os diretores optaram por um olhar realístico sem muitos maniqueísmos e resgatam um cinema neorrealista ao chamar os próprios habitantes da pequena vila para viver os personagens. A identificação é imediata e o elenco escolhido responde à altura.
A pobreza mostrada no filme é bastante peculiar à nossa realidade (brasileira) e os habitantes esperam que a enorme caravana brasileira (que está para vir à vila) seja uma solução, ainda que provisória, para seus problemas. Isso demonstra a enorme interdependência entre os dois países.
Além de tudo, o filme lida com a frustração de um povo acostumado apenas a sofrer. Eles sabem que não há muito o que esperar e, há cada dia, defendem seu pequeno quinhão com uma grande, mas desmedida esperança. A chegada do Papa é uma oportunidade, quase que divina, desta situação se reverter ao menos um pouquinho.
O povo põe-se a trabalhar arduamente, casa um dentro de suas possibilidades. O papa chega e.....não tem como contar o que é, na verdade, a alma do filme.
O Banheiro do Papa é um filme inteligente, sensível, doloroso, pungente e de uma grande reflexividade para nós, sul-americanos.
Walter Lima faz parte de uma geração de cineastas brasileiros que acha que o cinema é feito apenas de imagens.
Em Os Desafinados ele caprichou no quesito alegoria e esqueceu o principal: um bom roteiro que segurasse as intermináveis 2h17m de duração.
Contando com um bom elenco, o diretor cercou-se dos melhores técnicos (vestuário, fotografia, cenografia, trila sonora, etc) para contar uma espécie de Saga da Bossa Nova. O resultado é um filme longo, arrastado e sem quase nenhum charme. As pontas soltas e abertas de um roteiro inócuo deixam de lado inúmeras questões importantes e ressaltam outras, quase sem importância nenhuma. Um exemplo é a relação do personagem de Selton Mello (Dico) com sua mãe moribunda.
Ao invés de focar suas lentes nas desventuras de 5 jovens músicos dos anos 60 que vão à Nova York tentar o sucesso, o diretor desperdiça horas e horas de projeção com passeios, pores do sol, falas sem sentido e personagens que entram e saem do filme sem razão nenhuma. O filme poderia ficar mais enxuto se o drama dos 5 rapazes fosse mais cru e verdadeiro, e os flashbacks fosse mais bem utilizados.
Em minha opinião Os Desafinados não atinge o objetivo de fazer um painel da Bossa Nova.
Ponto de Vista é interessante, se analisado sob o seguinte ângulo: O que deveria ser apenas mais um filme de ação hollywoodiana, com atores de sucesso, perseguições, explosões e reviravoltas, consegue ir um pouco mais além e fazer uma pequena reflexão sobre as conclusões e das percepções de cada um. Acredito que esta era a intenção inicial, mas estamos em Hollywood e a bilheteria fala mais alto do que as percepções de um diretor iniciante.
O roteirista quebrou a cabeça para contar e recontar o mesmo fato sob diversos ângulos. O tal atentado é acompanhado sempre sob um novo ponto de vista oferecendo ao espectador uma nova dimensão do que ele pensa que viu. O problema é a falta de coerência em determinados segmentos, pois com tantas opções, é óbvio que o roteirista acaba se confundindo.
Há enormes falhas como o "sumiço" do personagem de Sigourney Weaver como a chefe da unidade móvel de TV. Não há o seu ponto de vista, apesar dela acompanhar toda a cobertura da tragédia. De uma atriz de seu gabarito, esperava-se uma participação bem maior. A tal repórter é outro personagem esquecido pelo roteiro.
O final também apela para o corre corre tradicional dos filmes de ação. Para fazer a "liga" dos vários pontos de vista, o diretor não usa a criatividade e acaba tudo no piloto automático mesmo. A menininha perdida no trânsito é de amargar.
Dennis Quaid encarna um segurança com o espírito de um 007 e, apesar de seu personagem ser um dos principais, não explora todos as possibilidade que seu papel possui. O resto do elenco esta Ok, sem muito o que dizer, pois a grande estrela deste filme é a edição e o roteiro.
Mas acima de tudo, Ponto de Vista, não é um filme pretensioso. Mesmo com um roteiro complexo, ele acaba virando um filme simplista, direto e curto.
Fatal é um filme radicalmente feminino. Ele fala das eternas incompatibilidades entre os dois sexos, mas não as explora como deveria, já que a diretora tinha em mãos excelentes atores e um roteiro bem estruturado.
A história do sessentão culto, bem resolvido e playboizão tem pano para mangas, mas a diretora prefere não ir além do que o óbvio.
Outro ponto interessantíssimo, o qual o filme não explora profundamente, é a decadência da valores previamente estruturados em crenças de vida. O idoso bon vivant, acha que em sua comodidade criou um real bem estar psicológico, afetivo e sexual inabalável. A amizade com um amigo tão boêmio como ele, a eterna "ficante" de 20 anos, que apenas divide a cama, a distância de seu único filho, criou em David (Ben Kingsley) uma espécie de ócio de vida. A chegada da exuberante aluna Consuela (Penélope Cruz) vai abalar os alicerces deste sessentão que desmorona ante uma notícia trágica.
No entanto o filme não aprofunda esta reflexão e prefere focar o drama no personagem de Penélope.
Em minha opinião, a diretora identificou-se demais com a personagem Consuela e quis dar um encerramento feminino num filme, que ao meu ver, tem uma essência bastante masculina.
O final trágico é apelativo, mas, mesmo assim, é um filme com alguma sensibilidade e que fala de um momento importante na vida de todos nós: a velhice e as transformações que ela traz, tanto ao homem como a mulher.
O gênero thriller-ação-policial é, talvez, o mais explorado pelo cinema norte americano. Eles adoram explodir carros, assistir perseguições e tiroteios. No entanto Richard Donner, sabe que não é suficiente, apenas, mostrar a ação em si. É necessário uma boa história que envolva o espectador e o embarque na ação. E é impressionante como Richard domina o tema.
Ao contar uma história pra lá de batida, sobre um policial cansado e viciado em birita que tem que levar um zé ninguém até ao tribunal, 16 quadras adiante, o diretor faz render um ótimo filme de ação policial.
A direção segura de Richard consegue ir mais além, e até transforma o cantor de rap Mos Def, em ator plausível. Seu personagem além de chato é inconveniente ao extremo, mas mesmo assim, nos cativa pela ingenuidade de sua interpretação.
Bruce Willis, apesar de ser um ator limitado, tem um grande carisma e sua fama de durão já esta consolidada. Ele assume o papel do detetive Jack Mosley com uma enorme convicção. O filme transcorre agilmente e envolve o espectador até os segundos finais, aderindo, ainda por cima, alguma dose de emoção, coisa rara neste gênero de filmes.
O roteiro contém enormes furos e percebe-se alguns erros de edição, mas nada disso prejudica o andamento do filme.
Bobagem típica de Hollywood com um sub enredo pra lá de chato e tedioso. Os personagens são esteriótipos puro e não há ligação entre eles.
O casal apaixonado não me convenceu e, após a morte do cara, Hilary continua tão tranquila quanto antes. Não há nenhuma emoção da perda e da falta do amor de sua vida.
Os (bons) atores são desperdiçados em papelzinhos manjadíssimos. Não entendo com uma atriz consagrada com Hilary Swank comete um erro ao aceitar este papel que poderia muito bem ser uma atrizinha americana qualquer.
E Kathy Bates? Meu deus...o agente dela só pode ter sacaneado. Que papel é este? Acho que ganhar um Oscar faz o ator descer a ladeira mesmo. Quem viu ela em O Dia que a Terra Parou sabe o que estou dizendo.
Enfim: O filme é uma bobagem açucarada, enjoadinha e com ZERO de romance. Eu até gosto de algumas comediazinhas americanas, mas esta é um enjoo puro.
Filmes de crocodilos assassinos sempre foram uma verdadeira mania. E a maioria vem da Austrália, terra onde eles são abundantes. (No Brasil não há crocodilos, apenas os raquíticos jacarés do Pantanal).
Apesar da mesmice, Rogue sobressai. O filme é extremamente bem conduzido e não há aquelas piadinhas infames, tão frequente em filmes americanos sobre os bichões (como em Pânico no Lago, etc).
O diretor conduz o filme inteiro numa linha de pavor súbito, bastante tensa e plausível, apesar de algumas situações serem extremamente absurdas.
Mas é aí que está a diferença. Apesar do contra senso de algumas circunstâncias que o roteiro apresenta, o diretor consegue passar por cima e nos indica exatamente onde ele quer chegar: na medula do suspense.
É um filme descartável, mas delicioso de assistir. É muito maneiro tentar adivinhar quem será a próxima vítima. Radha Mitchel (Melinda e Melinda e Silent Hill) foi uma excelente escolha para a guia da excursão pelo rio. Ela transmite a real sensação de susto que o personagem pede. Michael Vartan na pele do mocinho apalermado, defende muito bem seu papel, apesar do desfecho final ser ridículo.
Rogue atinge seu objetivo e duvido que alguém deixe de ver o filme pela metade.
David Mamet deveria ficar apenas escrevendo roteiros, pois na direção de REDBELT ele dá provas que não é capaz de manter nenhuma linha associativa com o que ele mesmo escreveu.
Apesar do roteiro ter um foco interessantíssimo sobre a ética e a ambição de um tipo de arte marcial (o jiu jitsu brasileiro), o diretor não consegue transmitir o potencial que está embutido em suas próprias palavras. E isto é a prova que cinema e literatura são artes diferentes que, às vezes, não se esbarram, pois um ótimo livro vira um péssimo filme e vice e versa.
David Mamet não explora as nuances de seu roteiro repleto de detalhes minimalistas e, está óbvio, que determinadas cenas só fazem sentido para ele mesmo. Cinturão Vermelho seria um excelente livro e mereceria ser um filme melhor se dirigido por um diretor mais competente na arte cinematográfica.
O filme fala das dificuldades de um lutador profissional que tem como fundamento, a ética e a sabedoria aprendida nas artes marciais. Dono de uma academia falida ele contesta sua arte como forma de ganhar a vida através de lutas forçadas. Mas uma série de circunstâncias o levam a reconsiderar e entrar numa competição cujo principal prêmio são 50 mil dólares e o tal cinturão vermelho.
Os vários personagens que permeiam esta história, bastante sutil, são: a esposa brasileira (Alice Braga), os amigos da academia, uma estranha advogada vítima de um estupro, um grupo de especuladores, uns lutadores sem escrúpulos, um mágico nipo americano, e um ator de cinema. Todos conspiram contra a batalha de Mike Terry (Chiwetel Ejiofor) para sustentar sua disciplina ideológica.
As intenções altruístas do diretor são dignas de algum merecimento, mas o filme fica chatíssimo após 30 minutos passados. Ninguém aguenta assistir tanto julgamento e distinções ideológicas.
O elenco é globalizado e tenta, em vão, sustentar a falta de intimidade do diretor com uma direção mais segura. David deve mesmo continuar apenas escrevendo roteiros.
Ouro e Maldição
4.1 32 Assista AgoraMuitas curiosidades rondam este majestoso e mítico filme, que ficou conhecido como “o filme perdido” ou “a obra incompleta” mais importante da história do cinema. A versão original tinha cerca de 9 horas de duração e o produtor executivo Irving Thalberg mandou reduzir a pouco mais de 2 horas. Naquela época era comum os estúdios reaproveitarem o nitrato de prata contido nas películas, dificilmente uma matriz original era preservada (sim, uma porção de filmes mudos foi extinta para sempre). Foi esse o provável destino das 7 horas excedentes desse, ainda que muita gente prefira acreditar que o material esteja num sótão qualquer, esperando um dia para ser descoberto. Seja o que for, existe uma versão restaurada de 4 horas, lançada nos anos 90, contendo as sequências já conhecidas mundo afora, acrescidas de fotos e intertítulos das cenas desaparecidas, permitindo aos cinéfilos terem uma noção do que o seu autor tinha em mente.
A MGM terminou por excluir dois enredos paralelos da versão oficial, mantendo somente a história do minerador McTeague (Gibson Gowland). Por décadas, o público ignorou a história dos vizinhos idosos que se amavam em segredo ou da vendedora de bilhetes de loteria que é assassinada pelo desconfiado e sinistro companheiro. Na verdade, ambas as tramas não fazem falta, embora haja aquela sensação de que poderiam ser base para outros dois grandes filmes. Sabe-se que Stroheim quis fazer uma adaptação fidelíssima da mais célebre novela do escritor naturalista americano Frank Norris. Irving Thalberg não botou fé, julgava que as plateias não se interessariam, que o filme era extremamente obscuro e pessimista, mesmo assim resolveu bancar o projeto.
“Quando falta dinheiro, o amor sai pela janela”, diz um ditado popular francês. A mensagem de Ouro e Maldição é quase um inverso (e, ao mesmo tempo, uma conclusão) desse pensamento. Há controvérsias quanto ao dinheiro trazer felicidade. O título original do filme (Greed) significa avareza, o pecado capital que permeia a história e que provoca a transformação radical de Trina (Zasu Pitts), personagem que, a princípio, é vista como uma moça ingênua, delicada e temerosa. Na segunda metade da fita, porém, após ganhar 5.000 dólares na loteria e se casar com McTeague, ela vira outra pessoa, um poço de mesquinhez. Em determinado momento, ela chega a forrar a cama com moedas de ouro e dorme sobre a própria fortuna, uma versão feminina do Tio Patinhas. A relação com o marido, de quem esconde cada centavo que acumula, vai se deteriorando aos poucos, ganhando proporções trágicas.
O dinheiro também modifica a conduta de McTeague, como não poderia deixar de ser, porém num plano mais metafísico. A agressividade o possui para saciar um desejo de passar o dia com os amigos no bar, gastar com coisas inúteis e tipicamente masculinas (analogia aos vícios do pai de McTeague, que é visto apenas por fotos da versão estendida). Ele não é mau, a decadência lhe extrai um pouco da moralidade. Sua origem é humilde, trabalhava como minerador de ouro numa cidadezinha rural da Califórnia até aprender uma profissão com um dentista. McTeague resolveu ir a San Francisco e logo se viu numa boa situação ao herdar as economias da mãe e abrir uma clínica odontológica. Entre um cliente e outro, conheceu Trina, que já estava comprometida com um sujeito chamado Marcus (Jean Hersholt), amigo de McTeague. Contrariando as expectativas, os dois amigos não brigaram de imediato, Marcus praticamente ofereceu Trina ao falso dentista sem nenhum interesse. Tudo é conduzido de maneira leve e idílica até o momento em que a moça ganha na loteria. É quando a maldição de fato começa...
Apresentados o problema e os personagens, o script caminha num vagaroso e detalhado desenrolar de desentendimentos e cobranças. McTeague, Trina e Marcus adquirem novas personalidades, sendo os dois últimos os que mais surpreendem. O ex-minerador segue como uma criança grande, fazendo o que os adultos lhe ordenam, reclamando às vezes e reagindo quando contrariado. A estranha sensibilidade de McTeague é simbolizada por uma paixão que cultiva pelos pássaros. No dia do casamento, oferece à esposa um casal de canários amarelos, animais que acabam representando o clima da casa em algumas tomadas (quando McTeague e Trina estão a sós na noite de núpcias, os pássaros dão a impressão de se beijar; quando McTeague e Trina estão discutindo, os pássaros parecem brigar). As intrigas levam o filme a um clímax ambientado na região desértica do Vale da Morte, entre a Califórnia e Nevada. Os produtores queriam que o final fosse rodado em estúdio, mas Stroheim, como sempre, fez a sua maneira: levou todo mundo para o deserto, onde os equipamentos precisavam ser resfriados com toalhas geladas a todo instante. O ator Jean Hersholt chegou a passar mal devido o forte calor e a desidratação (a água de toda a equipe foi racionada!), precisando ser hospitalizado durante as filmagens.
Quase 100 anos se passaram e Ouro e Maldição ainda motiva uma infinidade de histórias, reafirmando a própria lenda. As moedas de ouro espalhadas pela terra árida do Vale da Morte encontram resposta na aclamação máxima da crítica que a fita recebeu tardiamente. Talvez não tão tarde assim. Já nos anos 50, a revista inglesa Sight & Sound publicou sua primeira lista com as 10 maiores obras-primas do cinema de todos os tempos, colocando Ouro e Maldição no 7º lugar, posto respeitável para um trabalho “mutilado” (de acordo com as amargas e ressentidas palavras de Stroheim). Embora mutilado, é um filme de valor incalculável.
Lourdes
3.7 12Até que ponto o ser humano necessita das religiões? Até que ponto a fé pode ser explorada e especulada? E por que e para que queremos nos curar? Esta pequena obra escrita e dirigida pela diretora austríaca Jessica Hausner discute estas questões e põe à prova o verdadeiro poder da fé curativa que existe dentro de nós.
Através de um grupo de peregrinos que vão a Lourdes – espécie de Meca católica no Vale dos Pirineus – numa romaria, Jessica faz um perfil interessantíssimo do ser humano.
Christine (a fantástica Sylvie Testud) é uma mulher extremamente dependente acometida de uma paralisia geral, que faz parte de um grupo de cura. Acompanhada de uma jovem enfermeira com os hormônios em ebulição e sua mãe, Christine em determinado ponto, confessa não ter muita fé católica e que as romarias são uma boa oportunidade para sair de casa e quebrar sua monótona rotina.
No entanto, Christine começa a movimentar-se e recuperar os movimentos das pernas e braços, tornando-se um símbolo de um milagre atribuído a Virgem Maria. O grupo, então, começa a questionar o merecimento da cura da mulher, e alguns até invejam a sua recuperação fazendo, deste jeito, um interessante painel do ser humano com suas idiossincrasias, virtudes e defeitos.
Jessica direciona todo o filme para a exploração do indivíduo sem abrir espaços para outras considerações de ordem espirituais ou místicas, centrando a narrativa apenas nas reações dos personagens do grupo. Há a rígida obreira chefa que sofre em silêncio, o padre que apenas repete os dogmas antiquados, as jovens obreiras ansiosas para dar uma escapadinha, os guardas aproveitadores, as idosas carolas que cuja principal função é criticar e etc.
Filmado inteiramente no santuário de Lourdes com o apoio da Igreja Católica, o filme apenas observa as pessoas com suas eternas deficiências morais e/ou físicas sem maiores questionamentos, trazendo à tona um curioso hábito bastante humano:
Estamos sempre à frente de nossos desejos, pois quando os realizamos, imediatamente substituímos por outros. É um eterno devir...
Conduzindo Miss Daisy
3.9 415 Assista AgoraBaseado na peça ganhadora do prêmio Pulitzer e ganhador do Oscar de melhor filme de 1990, Conduzindo Miss Daisy, na verdade, possui a estrutura típica dos melodramas americanos.
Com o roteiro adaptado pelo próprio escritor – Alfred Uhry – o filme faz uma ligeira comparação entre os oprimidos e renegados através da singela história de uma judia idosa – a Miss Daisy do título – com Hoke, seu chofer negro.
Utilizando, como pano de fundo, as transformações históricas americanas (Martin Luther King, Coca Cola, as trocas dos carros) para, assim, definir melhor a passagem do tempo (também mostrada através das estações do ano) o filme trabalha basicamente com o mesmo esquema que sempre deu certo (e é usado até hoje) nas produções norte-americanas: casal, ou dupla, em posições diferentes e/ou antagônicas descobrem, que através do contato humano, podem reconciliar-se e encontrar a verdadeira união.
A direção do australiano Bruce Beresford (que amargou alguns fracassos após Miss Daisy) é linear embora se perceba, em diversos momentos, algum um apuro técnico subjetivo como, por exemplo, a apresentação da personagem principal. Bruce faz sempre questão de mostrar Miss Daisy através de molduras de portas e janelas de sua casa insinuando com isso a rigidez de sua postura. Somente quando Hook transpassa estes limites que percebemos a mudança em Miss Daisy.
A edição a cargo de Mark Warner (Dolores Clairborne) evita que a narrativa seja transformada em meros capítulos adquirindo um ritmo sem desvios na trajetória entre os dois personagens principais ao longo dos anos.
Jessica Tandy e Morgan Freeman exibem uma química carinhosa incrível. A dupla de atores conquista quem está assistindo através de pequenos tiques de seus personagens. O Hook de Freeman, por exemplo, é um negro velho comunicativo, embora abandonado pelos seus entes queridos, que vaga por um país repleto de preconceitos, e ansioso por um vínculo mais justo. Jessica Tandy (então com 81 anos) faz a rabugenta Miss Daisy com a elegância das grandes damas do teatro.
Na verdade o foco principal de Conduzindo Miss Daisy é a união dos desprezados e excluídos pela sociedade, neste caso, um negro e uma idosa judia. Ao unir estes dois segmentos, numa tocante cena final no asilo, a história envia a antiga, mas enaltecedora, mensagem de que o mundo seria bem melhor sem a segregação racial e o preconceito de que o idoso é um ser imprestável.
O Homem Elefante
4.4 1,0K Assista AgoraComo decifrar os limites da alma humana? Qual o início e o término da fronteira entre o sociável e a demência? Entre o a deturpação e a ética? Estas (e tantas outras) questões são feitas por Frederik Treves, renomado médico anatomista que cuidou de John Merrick – o homem elefante – enquanto este esteve sob seus cuidados no Hospital de Londres no final do século 19.
Baseado nos diários do Dr. Frederik (The Elephant Man and Other Reminiscences) e no livro de Ashley Montagu (The Elephant Man: A Study in Human Dignity), David Lynch montou um poderoso retrato sobre os paradigmas de uma sociedade em constante transformação.
Abrindo mão de ser historicamente correto, o filme não é uma biografia de John Merrick, um ser humano deformado e verdadeiro que viveu numa Inglaterra Vitoriana, às vésperas da Revolução Industrial. O roteiro apenas utiliza os personagens reais para traçar um painel sobre a conduta de uma sociedade apenas acostumada a perceber o evidente, sem se dar conta do gigantesco universo humano que está por trás das aparências.
Merrick era visto como uma aberração da ciência, até mesmo para o Dr. Frederick (Anthony Hopkins) que ao vê-lo pela primeira vez, chora silenciosamente, numa cena de tirar o fôlego. Levado ao Hospital Geral de Londres, Merrick é analisado e exibido como uma revelação científica, sendo aplaudido pelos colegas e tendo o reconhecimento de sua classe. É neste ponto que o médico começa a perceber que também utiliza o homem elefante como uma forma de ostentação e começa a questionar suas atitudes.
O filme, então, ganha contornos muito mais complexos do que as imagens possam oferecer.
Rodado numa maravilhosa fotografia P&B (do também ator Freddie Francis) que ressalta a cegueira da sociedade Vitoriana, O Homem Elefante de Lynch é um conto lúgubre e triste sobre o monstro interno que habita em todos nós. Lynch começa sua obra com uma grande capacidade de síntese alternando imagens do rosto angelical da mãe de Merrick com a de elefantes de pele rugosa.
A montagem utiliza os recursos fotográficos fechando ou abrindo as sequências da escuridão para a extrema claridade e vice-versa.
A grande habilidade de Lynch está em driblar os clichês emocionais de uma história com um caráter essencialmente melodramático e transformá-la numa discussão da conduta humana fazendo a ponte entre o desprezível e a distinção. Os exemplos são muitos, mas fica evidente na cena onde uma escória humana suja, podre e fétida invade o quarto, sem trancas, do indefeso, mas puro, homem elefante.
Além do mais, o filme relaciona-se com outras obras sobre deformados rejeitados pela sociedade, como em O Corcunda da Notre Dame e O Enigma de Kaspar Hauser.
A grandeza do espírito de Merrick emociona a todos sem apelações baratas nem demagogias e imediatamente nos identificamos com sua triste sina, afinal quem nunca foi rejeitado ou sentiu-se humilhado na vida? A cena onde Merrick arruma seu leito de morte é de cortar o coração até dos mais insensíveis.
O Homem Elefante é um clássico do cinema moderno.
Koyaanisqatsi - Uma Vida Fora de Equilíbrio
4.4 236 Assista AgoraDizer algo sobre esse longa é um risco, já que qualquer palavra parece ser muito para comentar um filme que não precisa de nenhuma para passar sua mensagem. Mas "homens de palavras que somos" como diria Foucault, temos que dizer alguma coisa sobre o que nos toca.
Koyaanisqatsi não é um filme como os outros. É muito mais uma experiência cinematográfica onde o que é "pano de fundo" nos filmes convencionais é colocado em primeiro plano. Fotografia, montagem, trilha sonora, são mais evidenciados que o roteiro ou a mensagem explícita. É um filme pra ser sentido, não interpretado.
É claro que existe uma lógica que atravessa seus 87 minutos de duração, mas nem isso é mais importante que os sentimentos que vêm à tona durante a reprodução.
É um filme ambicioso, bonito e original, apesar de já ter mais de 35 anos. Recomendado a qualquer pessoa de qualquer idade em qualquer lugar do mundo, pois "Koyaanisqatsi" é um épico protagonizado pela própria humanidade.
Perigosa Obsessão
3.3 7Este pequeno drama íntimo e pessoal é uma espécie de pequena joia do Cinema. A produção francesa conta, em ritmo elegante, como o sofrimento da perda de alguém muito querido é transferido para algo (ou alguém) que ajude a suportar a dor.
Catherine Deneuve é Camille, uma elegante senhora que cria o filho de 20 e poucos anos, com total liberdade. Separada e dona de seu próprio negócio, ela compactua com as amizades do rapaz e dá todo suporte necessário a sua felicidade.
Camille literalmente desaba quando recebe a notícia mais trágica de sua vida: A morte do garoto por um acidente de carro. Após um tempo, Camille tenta, em vão, reorganizar sua vida que perdeu todo o sentido. No entanto, sua tristeza vai-se transformando numa espécie de confusão de extrema carência quando transfere para o melhor amigo do seu filho, Frank, (e que estava dirigindo o veículo na hora do acidente), a ausência de seu filho querido.
Ela contrata o rapaz, convida-o para sair e cobra atitudes com uma autoridade materna impressionante. A família estranha e resolve, através de uma medida judicial, afastar Camille de Frank.
Usando de uma trilha sonora muito interessante o diretor realça as cenas com a comoção exata, como na cena em que Camille escuta um CD com a canção Mysteries de Beth Gibbons.
Com movimentos delicados de câmera Gael Morel apenas testemunha a dor da personagem e deixa que o espectador tire suas próprias conclusões. Afinal: como tranquilizar o coração dilacerado de uma mãe?
Sabendo deste dilema o diretor não coloca nenhuma outra questão e foca, basicamente, suas lentes na emoção da perda, vivida com uma comovente interpretação de Catherine Deneuve, que é a alma do filme.
A atriz consegue transmitir a emoção real da morte de um filho sem ser muito dramática nem extremamente contida. O filme termina com um primeiríssimo plano no olhar de Denuve/Camille observando Frank dormindo. Seus olhos vigiam o rapaz com uma necessidade quase fisiológica de estar com alguma figura que sustente a fantasia de algum vínculo com seu filho.
É de arrepiar.
Bravura Indômita
3.9 1,4K Assista AgoraSituações visualmente chocantes, que insistem em lembrar-nos que o mundo é mau e violento, sem quaisquer intenções de amenizar tais certezas: assim é a nova versão deste filme (a original, bem mais ingênua, com John Wayne no elenco — que ganhou pelo filme o único Oscar de sua carreira —, é de 1969 e foi dirigida por Henry Hathaway). O termo "remake", porém, é refutado veementemente pelor irmãos cineastas, que dizem ter feito um outro filme, baseado apenas no livro homônimo do autor Charles Portis, lançado em 1968.
Os irmãos Coen levam ao extremo algo que torna-os únicos no panorama do Cinema norte-americano: uma dureza no olhar sobre o mundo, levada duramente à frente, mas sem nunca perder a poesia.
Utilizando recursos literários como parábolas, simbólicas passagens e citações bíblicas, os irmãos Coen estão, a cada filme, mais alinhados com sua própria tradição narrativa: grandes planos, histórias lineares, sem tramas paralelas, aspereza nas fotografias e montagens e impensáveis reviravoltas acidentais, provocadas pelo poder do acaso sobre a vida (muitas vezes, com a morte como resultado).
As atuações estão sublimes (sendo algo de praxe nos filmes dos Coen): Matt Damon num dos melhores papéis de sua carreira; Josh Brolin é uma rocha; a estreante Hailee Steinfeld demonstra um notável vigor interpretando uma garota que busca vingança a todo custo; Jeff Bridges, num impecável trabalho, enche a tela com sua persona cartunesca (o sotaque e o timbre de voz de seu personagem são provas da imersão do ator em seus melhores momentos).
Com deslumbrantes tomadas, locações (lindas paisagens do Arkansas e Texas) e fotografia, o filme também presenteia-nos com um impecável trabalho de direção de arte e figurino, uma sólida trilha sonora (fazendo jus ao legado do mestre Ennio Morricone), além de um roteiro bem amarrado e sem falhas.
Eis um grandioso épico western (gênero tão importante, do qual o Cinema norte-americano muito deve); um reflexivo e consistente trabalho. Eis o crepúsculo dos anti-heróis.
Sem Medo de Morrer
3.3 176Este filme busca essencialmente uma análise tênue sobre as percepções da vida. O diretor opta por buscar os sentimentos dos personagens em detrimento da própria ação.
Na verdade, tudo que é visto não passa de um rápido momento na iminência da morte. Através de 2 amigas de comportamentos diferentes, o filme fala sobre as incertezas que o futuro apresenta e os rumos variáveis que a vida pode tomar. É um filme bonito com uma proposta bem reflexiva e sem promessas de discurso algum.
Uma Thurman dá um brilho especial ao personagem de Diana, embora Evan Rachel faça apenas o básico. Mas as duas atrizes se complementam bastante.
Os flashbacks são bem editados e o diretor consegue, aos poucos, nos oferecer um ponto de vista analítico sem forçar barra alguma.
A Garota Morta
3.2 133 Assista AgoraThe Dead Girl é uma típica produção independente americana. Dirigido por Karen Moncrieff e com um elenco muito legal que inclui Toni Collette, Marcia Gay Harden, James Franco, Giovani Ribisi, Mary Steenburgen dentre outros, o filme traça um pequeno painel sobre a vida de várias pessoas em torno de uma menina encontrada morta num deserto.
São ao todo cinco episódios (a estranha, a irmã, a esposa, a mãe e a menina morta) que só tem em comum a garota do título. Em cada um deles, a menina morta tem um profundo impacto em suas vidas. Karen demonstra um bom domínio sobre o roteiro (escrito por ela) sem, em nenhum momento, perder o fio da meada, como é costume em filmes que contam várias histórias alternadas. O elenco é dos trunfos deste pequeno filme.
Percebe-se nitidamente que Karen é fã assumida de Alejandro González Iñárritu e arriscou fazer algo na linha de BABEL ao traçar um panorama em torno de um tema único. Apesar de não ter todo o talento de Alejandro, Karen mantém uma poderosa linha dramática e mantém o interesse durante toda a projeção. Seus personagens nos inspiram pena e ódio e ficamos observando que rumos eles tomam diante do impasse que a vida apresenta.
Da história não há conclusões a serem retiradas, apenas fica um pensamento sobre a fragilidade humana e como estamos todos interligados neste planeta.
Ó Paí, Ó
3.2 474Divertida alegoria sobre os costumes, tradições e comportamentos humanos de um grupo de pessoas no Pelourinho em Salvador.
Ó Paí, Ó consegue superar uma enorme barreira cultural e apresenta o que o brasileiro (mais precisamente o baiano) tem de melhor: a interatividade e espontaneidade humana.
Com tipos bem característicos, Ó Paí, Ó traça um painel peculiar deste recanto colonial baiano e faz uma comédia alegre e engraçada. Monique Gardenberg, espertamente, adicionou canções de Caetano e chamou integrantes do grupo OLODUM.
O resultado é panorama bem autêntico e verossímil da "alma baiana". O filme não é hipócrita e os personagens são exóticos sem ser caricatas. Se Fellini visitasse a Bahia, certamente ele faria um filme como este.
Monique desperta um sentimento de liberdade no espectador e a vontade é de sair correndo para visitar as ladeiras do pelourinho e comer um acarajé na baiana.
Carga Explosiva
3.3 341 Assista AgoraCarga Explosiva (péssimo título para o Transportador) é tudo que os filmes de ação gostariam de ser e não são. A combinação de um diretor chinês, com um roteirista francês e um ator inglês deram um ótimo caldo e The Transporter virou um excelente filme de ação bem ao gosto do século XXI.
Jason Statham tem um enorme carisma na tela e mesmo caladão, o ator explora as pequenas nuances de um personagem brutamontes e radicalmente certinho. Sempre elegante e milimetricamente preciso Frank Martin (Jason) é um profissional autônomo, um mercenário que faz "entregas" sem questionar as proveniências.
A partir deste ponto, Luc Besson escreve um roteiro amarradinho com tramoias que envolvem organizações que exploram a escravidão humana. Frank Martin é quase um personagem de histórias em quadrinhos que, num ritmo bem alucinante, nunca perde a razão e a ética.
O filme tem muita adrenalina e cenas incríveis de ação, mas tudo embalado com preocupação de não entregar tudo de bandeja.
Pode chamar do que quiser, mas Jason dá de 10000 a zero em Bruces Willis, Stallones, Schwarzeneggers e Van Dammes da vida.
Prazeres Mortais
2.5 69Prazeres Mortais é uma produção independente inglesa, filmada na África do Sul, que tem medidas exatas de suspense e thriller.
Três garotas em férias na Espanha conhecem três rapazes que as levam para um passeio num iate em que eles trabalham. Uma inconsequente brincadeira sexual transforma-se num pesadelo insano e uma chacina sem fim. O título em inglês (Donkey Punch) refere-se a uma prática sexual inusitada que neutraliza a pessoa, dando uma porradinha na nuca.
Com esta premissa, o diretor Oliver Blackburn faz um ágil e eficiente thriller, onde a confiança é colocada em prova a toda hora. Os personagens são jovens, bonitos, alegres, mas não tem a mínima noção de um limite. As situações vão se acumulando e os personagens agem de forma muito convincente, sem nenhum maniqueísmo. As mortes são repentinas e na metade do filme, o espectador fica tentando adivinhar quem será a próxima vítima.
O filme não é lá uma Brastemp, mas atinge em cheio o objetivo tratado. E também tem lá sua mensagem ainda que um pouco deturpada. Sexo e drogas nunca foram uma boa combinação e, neste caso, acaba mesmo em tragédia.
A vida não é só feita de festas, sexo e bebedeiras e o filme fala como a falta de uma moral mais adulta faz falta nos jovens de hoje em dia.
É um thriller eficaz, com boas doses de suspense, cenas de sexo medianas e uma boa conclusão final.
Requiem
3.2 79É baseado na mesma história do longa norte-americano, O Exorcismo de Emily Rose. Mas não espere cenas convencionais de terror. Pois para quem prefere o horror costumeiro, o americano ficará na frente, pelas suas boas cenas. Entretanto, em se tratando do filme em si, o trabalho do diretor Hans-Christian Schmid é bem mais técnico, usando uma câmera que limita as testemunhas: os pais da garota, os padres, a amiga, o namorado e nós.
As coisas demoram a acontecer, mas enquanto isso, somos presenteados com uma fotografia natural que soa agradável e serve como uma sustentação para o espectador se sentir melhor enquanto assiste ao filme. O diretor vai ao extremo na construção da personagem. Nela acompanhamos desde sua personalidade meiga começando a usufruir da liberdade, antes não estabelecida pelos seus pais, principalmente a mãe, até o resultado degradável de sua aparência física e principalmente psicológica.
Mesmo com um roteiro contínuo e perfeccionista, o filme falha em não expor cenas nos momentos em que nós, observadores, necessitamos de algo que nos sustente a tela. Porém, os pacientes ganharam um presente nos últimos minutos em que confirma a perfeição que é a atuação da Sandra Hüller. É fantástico como a jovem transmite a alegria, o drama e principalmente o horror. Às vezes, temos a impressão de que efeitos estão sendo colocados nas cenas e assim realçando as feições horripilantes que ela nos mostra. Para quem elogiou Jennifer Carpenter em “Emily Rose”, ajoelhem-se a Sandra Hüller .
É um filme mais teórico do que prático. Eleva tanto a religião católica que às vezes nos sentimos incomodados, assim como nosso psicológico é preso em cenas subjetivas de possessão que mesmo sendo implícitas são assustadoras.
Nossa Vida Sem Grace
3.4 61 Assista AgoraOs EUA adoram explorar, em filmes, situações que envolvem famílias desestruturadas por perdas ou mortes. Desde o fim da 2ª guerra, Hollywood fala de esposas que perderam o marido no front e tem que se virar para educar a família. Neste filme de 2007, a situação é a mesma, apenas inverteram os sexos. Grace do título é a esposa de Stanley (John Cusack) que morre na guerra do Iraque, logo no início do filme.
Usando de todos os artifícios melodramáticos, o diretor explora uma situação banal de uma família de classe média americana. É um road movie por excelência, daqueles que os personagens vão se redescobrindo ao longo da trajetória. Stanley e suas 2 filhas partem para uma viagem até a Florida para visitar um parque temático, sonho de consumo da caçula. Sem informar as crianças sobre a morte da mãe, o pai sofre internamente e vai satisfazendo os pequenos desejos de suas filhas. Após a visita ao parque, ele dá a notícia.
Basicamente não há um conflito em toda a história e sim um enorme sentimento de perda que envolve todos os personagens com exceção da caçulinha. Os EUA adoram transmitir a ideia que a família é o alicerce principal e que só o amor constrói, mas sabemos que esta utopia fica restrita a seus filmes, pois as famílias americanas vivem em desordem e não existe esta dedicação paterna e materna que vemos nos filmes.
No entanto Grace is Gone merece uma chance pelos 3 atores principais (John Cusack e as atrizes mirins: Shélan O'keefe e Gracie Bednarczyk. Há uma grande química entre os 3 e apesar de TODOS os clichês do gênero, existe emoção nas atitudes dos personagens. É uma produção bem modesta e que vai emocionar aos mais sensíveis.
Irina Palm
3.9 73Esta co-produção da Bélgica + Alemanha + Luxemburgo + França + UK (ufa) trata de uma questão bastante curiosa:
Uma avó, no desespero de arrumar grana para o tratamento do neto com uma doença rara, vai trabalhar numa sex shop, batendo punheta nos clientes, numa espécie de glory-hole (parede com um orifício na altura do pênis). As mãos macias da senhora fazem dela, a preferida do tal lugar, que a batiza com o nome de Irina Palm.
O diretor Sam Garbarski faz um filme, no mínimo, curioso sobre o sacrifício de uma avó que não poupa esforços para salvar seu querido neto. Mas esquece-se de imprimir um tom mais intimista ao seu personagem principal, que esconde o segredo de todos, inclusive do espectador.
Não há um questionamento maior sobre o tal sacrifício pois além de Maggie/Irina ser completamente introspectiva, o filme não explora todas as possibilidades sobre tal comportamento.
A escolha da atriz/cantora Marianne Faithfull é singular, mas, em minha opinião, a atriz é limitada em expressões dramáticas. Sua expressão sofredora é sempre a mesma, seja ao lado do netinho no hospital, ou batendo punheta, ou falando com sua melhor amiga. Na verdade Marianne não tira proveito de seu riquíssimo personagem, e apresenta apenas uma faceta da enorme multiplicidade que este papel oferece.
Mas Irina Palm é extremamente interessante pela sua história que, além de falar sobre um sacrifício inusitado, fala também que a ética pode despertar nos lugares mais esquisitos e onde menos se espera.
O Exterminador do Futuro: A Salvação
3.3 768 Assista AgoraDirigido pelo clipeiro McG (do horroroso As Panteras 2) o filme sustenta-se basicamente nas frenéticas cenas de ação (muito bem filmadas) e no sucesso da franquia aberta pelo Schwarzenneger/ Cameron.
Há uma sequência em especial que demonstra a maturidade do diretor. É quando o helicóptero de John Connor estraçalha no solo. A câmera, que estava fora, entra pela janela e cai junto com o personagem virando de cabeça pra baixo tornando tudo caótico e ameaçador. McQ sabe que um bom domínio de câmera é importante para trazer ao espectador o impacto necessário.
Mas os roteiristas John Brancatto e Michael Ferris (do Terminator 3) esqueceram de dar o brilho necessário ao principal personagem (John Connor). O resultado fica estranho, pois quem brilha é Marcus Wright (Sam Worthington), um meio homem, meio robô que literalmente salva o filme todo.
Mas, em minha opinião, os produtores estão lixando-se para consistência ou conexões profundas. Eles querem mostrar mega explosões, perseguições espetaculares e detonar (literalmente) as bilheterias.
E isso Terminator – Salvation alcança plenamente. É uma demonstração pirotécnica cinematográfica caríssima e com efeitos impressionantes.
Nada além disso.
O Banheiro do Papa
4.0 160Esta co-produção Uruguai, Brasil e França é uma demonstração genial de como cinema pode ser politicamente engajado sem ser chato nem didático.
Ao contar a história de um povoado situado na fronteira entre o Brasil e o Uruguai a espera da visita do Papa, os diretores César Charlone e Enrique Fernandez, resumem a situação de um grupo de expatriados na América do Sul.
Digo expatriados, pois vivendo na fronteira, eles dependem tanto da economia de ambos países e estão em constante movimento entre as fronteiras. É um povo que vive na eterna iminência da miséria, fazendo bicos e contrabandeando pequenas quantidades de mantimentos.
Os diretores optaram por um olhar realístico sem muitos maniqueísmos e resgatam um cinema neorrealista ao chamar os próprios habitantes da pequena vila para viver os personagens. A identificação é imediata e o elenco escolhido responde à altura.
A pobreza mostrada no filme é bastante peculiar à nossa realidade (brasileira) e os habitantes esperam que a enorme caravana brasileira (que está para vir à vila) seja uma solução, ainda que provisória, para seus problemas. Isso demonstra a enorme interdependência entre os dois países.
Além de tudo, o filme lida com a frustração de um povo acostumado apenas a sofrer. Eles sabem que não há muito o que esperar e, há cada dia, defendem seu pequeno quinhão com uma grande, mas desmedida esperança. A chegada do Papa é uma oportunidade, quase que divina, desta situação se reverter ao menos um pouquinho.
O povo põe-se a trabalhar arduamente, casa um dentro de suas possibilidades. O papa chega e.....não tem como contar o que é, na verdade, a alma do filme.
O Banheiro do Papa é um filme inteligente, sensível, doloroso, pungente e de uma grande reflexividade para nós, sul-americanos.
Vale e muito dar uma olhada.
Os Desafinados
3.1 119 Assista AgoraWalter Lima faz parte de uma geração de cineastas brasileiros que acha que o cinema é feito apenas de imagens.
Em Os Desafinados ele caprichou no quesito alegoria e esqueceu o principal: um bom roteiro que segurasse as intermináveis 2h17m de duração.
Contando com um bom elenco, o diretor cercou-se dos melhores técnicos (vestuário, fotografia, cenografia, trila sonora, etc) para contar uma espécie de Saga da Bossa Nova. O resultado é um filme longo, arrastado e sem quase nenhum charme. As pontas soltas e abertas de um roteiro inócuo deixam de lado inúmeras questões importantes e ressaltam outras, quase sem importância nenhuma. Um exemplo é a relação do personagem de Selton Mello (Dico) com sua mãe moribunda.
Ao invés de focar suas lentes nas desventuras de 5 jovens músicos dos anos 60 que vão à Nova York tentar o sucesso, o diretor desperdiça horas e horas de projeção com passeios, pores do sol, falas sem sentido e personagens que entram e saem do filme sem razão nenhuma. O filme poderia ficar mais enxuto se o drama dos 5 rapazes fosse mais cru e verdadeiro, e os flashbacks fosse mais bem utilizados.
Em minha opinião Os Desafinados não atinge o objetivo de fazer um painel da Bossa Nova.
Ponto de Vista
3.4 384 Assista AgoraPonto de Vista é interessante, se analisado sob o seguinte ângulo: O que deveria ser apenas mais um filme de ação hollywoodiana, com atores de sucesso, perseguições, explosões e reviravoltas, consegue ir um pouco mais além e fazer uma pequena reflexão sobre as conclusões e das percepções de cada um. Acredito que esta era a intenção inicial, mas estamos em Hollywood e a bilheteria fala mais alto do que as percepções de um diretor iniciante.
O roteirista quebrou a cabeça para contar e recontar o mesmo fato sob diversos ângulos. O tal atentado é acompanhado sempre sob um novo ponto de vista oferecendo ao espectador uma nova dimensão do que ele pensa que viu. O problema é a falta de coerência em determinados segmentos, pois com tantas opções, é óbvio que o roteirista acaba se confundindo.
Há enormes falhas como o "sumiço" do personagem de Sigourney Weaver como a chefe da unidade móvel de TV. Não há o seu ponto de vista, apesar dela acompanhar toda a cobertura da tragédia. De uma atriz de seu gabarito, esperava-se uma participação bem maior. A tal repórter é outro personagem esquecido pelo roteiro.
O final também apela para o corre corre tradicional dos filmes de ação. Para fazer a "liga" dos vários pontos de vista, o diretor não usa a criatividade e acaba tudo no piloto automático mesmo. A menininha perdida no trânsito é de amargar.
Dennis Quaid encarna um segurança com o espírito de um 007 e, apesar de seu personagem ser um dos principais, não explora todos as possibilidade que seu papel possui. O resto do elenco esta Ok, sem muito o que dizer, pois a grande estrela deste filme é a edição e o roteiro.
Mas acima de tudo, Ponto de Vista, não é um filme pretensioso. Mesmo com um roteiro complexo, ele acaba virando um filme simplista, direto e curto.
É um bom entretenimento para um fim de tarde.
Fatal
3.5 179Fatal é um filme radicalmente feminino. Ele fala das eternas incompatibilidades entre os dois sexos, mas não as explora como deveria, já que a diretora tinha em mãos excelentes atores e um roteiro bem estruturado.
A história do sessentão culto, bem resolvido e playboizão tem pano para mangas, mas a diretora prefere não ir além do que o óbvio.
Outro ponto interessantíssimo, o qual o filme não explora profundamente, é a decadência da valores previamente estruturados em crenças de vida. O idoso bon vivant, acha que em sua comodidade criou um real bem estar psicológico, afetivo e sexual inabalável. A amizade com um amigo tão boêmio como ele, a eterna "ficante" de 20 anos, que apenas divide a cama, a distância de seu único filho, criou em David (Ben Kingsley) uma espécie de ócio de vida. A chegada da exuberante aluna Consuela (Penélope Cruz) vai abalar os alicerces deste sessentão que desmorona ante uma notícia trágica.
No entanto o filme não aprofunda esta reflexão e prefere focar o drama no personagem de Penélope.
Em minha opinião, a diretora identificou-se demais com a personagem Consuela e quis dar um encerramento feminino num filme, que ao meu ver, tem uma essência bastante masculina.
O final trágico é apelativo, mas, mesmo assim, é um filme com alguma sensibilidade e que fala de um momento importante na vida de todos nós: a velhice e as transformações que ela traz, tanto ao homem como a mulher.
16 Quadras
3.4 327 Assista AgoraO gênero thriller-ação-policial é, talvez, o mais explorado pelo cinema norte americano. Eles adoram explodir carros, assistir perseguições e tiroteios. No entanto Richard Donner, sabe que não é suficiente, apenas, mostrar a ação em si. É necessário uma boa história que envolva o espectador e o embarque na ação. E é impressionante como Richard domina o tema.
Ao contar uma história pra lá de batida, sobre um policial cansado e viciado em birita que tem que levar um zé ninguém até ao tribunal, 16 quadras adiante, o diretor faz render um ótimo filme de ação policial.
A direção segura de Richard consegue ir mais além, e até transforma o cantor de rap Mos Def, em ator plausível. Seu personagem além de chato é inconveniente ao extremo, mas mesmo assim, nos cativa pela ingenuidade de sua interpretação.
Bruce Willis, apesar de ser um ator limitado, tem um grande carisma e sua fama de durão já esta consolidada. Ele assume o papel do detetive Jack Mosley com uma enorme convicção. O filme transcorre agilmente e envolve o espectador até os segundos finais, aderindo, ainda por cima, alguma dose de emoção, coisa rara neste gênero de filmes.
O roteiro contém enormes furos e percebe-se alguns erros de edição, mas nada disso prejudica o andamento do filme.
P.S. Eu Te Amo
3.7 2,7K Assista AgoraArremedo de comédia romântica.
Bobagem típica de Hollywood com um sub enredo pra lá de chato e tedioso. Os personagens são esteriótipos puro e não há ligação entre eles.
O casal apaixonado não me convenceu e, após a morte do cara, Hilary continua tão tranquila quanto antes. Não há nenhuma emoção da perda e da falta do amor de sua vida.
Os (bons) atores são desperdiçados em papelzinhos manjadíssimos. Não entendo com uma atriz consagrada com Hilary Swank comete um erro ao aceitar este papel que poderia muito bem ser uma atrizinha americana qualquer.
E Kathy Bates? Meu deus...o agente dela só pode ter sacaneado. Que papel é este? Acho que ganhar um Oscar faz o ator descer a ladeira mesmo. Quem viu ela em O Dia que a Terra Parou sabe o que estou dizendo.
Enfim: O filme é uma bobagem açucarada, enjoadinha e com ZERO de romance. Eu até gosto de algumas comediazinhas americanas, mas esta é um enjoo puro.
Morte Súbita
2.9 216 Assista AgoraFilmes de crocodilos assassinos sempre foram uma verdadeira mania. E a maioria vem da Austrália, terra onde eles são abundantes. (No Brasil não há crocodilos, apenas os raquíticos jacarés do Pantanal).
Apesar da mesmice, Rogue sobressai. O filme é extremamente bem conduzido e não há aquelas piadinhas infames, tão frequente em filmes americanos sobre os bichões (como em Pânico no Lago, etc).
O diretor conduz o filme inteiro numa linha de pavor súbito, bastante tensa e plausível, apesar de algumas situações serem extremamente absurdas.
Mas é aí que está a diferença. Apesar do contra senso de algumas circunstâncias que o roteiro apresenta, o diretor consegue passar por cima e nos indica exatamente onde ele quer chegar: na medula do suspense.
É um filme descartável, mas delicioso de assistir. É muito maneiro tentar adivinhar quem será a próxima vítima. Radha Mitchel (Melinda e Melinda e Silent Hill) foi uma excelente escolha para a guia da excursão pelo rio. Ela transmite a real sensação de susto que o personagem pede. Michael Vartan na pele do mocinho apalermado, defende muito bem seu papel, apesar do desfecho final ser ridículo.
Rogue atinge seu objetivo e duvido que alguém deixe de ver o filme pela metade.
Cinturão Vermelho
2.7 87 Assista AgoraDavid Mamet deveria ficar apenas escrevendo roteiros, pois na direção de REDBELT ele dá provas que não é capaz de manter nenhuma linha associativa com o que ele mesmo escreveu.
Apesar do roteiro ter um foco interessantíssimo sobre a ética e a ambição de um tipo de arte marcial (o jiu jitsu brasileiro), o diretor não consegue transmitir o potencial que está embutido em suas próprias palavras. E isto é a prova que cinema e literatura são artes diferentes que, às vezes, não se esbarram, pois um ótimo livro vira um péssimo filme e vice e versa.
David Mamet não explora as nuances de seu roteiro repleto de detalhes minimalistas e, está óbvio, que determinadas cenas só fazem sentido para ele mesmo. Cinturão Vermelho seria um excelente livro e mereceria ser um filme melhor se dirigido por um diretor mais competente na arte cinematográfica.
O filme fala das dificuldades de um lutador profissional que tem como fundamento, a ética e a sabedoria aprendida nas artes marciais. Dono de uma academia falida ele contesta sua arte como forma de ganhar a vida através de lutas forçadas. Mas uma série de circunstâncias o levam a reconsiderar e entrar numa competição cujo principal prêmio são 50 mil dólares e o tal cinturão vermelho.
Os vários personagens que permeiam esta história, bastante sutil, são: a esposa brasileira (Alice Braga), os amigos da academia, uma estranha advogada vítima de um estupro, um grupo de especuladores, uns lutadores sem escrúpulos, um mágico nipo americano, e um ator de cinema. Todos conspiram contra a batalha de Mike Terry (Chiwetel Ejiofor) para sustentar sua disciplina ideológica.
As intenções altruístas do diretor são dignas de algum merecimento, mas o filme fica chatíssimo após 30 minutos passados. Ninguém aguenta assistir tanto julgamento e distinções ideológicas.
O elenco é globalizado e tenta, em vão, sustentar a falta de intimidade do diretor com uma direção mais segura. David deve mesmo continuar apenas escrevendo roteiros.