Guy Ritchie faz parte de uma geração de cineastas que adoram explorar novas fronteiras. O cara utiliza bastante uma estética bem definida e autoral em seus filmes. Mas o problema é que a cada filme, Guy Ritchie dá um passo além do que é solicitado. Revolver parece-se com aqueles quadros modernistas hiper cabeça, baseado nas filosofias da arte.
Ao explorar um roteiro de "ação", Guy quer ir além disso e transforma seu filme numa pseudo tese complexa de filosofia e psiquiatria.
O resultado é uma verdadeira viagem pelas fronteiras de alguma doutrina psicológica que Guy faz parte. Tanto é, que no final, antes do letreiros, ele joga depoimentos de grandes pensadores, filósofos e psiquiatras falando da psiquê e do ego. Até Deepak Chopra fala da duplicidade do ego!!!
Ora!! Um filme com Jason Statham e Ray Liotta, chamado Revolver, sobre bandidos, agiotas e tráficos de armas, ... e que fala de psicanálise?? Pois é isso mesmo.
Guy faz um verdadeiro carnaval de gêneros e é logico que não chega a lugar nenhum. É o tipo de filme que só o diretor vai gostar. Cortes bruscos, animações de mangás, trilha roqueira, e personagens muito apáticos, fazem parte do universo de Guy Ritchie.
Tudo é over e talvez expressivo em excesso, tornando este filme extremamente cansativo em sua 1/2 hora final. Senti-me frustrado por não acompanhar a "viagem" de Jake e seus comparsas e ainda por cima fui chamado de burro pela turminha de Guy.
Mas tudo bem....este com certeza foi o último filme de Guy Ritchie a que assisto. O cara deve ser um chato de plantão e não foi à toa que Madonna separou-se dele.
A Caçada é um filme denúncia baseado num artigo de Scott Anderson para a revista Esquire americana, sobre o conflito Bósnia x Croácia. Apesar da direção segura de Richard Shepard, o filme derrapa em alguns momentos de total inveracidade realística.
Richard Gere encarna, com segurança, um jornalista (Duck) em total decadência, que decide matar um dos maiores carniceiros do conflito Bósnio, apenas baseado em sua fúria vingativa. Contando com a ajuda de um amigo cameraman e um estagiário novato, Duck embrenha-se pelos cafundó de um país dividido pelo medo e tensão.
A jornada dos 3 amigos jornalistas não é tão bem explorada pelo diretor que prefere analisar, muito mais, a denúncia sobre a incapacidade das entidades internacionais do que propriamente a tal caçada do título.
Os 3 amigos (americanos) surgem como a única solução de um conflito internacional complicadíssimo. O que é uma baita prepotência americana, pois apesar das críticas feitas sobre o sistema (CIA, ONU, etc), a salvação da Bósnia fica na responsabilidade de 3 cidadãos comuns e....americanos. Mas, tudo bem. Já sabemos que o povo americano necessita cada vez mais de reconhecimento mundial e que eles continuam achando-se o melhor país do mundo.
O filme é interessante pela cobertura jornalística, mas peca pelo quesito tensão x entretenimento. Apesar da ação estar contida no subtexto, quase não há cenas de ação. É tudo muito pensado e conversado demais. O clímax é um super clichê e beira à ficção científica.
A única referência que eu guardava desse filme era o Oscar de melhor canção em 2007 e isso não era motivo suficiente para assistir a ele.
Mas "Apenas uma vez" supera qualquer receio pois apresenta-se como um trabalho interessantíssimo sobre uma relação amorosa através de canções extremamentes belas e dolorosas. O filme rodado em apenas 17 dias, com câmera digital é um trabalho entre amigos.
O diretor John Carney foi membro da banda The Frames da qual o cantor/compositor (e agora ator) Glen Hansard faz parte e resolveu investir seu talento dramático nesta pequena produção irlandesa, chamando para os papéis principais o seu amigo Glen e Markéta Irglová, (cantora e compositora e também agora atriz) integrante da mesma banda. O resultado é uma obra surpreendente e admirável atingindo um resultado belíssimo.
O docu-drama musical idealizado por John Carney é uma fábula real sobre o amor incondicional, aquele tipo de atração que não cobra absolutamente nada do outro, pois o que importa é ver o parceiro feliz.
Ao filmar nas ruas de Dublin em meio ao burburinho (real) dos transeuntes, sem um roteiro prévio, John capta com maestria os sentimentos reais sobre as relações. O filme conta com 20 canções arrebatadoramente belas que permeiam as cenas com total harmonia.
O final é de uma melancolia só, mas consegue nos fazer enxergar sobre a plenitude da vida sem ser exagerado e nem dramático.
Realmente: Once é muito mais do que o (merecido) Oscar de melhor canção.
Querô é mais um petardo social que o cinema brasileiro sabe tão bem produzir. É um típico filme-denúncia, mas não deixa de lado os aspectos dramáticos de seus personagens. E que personagens....
Querô é um verdadeiro filho da puta. Sua mãe (Maria Luiza Mendonça em atuação brilhante) é expulsa do bordel pela cafetina. Sem ter onde deixar a criança, ela deixa na soleira da porta do mesmo prostíbulo e mata-se com uma over dose de querosene (derivando o apelido do filho).
Querô vira pivete de rua, vive de pequenos assaltos e é preso na Febem. Lá como um rito de passagem, Querô é currado pelos outros detentos, e desenvolve um tremendo ódio pela vida. Após uma rebelião, ele foge e tenta iniciar uma nova vida longe da criminalidade. Obviamente, a vida deste menino termina de forma trágica num final econômico mas arrebatador.
Esta excelente produção entusiasma o espectador logo de início, com um prólogo arrepiante. Contando com um elenco mirim impressionantemente conectado, o diretor Carlos Cortez transforma a história de um simples pivete num mitológico e trágico rito de passagem do pequeno Querô. É um filme exuberantemente cru e com uma mensagem agridoce de nosso sistema.
Apesar do subtexto ser: só o amor constrói, o filme relata a natureza de milhões de crianças brasileiras deixadas à deriva pelas mães desnaturadas. A história de Querô é estupidamente humana, embora ele tenha apenas entrado em contato com seu lado instintivo, sem se dar conta que existem outras possibilidades de vida.
Maria Luiza Mendonça, apesar da pequena participação, tem uma presença magnífica. Sentimos pena de seu personagem, que não à toa, chama-se Piedade. Do elenco todo, só uma ressalva: Aylton Graça faz histrionismos desnecessários e transforma seu personagem num palhaço irritante e vil.
Querô é maravilhoso e ouso compará-lo com as obras neo realistas feitas na Itália entre os anos 50 e 60. A ousadia de suas imagens contrastam com a ternura que o diretor trata os seus personagens.
Modorrento e enfadonho, EVENING é o tipo de filme que nunca alcança o que propõe.
Os draminhas são bobos, os conflitos são superficiais e as relações não possuem contato.
Só vale mesmo pelo elenco indiscutivelmente TOP. O diretor húngaro Lajos Koltai tenta transmitir várias mensagens perdendo-se no enredo pra lá de dramático, mas sem nenhuma carga emotiva.
O cara já foi fotógrafo de brilhantes produções (Mephisto, Sunshine, etc) mas como diretor deixa claro que não sabe o que fazer com tanto material.
Terra Vermelha faz um retrato realista e triste da situação dos índios brasileiros, presos entre o progresso do mundo ocidental e a necessidade de manter suas tradições. O governo criou reservas indígenas para, supostamente, proteger o índio de ser dizimado e para tentar preservar sua cultura. Uma política bem intencionada que talvez funcione para alguns povos. No caso dos Kaiowás, que se deslocaram do lugar onde sempre viveram para uma terra estranha, essa mudança resultou em suicídios e alcoolismo.
O diretor ítalo-argentino Marco Bechis, que morou no Brasil, e o roteirista Luiz Bolognesi criam uma trama que dá conta de todos esses problemas e nos introduz, com um certo grau de distanciamento, à situação dos índios, sem simplificações de natureza política ou sociológica, e com um tratamento cinematográfico de primeira grandeza. Um filme extremamente importante que deveria se mostrado nas escolas e universidades.
O filme concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, conta com participação de Matheus Nachtergaele e Leonardo Medeiros, mas os protagonistas são os próprios índios Kaiowás interpretando a si mesmos.
Certamente é uma das obras mais importantes da filmografia brasileira, pelo tema, pela complexidade e qualidade cinematográfica. O diretor Marco Bechis não apenas filma uma história sobre índios brasileiros. Ele documenta um retrato fiel sobre a decadência dos Guarani-Kaiowà, no interior do Mato Grosso dos Sul.
Para isso, Marco cercou-se de bons técnicos, uma competente equipe de antropólogos e chamou os próprios índios para atuar como protagonistas. Esta arriscada empreitada originou neste docu-drama de eficiente denúncia. Alguns atores profissionais atuam como coadjuvantes, mas o foco é totalmente centrado nos não-atores índios.
O filme tem uma belíssima fotografia e o roteiro é calcado num episódio real no massacre de alguns Guarani-Kaiowà, mortos pelos fazendeiros locais. Tudo é estranhamente belo e extraordinário. Os índios atuam com uma capacidade incrivelmente dramática e até com qualidades sedutoras.
O único porém fica à cargo da edição iludida de Jacopo Quadri. Algumas cenas deixam de cumprir um clímax maior, por causa da montagem. Mas o o filme tem uma excelente capacidade de denúncia e divulga um fato que raramente (para não dizer nunca) aparece nos noticiários.
Encurralados segue a mesma trilha dos thrillers atuais com situações sufocantes e guinada final surpreendente. Como em todo filme de ação, a lógica é deixada de lado para que o objetivo final, que é a de impressionar o espectador, tenha seu destaque merecido. Mesmo que tenha que passar por cima da coerência normal.
O título deste filme é retirado da frase "Borboletas numa roda" significando extremo esforço para conseguir algo de pouca importância.
O que não deixa de ser verdade, pois o roteiro fala do empenho desesperado de um casal aparentemente feliz, para resgatar sua filhinha de um suposto sequestro por um sociopata. Na realidade tudo não passa de aparências o tempo todo. O casal não é feliz, o sociopata não é sequestrador, e a filhinha não foi sequestrada.
O diretor Mike Barker não faz feio. Ele conduz com pulso firme e consegue o êxito final. Mesmo lidando com tantos elementos espalhafatosos, eu me surpreendi com a súbita revelação final.
Lógico que não faz sentido procurar razões e significados na história, afinal é um folhetim condensado. Mas os atores são carismáticos e constroem seus personagens de uma maneira distinta e correta.
Quentin Tarantino produziu uma obra extremamente contundente e perturbadora que arrebatou inúmeros prêmios e, que até hoje, continua sendo admirada e cultuada.
Com uma impressionante vitalidade cinematográfica, o diretor sacudiu os alicerces do thriller americano ao contar uma história sobre um assalto que não dá certo.
Revolucionando as estruturas de uma simples trama, Tarantino investe naquilo que virá a se transformar em sua “marca registrada”: Os famosos diálogos ácidos e irônicos entre os personagens e a trilha sonora dos anos 60 e 70.
O filme é um caldeirão de referências pop, especialmente às séries de TV, atrizes desconhecidas e outras referências triviais norte americanas.
Ele começa com o tal grupo reunido, conversando sobre qual seria a verdadeira intenção da letra de Like a Virgin de Madonna. Não há nada, neste diálogo que se relacione com a trama, mas Tarantino manipula tão bem seus personagens que fica impossível não deslumbrar-se com tamanha bobagem.
Cães de Aluguel já nasceu cult por excelência. Com 29 anos e quase desconhecido, Tarantino conseguiu, com o apoio de vários amigos, produzir esta admirável obra contundente e violenta. Quentin subverte os padrões de uma narrativa contínua inserindo flashbacks para explicar a origem de alguns personagens tornando tudo muito dinâmico e enérgico.
O filme é um jogo de xadrez modernamente coreografado onde os personagens são colocados em xeque-mate a todo instante. Não há vencedor e todos são perdedores no insano mundo proposto por Tarantino.
Carlos Reichenbach é um cara das antigas. É um diretor que adora falar por metáforas e usar de metalinguística em seus filmes.
Ele inicia este filme com uma frase de Sócrates que fala que o prazer e a dor são os dois lados da mesma moeda, mas vai se embaralhando ao longo da projeção. Carlos diz que todos seus personagens utilizam de máscaras para sobreviver. No entanto, existe uma grande diferença entre o que o diretor pensa que está filmando e o que o espectador realmente vê.
Na metade para o final o filme desaba ladeira abaixo, e vira um desfile interminável de imagens sobrepostas, (cheias de referências que só fazem sentido ao próprio diretor).
A história da operária Silmara oscila entre uma comédia dramática sexual e um drama cômico musical que nunca se encontram. Apesar do elenco se esforçar bastante (e isso se evidencia na atuação de Rosane), o filme parece uma "pelada" entre amigos. É bola para todo lado e no final das contas, ficamos sem entender aonde o diretor quis chegar.
O roteiro é lacônico, mas Carlos quis ir mais além do que a história pedia. Parece que a cada take, o diretor fala de algo diferente, o que transforma este filme numa verdadeira suruba mal feita.
O filme tem como destaque um elenco mais surreal já visto: Tiazinha (Suzane Alves) e Léo Aquila num mesmo filme???? Só vendo pra crer.
Num mundo apocalíptico assolado por uma estranha virose que afeta os seres humanos, transformando-os em zumbis canibais, um nerd paspalhão, um assassino de zumbis, obcecado por um Twinki e duas irmãs metidas a espertas unem-se em busca de um dos poucos paraísos existentes nos EUA (que vem a ser um parque temático).
Esta paródia sobre costumes pode ser interpretada como um reflexo sobre a crise que os norte americanos vem enfrentando ultimamente. Utilizando um tom sempre irônico e abusado, o diretor Rubem Fleischer faz uma sátira aos (bons e maus) costumes de uma sociedade acostumada apenas a consumir.
Fleischer atira, constantemente, sua metralhadora crítica acertando em cheio os objetivos. Os espertos personagens (todos tem o nome de um estado norte americano) fazem o link com a mensagem que Ruben quer manter. Todos são loosers (termo odiado pelos americanos) que tentam a todo custo sobreviver numa sociedade extremamente competitiva e canibalesca.
As homenagens ao cinema (Alien, A Noite dos Mortos Vivos, GhostBusters) funcionam perfeitamente e a sequência com o astro Bill Murray é hilária. Bill é um ator conhecido pela sua pouca expressão facial que fica evidente quando ele aparece maquiado de um zumbi - só para disfarçar e não ser atacado - segundo suas palavras.
Esta é talvez uma das poucas produções (norte americanas) onde a comunhão dos gêneros (terror e da comédia) rendeu um filme extremamente espirituoso, engraçado e expressivo.
Este filme retrata o momento da evacuação do Camboja pelas tropas do Kmer Vermelho, um dos regimes ditatoriais mais sangrentos da história do planeta e que liquidou quase 1/3 da população do Vietnam, enviando para os tais campos profissionais: médicos, jornalistas, atores, advogados, etc.
Inspirado numa história real, o filme relata ainda com o não-ator Haing S. Ngor, um médico vietnamita refugiado nos EUA, que acabou ganhando o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo seu incrível desempenho como Dith Pran.
Em sua primeira parte, o diretor Roland Joffé quis dar ênfase ao conflito pessoal do jornalista do New York Times, Sydney Schanberg, ávido por cobrir a invasão do Camboja, e sua jornada por um país destroçado. Contando com ajuda de seu fiel escudeiro Pran (também jornalista), o ansioso Sydney vai percebendo que o pior ainda estava por vir com a chegada do exército do Kmer vermelho.
Rolland carrega nas tintas de seus personagens enviando mensagens ufanistas desnecessárias, tais como: O único lugar seguro no mundo são os EUA, ou veja como o 3º mundo é perigoso, mas a narrativa tem energia suficiente para sobrepujar estas entrelinhas e sua força aparece na segunda parte, quando foca o desespero pela sobrevivência nos tais Killing Fields (Campos de matança).
O tom dramático e tenso predomina durante todo o filme apontando para um desfecho comovente ao som de Imagine de John Lennon.
O elenco está visivelmente entregue aos seus personagens, apesar de John Malkovich repetir pela enésima vez um cara largadão de estilo cool e blasé. A fotografia de Chris Menges retrata a exuberância selvagem do país, com belíssimos planos de pôr do sol, misturado com a destruição gerada pela guerra.
Apesar de Rolland estender-se em demasia em alguns momentos da narrativa (o filme poderia ser mais curto), Os Gritos do Silêncio é um poderoso e corajoso retrato da história de um povo que nunca foi contado. O filme traz à consciência que a liberdade é o melhor atributo de uma nação.
Há uma enorme ironia sobre a trajetória de Haing S. Ngor. Sobrevivente real dos tais campos de matança, Haing veio para os EUA, tornou-se ator, ganhou o Oscar e...foi assassinado na porta de sua casa por uma gangue envolvida com narcotráfico.
A história, pouco conhecida, de William Wallace é um épico por excelência. Este mártir escocês, que lutou décadas contra a tirania inglesa nas terras escocesas, é considerado um verdadeiro herói do século 13. Mel Gibson apoderou-se deste poderoso material para construir sua primeira epopeia cinematográfica.
O filme segue a cartilha dos grandes romances épicos explorando as belíssimas paisagens da Escócia e Irlanda e uma trilha sonora (sublime) de James Horner. Mesclando gaitas escocesas com acordes dramáticos, James consegue enfatizar cada cena com uma perfeita sincronização.
Os personagens históricos são bem definidos e unidimensionais (rei déspota, traidor com culpa, heroína indefesa, rainha bondosa, etc) Isto serve para que o espectador identifique-se com o espírito heroico e revolucionário de Wallace, cujo principal ideal foi a libertação da Escócia do domínio tirânico inglês.
Apesar da idade avançada para o papel, Gibson utiliza de licença poética para construir seu personagem. As inúmeras permissões históricas não distorcem a principal mensagem de sua narrativa. O recado do filme é na verdade a identificação com o arquétipo do herói que Wallace representa no inconsciente coletivo.
Gibson apresenta seus personagens de forma sintética e enxuta e em 15 minutos de projeção já temos uma ideia clara da razão que move William Wallace para sua luta.
Ele focaliza a emoção para, depois, enfatizar a ação (recurso utilizado posteriormente em seu outro fillme, Apocalypto). Desta maneira Gibson consegue segurar os 177 minutos de narrativa sem ser cansativo nem entediante.
A fotografia é exuberante e dá uma nítida ideia de uma época obscura e sombria. A edição a cargo de Steven Rosemblum complementa e valoriza as cenas de batalha, aumentando a tensão e emoção.
Mel Gibson consegue, enfim, realizar uma obra inspiradora sobre a coragem humana em busca de um ideal libertador.
Werner Herzog sempre foi um cineasta preocupado com a estética de seus filmes. Sua ida para a América só fez aperfeiçoar, ainda mais, este gosto pela beleza plástica de uma forma mais sublime ainda.
Esta refilmagem de The Bad Lieutenant comprova a afirmação acima (embora Werner jure não ser uma refilmagem do clássico Vício Frenético dirigido por Abel Ferrara em 1992). Na verdade Herzog adora contar histórias de perdedores regenerados, e filmes como Kaspar Hauser, Fitzcarraldo e Nosferatu refletem esta preferência.
Vício Frenético é tão carregado de detalhes estéticos sutis e engenhosos que somente um diretor, pleno de sua capacidade artística, é capaz de conceber algo parecido. Longe de querer igualar-se a Abel, Werner, inteligentemente, repagina um filme com quase a mesma história, mas sob um ponto de vista completamente diferente e bastante autoral.
Herzog recria o mundo caótico do tenente de polícia Terence McDonaugh (um fenomenal Nicolas Cage) da, não menos caótica, Nova Orleans, utilizando, brilhantemente, todos os recursos que o cinema tem a oferecer.
A delicada fotografia do tcheco Peter Zeitlinger (ex colaborador de Herzog), sofre mudanças cromáticas ao longo da narrativa passando de um entristecido tom azul e verde, para um tom laranja forte sem fazer muito alarde. É quase imperceptível, assim como tudo que se vê na tela.
A trilha sonora de Mark Isham é engenhosa, pois além de realçar a tensão da narrativa ela convida o espectador a mergulhar no furacão desordenado dos personagens mixando blues e soul music. Furacão este que é mencionado logo no início do filme (Katrina), alertando o espectador para o que virá a seguir.
John Duigan sempre foi um cara esforçado. Sua eclética filmografia é quase que desconhecida pelo grande público (o filme mais conhecido é Romero).
Head in the Clouds (escrito e dirigido por Duigan) faz parte deste pacote. No entanto o filme é uma saga com fortes doses melodramáticas e uma narrativa repleta de nuances históricas.
A jovem Gilda Bessé (a estonteante Charlize Theron) é uma jovem burguesinha, filha de pais ricos e separados que acha que o mundo resume-se em festa, bebidas, sexo e viagens (algo como uma Paris Hilton dos anos 30). Quando conhece, por acaso, o centrado (e também jovem) estudante irlandês Guy (Stuart Townsend), seu coração fica realmente abalado e inicia um ardente caso amoroso, mesmo tendo outros amantes. Ainda por cima tem um caso extra com a bissexual Mia (Penélope Cruz), uma refugiada espanhola, com quem divide o apartamento. Tudo é aberto e moderno.
Quando a Europa entra em crise por causa da guerra, o trio amoroso entra em conflito e cada um procura algo o que fazer. Menos Gilda que continua vivendo sua vida de burguesinha afetada, enquanto as tropas de Hitler adentram em Paris. E é a partir deste ponto que o filme cresce. Pena que já está bem próximo do final.
John Duigan deixou-se levar pelos excessos e fez um filme com muito glamour, mas com pouco charme. A reconstituição de época é requintada e a produção de arte é de um refinamento incrível. Apesar de o roteiro conter elementos interessantíssimos e personagens realmente cativantes, a narrativa percorre um longo caminho até chegar ao que realmente interessa que é a renúncia em prol de uma relação conquistada durante uma vida.
Há um forte ranço antiquado na narrativa principalmente no que diz respeito às consequências melodramáticas dos personagens e algumas culminâncias ficam sem muita explicação, como no caso do linchamento de Gilda. Porque ela não diz que era espiã dos aliados ao invés de limitar-se apenas a dizer: - Vocês não entendem... O sacrifício por amor é excessivo para os personagens que se mostraram tão modernos no início do filme.
O filme seria insuportável se não fosse a presença do carismático trio de atores que encantam qualquer plateia. Charlize Theron está sublime. Sua personagem é repleta de excessos e vontades, dignos de uma socialite fútil, mas a atriz transmite tanta paixão que simpatizamos completamente com a carente Gilda.
Stuart Townsend é Guy Malion, o tal estudante repleto de ideais éticos. Sua postura séria esta sempre oscilando entre a vida leviana proposta por Gilda e suas aspirações sócio-políticas. A química entre os dois é impressionante e seus olhares são repletos de tesão e muita excitação.
Penélope Cruz mais uma vez faz o papel dela mesma. Uma espanhola refugiada que só pensa em voltar à Espanha para trabalhar como enfermeira. O papel, apesar de ingrato, consegue ganhar espaço na narrativa, graças à qualidade impar da atriz de transformar um mero coadjuvante numa participação valiosa.
Três Vidas e Um Destino no final das contas consegue atrair a atenção de qualquer cinéfilo menos exigente pela sua simpática e, até certo ponto, ingênua história de amor.
Martin Campbell é um mestre absoluto em filmes de ação com conteúdo. Basta dar uma olhada em seu currículo para certificar-se disso: A Máscara do Zorro, A Lenda do Zorro, GoldenEye e Cassino Royale, são filmes que falam por si e demonstram a tenacidade deste diretor. Seus filmes são recheados de ação, mas não se sustentam somente em cima dela. Ela apenas faz parte da história que ele quer contar.
Limite Vertical é, talvez, um dos melhores exemplos de como um filme de ação pode ter um argumento que vai além de explosões e efeitos. Martin dirige com muita garra e afinco, demonstrando total conhecimento do que ele pretende dizer. Filmado em locações (Nova Zelândia), a produção tem vários méritos.
Com uma excelente introdução (uma águia sobrevoa um belíssimo panorama, e nos apresenta uma família escalando um paredão íngreme no Grand Canyon ensolarado) o filme estabelece, logo em seu início, sua real intenção: Será um filme de ação passado nas alturas mesclando conflitos familiares com coragem, determinação, ética e fraternidade. Conjugando cortes secos com trilha sonora epopeica, tem-se então uma perfeita sintonia entre o drama e a aventura.
Pronto. A partir daí, Martin abre a narrativa que dá um salto de três anos. O cenário muda drasticamente. Os dois irmãos, que estavam separados, encontram-se numa gélida base da montanha K2. Uma expedição perigosa, envolvendo um milionário e vários membros da equipe, dará oportunidade para que o personagem principal Peter (Chris O’donnell) satisfaça seu desejo que é remissão pela morte do pai e reatar os laços fraternais com sua irmã.
O que o filme tem de mais bacana são os personagens, pois todos procuram um alívio para suas culpas e vão em busca disso. O diretor e o roteirista não desperdiçam nenhum elemento e apresenta cada personagem manifestando uma forte motivação.
Por exemplo: O solitário alpinista Montgomery Wick (Scott Glen) aceita a missão de resgate, após uma forte recusa inicial. Ele esconde algo que não sabemos e passa por várias culminâncias até encontrar sua recompensa e chegar num dramático acerto de contas.
O inteligente roteiro de Robert King trabalha basicamente com sentimentos de culpa, trauma e compensação. O tempo é outro recurso habilmente utilizado. O aviso de tempestade, a nitroglicerina explosiva ao sol, o agravamento do edema pulmonar aumentam a tensão e potencializam o clima de aventura épica.
O desfecho remete ao início do filme com os personagens na mesma situação de perigo do Grand Canyon. Nossa vulnerabilidade é reconhecida e somos presenteados com o que há de melhor no cinema. Martin entende o espectador e que o respeito à identificação secundária é fundamental para que o público goste de seu filme. E que filme.
Biografias são um verdadeiro problema na cinematografia brasileira. Eu percebo que os diretores ficam muito mais preocupados na veracidade da história que acabam esquecendo-se da emotividade e subjetividade da vida do biografado. Foi assim com Zuzu Angel e Cazuza, por exemplo.
Noel - O poeta da vila é uma produção caprichadíssima sobre a vida de Noel Rosa, um ícone da música brasileira que morreu de tuberculose aos 26 anos. Com uma impecável direção de arte o filme transcorre (sem muita clareza) por alguns anos da vida do poeta, apresentando os personagens fundamentais em sua vida, seus familiares, e os artistas da época.
O diretor Ricardo Van Steen mantém uma estrutura bastante semelhante aos musicais teatrais, onde as canções (excelentes por sinal) são inseridas durante a narrativa. A música, aliás, tem uma função rítmica importante pois, em vários cortes, é ela que faz a ligação das cenas.
Pena que ele não mantenha uma construção constante. Vez ou outra, as cenas são inseridas sem o mínimo de conexão ou associação prejudicando a cadência da história. Na verdade, o principal problema do filme é o choque entre Narrativa e História. Ricardo confunde os códigos e sua preocupação com o realismo atrapalha a sequência emocional.
O personagem principal (Noel) fica diluído quando Ricardo quer, também, dar importância exagerada aos outros papéis. Na verdade todos se destacam, e o código narrativo fica danificado. Uma pena, pois a vida de Noel Rosa é trágica e repleta de transtornos emocionais que dariam um poderoso filme.
Pequena ressalva: A cena final quando Noel, já bem adoentado e sem voz, vai à casa de sua amada Ceci (Camila Pitanga) e faz uma seresta pela voz de um amigo compositor. Durante a belíssima canção "último desejo", o diretor, finalmente, alcança um momento sublime ao explorar, de forma poética, o rosto de amada de Noel numa fotografia repleta de sombras exaltando a dor e saudade de um momento que já passou. Os olhos marejados de Ceci são de cortar o coração.
Funny Games US é a prova de como o mercado cinematográfico norte americano é forte e poderoso. Esta pequena obra-prima feita pelo alemão Michael Haneke em 97, ganhou uma nova versão idêntica ao original, dirigida pelo próprio. Tudo para que as plateias americanas pudessem assistir a este tratado sobre a violência, já que o original nem foi lançado em DVD.
Haneke usa a câmera como mero espectador e utiliza de elementos metalinguísticos para fazer um tratado sobre a violência. Muitos filmes já foram feitos com o tema, pelo mundo afora, mas Haneke tocou num ponto nevrálgico da questão.
Haneke sabe como incomodar a plateia (basta dar uma olhada em seus filmes, e um bom exemplo é A professora de Piano) e, neste caso, ele estende ao máximo, o limite do espectador em aguentar assistir a humilhação extrema de uma família sem poder fazer nada. A violência de Haneke é embutida na pior das embalagens. A da impotência humana.
Na realidade, em Violência Gratuita não há personagens. Os atores são mero fantoches nas mãos de Haneke, que os utiliza para demonstrar como nos sentimos diante da perversidade, cinismo, ironia e, lógico, violência.
O roteiro é escrito pelo próprio diretor que não poupa absolutamente nada. Ele utiliza os exatos 111 minutos para incomodar o espectador. Não há redenção, nem happy end. A violência de Haneke é ultra-humana. Ela sobrepõe a razão e qualquer discussão sobre as dificuldades da sobrevivência. Os rapazes não querem bens. Eles querem brincar de maltratar o outro. Eles se divertem com a dor e o suplício do próximo.
Palmas para Haneke que conseguiu refilmar sua obra quadro a quadro, sem nenhuma imposição de estúdio ou aprovações de plateias. Neste caso a refilmagem é bem-vinda, pois esta versão alcançou maiores plateias e serviu para mostrar ao mundo, a gana deste diretor "maldito" que tranquilamente pode ser comparado a um Kubrick.
Rudo e Cursi fez um enorme sucesso no México. A obra conta com dois atores com forte carisma e reconhecimento no Brasil. É uma pérola autoral produzido pelos ban-ban-bans Guillermo del Toro, Alejandro Gozález Iñárritu e Alfonso Cuáron.
Com agilidade e desenvoltura o filme retrata a trajetória dos irmãos apelidados de Rudo (Diego Luna) e Cursi (Gael Garcia Bernal) que trabalham numa plantação miserável de bananas nos cafundós do México. Descobertos por Batuta, um caçador de talentos de futebol, os irmãos alcançam um rápido êxito, obtendo grana, mulheres e fama. No entanto as coisas pioram, trazendo consequências trágicas para a vida dos dois.
Dirigido e escrito por Carlos Cuáron (irmão de Alfonso) o filme retrata, com impressionante vitalidade, os bastidores e as artimanhas do mundo do futebol (paixão brasileira) e as armadilhas do sucesso nas pessoas despreparadas e confusas.
Carlos apresenta personagens interessantíssimos para evidenciar o que a ganância e o apetite voraz pelo consumo efêmero fazem na vida de pessoas sem preparo (a mulher briga como marido por causa de um liquidificador). Diego Luna e Gael Garcia tem uma química incomum. Os dois atores explodem faíscas e dão provas do domínio de sua arte.
Rudo e Cursi é uma amostra do excelente cinema mexicano, infelizmente, pouco conhecido e prestigiado pela maioria dos brasileiros.
Comprei o DVD deste documentário por acaso de um grande amigo colecionador e foi uma das minhas melhores adições da vida. Ele vem com 2 discos de tão grande que é (290 min) = o que dá 4 horas e 50 minutos e é dividido em 5 capítulos que vão abrangendo os períodos do estúdio.
No entanto; o rendimento é bastante irregular. Os 3 primeiros capítulos são interessantes e didáticos, mas os 2 últimos não se aprofundam muito na história do estúdio focando somente nos depoimentos dos amigos do crítico: Clint Eastwood, Martin Scorsese, Steven Spielberg e Warren Beatty.
Parece que da década de 70 até os anos 2008 somente estes 4 diretores é que tiveram alguma importância para o estúdio.
Outro defeito é a falta de informações sobre alguns detalhes importantíssimos, tais como: a morte do último irmão Warner (nem menciona), a venda dos direitos autorais de alguns clássicos da MGM para a Warner e a entrada no mercado de DVD.
Mas é um filme para se comprar e ter em sua coleção, já que exibe cenas de verdadeiros clássicos da década de 30/40/50.
A imagem em HD é de altíssima qualidade e, mesmo sem o blu-ray, percebe-se uma nitidez impressionante, jamais vista, nas cenas de Casablanca, Almas em Suplício, A Carta, Assim Caminha a Humanidade, Estranha Passageira, e muitos outros.
Mais uma refilmagem (ou remake) de um dos mais famosos slasher da década de 70, evidenciando a TOTAL falta de possibilidade dos americanos em criarem algo novo e original.
No entanto Rob Zombie consegue tirar leite de pedras ao refilmar o clássico Halloween de John Carpenter, introduzindo um prefácio de quase 40 minutos sobre a infância de Michael Myers.
Nesta refilmagem fica mais evidente a psicopatia do assassino e suas razões (?) para o seu comportamento. Lógico que os furos continuam, pois não fica explicado como é que Michael safa-se dos tiros dados, já que, nesta refilmagem, ele é uma criatura humana como outra qualquer.
No filme de Carpenter, Michael era um monstro desumano sem rosto e não tínhamos nenhum acesso às suas origens. Rob Zombie ao aproximá-lo de nossa existência abre um precedente existencial.
Mas apesar do pesares, Rob mantém um bom clima de pesadelo carregado com generosas doses de tensão, eliminando os sustinhos babacas à base do som alto e convida atores do timbre de Malcom McDowell (Calígula e Laranja Mecânica), Udo Kier, Dee Wallace e Sid Haig para incrementar sua produção.
O resultado fica acima da média embora, na minha opinião, continue sendo um produto reciclado desnecessariamente.
Está aqui uma boa prova que fórmulas batidas podem dar certo quando há uma boa construção de personagens e uma direção firme e segura.
Brad Anderson (do estranho O Maquinista) faz um thriller bacana, que começa lento (como o andar do trem) e acaba numa velocidade impressionante.
O roteiro abre espaço para que os personagens se definam e as situações, que eles se encontram, sejam parte desta construção. Não há desperdício de cenas e o resultado final é muito satisfatório. Até o clima gélido do local é usado na elaboração da narrativa.
E que diferença, atores tarimbados (e bons) podem fazer... Emily Mortimer é a turista americana Jessie de passado negro e Woody Harrelson faz seu marido Roy, uma espécie de pastor protestante de bem com a vida e apaixonado por trens. Ben Kingsley é um policial de narcóticos russo e Eduardo Noriega é Carlos, um turista espanhol pra lá de suspeito. Todos perfeitos, atuando em plena sintonia, num filme formidável.
Esta produção feita pela HBO (e ganhadora de 6 Emmys), é baseada nas vidas das excêntricas Big e Little Edith Bouvier, respectivamente, tia e prima de Jackie Onassis.
Mãe e filha viveram juntas na mansão de Grey Gardens por décadas em quase total isolamento. As condições precárias da vida destas duas mulheres foram expostas, através de um artigo publicado numa revista americana, atraindo a atenção de Albert e David Maysles que fizeram um documentário sobre suas trajetórias, aclamado internacionalmente.
Dirigido por Michael Sucsy e com uma requintada produção de arte, o filme é impressionante pela maneira como retrata a decadência da aristocracia americana.
Acostumada a festas e glamour Big Edith nunca se importou em trabalhar ou adquirir um futuro próprio. Sua filha igualmente seduzida pelo magnetismo da mãe seguiu seus conselhos escolhendo relacionamentos errados e profissões sem futuro. Ambas moraram juntas por 50 anos em Grey Gardens vivendo de uma pensão irrisória que mal dava para comprar alimentos.
Infestada por gatos, sujeira, lixo, infiltrações e abandono, o deterioramento destas duas mulheres riquíssimas chamou a atenção da prima Jaqueline Onassis que bancou uma reforma na casa.
Além da poderosa história o filme conta ainda com o talento de Jessica Lange e Drew Barrymore que reencarnam a relação doentia de mãe e filha com uma impressionante veracidade. A desilusão paranoica de Little Edith e a exploração psicológica de Big Edith fundem-se com o vazio e abandono tristíssimo de ambas resultando num trabalho fascinante.
É um filme aflitivo repleto de melancolia, mas, poderosamente, arrebatador.
Obra com uma abordagem do mundo pós apocalíptico. A enxurrada de produções com este tema chega a impressionar, pois significa de alguma forma, que a preocupação com o fim do mundo é grande. No entanto O Livro de Eli mantém diferenças que o colocam num patamar divergente.
Denzel Washington é Eli, um peregrino misterioso que vaga por um mundo destruído com um objetivo desconhecido. Ele percorre solitário, estradas desertas enfrentando gangues de canibais e malfeitores. Ao chegar numa cidade, ele encontra o poderoso Carnegie (um caricato Gary Oldman) que busca incessantemente um livro cujas palavras lhe trarão mais poder.
Valorizando o cenário de destruição e mantendo o céu (e as nuvens) como um personagem, O Livro de Eli, dos irmãos Hughes, defendem o velho tema: Um homem com uma missão.
O tema abordado pelo roteiro de Gary Whitta não deixa de ser interessante, mas o tratamento blasé adotado pela dupla de diretores não combina com a proposta apocalíptica. A narrativa vai, então, perdendo toda sua força, intercalando cenas de perseguições e tiroteios, com intrigas sem nenhuma estrutura dramática.
A fotografia altamente estilizada de Don Burgess (The Terminator 3) com efeitos e filtros sépia associado a uma requintada produção de arte, transmitem uma precisa sensação dos estragos causados por uma calamidade.
A trilha sonora dos irmãos Ross e Claudia Sarne (ambos de New York , I Love you) é outro elemento que merece consideração (assim como as canções introduzidas ao longo da narrativa.) No entanto, um bom filme não é feito apenas de acertos técnicos e O Livro de Eli perde pontos exatamente no quesito emoção.
Do elenco, nada a dizer. Denzel Washington e Jennifer Beals atuam no piloto automático e Gary Oldman entra na lista dos vilões chatos e caricatos.
Sem a adrenalina de Mad Max e descartando a sensação de desconforto de A Estrada, O livro de Eli fica no meio do caminho, indeciso entre ser uma ficção aventuresca, repleta de ação ou um tratado pseudo filosófico sobre o fim do mundo.
Al Pacino interpreta Jack Gramm; um psiquiatra forense e professor de uma faculdade que condenou um serial killer à pena de morte.
O filme caminha bem até o momento que recebe a tal ligação que diz que ele tem apenas 88 minutos de vida. A partir deste ponto, o filme desce ladeira abaixo, com uma narrativa repleta de subtramas interligadas que nada tem de substancial.
O enredo com um propósito rocambolesco, traz um Al Pacino correndo feito louco de um lado para o outro, recebendo chamadas pelo celular e tentando, desesperadamente, nos fazer acreditar que seu personagem tem um puta trauma de infância.
O único mérito deste filme é a proeza de passar-se em tempo real a partir do momento que ele recebe a ligação do serial killer. E é só.
As viradas na "narrativa" não possuem nenhuma sutileza e o final "esclarecedor" é de um constrangimento só principalmente para a atriz Deborah Kara Unger que fica dependurada por uma perna de cabeça para baixo sem nada para fazer.
Mas o troféu "canastra" vai para Leelee Sobieski que apresenta a pior vilã da história do cinema. Fazendo caras e bocas, Leelee equipara-se às bruxas dos desenhos Disney e a motivação do seu personagem ultrapassa os limites de qualquer senso.
Al Pacino será sempre Al Pacino, mas infelizmente até mesmo os grandes atores erram na escolha de determinados papéis. 88 minutos é um destes erros.
Revolver
3.5 230 Assista AgoraGuy Ritchie faz parte de uma geração de cineastas que adoram explorar novas fronteiras. O cara utiliza bastante uma estética bem definida e autoral em seus filmes. Mas o problema é que a cada filme, Guy Ritchie dá um passo além do que é solicitado.
Revolver parece-se com aqueles quadros modernistas hiper cabeça, baseado nas filosofias da arte.
Ao explorar um roteiro de "ação", Guy quer ir além disso e transforma seu filme numa pseudo tese complexa de filosofia e psiquiatria.
O resultado é uma verdadeira viagem pelas fronteiras de alguma doutrina psicológica que Guy faz parte. Tanto é, que no final, antes do letreiros, ele joga depoimentos de grandes pensadores, filósofos e psiquiatras falando da psiquê e do ego. Até Deepak Chopra fala da duplicidade do ego!!!
Ora!! Um filme com Jason Statham e Ray Liotta, chamado Revolver, sobre bandidos, agiotas e tráficos de armas, ... e que fala de psicanálise?? Pois é isso mesmo.
Guy faz um verdadeiro carnaval de gêneros e é logico que não chega a lugar nenhum.
É o tipo de filme que só o diretor vai gostar. Cortes bruscos, animações de mangás, trilha roqueira, e personagens muito apáticos, fazem parte do universo de Guy Ritchie.
Tudo é over e talvez expressivo em excesso, tornando este filme extremamente cansativo em sua 1/2 hora final. Senti-me frustrado por não acompanhar a "viagem" de Jake e seus comparsas e ainda por cima fui chamado de burro pela turminha de Guy.
Mas tudo bem....este com certeza foi o último filme de Guy Ritchie a que assisto. O cara deve ser um chato de plantão e não foi à toa que Madonna separou-se dele.
A Caçada
3.5 127A Caçada é um filme denúncia baseado num artigo de Scott Anderson para a revista Esquire americana, sobre o conflito Bósnia x Croácia. Apesar da direção segura de Richard Shepard, o filme derrapa em alguns momentos de total inveracidade realística.
Richard Gere encarna, com segurança, um jornalista (Duck) em total decadência, que decide matar um dos maiores carniceiros do conflito Bósnio, apenas baseado em sua fúria vingativa. Contando com a ajuda de um amigo cameraman e um estagiário novato, Duck embrenha-se pelos cafundó de um país dividido pelo medo e tensão.
A jornada dos 3 amigos jornalistas não é tão bem explorada pelo diretor que prefere analisar, muito mais, a denúncia sobre a incapacidade das entidades internacionais do que propriamente a tal caçada do título.
Os 3 amigos (americanos) surgem como a única solução de um conflito internacional complicadíssimo. O que é uma baita prepotência americana, pois apesar das críticas feitas sobre o sistema (CIA, ONU, etc), a salvação da Bósnia fica na responsabilidade de 3 cidadãos comuns e....americanos. Mas, tudo bem. Já sabemos que o povo americano necessita cada vez mais de reconhecimento mundial e que eles continuam achando-se o melhor país do mundo.
O filme é interessante pela cobertura jornalística, mas peca pelo quesito tensão x entretenimento. Apesar da ação estar contida no subtexto, quase não há cenas de ação. É tudo muito pensado e conversado demais. O clímax é um super clichê e beira à ficção científica.
Apenas Uma Vez
4.0 1,4K Assista AgoraA única referência que eu guardava desse filme era o Oscar de melhor canção em 2007 e isso não era motivo suficiente para assistir a ele.
Mas "Apenas uma vez" supera qualquer receio pois apresenta-se como um trabalho interessantíssimo sobre uma relação amorosa através de canções extremamentes belas e dolorosas. O filme rodado em apenas 17 dias, com câmera digital é um trabalho entre amigos.
O diretor John Carney foi membro da banda The Frames da qual o cantor/compositor (e agora ator) Glen Hansard faz parte e resolveu investir seu talento dramático nesta pequena produção irlandesa, chamando para os papéis principais o seu amigo Glen e Markéta Irglová, (cantora e compositora e também agora atriz) integrante da mesma banda. O resultado é uma obra surpreendente e admirável atingindo um resultado belíssimo.
O docu-drama musical idealizado por John Carney é uma fábula real sobre o amor incondicional, aquele tipo de atração que não cobra absolutamente nada do outro, pois o que importa é ver o parceiro feliz.
Ao filmar nas ruas de Dublin em meio ao burburinho (real) dos transeuntes, sem um roteiro prévio, John capta com maestria os sentimentos reais sobre as relações. O filme conta com 20 canções arrebatadoramente belas que permeiam as cenas com total harmonia.
O final é de uma melancolia só, mas consegue nos fazer enxergar sobre a plenitude da vida sem ser exagerado e nem dramático.
Realmente: Once é muito mais do que o (merecido) Oscar de melhor canção.
Querô
3.5 127 Assista AgoraQuerô é mais um petardo social que o cinema brasileiro sabe tão bem produzir. É um típico filme-denúncia, mas não deixa de lado os aspectos dramáticos de seus personagens. E que personagens....
Querô é um verdadeiro filho da puta. Sua mãe (Maria Luiza Mendonça em atuação brilhante) é expulsa do bordel pela cafetina. Sem ter onde deixar a criança, ela deixa na soleira da porta do mesmo prostíbulo e mata-se com uma over dose de querosene (derivando o apelido do filho).
Querô vira pivete de rua, vive de pequenos assaltos e é preso na Febem. Lá como um rito de passagem, Querô é currado pelos outros detentos, e desenvolve um tremendo ódio pela vida. Após uma rebelião, ele foge e tenta iniciar uma nova vida longe da criminalidade. Obviamente, a vida deste menino termina de forma trágica num final econômico mas arrebatador.
Esta excelente produção entusiasma o espectador logo de início, com um prólogo arrepiante. Contando com um elenco mirim impressionantemente conectado, o diretor Carlos Cortez transforma a história de um simples pivete num mitológico e trágico rito de passagem do pequeno Querô. É um filme exuberantemente cru e com uma mensagem agridoce de nosso sistema.
Apesar do subtexto ser: só o amor constrói, o filme relata a natureza de milhões de crianças brasileiras deixadas à deriva pelas mães desnaturadas. A história de Querô é estupidamente humana, embora ele tenha apenas entrado em contato com seu lado instintivo, sem se dar conta que existem outras possibilidades de vida.
Maria Luiza Mendonça, apesar da pequena participação, tem uma presença magnífica. Sentimos pena de seu personagem, que não à toa, chama-se Piedade. Do elenco todo, só uma ressalva: Aylton Graça faz histrionismos desnecessários e transforma seu personagem num palhaço irritante e vil.
Querô é maravilhoso e ouso compará-lo com as obras neo realistas feitas na Itália entre os anos 50 e 60. A ousadia de suas imagens contrastam com a ternura que o diretor trata os seus personagens.
Ao Entardecer
3.5 244Modorrento e enfadonho, EVENING é o tipo de filme que nunca alcança o que propõe.
Os draminhas são bobos, os conflitos são superficiais e as relações não possuem contato.
Só vale mesmo pelo elenco indiscutivelmente TOP. O diretor húngaro Lajos Koltai tenta transmitir várias mensagens perdendo-se no enredo pra lá de dramático, mas sem nenhuma carga emotiva.
O cara já foi fotógrafo de brilhantes produções (Mephisto, Sunshine, etc) mas como diretor deixa claro que não sabe o que fazer com tanto material.
Ao Entardecer é um drama deprê e vazio.
Terra Vermelha
3.6 25Terra Vermelha faz um retrato realista e triste da situação dos índios brasileiros, presos entre o progresso do mundo ocidental e a necessidade de manter suas tradições. O governo criou reservas indígenas para, supostamente, proteger o índio de ser dizimado e para tentar preservar sua cultura. Uma política bem intencionada que talvez funcione para alguns povos. No caso dos Kaiowás, que se deslocaram do lugar onde sempre viveram para uma terra estranha, essa mudança resultou em suicídios e alcoolismo.
O diretor ítalo-argentino Marco Bechis, que morou no Brasil, e o roteirista Luiz Bolognesi criam uma trama que dá conta de todos esses problemas e nos introduz, com um certo grau de distanciamento, à situação dos índios, sem simplificações de natureza política ou sociológica, e com um tratamento cinematográfico de primeira grandeza. Um filme extremamente importante que deveria se mostrado nas escolas e universidades.
O filme concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, conta com participação de Matheus Nachtergaele e Leonardo Medeiros, mas os protagonistas são os próprios índios Kaiowás interpretando a si mesmos.
Certamente é uma das obras mais importantes da filmografia brasileira, pelo tema, pela complexidade e qualidade cinematográfica. O diretor Marco Bechis não apenas filma uma história sobre índios brasileiros. Ele documenta um retrato fiel sobre a decadência dos Guarani-Kaiowà, no interior do Mato Grosso dos Sul.
Para isso, Marco cercou-se de bons técnicos, uma competente equipe de antropólogos e chamou os próprios índios para atuar como protagonistas. Esta arriscada empreitada originou neste docu-drama de eficiente denúncia. Alguns atores profissionais atuam como coadjuvantes, mas o foco é totalmente centrado nos não-atores índios.
O filme tem uma belíssima fotografia e o roteiro é calcado num episódio real no massacre de alguns Guarani-Kaiowà, mortos pelos fazendeiros locais. Tudo é estranhamente belo e extraordinário. Os índios atuam com uma capacidade incrivelmente dramática e até com qualidades sedutoras.
O único porém fica à cargo da edição iludida de Jacopo Quadri. Algumas cenas deixam de cumprir um clímax maior, por causa da montagem. Mas o o filme tem uma excelente capacidade de denúncia e divulga um fato que raramente (para não dizer nunca) aparece nos noticiários.
Encurralados
3.5 417Encurralados segue a mesma trilha dos thrillers atuais com situações sufocantes e guinada final surpreendente. Como em todo filme de ação, a lógica é deixada de lado para que o objetivo final, que é a de impressionar o espectador, tenha seu destaque merecido. Mesmo que tenha que passar por cima da coerência normal.
O título deste filme é retirado da frase "Borboletas numa roda" significando extremo esforço para conseguir algo de pouca importância.
O que não deixa de ser verdade, pois o roteiro fala do empenho desesperado de um casal aparentemente feliz, para resgatar sua filhinha de um suposto sequestro por um sociopata. Na realidade tudo não passa de aparências o tempo todo. O casal não é feliz, o sociopata não é sequestrador, e a filhinha não foi sequestrada.
O diretor Mike Barker não faz feio. Ele conduz com pulso firme e consegue o êxito final. Mesmo lidando com tantos elementos espalhafatosos, eu me surpreendi com a súbita revelação final.
Lógico que não faz sentido procurar razões e significados na história, afinal é um folhetim condensado. Mas os atores são carismáticos e constroem seus personagens de uma maneira distinta e correta.
Cães de Aluguel
4.2 1,9K Assista AgoraQuentin Tarantino produziu uma obra extremamente contundente e perturbadora que arrebatou inúmeros prêmios e, que até hoje, continua sendo admirada e cultuada.
Com uma impressionante vitalidade cinematográfica, o diretor sacudiu os alicerces do thriller americano ao contar uma história sobre um assalto que não dá certo.
Revolucionando as estruturas de uma simples trama, Tarantino investe naquilo que virá a se transformar em sua “marca registrada”: Os famosos diálogos ácidos e irônicos entre os personagens e a trilha sonora dos anos 60 e 70.
O filme é um caldeirão de referências pop, especialmente às séries de TV, atrizes desconhecidas e outras referências triviais norte americanas.
Ele começa com o tal grupo reunido, conversando sobre qual seria a verdadeira intenção da letra de Like a Virgin de Madonna. Não há nada, neste diálogo que se relacione com a trama, mas Tarantino manipula tão bem seus personagens que fica impossível não deslumbrar-se com tamanha bobagem.
Cães de Aluguel já nasceu cult por excelência. Com 29 anos e quase desconhecido, Tarantino conseguiu, com o apoio de vários amigos, produzir esta admirável obra contundente e violenta. Quentin subverte os padrões de uma narrativa contínua inserindo flashbacks para explicar a origem de alguns personagens tornando tudo muito dinâmico e enérgico.
O filme é um jogo de xadrez modernamente coreografado onde os personagens são colocados em xeque-mate a todo instante. Não há vencedor e todos são perdedores no insano mundo proposto por Tarantino.
Falsa Loura
2.9 139Carlos Reichenbach é um cara das antigas. É um diretor que adora falar por metáforas e usar de metalinguística em seus filmes.
Ele inicia este filme com uma frase de Sócrates que fala que o prazer e a dor são os dois lados da mesma moeda, mas vai se embaralhando ao longo da projeção. Carlos diz que todos seus personagens utilizam de máscaras para sobreviver. No entanto, existe uma grande diferença entre o que o diretor pensa que está filmando e o que o espectador realmente vê.
Na metade para o final o filme desaba ladeira abaixo, e vira um desfile interminável de imagens sobrepostas, (cheias de referências que só fazem sentido ao próprio diretor).
A história da operária Silmara oscila entre uma comédia dramática sexual e um drama cômico musical que nunca se encontram. Apesar do elenco se esforçar bastante (e isso se evidencia na atuação de Rosane), o filme parece uma "pelada" entre amigos. É bola para todo lado e no final das contas, ficamos sem entender aonde o diretor quis chegar.
O roteiro é lacônico, mas Carlos quis ir mais além do que a história pedia. Parece que a cada take, o diretor fala de algo diferente, o que transforma este filme numa verdadeira suruba mal feita.
O filme tem como destaque um elenco mais surreal já visto: Tiazinha (Suzane Alves) e Léo Aquila num mesmo filme???? Só vendo pra crer.
Zumbilândia
3.7 2,5K Assista AgoraNum mundo apocalíptico assolado por uma estranha virose que afeta os seres humanos, transformando-os em zumbis canibais, um nerd paspalhão, um assassino de zumbis, obcecado por um Twinki e duas irmãs metidas a espertas unem-se em busca de um dos poucos paraísos existentes nos EUA (que vem a ser um parque temático).
Esta paródia sobre costumes pode ser interpretada como um reflexo sobre a crise que os norte americanos vem enfrentando ultimamente. Utilizando um tom sempre irônico e abusado, o diretor Rubem Fleischer faz uma sátira aos (bons e maus) costumes de uma sociedade acostumada apenas a consumir.
Fleischer atira, constantemente, sua metralhadora crítica acertando em cheio os objetivos. Os espertos personagens (todos tem o nome de um estado norte americano) fazem o link com a mensagem que Ruben quer manter. Todos são loosers (termo odiado pelos americanos) que tentam a todo custo sobreviver numa sociedade extremamente competitiva e canibalesca.
As homenagens ao cinema (Alien, A Noite dos Mortos Vivos, GhostBusters) funcionam perfeitamente e a sequência com o astro Bill Murray é hilária. Bill é um ator conhecido pela sua pouca expressão facial que fica evidente quando ele aparece maquiado de um zumbi - só para disfarçar e não ser atacado - segundo suas palavras.
Esta é talvez uma das poucas produções (norte americanas) onde a comunhão dos gêneros (terror e da comédia) rendeu um filme extremamente espirituoso, engraçado e expressivo.
Os Gritos do Silêncio
4.0 127Este filme retrata o momento da evacuação do Camboja pelas tropas do Kmer Vermelho, um dos regimes ditatoriais mais sangrentos da história do planeta e que liquidou quase 1/3 da população do Vietnam, enviando para os tais campos profissionais: médicos, jornalistas, atores, advogados, etc.
Inspirado numa história real, o filme relata ainda com o não-ator Haing S. Ngor, um médico vietnamita refugiado nos EUA, que acabou ganhando o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo seu incrível desempenho como Dith Pran.
Em sua primeira parte, o diretor Roland Joffé quis dar ênfase ao conflito pessoal do jornalista do New York Times, Sydney Schanberg, ávido por cobrir a invasão do Camboja, e sua jornada por um país destroçado. Contando com ajuda de seu fiel escudeiro Pran (também jornalista), o ansioso Sydney vai percebendo que o pior ainda estava por vir com a chegada do exército do Kmer vermelho.
Rolland carrega nas tintas de seus personagens enviando mensagens ufanistas desnecessárias, tais como: O único lugar seguro no mundo são os EUA, ou veja como o 3º mundo é perigoso, mas a narrativa tem energia suficiente para sobrepujar estas entrelinhas e sua força aparece na segunda parte, quando foca o desespero pela sobrevivência nos tais Killing Fields (Campos de matança).
O tom dramático e tenso predomina durante todo o filme apontando para um desfecho comovente ao som de Imagine de John Lennon.
O elenco está visivelmente entregue aos seus personagens, apesar de John Malkovich repetir pela enésima vez um cara largadão de estilo cool e blasé. A fotografia de Chris Menges retrata a exuberância selvagem do país, com belíssimos planos de pôr do sol, misturado com a destruição gerada pela guerra.
Apesar de Rolland estender-se em demasia em alguns momentos da narrativa (o filme poderia ser mais curto), Os Gritos do Silêncio é um poderoso e corajoso retrato da história de um povo que nunca foi contado. O filme traz à consciência que a liberdade é o melhor atributo de uma nação.
Há uma enorme ironia sobre a trajetória de Haing S. Ngor. Sobrevivente real dos tais campos de matança, Haing veio para os EUA, tornou-se ator, ganhou o Oscar e...foi assassinado na porta de sua casa por uma gangue envolvida com narcotráfico.
Coração Valente
4.1 1,3K Assista AgoraA história, pouco conhecida, de William Wallace é um épico por excelência. Este mártir escocês, que lutou décadas contra a tirania inglesa nas terras escocesas, é considerado um verdadeiro herói do século 13. Mel Gibson apoderou-se deste poderoso material para construir sua primeira epopeia cinematográfica.
O filme segue a cartilha dos grandes romances épicos explorando as belíssimas paisagens da Escócia e Irlanda e uma trilha sonora (sublime) de James Horner. Mesclando gaitas escocesas com acordes dramáticos, James consegue enfatizar cada cena com uma perfeita sincronização.
Os personagens históricos são bem definidos e unidimensionais (rei déspota, traidor com culpa, heroína indefesa, rainha bondosa, etc) Isto serve para que o espectador identifique-se com o espírito heroico e revolucionário de Wallace, cujo principal ideal foi a libertação da Escócia do domínio tirânico inglês.
Apesar da idade avançada para o papel, Gibson utiliza de licença poética para construir seu personagem. As inúmeras permissões históricas não distorcem a principal mensagem de sua narrativa. O recado do filme é na verdade a identificação com o arquétipo do herói que Wallace representa no inconsciente coletivo.
Gibson apresenta seus personagens de forma sintética e enxuta e em 15 minutos de projeção já temos uma ideia clara da razão que move William Wallace para sua luta.
Ele focaliza a emoção para, depois, enfatizar a ação (recurso utilizado posteriormente em seu outro fillme, Apocalypto). Desta maneira Gibson consegue segurar os 177 minutos de narrativa sem ser cansativo nem entediante.
A fotografia é exuberante e dá uma nítida ideia de uma época obscura e sombria. A edição a cargo de Steven Rosemblum complementa e valoriza as cenas de batalha, aumentando a tensão e emoção.
Mel Gibson consegue, enfim, realizar uma obra inspiradora sobre a coragem humana em busca de um ideal libertador.
Vício Frenético
3.1 447 Assista AgoraWerner Herzog sempre foi um cineasta preocupado com a estética de seus filmes. Sua ida para a América só fez aperfeiçoar, ainda mais, este gosto pela beleza plástica de uma forma mais sublime ainda.
Esta refilmagem de The Bad Lieutenant comprova a afirmação acima (embora Werner jure não ser uma refilmagem do clássico Vício Frenético dirigido por Abel Ferrara em 1992). Na verdade Herzog adora contar histórias de perdedores regenerados, e filmes como Kaspar Hauser, Fitzcarraldo e Nosferatu refletem esta preferência.
Vício Frenético é tão carregado de detalhes estéticos sutis e engenhosos que somente um diretor, pleno de sua capacidade artística, é capaz de conceber algo parecido. Longe de querer igualar-se a Abel, Werner, inteligentemente, repagina um filme com quase a mesma história, mas sob um ponto de vista completamente diferente e bastante autoral.
Herzog recria o mundo caótico do tenente de polícia Terence McDonaugh (um fenomenal Nicolas Cage) da, não menos caótica, Nova Orleans, utilizando, brilhantemente, todos os recursos que o cinema tem a oferecer.
A delicada fotografia do tcheco Peter Zeitlinger (ex colaborador de Herzog), sofre mudanças cromáticas ao longo da narrativa passando de um entristecido tom azul e verde, para um tom laranja forte sem fazer muito alarde. É quase imperceptível, assim como tudo que se vê na tela.
A trilha sonora de Mark Isham é engenhosa, pois além de realçar a tensão da narrativa ela convida o espectador a mergulhar no furacão desordenado dos personagens mixando blues e soul music. Furacão este que é mencionado logo no início do filme (Katrina), alertando o espectador para o que virá a seguir.
Três Vidas e Um Destino
3.5 64John Duigan sempre foi um cara esforçado. Sua eclética filmografia é quase que desconhecida pelo grande público (o filme mais conhecido é Romero).
Head in the Clouds (escrito e dirigido por Duigan) faz parte deste pacote. No entanto o filme é uma saga com fortes doses melodramáticas e uma narrativa repleta de nuances históricas.
O enredo é mais ou menos este:
A jovem Gilda Bessé (a estonteante Charlize Theron) é uma jovem burguesinha, filha de pais ricos e separados que acha que o mundo resume-se em festa, bebidas, sexo e viagens (algo como uma Paris Hilton dos anos 30). Quando conhece, por acaso, o centrado (e também jovem) estudante irlandês Guy (Stuart Townsend), seu coração fica realmente abalado e inicia um ardente caso amoroso, mesmo tendo outros amantes. Ainda por cima tem um caso extra com a bissexual Mia (Penélope Cruz), uma refugiada espanhola, com quem divide o apartamento. Tudo é aberto e moderno.
Quando a Europa entra em crise por causa da guerra, o trio amoroso entra em conflito e cada um procura algo o que fazer. Menos Gilda que continua vivendo sua vida de burguesinha afetada, enquanto as tropas de Hitler adentram em Paris. E é a partir deste ponto que o filme cresce. Pena que já está bem próximo do final.
John Duigan deixou-se levar pelos excessos e fez um filme com muito glamour, mas com pouco charme. A reconstituição de época é requintada e a produção de arte é de um refinamento incrível. Apesar de o roteiro conter elementos interessantíssimos e personagens realmente cativantes, a narrativa percorre um longo caminho até chegar ao que realmente interessa que é a renúncia em prol de uma relação conquistada durante uma vida.
Há um forte ranço antiquado na narrativa principalmente no que diz respeito às consequências melodramáticas dos personagens e algumas culminâncias ficam sem muita explicação, como no caso do linchamento de Gilda. Porque ela não diz que era espiã dos aliados ao invés de limitar-se apenas a dizer: - Vocês não entendem... O sacrifício por amor é excessivo para os personagens que se mostraram tão modernos no início do filme.
O filme seria insuportável se não fosse a presença do carismático trio de atores que encantam qualquer plateia. Charlize Theron está sublime. Sua personagem é repleta de excessos e vontades, dignos de uma socialite fútil, mas a atriz transmite tanta paixão que simpatizamos completamente com a carente Gilda.
Stuart Townsend é Guy Malion, o tal estudante repleto de ideais éticos. Sua postura séria esta sempre oscilando entre a vida leviana proposta por Gilda e suas aspirações sócio-políticas. A química entre os dois é impressionante e seus olhares são repletos de tesão e muita excitação.
Penélope Cruz mais uma vez faz o papel dela mesma. Uma espanhola refugiada que só pensa em voltar à Espanha para trabalhar como enfermeira. O papel, apesar de ingrato, consegue ganhar espaço na narrativa, graças à qualidade impar da atriz de transformar um mero coadjuvante numa participação valiosa.
Três Vidas e Um Destino no final das contas consegue atrair a atenção de qualquer cinéfilo menos exigente pela sua simpática e, até certo ponto, ingênua história de amor.
Limite Vertical
2.9 157 Assista AgoraMartin Campbell é um mestre absoluto em filmes de ação com conteúdo. Basta dar uma olhada em seu currículo para certificar-se disso: A Máscara do Zorro, A Lenda do Zorro, GoldenEye e Cassino Royale, são filmes que falam por si e demonstram a tenacidade deste diretor. Seus filmes são recheados de ação, mas não se sustentam somente em cima dela. Ela apenas faz parte da história que ele quer contar.
Limite Vertical é, talvez, um dos melhores exemplos de como um filme de ação pode ter um argumento que vai além de explosões e efeitos. Martin dirige com muita garra e afinco, demonstrando total conhecimento do que ele pretende dizer. Filmado em locações (Nova Zelândia), a produção tem vários méritos.
Com uma excelente introdução (uma águia sobrevoa um belíssimo panorama, e nos apresenta uma família escalando um paredão íngreme no Grand Canyon ensolarado) o filme estabelece, logo em seu início, sua real intenção: Será um filme de ação passado nas alturas mesclando conflitos familiares com coragem, determinação, ética e fraternidade. Conjugando cortes secos com trilha sonora epopeica, tem-se então uma perfeita sintonia entre o drama e a aventura.
Pronto. A partir daí, Martin abre a narrativa que dá um salto de três anos. O cenário muda drasticamente. Os dois irmãos, que estavam separados, encontram-se numa gélida base da montanha K2. Uma expedição perigosa, envolvendo um milionário e vários membros da equipe, dará oportunidade para que o personagem principal Peter (Chris O’donnell) satisfaça seu desejo que é remissão pela morte do pai e reatar os laços fraternais com sua irmã.
O que o filme tem de mais bacana são os personagens, pois todos procuram um alívio para suas culpas e vão em busca disso. O diretor e o roteirista não desperdiçam nenhum elemento e apresenta cada personagem manifestando uma forte motivação.
Por exemplo: O solitário alpinista Montgomery Wick (Scott Glen) aceita a missão de resgate, após uma forte recusa inicial. Ele esconde algo que não sabemos e passa por várias culminâncias até encontrar sua recompensa e chegar num dramático acerto de contas.
O inteligente roteiro de Robert King trabalha basicamente com sentimentos de culpa, trauma e compensação. O tempo é outro recurso habilmente utilizado. O aviso de tempestade, a nitroglicerina explosiva ao sol, o agravamento do edema pulmonar aumentam a tensão e potencializam o clima de aventura épica.
O desfecho remete ao início do filme com os personagens na mesma situação de perigo do Grand Canyon. Nossa vulnerabilidade é reconhecida e somos presenteados com o que há de melhor no cinema. Martin entende o espectador e que o respeito à identificação secundária é fundamental para que o público goste de seu filme. E que filme.
Noel - Poeta da Vila
3.6 93 Assista AgoraBiografias são um verdadeiro problema na cinematografia brasileira. Eu percebo que os diretores ficam muito mais preocupados na veracidade da história que acabam esquecendo-se da emotividade e subjetividade da vida do biografado. Foi assim com Zuzu Angel e Cazuza, por exemplo.
Noel - O poeta da vila é uma produção caprichadíssima sobre a vida de Noel Rosa, um ícone da música brasileira que morreu de tuberculose aos 26 anos. Com uma impecável direção de arte o filme transcorre (sem muita clareza) por alguns anos da vida do poeta, apresentando os personagens fundamentais em sua vida, seus familiares, e os artistas da época.
O diretor Ricardo Van Steen mantém uma estrutura bastante semelhante aos musicais teatrais, onde as canções (excelentes por sinal) são inseridas durante a narrativa. A música, aliás, tem uma função rítmica importante pois, em vários cortes, é ela que faz a ligação das cenas.
Pena que ele não mantenha uma construção constante. Vez ou outra, as cenas são inseridas sem o mínimo de conexão ou associação prejudicando a cadência da história. Na verdade, o principal problema do filme é o choque entre Narrativa e História. Ricardo confunde os códigos e sua preocupação com o realismo atrapalha a sequência emocional.
O personagem principal (Noel) fica diluído quando Ricardo quer, também, dar importância exagerada aos outros papéis. Na verdade todos se destacam, e o código narrativo fica danificado. Uma pena, pois a vida de Noel Rosa é trágica e repleta de transtornos emocionais que dariam um poderoso filme.
Pequena ressalva: A cena final quando Noel, já bem adoentado e sem voz, vai à casa de sua amada Ceci (Camila Pitanga) e faz uma seresta pela voz de um amigo compositor. Durante a belíssima canção "último desejo", o diretor, finalmente, alcança um momento sublime ao explorar, de forma poética, o rosto de amada de Noel numa fotografia repleta de sombras exaltando a dor e saudade de um momento que já passou. Os olhos marejados de Ceci são de cortar o coração.
Violência Gratuita
3.4 1,3KFunny Games US é a prova de como o mercado cinematográfico norte americano é forte e poderoso. Esta pequena obra-prima feita pelo alemão Michael Haneke em 97, ganhou uma nova versão idêntica ao original, dirigida pelo próprio. Tudo para que as plateias americanas pudessem assistir a este tratado sobre a violência, já que o original nem foi lançado em DVD.
Haneke usa a câmera como mero espectador e utiliza de elementos metalinguísticos para fazer um tratado sobre a violência. Muitos filmes já foram feitos com o tema, pelo mundo afora, mas Haneke tocou num ponto nevrálgico da questão.
Haneke sabe como incomodar a plateia (basta dar uma olhada em seus filmes, e um bom exemplo é A professora de Piano) e, neste caso, ele estende ao máximo, o limite do espectador em aguentar assistir a humilhação extrema de uma família sem poder fazer nada. A violência de Haneke é embutida na pior das embalagens. A da impotência humana.
Na realidade, em Violência Gratuita não há personagens. Os atores são mero fantoches nas mãos de Haneke, que os utiliza para demonstrar como nos sentimos diante da perversidade, cinismo, ironia e, lógico, violência.
O roteiro é escrito pelo próprio diretor que não poupa absolutamente nada. Ele utiliza os exatos 111 minutos para incomodar o espectador. Não há redenção, nem happy end. A violência de Haneke é ultra-humana. Ela sobrepõe a razão e qualquer discussão sobre as dificuldades da sobrevivência. Os rapazes não querem bens. Eles querem brincar de maltratar o outro. Eles se divertem com a dor e o suplício do próximo.
Palmas para Haneke que conseguiu refilmar sua obra quadro a quadro, sem nenhuma imposição de estúdio ou aprovações de plateias. Neste caso a refilmagem é bem-vinda, pois esta versão alcançou maiores plateias e serviu para mostrar ao mundo, a gana deste diretor "maldito" que tranquilamente pode ser comparado a um Kubrick.
Rudo e Cursi - A Vida é uma Viagem
3.5 63 Assista AgoraRudo e Cursi fez um enorme sucesso no México. A obra conta com dois atores com forte carisma e reconhecimento no Brasil. É uma pérola autoral produzido pelos ban-ban-bans Guillermo del Toro, Alejandro Gozález Iñárritu e Alfonso Cuáron.
Com agilidade e desenvoltura o filme retrata a trajetória dos irmãos apelidados de Rudo (Diego Luna) e Cursi (Gael Garcia Bernal) que trabalham numa plantação miserável de bananas nos cafundós do México. Descobertos por Batuta, um caçador de talentos de futebol, os irmãos alcançam um rápido êxito, obtendo grana, mulheres e fama. No entanto as coisas pioram, trazendo consequências trágicas para a vida dos dois.
Dirigido e escrito por Carlos Cuáron (irmão de Alfonso) o filme retrata, com impressionante vitalidade, os bastidores e as artimanhas do mundo do futebol (paixão brasileira) e as armadilhas do sucesso nas pessoas despreparadas e confusas.
Carlos apresenta personagens interessantíssimos para evidenciar o que a ganância e o apetite voraz pelo consumo efêmero fazem na vida de pessoas sem preparo (a mulher briga como marido por causa de um liquidificador). Diego Luna e Gael Garcia tem uma química incomum. Os dois atores explodem faíscas e dão provas do domínio de sua arte.
Rudo e Cursi é uma amostra do excelente cinema mexicano, infelizmente, pouco conhecido e prestigiado pela maioria dos brasileiros.
You Must Remember This: A História da Warner Bros.
4.1 15Comprei o DVD deste documentário por acaso de um grande amigo colecionador e foi uma das minhas melhores adições da vida. Ele vem com 2 discos de tão grande que é (290 min) = o que dá 4 horas e 50 minutos e é dividido em 5 capítulos que vão abrangendo os períodos do estúdio.
No entanto; o rendimento é bastante irregular. Os 3 primeiros capítulos são interessantes e didáticos, mas os 2 últimos não se aprofundam muito na história do estúdio focando somente nos depoimentos dos amigos do crítico: Clint Eastwood, Martin Scorsese, Steven Spielberg e Warren Beatty.
Parece que da década de 70 até os anos 2008 somente estes 4 diretores é que tiveram alguma importância para o estúdio.
Outro defeito é a falta de informações sobre alguns detalhes importantíssimos, tais como: a morte do último irmão Warner (nem menciona), a venda dos direitos autorais de alguns clássicos da MGM para a Warner e a entrada no mercado de DVD.
Mas é um filme para se comprar e ter em sua coleção, já que exibe cenas de verdadeiros clássicos da década de 30/40/50.
A imagem em HD é de altíssima qualidade e, mesmo sem o blu-ray, percebe-se uma nitidez impressionante, jamais vista, nas cenas de Casablanca, Almas em Suplício, A Carta, Assim Caminha a Humanidade, Estranha Passageira, e muitos outros.
Halloween: O Início
3.2 861 Assista AgoraMais uma refilmagem (ou remake) de um dos mais famosos slasher da década de 70, evidenciando a TOTAL falta de possibilidade dos americanos em criarem algo novo e original.
No entanto Rob Zombie consegue tirar leite de pedras ao refilmar o clássico Halloween de John Carpenter, introduzindo um prefácio de quase 40 minutos sobre a infância de Michael Myers.
Nesta refilmagem fica mais evidente a psicopatia do assassino e suas razões (?) para o seu comportamento. Lógico que os furos continuam, pois não fica explicado como é que Michael safa-se dos tiros dados, já que, nesta refilmagem, ele é uma criatura humana como outra qualquer.
No filme de Carpenter, Michael era um monstro desumano sem rosto e não tínhamos nenhum acesso às suas origens. Rob Zombie ao aproximá-lo de nossa existência abre um precedente existencial.
Mas apesar do pesares, Rob mantém um bom clima de pesadelo carregado com generosas doses de tensão, eliminando os sustinhos babacas à base do som alto e convida atores do timbre de Malcom McDowell (Calígula e Laranja Mecânica), Udo Kier, Dee Wallace e Sid Haig para incrementar sua produção.
O resultado fica acima da média embora, na minha opinião, continue sendo um produto reciclado desnecessariamente.
Expresso Transiberiano
3.1 129 Assista AgoraEstá aqui uma boa prova que fórmulas batidas podem dar certo quando há uma boa construção de personagens e uma direção firme e segura.
Brad Anderson (do estranho O Maquinista) faz um thriller bacana, que começa lento (como o andar do trem) e acaba numa velocidade impressionante.
O roteiro abre espaço para que os personagens se definam e as situações, que eles se encontram, sejam parte desta construção. Não há desperdício de cenas e o resultado final é muito satisfatório. Até o clima gélido do local é usado na elaboração da narrativa.
E que diferença, atores tarimbados (e bons) podem fazer... Emily Mortimer é a turista americana Jessie de passado negro e Woody Harrelson faz seu marido Roy, uma espécie de pastor protestante de bem com a vida e apaixonado por trens. Ben Kingsley é um policial de narcóticos russo e Eduardo Noriega é Carlos, um turista espanhol pra lá de suspeito. Todos perfeitos, atuando em plena sintonia, num filme formidável.
Grey Gardens: Do Luxo à Decadência
4.0 172 Assista AgoraEsta produção feita pela HBO (e ganhadora de 6 Emmys), é baseada nas vidas das excêntricas Big e Little Edith Bouvier, respectivamente, tia e prima de Jackie Onassis.
Mãe e filha viveram juntas na mansão de Grey Gardens por décadas em quase total isolamento. As condições precárias da vida destas duas mulheres foram expostas, através de um artigo publicado numa revista americana, atraindo a atenção de Albert e David Maysles que fizeram um documentário sobre suas trajetórias, aclamado internacionalmente.
Dirigido por Michael Sucsy e com uma requintada produção de arte, o filme é impressionante pela maneira como retrata a decadência da aristocracia americana.
Acostumada a festas e glamour Big Edith nunca se importou em trabalhar ou adquirir um futuro próprio. Sua filha igualmente seduzida pelo magnetismo da mãe seguiu seus conselhos escolhendo relacionamentos errados e profissões sem futuro. Ambas moraram juntas por 50 anos em Grey Gardens vivendo de uma pensão irrisória que mal dava para comprar alimentos.
Infestada por gatos, sujeira, lixo, infiltrações e abandono, o deterioramento destas duas mulheres riquíssimas chamou a atenção da prima Jaqueline Onassis que bancou uma reforma na casa.
Além da poderosa história o filme conta ainda com o talento de Jessica Lange e Drew Barrymore que reencarnam a relação doentia de mãe e filha com uma impressionante veracidade. A desilusão paranoica de Little Edith e a exploração psicológica de Big Edith fundem-se com o vazio e abandono tristíssimo de ambas resultando num trabalho fascinante.
É um filme aflitivo repleto de melancolia, mas, poderosamente, arrebatador.
O Livro de Eli
3.6 2,0K Assista AgoraObra com uma abordagem do mundo pós apocalíptico. A enxurrada de produções com este tema chega a impressionar, pois significa de alguma forma, que a preocupação com o fim do mundo é grande. No entanto O Livro de Eli mantém diferenças que o colocam num patamar divergente.
Denzel Washington é Eli, um peregrino misterioso que vaga por um mundo destruído com um objetivo desconhecido. Ele percorre solitário, estradas desertas enfrentando gangues de canibais e malfeitores. Ao chegar numa cidade, ele encontra o poderoso Carnegie (um caricato Gary Oldman) que busca incessantemente um livro cujas palavras lhe trarão mais poder.
Valorizando o cenário de destruição e mantendo o céu (e as nuvens) como um personagem, O Livro de Eli, dos irmãos Hughes, defendem o velho tema: Um homem com uma missão.
O tema abordado pelo roteiro de Gary Whitta não deixa de ser interessante, mas o tratamento blasé adotado pela dupla de diretores não combina com a proposta apocalíptica. A narrativa vai, então, perdendo toda sua força, intercalando cenas de perseguições e tiroteios, com intrigas sem nenhuma estrutura dramática.
A fotografia altamente estilizada de Don Burgess (The Terminator 3) com efeitos e filtros sépia associado a uma requintada produção de arte, transmitem uma precisa sensação dos estragos causados por uma calamidade.
A trilha sonora dos irmãos Ross e Claudia Sarne (ambos de New York , I Love you) é outro elemento que merece consideração (assim como as canções introduzidas ao longo da narrativa.) No entanto, um bom filme não é feito apenas de acertos técnicos e O Livro de Eli perde pontos exatamente no quesito emoção.
Do elenco, nada a dizer. Denzel Washington e Jennifer Beals atuam no piloto automático e Gary Oldman entra na lista dos vilões chatos e caricatos.
Sem a adrenalina de Mad Max e descartando a sensação de desconforto de A Estrada, O livro de Eli fica no meio do caminho, indeciso entre ser uma ficção aventuresca, repleta de ação ou um tratado pseudo filosófico sobre o fim do mundo.
88 Minutos
3.1 144 Assista AgoraAl Pacino interpreta Jack Gramm; um psiquiatra forense e professor de uma faculdade que condenou um serial killer à pena de morte.
O filme caminha bem até o momento que recebe a tal ligação que diz que ele tem apenas 88 minutos de vida. A partir deste ponto, o filme desce ladeira abaixo, com uma narrativa repleta de subtramas interligadas que nada tem de substancial.
O enredo com um propósito rocambolesco, traz um Al Pacino correndo feito louco de um lado para o outro, recebendo chamadas pelo celular e tentando, desesperadamente, nos fazer acreditar que seu personagem tem um puta trauma de infância.
O único mérito deste filme é a proeza de passar-se em tempo real a partir do momento que ele recebe a ligação do serial killer. E é só.
As viradas na "narrativa" não possuem nenhuma sutileza e o final "esclarecedor" é de um constrangimento só principalmente para a atriz Deborah Kara Unger que fica dependurada por uma perna de cabeça para baixo sem nada para fazer.
Mas o troféu "canastra" vai para Leelee Sobieski que apresenta a pior vilã da história do cinema. Fazendo caras e bocas, Leelee equipara-se às bruxas dos desenhos Disney e a motivação do seu personagem ultrapassa os limites de qualquer senso.
Al Pacino será sempre Al Pacino, mas infelizmente até mesmo os grandes atores erram na escolha de determinados papéis. 88 minutos é um destes erros.