Às vezes considero um certo risco assistir adaptações de livros que marcaram a minha vida. Mas, por considerá-los irretocáveis, acabo por aventurar-me nas trilhas de uma película em direção à obra literária. O problema reside no caminho inverso que, às vezes, algumas obras cinematográficas tomam, desconsiderando caminhos que se propuseram a percorrer enquanto adaptação.
Este caso é meio que dividido na adaptação cinematográfica de “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector. Se por um lado fico extremamente embevecido e atônito com as pinceladas fiéis de Marcélia Cartaxo ao reviver Macabéa; por outro, fico um pouco decepcionado ao ver que a narrativa cinematográfica tomou certos caminhos equivocados na contramão do romance de Clarice. Uma pena. Porém, não foi o suficiente para tirar o brilho dos meus olhos ao ver, ou reviver, esta história – que tanto me acerta em cheio – projetada na telona.
Suzana Amaral consegue transpor nesta película toda a sensibilidade e dramaticidade que a obra de Clarice contempla, além do humor simplório carregado de consternadas reflexões. E o que falar das atuações? Memoráveis! Marcélia Cartaxo e José Dumont incorporam brilhantemente suas personagens Macabéa e Olímpico, respectivamente. Vale ressaltar a icônica performance de Fernando Montenegro como Madame Carlota, a cartomante. Em suma: embora os pretextos e omissões – principalmente no desfecho – da narrativa fílmica demonstrarem leve descrédito em relação à obra, deixando a desejar, o filme conseguiu tatuar a essência de uma das obras mais imponentes de Clarice Lispector. Retificando meu discurso inicial: é preciso arriscar.
"Um Domingo Maravilhoso" é o tipo de obra que reitera minha paixão pela sétima arte. Trata-se de uma película que nos olha ao mesmo tempo em que é olhada. Melhor: preenche-nos ao atravessar a tela com o espírito da vida e, como num golpe, rouba-nos, intrinsecamente, com a sua austera realidade.
Aqui, Kurosowa apresenta um casal lutando para sobreviver a um Japão pós-Segunda Guerra. Entretanto, à medida que amor e os sonhos sobrepujam esta realidade, passa-se a encarar o mundo de outra maneira. Manifesto que Kurosawa transmite não só em relação à realidade fílmica vivida pelo diretor, mas à nossa própria condição humana, pois apesar das nossas dificuldades, não podemos deixar que silenciem nossos sonhos.
Lírico e sincero. Atuações impecáveis de Isao Numasaki e Chieko Nakakita. A conclusão da obra é simplesmente sensacional: o poder dramático e poético que a cena no anfiteatro projeta arrebata e, como uma voz em uníssono, transporta-nos à trama, como espectadores ativos. A sinfonia inacabada de Schubert ainda ecoa em mim. Esta, sem dúvida, é uma obra-prima do mestre Akira Kurosawa.
A princípio, não tinha nenhuma pretensão em escreve sobre "Elena", pois acredito piamente que o documentário/filme me proporcionou uma das experiências cinematográficas mais indescritíveis nesta minha cinefilia. Portanto, é deveras árduo tentar colocar neste espaço o que transcende o material, o concreto. Elena é, em essência, uma experiência indizível.
Durante toda a projeção, já não me sentia mais numa sala de cinema, muito menos como espectador, mas, sim, como um ser de forte laço com a saudade que era fotografada em cada verso, fragmento e passagem de "Elena". Uma saudade que o meu 'eu' chamais esquecerá. Sinto que foi uma vivência poético-visual que me tirou de mim e me entregou aos braços da magnitude humana. E cabe dizer aqui como somos intensos, sonhadores; entretanto, também somos sensíveis, vulneráveis.
"Elena" é um olhar extraposto sob a perda, sob a alma, é uma intimista manifestação das emoções que nos movem, inquietam, alimentam e dilaceram. Não consigo enxergar o amor declarado por Petra Costa e sua mãe se não for com os olhos do coração. Sentia-me mais envolvido quando carregava a saudade – e por que não a dor? – de olhares que buscam na memória uma forma de eternizar a existência de Elena.
Entregava-me a cada silêncio que ecoava pela atmosfera, silêncio este que tocava minha alma numa poesia infinita que se perpetuava por todo o cinema. Silêncio composto por Elena. Silêncio composto por lembranças. Silêncio composto por poesia. Como diz um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade: “a poesia deste momento inunda minha vida inteira”. E, assim, a poesia de Elena inundou o amor, inundou a vida, e me inundou.
Poderia citar a bela direção de arte, fotografia e a forma como tudo foi contado – mérito notável deste documentário/filme –, mas me reservo unicamente a expressar minha concepção emocional acerca de "Elena". Compromisso sentimental que não dispenso, sobretudo por ser ele o catalizador de toda a obra, pois o que saltava da tela, sem sombra de dúvida, era a erudição lírica de uma miscelânea de recordações felizes e dolorosas, que atravessavam o meu peito e me deixavam sem fôlego.
O desfecho é uma transcendência à parte. Fui levado pela força da emoção, acompanhando o ritmo da onírica dança nas águas de um rio de sentimentos, que a família de Elena poeticamente se entregava. Enxergava-me mais próximo de Elena, enxergava-me arrebatado pelo amor. Diante da profundidade das declarações, percebi o quão sou pequeno, meus braços já correspondiam à força de uma gravidade transcendental, avassaladora. E, no final da sessão, na imensa sala de cinema, observava todos comungando de uma mesma introspecção, entregando-se à fragilidade humana, às dores de Elena. Afinal, somos todos Elena.
A princípio, confesso que a premissa de Mad Men não me soou tão bem como eu gostaria; porém, com o decorrer dos fatos, a construção da história vai criando dimensões curiosas e significativamente profundas, deixando a superficialidade aquém de qualquer conteúdo exposto na série. Digo o mesmo em relação a alguns personagens, que, a priori, não tinham tanto a acrescentar, mas que a partir das relações de conflitos internos e externos, tornaram o meu envolvimento mais vigoroso.
É notório o estilo atraente e bem ambientado do seriado. A trilha sonora também é muito boa, revela um gosto requintado e uma excelente seleção – incluindo a música de abertura. Há muitos outros méritos a destacar, como, por exemplo, o simbolismo que cerca as ações dos personagens, o episódio 9 (Shoot) é prova disso. Espero que a qualidade de Mad Men continue prevalecendo na season 2, ou que supere a desta.
Um inebriante tributo à Diana Arbus. "Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus" registra não só uma essência carregada de vigor e mistério, mas uma possibilidade de (re) conhecimento do olhar inusitado da reveladora Diana. Olhar tão íntimo, sensível, que ignora qualquer formalismo, qualquer pré-julgamento, aventurando-se na esfinge que é a nossa natureza humana.
Tudo neste longa funciona perfeitamente: da cenografia à trilha sonora, dos closes ao figurino. Não quero e não posso esquecer a fotografia, o epicentro da minha apreciação pelo filme. Nicole Kidman em mais uma atuação de tirar o chapéu. "Fur" é uma biografia despretensiosa, que se preocupa mais em declarar homenagem à fotógrafa, do que reconstituir fielmente a vida da mesma. O título fala por si só.
Durante todo o meu percurso fotográfico – de aprendizagem e deleitamento – não tive a experiência mais enternecedora e instrutiva do que com o olhar cativante de Gregory Colbert. E o que me deixa mais honrado em desfrutar do seu talento é,além da forte inspiração para o meu olhar de andarilho, a oportunidade de reinvenção por intermédio da sua concepção e subjetividade visual. Há quem diga que seu olhar abraça o divino, o sentimentalismo fortificante da natureza, o fluxo integracionista do homem – como matéria e alma – com o reino animal ...
Terrence Malick é um diretor, digamos, que não tem o merecido prestígio devido à infrequente criação cinematográfica no âmbito Hollywoodiano. Mas, pelas "poucas" obras que ele realizou,foi o suficiente para mantê-lo em consagrado topo da sétima arte. Isso tudo é resultado de um estudo prolongado que concentra em suas projeções, um profundo trabalho minimalista e notavelmente moldado, seja pelo já consagrado Badlands ...
Colossal. Mordaz. Incisivo."O Bandido da Luz Vermelha" é um dos clássicos mais imponentes do cinema brasileiro. Um marco para a história cinematográfica do Brasil. Nesta obra antagônica, o audaz Rogério Sganzerla vomita noções truculentas de ordem econômica, política e social. Decodifica a realidade, apresentando-a sem máscaras, com discursos categóricos, sordidamente entrelaçados.
Faço minhas as palavras de Manoel de Barros: "Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede; procure ser árvore". Isso traduz claramente a essência de "Os famosos e os Duendes da Morte". Acredito que, por mais que as pessoas busquem uma explicação consistente para história – não que ela não tenha –, o que deve prevalecer é a acepção sensorial, o deslimite poético da sétima arte como palco de vozes, cheiros e gostos. A raiz da fonte impalpável que estremece e revigora a alma. Portanto, precisamos ser árvore para absorver o que está à nossa volta, e não parede para delimitar espaços, abrindo mão de experiências visuais.
A beleza da fotografia e trilha sonora é incontestável, especialmente quando ambas alcançam uma sutil harmonia. Creio que se não fosse o matrimônio entre estes dois elementos o filme não teria tanto o impacto que teve. Tratando-se de uma maneira mais ampla de identidade e representação fílmica, "Os Famosos e os Duendes da Morte" não ultrapassa fronteiras, mas distingue-se pelo universo introspectivo de exageros emocionais permitidos, cujo embrião cinematográfico está decisivamente ligado com uma gama de possibilidades de criação. Muito bom!
Não o considero, na sua totalidade, um filme extremamente inovador; porém, tenho que admitir que a direção – em muitos momentos, original –, sensível e íntima de Esmir Filho, demarca uma autenticidade bastante comprometida com a veracidade sentimental de seus personagens, e que denota um horizonte lindamente desconhecido. Recomendo.
Fiquei surpreso com a qualidade do terror da série. Ainda mais considerando que boa parte das produções de hoje não ousam ultrapassar os limites, mantêm a mesma visão viciosa de desenvolvimento, apresentando-nos histórias que pecam pela falta de originalidade. Não que em "American Horror Story" não exista clichês, longe disso, mas o conteúdo exposto declara um formato firme de criar tensão, mostrando que é executável compor um atraente roteiro conservando um bom suspense. Vale enfatizar que a série goza de artifícios tanto psicológicos quanto palpáveis - e é nesse ponto que reside a sua primazia.
O que faz com que a premissa seja complexa, além de aumentar a fidelidade do espectador em querer assistir os episódios seguintes e descobrir os mistérios, é a conexão dos fatos que são apresentados de trás para frente, com o propósito de atingir a coerência da trama em relação ao que acontece no presente, interligando-o surpreendentemente com o passado dos personagens. Ryan Murphy e Brad Falchuk apostam na forma criativa de inserir personalidades fantasmagóricas para colaborar com o fator de impressionabilidade. A direção de arte e fotografia cooperam para o incômodo que a atmosfera oculta e tenebrosa resguarda, e que sugere o delírio nos próprios cenários.
Jamais poderemos esquecer o excepcional desempenho de Jessica Lange. As atuações em geral são boas, mas a de Lange interpretando Constance ficou tatuado, destacando-se e retendo todas as atenções para si nas cenas que atua – ela é praticamente o ponto alto deste drama-terror. Atriz competente, de beleza e talento invejáveis. Mereceu o globo de ouro,sem dúvidas.
Por fim, o que me deixou inconsolado foi a morte de Adelaide, não vi nenhum sentido nisso!O seriado perde muito da atração com a ausência dela, uma das personagens que mais tinha a oferecer dentro da história, e a que mais possuía uma aura misteriosa. Eu também não me contentei com a Season Finale, nem tanto em relação ao conjunto, mas ao modo forçado e arrastado que a finalizaram. Porém, não desprestigiou o mérito de toda a série.
"Now that it's time Now that the hour hand has landed at the end Now that it's real Now that the dreams have given all they had to lend I want to know do I stay or do I go And maybe try another time And do I really have a hand in my forgetting?"
Brutal! Somos protagonistas do teatro visceral da vida, cujo roteiro é redigido pelas idas – que muitas vezes não sabemos o caminho de volta – e vindas,pelos encontros e desencontros,pelos limites de cada um.
Até que ponto a ação do outro pode se manifestar perpetuamente em mim? E qual o grau dependência disso? O vazio existencial é um dos fatores que impulsionam o ser humana a devastar? "Magnólia" é uma bomba relógio de perguntas e divagações, a qual nos dar a liberdade de acharmos as nossas respostas.Por mais difícil que seja encontrá-las,o destino sempre colocará rastros para que possamos enxergá-las – isso permite que a obra não soe pretensiosa, apenas reforça assuntos complexos de rigorosa digestão, conduzindo estes de forma frenética.
Embora algumas facetas beirem o surreal, as convivências parecem tão familiares, que chegamos ao súbito envolvimento com os fortes dramas (dificuldades, fraquezas e dúvidas) dos personagens. Este imponente filme do renomado Paul Thomas Anderson é um olhar extraposto sobre o mundo,uma arrebatadora pintura do que somos e o que podemos nos tornar: um mero reflexo do outro.
Não é erroneamente que as pessoas julgam essa obra distinta à do Kubrick.Pois,estamos falando de perspectivas diferentes.Se por um lado Stanley Kubrick procurou manifestar a adaptação beirando o eufemismo, sem rodeios,objetivo e formal;por outro, Adrian Lyne ostentou o conteúdo poético eclodindo da atmosfera despertada pelo comportamento de Lolita,e tudo que está à sua volta.
Não li o romance de Vladimir Nabokov, por isso não tenho nenhum embasamento teórico e literário para explanar minha opinião sobre qual filme prevaleceu à fidelidade. O que me deixa mais tranquilo, pois posso dissecar a direção em si, sem nenhuma intervenção do livro,caso o tivesse lido.
Bom, ao contrário de Kubrick , Adrian Lyne preocupou-se mais em declarar a grandeza dos arroubos libidinosos,da forte conexão do Professor Humbert com a essência da ninfeta,do que com a magnitude da sutileza,do mistério assinalado pela mesma.Isso fica evidente no primeiro encontro dos dois,onde Lolita encontra-se deitada na grama deliciando-se com um álbum de retratos, tendo seu corpo beijado pela água vinda do irrigador. Nesse momento,o diretor já aponta sua real intencionalidade, indicando-nos o que virá mais à frente.
Prefiro descaradamente o caminho de Kubrick, sua visão e direção sagaz agradam-me, acarretando uma leve satisfação ao assistir o drama.Não podemos ignorar o impacto que foi para o ano de 1962.
Wow! O que me manifestou interesse em "Watchmen" não foram os efeitos visuais (que são bons, aliás!), muito menos a roupagem visionária da nona arte, mas a sensibilidade a qual Zack Snyder administra a adaptação. A ligação entre os super-heróis funciona perspicazmente para dar ritmo à narrativa, incluindo a oposição de interesses e a luta que é mais no interior deles próprios do que algo coletivo.
A criação de início já promete reviravoltas na sua bem aventurada história,que se dedica a enaltecer o grau de confronto das figuras mais emblemáticas do conteúdo e, de modo bem eficiente, mostra que até seres super poderosos erram,e que os erros fazem parte para encontrarmos o nosso caminho.
O meu desacerto foi ter assistido sem ao menos ter tentado ler os HQs, porque em certas sequências senti falta de uma identidade maior com os personagens, suas razões e procedências. Bom, foi uma das experiências mais lucrativas que eu já tive a oportunidade de gozar em relação às adaptações dos quadrinhos para as telas.
"Gaslight" é um delicioso filme, trazendo consigo um suspense à lá Hitchcock.
A previsibilidade do roteiro não o desfavorece por inteiro. Ao invés de decodificar as ações, ele lança muitas perguntas relevantes para por em foco o envolvimento dos personagens, possibilitando que o desfecho não seja desqualificado pela obviedade do mistério. Isso implica também no impulso que o diretor dar para termos anseio de saber mais sobre os protagonistas, especialmente sobre o cadeado que os prendem ao passado.
O clima nublado e insóbrio, iluminado à meia luz, fazem jus ao título do filme, de modo a incitar o interesse do espectador, culminando em olhos arregalados e mãos agitadas. As deslumbrantes atuações de Ingrid Bergman e George Cukor colaboram decisivamente para a nossa aproximação do desenrolar dos acontecimentos. Uma trama frutuosa,nutrida de estilo, estabelecida pela valiosíssima direção de arte de Cedric Gibbons, que amplifica o seu amável encantamento.
Épico!Depois de "C'era una volta il West" o faroeste italiano nunca mais foi o mesmo. Produção inesgotável, grandiosa por completo, tornando-se uma vertente irrefutável para muitas outras linhagens. Sergio Leone está de parabéns. Além de contar com uma lista de inigualáveis atores (em especial, de Henry Fonda), é escrito por Bernardo Bertolucci, Dario Argento, e outros. E a trilha sonora tem autoria de nada mais nada menos que Ennio Morricone. Promissor!
Esta inventiva criação é um modelo formidável de harmonia técnica, adequando elementos a seu favor e estabelecendo conceitos que são de enorme valia para o âmbito temático dos filmes do gênero. Destaque para os closes nos olhares dos personagens que, por vezes, expressam mais que os moderados diálogos. Maravilhoso trabalho de comunicação gesticular. Para ficar tatuado na memória.
O terceiro filme do Lynch que eu fico sem palavras. "Mulholland Dr." é a experimentação ilusória de um espírito transtornado, cuja realidade sobrevive da mais pura fantasia da idealização perfeita. Mas, a coexistência de ambas causa males avassaladores, cava um sufocante buraco negro e aprisiona a personagem de Naomi Watts em seus próprios erros.
A tentadora riqueza esmiuçada de informações que participam,bem como os aterradores desvarios de Diana, da rede de compreensão do enigma, criam e recriam a fórmula fundamental da acepção dos episódios. O estranhamento com as cenas mais confusas faz parte do processo de experiência, e a linguagem nada convencional de David Lynch que nos permiti enlouquecer é intensamente saudável.
Graças a algumas pistas consegui parcialmente desvendar a trama. Por mais consignada que ela seja,a delícia de podermos interpretar da nossa maneira,e abrir um leque de teses, não tem preço. Faz-se presente o signo multívoco. Bárbaro!
Há uma sedutora ligação entre o meu ser e a preciosa Catherine Deneuve.Não é à toa que ela é uma das atrizes francesas que eu mais admiro. Nesta criação,Roman Polanski transporta a mesma tensão angustiante que em "Rosemary's Baby",porém com muita mais consistência caótica e colidente.Um grandiloquente estudo sobre a mente humana.
No âmbito aflitivo que a trama alcança sua natureza destruidora, ficamos face a face com a excepcional qualidade técnica,fundida com a fotografia em preto e branco que,a cada feição multi-expressiva de Carol Ledoux, extrai o âmago com a sua violenta invasão psicológica.
Meu segundo filme da paranoica trilogia do apartamento.Embora não tenha começado pela ordem cronológica,consigo distinguir a abordagem aguçada da passagem da primeira para a segunda obra da trilogia, evidenciando amadurecimento e uma formação propensa à mudança. Palavras de um cinéfilo pretensioso que ainda não presenciou "Le Locataire",mas que espera inquieto para assisti-lo.
"And you,have proved,to be... A real human being, and a real hero"
Um tiro certeiro. "Drive" conseguiu me deixar vidrado com todo seu feitio cinematográfico. Tudo neste filme alcança a potencialidade necessária para suprir a escassa comunicação entre os personagens,e ainda de quebra afasta a possibilidade de irreflexão que as sequências mais contidas podem gerar.
Ávido!A vitalidade com que os planos mais longos foram realizados, coligada com a iluminação que acentua cores mais vibrantes, torna-o visualmente deslumbrante. Para beneficiar a resolução do estilo retrô inserem uma trilha sonora eletrônica (Kavinsky, Cliff Martinez) muita boa que,no mínimo,empolga.Um baita sobressalto no formato que estamos acostumados.
"When the night has come And the land is dark And the moon is the only light we'll see No I won't be afraid, no I won't be afraid Just as long as you stand, stand by me"
Sinto que estou redescobrindo a sétima arte nacional. Ou apenas reconhecendo um cinema preeminente pela sua estrutura, estética e produção. Um cinema que, talvez, por anseio de decepcionar-me, não quis enxergar. Falta tirarmos a máscara do preconceito para podermos assistir carinhosamente filmes como este,e compreender que estamos degustando algo de qualidade, sem vencimento e/ou contra-indicação.
Karim Ainouz pisa fundo nas desilusões e nos apresenta a estreita vida de Hermila, jovem desarranjada,de coração apertado,cuja vida se limita a um cigarro e a sua humilde família interiorana. A certeza de um futuro, não somente promissor,mas de um sentido elucidado de seu papel existencial, encontra-se em seu filho.Suely – nome de guerra adotado por Hermila – possui a aparência triste de quem foi entregue precoce para os obstáculos do dia a dia, e arrancada da raiz familiar por um inconsequente amor, prescrito a partir de agora pelo seu imprevisível curso de volta à cidade natal (Iguatu).
Belo,contrastante. O combustível que aquece os sonhos de Hermila localiza-se na fugacidade que o céu limpidamente azul proporciona, o qual esconde, por trás de suas majestosas nuvens, surpresas para essa pequena mulher.Assim como nos seus olhos perdidos em meio à multidão, no silêncio interior que, às vezes, não acredita na veracidade à sua volta.
Mais uma vez Walter Carvalho expõe seu conhecimento na direção de fotografia,deixando evidente que não é à toa que é considerado um dos melhores fotógrafos cinematográficos do Brasil. A proposta de "O Céu de Suely" tonifica um clima amargo,o que não desmerece em nada o conjunto da obra, sobretudo a corrente narrativa. Pelo contrário, a escolha de uma leitura duramente realista influência e muito no resultado quantitativo do longa, que não perde o tempero devido ao modo como se aproveita das tomadas contemplativas e da seleção referencial de uma perspectiva cultural.
Um crítico estudo sobre o regresso,a sexualidade e a fragilidade na busca de nosso próprio céu. Um presente de grande estima para a filmografia brasileira.
Outra extraordinária obra de Isao Takahata. Diretor que eu admiro bastante ,possuindo um olhar inigualável,o qual transmite,por meio da animação,ensinamentos valiosos.
A imagem humanista dos tanukis em busca de sua paz espiritual é simbolizada e poetizada pela natureza e sua contemplação. É de grande apreço a riqueza e vivacidade que cada elemento representa para esses animais, transparecendo um considerável valor cultural, reflexivo e,acima de tudo, sentimental. Uma simples flor desabrochando de uma árvore na primavera é motivo de plena felicidade – fidelidade que estamos perdendo a cada dia, como retratado na animação – ,proferindo amor e devoção à natureza.
A referência ao filme "Sonhos" do mestre Kurosawa é sensacional! "Pom Poko" tem o seu lado extremamente cômico que,a propósito,é bem prazeroso. Um trabalho que eu teria orgulho de mostrar para os meus filhos.
Em "Hauru no Ugoku Shiro" Hayao Miyazaki confia na quantidade de personagens interessantes, caracterizando-os com virtudes e uma certa origem enigmática. Parece que eles foram extraídos do mundo dos sonhos. E eu asseguro que não existirá um ser com tamanho engenho para estabelecê-los tão maravilhosamente na prática de animar do que Miyazaki.
Nossa, já é quase praxe eu esboçar um sutil sorriso nos finais das animações produzidas pelo Studio Ghibli. E com esta não foi diferente. O espetáculo fica por conta da beleza dos traços, dos arranjos de cores,dos incríveis cenários que a apaixonante Sophie transita.
É essencial abrir as portas para a fantasia e recepcionar as figuras mais surpreendentes de um universo fictício.Para assim,viver doces peripécias nesta fascinante fábula, erigida de magia e metáforas.
Shyamalan acerta os ponteiros para a conclusão de "Unbreakable". Não fico nada espantado com a impressão de apatia que eu tive no término desta obra, muito menos com a vaga manipulação da ideia principal, já que o diretor de uns tempos para cá vem mostrando vergonhosamente sua capacidade para atos falhos.
O que me alegra neste filme é a possibilidade de comunicação com o universo das histórias em quadrinhos, tornando-o mais maleável. O crime de M. Night Shyamalan reside nas suas propostas incertas, nos fatos mal aproveitados,que não cooperam nenhum pouco para embasar o produto final. No mais,vale pela performance de Samuel L. Jackson.
A Hora da Estrela
3.8 507 Assista AgoraÀs vezes considero um certo risco assistir adaptações de livros que marcaram a minha vida. Mas, por considerá-los irretocáveis, acabo por aventurar-me nas trilhas de uma película em direção à obra literária. O problema reside no caminho inverso que, às vezes, algumas obras cinematográficas tomam, desconsiderando caminhos que se propuseram a percorrer enquanto adaptação.
Este caso é meio que dividido na adaptação cinematográfica de “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector. Se por um lado fico extremamente embevecido e atônito com as pinceladas fiéis de Marcélia Cartaxo ao reviver Macabéa; por outro, fico um pouco decepcionado ao ver que a narrativa cinematográfica tomou certos caminhos equivocados na contramão do romance de Clarice. Uma pena. Porém, não foi o suficiente para tirar o brilho dos meus olhos ao ver, ou reviver, esta história – que tanto me acerta em cheio – projetada na telona.
Suzana Amaral consegue transpor nesta película toda a sensibilidade e dramaticidade que a obra de Clarice contempla, além do humor simplório carregado de consternadas reflexões. E o que falar das atuações? Memoráveis! Marcélia Cartaxo e José Dumont incorporam brilhantemente suas personagens Macabéa e Olímpico, respectivamente. Vale ressaltar a icônica performance de Fernando Montenegro como Madame Carlota, a cartomante. Em suma: embora os pretextos e omissões – principalmente no desfecho – da narrativa fílmica demonstrarem leve descrédito em relação à obra, deixando a desejar, o filme conseguiu tatuar a essência de uma das obras mais imponentes de Clarice Lispector. Retificando meu discurso inicial: é preciso arriscar.
Um Domingo Maravilhoso
4.3 29"Um Domingo Maravilhoso" é o tipo de obra que reitera minha paixão pela sétima arte. Trata-se de uma película que nos olha ao mesmo tempo em que é olhada. Melhor: preenche-nos ao atravessar a tela com o espírito da vida e, como num golpe, rouba-nos, intrinsecamente, com a sua austera realidade.
Aqui, Kurosowa apresenta um casal lutando para sobreviver a um Japão pós-Segunda Guerra. Entretanto, à medida que amor e os sonhos sobrepujam esta realidade, passa-se a encarar o mundo de outra maneira. Manifesto que Kurosawa transmite não só em relação à realidade fílmica vivida pelo diretor, mas à nossa própria condição humana, pois apesar das nossas dificuldades, não podemos deixar que silenciem nossos sonhos.
Lírico e sincero. Atuações impecáveis de Isao Numasaki e Chieko Nakakita. A conclusão da obra é simplesmente sensacional: o poder dramático e poético que a cena no anfiteatro projeta arrebata e, como uma voz em uníssono, transporta-nos à trama, como espectadores ativos. A sinfonia inacabada de Schubert ainda ecoa em mim. Esta, sem dúvida, é uma obra-prima do mestre Akira Kurosawa.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraA princípio, não tinha nenhuma pretensão em escreve sobre "Elena", pois acredito piamente que o documentário/filme me proporcionou uma das experiências cinematográficas mais indescritíveis nesta minha cinefilia. Portanto, é deveras árduo tentar colocar neste espaço o que transcende o material, o concreto. Elena é, em essência, uma experiência indizível.
Durante toda a projeção, já não me sentia mais numa sala de cinema, muito menos como espectador, mas, sim, como um ser de forte laço com a saudade que era fotografada em cada verso, fragmento e passagem de "Elena". Uma saudade que o meu 'eu' chamais esquecerá. Sinto que foi uma vivência poético-visual que me tirou de mim e me entregou aos braços da magnitude humana. E cabe dizer aqui como somos intensos, sonhadores; entretanto, também somos sensíveis, vulneráveis.
"Elena" é um olhar extraposto sob a perda, sob a alma, é uma intimista manifestação das emoções que nos movem, inquietam, alimentam e dilaceram. Não consigo enxergar o amor declarado por Petra Costa e sua mãe se não for com os olhos do coração. Sentia-me mais envolvido quando carregava a saudade – e por que não a dor? – de olhares que buscam na memória uma forma de eternizar a existência de Elena.
Entregava-me a cada silêncio que ecoava pela atmosfera, silêncio este que tocava minha alma numa poesia infinita que se perpetuava por todo o cinema. Silêncio composto por Elena. Silêncio composto por lembranças. Silêncio composto por poesia. Como diz um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade: “a poesia deste momento inunda minha vida inteira”. E, assim, a poesia de Elena inundou o amor, inundou a vida, e me inundou.
Poderia citar a bela direção de arte, fotografia e a forma como tudo foi contado – mérito notável deste documentário/filme –, mas me reservo unicamente a expressar minha concepção emocional acerca de "Elena". Compromisso sentimental que não dispenso, sobretudo por ser ele o catalizador de toda a obra, pois o que saltava da tela, sem sombra de dúvida, era a erudição lírica de uma miscelânea de recordações felizes e dolorosas, que atravessavam o meu peito e me deixavam sem fôlego.
O desfecho é uma transcendência à parte. Fui levado pela força da emoção, acompanhando o ritmo da onírica dança nas águas de um rio de sentimentos, que a família de Elena poeticamente se entregava. Enxergava-me mais próximo de Elena, enxergava-me arrebatado pelo amor. Diante da profundidade das declarações, percebi o quão sou pequeno, meus braços já correspondiam à força de uma gravidade transcendental, avassaladora. E, no final da sessão, na imensa sala de cinema, observava todos comungando de uma mesma introspecção, entregando-se à fragilidade humana, às dores de Elena. Afinal, somos todos Elena.
Mad Men (1ª Temporada)
4.4 346 Assista AgoraA princípio, confesso que a premissa de Mad Men não me soou tão bem como eu gostaria; porém, com o decorrer dos fatos, a construção da história vai criando dimensões curiosas e significativamente profundas, deixando a superficialidade aquém de qualquer conteúdo exposto na série. Digo o mesmo em relação a alguns personagens, que, a priori, não tinham tanto a acrescentar, mas que a partir das relações de conflitos internos e externos, tornaram o meu envolvimento mais vigoroso.
É notório o estilo atraente e bem ambientado do seriado. A trilha sonora também é muito boa, revela um gosto requintado e uma excelente seleção – incluindo a música de abertura. Há muitos outros méritos a destacar, como, por exemplo, o simbolismo que cerca as ações dos personagens, o episódio 9 (Shoot) é prova disso. Espero que a qualidade de Mad Men continue prevalecendo na season 2, ou que supere a desta.
A Pele
3.6 264Um inebriante tributo à Diana Arbus. "Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus" registra não só uma essência carregada de vigor e mistério, mas uma possibilidade de (re) conhecimento do olhar inusitado da reveladora Diana. Olhar tão íntimo, sensível, que ignora qualquer formalismo, qualquer pré-julgamento, aventurando-se na esfinge que é a nossa natureza humana.
Tudo neste longa funciona perfeitamente: da cenografia à trilha sonora, dos closes ao figurino. Não quero e não posso esquecer a fotografia, o epicentro da minha apreciação pelo filme. Nicole Kidman em mais uma atuação de tirar o chapéu. "Fur" é uma biografia despretensiosa, que se preocupa mais em declarar homenagem à fotógrafa, do que reconstituir fielmente a vida da mesma. O título fala por si só.
Cinzas e Neve
4.5 62Durante todo o meu percurso fotográfico – de aprendizagem e deleitamento – não tive a experiência mais enternecedora e instrutiva do que com o olhar cativante de Gregory Colbert. E o que me deixa mais honrado em desfrutar do seu talento é,além da forte inspiração para o meu olhar de andarilho, a oportunidade de reinvenção por intermédio da sua concepção e subjetividade visual. Há quem diga que seu olhar abraça o divino, o sentimentalismo fortificante da natureza, o fluxo integracionista do homem – como matéria e alma – com o reino animal ...
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraTerrence Malick é um diretor, digamos, que não tem o merecido prestígio devido à infrequente criação cinematográfica no âmbito Hollywoodiano. Mas, pelas "poucas" obras que ele realizou,foi o suficiente para mantê-lo em consagrado topo da sétima arte. Isso tudo é resultado de um estudo prolongado que concentra em suas projeções, um profundo trabalho minimalista e notavelmente moldado, seja pelo já consagrado Badlands ...
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 264 Assista AgoraColossal. Mordaz. Incisivo."O Bandido da Luz Vermelha" é um dos clássicos mais imponentes do cinema brasileiro. Um marco para a história cinematográfica do Brasil. Nesta obra antagônica, o audaz Rogério Sganzerla vomita noções truculentas de ordem econômica, política e social. Decodifica a realidade, apresentando-a sem máscaras, com discursos categóricos, sordidamente entrelaçados.
Os Famosos e os Duendes da Morte
3.7 670 Assista AgoraFaço minhas as palavras de Manoel de Barros: "Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede; procure ser árvore". Isso traduz claramente a essência de "Os famosos e os Duendes da Morte". Acredito que, por mais que as pessoas busquem uma explicação consistente para história – não que ela não tenha –, o que deve prevalecer é a acepção sensorial, o deslimite poético da sétima arte como palco de vozes, cheiros e gostos. A raiz da fonte impalpável que estremece e revigora a alma. Portanto, precisamos ser árvore para absorver o que está à nossa volta, e não parede para delimitar espaços, abrindo mão de experiências visuais.
A beleza da fotografia e trilha sonora é incontestável, especialmente quando ambas alcançam uma sutil harmonia. Creio que se não fosse o matrimônio entre estes dois elementos o filme não teria tanto o impacto que teve. Tratando-se de uma maneira mais ampla de identidade e representação fílmica, "Os Famosos e os Duendes da Morte" não ultrapassa fronteiras, mas distingue-se pelo universo introspectivo de exageros emocionais permitidos, cujo embrião cinematográfico está decisivamente ligado com uma gama de possibilidades de criação. Muito bom!
Não o considero, na sua totalidade, um filme extremamente inovador; porém, tenho que admitir que a direção – em muitos momentos, original –, sensível e íntima de Esmir Filho, demarca uma autenticidade bastante comprometida com a veracidade sentimental de seus personagens, e que denota um horizonte lindamente desconhecido. Recomendo.
American Horror Story: Murder House (1ª Temporada)
4.2 2,2KFiquei surpreso com a qualidade do terror da série. Ainda mais considerando que boa parte das produções de hoje não ousam ultrapassar os limites, mantêm a mesma visão viciosa de desenvolvimento, apresentando-nos histórias que pecam pela falta de originalidade. Não que em "American Horror Story" não exista clichês, longe disso, mas o conteúdo exposto declara um formato firme de criar tensão, mostrando que é executável compor um atraente roteiro conservando um bom suspense. Vale enfatizar que a série goza de artifícios tanto psicológicos quanto palpáveis - e é nesse ponto que reside a sua primazia.
O que faz com que a premissa seja complexa, além de aumentar a fidelidade do espectador em querer assistir os episódios seguintes e descobrir os mistérios, é a conexão dos fatos que são apresentados de trás para frente, com o propósito de atingir a coerência da trama em relação ao que acontece no presente, interligando-o surpreendentemente com o passado dos personagens. Ryan Murphy e Brad Falchuk apostam na forma criativa de inserir personalidades fantasmagóricas para colaborar com o fator de impressionabilidade. A direção de arte e fotografia cooperam para o incômodo que a atmosfera oculta e tenebrosa resguarda, e que sugere o delírio nos próprios cenários.
Jamais poderemos esquecer o excepcional desempenho de Jessica Lange. As atuações em geral são boas, mas a de Lange interpretando Constance ficou tatuado, destacando-se e retendo todas as atenções para si nas cenas que atua – ela é praticamente o ponto alto deste drama-terror. Atriz competente, de beleza e talento invejáveis. Mereceu o globo de ouro,sem dúvidas.
Por fim, o que me deixou inconsolado foi a morte de Adelaide, não vi nenhum sentido nisso!O seriado perde muito da atração com a ausência dela, uma das personagens que mais tinha a oferecer dentro da história, e a que mais possuía uma aura misteriosa. Eu também não me contentei com a Season Finale, nem tanto em relação ao conjunto, mas ao modo forçado e arrastado que a finalizaram. Porém, não desprestigiou o mérito de toda a série.
Inquietos
3.9 1,6K Assista Agora"Now that it's time
Now that the hour hand has landed at the end
Now that it's real
Now that the dreams have given all they had to lend
I want to know do I stay or do I go
And maybe try another time
And do I really have a hand in my forgetting?"
Magnólia
4.1 1,3K Assista AgoraBrutal! Somos protagonistas do teatro visceral da vida, cujo roteiro é redigido pelas idas – que muitas vezes não sabemos o caminho de volta – e vindas,pelos encontros e desencontros,pelos limites de cada um.
Até que ponto a ação do outro pode se manifestar perpetuamente em mim? E qual o grau dependência disso? O vazio existencial é um dos fatores que impulsionam o ser humana a devastar? "Magnólia" é uma bomba relógio de perguntas e divagações, a qual nos dar a liberdade de acharmos as nossas respostas.Por mais difícil que seja encontrá-las,o destino sempre colocará rastros para que possamos enxergá-las – isso permite que a obra não soe pretensiosa, apenas reforça assuntos complexos de rigorosa digestão, conduzindo estes de forma frenética.
Embora algumas facetas beirem o surreal, as convivências parecem tão familiares, que chegamos ao súbito envolvimento com os fortes dramas (dificuldades, fraquezas e dúvidas) dos personagens. Este imponente filme do renomado Paul Thomas Anderson é um olhar extraposto sobre o mundo,uma arrebatadora pintura do que somos e o que podemos nos tornar: um mero reflexo do outro.
Lolita
3.7 824 Assista AgoraNão é erroneamente que as pessoas julgam essa obra distinta à do Kubrick.Pois,estamos falando de perspectivas diferentes.Se por um lado Stanley Kubrick procurou manifestar a adaptação beirando o eufemismo, sem rodeios,objetivo e formal;por outro, Adrian Lyne ostentou o conteúdo poético eclodindo da atmosfera despertada pelo comportamento de Lolita,e tudo que está à sua volta.
Não li o romance de Vladimir Nabokov, por isso não tenho nenhum embasamento teórico e literário para explanar minha opinião sobre qual filme prevaleceu à fidelidade. O que me deixa mais tranquilo, pois posso dissecar a direção em si, sem nenhuma intervenção do livro,caso o tivesse lido.
Bom, ao contrário de Kubrick , Adrian Lyne preocupou-se mais em declarar a grandeza dos arroubos libidinosos,da forte conexão do Professor Humbert com a essência da ninfeta,do que com a magnitude da sutileza,do mistério assinalado pela mesma.Isso fica evidente no primeiro encontro dos dois,onde Lolita encontra-se deitada na grama deliciando-se com um álbum de retratos, tendo seu corpo beijado pela água vinda do irrigador. Nesse momento,o diretor já aponta sua real intencionalidade, indicando-nos o que virá mais à frente.
Prefiro descaradamente o caminho de Kubrick, sua visão e direção sagaz agradam-me, acarretando uma leve satisfação ao assistir o drama.Não podemos ignorar o impacto que foi para o ano de 1962.
Watchmen: O Filme
4.0 2,8K Assista AgoraWow! O que me manifestou interesse em "Watchmen" não foram os efeitos visuais (que são bons, aliás!), muito menos a roupagem visionária da nona arte, mas a sensibilidade a qual Zack Snyder administra a adaptação. A ligação entre os super-heróis funciona perspicazmente para dar ritmo à narrativa, incluindo a oposição de interesses e a luta que é mais no interior deles próprios do que algo coletivo.
A criação de início já promete reviravoltas na sua bem aventurada história,que se dedica a enaltecer o grau de confronto das figuras mais emblemáticas do conteúdo e, de modo bem eficiente, mostra que até seres super poderosos erram,e que os erros fazem parte para encontrarmos o nosso caminho.
O meu desacerto foi ter assistido sem ao menos ter tentado ler os HQs, porque em certas sequências senti falta de uma identidade maior com os personagens, suas razões e procedências. Bom, foi uma das experiências mais lucrativas que eu já tive a oportunidade de gozar em relação às adaptações dos quadrinhos para as telas.
À Meia Luz
4.1 96 Assista Agora"Gaslight" é um delicioso filme, trazendo consigo um suspense à lá Hitchcock.
A previsibilidade do roteiro não o desfavorece por inteiro. Ao invés de decodificar as ações, ele lança muitas perguntas relevantes para por em foco o envolvimento dos personagens, possibilitando que o desfecho não seja desqualificado pela obviedade do mistério. Isso implica também no impulso que o diretor dar para termos anseio de saber mais sobre os protagonistas, especialmente sobre o cadeado que os prendem ao passado.
O clima nublado e insóbrio, iluminado à meia luz, fazem jus ao título do filme, de modo a incitar o interesse do espectador, culminando em olhos arregalados e mãos agitadas. As deslumbrantes atuações de Ingrid Bergman e George Cukor colaboram decisivamente para a nossa aproximação do desenrolar dos acontecimentos. Uma trama frutuosa,nutrida de estilo, estabelecida pela valiosíssima direção de arte de Cedric Gibbons, que amplifica o seu amável encantamento.
Era uma Vez no Oeste
4.4 729 Assista AgoraÉpico!Depois de "C'era una volta il West" o faroeste italiano nunca mais foi o mesmo. Produção inesgotável, grandiosa por completo, tornando-se uma vertente irrefutável para muitas outras linhagens. Sergio Leone está de parabéns. Além de contar com uma lista de inigualáveis atores (em especial, de Henry Fonda), é escrito por Bernardo Bertolucci, Dario Argento, e outros. E a trilha sonora tem autoria de nada mais nada menos que Ennio Morricone. Promissor!
Esta inventiva criação é um modelo formidável de harmonia técnica, adequando elementos a seu favor e estabelecendo conceitos que são de enorme valia para o âmbito temático dos filmes do gênero. Destaque para os closes nos olhares dos personagens que, por vezes, expressam mais que os moderados diálogos. Maravilhoso trabalho de comunicação gesticular. Para ficar tatuado na memória.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraO terceiro filme do Lynch que eu fico sem palavras. "Mulholland Dr." é a experimentação ilusória de um espírito transtornado, cuja realidade sobrevive da mais pura fantasia da idealização perfeita. Mas, a coexistência de ambas causa males avassaladores, cava um sufocante buraco negro e aprisiona a personagem de Naomi Watts em seus próprios erros.
A tentadora riqueza esmiuçada de informações que participam,bem como os aterradores desvarios de Diana, da rede de compreensão do enigma, criam e recriam a fórmula fundamental da acepção dos episódios. O estranhamento com as cenas mais confusas faz parte do processo de experiência, e a linguagem nada convencional de David Lynch que nos permiti enlouquecer é intensamente saudável.
Graças a algumas pistas consegui parcialmente desvendar a trama. Por mais consignada que ela seja,a delícia de podermos interpretar da nossa maneira,e abrir um leque de teses, não tem preço. Faz-se presente o signo multívoco. Bárbaro!
Repulsa ao Sexo
4.0 461 Assista AgoraHá uma sedutora ligação entre o meu ser e a preciosa Catherine Deneuve.Não é à toa que ela é uma das atrizes francesas que eu mais admiro. Nesta criação,Roman Polanski transporta a mesma tensão angustiante que em "Rosemary's Baby",porém com muita mais consistência caótica e colidente.Um grandiloquente estudo sobre a mente humana.
No âmbito aflitivo que a trama alcança sua natureza destruidora, ficamos face a face com a excepcional qualidade técnica,fundida com a fotografia em preto e branco que,a cada feição multi-expressiva de Carol Ledoux, extrai o âmago com a sua violenta invasão psicológica.
Meu segundo filme da paranoica trilogia do apartamento.Embora não tenha começado pela ordem cronológica,consigo distinguir a abordagem aguçada da passagem da primeira para a segunda obra da trilogia, evidenciando amadurecimento e uma formação propensa à mudança. Palavras de um cinéfilo pretensioso que ainda não presenciou "Le Locataire",mas que espera inquieto para assisti-lo.
Drive
3.9 3,5K Assista Agora"And you,have proved,to be... A real human being, and a real hero"
Um tiro certeiro. "Drive" conseguiu me deixar vidrado com todo seu feitio cinematográfico. Tudo neste filme alcança a potencialidade necessária para suprir a escassa comunicação entre os personagens,e ainda de quebra afasta a possibilidade de irreflexão que as sequências mais contidas podem gerar.
Ávido!A vitalidade com que os planos mais longos foram realizados, coligada com a iluminação que acentua cores mais vibrantes, torna-o visualmente deslumbrante. Para beneficiar a resolução do estilo retrô inserem uma trilha sonora eletrônica (Kavinsky, Cliff Martinez) muita boa que,no mínimo,empolga.Um baita sobressalto no formato que estamos acostumados.
Garçom,mais duas doses de silêncio,por favor.
Conta Comigo
4.3 1,9K Assista Agora"When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, no I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me"
O Céu de Suely
3.9 464 Assista AgoraSinto que estou redescobrindo a sétima arte nacional. Ou apenas reconhecendo um cinema preeminente pela sua estrutura, estética e produção. Um cinema que, talvez, por anseio de decepcionar-me, não quis enxergar. Falta tirarmos a máscara do preconceito para podermos assistir carinhosamente filmes como este,e compreender que estamos degustando algo de qualidade, sem vencimento e/ou contra-indicação.
Karim Ainouz pisa fundo nas desilusões e nos apresenta a estreita vida de Hermila, jovem desarranjada,de coração apertado,cuja vida se limita a um cigarro e a sua humilde família interiorana. A certeza de um futuro, não somente promissor,mas de um sentido elucidado de seu papel existencial, encontra-se em seu filho.Suely – nome de guerra adotado por Hermila – possui a aparência triste de quem foi entregue precoce para os obstáculos do dia a dia, e arrancada da raiz familiar por um inconsequente amor, prescrito a partir de agora pelo seu imprevisível curso de volta à cidade natal (Iguatu).
Belo,contrastante. O combustível que aquece os sonhos de Hermila localiza-se na fugacidade que o céu limpidamente azul proporciona, o qual esconde, por trás de suas majestosas nuvens, surpresas para essa pequena mulher.Assim como nos seus olhos perdidos em meio à multidão, no silêncio interior que, às vezes, não acredita na veracidade à sua volta.
Mais uma vez Walter Carvalho expõe seu conhecimento na direção de fotografia,deixando evidente que não é à toa que é considerado um dos melhores fotógrafos cinematográficos do Brasil. A proposta de "O Céu de Suely" tonifica um clima amargo,o que não desmerece em nada o conjunto da obra, sobretudo a corrente narrativa. Pelo contrário, a escolha de uma leitura duramente realista influência e muito no resultado quantitativo do longa, que não perde o tempero devido ao modo como se aproveita das tomadas contemplativas e da seleção referencial de uma perspectiva cultural.
Um crítico estudo sobre o regresso,a sexualidade e a fragilidade na busca de nosso próprio céu. Um presente de grande estima para a filmografia brasileira.
PomPoko: A Grande Batalha dos Guaxinins
4.0 154 Assista AgoraOutra extraordinária obra de Isao Takahata. Diretor que eu admiro bastante ,possuindo um olhar inigualável,o qual transmite,por meio da animação,ensinamentos valiosos.
A imagem humanista dos tanukis em busca de sua paz espiritual é simbolizada e poetizada pela natureza e sua contemplação. É de grande apreço a riqueza e vivacidade que cada elemento representa para esses animais, transparecendo um considerável valor cultural, reflexivo e,acima de tudo, sentimental. Uma simples flor desabrochando de uma árvore na primavera é motivo de plena felicidade – fidelidade que estamos perdendo a cada dia, como retratado na animação – ,proferindo amor e devoção à natureza.
A referência ao filme "Sonhos" do mestre Kurosawa é sensacional! "Pom Poko" tem o seu lado extremamente cômico que,a propósito,é bem prazeroso. Um trabalho que eu teria orgulho de mostrar para os meus filhos.
O Castelo Animado
4.5 1,3K Assista AgoraEm "Hauru no Ugoku Shiro" Hayao Miyazaki confia na quantidade de personagens interessantes, caracterizando-os com virtudes e uma certa origem enigmática. Parece que eles foram extraídos do mundo dos sonhos. E eu asseguro que não existirá um ser com tamanho engenho para estabelecê-los tão maravilhosamente na prática de animar do que Miyazaki.
Nossa, já é quase praxe eu esboçar um sutil sorriso nos finais das animações produzidas pelo Studio Ghibli. E com esta não foi diferente. O espetáculo fica por conta da beleza dos traços, dos arranjos de cores,dos incríveis cenários que a apaixonante Sophie transita.
É essencial abrir as portas para a fantasia e recepcionar as figuras mais surpreendentes de um universo fictício.Para assim,viver doces peripécias nesta fascinante fábula, erigida de magia e metáforas.
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista AgoraShyamalan acerta os ponteiros para a conclusão de "Unbreakable". Não fico nada espantado com a impressão de apatia que eu tive no término desta obra, muito menos com a vaga manipulação da ideia principal, já que o diretor de uns tempos para cá vem mostrando vergonhosamente sua capacidade para atos falhos.
O que me alegra neste filme é a possibilidade de comunicação com o universo das histórias em quadrinhos, tornando-o mais maleável. O crime de M. Night Shyamalan reside nas suas propostas incertas, nos fatos mal aproveitados,que não cooperam nenhum pouco para embasar o produto final. No mais,vale pela performance de Samuel L. Jackson.