Co-escrito por John Krasinski, que também estrela e dirige, Um Lugar Silencioso se passa após uma invasão de terríveis monstros gigantes, rápidos, com uma super audição, mas cegos, que caçam suas presas - principalmente humanos - sendo atraídos pelo som. O filme começa após 90 dias da invasão e acompanha a família Abbott, constituída por um jovem casal e seus três filhos - destaque para a menina, que é surda e os coloca familiarizados com a língua de sinais, o que é uma vantagem para o novo contexto.
A direção é precisa na construção do suspense, sabendo desenvolver a tensão através do silêncio e de como este é imprescindível e, mesmo quando há a aparição dos monstros, os detalhes do visual incrível da espécie são entregues gradativamente conforme a projeção avança. Os movimentos de câmera escolhidos pelo diretor também são interessantes, destacando sempre o pânico nas expressões dos personagens e também possíveis causadores de barulhos: a câmera mostra objetos de vidro, quadros na parede e até os pés dos personagens, entre outros.
Eventualmente há um salto temporal e, precisamente no dia 473, algo acontece e parece quase impossível dar sequência a isso sem que haja barulho. E é aí que as coisas ficam frenéticas e o filme não para mais; há ameaça maior e vemos ainda mais todo o cuidado familiar que existe naquele grupo que, mesmo com inacreditáveis momentos de perigo, consegue demonstrar carinho uns com os outros - mesmo com linguagem não-verbal.
De forma inventiva e com momentos emocionantes, Um Lugar Silencioso é um desses filmes que dá sobrevida ao seu gênero e mostra a grande importância do silêncio - inclusive nas salas de cinema - expondo também o quão barulhentos outros filmes tornaram-se, não precisando ser apelativo, principalmente sonoramente, para ser grandioso.
Primeiro super-herói de descendência africana a ser publicado por uma editora mainstream de quadrinhos norte-americanos, Pantera Negra chega aos cinemas e traz consigo um marco: é um blockbuster feito majoritariamente com atores e atrizes afro-descendentes, algo que remete ao movimento Blaxploitation dos anos 70 em que negros produziram e protagonizaram filmes dos mais diferentes gêneros.
O filme se passa em Wakanda, país africano fictício do universo Marvel que possui das mais avançadas tecnologias, todas munidas de Vibranium - metal mais poderoso do universo. A história traz o início do reinado de T'challa como o novo Pantera Negra, seus desafios iniciais e seu método de governar, já questionado por não buscar expandir a nação e com isso ajudar seus semelhantes. Seu antagonista, o vilão interpretado com maestria por Michael B. Jordan, traz consigo uma visão extremista e que faz com que o espectador o entenda, embora seja difícil concordar com suas ações. É, com sobras, o melhor vilão do MCU até então. Ainda a respeito do elenco, destacam-se também as Dora Milaje: time de segurança do próprio rei formado inteiramente por mulheres fortíssimas e habilidosas.
Ambientado em uma África futurística, tecnológica e, porque não, utópica, o trabalho de figurino e cenografia são vislumbrantes, muito embora em alguns momentos, principalmente nas cenas de ação, o CGI seja carregado. O filme, além de trazer consigo um elenco representativo, também possui um tom recorrente de justiça social em seu roteiro, mas infelizmente o texto não é tão bem trabalhado como deveria: há momentos em que as colocações soam artificiais, e é ainda pior quando o humor é utilizado e não funciona - embora seja compreensível, já que esse tom humorístico é traço comum e, infelizmente, indispensável aos filmes da Marvel.
Pantera Negra é um filme representativo, divertido (talvez um tom mais sério favorecesse o filme), com cenas de ação bem orquestradas e um marco nos filmes de super-herói, mas talvez seja mais interessante discutir sobre ele do que propriamente assisti-lo.
Primeiro filme da história totalmente pintado a mão, Loving Vincent brinda seu público com uma mistura de duas formas de arte, e o resultado é deslumbrante. Com personagens e cenários inspirados em obras do grandioso Van Gogh, é como se o longa fosse feito baseado em um sonho em que a arte ganha vida - e a movimentação dos traços corrobora pra isso.
A trama segue os eventos posteriores à morte do artista e sua repercussão, mas não parece totalmente desenvolvida. Se o filme fosse produzido convencionalmente, sem o primor estético das pinturas, talvez fosse rapidamente esquecido, mesmo tendo seus méritos. Um recurso que se destaca, também, é a mudança da fotografia nos flashbacks, que opta por um tom mais realista em preto e cinza, trazendo certa melancolia visual.
Loving Vincent certamente é uma experiência única e, mesmo que não houvesse uma linha sequer de diálogo, ainda seria um prazer assistir. Mas ao invés disso o que se tem é um retrato intimista de um dos maiores artistas da história e parte da angústia que fora sua vida, a repercussão de seu nome e de sua loucura e, ainda, na trama central do filme, a importância de se entregar uma mensagem e de se conhecer alguém - ainda que por relatos de terceiros. Tudo isso em um espetáculo visual de encher os olhos e que de certa forma nos aproxima do gênio Vincent van Gogh.
Com atuações excelentes, lideradas por Frances McDormand, tendo Woody Harrelson e Sam Rockwell como ótimos coadjuvantes, o filme traz uma ótima trama sobre um crime não resolvido, mas algumas coincidências (conveniências de roteiro?) e a dosagem do humor podem incomodar a alguns - não foi o meu caso, diga-se. É como se fosse uma mistura de Fargo e Wind River.
Eu tive que rever umas partes pra ter certeza do que houve, porque em sua carta o xerife havia dito que o caso poderia ser solucionado de uma forma estúpida, com o criminoso se gabando do feito, e essa "previsão" enfraqueceria muito o filme se concretizada. Claro, criminosos se gabarem por não serem pegos é comum, mas nesse caso o filme usou o recurso e não abusou: o cara que se gabou era um estuprador diferente. Ainda falando de coincidências, foi o mesmo personagem a ir intimidar a Mildred na loja, incomodado com os outdoors. Na cena ele insinua que poderia ser ele o estuprador da filha dela, mas ao ser questionado diz "bem que eu queria", dando a entender, com o desfecho do filme, que os outdoors o incomodavam de uma maneira particular, mas não relativa ao caso principal do filme. Além de tudo isso, chama a atenção que tenham colocado o sujeito como um militar que estava no Iraque e que cometeu o crime por lá. Tudo isso fica implícito, o que é ainda melhor pra narrativa, mas é uma crítica fenomenal aos abusos cometidos pelas tropas americanas em países estrangeiros - esses casos são recorrentes, é algo notório, muito embora não tão público. E em relação à última cena, bem, só posso dizer que o final "aberto" foi uma sábia escolha. Eles resolvem decidir o que fazer no caminho e, bem, o criminoso foi o mesmo cara que intimidou a Mildred na loja daquela forma, então talvez o final nem seja tão aberto assim no fim das contas...
...minha impressão foi esta. No mais, é um ótimo filme.
Em Através do Espelho a esquizofrenia não é tratada de forma monotemática, tampouco glamourizada: há um debate sério acerca da patologia e mesmo do que é real. Além disso, Bergman ainda traça um paralelo com a religiosidade, tema comum em sua filmografia. Quanto mais louco mais próximo de deus? Esse deus silencioso, narcisista, frio, é apenas um grande delírio? Quando a loucura é coletiva, como a religião, é melhor aceita? É um filme que não nos traz respostas, mas questionamentos e uma visão aguçada sobre eles.
O Rei do Show possui uma história cativante; músicas incríveis - destaque para "This is Me", forte candidata ao Oscar - e bem contextualizadas, ótimas coreografias, um design de produção caprichado e atuações muito boas, com Hugh Jackman se sobressaindo mais uma vez em um musical e mostrando toda sua versatilidade. O filme traz consigo a gênese do circo, fazendo uma ode à diversidade humana com personagens de diferentes etnias e peculiaridades, antes rejeitados pela sociedade ou mesmo por suas famílias. Também é abordado o drama vivido pelo Barnum, que veio de família pobre e sempre fora reprovado pelo seu sogro, um homem de classe alta. Barnum sempre disse que o que fazia era pela felicidade de sua família, mas em alguns momentos fica clara a motivação de se provar para a aristocracia (personificada na figura do sogro), quase como uma vingança, ou mesmo ser aceito por ela. Aristocracia essa sempre cheia de preconceitos e vivendo de aparências, como de praxe. Apesar da ótima experiência cinematográfica, O Rei do Show possui um romance pouco desenvolvido entre Zac Efron e uma trapezista, um CGI pobre quando utilizado e também falha enquanto cinebiografia, requerendo a suspensão da descrença em alguns momentos. Mas nada que prejudique o conjunto da obra, que emociona em muitos momentos e é memorável. Um espetáculo, no amplo sentido do termo.
Com uma atuação inspirada de Kate Winslet e o drama de uma família quebrada, Roda Gigante dita seu ritmo com altos e baixos, o que só fortalece a metáfora com o título e a ambientação, mas ao final a narrativa não vai a lugar algum. A cinematografia é belíssima, com uma trilha muito bem escolhida e um fantástico trabalho de luzes, que se alternam entre cores quentes e frias - na maioria das vezes utilizando os letreiros do parque para tal, muitas vezes na mesma cena, conforme os diálogos avançam. Os movimentos de câmera de Allen também merecem destaque, principalmente nas cenas dentro da casa da família, que são muitas, onde a ideia de claustrofobia é clara. Alguns diálogos mais parecem monólogos alternados, sempre com o personagem da vez em destaque, muito próximo à câmera, mas a quebra da quarta parede pelo Mickey não convence - não há carisma suficiente nele. O romance entre Ginny e Mickey não possui nuances suficientes, desde o início há a impressão de que ela está querendo ser resgatada de mais um casamento fracassado e da vida de dona de casa, mas só isso. Ao menos a Ginny é bem desenvolvida, mesmo se mostrando uma personagem extremamente egoísta e às vezes insuportável, você a entende. A imersão do filme é muito boa, tendo destaque uma cena em que Ginny está com dor de cabeça e histérica, e tudo fica angustiante inclusive pra quem assiste. Já a Carolina traz um aspecto de pureza que não parece real, dado seu histórico. Mickey transmite inocência, mas os momentos de pedantismo se sobressaem. O foco do filme é totalmente a Ginny e sua necessidade de fuga daquela realidade: do marido alcoólatra e estagnado, do filho com tendências pirotécnicas que ela usa pra justificar seus atos (não importa quão questionáveis sejam), daquela casa pequena e do parque de diversões - onde pra ela não há diversão alguma. Apesar dos aspectos técnicos elogiáveis e da Kate Winslet, Roda Gigante não sabe distribuir melhor seus dramas, deixando tudo por conta de sua protagonista que, mesmo bem desenvolvida, dificilmente desperta empatia, prejudicando uma experiência que poderia ser melhor. E todo esse drama da mulher "perdida" nós já vimos em Blue Jasmine.
Com personagens muito bem desenvolvidos, uma história comovente e desfecho edificante, Extraordinário é ótimo, mas peca por fugir da realidade em alguns momentos. O filme é centrado no protagonista Auggie, muito bem interpretado pelo ator mirim Jacob Tremblay, mas traz capítulos que focam em outros personagens. A irmã afetuosa, que se sente negligenciada pelos pais, por exemplo, é interessantíssima. Não há personagens unidimensionais neste filme - o que é excelente. Até mesmo o "vilão" principal é bem explorado, mostrando como crianças precisam de bons modelos para a construção do caráter. Apesar dos vários pontos positivos, Extraordinário parece ter receio com as cenas melancólicas, sendo estas seguidas sempre por momentos edificantes ou até cômicos pra deixar o filme mais leve, comprometendo a sensação de realidade. Mas de qualquer forma é um filme emocionante, sendo, inclusive, didático pras crianças, e que traz uma sensação de esperança muito boa a quem assiste. Vale a ida ao cinema.
Com um prólogo extenso, revelações apressadas e um final questionável, Assassinato no Expresso do Oriente não sabe ditar seu ritmo. De positivos ficam o figurino, o design de produção, a fotografia e alguns movimentos de câmera interessantes, além de uma apresentação muito boa do grandioso Hercule Poirot, que é praticamente o único personagem bem desenvolvido do filme, que aborda bem sua meticulosidade e até excentricidade. O problema é que o filme não sabe dosar o humor, abusando do recurso na primeira metade e demorando a engatar a trama do mistério. Até mesmo o crime demora a ocorrer, e nesse meio tempo os personagens do trem não são trabalhados como deveriam. Depois vêm as revelações, que ao invés de ocorrerem pela perspicácia do detetive, mais parecem intuitivas e são jogadas no espectador de forma abrupta, prejudicando o desenvolvimento narrativo. Apesar disso, a principal revelação do filme deve surpreender a maioria, mas seu final pode agradar a poucos.
A reunião dos heróis mais famosos e queridos da cultura pop requeria maior evento, mas ainda assim é agradável. Em Liga da Justiça a premissa é usual: mundo em perigo, heróis reúnem-se. Neste caso, a Liga precisava ser formada, ficando o Batman encarregado de fazê-lo. Apesar de já termos heróis previamente desenvolvidos, há a adição de três novos personagens: The Flash, encarregado da maior parte dos alívios cômicos; Ciborgue, que ainda tem os poderes em desenvolvimento; e o "bad boy" Aquaman, o mais relutante a se juntar à causa.
A trama tem um ótimo ritmo, não gasta muito tempo contando as histórias dos novos personagens e tudo é bem encaminhado para o embate final com o Lobo da Estepe. E é aí que surge o grande problema do filme: o vilão. Com um visual banhado a CGI e uma voz claramente artificial, o personagem é mal aproveitado e, de tão caricato, não soa desafiador em momento algum. Ainda mais após a chegada de um certo membro da Liga ao embate...
Apesar do vilão fraco, do uso excessivo dos efeitos visuais e alívios cômicos, Liga da Justiça agrada aos fãs principalmente pela boa interação dos heróis e com seu elenco bastante carismático, proporcionando uma experiência que, apesar de não ser marcante, é no mínimo divertida.
Após um intervalo de 7 anos - na narrativa, são 10 -, há o misterioso retorno do famoso assassino Jigsaw, que morrera no filme anterior. Com premissa interessante e beirando o sobrenatural, o caso é, no mínimo intrigante. Um novo jogo surge, com o traço sádico usual, e em outra linha narrativa há o desenrolar da investigação que, embora prejudique o ritmo do filme quando há a transição, é competente ao despertar o interesse do público.
Os motivos por trás dos jogos de Saw sempre são morais, sendo essenciais para a escolha de suas vítimas - que, na ótica dele, devem ser "julgadas". Tais motivos são bem trabalhados e, mesmo não havendo desenvolvimento dos personagens "jogadores" para despertar a empatia do público, isso fica em segundo plano em face do mistério principal.
Outro ponto importante da franquia, e também neste filme, é a engenhosidade do jogo, e consequentemente, das provenientes mortes. Quanto a isso, Jigsaw é eficiente, embora haja certos exageros pontuais.
Apesar de Jigsaw não ter grandes atuações e ser narrativamente limitado, o filme faz o que se espera após um hiato tão grande: inova. Embora não o faça na maior parte da película, abraçando os clichês necessários da longa franquia, o filme compensa com um desfecho inventivo que convence e surpreende, tornando a experiência agradável e dando um fôlego extra à franquia. Não ficaria surpreso se mais continuações viessem.
Bom comportamento é frenético. Com closes em seus personagens o tempo inteiro e uma trilha com uma intensa música eletrônica, a imersão do espectador é tanta que é difícil desviar o olhar ou mesmo respirar: há tensão o tempo inteiro. A atuação do Robert Pattinson é realmente muito boa, consolidando-o de vez como um ator competente. Suas expressões assustadas, ingênuas, convencem na construção de um personagem que, embora perigoso, parece ingênuo ao sempre tomar decisões que só dificultam sua vida. Fica em destaque também a atuação do co-diretor Bennie Safdie, que mesmo com pouco tempo em tela faz um ótimo trabalho com um personagem com problema mental. A estética do filme tem identidade própria, mas o uso excessivo da trilha pode incomodar - e talvez seja essa a intenção. No mais, é um ótimo longa que funciona tanto como drama, quanto como filme policial; e, embora a premissa não seja inovadora, o primor estético se sobressai, valendo a ida ao cinema.
Thor: Ragnarok é uma grande paródia. O filme é ousado ao pegar um personagem como o Thor, um dos mais sérios da Marvel, e tratar com tanta comicidade. Mas funciona? Na maior parte do tempo, sim, mas quando não funciona incomoda bastante. O que há neste filme não são os alívios cômicos que são comuns à Marvel Studios, mas uma comédia desenfreada. Diverte, isso é inegável, mas é um filme... esquecível. O design de produção é excelente, as atuações estão muito boas, a química entre os personagens - principalmente entre Hulk e Thor - é bastante convincente; possui um CGI carregado, mas competente, e uma trilha com sintetizadores que evoca os anos 80, mas dificilmente o excesso de piadas no roteiro agradará a todos, já que tira qualquer sensação de que a Hela, muito bem interpretada por Cate Blanchett, poderia ser uma ameaça real, independentemente do desfecho. No mais, é um bom entretenimento, mas não vai além disso e pode decepcionar já que o Ragnarok, evento tão importante tanto na história do Thor da Marvel quanto na mitologia nórdica, não é levado a sério como o esperado.
Wind River é um thriller melancólico com diálogos que evocam westerns. Em uma terra onde não há muito além de silêncio e neve, há pouco a ser dito, mas muita dor e injustiça social presentes. O texto preciso de Taylor Sheridan corrobora com a ambientação do filme, que traz lindas paisagens e servem também pra ilustrar o isolamento sofrido pelo povo nativo americano, negligenciado pelo Estado. As atuações são excelentes, principalmente da dupla de protagonistas. É a melhor atuação da carreira do Jeremy Renner, com um personagem que pouco fala, mas traz consigo dolorosas motivações e ainda assim é carismático. Já a Elizabeth Olsen traz uma agente do FBI que nada conhece daquela terra quase sem lei - e o público imediatamente se identifica com ela, visto que aquela situação não tem a visibilidade devida e é desconhecida para a maioria. Além de todos os méritos, o filme ainda funciona enquanto denúncia dos males que ocorrem com o povo nativo americano contemporâneo, e independentemente do desfecho, fica claro que aquela situação não vai mudar naquela terra. Eles não vão a lugar algum.
É muito bom quando um filme não fica preso aos clichês do seu gênero. The Big Sick é uma excelente comédia romântica, que sabe dosar o drama e fazer a transição de gêneros de forma eficiente, sem abrir mão do humor nos momentos mais "pesados" da trama. O "timing", tão importante em qualquer comédia, o stand up que o diga, é perfeito nesses momentos em que se requer um pouco mais de leveza. A química entre o casal é incrível e quase instantânea. Já a relação entre Kumail e os pais da Emily é mais gradativa e até mais interessante que o romance em alguns momentos. É uma história muito crível, com dificuldades reais, choques culturais e drama familiar, e sobre como o afeto - não só romântico, como familiar - e a empatia podem ser capazes de superar tudo isso. Recomendo!
O filme é propositalmente ruim e isso faz dele um bom filme. É a alma do trash. Um "Esqueceram de Mim" com muito gore. E o filme até brinca com isso...
...quando em certo momento um dos vilões diz "don't home alone me"
...e também faz referências a outros filmes como ET. O moleque é muito carismático, tem pais super protetores e sofre bullying, mas consegue superar suas inseguranças e enfrentar essa loucura toda. O filme tem muito humor negro e é simplesmente HILÁRIO. Quem não gostou pode ter ido assistir esperando outra coisa, tipo um terror mais sério, talvez. No mais, o filme cumpre bem sua proposta e é muito, mas muito divertido.
Em "A Fonte da Donzela" Bergman questiona a fé de forma geral e até onde vai a doutrina religiosa em detrimento das vontades individuais.O perdão contra a vingança, a revolta com o deus contra a veneração. Explorar contradições de fé sem ser maniqueísta é um feito e tanto. E Bergman, gênio que era, o faz muito bem. Mais um grande filme.
Drama cru sobre dois jovens ingênuos que saem em uma aventura e se veem obrigados a viver uma vida adulta de forma quase repentina, vida essa que lhes causava repulsa. O romance entre eles começa muito bonito, inconsequente como se pedia, mas depois há o choque de realidade e com isso os personagens tem que ter uma maturidade que não lhes era habitual, afetando suas personalidades e por conseguinte a relação. Mostra como uma paixão pode ser cíclica, tendo também uma metalinguagem direta com as estações. Muito bom filme.
Matthew McConaughey em mais uma excelente atuação. Em contrapartida, Edgar Ramirez nos traz um personagem sem carisma e sem o cinismo necessário para o desenrolar do filme - não convence. Quanto ao roteiro, é deveras interessante saber que foi baseado em uma história real e bastante envolvente. A montagem é mediana, com alguns cortes abruptos que poderiam ser melhor trabalhados. Para quem gostou da história, recomendo também o nacional "Serra Pelada" e o clássico "O Homem que Queria Ser Rei".
Ps.: Essa nota tá muito baixa (2,8/5), não se enganem por ela - o filme é bom. E se você gosta do McConaughey, não vai se arrepender de assistir. Recomendo.
Um filme sobre aceitação. Temos um protagonista que tá passando por momentos difíceis e odeia a si próprio, então é ajudado por uma entidade celestial - algo como uma versão moderna de A Felicidade não se Compra, pelo menos na premissa. Acontece que o maior erro do filme é justamente "humanizar" essa entidade celestial, romantizando a relação com o protagonista e estragando o que poderia ser uma experiência bem mais satisfatória. No mais, a fotografia é belíssima e a atuação da atriz que interpreta a Ângela é sensacional - e que personagem charmosa.
Uma história que precisava ser contada. O filme nos traz os EUA nos anos 60, no ápice do Macartismo, Guerra Fria, com a corrida espacial contra a Rússia em evidência, e da luta por direitos civis. Tudo isso é bem contextualizado no filme, que é muito bem ambientado na época. Quanto ao enredo, não há como não se interessar: nos traz três mulheres, negras, se destacando em meio a maioria de homens brancos que são os funcionários da NASA. Todas as muitas dificuldades enfrentadas por elas são muito bem construídas, e a empatia é instantânea. Em contraponto aos méritos, temos um problema de dosagem narrativa: o filme tenta ser moralista demais em quase toda cena, e essa constância é problemática porque esses momentos, que deveriam ser impactantes, perdem boa parte da força por serem exagerados. No mais, o filme é muito bom, mas poderia ser melhor executado.
Um incrível estudo de personagem. Trata de personalidade reprimida, sexualidade, racismo, desigualdade social, bullying, drogas e outras coisas - mas mesmo sendo politemático, é importante frisar que tudo flui de forma natural, sem que o filme apele para o melodrama ou perca o foco. Apesar de se passar em três atos, com saltos temporais, a essência do protagonista se mantém.
Aqui nós vemos um personagem que quer se encontrar, mas ao mesmo tempo não tem liberdade para tal e, diante das dificuldades, precisa buscar resistência até mesmo indo contra os próprios princípios - e isso é angustiante. Todas as relações são bem exploradas: os problemas com a mãe viciada que perdura os três atos narrativos; a amizade no primeiro ato com um personagem mais velho, que preenche uma figura paterna ausente; os momentos desconcertantes com o amigo da escola. Como o protagonista é reprimido, não consegue ser muito íntimo de ninguém, afinal é como se ele não fosse íntimo nem de si mesmo – gerando vários diálogos marcantes em que muitas vezes poucas coisas são ditas. Nesse filme o silêncio fala mais que qualquer verborragia e isso é espetacular.
Com uma montagem sensacional, o filme nos impõe seu ritmo e sempre o respeita: muitas vezes nos pegamos querendo que as coisas aconteçam, que o personagem fale logo o que tem a dizer, porque aquele silêncio causa agonia, mas tudo acontece num ritmo definido.
A cinematografia é linda, poética, com fotografia caprichada, principalmente nos tons azuis, casando muito bem com um trecho do filme e até com o título. O roteiro é excelente e todas as atuações foram bem dirigidas, sendo reforçadas também por um trabalho de câmera que usa focos pontuais nos rostos dos personagens revelando pequenos detalhes, antes imperceptíveis, das suas expressões.
Moonlight é um filme muito bem dirigido, tocante, aflitivo e poético – certamente chega como um dos favoritos ao Oscar.
Por se tratar de uma história real, me veio a mente dois filmes para fazer a comparação: Fargo (Irmãos Coen), que não é uma história real, mas na montagem é colocado como tal; e Sem Dor, Sem Ganho (Michael Bay). Acontece que Bernie passa longe de ser engraçado como esses outros dois filmes. Faltou criatividade na direção. Dá pra ser criativo com histórias reais? Claro que sim. Temos inúmeros exemplos de grandes adaptações. Talvez o maior problema, a meu ver - e pode ser considerado mérito para alguns -, seja o filme ser tão fiel à história real. Na própria montagem ele se propõe a isso, colocando habitantes da cidade onde ocorreu tudo para dar depoimentos entre as cenas fictícias. E eu gostei de cada depoimento, já que dão veracidade a narrativa e são naturais. Ocorre que, apesar de uma atuação muito, muito boa do Jack Black, a história não faz rir, não comove, não causa empatia... não emociona de forma alguma. O filme acaba por se tornar arrastado. Tinha potencial, mas não entrega o que se espera. Uma pena.
Encanto
3.8 804Faltou aquela coisa importante: o roteiro.
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0KCo-escrito por John Krasinski, que também estrela e dirige, Um Lugar Silencioso se passa após uma invasão de terríveis monstros gigantes, rápidos, com uma super audição, mas cegos, que caçam suas presas - principalmente humanos - sendo atraídos pelo som. O filme começa após 90 dias da invasão e acompanha a família Abbott, constituída por um jovem casal e seus três filhos - destaque para a menina, que é surda e os coloca familiarizados com a língua de sinais, o que é uma vantagem para o novo contexto.
A direção é precisa na construção do suspense, sabendo desenvolver a tensão através do silêncio e de como este é imprescindível e, mesmo quando há a aparição dos monstros, os detalhes do visual incrível da espécie são entregues gradativamente conforme a projeção avança. Os movimentos de câmera escolhidos pelo diretor também são interessantes, destacando sempre o pânico nas expressões dos personagens e também possíveis causadores de barulhos: a câmera mostra objetos de vidro, quadros na parede e até os pés dos personagens, entre outros.
Eventualmente há um salto temporal e, precisamente no dia 473, algo acontece e parece quase impossível dar sequência a isso sem que haja barulho. E é aí que as coisas ficam frenéticas e o filme não para mais; há ameaça maior e vemos ainda mais todo o cuidado familiar que existe naquele grupo que, mesmo com inacreditáveis momentos de perigo, consegue demonstrar carinho uns com os outros - mesmo com linguagem não-verbal.
De forma inventiva e com momentos emocionantes, Um Lugar Silencioso é um desses filmes que dá sobrevida ao seu gênero e mostra a grande importância do silêncio - inclusive nas salas de cinema - expondo também o quão barulhentos outros filmes tornaram-se, não precisando ser apelativo, principalmente sonoramente, para ser grandioso.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraPrimeiro super-herói de descendência africana a ser publicado por uma editora mainstream de quadrinhos norte-americanos, Pantera Negra chega aos cinemas e traz consigo um marco: é um blockbuster feito majoritariamente com atores e atrizes afro-descendentes, algo que remete ao movimento Blaxploitation dos anos 70 em que negros produziram e protagonizaram filmes dos mais diferentes gêneros.
O filme se passa em Wakanda, país africano fictício do universo Marvel que possui das mais avançadas tecnologias, todas munidas de Vibranium - metal mais poderoso do universo. A história traz o início do reinado de T'challa como o novo Pantera Negra, seus desafios iniciais e seu método de governar, já questionado por não buscar expandir a nação e com isso ajudar seus semelhantes. Seu antagonista, o vilão interpretado com maestria por Michael B. Jordan, traz consigo uma visão extremista e que faz com que o espectador o entenda, embora seja difícil concordar com suas ações. É, com sobras, o melhor vilão do MCU até então. Ainda a respeito do elenco, destacam-se também as Dora Milaje: time de segurança do próprio rei formado inteiramente por mulheres fortíssimas e habilidosas.
Ambientado em uma África futurística, tecnológica e, porque não, utópica, o trabalho de figurino e cenografia são vislumbrantes, muito embora em alguns momentos, principalmente nas cenas de ação, o CGI seja carregado. O filme, além de trazer consigo um elenco representativo, também possui um tom recorrente de justiça social em seu roteiro, mas infelizmente o texto não é tão bem trabalhado como deveria: há momentos em que as colocações soam artificiais, e é ainda pior quando o humor é utilizado e não funciona - embora seja compreensível, já que esse tom humorístico é traço comum e, infelizmente, indispensável aos filmes da Marvel.
Pantera Negra é um filme representativo, divertido (talvez um tom mais sério favorecesse o filme), com cenas de ação bem orquestradas e um marco nos filmes de super-herói, mas talvez seja mais interessante discutir sobre ele do que propriamente assisti-lo.
Com Amor, Van Gogh
4.3 1,0KPrimeiro filme da história totalmente pintado a mão, Loving Vincent brinda seu público com uma mistura de duas formas de arte, e o resultado é deslumbrante. Com personagens e cenários inspirados em obras do grandioso Van Gogh, é como se o longa fosse feito baseado em um sonho em que a arte ganha vida - e a movimentação dos traços corrobora pra isso.
A trama segue os eventos posteriores à morte do artista e sua repercussão, mas não parece totalmente desenvolvida. Se o filme fosse produzido convencionalmente, sem o primor estético das pinturas, talvez fosse rapidamente esquecido, mesmo tendo seus méritos. Um recurso que se destaca, também, é a mudança da fotografia nos flashbacks, que opta por um tom mais realista em preto e cinza, trazendo certa melancolia visual.
Loving Vincent certamente é uma experiência única e, mesmo que não houvesse uma linha sequer de diálogo, ainda seria um prazer assistir. Mas ao invés disso o que se tem é um retrato intimista de um dos maiores artistas da história e parte da angústia que fora sua vida, a repercussão de seu nome e de sua loucura e, ainda, na trama central do filme, a importância de se entregar uma mensagem e de se conhecer alguém - ainda que por relatos de terceiros. Tudo isso em um espetáculo visual de encher os olhos e que de certa forma nos aproxima do gênio Vincent van Gogh.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0KCom atuações excelentes, lideradas por Frances McDormand, tendo Woody Harrelson e Sam Rockwell como ótimos coadjuvantes, o filme traz uma ótima trama sobre um crime não resolvido, mas algumas coincidências (conveniências de roteiro?) e a dosagem do humor podem incomodar a alguns - não foi o meu caso, diga-se. É como se fosse uma mistura de Fargo e Wind River.
Quanto ao final...
Eu tive que rever umas partes pra ter certeza do que houve, porque em sua carta o xerife havia dito que o caso poderia ser solucionado de uma forma estúpida, com o criminoso se gabando do feito, e essa "previsão" enfraqueceria muito o filme se concretizada. Claro, criminosos se gabarem por não serem pegos é comum, mas nesse caso o filme usou o recurso e não abusou: o cara que se gabou era um estuprador diferente. Ainda falando de coincidências, foi o mesmo personagem a ir intimidar a Mildred na loja, incomodado com os outdoors. Na cena ele insinua que poderia ser ele o estuprador da filha dela, mas ao ser questionado diz "bem que eu queria", dando a entender, com o desfecho do filme, que os outdoors o incomodavam de uma maneira particular, mas não relativa ao caso principal do filme. Além de tudo isso, chama a atenção que tenham colocado o sujeito como um militar que estava no Iraque e que cometeu o crime por lá. Tudo isso fica implícito, o que é ainda melhor pra narrativa, mas é uma crítica fenomenal aos abusos cometidos pelas tropas americanas em países estrangeiros -
esses casos são recorrentes, é algo notório, muito embora não tão público. E em relação à última cena, bem, só posso dizer que o final "aberto" foi uma sábia escolha. Eles resolvem decidir o que fazer no caminho e, bem, o criminoso foi o mesmo cara que intimidou a Mildred na loja daquela forma, então talvez o final nem seja tão aberto assim no fim das contas...
...minha impressão foi esta. No mais, é um ótimo filme.
Através de um Espelho
4.3 249Em Através do Espelho a esquizofrenia não é tratada de forma monotemática, tampouco glamourizada: há um debate sério acerca da patologia e mesmo do que é real. Além disso, Bergman ainda traça um paralelo com a religiosidade, tema comum em sua filmografia. Quanto mais louco mais próximo de deus? Esse deus silencioso, narcisista, frio, é apenas um grande delírio? Quando a loucura é coletiva, como a religião, é melhor aceita? É um filme que não nos traz respostas, mas questionamentos e uma visão aguçada sobre eles.
O Rei do Show
3.9 899 Assista AgoraO Rei do Show possui uma história cativante; músicas incríveis - destaque para "This is Me", forte candidata ao Oscar - e bem contextualizadas, ótimas coreografias, um design de produção caprichado e atuações muito boas, com Hugh Jackman se sobressaindo mais uma vez em um musical e mostrando toda sua versatilidade.
O filme traz consigo a gênese do circo, fazendo uma ode à diversidade humana com personagens de diferentes etnias e peculiaridades, antes rejeitados pela sociedade ou mesmo por suas famílias.
Também é abordado o drama vivido pelo Barnum, que veio de família pobre e sempre fora reprovado pelo seu sogro, um homem de classe alta. Barnum sempre disse que o que fazia era pela felicidade de sua família, mas em alguns momentos fica clara a motivação de se provar para a aristocracia (personificada na figura do sogro), quase como uma vingança, ou mesmo ser aceito por ela. Aristocracia essa sempre cheia de preconceitos e vivendo de aparências, como de praxe. Apesar da ótima experiência cinematográfica, O Rei do Show possui um romance pouco desenvolvido entre Zac Efron e uma trapezista, um CGI pobre quando utilizado e também falha enquanto cinebiografia, requerendo a suspensão da descrença em alguns momentos. Mas nada que prejudique o conjunto da obra, que emociona em muitos momentos e é memorável. Um espetáculo, no amplo sentido do termo.
Roda Gigante
3.3 309Com uma atuação inspirada de Kate Winslet e o drama de uma família quebrada, Roda Gigante dita seu ritmo com altos e baixos, o que só fortalece a metáfora com o título e a ambientação, mas ao final a narrativa não vai a lugar algum. A cinematografia é belíssima, com uma trilha muito bem escolhida e um fantástico trabalho de luzes, que se alternam entre cores quentes e frias - na maioria das vezes utilizando os letreiros do parque para tal, muitas vezes na mesma cena, conforme os diálogos avançam. Os movimentos de câmera de Allen também merecem destaque, principalmente nas cenas dentro da casa da família, que são muitas, onde a ideia de claustrofobia é clara. Alguns diálogos mais parecem monólogos alternados, sempre com o personagem da vez em destaque, muito próximo à câmera, mas a quebra da quarta parede pelo Mickey não convence - não há carisma suficiente nele. O romance entre Ginny e Mickey não possui nuances suficientes, desde o início há a impressão de que ela está querendo ser resgatada de mais um casamento fracassado e da vida de dona de casa, mas só isso. Ao menos a Ginny é bem desenvolvida, mesmo se mostrando uma personagem extremamente egoísta e às vezes insuportável, você a entende. A imersão do filme é muito boa, tendo destaque uma cena em que Ginny está com dor de cabeça e histérica, e tudo fica angustiante inclusive pra quem assiste. Já a Carolina traz um aspecto de pureza que não parece real, dado seu histórico. Mickey transmite inocência, mas os momentos de pedantismo se sobressaem. O foco do filme é totalmente a Ginny e sua necessidade de fuga daquela realidade: do marido alcoólatra e estagnado, do filho com tendências pirotécnicas que ela usa pra justificar seus atos (não importa quão questionáveis sejam), daquela casa pequena e do parque de diversões - onde pra ela não há diversão alguma. Apesar dos aspectos técnicos elogiáveis e da Kate Winslet, Roda Gigante não sabe distribuir melhor seus dramas, deixando tudo por conta de sua protagonista que, mesmo bem desenvolvida, dificilmente desperta empatia, prejudicando uma experiência que poderia ser melhor. E todo esse drama da mulher "perdida" nós já vimos em Blue Jasmine.
Extraordinário
4.3 2,1KCom personagens muito bem desenvolvidos, uma história comovente e desfecho edificante, Extraordinário é ótimo, mas peca por fugir da realidade em alguns momentos.
O filme é centrado no protagonista Auggie, muito bem interpretado pelo ator mirim Jacob Tremblay, mas traz capítulos que focam em outros personagens. A irmã afetuosa, que se sente negligenciada pelos pais, por exemplo, é interessantíssima.
Não há personagens unidimensionais neste filme - o que é excelente. Até mesmo o "vilão" principal é bem explorado, mostrando como crianças precisam de bons modelos para a construção do caráter. Apesar dos vários pontos positivos, Extraordinário parece ter receio com as cenas melancólicas, sendo estas seguidas sempre por momentos edificantes ou até cômicos pra deixar o filme mais leve, comprometendo a sensação de realidade. Mas de qualquer forma é um filme emocionante, sendo, inclusive, didático pras crianças, e que traz uma sensação de esperança muito boa a quem assiste. Vale a ida ao cinema.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938Com um prólogo extenso, revelações apressadas e um final questionável, Assassinato no Expresso do Oriente não sabe ditar seu ritmo. De positivos ficam o figurino, o design de produção, a fotografia e alguns movimentos de câmera interessantes, além de uma apresentação muito boa do grandioso Hercule Poirot, que é praticamente o único personagem bem desenvolvido do filme, que aborda bem sua meticulosidade e até excentricidade. O problema é que o filme não sabe dosar o humor, abusando do recurso na primeira metade e demorando a engatar a trama do mistério. Até mesmo o crime demora a ocorrer, e nesse meio tempo os personagens do trem não são trabalhados como deveriam. Depois vêm as revelações, que ao invés de ocorrerem pela perspicácia do detetive, mais parecem intuitivas e são jogadas no espectador de forma abrupta, prejudicando o desenvolvimento narrativo. Apesar disso, a principal revelação do filme deve surpreender a maioria, mas seu final pode agradar a poucos.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraA reunião dos heróis mais famosos e queridos da cultura pop requeria maior evento, mas ainda assim é agradável. Em Liga da Justiça a premissa é usual: mundo em perigo, heróis reúnem-se. Neste caso, a Liga precisava ser formada, ficando o Batman encarregado de fazê-lo. Apesar de já termos heróis previamente desenvolvidos, há a adição de três novos personagens: The Flash, encarregado da maior parte dos alívios cômicos; Ciborgue, que ainda tem os poderes em desenvolvimento; e o "bad boy" Aquaman, o mais relutante a se juntar à causa.
A trama tem um ótimo ritmo, não gasta muito tempo contando as histórias dos novos personagens e tudo é bem encaminhado para o embate final com o Lobo da Estepe. E é aí que surge o grande problema do filme: o vilão. Com um visual banhado a CGI e uma voz claramente artificial, o personagem é mal aproveitado e, de tão caricato, não soa desafiador em momento algum. Ainda mais após a chegada de um certo membro da Liga ao embate...
Apesar do vilão fraco, do uso excessivo dos efeitos visuais e alívios cômicos, Liga da Justiça agrada aos fãs principalmente pela boa interação dos heróis e com seu elenco bastante carismático, proporcionando uma experiência que, apesar de não ser marcante, é no mínimo divertida.
Jogos Mortais: Jigsaw
2.8 705Após um intervalo de 7 anos - na narrativa, são 10 -, há o misterioso retorno do famoso assassino Jigsaw, que morrera no filme anterior. Com premissa interessante e beirando o sobrenatural, o caso é, no mínimo intrigante. Um novo jogo surge, com o traço sádico usual, e em outra linha narrativa há o desenrolar da investigação que, embora prejudique o ritmo do filme quando há a transição, é competente ao despertar o interesse do público.
Os motivos por trás dos jogos de Saw sempre são morais, sendo essenciais para a escolha de suas vítimas - que, na ótica dele, devem ser "julgadas". Tais motivos são bem trabalhados e, mesmo não havendo desenvolvimento dos personagens "jogadores" para despertar a empatia do público, isso fica em segundo plano em face do mistério principal.
Outro ponto importante da franquia, e também neste filme, é a engenhosidade do jogo, e consequentemente, das provenientes mortes. Quanto a isso, Jigsaw é eficiente, embora haja certos exageros pontuais.
Apesar de Jigsaw não ter grandes atuações e ser narrativamente limitado, o filme faz o que se espera após um hiato tão grande: inova. Embora não o faça na maior parte da película, abraçando os clichês necessários da longa franquia, o filme compensa com um desfecho inventivo que convence e surpreende, tornando a experiência agradável e dando um fôlego extra à franquia. Não ficaria surpreso se mais continuações viessem.
Bom Comportamento
3.8 392Bom comportamento é frenético. Com closes em seus personagens o tempo inteiro e uma trilha com uma intensa música eletrônica, a imersão do espectador é tanta que é difícil desviar o olhar ou mesmo respirar: há tensão o tempo inteiro.
A atuação do Robert Pattinson é realmente muito boa, consolidando-o de vez como um ator competente. Suas expressões assustadas, ingênuas, convencem na construção de um personagem que, embora perigoso, parece ingênuo ao sempre tomar decisões que só dificultam sua vida. Fica em destaque também a atuação do co-diretor Bennie Safdie, que mesmo com pouco tempo em tela faz um ótimo trabalho com um personagem com problema mental.
A estética do filme tem identidade própria, mas o uso excessivo da trilha pode incomodar - e talvez seja essa a intenção.
No mais, é um ótimo longa que funciona tanto como drama, quanto como filme policial; e, embora a premissa não seja inovadora, o primor estético se sobressai, valendo a ida ao cinema.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraThor: Ragnarok é uma grande paródia. O filme é ousado ao pegar um personagem como o Thor, um dos mais sérios da Marvel, e tratar com tanta comicidade. Mas funciona? Na maior parte do tempo, sim, mas quando não funciona incomoda bastante. O que há neste filme não são os alívios cômicos que são comuns à Marvel Studios, mas uma comédia desenfreada. Diverte, isso é inegável, mas é um filme... esquecível. O design de produção é excelente, as atuações estão muito boas, a química entre os personagens - principalmente entre Hulk e Thor - é bastante convincente; possui um CGI carregado, mas competente, e uma trilha com sintetizadores que evoca os anos 80, mas dificilmente o excesso de piadas no roteiro agradará a todos, já que tira qualquer sensação de que a Hela, muito bem interpretada por Cate Blanchett, poderia ser uma ameaça real, independentemente do desfecho. No mais, é um bom entretenimento, mas não vai além disso e pode decepcionar já que o Ragnarok, evento tão importante tanto na história do Thor da Marvel quanto na mitologia nórdica, não é levado a sério como o esperado.
Terra Selvagem
3.8 594Wind River é um thriller melancólico com diálogos que evocam westerns.
Em uma terra onde não há muito além de silêncio e neve, há pouco a ser dito, mas muita dor e injustiça social presentes. O texto preciso de Taylor Sheridan corrobora com a ambientação do filme, que traz lindas paisagens e servem também pra ilustrar o isolamento sofrido pelo povo nativo americano, negligenciado pelo Estado.
As atuações são excelentes, principalmente da dupla de protagonistas. É a melhor atuação da carreira do Jeremy Renner, com um personagem que pouco fala, mas traz consigo dolorosas motivações e ainda assim é carismático. Já a Elizabeth Olsen traz uma agente do FBI que nada conhece daquela terra quase sem lei - e o público imediatamente se identifica com ela, visto que aquela situação não tem a visibilidade devida e é desconhecida para a maioria.
Além de todos os méritos, o filme ainda funciona enquanto denúncia dos males que ocorrem com o povo nativo americano contemporâneo, e independentemente do desfecho, fica claro que aquela situação não vai mudar naquela terra. Eles não vão a lugar algum.
Doentes de Amor
3.7 379É muito bom quando um filme não fica preso aos clichês do seu gênero. The Big Sick é uma excelente comédia romântica, que sabe dosar o drama e fazer a transição de gêneros de forma eficiente, sem abrir mão do humor nos momentos mais "pesados" da trama. O "timing", tão importante em qualquer comédia, o stand up que o diga, é perfeito nesses momentos em que se requer um pouco mais de leveza.
A química entre o casal é incrível e quase instantânea. Já a relação entre Kumail e os pais da Emily é mais gradativa e até mais interessante que o romance em alguns momentos.
É uma história muito crível, com dificuldades reais, choques culturais e drama familiar, e sobre como o afeto - não só romântico, como familiar - e a empatia podem ser capazes de superar tudo isso. Recomendo!
A Babá
3.1 960O filme é propositalmente ruim e isso faz dele um bom filme. É a alma do trash. Um "Esqueceram de Mim" com muito gore. E o filme até brinca com isso...
...quando em certo momento um dos vilões diz "don't home alone me"
...e também faz referências a outros filmes como ET.
O moleque é muito carismático, tem pais super protetores e sofre bullying, mas consegue superar suas inseguranças e enfrentar essa loucura toda. O filme tem muito humor negro e é simplesmente HILÁRIO. Quem não gostou pode ter ido assistir esperando outra coisa, tipo um terror mais sério, talvez. No mais, o filme cumpre bem sua proposta e é muito, mas muito divertido.
A Fonte da Donzela
4.3 219 Assista AgoraEm "A Fonte da Donzela" Bergman questiona a fé de forma geral e até onde vai a doutrina religiosa em detrimento das vontades individuais.O perdão contra a vingança, a revolta com o deus contra a veneração. Explorar contradições de fé sem ser maniqueísta é um feito e tanto. E Bergman, gênio que era, o faz muito bem. Mais um grande filme.
Monika e o Desejo
4.0 120 Assista AgoraDrama cru sobre dois jovens ingênuos que saem em uma aventura e se veem obrigados a viver uma vida adulta de forma quase repentina, vida essa que lhes causava repulsa. O romance entre eles começa muito bonito, inconsequente como se pedia, mas depois há o choque de realidade e com isso os personagens tem que ter uma maturidade que não lhes era habitual, afetando suas personalidades e por conseguinte a relação. Mostra como uma paixão pode ser cíclica, tendo também uma metalinguagem direta com as estações. Muito bom filme.
Obs: quanto machismo nos comentários!
Ouro e Cobiça
3.5 120 Assista AgoraMatthew McConaughey em mais uma excelente atuação. Em contrapartida, Edgar Ramirez nos traz um personagem sem carisma e sem o cinismo necessário para o desenrolar do filme - não convence. Quanto ao roteiro, é deveras interessante saber que foi baseado em uma história real e bastante envolvente. A montagem é mediana, com alguns cortes abruptos que poderiam ser melhor trabalhados. Para quem gostou da história, recomendo também o nacional "Serra Pelada" e o clássico "O Homem que Queria Ser Rei".
Ps.: Essa nota tá muito baixa (2,8/5), não se enganem por ela - o filme é bom. E se você gosta do McConaughey, não vai se arrepender de assistir. Recomendo.
Angel-A
3.7 141 Assista AgoraUm filme sobre aceitação. Temos um protagonista que tá passando por momentos difíceis e odeia a si próprio, então é ajudado por uma entidade celestial - algo como uma versão moderna de A Felicidade não se Compra, pelo menos na premissa. Acontece que o maior erro do filme é justamente "humanizar" essa entidade celestial, romantizando a relação com o protagonista e estragando o que poderia ser uma experiência bem mais satisfatória. No mais, a fotografia é belíssima e a atuação da atriz que interpreta a Ângela é sensacional - e que personagem charmosa.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5KUma história que precisava ser contada. O filme nos traz os EUA nos anos 60, no ápice do Macartismo, Guerra Fria, com a corrida espacial contra a Rússia em evidência, e da luta por direitos civis. Tudo isso é bem contextualizado no filme, que é muito bem ambientado na época.
Quanto ao enredo, não há como não se interessar: nos traz três mulheres, negras, se destacando em meio a maioria de homens brancos que são os funcionários da NASA. Todas as muitas dificuldades enfrentadas por elas são muito bem construídas, e a empatia é instantânea.
Em contraponto aos méritos, temos um problema de dosagem narrativa: o filme tenta ser moralista demais em quase toda cena, e essa constância é problemática porque esses momentos, que deveriam ser impactantes, perdem boa parte da força por serem exagerados.
No mais, o filme é muito bom, mas poderia ser melhor executado.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4KUm incrível estudo de personagem. Trata de personalidade reprimida, sexualidade, racismo, desigualdade social, bullying, drogas e outras coisas - mas mesmo sendo politemático, é importante frisar que tudo flui de forma natural, sem que o filme apele para o melodrama ou perca o foco. Apesar de se passar em três atos, com saltos temporais, a essência do protagonista se mantém.
Aqui nós vemos um personagem que quer se encontrar, mas ao mesmo tempo não tem liberdade para tal e, diante das dificuldades, precisa buscar resistência até mesmo indo contra os próprios princípios - e isso é angustiante. Todas as relações são bem exploradas: os problemas com a mãe viciada que perdura os três atos narrativos; a amizade no primeiro ato com um personagem mais velho, que preenche uma figura paterna ausente; os momentos desconcertantes com o amigo da escola. Como o protagonista é reprimido, não consegue ser muito íntimo de ninguém, afinal é como se ele não fosse íntimo nem de si mesmo – gerando vários diálogos marcantes em que muitas vezes poucas coisas são ditas. Nesse filme o silêncio fala mais que qualquer verborragia e isso é espetacular.
Com uma montagem sensacional, o filme nos impõe seu ritmo e sempre o respeita: muitas vezes nos pegamos querendo que as coisas aconteçam, que o personagem fale logo o que tem a dizer, porque aquele silêncio causa agonia, mas tudo acontece num ritmo definido.
A cinematografia é linda, poética, com fotografia caprichada, principalmente nos tons azuis, casando muito bem com um trecho do filme e até com o título. O roteiro é excelente e todas as atuações foram bem dirigidas, sendo reforçadas também por um trabalho de câmera que usa focos pontuais nos rostos dos personagens revelando pequenos detalhes, antes imperceptíveis, das suas expressões.
Moonlight é um filme muito bem dirigido, tocante, aflitivo e poético – certamente chega como um dos favoritos ao Oscar.
Quase um Anjo
3.3 179 Assista AgoraPor se tratar de uma história real, me veio a mente dois filmes para fazer a comparação: Fargo (Irmãos Coen), que não é uma história real, mas na montagem é colocado como tal; e Sem Dor, Sem Ganho (Michael Bay). Acontece que Bernie passa longe de ser engraçado como esses outros dois filmes. Faltou criatividade na direção. Dá pra ser criativo com histórias reais? Claro que sim. Temos inúmeros exemplos de grandes adaptações. Talvez o maior problema, a meu ver - e pode ser considerado mérito para alguns -, seja o filme ser tão fiel à história real. Na própria montagem ele se propõe a isso, colocando habitantes da cidade onde ocorreu tudo para dar depoimentos entre as cenas fictícias. E eu gostei de cada depoimento, já que dão veracidade a narrativa e são naturais. Ocorre que, apesar de uma atuação muito, muito boa do Jack Black, a história não faz rir, não comove, não causa empatia... não emociona de forma alguma. O filme acaba por se tornar arrastado. Tinha potencial, mas não entrega o que se espera. Uma pena.