Foi muito difícil avaliar "As Boas Maneiras". Convenceu-me o thriller-paródia à brasileira? Sim e não. O roteiro é esburacado. Duas horas e dez minutos é muito tempo de filme, se considerarmos que parte deste é mal gasto, o enfado é certeiro. Seriam mais felizes os diretores se houvessem abreviado a primeira parte da trama, iniciando-nos logo na vida de Clara e Joel. O clima burlesco, que só fica claro na segunda parte do filme, se instaurado desde o início encobriria mais facilmente as atuações difíceis de engolir e explicariam o texto sem brilho. Quando fica clara a intenção paródica, o espectador, armado contra os defeitos do filme, ataca-o. Em resumo, há um casamento mal realizado entre as metades do filme, o que é uma pena, pois poderia ser mais delicioso que horripilante.
Lázaro revive, na Itália contemporânea de dois tempos, o idiota dostoievkiano. A luta entre amor e egoísmo, que sobe ao palco na obra de Dostoiévski, é o mote de "Lazzaro Felice". O filme, que assume tom de fábula, merece o prêmio recebido em Cannes por seu roteiro.
Quando vi "O Processo", achei que não fazia jus ao tema, mas "Excelentíssimos" fica bem abaixo. Roteiro e edição bem ruins... Os núcleos se misturam e se perdem, cenas muito longas que pouco acrescentam à narrativa.
Cuarón não peca em nada. Deslumbrante visualmente e de um roteiro forte. Como César pontuou, é um filme de detalhes. Os dois que mais me chamaram atenção foram: a) o estacionar do carro, sempre delicado, que reflete a insustentável leveza daquela família; com o tempo, o mesmo começa a sofrer danos, até que a matriarca decide que é preciso de outro automóvel para aquela garagem; b) o não-tiro do pai da criança de Cleo que, querendo ou sem querer, a mata. Fantástico!
O terceiro filme de Damien Chazelle não é a chegada do homem à lua, e sim a viagem interior que este deve empreender para avançar. Deixando a conquista em segundo plano, "O Primeiro Homem" fala, essencialmente, de perdas e como é difícil deixar o passado para trás.
"O Processo" é um filme político - político em vários sentidos. Ao assisti-lo ontem, no cine Belas Artes de São Paulo, senti que o público, assim como eu, era incapaz de se distanciar da narrativa de modo a aprecia-la como um filme comum. A reabertura nas telas dos autos do processo contra Dilma Rousseff fez com que eu e os que lá estavam revivêssemos os anos anos anteriores em que foi deposta. A indignação e a revolta foram inevitáveis. Sentimentos esses causados não simplesmente pela memória, mas pela constante incitação desses na plateia por parte da diretora. Digo que "O Processo" é um filme político em muitos aspectos pois é também - e não que isso seja de todo mal - uma convocação à luta. Assistimos, por pouco mais de duas horas, o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff sob o olhar de Maria Augusta Ramos, quase sempre pelo gabinete onde se reuniam Gleisi, Lindbergh e Cardozo. Joseff K. da história, Dilma tem pouco protagonismo na história contada por Ramos, o que fortalece a visão de peça manipulável que a ex-presidenta tem confirmado. Os gritos de "Fora Temer" ao fim do documentário são um chamado à plateia. Não por acaso saímos de lá aos gritos presenciais de "Fora Temer", "Lula Livre" e até mesmo "Viva Maduro". Acredito que ainda deva surgir alguma produção mais complexa sobre o momento, que seja capaz de interessar ao público internacional ao dar-lhe de forma mais honesta o absurdo do ocorrido. "O Processo" entra como visão intestina do teatro do impeachment, mas não deixa de ser ele mesmo, em vários momentos, um teatro filmado. A maquiagem de Gleisi, toda branca, transpareceu muito à câmera.
Não há nada de rotineiro nos filmes de Paul Thomas Anderson. Isso se deve não ao fato de o diretor escrever para as telas roteiros mirabolantes, cheios de fantasias e peripécias, mas ao terreno explorado pelo realizador, o espírito humano, inesgotável campo de possibilidades, nem sempre prováveis. A arte não pressupõe apenas uma história interessante para emanar valor, mas essencialmente uma forma que a encontre e lhe permita, através da linguagem, expressar sua cuidadosamente arquitetada rede de significados. Anderson entende muito bem as regras do jogo do qual faz parte. "Trama Fantasma" é fruto de um árduo amadurecimento de estilo e, como as obras anteriores do diretor, é exigente para consigo mesma. O ritmo de Paul está longe de estar em consonância com o do cinema comercial moderno. Nada falta ou sobra em suas melhores produções, ainda que as longas cenas, os silêncios profundos e a discreta tensão das histórias apontem para um excedente de seus filmes. O desenvolvimento da obra não pede objetividade ou clareza. Ao mesmo tempo que coloca o espectador em contato com uma dimensão, muitas vezes, desconhecida de si próprio, não lhe fornece receitas de como lidar com ela. Alguns verão um tedioso filme de duas horas e dez minutos de um alfaiate que se apaixona por uma de suas modelos. Outros, mais sensíveis, terão a experiência de estar diante de um trabalho de Paul Thomas Anderson. E não há nada de entediante ou rotineiro nisso.
Não deixo de pensar na cena mais linda do filme e sua decorrência do "Efeito 'La La Land'". A dança entre Elisa e o Humanoide, de extrema delicadeza, indo da música ao silêncio, conduzindo o espectador a compreender que ambos - a palavra e sua ausência - são capazes de dizer.
Quantos não perdemos durante o surto da AIDS? Costumo sempre pensar o cinema como forma, mas "120 Batimentos" me tocou de outra forma. A memória da morte nos custa muito. É lindo ver a Paulista colorida, mas como ainda falta engajamento real da comunidade LGBT nessa luta!
Os trovadores medievais já assinalavam a diferença entre "suspirar" e "cuidar". O primeiro, amor fugaz, ligado às aparências, o segundo, profundo e verdadeiro. Se doar, viver por alguém é coisa séria. "Lady Bird" lembra da responsabilidade que é "querer" e como "cuidar" é a mais verdadeira forma de amor.
A cena final, da princesa cumprimentando os membros da imprensa, me fez perceber que, em meio a tantas palavras que dirigimos a tanta gente, são verdadeiramente poucas as que realmente querem dizer alguma coisa.
Muitas pessoas aqui estão analisando o filme com base nos outros da franquia X-Men. Acho que faz mais sentido perceber 'Logan' enquanto obra singular. Belíssimo filme de ação, em vários momentos lembra 'Mad Max'. Roteiro ótimo, com referências a 'Os Brutos Também Amam', e trilha tocante. Que filmão! Sem dúvidas, o primeiro dos tantos envolvendo os X-Man que me faz sair plenamente satisfeito depois da sessão.
Lonergan parece ser bom em contar histórias sobre personagens à beira de um colapso. Assisti 'Margaret' por ter gostado muito de 'Manchester by the sea' e acabei gostando mais. Atuação maravilhosa da Anna Paquin em um roteiro fantástico.
As Boas Maneiras
3.5 648 Assista AgoraFoi muito difícil avaliar "As Boas Maneiras". Convenceu-me o thriller-paródia à brasileira? Sim e não. O roteiro é esburacado. Duas horas e dez minutos é muito tempo de filme, se considerarmos que parte deste é mal gasto, o enfado é certeiro. Seriam mais felizes os diretores se houvessem abreviado a primeira parte da trama, iniciando-nos logo na vida de Clara e Joel. O clima burlesco, que só fica claro na segunda parte do filme, se instaurado desde o início encobriria mais facilmente as atuações difíceis de engolir e explicariam o texto sem brilho. Quando fica clara a intenção paródica, o espectador, armado contra os defeitos do filme, ataca-o. Em resumo, há um casamento mal realizado entre as metades do filme, o que é uma pena, pois poderia ser mais delicioso que horripilante.
Ferrugem
2.9 129Nada doce decepção. Vi, em 2016, "Para Minha Amada Morta", do mesmo diretor, e amei. "Ferrugem" carece de tudo, desde um bom roteiro a boas atuações.
Lazzaro Felice
4.1 217 Assista AgoraLázaro revive, na Itália contemporânea de dois tempos, o idiota dostoievkiano. A luta entre amor e egoísmo, que sobe ao palco na obra de Dostoiévski, é o mote de "Lazzaro Felice". O filme, que assume tom de fábula, merece o prêmio recebido em Cannes por seu roteiro.
Todos Já Sabem
3.4 216 Assista AgoraSensacional. O cinema de Farhadi é mestre em captar todas as tensões invisíveis que nos cercam.
Excelentíssimos
3.6 19Quando vi "O Processo", achei que não fazia jus ao tema, mas "Excelentíssimos" fica bem abaixo. Roteiro e edição bem ruins... Os núcleos se misturam e se perdem, cenas muito longas que pouco acrescentam à narrativa.
Culpa
3.9 355 Assista AgoraRoteiro impecável. A confissão da culpa, no fim, é o que o redime.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraCuarón não peca em nada. Deslumbrante visualmente e de um roteiro forte. Como César pontuou, é um filme de detalhes. Os dois que mais me chamaram atenção foram: a) o estacionar do carro, sempre delicado, que reflete a insustentável leveza daquela família; com o tempo, o mesmo começa a sofrer danos, até que a matriarca decide que é preciso de outro automóvel para aquela garagem; b) o não-tiro do pai da criança de Cleo que, querendo ou sem querer, a mata. Fantástico!
O Primeiro Homem
3.6 649 Assista AgoraO terceiro filme de Damien Chazelle não é a chegada do homem à lua, e sim a viagem interior que este deve empreender para avançar. Deixando a conquista em segundo plano, "O Primeiro Homem" fala, essencialmente, de perdas e como é difícil deixar o passado para trás.
O Processo
4.0 240"O Processo" é um filme político - político em vários sentidos. Ao assisti-lo ontem, no cine Belas Artes de São Paulo, senti que o público, assim como eu, era incapaz de se distanciar da narrativa de modo a aprecia-la como um filme comum. A reabertura nas telas dos autos do processo contra Dilma Rousseff fez com que eu e os que lá estavam revivêssemos os anos anos anteriores em que foi deposta. A indignação e a revolta foram inevitáveis. Sentimentos esses causados não simplesmente pela memória, mas pela constante incitação desses na plateia por parte da diretora. Digo que "O Processo" é um filme político em muitos aspectos pois é também - e não que isso seja de todo mal - uma convocação à luta. Assistimos, por pouco mais de duas horas, o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff sob o olhar de Maria Augusta Ramos, quase sempre pelo gabinete onde se reuniam Gleisi, Lindbergh e Cardozo. Joseff K. da história, Dilma tem pouco protagonismo na história contada por Ramos, o que fortalece a visão de peça manipulável que a ex-presidenta tem confirmado. Os gritos de "Fora Temer" ao fim do documentário são um chamado à plateia. Não por acaso saímos de lá aos gritos presenciais de "Fora Temer", "Lula Livre" e até mesmo "Viva Maduro". Acredito que ainda deva surgir alguma produção mais complexa sobre o momento, que seja capaz de interessar ao público internacional ao dar-lhe de forma mais honesta o absurdo do ocorrido. "O Processo" entra como visão intestina do teatro do impeachment, mas não deixa de ser ele mesmo, em vários momentos, um teatro filmado. A maquiagem de Gleisi, toda branca, transpareceu muito à câmera.
Trama Fantasma
3.7 804 Assista AgoraNão há nada de rotineiro nos filmes de Paul Thomas Anderson. Isso se deve não ao fato de o diretor escrever para as telas roteiros mirabolantes, cheios de fantasias e peripécias, mas ao terreno explorado pelo realizador, o espírito humano, inesgotável campo de possibilidades, nem sempre prováveis. A arte não pressupõe apenas uma história interessante para emanar valor, mas essencialmente uma forma que a encontre e lhe permita, através da linguagem, expressar sua cuidadosamente arquitetada rede de significados. Anderson entende muito bem as regras do jogo do qual faz parte. "Trama Fantasma" é fruto de um árduo amadurecimento de estilo e, como as obras anteriores do diretor, é exigente para consigo mesma. O ritmo de Paul está longe de estar em consonância com o do cinema comercial moderno. Nada falta ou sobra em suas melhores produções, ainda que as longas cenas, os silêncios profundos e a discreta tensão das histórias apontem para um excedente de seus filmes. O desenvolvimento da obra não pede objetividade ou clareza. Ao mesmo tempo que coloca o espectador em contato com uma dimensão, muitas vezes, desconhecida de si próprio, não lhe fornece receitas de como lidar com ela. Alguns verão um tedioso filme de duas horas e dez minutos de um alfaiate que se apaixona por uma de suas modelos. Outros, mais sensíveis, terão a experiência de estar diante de um trabalho de Paul Thomas Anderson. E não há nada de entediante ou rotineiro nisso.
A Forma da Água
3.9 2,7KNão deixo de pensar na cena mais linda do filme e sua decorrência do "Efeito 'La La Land'". A dança entre Elisa e o Humanoide, de extrema delicadeza, indo da música ao silêncio, conduzindo o espectador a compreender que ambos - a palavra e sua ausência - são capazes de dizer.
120 Batimentos por Minuto
4.0 190Quantos não perdemos durante o surto da AIDS? Costumo sempre pensar o cinema como forma, mas "120 Batimentos" me tocou de outra forma. A memória da morte nos custa muito. É lindo ver a Paulista colorida, mas como ainda falta engajamento real da comunidade LGBT nessa luta!
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraGuerra não é apenas aquilo que chamamos guerra.
Projeto Flórida
4.1 1,0KAo mesmo tempo doce e intragável. Exatamente como a vida.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraOs trovadores medievais já assinalavam a diferença entre "suspirar" e "cuidar". O primeiro, amor fugaz, ligado às aparências, o segundo, profundo e verdadeiro. Se doar, viver por alguém é coisa séria. "Lady Bird" lembra da responsabilidade que é "querer" e como "cuidar" é a mais verdadeira forma de amor.
Voyage of Time: Life's Journey
3.6 45Malick sempre fazendo perguntas a Deus. Jó moderno.
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraEnredo bem amarrado e super criativo. O melhor da Pixar em anos. Señor, esa película es maravillosa!
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraSensível e sincero.
A Princesa e o Plebeu
4.3 417 Assista AgoraA cena final, da princesa cumprimentando os membros da imprensa, me fez perceber que, em meio a tantas palavras que dirigimos a tanta gente, são verdadeiramente poucas as que realmente querem dizer alguma coisa.
A Lei do Desejo
3.8 317 Assista AgoraAmei! Algumas falhas no roteiro, mas com essa intensidade é de se relevar. Adorei a sessão. Bateu um certo arrependimento de não ter visto antes.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraMuitas pessoas aqui estão analisando o filme com base nos outros da franquia X-Men. Acho que faz mais sentido perceber 'Logan' enquanto obra singular. Belíssimo filme de ação, em vários momentos lembra 'Mad Max'. Roteiro ótimo, com referências a 'Os Brutos Também Amam', e trilha tocante. Que filmão! Sem dúvidas, o primeiro dos tantos envolvendo os X-Man que me faz sair plenamente satisfeito depois da sessão.
Elefante
3.6 1,2K Assista AgoraQue câmera cínica.
O Passado
4.0 294 Assista AgoraA verdade nos escapa pelos dedos. Na tragédia da vida, não há culpados ou inocentes, vítimas ou agressores, não há quem possa vencer.
Margaret
2.9 175Lonergan parece ser bom em contar histórias sobre personagens à beira de um colapso. Assisti 'Margaret' por ter gostado muito de 'Manchester by the sea' e acabei gostando mais. Atuação maravilhosa da Anna Paquin em um roteiro fantástico.