O que falta em “Kong: Skull Island” no quesito história, o filme compensa com uma emoção que é iniciada com menos de 30 minutos de projeção, talvez. Digo mais: do ponto de vista “filme de monstro gigante”, este aqui é tudo o que o “Godzilla” de Gareth Edwards queria ser e não conseguiu, uma vez que o diretor Jordan Vogt-Roberts compreende qual o filme que ele está realizando e faz jus a ele.
O roteiro de “Skull Island” é o mais simples possível. Não há de fato uma grande história sendo contada, e sim um evento que acaba interferindo naquilo que os personagens humanos estavam querendo realizar e, claro, as consequências. Ou seja: não é aquele tipo de filme que exige que o público o leve a sério, porque o próprio longa não o faz, mesmo sendo absolutamente grandioso. Pra resumir, o pano de fundo do longa, que é a violência humana contra a natureza e a convicção do homem de que é superior a tudo, funciona como deve ser e por si só. É uma discussão sempre bem-vinda, seja da forma que for apresentada.
Os personagens, como era de se esperar, são unidimensionais: não há espaço para evolução uma vez que toda a ação se passa em um período de menos de 48 horas. Mas ainda assim, os principais James Conrad e Mason Weaver cativam – esta última se destaca ainda mais por se diferenciar das habituais mocinhas que protagonizam filmes com o gorilão. Preston Packard logo se torna bastante apático, cumprindo seu papel de antagonista, em base de suas decisões. Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John C. Reilly, John Goodman… É um elenco de primeira. Toby Kebbell (de Black Mirror) também merece uma menção honrosa, já que emprestou seus movimentos faciais para a criação do Kong e também interpreta um personagem que consegue conquistar empatia.
Do ponto de vista técnico, não há o que reclamar. Embora haja um deslize vez ou outra com algum animal criado digitalmente, os efeitos de “Skull Island” são arrebatadores. Kong realmente parece real, tamanho o capricho e cuidado da direção em sua construção. E os vilões animais, aqueles que não possuem nome, também são muito bem definidos – essa qualidade incrível já estava presente em “Godzilla”. Além disso, o gorila sempre está presente e sempre de forma nítida – acho que só há UMA cena nos 118 minutos de projeção em que ele aparece à noite e ainda assim, você consegue enxergar TUDO. A experiência em IMAX 3D, aliás, é recomendadíssima para este filme.
Não só isso, como a fotografia do longa é BELÍSSIMA, além de planos abertos perfeitos e inspirados: a câmera mostrando Kong recortado contra a luz do sol, gigantesco, literalmente um rei, conforme os helicópteros se aproximam dele, talvez seja a imagem mais linda do filme. Há também cenas em que mostram o gorila da cabeça aos pés que são impressionantes tanto pelo tamanho do animal como pela perfeição. A construção da Ilha da Caveira, aliás, também impressiona, não só pelas criaturas que a habitam como pelo seu visual em geral.
Enfim, “Kong: Skull Island” é tudo aquilo que um filme de monstros deve ser. E se os próximos lançamentos da Warner neste gênero seguirem essa base, teremos ótimos filmes chegando por aí nos próximos anos.
Ao pensarmos em Wolverine, automaticamente chegamos à conclusão que o filme “Logan” é um longa de super-heróis. E embora, sim, esteja incluído nesta lista, o filme de James Mangold vai além, inclusive, de uma obra de ação. “Logan” é um estudo belíssimo e competente de personagens, da relação que as duas figuras centrais (fora a jovem menina) estabelecem um com o outro e sobre o resultado de toda uma vida.
Hugh Jackman não poderia ter escolhido melhor hora para anunciar sua aposentadoria das infames garras de Wolverine. Desta vez, o ator encarna a vulnerabilidade do personagem com sagacidade. A aparência mais velha tornam-o mais maduro, mas mais debilitável: além de mancar, Logan também precisa de óculos para ler e surge sempre com os olhos avermelhados, simbolizando como seu corpo, seu “eu”, está sendo exterminado aos poucos.
Patrick Stewart também surge excepcional como Charles Xavier; assim como Jackman, encarna o personagem de forma debilitada, também vulnerável (ele já está com seus 90 anos) e que, surpreendentemente, está perdendo controle de seus próprios poderes. Por fim, chegamos à terceira figura central do longa: Dafne Keen foi uma achada. A atriz mirim consegue evocar ameaça com seu olhar profundo e suas habilidades quando é necessário se defender – particularmente, fiquei abismado com sua capacidade no ataque. Boyd Holbrook também merece menção por seu vilão Pierce, já que convence como tal e há uma motivação plausível por trás de seus atos.
Mangold também comanda as sequências de ação com extrema energia e não poupa sangue para ilustrar a violência e a urgência dos ataques que os personagens sofrem. Não há uma cena de confronto que não se destaque, todas muito bem executadas e que possuem um propósito além de impressionar e/ou chocar. O roteiro escrito Mangold, Scott Frank e Michael Green é mergulhado em uma atmosfera melancólica, com um tom urgente sempre presente e, acima de tudo: absolutamente imprevisível. Destaque, também, para a linda trilha de Marco Beltrami, uma das melhores dos últimos anos.
“Logan”, além de fechar com chave de ouro a trilogia do Wolverine, ainda faz uma despedida tocante e humana para um dos personagens mais famosos de todos os tempos. Grande Hugh Jackman.
Pra um filme que recebeu o subtítulo de “A História Não Contada” aqui no Brasil, “Parkland” não traz muita coisa nova que o mundo já não saiba – levando em conta que o assassinato de Kennedy é um dos eventos mais impactantes e analisados dos últimos tempos.
Nota-se, claro, que há um esforço por parte do diretor Peter Landesman (também roteirista) ao contar a história – mais precisamente, o que ocorreu nos três dias seguindo a morte do ex-presidente. Mas o roteiro não possui foco, não aprofunda nenhum personagem, soa aleatório em diversos momentos e acaba estragando a experiência. As cenas são intensas, é verdade. Toda a sequência que traz a equipe de médicos tentando fazer o impossível por Kenny deixa o público aflito, tanto pela determinação dos envolvidos quanto pela câmera na mão do diretor que traz ainda mais urgência para a situação. Mas fica por aí.
Pela quantidade de personagens na tela, o único que recebe uma atenção mais especial é o personagem de Paul Giamatti, já que o arco dramático que é o seu trauma acaba pontuando bem no filme. O restante acaba passando despercebido. O elenco possui vários nomes de peso/bastante conhecidos do público, de bons/medianos atores, mas nenhum deles consegue se destacar justamente porque o material não os permite fazê-lo.
Eu teria gostado muito de ver mais profundidade em “Parkland”. Pelo peso da história que estão apresentando, o filme acaba decepcionando. Muito. Não é um longa de todo ruim, mas não consegue atravessar a linha “bom”. Mais ou menos, pra dizer o mínimo.
“I Don’t Feel at Home in This World Anymore” não é um filme que possui um tom apropriadamente definido. Possui cenas cômicas demais para ser um thiller, e muitos elementos mais sérios para ser considerado uma comédia. O longa de Macon Blair acaba sendo, então, uma bela mistura de ambos os gêneros e se sai excepcionalmente bem na tarefa.
Pra ser bem sincero, o tempo todo eu fiquei pensando que os irmãos Coen estavam envolvidos com a produção, porque este longa é muito a cara deles – e as situações em que Ruth e Toby se mete, principalmente no ato final com os responsáveis pelo assalto à sua casa, remeteu DEMAIS à “Fargo” na minha cabeça. Não pela história, mas pela premissa. O roteiro também é certeiro nos simbolismos. E eu curti muito as cenas, sutis, em que é mostrado como o ser humano é arrogante e mal educado sem ter realmente consciência disso – a ultrapassagem no supermercado, ou o fato de não perceber que seu cachorro está defecando no quintal alheio, etc.
Eu realmente adorei o personagem de Elijah Wood – e detalhe, ele está ótimo como Toby, o personagem mais engraçado do filme. Melanie Lunskey não fica muito atrás com sua Ruth.
Foi a estreia de Macon Blair como diretor (ele também escreveu o filme) e considero ótimo este seu primeiro trabalho. É um diretor promissor.
A animação possui uma qualidade técnica incrível e a história, em geral, é bastante criativa. Não pelos dilemas enfrentados pela família Crood, ou pela filha que quer se ver livre do domínio absoluto do pai. Acho que mais pela ambientação, que foi certeira, e todos os elementos que compõem os cenários: até os animais chamam a atenção, principalmente os pássaros carnívoros que andam em bando.
Grug é um bom personagem (e confesso que desde o início do filme, fiquei temendo o destino dele já que o longa não é muito sutil nesse ponto). Eep acabou me irritando em determinado momento, mas seu problema em conseguir se comunicar apropriadamente é compreensível. E o Guy é adorável. Todo o restante da família cumpre sua cota cômica, principalmente a vovó Gran e o pequeno Thunk.
Acho que os dois primeiros atos do filme funcionam excepcionalmente bem. Além da trama interessante, o roteiro ainda apresenta várias situações inusitadas que preenchem a duração do filme sem realmente fugir da proposta.
O maior problema do filme e que acaba comprotemendo tudo é o terceiro ato – e, mais precisamente, toda a sequência final que define o destino de Lucy. Luc Besson parece não saber o que está fazendo, não se incomoda em dar explicações: simplesmente joga sua patética resolução na tela esperando que todos possam enxergar o quanto ele é visionário como roteirista e diretor (só que não).
Uma pena, já que “Lucy” possui uma proposta interessantíssma que acaba se perdendo em um longa razoável e abaixo demais de seu potencial.
O mérito de (500) Days of Summer é justamente fugir de todos os clichês que assolam longas do gênero e se basear mais na vida real, no que realmente é de praxe acontecer com as pessoas. Nem sempre você consegue o que quer. Às vezes você não consegue nem metade daquilo que deseja. E aí, segue vivendo...
Com uma performance adorável tanto de Joseph Gordon-Levitt quanto de Zooey Deschanel, o diretor Marc Webb também é absolutamente hábil ao não favorecer nenhum dos “lados”. Embora o filme foque mais precisamente no Tom, como ele se apaixona e como ele lida com as consequências da relação, somos lembrados o tempo todo do que Summer realmente queria daquele envolvimento. Além disso, a linda conversa que ambos os personagens têm no final do filme é decisiva para estabelecer que: não há lado errado.
O filme também conta com um visual muito bonito, uma paleta de cores adorável – impressionante como o azul adotado em algumas cenas realçam de uma forma arrebatadora os olhos da Summer. E a trilha sonora é ótima.
É uma refilmagem razoável e que consegue entreter na melhor das hipóteses. No entanto, o “King Kong” do diretor John Guillermin possui problemas demais para ser considerado, no mínimo, um bom filme.
O roteiro escrito por Lorenzo Semple Jr. não é dos melhores: com uma penca de diálogos ruins, o texto acaba comprometendo até mesmo a performance de seus atores. No entanto, Semple Jr. consegue se redimir já que sua trama possui consistência narrativa e uma boa estrutura. O filme, que tem mais de 2 horas de duração, vai caminhando bem: não cansa e consegue prender seu público.
Além disso, o melhor de todos os pontos deste longa é como a “relação” entre Dwan e Kong é trabalhada, já que não demora muito pra mocinha perceber que o macaco gigante não é o “monstro” que estava pensando ser. E é por isso que, no terceiro ato, a cena que define a história acaba sendo tão tocante – ao mesmo tempo em que frustra pela brutalidade humana contra um animal que NÃO pediu para ser levado até aquele local.
Já os efeitos visuais, em suma, não são tão ruins para o ano de produção, mas também não são nada brilhantes. Nota-se um esforço para trazer Kong à vida, especialmente em cenas em que ele aparece diante das pessoas, mas em alguns momentos a coisa toda soa fake demais para ser levada a sério – o recorte ruim do macaco em cenas CGI, por exemplo, acabam estragando a experiência. Já sobre o Kong: a fantasia vestida por um homem para construir o personagem-título é nítida, mas não é que acaba funcionando? Principalmente na cidade quando os cenários são em miniatura para ele poder fazer o que bem entender.
Jeff Bridges surge sólido como Jack Prescott, embora seja boicotado pelo texto ruim em alguns momentos. Jessica Lange não teve um bom início de carreira (não pelo filme em si, mas ela pouco convence na composição de Dwan). Charles Grodin talvez seja o personagem mais complexo do longa, compondo um Fred Wilson absolutamente ambicioso e preocupado apenas no ganho pessoal, mas o ator também acaba sofrendo pelo texto em mãos.
Enfim, esta versão de “King Kong” pode até não ser um bom filme por completo, mas também não é um desastre total. É razoável por ser limitado demais. Mas tem sua ambição cinematográfica e merece elogios por isso.
“Bleed for This” é bom dentro daquilo que se propõe. Mas poderia ser melhor, diferente. Poderia ser mais inovador. A maior parte do filme soa inspiradora (já que é bonito ver o personagem de Miles Teller tentando superar suas próprias limitações físicas, à qualquer custo), mas o longa acaba ficando um tanto cansativo depois dos primeiros 60 minutos. Ou seja: não há força narrativa nele que justifique a duração de quase 2 horas – parece ter mais de 120 minutos e isso é um problema. E digo isso como uma pessoa que realmente gosta de acompanhar tramas que tenham luta como pano de fundo.
De qualquer forma, os atores sustentam o longa nas costas. Miles Teller mesmo faz um trabalho de entrega maravilhoso ao Vinny e às dificuldades que surgem após seu infeliz acidente, ao passo que Aaron Eckhart confere um tom forte e certeiro como o “companheiro de jornada” de Vinny.
O longa também conta com uma boa trilha sonora e um roteiro com excelentes diálogos e bem estruturado. Ben Younger entrega algumas ótimas sequências de luta, conduzindo a ação de forma eficiente e sempre permitindo que o público veja por si só como o esporte é violento. Ele é eficaz tanto nas sequências de superação e recuperação, quanto no que diz respeito à luta em si.
“Bleed for This”, apesar de não ser realmente um longa memorável, é bom o suficiente na execução de sua proposta.
Não conheço muito da história por trás do filme (inclusive fiquei curioso pra saber mais após o desfecho), então não posso julgar a veracidade dos fatos aqui. “King Cobra” possui uma história sombria e recebe um tom dramático apropriado do diretor Justin Kelly.
O problema é que, na realização de algumas cenas, Kelly parece esquecer o tipo de história que está contando e, intencionalmente ou não, inclui sequências ruins/cômicas que acabam prejudicando a experiência (um dos exemplos seria a pavorosa e mal feita cena de sexo entre os personagens de James Franco e Keegan Allen). Pra trama apresentada, pra atmosfera pesada, simplesmente não há espaço para comédia. Mas...
O roteiro de Kelly não é dos melhores no quesito diálogos – e novamente, enfatizo os momentos entre Franco e Allen, que sempre soam forçados. Aliás, a falta de sutileza do diretor na construção destes personagens é o que acaba incomodando acima de qualquer outra coisa. Reparem a cena em que Harlow observa pela janela da casa o seu carro “bebê” ser guinxado e levado embora – o movimento voluntário da mão à janela, tentando ilustrar algo bem mais dramático do que na verdade é na sequência, acaba fazendo a sequência desandar.
Ignorando as cenas deste casal, o filme até funciona bem quando foca mais na relação entre Stephen e Sean/Brent, principalmente quando é iniciado o embate entre os dois que acaba levando ao brutal crime cometido. Kelly acerta bem mais na construção das cenas e dos personagens em si, principalmente Stephen e seus conflitos internos em relação à Brent e como ele o enxerga como propriedade.
Christian Slater é, de longe, o melhor dentre os membros do elenco: compõe Stephen como um homem ambicioso capaz de fazer chantagens emocionais pra se ver no controle e na posse de alguém. James Franco parece ter mesmo uma necessidade grande de ser gay e, tirando alguns diálogos ridículos, até consegue conferir verdade nas cenas de frustração. Keegan Allen é um dos piores atores da atualidade (venho dizendo isso desde Pretty Little Liars) e aqui não faz nada de diferente além de mostrar o corpo e parecer aborrecido mesmo sem estar. Por fim, Garrett Clayton... Bem, tem muito o que melhorar.
“King Cobra” é aquele tipo de filme que precisava de uma direção melhor para funcionar apropriadamente. Justin Kelly parece se esforçar, mas acaba desgraçando seu trabalho com sua própria falta de sutileza.
“The Edge of Seventeen” possui uma direção impecável um roteiro muito bem escrito, que vai apresentando situações engraçadas, emocionais, tensas... O filme todo, na verdade, é um mix dos mais diversos sentimentos e eficiente em sua execução.
Mas fora as qualidades técnicas, creio que vai realmente afetar aqueles que, de alguma maneira, se identificaram com a Nadine: seja pelo comportamento, pelos acontecimentos ao seu redor, etc. Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Enxerguei-me tanto na Nadine que, com 10 minutos de filme, a narrativa já tinha me fisgado por completo e estava fascinado por ela. E é isto que o filme é: um estudo maravilhoso de personagem.
É fácil entender a relutância da Nadine em aceitar o namoro da melhor amiga com o irmão, com quem não tem uma relação muito boa. E mais fácil ainda é entender a razão do afastamento das duas perante o que aconteceu na festa e quanto tempo levou para que a amiga percebesse o que tinha feito de errado. Não tem muito tempo que vivi uma situação muito similar, então creio que por este motivo eu compreenda tanto Nadine.
E o roteiro é recheado de situações realistas. Reparem na expressão de Nadine quando a mãe afirma que o pai “estaria muito decepcionado com ela”. Reparem em como a mãe simplesmente não sabe como conversar com a própria filha quando precisa responder uma simples mensagem de texto. Ou como Nadine se esquece de olhar através do irmão, justamente aquilo que ele faz com ela.
Hailee Steinfeld é crucial pro funcionamento do longa, já que ela compõe Nadine com força e, principalmente: humanidade. Em nenhum momento, pelo menos no meu ponto de vista, você acha que ela está fazendo “showzinho” ou “draminha” demais. Ela vive em um mundo onde não é enxergada e só deseja ser... Amada. Steinfeld consegue evocar esses sentimentos muito bem (a cena em que conversa com o irmão, no finalzinho, é fascinante). Woody Harrelson está ótimo como o professor sarcástico que acaba sendo de grande ajuda para a protagonista. O restante do elenco também se sai bem, tendo Haley Lu Richardson, Blake Jenner, Kyra Sedgwick e o adorável Hayden Szeto como destaques principais.
Sendo um filme voltado para o público adolescente, “The Edge of Seventeen” é surpreendentemente maduro e adulto nas questões que aborda. Vale conferir.
Visualmente e do ponto de vista técnico, “Beyond” é tão bom quanto seus antecessores. Efeitos visuais incríveis e grandiosos. Design de produção fantástico e inspirado – os cenários são sempre únicos e bem definidos. Trilha sonora deixa sua marca com temas memoráveis. Mas a história, em geral, não é mesmo das mais relevantes.
Não que seja ruim. O roteiro continua bem escrito, fazendo alegorias e críticas que são atuais em um universo fantasioso – mas não é uma história que tenha prendido tanto quanto “Into Darkness”, por exemplo. Sim, é uma trama coesa e não deixa de ser animadora se você gosta do universo, mas faltou alguma coisa. Talvez dividir os personagens em duplas tenha sido o maior erro.
As sequências de ação são boas, o único problema é que o diretor Justin Lin talvez confira energia por DEMAIS na execução: se J.J. Abrams soube fazer isso com maestria nos dois capítulos anteriores (as cenas eram impecáveis e você tinha noção de tudo o que estava acontecendo), aqui, Lin adora fazer cortes abruptos, correr com a câmera pra todos os lados, o que acaba confundindo e não permitindo que o público se situe no que está acontecendo.
Nas atuações, todos aparentemente surgem mais carismáticos – ou talvez eu tenha me apegado tanto aos personagens e aos intérpretes que fico feliz por eles simplesmente estarem em cena. Chris Pine veste Kirk exalando segurança (mais do que nos outros dois filmes). Zachary Quinto não me cansa de surpreender com sua versatilidade ao encarnar o Spock. Karl Urban fecha o trio de ouro dando um tom engraçadinho e eficiente para o amado McCoy. Preciso dizer, também, que até hoje sinto profundamente a morte de Anton Yelchin, por isso, fiquei muito feliz por ver que ele teve um tempo adicional de tela em “Beyond” – honrando, desta forma, seu personagem Chekov nesta que foi sua última atuação em Star Trek.
Já o vilão interpretado por Idris Elba é subaproveitado. Se J.J. Abrams explorou bem Benedict Cumberbatch em “Into Darkness”, Justin Lin limita muito o Krall de Elba – inclusive, não entendi a necessidade de ficar filmando o personagem centrando a câmera em seu rosto o tempo todo. Se a tentativa era torná-lo mais ameaçador, não foi bem sucedida.
Enfim, “Beyond” possui mais acertos do que erros. Mas dos três filmes, sem dúvida acaba se saindo o mais fraco. Uma pena.
Já tinha gostado muito do primeiro volume desta nova leva de filmes Star Trek, mas “Into Darkness” foi ainda melhor.
Com uma trama cativante, o roteiro ainda é hábil ao rechear seus diálogos e algumas cenas com metáforas e críticas visuais que são eficientes. Novamente, os personagens são muito bem definidos, a relação entre um e outro convence e a cumplicidade que existe entre eles até emociona. J.J. Abrams, assim como no capítulo anterior, comanda o longa com uma energia absurda: cenas de ação inspiradíssimas (inclusive, em um plano ou outro, deu pra ver de onde o diretor tirou algumas ideias de câmera para The Force Awakens, dois anos depois).
Os atores todos se sentem à vontade com seus personagens. Chris Pine surge um pouco menos arrogante (novamente, da forma mais adorável possível) neste longa, assim como Zachary Quinto segue impressionando com o quanto domina o Spock, como se o encarnasse há muito, muito tempo. O grande destaque do longa, no entanto, é Benedict Cumberbatch: além de ser um ator exemplar, seu vilão realmente consegue exalar perigo e você passa a temer pela vida dos personagens e pelo destino da Enterprise. As motivações também convencem.
Sem falar no terceiro ato absolutamente emocional – confesso que fiquei com o coração na mão por conta de um determinado sacrifício, mesmo tendo consciência de que aquilo não seria o fim.
“Into Darkness” só elevou o nível desta nova franquia Star Trek. Muito bom mesmo!
Eu não conhecia, até então, o universo Star Trek – só por cima, mas não me recorde de ter assistido a nenhum outro filme da série além de “Primeiro Contato”, o qual não me lembro, e nenhum episódio das séries clássicas. Dito isso, este primeiro volume da nova leva de filmes da franquia realmente conseguiu me fazer interessar pela história e pelos carismáticos personagens.
J.J. Abrams comanda “Star Trek” com energia (não esperava menos): as sequências de ação são fantásticas, os movimentos de câmera e o foco nos rostos dos protagonistas evoca a dimensão de seus personagens, e ainda consegue mesclar muito bem o suspense que a narrativa exige com ótimas sequências de humor.
E o elenco é de primeira: Chris Pine surge arrogante (de uma forma adorável) como Kirk; Karl Urban evoca com sensibilidade a lealdade de McCoy; Zoe Saldana compõe sua Uhura da maneira que todos nós amamos: bem definida e forte; Simon Pegg rouba a cena como alívio cômico; e John Cho é hábil ao compor Sulu como uma pessoa que pode cometer um erro simples, mas que ainda assim exala capacidade. Por fim, Zachary Quinto encarna Spock como se já o tivesse feito outras vezes, tamanha sua segurança com o papel em mãos.
Um filme deve funcionar independente de seu material original, importante ressaltar. E “Star Trek”, felizmente, está incluso nesta lista.
Toda a trajetória de “Passengers” poderia ter sido diferente e mais aceitável se o roteirista Jon Spaihts tivesse seguido o caminho do “acaso” ao invés do egoísmo. Claro que, desta forma, o filme perderia uma parte importante do drama abordado, mas ao menos não apresentaria um protagonista tão egoísta e moralmente indefensável como é esse personagem do Chris Pratt.
Do ponto de vista técnico, o longa tem seus méritos. O design de toda a nave onde se passa a história é belíssimo e bem concebido, e a parte da ciência é toda interessante, principalmente quando a nave chama toda a atenção para si mesma no terceiro ato. Só é uma pena que essas qualidades técnicas não consigam se sobressair ao roteiro covarde e à direção tendenciosa de Morten Tyldum.
Afinal, por que essa necessidade de construir Jim Pearson como um herói? É fato que, ao optar por despertar Aurora (que coincidência, né?), Jim reflete de que sua decisão seria amoral e até se sente culpado, mas seu egoísmo não o impede de seguir em frente com seu plano. Há quem diga que ele faz isso porque “não queria passar 90 anos sozinho, não queria morrer sozinho” e etc. Mas por que ele escolheu justamente Aurora? Por que uma figura feminina e por que justamente aquela que lhe chamou a atenção só por causa de sua beleza?
Não bastasse isso, “Passengers” ainda apresenta uma carta patética ao mostrar que Jim, um homem simples que busca um futuro melhor para si mesmo, está socialmente abaixo de Aurora, que é uma jornalista rica, famosa que vive à sombra do pai e que embarca na viagem apenas por querer fazê-lo, sem grandes ambições (a intenção, se não foi clara, é pintá-lo novamente como um “pobre coitado”). Também existe o fato de que Jim surge calmo e controlado em cenas de pânico, ao passo que Aurora sempre aparece desesperada e necessitada de ajuda. Em resumo: uma diminuição absurda da mulher à presença de um homem.
Desta forma, o romance que é a base do roteiro, pode-se dizer, é impossível de ser aproveitado e indefensável, uma vez que Aurora foi manipulada por ele a embarcar na relação (convenhamos, folks, ela não tinha a mínima escolha por conta do egoísmo dele).
Enfim. “Passengers” não é um filme cansativo, possui uma estética visual interessante, uma boa trilha sonora. Uma premissa que interessa. Mas ao mesmo tempo, torna-se absurdamente irritante pelas tentativas de humanizar o protagonista da forma mais trapaceira possível.
A temporada de premiações, como cinéfilo, é minha época favorita nos anos porque através delas, sou apresentado a obras tão belas com o é o caso deste “Ma Vie de Courgette” – e que, por se tratar de uma animação fora da Disney, é mais difícil de ser descoberta.
É um roteiro simples, mas com uma carga dramática incrível – até pesada. A primeira cena já deixa claro o tom que o diretor Claude Barras adota, ao mostrar exatamente como ocorre a morte repentina da mãe de Abobrinha (e particularmente, fiquei muito chocado com as circunstâncias). Depois disso, o protagonista de 9 anos é enviado a um orfanato onde conhece outras crianças órfãs, e deve aprender a conviver com eles e a encontrar seu próprio lugar.
Como era de se esperar, as crianças que envolvem Abobrinha possuem cada uma sua triste (e trágica) história. É tocante quando Simon, à primeira vista pintado como o antagonista de Abobrinha, começa a relatar sobre as razões de cada um por estarem ali – e confesso que fiquei arrepiado quando mencionou seus pais e o que eles mais amam no mundo.
Mesmo com essa atmosfera triste, “Ma Vie de Courgette” consegue abrir espaço em seu roteiro para sequências de humor de forma bastante sutil. Além disso, a estética da animação é impressionante e encantadora, de uma qualidade absurda. O stop-motion é realmente incrível e deveria ser adotado mais vezes.
Enfim, “Ma Vie de Courgette” é uma obra simples, delicada e eficaz em sua execução.
É interessante como “The Salesman”, apesar de possuir uma trama principal tensa e que, por si só, já prenderia a atenção do público, ainda consegue passear de forma alternativa por vários outros princípios iranianos – e é absolutamente eficaz na trajetória.
O roteiro Asghar Farhadi, como não poderia deixar de ser, é envolvente e complexo. Personagens escritos da forma mais humana possível – e assim interpretados por Taraneh Alidoosti e Shahab Hosseini: ambos os atores adotam um tom realista que nada deixam a dever para o comportamento real dos seres humanos diante de uma situação tão perturbadora como aquela em que se encontra. E Farhadi sabe como conduzir sua narrativa, construindo bem a tensão principalmente pelo o que pode acontecer a seguir, conforme Emad Etesami começa sua investigação.
Só acho uma pena que o filme tenha perdido um pouco sua força no terceiro ato. A ideia de colocar como culpado uma pessoa que, à primeira vista, não seria capaz de cometer um ato tão monstruoso é extremamente eficaz. O problema reside na tentativa patética de humanizar o personagem: mais pela execução e pela exposição do roteiro (o comportamento e as declarações da mulher, pra ser mais preciso).
“The Salesman” é, sim, um grande filme. Mas que não termina de forma tão “grande” como poderíamos esperar.
O filme se passa no século 17, mas de certa maneira, se assimila a vários assuntos atuais. Acima da religião, é um filme que fala sobre intolerância e sobre os limites do homem como ser humano, até onde ele é capaz de ir para defender seus ideais e suas convicções.
O roteiro conduz bem a narrativa, que funciona relativamente bem para um longa com 160 minutos de projeção. A história, no entanto, só vai ficando mais interessante quando nos aproximamos dos 20/25 minutos, talvez, e aí temos uma visão mais ampla daquilo que Martin Scorsese, sempre brilhante está contando e mostrando. Quando entendemos isso, o longa vai ganhando força e jamais soa cansativo ou desnecessário, tendo toda a sua duração justificada com uma trama complexa e angustiante. Apesar de ter religião, a força da fé como tema central, acho que o filme consegur ir além disso, falando da adversidade, opressão e ódio.
Scorsese realiza um trabalho impecável na construção de seus protagonistas – mais precisamente Rodrigues, que é quem carrega o filme nas costas quase que o tempo inteiro. Scorsese também dá atenção à construção da tensão e do medo, uma vez que você realmente começa a temer o que irá acontecer com os personagens, até mesmo aqueles que não possuem muita atenção e estão sendo oprimidos. Além disso, a câmera de “Silence” está sempre próxima dos personagens, evocando a sensação claustrofóbica que a situação exige. Sem falar na fotografia inspirada de Rodrigo Prieto, muito bem utilizada nas cenas, casando-se perfeitamente com o drama de cada uma.
Andrew Garfield faz um trabalho excelente e mostra como está evoluindo como ator (já se destacou como Desmond Doss em “Hacksaw Ridge”, e aqui ele parece ainda mais sólido do que no longa o qual recebeu uma indicação ao Oscar). Garfield compõe Rodrigues como um homem bom e afetuoso, que é levado aos seus próximos limites por conta de sua fé e os horríveis acontecimentos ao seu redor. A carga dramática que o ator confere às cenas, principalmente quando ele é preso em uma cela, é de impressionar. Adam Driver merece uma menção positiva como Garupe, embora não tenha a chance de mostrar a que veio como Garfield. E Liam Neeson surge com ideias complexas na pele do enigmático Ferreira.
Enfim, é um belo filme. Mesmo tenso e com uma história até mesmo sombria, “Silence” conta com uma leva de imagens belíssimas, uma direção segura e atuações primorosas.
“Jackie” é um instigante estudo de personagem. E acho, inclusive, que vai além de uma simples biografia sobre a vida da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy, já que o roteiro aborda um momento trágico e importante na vida da personagem-título e como ela reage emocionalmente ao que está acontecendo ao seu redor.
O filme basicamente é construído por flashbacks e mais flashbacks (tendo como base uma entrevista que Jackie concedeu apenas alguns dias após o funeral de seu marido). O roteiro é hábil ao enfocar e conduzir sua narrativa através do emocional da protagonista, ao passo que também abre espaço para diversas rimas visuais que, felizmente, funcionam dentro daquilo que foi o divisor de águas para ela.
Porém, tecnicamente, o que realmente se destaca em “Jackie” é a direção de Pablo Larraín: com a câmera sempre focando na personagem-título, o diretor evoca a solidão de Jacqueline com planos abertos ilustrando a fragilidade da mesma (uma vez que ela surge pequena, por exemplo, em espaços consideravelmente grandes). É interessante também como Larraín frequentemente acompanha Jacqueline pelas suas costas, permitindo que o público veja aquilo que ela está vendo e sinta o que ela está sentindo.
Claro que, para isso, o diretor conta com uma performance absolutamente magistral de Natalie Portman, que se entrega de corpo e alma à composição de Jacqueline Kennedy. Desde o sotaque até a maneira comportada (nitidamente forçada, já que era um desconforto para ela) de caminhar e de se adequar – em especial, nas sequências em que ela aparece como centro de um teledocumentário realizado na Casa Branca. E não só isso, como Portman também é hábil ao emocionar e chocar ao evocar a sensibilidade e a tragédia de Jackie quando se depara com os eventos posteriores ao assassinato de Kennedy: a cena em que chora freneticamente diante do espelho, por exemplo, que surpreendentemente é seguida pela postura da ex-primeira-dama ao se colocar ao lado do vice-presidente dos EUA enquanto tomava posse.
A fotografia também acompanha os momentos dramáticos do filme: reparem, por exemplo, como as cores alegres e coloridas durante o flashback do assassinato instantaneamente mudam para um tom mais gélido e cinza na tomada que mostra o carro em alta velocidade levando o corpo do presidente ao hospital – e preciso dizer o quão chocante foi a recriação da cena dos disparos, talvez tão impactante quanto a gravação original (por ser bastante realista). A trilha sonora também merece destaque – inclusive, alguns acordes da compositora Mica Levi, memoráveis, lembraram muito temas de filmes da década de 60: algo que, para mim, tornou a experiência de “Jackie” um tanto nostálgica e caprichada.
“Jackie” pode até não ser um GRANDE filme, mas sem dúvida alguma torna-se memorável pela atuação de Natalie Portman e pelo excelente tom dramático adotado pelo roteiro e pela direção.
“20th Century Women” é praticamente uma história semibiográfica. Possui um roteiro simples, que apresenta uma trama das mais simples. Foca nas complexidades da juventude e envelhecimento, e possui uma vibe dos anos 70 que funciona.
O roteiro possui bons diálogos e apresenta a história através de Dorothea e Jamie, a relação familiar que existe entre eles e, claro, com o mundo exterior. A narrativa não se desequilibra, envolve com os dramas dos personagens – a complexidade de Abbie, por exemplo, é um dos pontos positivos. É uma história global, charmosa, com momentos engraçados. O problema reside em seu terço final, que por algum motivo acaba soando desinteressante e aleatório.
De qualquer forma, Annette Bening está impecável como Dorothea, a mãe que busca da melhor forma estabelecer uma relação com o filho. Mas a melhor atriz do elenco é, sem dúvida, Greta Gerwig (e a cena em que recebe uma notícia perturbadora no consultório médico é de uma força dramática absurda, tudo por conta dos esforços da atriz). Só é uma pena que o diretor Mike Mills tenha tomado uma decisão covarde no que diz respeito ao fim de Abbie, mas nada que realmente comprometa a trajetória nos 115 minutos anteriores. E Lucas Jade Zumann foi uma surpresa com sua composição para Jamie, realmente achei adorável.
De certa forma, “20th Century Women” é um filme que, dado seu sentimentalismo, funciona.
Belíssimo e de uma delicadeza sem tamanho. “La Tortue Rouge” não precisa de nem uma linha de diálogo, nem ao menos uma palavra, para evocar e transparecer emoção e sentimentos acumulados em seu adorável protagonista.
A qualidade técnica da animação é espetacular (e ser simples é o que a torna ainda mais eficaz). Traços bem definidos, uma paleta de cores que combinam perfeitamente com o tom triste. Sem falar nos vários simbolismos. Além, é claro, da linda história que deixa aberta a interpretação para cada pessoa que acompanhar a jornada.
Eu, particularmente, acho que a transformação da tartaruga em mulher foi resultado da ruptura mental do protagonista (o casco quebrado talvez signifique isso). Ele, cansado da solidão e arrependido do que fez à tartaruga, acabou enxergando nela a companhia que lhe faltava. O filho que tiveram poderia ser simplesmente um filhote dela (remete a isso o fato de outras tartarugas estarem perto dele + a decisão da mãe de impedir o pai de salvar a criança quando caiu nas rochas + a partida dele pelo mar). Importante ressaltar que tartarugas possuem, naturalmente, um extenso tempo de vida: isso explica o fato do protagonista ter envelhecido e morrido e ela ainda estar presente.
Saber que “13 Hours” é baseado em um fato, torna o filme um tanto decepcionante. Porque, sem dúvida alguma, os detalhes reais são muito menos “Hollywoodianos” como apresentados aqui.
Como suspense, o longa proporciona um combate intenso e é eficiente nesse ponto. Michael Bay consegue provocar tensão e realmente faz o público temer o que vem a seguir, qual casualidade pode acontecer e etc.
Porém, o roteiro também consiste em milhares de diálogos desnecessários e personagens demais com muito tempo de tela, o que acaba resultando no maior problema que “13 Hours” poderia ter: o drama, crucial para um filme que fala sobre sobrevivência em meio ao caos e à guerra. Se ao menos o texto tivesse algo proveitoso, que fizesse o público criar um laço emocional com as pessoas que estão carregando o filme, mas não...
A maneira que Bay encontra de enfatizar o drama é mostrando os soldados conversando por telefone com suas famílias (e confesso que fiquei particularmente irritado naquela cena que tem o McDonald’s como cenário). Mas a relação entre os soldados que estão com a vida em risco, juntos, não é bem aprofundada – com exceção dos momentos finais, mas aí já é tarde pra fazer o filme funcionar.
Sem falar que, além de ser cansativo em 30% de seu tempo de duração, o filme também peca ao não dar algumas explicações para questões que nitidamente estão ocorrendo em segundo plano (nota-se que há uma tensão política ali), o que acaba confundindo mais o público.
No geral, “13 Hours” consegue se sustentar pelo intenso combate e pela energia de Michael Bay ao retratá-los. O som também merece atenção. Mas infelizmente, acaba se tornando esquecível logo após os créditos começarem a subir.
Este documentário é como levar um soco no estômago. Como ser humano e como uma pessoa que não consegue compreender como podem existir pessoas tão ruins e cegas no mundo, já é difícil o bastante ver uma vida ser tirada da forma como ocorreu com James Foley, sem nenhuma razão. Aí quando você assiste ao filme e começa a entender melhor não só o seu trabalho, mas sua vida, sua família, suas relações e seu impacto, a situação acaba deixando um gosto ainda mais amargo na boca.
Como o título já sugere e como comentei acima, “Jim: The James Foley Story” é um mergulho na história de Foley – ou seja, não foca apenas em seu trabalho como fotojornalista e abre um amplo espaço para apresentá-lo de forma mais pessoal. Para isso, o longa conta com a participação de toda a família Foley, com depoimentos emocionantes, vídeos caseiros e fotos da vida do jovem. A primeira metade do filme, basicamente, foca inteiramente nisso e é eficiente na execução.
A segunda parte é quando a coisa começa a ficar um pouco mais sombria. O diretor Brian Oakes, junto com Clair Popkin e Matthew Vandyke, atribuem um tom mais escuro para as cenas – e introduzem algumas sequências-simulação retratando algumas passagens da vida de todos que estavam presos junto com Foley (e eu confesso que essa inclusão acabou me incomodando). Além disso, Oakes também traz depoimentos de pessoas que vivenciaram os momentos de horror ao lado de Foley, o que faz com que o público fique mais “entalado” a cada nova informação.
Em suma, James Foley era uma pessoa amorosa e que, acima de tudo, queria fazer o bem. Acabou pagando caríssimo por isso, teve sua vida brutalmente interrompida quando nem metade daquilo que ele queria realizar estava finalizado. Mas com certeza, deixou sua marca no mundo – tanto pela contribuição profissional, quanto pelo exemplo de ser humano que ele era. E é revoltante que a exata mesma espécie, cheia de ódio sem sentido, tenha acabado com sua bela jornada.
Muito bonito o documentário. Além de trazer um tema que precisa ser discutido apropriadamente, que é o autismo, o longa ainda mostra de forma eficaz as relações familiares, o medo que os pais sentem pelos filhos (em especial daqueles que dependem deles de alguma forma, mais do que os outros). Como o protagonista lida com a falta de amigos e como os filmes da Disney causam um impacto positivo de sua vida.
A direção também acertou ao trazer animações e ilustrações da vida do jovem Owen quando criança, deixando a experiência mais encantadora. O problema acontece quando “Life, Animated” entra em seu terço final, mais precisamente quando Owen muda de casa. Claro que naquele conjunto de cenas, existem momentos importantes na vida dele que são devidamente mostrados (como a entrevista de emprego), mas no geral acho que o filme acabou ficando monótono demais e acabou perdendo seu encanto inicial.
Nada que comprometa, no entanto, a força dos primeiros 60 minutos, que é o que faz tudo isso valer a pena.
Kong: A Ilha da Caveira
3.3 1,2K Assista AgoraO que falta em “Kong: Skull Island” no quesito história, o filme compensa com uma emoção que é iniciada com menos de 30 minutos de projeção, talvez. Digo mais: do ponto de vista “filme de monstro gigante”, este aqui é tudo o que o “Godzilla” de Gareth Edwards queria ser e não conseguiu, uma vez que o diretor Jordan Vogt-Roberts compreende qual o filme que ele está realizando e faz jus a ele.
O roteiro de “Skull Island” é o mais simples possível. Não há de fato uma grande história sendo contada, e sim um evento que acaba interferindo naquilo que os personagens humanos estavam querendo realizar e, claro, as consequências. Ou seja: não é aquele tipo de filme que exige que o público o leve a sério, porque o próprio longa não o faz, mesmo sendo absolutamente grandioso. Pra resumir, o pano de fundo do longa, que é a violência humana contra a natureza e a convicção do homem de que é superior a tudo, funciona como deve ser e por si só. É uma discussão sempre bem-vinda, seja da forma que for apresentada.
Os personagens, como era de se esperar, são unidimensionais: não há espaço para evolução uma vez que toda a ação se passa em um período de menos de 48 horas. Mas ainda assim, os principais James Conrad e Mason Weaver cativam – esta última se destaca ainda mais por se diferenciar das habituais mocinhas que protagonizam filmes com o gorilão. Preston Packard logo se torna bastante apático, cumprindo seu papel de antagonista, em base de suas decisões. Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John C. Reilly, John Goodman… É um elenco de primeira. Toby Kebbell (de Black Mirror) também merece uma menção honrosa, já que emprestou seus movimentos faciais para a criação do Kong e também interpreta um personagem que consegue conquistar empatia.
Do ponto de vista técnico, não há o que reclamar. Embora haja um deslize vez ou outra com algum animal criado digitalmente, os efeitos de “Skull Island” são arrebatadores. Kong realmente parece real, tamanho o capricho e cuidado da direção em sua construção. E os vilões animais, aqueles que não possuem nome, também são muito bem definidos – essa qualidade incrível já estava presente em “Godzilla”. Além disso, o gorila sempre está presente e sempre de forma nítida – acho que só há UMA cena nos 118 minutos de projeção em que ele aparece à noite e ainda assim, você consegue enxergar TUDO. A experiência em IMAX 3D, aliás, é recomendadíssima para este filme.
Não só isso, como a fotografia do longa é BELÍSSIMA, além de planos abertos perfeitos e inspirados: a câmera mostrando Kong recortado contra a luz do sol, gigantesco, literalmente um rei, conforme os helicópteros se aproximam dele, talvez seja a imagem mais linda do filme. Há também cenas em que mostram o gorila da cabeça aos pés que são impressionantes tanto pelo tamanho do animal como pela perfeição. A construção da Ilha da Caveira, aliás, também impressiona, não só pelas criaturas que a habitam como pelo seu visual em geral.
Enfim, “Kong: Skull Island” é tudo aquilo que um filme de monstros deve ser. E se os próximos lançamentos da Warner neste gênero seguirem essa base, teremos ótimos filmes chegando por aí nos próximos anos.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraAo pensarmos em Wolverine, automaticamente chegamos à conclusão que o filme “Logan” é um longa de super-heróis. E embora, sim, esteja incluído nesta lista, o filme de James Mangold vai além, inclusive, de uma obra de ação. “Logan” é um estudo belíssimo e competente de personagens, da relação que as duas figuras centrais (fora a jovem menina) estabelecem um com o outro e sobre o resultado de toda uma vida.
Hugh Jackman não poderia ter escolhido melhor hora para anunciar sua aposentadoria das infames garras de Wolverine. Desta vez, o ator encarna a vulnerabilidade do personagem com sagacidade. A aparência mais velha tornam-o mais maduro, mas mais debilitável: além de mancar, Logan também precisa de óculos para ler e surge sempre com os olhos avermelhados, simbolizando como seu corpo, seu “eu”, está sendo exterminado aos poucos.
Patrick Stewart também surge excepcional como Charles Xavier; assim como Jackman, encarna o personagem de forma debilitada, também vulnerável (ele já está com seus 90 anos) e que, surpreendentemente, está perdendo controle de seus próprios poderes. Por fim, chegamos à terceira figura central do longa: Dafne Keen foi uma achada. A atriz mirim consegue evocar ameaça com seu olhar profundo e suas habilidades quando é necessário se defender – particularmente, fiquei abismado com sua capacidade no ataque. Boyd Holbrook também merece menção por seu vilão Pierce, já que convence como tal e há uma motivação plausível por trás de seus atos.
Mangold também comanda as sequências de ação com extrema energia e não poupa sangue para ilustrar a violência e a urgência dos ataques que os personagens sofrem. Não há uma cena de confronto que não se destaque, todas muito bem executadas e que possuem um propósito além de impressionar e/ou chocar. O roteiro escrito Mangold, Scott Frank e Michael Green é mergulhado em uma atmosfera melancólica, com um tom urgente sempre presente e, acima de tudo: absolutamente imprevisível. Destaque, também, para a linda trilha de Marco Beltrami, uma das melhores dos últimos anos.
“Logan”, além de fechar com chave de ouro a trilogia do Wolverine, ainda faz uma despedida tocante e humana para um dos personagens mais famosos de todos os tempos. Grande Hugh Jackman.
JFK, a História Não Contada
3.1 66 Assista AgoraPra um filme que recebeu o subtítulo de “A História Não Contada” aqui no Brasil, “Parkland” não traz muita coisa nova que o mundo já não saiba – levando em conta que o assassinato de Kennedy é um dos eventos mais impactantes e analisados dos últimos tempos.
Nota-se, claro, que há um esforço por parte do diretor Peter Landesman (também roteirista) ao contar a história – mais precisamente, o que ocorreu nos três dias seguindo a morte do ex-presidente. Mas o roteiro não possui foco, não aprofunda nenhum personagem, soa aleatório em diversos momentos e acaba estragando a experiência. As cenas são intensas, é verdade. Toda a sequência que traz a equipe de médicos tentando fazer o impossível por Kenny deixa o público aflito, tanto pela determinação dos envolvidos quanto pela câmera na mão do diretor que traz ainda mais urgência para a situação. Mas fica por aí.
Pela quantidade de personagens na tela, o único que recebe uma atenção mais especial é o personagem de Paul Giamatti, já que o arco dramático que é o seu trauma acaba pontuando bem no filme. O restante acaba passando despercebido. O elenco possui vários nomes de peso/bastante conhecidos do público, de bons/medianos atores, mas nenhum deles consegue se destacar justamente porque o material não os permite fazê-lo.
Eu teria gostado muito de ver mais profundidade em “Parkland”. Pelo peso da história que estão apresentando, o filme acaba decepcionando. Muito. Não é um longa de todo ruim, mas não consegue atravessar a linha “bom”. Mais ou menos, pra dizer o mínimo.
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo
3.3 382 Assista Agora“I Don’t Feel at Home in This World Anymore” não é um filme que possui um tom apropriadamente definido. Possui cenas cômicas demais para ser um thiller, e muitos elementos mais sérios para ser considerado uma comédia. O longa de Macon Blair acaba sendo, então, uma bela mistura de ambos os gêneros e se sai excepcionalmente bem na tarefa.
Pra ser bem sincero, o tempo todo eu fiquei pensando que os irmãos Coen estavam envolvidos com a produção, porque este longa é muito a cara deles – e as situações em que Ruth e Toby se mete, principalmente no ato final com os responsáveis pelo assalto à sua casa, remeteu DEMAIS à “Fargo” na minha cabeça. Não pela história, mas pela premissa. O roteiro também é certeiro nos simbolismos. E eu curti muito as cenas, sutis, em que é mostrado como o ser humano é arrogante e mal educado sem ter realmente consciência disso – a ultrapassagem no supermercado, ou o fato de não perceber que seu cachorro está defecando no quintal alheio, etc.
Eu realmente adorei o personagem de Elijah Wood – e detalhe, ele está ótimo como Toby, o personagem mais engraçado do filme. Melanie Lunskey não fica muito atrás com sua Ruth.
Foi a estreia de Macon Blair como diretor (ele também escreveu o filme) e considero ótimo este seu primeiro trabalho. É um diretor promissor.
Os Croods
3.7 1,1K Assista AgoraA animação possui uma qualidade técnica incrível e a história, em geral, é bastante criativa. Não pelos dilemas enfrentados pela família Crood, ou pela filha que quer se ver livre do domínio absoluto do pai. Acho que mais pela ambientação, que foi certeira, e todos os elementos que compõem os cenários: até os animais chamam a atenção, principalmente os pássaros carnívoros que andam em bando.
Grug é um bom personagem (e confesso que desde o início do filme, fiquei temendo o destino dele já que o longa não é muito sutil nesse ponto). Eep acabou me irritando em determinado momento, mas seu problema em conseguir se comunicar apropriadamente é compreensível. E o Guy é adorável. Todo o restante da família cumpre sua cota cômica, principalmente a vovó Gran e o pequeno Thunk.
Vale a pena.
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraAcho que os dois primeiros atos do filme funcionam excepcionalmente bem. Além da trama interessante, o roteiro ainda apresenta várias situações inusitadas que preenchem a duração do filme sem realmente fugir da proposta.
O maior problema do filme e que acaba comprotemendo tudo é o terceiro ato – e, mais precisamente, toda a sequência final que define o destino de Lucy. Luc Besson parece não saber o que está fazendo, não se incomoda em dar explicações: simplesmente joga sua patética resolução na tela esperando que todos possam enxergar o quanto ele é visionário como roteirista e diretor (só que não).
Uma pena, já que “Lucy” possui uma proposta interessantíssma que acaba se perdendo em um longa razoável e abaixo demais de seu potencial.
(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraO mérito de (500) Days of Summer é justamente fugir de todos os clichês que assolam longas do gênero e se basear mais na vida real, no que realmente é de praxe acontecer com as pessoas. Nem sempre você consegue o que quer. Às vezes você não consegue nem metade daquilo que deseja. E aí, segue vivendo...
Com uma performance adorável tanto de Joseph Gordon-Levitt quanto de Zooey Deschanel, o diretor Marc Webb também é absolutamente hábil ao não favorecer nenhum dos “lados”. Embora o filme foque mais precisamente no Tom, como ele se apaixona e como ele lida com as consequências da relação, somos lembrados o tempo todo do que Summer realmente queria daquele envolvimento. Além disso, a linda conversa que ambos os personagens têm no final do filme é decisiva para estabelecer que: não há lado errado.
O filme também conta com um visual muito bonito, uma paleta de cores adorável – impressionante como o azul adotado em algumas cenas realçam de uma forma arrebatadora os olhos da Summer. E a trilha sonora é ótima.
Lindo filme!
King Kong
3.2 178 Assista AgoraÉ uma refilmagem razoável e que consegue entreter na melhor das hipóteses. No entanto, o “King Kong” do diretor John Guillermin possui problemas demais para ser considerado, no mínimo, um bom filme.
O roteiro escrito por Lorenzo Semple Jr. não é dos melhores: com uma penca de diálogos ruins, o texto acaba comprometendo até mesmo a performance de seus atores. No entanto, Semple Jr. consegue se redimir já que sua trama possui consistência narrativa e uma boa estrutura. O filme, que tem mais de 2 horas de duração, vai caminhando bem: não cansa e consegue prender seu público.
Além disso, o melhor de todos os pontos deste longa é como a “relação” entre Dwan e Kong é trabalhada, já que não demora muito pra mocinha perceber que o macaco gigante não é o “monstro” que estava pensando ser. E é por isso que, no terceiro ato, a cena que define a história acaba sendo tão tocante – ao mesmo tempo em que frustra pela brutalidade humana contra um animal que NÃO pediu para ser levado até aquele local.
Já os efeitos visuais, em suma, não são tão ruins para o ano de produção, mas também não são nada brilhantes. Nota-se um esforço para trazer Kong à vida, especialmente em cenas em que ele aparece diante das pessoas, mas em alguns momentos a coisa toda soa fake demais para ser levada a sério – o recorte ruim do macaco em cenas CGI, por exemplo, acabam estragando a experiência. Já sobre o Kong: a fantasia vestida por um homem para construir o personagem-título é nítida, mas não é que acaba funcionando? Principalmente na cidade quando os cenários são em miniatura para ele poder fazer o que bem entender.
Jeff Bridges surge sólido como Jack Prescott, embora seja boicotado pelo texto ruim em alguns momentos. Jessica Lange não teve um bom início de carreira (não pelo filme em si, mas ela pouco convence na composição de Dwan). Charles Grodin talvez seja o personagem mais complexo do longa, compondo um Fred Wilson absolutamente ambicioso e preocupado apenas no ganho pessoal, mas o ator também acaba sofrendo pelo texto em mãos.
Enfim, esta versão de “King Kong” pode até não ser um bom filme por completo, mas também não é um desastre total. É razoável por ser limitado demais. Mas tem sua ambição cinematográfica e merece elogios por isso.
Sangue Pela Glória
3.4 64 Assista Agora“Bleed for This” é bom dentro daquilo que se propõe. Mas poderia ser melhor, diferente. Poderia ser mais inovador. A maior parte do filme soa inspiradora (já que é bonito ver o personagem de Miles Teller tentando superar suas próprias limitações físicas, à qualquer custo), mas o longa acaba ficando um tanto cansativo depois dos primeiros 60 minutos. Ou seja: não há força narrativa nele que justifique a duração de quase 2 horas – parece ter mais de 120 minutos e isso é um problema. E digo isso como uma pessoa que realmente gosta de acompanhar tramas que tenham luta como pano de fundo.
De qualquer forma, os atores sustentam o longa nas costas. Miles Teller mesmo faz um trabalho de entrega maravilhoso ao Vinny e às dificuldades que surgem após seu infeliz acidente, ao passo que Aaron Eckhart confere um tom forte e certeiro como o “companheiro de jornada” de Vinny.
O longa também conta com uma boa trilha sonora e um roteiro com excelentes diálogos e bem estruturado. Ben Younger entrega algumas ótimas sequências de luta, conduzindo a ação de forma eficiente e sempre permitindo que o público veja por si só como o esporte é violento. Ele é eficaz tanto nas sequências de superação e recuperação, quanto no que diz respeito à luta em si.
“Bleed for This”, apesar de não ser realmente um longa memorável, é bom o suficiente na execução de sua proposta.
King Cobra
2.6 253Não conheço muito da história por trás do filme (inclusive fiquei curioso pra saber mais após o desfecho), então não posso julgar a veracidade dos fatos aqui. “King Cobra” possui uma história sombria e recebe um tom dramático apropriado do diretor Justin Kelly.
O problema é que, na realização de algumas cenas, Kelly parece esquecer o tipo de história que está contando e, intencionalmente ou não, inclui sequências ruins/cômicas que acabam prejudicando a experiência (um dos exemplos seria a pavorosa e mal feita cena de sexo entre os personagens de James Franco e Keegan Allen). Pra trama apresentada, pra atmosfera pesada, simplesmente não há espaço para comédia. Mas...
O roteiro de Kelly não é dos melhores no quesito diálogos – e novamente, enfatizo os momentos entre Franco e Allen, que sempre soam forçados. Aliás, a falta de sutileza do diretor na construção destes personagens é o que acaba incomodando acima de qualquer outra coisa. Reparem a cena em que Harlow observa pela janela da casa o seu carro “bebê” ser guinxado e levado embora – o movimento voluntário da mão à janela, tentando ilustrar algo bem mais dramático do que na verdade é na sequência, acaba fazendo a sequência desandar.
Ignorando as cenas deste casal, o filme até funciona bem quando foca mais na relação entre Stephen e Sean/Brent, principalmente quando é iniciado o embate entre os dois que acaba levando ao brutal crime cometido. Kelly acerta bem mais na construção das cenas e dos personagens em si, principalmente Stephen e seus conflitos internos em relação à Brent e como ele o enxerga como propriedade.
Christian Slater é, de longe, o melhor dentre os membros do elenco: compõe Stephen como um homem ambicioso capaz de fazer chantagens emocionais pra se ver no controle e na posse de alguém. James Franco parece ter mesmo uma necessidade grande de ser gay e, tirando alguns diálogos ridículos, até consegue conferir verdade nas cenas de frustração. Keegan Allen é um dos piores atores da atualidade (venho dizendo isso desde Pretty Little Liars) e aqui não faz nada de diferente além de mostrar o corpo e parecer aborrecido mesmo sem estar. Por fim, Garrett Clayton... Bem, tem muito o que melhorar.
“King Cobra” é aquele tipo de filme que precisava de uma direção melhor para funcionar apropriadamente. Justin Kelly parece se esforçar, mas acaba desgraçando seu trabalho com sua própria falta de sutileza.
Quase 18
3.7 608 Assista Agora“The Edge of Seventeen” possui uma direção impecável um roteiro muito bem escrito, que vai apresentando situações engraçadas, emocionais, tensas... O filme todo, na verdade, é um mix dos mais diversos sentimentos e eficiente em sua execução.
Mas fora as qualidades técnicas, creio que vai realmente afetar aqueles que, de alguma maneira, se identificaram com a Nadine: seja pelo comportamento, pelos acontecimentos ao seu redor, etc. Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Enxerguei-me tanto na Nadine que, com 10 minutos de filme, a narrativa já tinha me fisgado por completo e estava fascinado por ela. E é isto que o filme é: um estudo maravilhoso de personagem.
É fácil entender a relutância da Nadine em aceitar o namoro da melhor amiga com o irmão, com quem não tem uma relação muito boa. E mais fácil ainda é entender a razão do afastamento das duas perante o que aconteceu na festa e quanto tempo levou para que a amiga percebesse o que tinha feito de errado. Não tem muito tempo que vivi uma situação muito similar, então creio que por este motivo eu compreenda tanto Nadine.
E o roteiro é recheado de situações realistas. Reparem na expressão de Nadine quando a mãe afirma que o pai “estaria muito decepcionado com ela”. Reparem em como a mãe simplesmente não sabe como conversar com a própria filha quando precisa responder uma simples mensagem de texto. Ou como Nadine se esquece de olhar através do irmão, justamente aquilo que ele faz com ela.
Hailee Steinfeld é crucial pro funcionamento do longa, já que ela compõe Nadine com força e, principalmente: humanidade. Em nenhum momento, pelo menos no meu ponto de vista, você acha que ela está fazendo “showzinho” ou “draminha” demais. Ela vive em um mundo onde não é enxergada e só deseja ser... Amada. Steinfeld consegue evocar esses sentimentos muito bem (a cena em que conversa com o irmão, no finalzinho, é fascinante). Woody Harrelson está ótimo como o professor sarcástico que acaba sendo de grande ajuda para a protagonista. O restante do elenco também se sai bem, tendo Haley Lu Richardson, Blake Jenner, Kyra Sedgwick e o adorável Hayden Szeto como destaques principais.
Sendo um filme voltado para o público adolescente, “The Edge of Seventeen” é surpreendentemente maduro e adulto nas questões que aborda. Vale conferir.
Star Trek: Sem Fronteiras
3.8 566 Assista AgoraVisualmente e do ponto de vista técnico, “Beyond” é tão bom quanto seus antecessores. Efeitos visuais incríveis e grandiosos. Design de produção fantástico e inspirado – os cenários são sempre únicos e bem definidos. Trilha sonora deixa sua marca com temas memoráveis. Mas a história, em geral, não é mesmo das mais relevantes.
Não que seja ruim. O roteiro continua bem escrito, fazendo alegorias e críticas que são atuais em um universo fantasioso – mas não é uma história que tenha prendido tanto quanto “Into Darkness”, por exemplo. Sim, é uma trama coesa e não deixa de ser animadora se você gosta do universo, mas faltou alguma coisa. Talvez dividir os personagens em duplas tenha sido o maior erro.
As sequências de ação são boas, o único problema é que o diretor Justin Lin talvez confira energia por DEMAIS na execução: se J.J. Abrams soube fazer isso com maestria nos dois capítulos anteriores (as cenas eram impecáveis e você tinha noção de tudo o que estava acontecendo), aqui, Lin adora fazer cortes abruptos, correr com a câmera pra todos os lados, o que acaba confundindo e não permitindo que o público se situe no que está acontecendo.
Nas atuações, todos aparentemente surgem mais carismáticos – ou talvez eu tenha me apegado tanto aos personagens e aos intérpretes que fico feliz por eles simplesmente estarem em cena. Chris Pine veste Kirk exalando segurança (mais do que nos outros dois filmes). Zachary Quinto não me cansa de surpreender com sua versatilidade ao encarnar o Spock. Karl Urban fecha o trio de ouro dando um tom engraçadinho e eficiente para o amado McCoy. Preciso dizer, também, que até hoje sinto profundamente a morte de Anton Yelchin, por isso, fiquei muito feliz por ver que ele teve um tempo adicional de tela em “Beyond” – honrando, desta forma, seu personagem Chekov nesta que foi sua última atuação em Star Trek.
Já o vilão interpretado por Idris Elba é subaproveitado. Se J.J. Abrams explorou bem Benedict Cumberbatch em “Into Darkness”, Justin Lin limita muito o Krall de Elba – inclusive, não entendi a necessidade de ficar filmando o personagem centrando a câmera em seu rosto o tempo todo. Se a tentativa era torná-lo mais ameaçador, não foi bem sucedida.
Enfim, “Beyond” possui mais acertos do que erros. Mas dos três filmes, sem dúvida acaba se saindo o mais fraco. Uma pena.
For Anton.
Além da Escuridão: Star Trek
4.0 1,4K Assista AgoraJá tinha gostado muito do primeiro volume desta nova leva de filmes Star Trek, mas “Into Darkness” foi ainda melhor.
Com uma trama cativante, o roteiro ainda é hábil ao rechear seus diálogos e algumas cenas com metáforas e críticas visuais que são eficientes. Novamente, os personagens são muito bem definidos, a relação entre um e outro convence e a cumplicidade que existe entre eles até emociona. J.J. Abrams, assim como no capítulo anterior, comanda o longa com uma energia absurda: cenas de ação inspiradíssimas (inclusive, em um plano ou outro, deu pra ver de onde o diretor tirou algumas ideias de câmera para The Force Awakens, dois anos depois).
Os atores todos se sentem à vontade com seus personagens. Chris Pine surge um pouco menos arrogante (novamente, da forma mais adorável possível) neste longa, assim como Zachary Quinto segue impressionando com o quanto domina o Spock, como se o encarnasse há muito, muito tempo. O grande destaque do longa, no entanto, é Benedict Cumberbatch: além de ser um ator exemplar, seu vilão realmente consegue exalar perigo e você passa a temer pela vida dos personagens e pelo destino da Enterprise. As motivações também convencem.
Sem falar no terceiro ato absolutamente emocional – confesso que fiquei com o coração na mão por conta de um determinado sacrifício, mesmo tendo consciência de que aquilo não seria o fim.
“Into Darkness” só elevou o nível desta nova franquia Star Trek. Muito bom mesmo!
Star Trek
4.0 1,1K Assista AgoraEu não conhecia, até então, o universo Star Trek – só por cima, mas não me recorde de ter assistido a nenhum outro filme da série além de “Primeiro Contato”, o qual não me lembro, e nenhum episódio das séries clássicas. Dito isso, este primeiro volume da nova leva de filmes da franquia realmente conseguiu me fazer interessar pela história e pelos carismáticos personagens.
J.J. Abrams comanda “Star Trek” com energia (não esperava menos): as sequências de ação são fantásticas, os movimentos de câmera e o foco nos rostos dos protagonistas evoca a dimensão de seus personagens, e ainda consegue mesclar muito bem o suspense que a narrativa exige com ótimas sequências de humor.
E o elenco é de primeira: Chris Pine surge arrogante (de uma forma adorável) como Kirk; Karl Urban evoca com sensibilidade a lealdade de McCoy; Zoe Saldana compõe sua Uhura da maneira que todos nós amamos: bem definida e forte; Simon Pegg rouba a cena como alívio cômico; e John Cho é hábil ao compor Sulu como uma pessoa que pode cometer um erro simples, mas que ainda assim exala capacidade. Por fim, Zachary Quinto encarna Spock como se já o tivesse feito outras vezes, tamanha sua segurança com o papel em mãos.
Um filme deve funcionar independente de seu material original, importante ressaltar. E “Star Trek”, felizmente, está incluso nesta lista.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraToda a trajetória de “Passengers” poderia ter sido diferente e mais aceitável se o roteirista Jon Spaihts tivesse seguido o caminho do “acaso” ao invés do egoísmo. Claro que, desta forma, o filme perderia uma parte importante do drama abordado, mas ao menos não apresentaria um protagonista tão egoísta e moralmente indefensável como é esse personagem do Chris Pratt.
Do ponto de vista técnico, o longa tem seus méritos. O design de toda a nave onde se passa a história é belíssimo e bem concebido, e a parte da ciência é toda interessante, principalmente quando a nave chama toda a atenção para si mesma no terceiro ato. Só é uma pena que essas qualidades técnicas não consigam se sobressair ao roteiro covarde e à direção tendenciosa de Morten Tyldum.
Afinal, por que essa necessidade de construir Jim Pearson como um herói? É fato que, ao optar por despertar Aurora (que coincidência, né?), Jim reflete de que sua decisão seria amoral e até se sente culpado, mas seu egoísmo não o impede de seguir em frente com seu plano. Há quem diga que ele faz isso porque “não queria passar 90 anos sozinho, não queria morrer sozinho” e etc. Mas por que ele escolheu justamente Aurora? Por que uma figura feminina e por que justamente aquela que lhe chamou a atenção só por causa de sua beleza?
Não bastasse isso, “Passengers” ainda apresenta uma carta patética ao mostrar que Jim, um homem simples que busca um futuro melhor para si mesmo, está socialmente abaixo de Aurora, que é uma jornalista rica, famosa que vive à sombra do pai e que embarca na viagem apenas por querer fazê-lo, sem grandes ambições (a intenção, se não foi clara, é pintá-lo novamente como um “pobre coitado”). Também existe o fato de que Jim surge calmo e controlado em cenas de pânico, ao passo que Aurora sempre aparece desesperada e necessitada de ajuda. Em resumo: uma diminuição absurda da mulher à presença de um homem.
Desta forma, o romance que é a base do roteiro, pode-se dizer, é impossível de ser aproveitado e indefensável, uma vez que Aurora foi manipulada por ele a embarcar na relação (convenhamos, folks, ela não tinha a mínima escolha por conta do egoísmo dele).
Enfim. “Passengers” não é um filme cansativo, possui uma estética visual interessante, uma boa trilha sonora. Uma premissa que interessa. Mas ao mesmo tempo, torna-se absurdamente irritante pelas tentativas de humanizar o protagonista da forma mais trapaceira possível.
Minha Vida de Abobrinha
4.2 290 Assista AgoraA temporada de premiações, como cinéfilo, é minha época favorita nos anos porque através delas, sou apresentado a obras tão belas com o é o caso deste “Ma Vie de Courgette” – e que, por se tratar de uma animação fora da Disney, é mais difícil de ser descoberta.
É um roteiro simples, mas com uma carga dramática incrível – até pesada. A primeira cena já deixa claro o tom que o diretor Claude Barras adota, ao mostrar exatamente como ocorre a morte repentina da mãe de Abobrinha (e particularmente, fiquei muito chocado com as circunstâncias). Depois disso, o protagonista de 9 anos é enviado a um orfanato onde conhece outras crianças órfãs, e deve aprender a conviver com eles e a encontrar seu próprio lugar.
Como era de se esperar, as crianças que envolvem Abobrinha possuem cada uma sua triste (e trágica) história. É tocante quando Simon, à primeira vista pintado como o antagonista de Abobrinha, começa a relatar sobre as razões de cada um por estarem ali – e confesso que fiquei arrepiado quando mencionou seus pais e o que eles mais amam no mundo.
Mesmo com essa atmosfera triste, “Ma Vie de Courgette” consegue abrir espaço em seu roteiro para sequências de humor de forma bastante sutil. Além disso, a estética da animação é impressionante e encantadora, de uma qualidade absurda. O stop-motion é realmente incrível e deveria ser adotado mais vezes.
Enfim, “Ma Vie de Courgette” é uma obra simples, delicada e eficaz em sua execução.
O Apartamento
3.9 258 Assista AgoraÉ interessante como “The Salesman”, apesar de possuir uma trama principal tensa e que, por si só, já prenderia a atenção do público, ainda consegue passear de forma alternativa por vários outros princípios iranianos – e é absolutamente eficaz na trajetória.
O roteiro Asghar Farhadi, como não poderia deixar de ser, é envolvente e complexo. Personagens escritos da forma mais humana possível – e assim interpretados por Taraneh Alidoosti e Shahab Hosseini: ambos os atores adotam um tom realista que nada deixam a dever para o comportamento real dos seres humanos diante de uma situação tão perturbadora como aquela em que se encontra. E Farhadi sabe como conduzir sua narrativa, construindo bem a tensão principalmente pelo o que pode acontecer a seguir, conforme Emad Etesami começa sua investigação.
Só acho uma pena que o filme tenha perdido um pouco sua força no terceiro ato. A ideia de colocar como culpado uma pessoa que, à primeira vista, não seria capaz de cometer um ato tão monstruoso é extremamente eficaz. O problema reside na tentativa patética de humanizar o personagem: mais pela execução e pela exposição do roteiro (o comportamento e as declarações da mulher, pra ser mais preciso).
“The Salesman” é, sim, um grande filme. Mas que não termina de forma tão “grande” como poderíamos esperar.
Silêncio
3.8 578O filme se passa no século 17, mas de certa maneira, se assimila a vários assuntos atuais. Acima da religião, é um filme que fala sobre intolerância e sobre os limites do homem como ser humano, até onde ele é capaz de ir para defender seus ideais e suas convicções.
O roteiro conduz bem a narrativa, que funciona relativamente bem para um longa com 160 minutos de projeção. A história, no entanto, só vai ficando mais interessante quando nos aproximamos dos 20/25 minutos, talvez, e aí temos uma visão mais ampla daquilo que Martin Scorsese, sempre brilhante está contando e mostrando. Quando entendemos isso, o longa vai ganhando força e jamais soa cansativo ou desnecessário, tendo toda a sua duração justificada com uma trama complexa e angustiante. Apesar de ter religião, a força da fé como tema central, acho que o filme consegur ir além disso, falando da adversidade, opressão e ódio.
Scorsese realiza um trabalho impecável na construção de seus protagonistas – mais precisamente Rodrigues, que é quem carrega o filme nas costas quase que o tempo inteiro. Scorsese também dá atenção à construção da tensão e do medo, uma vez que você realmente começa a temer o que irá acontecer com os personagens, até mesmo aqueles que não possuem muita atenção e estão sendo oprimidos. Além disso, a câmera de “Silence” está sempre próxima dos personagens, evocando a sensação claustrofóbica que a situação exige. Sem falar na fotografia inspirada de Rodrigo Prieto, muito bem utilizada nas cenas, casando-se perfeitamente com o drama de cada uma.
Andrew Garfield faz um trabalho excelente e mostra como está evoluindo como ator (já se destacou como Desmond Doss em “Hacksaw Ridge”, e aqui ele parece ainda mais sólido do que no longa o qual recebeu uma indicação ao Oscar). Garfield compõe Rodrigues como um homem bom e afetuoso, que é levado aos seus próximos limites por conta de sua fé e os horríveis acontecimentos ao seu redor. A carga dramática que o ator confere às cenas, principalmente quando ele é preso em uma cela, é de impressionar. Adam Driver merece uma menção positiva como Garupe, embora não tenha a chance de mostrar a que veio como Garfield. E Liam Neeson surge com ideias complexas na pele do enigmático Ferreira.
Enfim, é um belo filme. Mesmo tenso e com uma história até mesmo sombria, “Silence” conta com uma leva de imagens belíssimas, uma direção segura e atuações primorosas.
Jackie
3.4 740 Assista Agora“Jackie” é um instigante estudo de personagem. E acho, inclusive, que vai além de uma simples biografia sobre a vida da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy, já que o roteiro aborda um momento trágico e importante na vida da personagem-título e como ela reage emocionalmente ao que está acontecendo ao seu redor.
O filme basicamente é construído por flashbacks e mais flashbacks (tendo como base uma entrevista que Jackie concedeu apenas alguns dias após o funeral de seu marido). O roteiro é hábil ao enfocar e conduzir sua narrativa através do emocional da protagonista, ao passo que também abre espaço para diversas rimas visuais que, felizmente, funcionam dentro daquilo que foi o divisor de águas para ela.
Porém, tecnicamente, o que realmente se destaca em “Jackie” é a direção de Pablo Larraín: com a câmera sempre focando na personagem-título, o diretor evoca a solidão de Jacqueline com planos abertos ilustrando a fragilidade da mesma (uma vez que ela surge pequena, por exemplo, em espaços consideravelmente grandes). É interessante também como Larraín frequentemente acompanha Jacqueline pelas suas costas, permitindo que o público veja aquilo que ela está vendo e sinta o que ela está sentindo.
Claro que, para isso, o diretor conta com uma performance absolutamente magistral de Natalie Portman, que se entrega de corpo e alma à composição de Jacqueline Kennedy. Desde o sotaque até a maneira comportada (nitidamente forçada, já que era um desconforto para ela) de caminhar e de se adequar – em especial, nas sequências em que ela aparece como centro de um teledocumentário realizado na Casa Branca. E não só isso, como Portman também é hábil ao emocionar e chocar ao evocar a sensibilidade e a tragédia de Jackie quando se depara com os eventos posteriores ao assassinato de Kennedy: a cena em que chora freneticamente diante do espelho, por exemplo, que surpreendentemente é seguida pela postura da ex-primeira-dama ao se colocar ao lado do vice-presidente dos EUA enquanto tomava posse.
A fotografia também acompanha os momentos dramáticos do filme: reparem, por exemplo, como as cores alegres e coloridas durante o flashback do assassinato instantaneamente mudam para um tom mais gélido e cinza na tomada que mostra o carro em alta velocidade levando o corpo do presidente ao hospital – e preciso dizer o quão chocante foi a recriação da cena dos disparos, talvez tão impactante quanto a gravação original (por ser bastante realista). A trilha sonora também merece destaque – inclusive, alguns acordes da compositora Mica Levi, memoráveis, lembraram muito temas de filmes da década de 60: algo que, para mim, tornou a experiência de “Jackie” um tanto nostálgica e caprichada.
“Jackie” pode até não ser um GRANDE filme, mas sem dúvida alguma torna-se memorável pela atuação de Natalie Portman e pelo excelente tom dramático adotado pelo roteiro e pela direção.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista Agora“20th Century Women” é praticamente uma história semibiográfica. Possui um roteiro simples, que apresenta uma trama das mais simples. Foca nas complexidades da juventude e envelhecimento, e possui uma vibe dos anos 70 que funciona.
O roteiro possui bons diálogos e apresenta a história através de Dorothea e Jamie, a relação familiar que existe entre eles e, claro, com o mundo exterior. A narrativa não se desequilibra, envolve com os dramas dos personagens – a complexidade de Abbie, por exemplo, é um dos pontos positivos. É uma história global, charmosa, com momentos engraçados. O problema reside em seu terço final, que por algum motivo acaba soando desinteressante e aleatório.
De qualquer forma, Annette Bening está impecável como Dorothea, a mãe que busca da melhor forma estabelecer uma relação com o filho. Mas a melhor atriz do elenco é, sem dúvida, Greta Gerwig (e a cena em que recebe uma notícia perturbadora no consultório médico é de uma força dramática absurda, tudo por conta dos esforços da atriz). Só é uma pena que o diretor Mike Mills tenha tomado uma decisão covarde no que diz respeito ao fim de Abbie, mas nada que realmente comprometa a trajetória nos 115 minutos anteriores. E Lucas Jade Zumann foi uma surpresa com sua composição para Jamie, realmente achei adorável.
De certa forma, “20th Century Women” é um filme que, dado seu sentimentalismo, funciona.
A Tartaruga Vermelha
4.1 392 Assista AgoraBelíssimo e de uma delicadeza sem tamanho. “La Tortue Rouge” não precisa de nem uma linha de diálogo, nem ao menos uma palavra, para evocar e transparecer emoção e sentimentos acumulados em seu adorável protagonista.
A qualidade técnica da animação é espetacular (e ser simples é o que a torna ainda mais eficaz). Traços bem definidos, uma paleta de cores que combinam perfeitamente com o tom triste. Sem falar nos vários simbolismos. Além, é claro, da linda história que deixa aberta a interpretação para cada pessoa que acompanhar a jornada.
Eu, particularmente, acho que a transformação da tartaruga em mulher foi resultado da ruptura mental do protagonista (o casco quebrado talvez signifique isso). Ele, cansado da solidão e arrependido do que fez à tartaruga, acabou enxergando nela a companhia que lhe faltava. O filho que tiveram poderia ser simplesmente um filhote dela (remete a isso o fato de outras tartarugas estarem perto dele + a decisão da mãe de impedir o pai de salvar a criança quando caiu nas rochas + a partida dele pelo mar). Importante ressaltar que tartarugas possuem, naturalmente, um extenso tempo de vida: isso explica o fato do protagonista ter envelhecido e morrido e ela ainda estar presente.
Enfim, é um filme lindo que merece atenção.
13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi
3.5 311Saber que “13 Hours” é baseado em um fato, torna o filme um tanto decepcionante. Porque, sem dúvida alguma, os detalhes reais são muito menos “Hollywoodianos” como apresentados aqui.
Como suspense, o longa proporciona um combate intenso e é eficiente nesse ponto. Michael Bay consegue provocar tensão e realmente faz o público temer o que vem a seguir, qual casualidade pode acontecer e etc.
Porém, o roteiro também consiste em milhares de diálogos desnecessários e personagens demais com muito tempo de tela, o que acaba resultando no maior problema que “13 Hours” poderia ter: o drama, crucial para um filme que fala sobre sobrevivência em meio ao caos e à guerra. Se ao menos o texto tivesse algo proveitoso, que fizesse o público criar um laço emocional com as pessoas que estão carregando o filme, mas não...
A maneira que Bay encontra de enfatizar o drama é mostrando os soldados conversando por telefone com suas famílias (e confesso que fiquei particularmente irritado naquela cena que tem o McDonald’s como cenário). Mas a relação entre os soldados que estão com a vida em risco, juntos, não é bem aprofundada – com exceção dos momentos finais, mas aí já é tarde pra fazer o filme funcionar.
Sem falar que, além de ser cansativo em 30% de seu tempo de duração, o filme também peca ao não dar algumas explicações para questões que nitidamente estão ocorrendo em segundo plano (nota-se que há uma tensão política ali), o que acaba confundindo mais o público.
No geral, “13 Hours” consegue se sustentar pelo intenso combate e pela energia de Michael Bay ao retratá-los. O som também merece atenção. Mas infelizmente, acaba se tornando esquecível logo após os créditos começarem a subir.
Jim: A História de James Foley
3.5 10 Assista AgoraEste documentário é como levar um soco no estômago. Como ser humano e como uma pessoa que não consegue compreender como podem existir pessoas tão ruins e cegas no mundo, já é difícil o bastante ver uma vida ser tirada da forma como ocorreu com James Foley, sem nenhuma razão. Aí quando você assiste ao filme e começa a entender melhor não só o seu trabalho, mas sua vida, sua família, suas relações e seu impacto, a situação acaba deixando um gosto ainda mais amargo na boca.
Como o título já sugere e como comentei acima, “Jim: The James Foley Story” é um mergulho na história de Foley – ou seja, não foca apenas em seu trabalho como fotojornalista e abre um amplo espaço para apresentá-lo de forma mais pessoal. Para isso, o longa conta com a participação de toda a família Foley, com depoimentos emocionantes, vídeos caseiros e fotos da vida do jovem. A primeira metade do filme, basicamente, foca inteiramente nisso e é eficiente na execução.
A segunda parte é quando a coisa começa a ficar um pouco mais sombria. O diretor Brian Oakes, junto com Clair Popkin e Matthew Vandyke, atribuem um tom mais escuro para as cenas – e introduzem algumas sequências-simulação retratando algumas passagens da vida de todos que estavam presos junto com Foley (e eu confesso que essa inclusão acabou me incomodando). Além disso, Oakes também traz depoimentos de pessoas que vivenciaram os momentos de horror ao lado de Foley, o que faz com que o público fique mais “entalado” a cada nova informação.
Em suma, James Foley era uma pessoa amorosa e que, acima de tudo, queria fazer o bem. Acabou pagando caríssimo por isso, teve sua vida brutalmente interrompida quando nem metade daquilo que ele queria realizar estava finalizado. Mas com certeza, deixou sua marca no mundo – tanto pela contribuição profissional, quanto pelo exemplo de ser humano que ele era. E é revoltante que a exata mesma espécie, cheia de ódio sem sentido, tenha acabado com sua bela jornada.
Vida, Animada
3.9 59Muito bonito o documentário. Além de trazer um tema que precisa ser discutido apropriadamente, que é o autismo, o longa ainda mostra de forma eficaz as relações familiares, o medo que os pais sentem pelos filhos (em especial daqueles que dependem deles de alguma forma, mais do que os outros). Como o protagonista lida com a falta de amigos e como os filmes da Disney causam um impacto positivo de sua vida.
A direção também acertou ao trazer animações e ilustrações da vida do jovem Owen quando criança, deixando a experiência mais encantadora. O problema acontece quando “Life, Animated” entra em seu terço final, mais precisamente quando Owen muda de casa. Claro que naquele conjunto de cenas, existem momentos importantes na vida dele que são devidamente mostrados (como a entrevista de emprego), mas no geral acho que o filme acabou ficando monótono demais e acabou perdendo seu encanto inicial.
Nada que comprometa, no entanto, a força dos primeiros 60 minutos, que é o que faz tudo isso valer a pena.