Talvez "About Cherry" tenha ficado ruim, no conjunto da obra, por conta de vários detalhes que poderiam ter lhe mudado a fortuna. Dotado de um roteiro sedutor e potencialmente bom, o filme não chega a ser o que se propõe. Em suma, acredito que Stephen Elliott tenha tratado de modo muito simplista um assunto complexo e profundo demais. O resultado de errar a mão no momento de filmar o roteiro foi o que vemos, infelizmente, com frequência no cinema: um mar de clichês e simplificação de temas densos. Do modo como foi concluído, "About a Cherry" poderia facilmente passar numa das noites do antigo Cine Privê, da Bandeirantes. Contudo, a proposta do diretor pareceu querer ir muito mais longe do que um filme erótico. A protagonista, Angelina (depois Cherry, na carreira pornô), é uma menina que tem quase nada ao seu favor além da beleza padrão. É magra e loira, com traços delicados e um corpo bem definido. Nos momentos iniciais do filme, somos apresentados à uma garota de 18 anos que trabalha numa lavanderia e, fora do trabalho, tem um lar à beira do caos com uma mãe alcoolatra, uma irmã caçula apática e um padastro violento. Seu mundo é finalmente composto por um namorado músico e um amigo de escola que se dedica à ela. Quem "percebe" que Angelina pode mudar de vida é o namorado, dizendo que é bonita e portanto, não precisa sofrer. Ela então é convencida, em parte pelo valor do cachê paga às modelos, a tirar fotos sensuais para um site. A partir desse ensaio sua vida vai se modificando, até o ponto em que ela se muda com o amigo fiel para uma cidade grande. O filme desse ponto em diante é apenas uma sucessão de fatos da "nova vida" da garota, permeada pelo emprego na indústria pornô (onde se aprofunda a cada filmagem) e no cotidiano (dilema com a família distante, convivência com o amigo, paixões, etc). Nada disso é tão importante quanto o início do longa. Ali, no divisor de águas da vida da personagem, deveria residir o ponto máximo do filme. No entanto, nada acontece. Deveria, a meu ver, ter sido explorado essa questão da beleza como a única saída da vida medíocre para uma mulher. Esse tema, se bem explorado, seria não só atualíssimo (haja visto a condição da mulher em diversos países) como faria do filme uma crítica à essa submissão da mulher. Pois é isso mesmo que acontece: a garota empregada da lavanderia, filha de uma alcoolatra, sem dinheiro nem perspectivas "descobre" sua beleza e se torna então uma atriz pornô de sucesso e depois uma produtora bem sucedida. Se torna então, feliz. Ou seja, o roteiro sacramenta o preconceito: para se livrar de uma submissão (condições ruins de trabalho, etc) a garota teve de se sujeitar à submissão de outro tipo (a sexual) para "ser feliz". Uma mulher linda só vive mal porque quer, parece dizer-nos o filme. Fraco e tedioso, o filme no final das contas, por mais contraditório que possa parecer, é profundamente moralista, por evidenciar (e logo depois avalizar) padrões preconceituosos da sociedade.
Um lixo. Repleto de clichês, ver esse filme é uma angústia do começo ao fim. Como ainda podem produzir filmes tão desinteressantes assim? Uma porcaria completa e total, não percam tempo.
Retrato de uma época, Ginger & Rosa é um belíssimo filme. Numa trama onde os acontecimentos da Guerra Fria no mundo bipolarizado ficam em segundo plano sem tornarem-se superficiais, a vida de duas adolescentes nos guiam por esse período histórico. Com fantástico roteiro, o clima dos anos 1960 na Europa nos é passado por meio da visão de mundo das garotas e suas relações com os fatos e com suas próprias vivências. Um filme encantador, denso e despretensiosamente intelectual, dando-nos a ideia de que as pessoas são fruto de seu próprio tempo histórico e imbricações decorrentes dessa relação.
Uma das piores coisas que já vi. Esse filme é uma merda completa. O personagem principal parece o Batoré, os diálogos são ridículos e clichês. Enfim, tamanha bosta nem é mensurável. Só queria ter os minutos jogados no lixo vendo esse filme de volta.
The Possession embarca nessa leva de filmes de terror atuais que pecam em duas coisas: não explorar adequadamente um bom enredo e o uso abusivo de clichês. O filme também produzido pelo consagrado Sam Raimi não vai além dessas limitações, que, como escrevi no começo, estão presentes na maioria das produções do gênero pelo menos na última década. Personagens rasos, histórias que poderiam dar em ótimos longas e clichê que nos fazem sentir videntes dentro da sala de cinema estão destruindo o terror moderno. Pelo visto, apenas "Sobrenatural" é um filme que foge de tudo isso que impregna o universal cinematográfico do horror nos últimos tempos. The Possession é pífio, e só não dou meia estrela por conta de ter ele seguido a tendência dos filmes nos últimos tempo e, nessa base de comparação, conseguiu ser regular.
Ps.: Absu foi uma escolha interessantíssima para o espírito da caixa. A cena dele saindo do corpo do personagem, ridícula, sua aparição, cômica. Mais parecia a criatura Gollum, dos filmes do Senhor dos Anéis...
Entendi Faust, de Sukorov, o filme que fecha a Tetralogia sobre o poder, como absolutamente pertinente aos 3 antecessores. Ao desconstruir mitos de líderes como Hitler, Lenin e Hirohito, Sukorov fecha esse trabalho lançando mão de uma adaptação da lenda alemão sobre um pacto com o demônio. Apesar de ser redundância tecer elogios e salientar os pontos fortes do brilhante cineasta russo, vou colocar minhas apreciações sobre o que achei pertinente e que ressaltam a importância da obra para a conclusão da tetralogia. A escolha por Fausto Só de ter escolhido essa antiga lenda alemã para fechar a tetralogia sobre a natureza do poder e, tendo em vista os três filmes (e personagens abordados) que lhe antecede, fica patente a acurácia do intelecto e erudição de Sukorov. Ora, trata-se de um pacto com um demônio empenhado por um médico (e alquimista, etc) da baixa idade média que não encontrava mais sentido no conhecimento disponível para sua época. Lembremos que o filme conheça com a cena de cadáver sendo estudado pelo Dr. Fausto, que pela fisionomia e apatia, entendemos que nada de novo lhe surtem dos estudos. O demônio (retratado numa estética teatral surpreendente) surge quando o médico tem problemas com dinheiro. A fome assola a vila, doenças e todo o tipo de mazela que confere ao filme tons de melancolia e limites humanos claros. Fausto está sempre faminto e sem dinheiro, a despeito de seus vastíssimos conhecimentos. O personagem não se destaca jamais desse cenário. É parte integrante dele, permanentemente. O mesmo não ocorre como demônio, sempre destoando dos cenários e das cenas, indo na contramão dos sentimentos e potencialidades que estão implicados no momento. O ponto de colisão entre eles se dá com a inserção da moça, irmã do soldado assassinado. Eis que ao problema do dinheiro, a carestia, ao desinteresse intelectual, une-se o tesão, o forte impulso pelo sexo oposto. Se antes o intelectual Fausto clama dinheiro à Mefistófeles, agora, quer apenas a chance de possuir a garota, cujo semblante foi capaz de lhe parecer iluminado (lembrem-se) mesmo ante os intricados estudos que já não eram mais que obrigações. Em suma, Sukorov procura na lenda a essência que na verdade é o fio condutor de toda a tetralogia: o homem é refém do espírito do seu tempo. E, antes disso, prova com a lenda de Dr. Fausto, refém de seus próprios e imperativos impulsos. Ao que, provando do desencantamento do mundo, Fausto, por meio dos feitiços do demônio (que pode ser aqui entendido metaforicamente como um "dar ouvidos" ao lado mais bestial) encontra sentido no provento monetário e no gozo com a jovem. Nos três filmes que antecedem a esse desfecho: tanto Hitler (o refúgio de si mesmo no Berghof e com Eva Braun) Lênin (a doença degenerativa que esvai sua potência intelectual) e Hirohito, o poder conhece seu limite em padrões puramente humanos e, nada mais preciso do que a lenda alemã para tornar despersonalizada a condição humana.
Um ótima história, contudo, ofuscada e mal explorada por conta do enquadramento no "estilo Hollywood" que, entre outras coisas, está sempre a dicotomia bem-mau, a atriz bonita cuja personagem sempre começa "do lado do mau" e depois começa a gostar do "mocinho", personagens nada profundos e uma infinidade de cenas clichês, como a velha e desgastada perseguição de carro, onde sempre, após um período de tensão, os "do bem" conseguem escapar dos vilões. Uma história ótima que padeceu sob a imbecilidade do cinema hollywoodiano. Duas estrelas, por essa mesma história. Nada além.
Sem cair em clichês e lugares-comuns sobre esse assunto tão complexo e confuso - além de difícil de abordar - Karslake conseguiu um excelente resultado, expondo a nu os fatos e consequencias do dogmatismo religioso. O mal-estar causado em outros seres humanos por conta de unicamente não aceitarem um "modo de vida" prescrito num livro ancestral é explorado sem sensacionalismo, usando como argumento maior as próprias palavras desses líderes religiosos de pensamento totalizante e monolítico. Durante os créditos, a bela interpretação de Cyndi Lauper para "True Colors" emociona e sintetiza o que é mostrado no documentário: a dor de não se encaixar em padrões estabelecidos por terceiros.
Delicioso! Diametralmente oposto aos imbecilizantes teen movies holywoodianos, Få meg på, for faen é um excelente filme. Alma é envolvente e encantadora, assim como a fotografia e o roteiro, também excepcionais! Finalmente um longa sobre adolescentes e sexo não estúpido e que podemos assistir sem tédio. Maravilha!
Fraco. Embora o roteiro e o argumento sejam bons para uma história, as atuações excessivamente globais e toscas deixam com a sensação de estarmos vendo um capítulo de novela. A ideia da câmera e a trama até medianamente boa tinham tudo para resultar num longa muito melhor. O resultado final foi pífio, em que se pese o tamanho da responsabilidade que se tem quando trata-se de um filme sobre prostituição.
Quão denso e ao mesmo tempo sintético pode ser um filme? O mestre Polanski nos mostra todas essas características em Repulsion. Redundância dizer que é uma obra de arte, a película flerta com o que existe de mais difícil de se fazer no cinema: uma incursão aos recônditos mais trevosos da mente humana. Pelos olhos da taciturna Carol Ledoux, Polanski nos leva a esse mergulho perturbador e instigante, e, durante o percurso, a angustia é crescente e a tensão aumenta a cada cena. A protagonista, encarnada divinamente por Catherine Deneuve, nos é apresentada inicialmente como uma moça distraída e tímida, calada e frágil. Sua relação tempestiva com a irmã é confusa e caótica, e sua convivência no trabalho é unilateral: apenas as pessoas, ou seja, os clientes e os companheiros de trabalho interagem com ela. Carol só fala quando requisitada de fora. Nada parece perturbar-lhe uma profunda introspecção. Apenas tem atitudes quando os estímulos externos partem de homens, como o operário que lhe passa uma cantada, o insistente pretendente a namorado e o amante da irmã. No mais, apenas o olhar perdido e o silêncio perfazem a personagem principal de Polanski. O filme atinge o ápice com a viagem da irmã e o amante para a Itália: o isolamento no escuro apartamento promoverá um aprofundamento das neuroses da bela Carol. Desse ponto em diante, o filme se torna uma profusão estonteante de estímulos que chega a desnortear, mas numa obra de arte não poderia ser diferente. A degeneração psicológica, o declínio da razão de Carol é mostrado, não só por suas ações, mas também pelo seu redor. O ambiente parece querer assemelhar-se ao poço escuro e sombrio que é sua mente. Fazer o ambiente de espelho da mente descompensada da protagonista foi um golpe de mestre de Polanski! As rachaduras que se fazem em alto e bom tom, aos olhos assustados de Carol, o coelho tirado da geladeira e deixado literalmente às moscas na mesinha do telefone, as batatas brotando na tábua, enfim, a ação entrópica no ambiente que só reflete o ocaso da consciência da jovem. Os estupros que assistimos ficam como uma pergunta: eles aconteceram ali, naquele momento? Sempre ao bater da meia noite e um minuto, um homem aparecia e a violentava? Talvez um aporte para um passado não evidenciado no filme, onde Carol pode ter sido estuprada ainda criança. Início de suas psicoses? O fato é que o estuprador de Carol é tão real quanto as rachaduras, ou as mãos que saem da parede do corredor para agarrá-la. Ele é e não é real. Nessa dialética, temos mais uma vez a mente da protagonista a dar o tom no filme. Os assassinatos cometidos pela personagem, cada um deles é um degrau que descende ao abismo de sua própria mente. Quando citei no início desse texto, como é possível um filme tão denso e ao mesmo tempo sintético, me referi a duas coisas em especial: a profundidade da psicose de Carol, mostrada com a "destruição" do apartamento e ao belíssimo e porque não, sinistro epílogo: a fotografia da família Ledoux, ainda em Bruxelas, onde vemos uma já absorta Carol criança. Simplesmente genial. O que diferencia simples diretores de cinema de artistas da 7ª Arte são filmes como esse. Roman Polanski com toda certeza é um dos melhores diretores e todos os tempos e, Repulsion, é um de seus melhores trabalhos.
O egocentrismo, as dificuldades de lidar com o que Freud chamaria de "principio de realidade" e a construção de um mundo ideal é a linha mestra de Spielen Wir Liebe. Essa conjunção de conflitos está expressa no denso personagem Fabrizio, e é expressa ao longo do filme, principalmente, por duas posturas: a intensão de viver na floresta e a insistência que suas companhias não voltem para a casa ao cair da noite, como ele mesmo faz. O não retornar do personagem para sua casa, nem menções a sua família ou residência (o que se destaca quando tanto Silvia quanto Laura, reafirmam seus compromissos, tanto com o final das férias escolares, quanto com os pais), nos leva a pensar num conflito de Fabrizio com seus parentes. Mesmo não estando isso claro, notamos que é um motivo de seu afastamento e consequente aproximação do mundo natural, indicado pelo amor à floresta. O cão que acompanha Fabrizio e a relação que este estabelece com o animal, pode servir de aporte para entendermos seu conflito familiar e os problemas que derivaram disso. Ele ama e detesta o cão, bem como o usa enquanto objeto de poder, quando o atiça sobre as meninas, em momentos distintos. Emblematicamente, ao espantar o cão que ele mesmo tinha instigado em cima de Laura, alardeia, descompensado, que espantou o cão, que "era seu amigo", por conta do medo dela. Fica claro que Fabrizio esperava que elas também se afastassem de seus lugares de conforto e referência, a casa dos pais, e assim demonstrassem amor por ele. A descoberta da "cidade secreta" é também um ponto importante, quando esse achado respalda a criação do idílio de Frabrizio de romper com a vida fora do mundo natural, autoproclamando-se "rei", estabelecendo reis, ordenando e depondo rainhas para compor seu mundo ideal. O extremo egocentrismo, visto quando leva Laura, submissa por conta do afeto que sente por ele, às cavernas que diz não conhecer a saída, e, aproveitando-se da situação consegue obter dela sexo, mostra como o personagem se sente a vontade em seus domínios, onde o seu conhecimento do terreno, sua maior força física e capacidade de sobrevivência são os pilares de sua dominação. O sentimento de distanciamento de Fabrizio em relação ao "mundo além da floresta" se intensifica com a chegada de Silvia, a adolescente arrogante e egocêntrica. Com Laura (é importante lembrar que ela já tinha se negado a não retornar para a casa dos pais ao final da tarde...) reduzida a uma serva do novo casal soberano, o idílio de Fabrizio se fez completo. Amava e desejava sua rainha acima de todas as coisas e impunha humilhações e dava trabalha à sua serviçal. Toda sua libido foi movida para Silvia e de certa forma descarrega em Laura, por meio da crueldade e imposição de humilhações. Tudo se desconstrói, entretanto, quando a prepotente Silvia (que usava Fabrizio como uma diversão de férias escolares, como objeto sexual e companheiro nas suas fruições de sadismo contra Laura) revela o desejo de ir embora, voltar para a escola e não se sente entristecida com isso. Uma degeneração rápida de Fabrizio se inscreve nesse momento, quando vê sua "rainha" abandonando o reino que ele entende como perfeito e a tão boa vida que ele lhe oferece na floresta. O ápice do egocentrismo vem com o assassinato de Silvia, por um transtornado Fabrizio, que vê na impossibilidade da permanência da garota, uma destruição de seu mundo e a influência externa que ele não pode conter, mesmo se afastando do mundo além da floresta. É importante notar que a visão do filme é sempre a visão de Fabrizio, pois nunca o mundo fora da floresta é enfocado, e, quando a casa de Silvia é vista, é também pelo olhar do garoto e, suas incursões noturnas às imediações da residência, sua insegurança e até ódio contra a construção, mostra que as influência que o levavam para a realidade da existência de um mundo que é bem maior que ele, fora dali, a floresta onde está localizado seu reino, sem suas acompanhantes cumprindo rigorosamente seus papéis, é um óbice ao seu idílio. Um poderoso filme sobre a adolescência e seus conflitos levados ao extremo. Além disso, um filme que pode ser visto enquanto uma metáfora do nosso medo da falta de controle sobre o mundo, que se move à revelia de nossos desejos, e sobre as pessoas, que atravessam nossa vida de formas que não podemos controlar. O título original, em alemão, remete à paixão aos jogos. Nada mais certo, quando o jogo, ali, era tentar simular uma outra realidade, mesmo que em detrimento da realidade objetiva inescapável.
Vi por causa de "Olhos Famintos", mas não guarda nenhuma característica do fantástico filme de horror de Victor Salva. Patético e com um roteiro fraquíssimo, o filme apela para um filme revelador que, quando nos deparamos com a "explicação", só o torna ainda mais fraco e pífio do que se fosse algo de sobrenatural com o garoto. Enfim, uma grande porcaria.
Épico! Sempre é bom rever as aventuras do bárbaro cimério. Mesmo não tendo fidelidade total com as histórias originais dos quadrinhos, acredito que é um clássico enquanto tomando como obra em si.
Vargtimmen é uma obra prima! O personagem consumido cada vez mais por seus fantasmas internos, que de certa forma obstruem o processo criativo. O isolamento de pintor e sua mulher na ilha nos os afasta do problema, mas, como Bergman coloca magistralmente na boca do personagem: "o espelho foi quebrado, mas você consegue ver o que está refletido nele?". Uma das melhores coisas produzidas no cinema mundial!
O filme de Carlos Coimbra é bom. Contudo, a história do mais famoso ícone do cangaço poderia ter sido melhor desenvolvida, com mais atenção a detalhes que faltaram, a meu ver, no conjunto da obra. Explico: a ideia de se realizar um filme desde a adolescência de Virgulino Ferreira é ótima, mas Coimbra perdeu a chance de contextualizar melhor o ambiente onde o futuro rei do cangaço nasceu e cresceu. A "selvatiqueza" (pra usar termo de Euclides da Cunha) do ambiente e o tipo humano que ele criava, bem como as condições de opressão do povo por parte do Governo (formal, por meio da polícia e Leis) e dos Coronéis (poder informal, mas tão ou mais persuasivo que o oficial). Sendo o filme de 1964, acredito que primou-se por uma abordagem mais leve, o que fez com que o filme perdesse, e muito, o retrato dessa situação que era vivenciada no sertão nordestino. A inserção de um "pregador do sertão", tentativa de mostrar o elemento do messianismo, que grassou no contexto desses conflitos, também foi uma ótima aposta do roteiro, porém, muito mal utilizado. Tanto o cangaço quanto os movimentos ditos "messiânicos" foram fenômenos sociais que derivaram da condição e do conflito vivido no sertão nordestino, e, em certa medida, foram fenômenos conflitantes entre si, o que não foi abordado no filme. O cantador de cordel, no início do filme foi uma ideia original e genial do roteiro e, a meu ver, deveria ter permanecido o tempo todo, na forma de interlúdios. O filme em si, é ótimo, mas poderia ter se transformado num clássico e numa referência ao tema, caso detalhes fossem observados pelo roteiristas, sem falar numa maior verossimilhança na atuação dos atores, principalmente a que viveu Maria Bonita.
Pífio. Apesar de um argumento que se pode chamar de regular, o filme é bem pobre em todos os aspectos, principalmente na personagem principal. O diretor, se tinha em mente filmar um verdadeiro suspense, precisa fazer um curso intensivo desse gênero assistindo aos filmes de Hitchcok.
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraBarulhento e caro. Nada além. Banda podre de hollywood...
Doce Tentação
2.4 163Talvez "About Cherry" tenha ficado ruim, no conjunto da obra, por conta de vários detalhes que poderiam ter lhe mudado a fortuna. Dotado de um roteiro sedutor e potencialmente bom, o filme não chega a ser o que se propõe. Em suma, acredito que Stephen Elliott tenha tratado de modo muito simplista um assunto complexo e profundo demais. O resultado de errar a mão no momento de filmar o roteiro foi o que vemos, infelizmente, com frequência no cinema: um mar de clichês e simplificação de temas densos.
Do modo como foi concluído, "About a Cherry" poderia facilmente passar numa das noites do antigo Cine Privê, da Bandeirantes. Contudo, a proposta do diretor pareceu querer ir muito mais longe do que um filme erótico.
A protagonista, Angelina (depois Cherry, na carreira pornô), é uma menina que tem quase nada ao seu favor além da beleza padrão. É magra e loira, com traços delicados e um corpo bem definido. Nos momentos iniciais do filme, somos apresentados à uma garota de 18 anos que trabalha numa lavanderia e, fora do trabalho, tem um lar à beira do caos com uma mãe alcoolatra, uma irmã caçula apática e um padastro violento. Seu mundo é finalmente composto por um namorado músico e um amigo de escola que se dedica à ela.
Quem "percebe" que Angelina pode mudar de vida é o namorado, dizendo que é bonita e portanto, não precisa sofrer. Ela então é convencida, em parte pelo valor do cachê paga às modelos, a tirar fotos sensuais para um site. A partir desse ensaio sua vida vai se modificando, até o ponto em que ela se muda com o amigo fiel para uma cidade grande. O filme desse ponto em diante é apenas uma sucessão de fatos da "nova vida" da garota, permeada pelo emprego na indústria pornô (onde se aprofunda a cada filmagem) e no cotidiano (dilema com a família distante, convivência com o amigo, paixões, etc). Nada disso é tão importante quanto o início do longa. Ali, no divisor de águas da vida da personagem, deveria residir o ponto máximo do filme. No entanto, nada acontece. Deveria, a meu ver, ter sido explorado essa questão da beleza como a única saída da vida medíocre para uma mulher. Esse tema, se bem explorado, seria não só atualíssimo (haja visto a condição da mulher em diversos países) como faria do filme uma crítica à essa submissão da mulher. Pois é isso mesmo que acontece: a garota empregada da lavanderia, filha de uma alcoolatra, sem dinheiro nem perspectivas "descobre" sua beleza e se torna então uma atriz pornô de sucesso e depois uma produtora bem sucedida. Se torna então, feliz. Ou seja, o roteiro sacramenta o preconceito: para se livrar de uma submissão (condições ruins de trabalho, etc) a garota teve de se sujeitar à submissão de outro tipo (a sexual) para "ser feliz". Uma mulher linda só vive mal porque quer, parece dizer-nos o filme.
Fraco e tedioso, o filme no final das contas, por mais contraditório que possa parecer, é profundamente moralista, por evidenciar (e logo depois avalizar) padrões preconceituosos da sociedade.
Perseguição Obsessiva
1.7 71 Assista AgoraUm lixo. Repleto de clichês, ver esse filme é uma angústia do começo ao fim. Como ainda podem produzir filmes tão desinteressantes assim? Uma porcaria completa e total, não percam tempo.
Apollo 18: A Missão Proibida
2.2 803 Assista AgoraPéssimo. Lixo hollywoodiano.
Ginger & Rosa
3.4 430 Assista AgoraRetrato de uma época, Ginger & Rosa é um belíssimo filme. Numa trama onde os acontecimentos da Guerra Fria no mundo bipolarizado ficam em segundo plano sem tornarem-se superficiais, a vida de duas adolescentes nos guiam por esse período histórico.
Com fantástico roteiro, o clima dos anos 1960 na Europa nos é passado por meio da visão de mundo das garotas e suas relações com os fatos e com suas próprias vivências. Um filme encantador, denso e despretensiosamente intelectual, dando-nos a ideia de que as pessoas são fruto de seu próprio tempo histórico e imbricações decorrentes dessa relação.
Metamorphosis
1.6 22 Assista AgoraUma das piores coisas que já vi. Esse filme é uma merda completa. O personagem principal parece o Batoré, os diálogos são ridículos e clichês. Enfim, tamanha bosta nem é mensurável. Só queria ter os minutos jogados no lixo vendo esse filme de volta.
A Morte do Demônio
3.2 3,9K Assista AgoraBem inferior ao original.
Possessão
2.8 1,3K Assista AgoraThe Possession embarca nessa leva de filmes de terror atuais que pecam em duas coisas: não explorar adequadamente um bom enredo e o uso abusivo de clichês.
O filme também produzido pelo consagrado Sam Raimi não vai além dessas limitações, que, como escrevi no começo, estão presentes na maioria das produções do gênero pelo menos na última década.
Personagens rasos, histórias que poderiam dar em ótimos longas e clichê que nos fazem sentir videntes dentro da sala de cinema estão destruindo o terror moderno. Pelo visto, apenas "Sobrenatural" é um filme que foge de tudo isso que impregna o universal cinematográfico do horror nos últimos tempos. The Possession é pífio, e só não dou meia estrela por conta de ter ele seguido a tendência dos filmes nos últimos tempo e, nessa base de comparação, conseguiu ser regular.
Ps.: Absu foi uma escolha interessantíssima para o espírito da caixa. A cena dele saindo do corpo do personagem, ridícula, sua aparição, cômica. Mais parecia a criatura Gollum, dos filmes do Senhor dos Anéis...
Fausto
3.4 219Entendi Faust, de Sukorov, o filme que fecha a Tetralogia sobre o poder, como absolutamente pertinente aos 3 antecessores. Ao desconstruir mitos de líderes como Hitler, Lenin e Hirohito, Sukorov fecha esse trabalho lançando mão de uma adaptação da lenda alemão sobre um pacto com o demônio. Apesar de ser redundância tecer elogios e salientar os pontos fortes do brilhante cineasta russo, vou colocar minhas apreciações sobre o que achei pertinente e que ressaltam a importância da obra para a conclusão da tetralogia.
A escolha por Fausto
Só de ter escolhido essa antiga lenda alemã para fechar a tetralogia sobre a natureza do poder e, tendo em vista os três filmes (e personagens abordados) que lhe antecede, fica patente a acurácia do intelecto e erudição de Sukorov. Ora, trata-se de um pacto com um demônio empenhado por um médico (e alquimista, etc) da baixa idade média que não encontrava mais sentido no conhecimento disponível para sua época. Lembremos que o filme conheça com a cena de cadáver sendo estudado pelo Dr. Fausto, que pela fisionomia e apatia, entendemos que nada de novo lhe surtem dos estudos. O demônio (retratado numa estética teatral surpreendente) surge quando o médico tem problemas com dinheiro. A fome assola a vila, doenças e todo o tipo de mazela que confere ao filme tons de melancolia e limites humanos claros. Fausto está sempre faminto e sem dinheiro, a despeito de seus vastíssimos conhecimentos. O personagem não se destaca jamais desse cenário. É parte integrante dele, permanentemente. O mesmo não ocorre como demônio, sempre destoando dos cenários e das cenas, indo na contramão dos sentimentos e potencialidades que estão implicados no momento. O ponto de colisão entre eles se dá com a inserção da moça, irmã do soldado assassinado. Eis que ao problema do dinheiro, a carestia, ao desinteresse intelectual, une-se o tesão, o forte impulso pelo sexo oposto. Se antes o intelectual Fausto clama dinheiro à Mefistófeles, agora, quer apenas a chance de possuir a garota, cujo semblante foi capaz de lhe parecer iluminado (lembrem-se) mesmo ante os intricados estudos que já não eram mais que obrigações.
Em suma, Sukorov procura na lenda a essência que na verdade é o fio condutor de toda a tetralogia: o homem é refém do espírito do seu tempo. E, antes disso, prova com a lenda de Dr. Fausto, refém de seus próprios e imperativos impulsos.
Ao que, provando do desencantamento do mundo, Fausto, por meio dos feitiços do demônio (que pode ser aqui entendido metaforicamente como um "dar ouvidos" ao lado mais bestial) encontra sentido no provento monetário e no gozo com a jovem.
Nos três filmes que antecedem a esse desfecho: tanto Hitler (o refúgio de si mesmo no Berghof e com Eva Braun) Lênin (a doença degenerativa que esvai sua potência intelectual) e Hirohito, o poder conhece seu limite em padrões puramente humanos e, nada mais preciso do que a lenda alemã para tornar despersonalizada a condição humana.
O Preço do Amanhã
3.6 2,9K Assista AgoraUm ótima história, contudo, ofuscada e mal explorada por conta do enquadramento no "estilo Hollywood" que, entre outras coisas, está sempre a dicotomia bem-mau, a atriz bonita cuja personagem sempre começa "do lado do mau" e depois começa a gostar do "mocinho", personagens nada profundos e uma infinidade de cenas clichês, como a velha e desgastada perseguição de carro, onde sempre, após um período de tensão, os "do bem" conseguem escapar dos vilões. Uma história ótima que padeceu sob a imbecilidade do cinema hollywoodiano. Duas estrelas, por essa mesma história. Nada além.
Besouro
3.1 551Bom filme. Destaque para o Orisà Esù, muito bem representado!
O Grande Dragão Branco
3.4 619 Assista AgoraClássico! Ainda me divirto muito vendo as lutas! "Tijolo não revida!" auhaauhauahauhaua
Como Diz a Bíblia
4.4 153Sem cair em clichês e lugares-comuns sobre esse assunto tão complexo e confuso - além de difícil de abordar - Karslake conseguiu um excelente resultado, expondo a nu os fatos e consequencias do dogmatismo religioso. O mal-estar causado em outros seres humanos por conta de unicamente não aceitarem um "modo de vida" prescrito num livro ancestral é explorado sem sensacionalismo, usando como argumento maior as próprias palavras desses líderes religiosos de pensamento totalizante e monolítico. Durante os créditos, a bela interpretação de Cyndi Lauper para "True Colors" emociona e sintetiza o que é mostrado no documentário: a dor de não se encaixar em padrões estabelecidos por terceiros.
Me Excita, Droga!
3.1 208Delicioso! Diametralmente oposto aos imbecilizantes teen movies holywoodianos, Få meg på, for faen é um excelente filme. Alma é envolvente e encantadora, assim como a fotografia e o roteiro, também excepcionais! Finalmente um longa sobre adolescentes e sexo não estúpido e que podemos assistir sem tédio. Maravilha!
Procuradas
1.8 8 Assista AgoraFraco. Embora o roteiro e o argumento sejam bons para uma história, as atuações excessivamente globais e toscas deixam com a sensação de estarmos vendo um capítulo de novela. A ideia da câmera e a trama até medianamente boa tinham tudo para resultar num longa muito melhor. O resultado final foi pífio, em que se pese o tamanho da responsabilidade que se tem quando trata-se de um filme sobre prostituição.
Repulsa ao Sexo
4.0 461 Assista AgoraQuão denso e ao mesmo tempo sintético pode ser um filme? O mestre Polanski nos mostra todas essas características em Repulsion. Redundância dizer que é uma obra de arte, a película flerta com o que existe de mais difícil de se fazer no cinema: uma incursão aos recônditos mais trevosos da mente humana.
Pelos olhos da taciturna Carol Ledoux, Polanski nos leva a esse mergulho perturbador e instigante, e, durante o percurso, a angustia é crescente e a tensão aumenta a cada cena. A protagonista, encarnada divinamente por Catherine Deneuve, nos é apresentada inicialmente como uma moça distraída e tímida, calada e frágil. Sua relação tempestiva com a irmã é confusa e caótica, e sua convivência no trabalho é unilateral: apenas as pessoas, ou seja, os clientes e os companheiros de trabalho interagem com ela. Carol só fala quando requisitada de fora. Nada parece perturbar-lhe uma profunda introspecção. Apenas tem atitudes quando os estímulos externos partem de homens, como o operário que lhe passa uma cantada, o insistente pretendente a namorado e o amante da irmã. No mais, apenas o olhar perdido e o silêncio perfazem a personagem principal de Polanski.
O filme atinge o ápice com a viagem da irmã e o amante para a Itália: o isolamento no escuro apartamento promoverá um aprofundamento das neuroses da bela Carol. Desse ponto em diante, o filme se torna uma profusão estonteante de estímulos que chega a desnortear, mas numa obra de arte não poderia ser diferente.
A degeneração psicológica, o declínio da razão de Carol é mostrado, não só por suas ações, mas também pelo seu redor. O ambiente parece querer assemelhar-se ao poço escuro e sombrio que é sua mente. Fazer o ambiente de espelho da mente descompensada da protagonista foi um golpe de mestre de Polanski! As rachaduras que se fazem em alto e bom tom, aos olhos assustados de Carol, o coelho tirado da geladeira e deixado literalmente às moscas na mesinha do telefone, as batatas brotando na tábua, enfim, a ação entrópica no ambiente que só reflete o ocaso da consciência da jovem. Os estupros que assistimos ficam como uma pergunta: eles aconteceram ali, naquele momento? Sempre ao bater da meia noite e um minuto, um homem aparecia e a violentava? Talvez um aporte para um passado não evidenciado no filme, onde Carol pode ter sido estuprada ainda criança. Início de suas psicoses?
O fato é que o estuprador de Carol é tão real quanto as rachaduras, ou as mãos que saem da parede do corredor para agarrá-la. Ele é e não é real. Nessa dialética, temos mais uma vez a mente da protagonista a dar o tom no filme. Os assassinatos cometidos pela personagem, cada um deles é um degrau que descende ao abismo de sua própria mente.
Quando citei no início desse texto, como é possível um filme tão denso e ao mesmo tempo sintético, me referi a duas coisas em especial: a profundidade da psicose de Carol, mostrada com a "destruição" do apartamento e ao belíssimo e porque não, sinistro epílogo: a fotografia da família Ledoux, ainda em Bruxelas, onde vemos uma já absorta Carol criança. Simplesmente genial. O que diferencia simples diretores de cinema de artistas da 7ª Arte são filmes como esse. Roman Polanski com toda certeza é um dos melhores diretores e todos os tempos e, Repulsion, é um de seus melhores trabalhos.
Maladolescenza
2.6 68Contém SPOILERS.
O egocentrismo, as dificuldades de lidar com o que Freud chamaria de "principio de realidade" e a construção de um mundo ideal é a linha mestra de Spielen Wir Liebe. Essa conjunção de conflitos está expressa no denso personagem Fabrizio, e é expressa ao longo do filme, principalmente, por duas posturas: a intensão de viver na floresta e a insistência que suas companhias não voltem para a casa ao cair da noite, como ele mesmo faz. O não retornar do personagem para sua casa, nem menções a sua família ou residência (o que se destaca quando tanto Silvia quanto Laura, reafirmam seus compromissos, tanto com o final das férias escolares, quanto com os pais), nos leva a pensar num conflito de Fabrizio com seus parentes. Mesmo não estando isso claro, notamos que é um motivo de seu afastamento e consequente aproximação do mundo natural, indicado pelo amor à floresta. O cão que acompanha Fabrizio e a relação que este estabelece com o animal, pode servir de aporte para entendermos seu conflito familiar e os problemas que derivaram disso. Ele ama e detesta o cão, bem como o usa enquanto objeto de poder, quando o atiça sobre as meninas, em momentos distintos. Emblematicamente, ao espantar o cão que ele mesmo tinha instigado em cima de Laura, alardeia, descompensado, que espantou o cão, que "era seu amigo", por conta do medo dela. Fica claro que Fabrizio esperava que elas também se afastassem de seus lugares de conforto e referência, a casa dos pais, e assim demonstrassem amor por ele. A descoberta da "cidade secreta" é também um ponto importante, quando esse achado respalda a criação do idílio de Frabrizio de romper com a vida fora do mundo natural, autoproclamando-se "rei", estabelecendo reis, ordenando e depondo rainhas para compor seu mundo ideal. O extremo egocentrismo, visto quando leva Laura, submissa por conta do afeto que sente por ele, às cavernas que diz não conhecer a saída, e, aproveitando-se da situação consegue obter dela sexo, mostra como o personagem se sente a vontade em seus domínios, onde o seu conhecimento do terreno, sua maior força física e capacidade de sobrevivência são os pilares de sua dominação. O sentimento de distanciamento de Fabrizio em relação ao "mundo além da floresta" se intensifica com a chegada de Silvia, a adolescente arrogante e egocêntrica. Com Laura (é importante lembrar que ela já tinha se negado a não retornar para a casa dos pais ao final da tarde...) reduzida a uma serva do novo casal soberano, o idílio de Fabrizio se fez completo. Amava e desejava sua rainha acima de todas as coisas e impunha humilhações e dava trabalha à sua serviçal. Toda sua libido foi movida para Silvia e de certa forma descarrega em Laura, por meio da crueldade e imposição de humilhações. Tudo se desconstrói, entretanto, quando a prepotente Silvia (que usava Fabrizio como uma diversão de férias escolares, como objeto sexual e companheiro nas suas fruições de sadismo contra Laura) revela o desejo de ir embora, voltar para a escola e não se sente entristecida com isso. Uma degeneração rápida de Fabrizio se inscreve nesse momento, quando vê sua "rainha" abandonando o reino que ele entende como perfeito e a tão boa vida que ele lhe oferece na floresta. O ápice do egocentrismo vem com o assassinato de Silvia, por um transtornado Fabrizio, que vê na impossibilidade da permanência da garota, uma destruição de seu mundo e a influência externa que ele não pode conter, mesmo se afastando do mundo além da floresta.
É importante notar que a visão do filme é sempre a visão de Fabrizio, pois nunca o mundo fora da floresta é enfocado, e, quando a casa de Silvia é vista, é também pelo olhar do garoto e, suas incursões noturnas às imediações da residência, sua insegurança e até ódio contra a construção, mostra que as influência que o levavam para a realidade da existência de um mundo que é bem maior que ele, fora dali, a floresta onde está localizado seu reino, sem suas acompanhantes cumprindo rigorosamente seus papéis, é um óbice ao seu idílio.
Um poderoso filme sobre a adolescência e seus conflitos levados ao extremo. Além disso, um filme que pode ser visto enquanto uma metáfora do nosso medo da falta de controle sobre o mundo, que se move à revelia de nossos desejos, e sobre as pessoas, que atravessam nossa vida de formas que não podemos controlar. O título original, em alemão, remete à paixão aos jogos. Nada mais certo, quando o jogo, ali, era tentar simular uma outra realidade, mesmo que em detrimento da realidade objetiva inescapável.
A Vila do Medo
1.9 234 Assista AgoraVi por causa de "Olhos Famintos", mas não guarda nenhuma característica do fantástico filme de horror de Victor Salva. Patético e com um roteiro fraquíssimo, o filme apela para um filme revelador que, quando nos deparamos com a "explicação", só o torna ainda mais fraco e pífio do que se fosse algo de sobrenatural com o garoto. Enfim, uma grande porcaria.
De Pernas pro Ar
3.2 1,7K Assista AgoraPífio. Não acrescenta absolutamente nada. Entretenimento despretensioso.
Conan, o Destruidor
3.2 172 Assista AgoraÉpico! Sempre é bom rever as aventuras do bárbaro cimério. Mesmo não tendo fidelidade total com as histórias originais dos quadrinhos, acredito que é um clássico enquanto tomando como obra em si.
A Hora do Lobo
4.2 308Vargtimmen é uma obra prima! O personagem consumido cada vez mais por seus fantasmas internos, que de certa forma obstruem o processo criativo. O isolamento de pintor e sua mulher na ilha nos os afasta do problema, mas, como Bergman coloca magistralmente na boca do personagem: "o espelho foi quebrado, mas você consegue ver o que está refletido nele?". Uma das melhores coisas produzidas no cinema mundial!
Lampião, Rei do Cangaço
3.7 13O filme de Carlos Coimbra é bom. Contudo, a história do mais famoso ícone do cangaço poderia ter sido melhor desenvolvida, com mais atenção a detalhes que faltaram, a meu ver, no conjunto da obra. Explico: a ideia de se realizar um filme desde a adolescência de Virgulino Ferreira é ótima, mas Coimbra perdeu a chance de contextualizar melhor o ambiente onde o futuro rei do cangaço nasceu e cresceu. A "selvatiqueza" (pra usar termo de Euclides da Cunha) do ambiente e o tipo humano que ele criava, bem como as condições de opressão do povo por parte do Governo (formal, por meio da polícia e Leis) e dos Coronéis (poder informal, mas tão ou mais persuasivo que o oficial). Sendo o filme de 1964, acredito que primou-se por uma abordagem mais leve, o que fez com que o filme perdesse, e muito, o retrato dessa situação que era vivenciada no sertão nordestino. A inserção de um "pregador do sertão", tentativa de mostrar o elemento do messianismo, que grassou no contexto desses conflitos, também foi uma ótima aposta do roteiro, porém, muito mal utilizado. Tanto o cangaço quanto os movimentos ditos "messiânicos" foram fenômenos sociais que derivaram da condição e do conflito vivido no sertão nordestino, e, em certa medida, foram fenômenos conflitantes entre si, o que não foi abordado no filme. O cantador de cordel, no início do filme foi uma ideia original e genial do roteiro e, a meu ver, deveria ter permanecido o tempo todo, na forma de interlúdios. O filme em si, é ótimo, mas poderia ter se transformado num clássico e numa referência ao tema, caso detalhes fossem observados pelo roteiristas, sem falar numa maior verossimilhança na atuação dos atores, principalmente a que viveu Maria Bonita.
S. Darko - Um Conto de Donnie Darko
2.1 437Não sei se não gostei porque não vi Donnie Darko ou se esse filme é ruim em si mesmo. De qualquer forma, não vale mais que uma estrela.
Vingança Obsessiva
2.2 10Pífio. Apesar de um argumento que se pode chamar de regular, o filme é bem pobre em todos os aspectos, principalmente na personagem principal. O diretor, se tinha em mente filmar um verdadeiro suspense, precisa fazer um curso intensivo desse gênero assistindo aos filmes de Hitchcok.