BURNT Direção: John Wells Ano: 2015 Assistido em: 04/02/2024
Nos últimos anos estamos vivendo uma verdadeira “febre culinária”, a TV está cheia de programas sobre cozinheiros, reality shows estão fazendo com que o mundo das receitas que antes ficava restrito apenas às fãs da Ana Maria Braga, estejam alcançando uma grande gama de pessoas, mas não me encaixo nesse grupo, ainda não assisti The Bear, não tenho saco para o Masterchef, ou qualquer outra mídia que tenha comida e/ou restaurantes como tema, e cheguei a esse filme meio que por acaso, e que filminho mequetrefe hein?!
Adam foi um renomado cozinheiro no passado, mas perdeu tudo devido ao vício em álcool e drogas. Após um período de reabilitação ele tem uma nova oportunidade quando é contratado para um novo restaurante em Londres, entretanto, além do vício, o difícil temperamento do chef pode ser um grande empecilho para ele alcançar novamente a glória do passado.
Lida a sinopse, fiquei com esperanças de que estivesse diante de um grande drama, um filme de superação sobre um viciado que ganha uma nova oportunidade na vida e vai fazer de tudo para agarrá-la, só que não é isso que encontramos aqui, mas sim uma história morna, sem sal, sem tempero, que não explora o real potencial, seja da sua temática, seja do seu intérprete. Nas mãos de um roteirista/diretor ousado e que não tem medo de nos mostrar os seus personagem no fundo do poço, essa história poderia ter rendido bastante, mas John Wells prefere a superficialidade, não se aprofundar de verdade em nada, e consequentemente não entrega absolutamente nenhum impacto para o espectador.
Bradley Cooper é um excelente ator, ele tem performances absurdas, e creio que um dia ele vai ganhar o Oscar, (e graças aos deuses do cinema não vai ser com essa essa porqueira desse Maestro (2023)), mas aqui ele tem todo seu potencial desperdiçado, com um personagem medíocre que poderia ser vivido por qualquer ator comum, e que não desafia Cooper para que ele ofereça tudo o que poderia, o mesmo pode ser dito do Daniel Bruhl, da Siena Miller, do Matthew Rhys, da Uma Thurman, da Emma Thompson, da Alicia Vikander, e de todo o restante do elenco.
Fazendo uma alusão bem ruinzinha com comida, Burnt tinha excelentes ingredientes, entretanto um cozinheiro meia boca pilotando o fogão, tanto que entregou um prato sem sal, sem tempero, sem graça, o filme é chato, sonolento e não prende a atenção, resumindo é um desperdício de todos os seus envolvidos, talvez seja recomendado para o dia que você esteja com sono e queira dormir mais depressa, mas fora isso, é algo que é melhor manter distância.
THE LAST KINGDOM: SEVEN KINGS MUST DIE Direção: Edward Bazalgette Ano: 2023 Assistido em: 04/02/2024
Como sou um apaixonado por história, desde que The Last Kingdom estreou em 2015 eu tinha pretensão de assisti-la, entretanto o tempo foi passando e eu fui adiando, dando preferência para outras produções e quando assustei a série foi concluída. Um ano depois a Netflix lançou esse filme que servia como epílogo para a história do Uhtred de Bebbanburg, e só então com toda a história completa, resolvi que era a hora de tirar essa saga da minha lista de pendências.
Uhtred vive um tempo de paz em Bebbanburg, após finalmente conseguir recuperar aquilo que lhe era de direito. Entretanto sua paz é interrompida devido à morte do Rei Edward, que desencadeia uma briga por poder no qual seu primogênito Athelstan sairá vitorioso. Entretanto para a decepção de Uhtred, Athelstan não vai ser um rei tão compassivo assim, já que ele irá colocar em prática o plano de seu avô, o Rei Alfred, a unificação de todos os reinos da ilha da Grã-Bretanha sobre a bandeira da Inglaterra, não importando o que tem que ser feito para isso.
Bom quem conhece um pouquinho dos bastidores dessa série sabe que ela foi concluída antes do Bernard Cornwell encerrar a saga das Crônicas Saxônicas, portanto, esse longa meio que foi um “tapa buraco”, para não deixar a produção televisiva incompleta, entretanto não sou o maior adepto de filmes serem usados para concluir séries, ambos os produtos são linguagens muito diferentes, ímpares, um filme precisa ter uma história mais concisa, enquanto uma série se permite abordar mais temas, ter um desenvolvimento mais demorado. Encaixar todos os finais em apenas duas horas, obrigou os roteiristas a sacrificarem muitos ponto, então não vemos a morte do Edward, vemos Athelstan assumir uma postura que não é condizente com a postura dele no episódio anterior da série, não vemos os destinos dos filhos do Uhtred, enfim, o que temos aqui é meio que um prêmio de consolação para agradar o público, já que a decisão de encerrar o show em sua quinta temporada, foi tomada no princípio da formatação do programa, antes da conclusão do Cornwell para seus livros .
Tecnicamente falando, esse filme não tem diferença nenhuma da série, é a mesma equipe, tem o mesmo valor de produção, percebe-se que não teve nenhum grande orçamento, resumindo é um trabalho modesto, regular, aliás chamá-lo de filme é um adjetivo muito forte, vamos dizer que são dois episódios especiais que condensam muito da história, e deram um título diferente. O elenco é o mesmo, o nível do roteiro é o mesmo, o que salva que a história é boa e apesar de ser contada de uma forma atropelada, ela ainda possui muito valor para quem acompanhou todos todas as temporadas anteriores.
The Last Kingdom: Seven Kings Must Die finaliza a saga do Ulthred de uma forma peculiar, ele até agrega valor a franquia, mas também não é indispensável, quem quiser ficar com o último episódio da quinta temporada da série como seu desfecho, pode ficar numa boa, porque esse longa não vai fazer falta. Seria muito melhor uma sexta temporada contando essa história de uma forma mais palatina, cadenciada, ao invés da pressa e da correria com que foi, mas apesar dos pesares, em uma era onde séries são canceladas abruptamente deixando seu público na mão, creio que um filme encerrando em definitivo e até é melhor do que nada, apesar de que mesmo sendo bom, ele poderia ser muito melhor.
THE ACCUSED Direção: Jonathan Kaplan Ano: 1988 Assistido em: 03/02/2024
Sou um apaixonado por dramas de tribunal, e curiosamente apesar de já conhecer a história desse filme há muitos anos, principalmente devido ao fato da Jodie Foster ter ganho seu primeiro Oscar por ele, nunca tive a oportunidade de assisti-lo, isso até hoje, quando pude conferir essa obra impressionante, impactante e importante, e que deveria e merecia ser mais reconhecida no meio cinematográfico.
Certa noite a jovem Sara é violentada por três homens em um bar, ela procura a polícia, e o caso vai parar nas mãos da promotora Kathryn que logo faz um acordo com os acusados e finaliza o caso para a total insatisfação de Sara. Se sentindo culpada por não ter feito justiça, Kathryn descobre que ainda poderia conseguir prender mais culpados por essa história, recorrendo a uma manobra pouco antes vista na história dos tribunais americanos: processar os “espectadores” do estupro, que incentivaram o mesmo e nada fizeram para impedir que ocorresse.
Eu não fazia a menor ideia de que esse longa era vagamente inspirado e um caso real, sempre acreditei que era um drama legal de uma garota abusada sexualmente, mas não imaginava que o grande foco do roteiro não fosse a luta dela contra os estupradores, mas sim contra aqueles que testemunharam e nada fizeram, ou melhor, fizeram sim, instigaram a violência. Quando tomei conhecimento da história real ocorrida em 1983 nos Estados Unidos fiquei morto de curiosidade pelo filme que só pode ser descrito como brutal. Vemos uma mulher ser violentada, desacreditada, desrespeitada, humilhada e sendo julgada ao invés daqueles que são os verdadeiros criminosos.
Além de uma discussão absurda sobre as nossas responsabilidades civis, temos uma Jodie Foster espetacular, seja nos seus momentos de fragilidade, seja nas erupções de raiva de sua personagem, a atriz está fenomenal, foi merecidíssimo o seu primeiro Oscar de melhor atriz por esse trabalho, outro destaque é Kelly McGillis, que nesse final de anos 80 fazia grandes papéis em filmes importantes, pena que infelizmente ela não conseguiu manter o sucesso da carreira com o passar dos anos. Outro que merece destaque é o Leo Rossi, que me fez sentir mais ódio do personagem dele do que dos próprios estupradores, o homem estava absurdo, de despertar a ira no espectadores, e isso é devido a excelente performance e a direção afiada.
The Accused nunca seria feito nos dias de hoje, ele pode soar errado em muitos momentos porque obviamente estamos lidando com uma produção do final dos anos 1980, então o que hoje é considerado absurdo, naquela época era o normal, por isso não espere por um tratamento adequado para a vítima de abuso sexual, isso não existe aqui. Outra coisa que não imaginaria e que o filme mostraria a cena do estupro, foi surpreendente observar que o diretor Jonathan Kaplan a manteve no corte final, e a mesma foi tão bem realizada que conseguiu ser bem desconfortável e aterrorizante para quem assisti. Estamos diante de um filme que infelizmente não recebe o devido reconhecimento, já que ele traz uma discussão séria, relevante e que deveria ser ainda mais difundida no cinema, fala sobre os limites que devem ser impostos e respeitados, sobre como não tratar uma vítima de abuso, e principalmente que esse tipo de crime não pode ficar impune. Só espero que nesses 36 anos que separam 1988 de 2024, as leis norte-americanas e de todo o restante do mundo tenham sido endurecidas em relação a isso, porque um estuprador receber uma pena de cinco anos é surreal, é algo inaceitável.
Já prometi para mim mesmo inúmeras vezes, que tenho que parar com essa mania estúpida de querer assistir alguns filmes apenas pelo seu elenco, ou apenas por um ator específico. Tenho Christian Bale como o meu ator favorito, e isso já tem muitos anos, então quando ele está em um projeto automaticamente vou atrás, mas demorei 9 anos para poder assistir Knight of Cups, instintivamente já sabia que esse não era para mim e quando chegou a hora de finalmente conferir, a obra se mostrou ainda pior do que eu imaginava que seria.
Durante duas horas acompanhamos o personagem de Christian Bale caminhando de um lado para o outro, encontrando diversas pessoas, fazendo coisas aleatórias, muitas sem sentido, e todas desinteressantes, não existem diálogos complexos, ou sequer uma linha narrativa clara, e isso dá um sono desgraçado. Sempre soube que o Terrence Malick tem alguns filmes contemplativo, mas nunca fui atrás de nenhum deles porque isso não é para mim, sou um cara que gosta de diálogo, assisto cenas gigantescas de personagens discutindo e argumentando com um sorriso de orelha a orelha, mas não me ponha para assistir uma coisa dessas, de imagem aleatórias e sem sentido que isso não faz meu gênero.
Acredito que se você for fazer uma alegoria, ela precisa ter uma lógica para que as pessoas que vão contemplar a obra percebam do que se trata, entendam que é uma crítica, que é uma sátira, enfim, li algumas possíveis interpretações sobre esse filme na internet, e a mais aceitável é a de que o “roteiro” aborda a construção de um filme em Hollywood, e honestamente, se essa era a ideia original do Malick, para mim ele falhou miseravelmente, porque em momento algum consegui sentir que era isso que ele tava contando.
A única explicação que encontro para um elenco tão estelar ter aceitado participar desse projeto é devido ao forte nome do Terrence Malick, ele é um diretor muito conceituado em Hollywood e é devido a essa fama que acredito que ele tenha conseguido reunir Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Antonio Banderas, Jason Clark, Ben Kingsley, Wes Bentley, Ryan O’Neal entre outros, porque honestamente eu não consigo visualizar a cena de nenhum deles lendo esse “roteiro” e achando a história boa.
Esse é o primeiro trabalho do Malick que assisto, e só não vai ser o último porque eu ainda pretendo assistir aos quatro primeiros filmes dele, que são muito famosos e de uma época anterior a essa fase dele de querer usar o cinema para questionar a vida, ou seja lá qual é o objetivo desses filmes contemplativos que pra mim não passam de imagens aleatórias que não despertam interesse. Acredito que cada diretor faça o que bem entender com seu filme, mas antes de qualquer coisa é necessário que o público entenda, porquê do que que adianta você fazer um trabalho que só faça sentido para seu idealizador?! Talvez fosse melhor ter feito um vídeo caseiro, ao invés de uma produção que desperdiça tantos talentos, resumindo tudo: eu só queria minhas duas horas de vida de volta.
ARGYLLE Direção: Matthew Vaughn Ano: 2024 Assistido em: 02/02/2024
Se tem um diretor que soube conquistar meu coração na década passada, esse foi o Matthew Vaughn, desde que assisti Kingsman: The Secret Service (2014) pela primeira vez lá em 2015, me apaixonei perdidamente pelo universo, pela ironia, pelo deboche, pela piada que ele fazia com os clichês do mundo da espionagem, e de lá para cá Vaughn continuou focado nesse universo, e no seu primeiro passeio fora desse mundo, ele nos entrega Argylle que também trata sobre espionagem. E mesmo não conseguindo desgostar dos trabalhos atuais do diretor, tenho que admitir que esse é o pior filme dele desde Layer Cake (2004), seu primeiro trabalho de direção.
Elly Conway é uma escritora renomada do gênero suspense de espionagem, ela se tornou famosa com a série Argylle, que é um verdadeiro fenômeno literário. Quando Elly está concluindo o quinto livro da sua saga, ela é abordada por Aidan, um homem que alega ser um espião que quer salvá-la de uma perigosa organização secreta que esta atrás dela. Agora Elly deverá correr para salvar sua vida enquanto a ficção escrita para seus livros se mistura à sua realidade.
Vaughn resolveu brincar com público, Argylle é um seu trabalho mais diferente, e devo dizer que é mais um dos títulos recentes com o qual Hollywood está enganando o espectador. Como ocorreu recentemente com Wonka (2023) e com a nova versão de Mean Girls (2024), quem assistir ao trailer, ou só vê o pôster pode ser levado a crer que o protagonista dessa história é o personagem título interpretado por Henry Cavill, mas é aí que está o pulo do gato, Argylle é apenas um personagem criado por Elly, todas as cenas que Cavill está envolvido são uma enorme brincadeira, um contraste entre o que é a espionagem de ficção e a “espionagem real”, ou seja mais uma vez Vaughn brincando com a diferença que existe entre o trabalho ficcional de espiões e o trabalho da “realidade”, entretanto apesar da ideia ser boa a execução não foi das melhores, temos um filme inchado, cansativo e que é repleto de twists, dos quais alguns funcionam e outros não.
Eu teria adorado se os vilões fossem de fato pais da Elly, que ela fosse essa outsider, essa pessoa que cai de paraquedas nesse mundo. Mas quando revelam que ela era uma espiã, e que todas as histórias escritas para o Argylle na realidade são suas lembranças que ela havia perdido devido a um condicionamento de memória realizado pela Catherine O’Hara, o filme me perdeu. É como se o que havia de melhor nele fosse jogado na lata do lixo, já temos inúmeros filmes de super espiões, não precisava de mais um, seria muito mais interessante vermos a dinâmica de um civil no meio da loucura, entretanto isso ficou com deus.
O elenco desse filme é uma coisa de louco, Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Catherine O’Hara, Bryan Cranston, Samuel L. Jackson e o gatinho Chip (gato da esposa do Vaughn) esbanjam carisma, e seguram seus personagens mesmo quando o roteiro não colabora, o ponto fraco fica para Henry Cavill e John Cena, aqui ainda mais canastrões do que a história exigia. Ainda temos muita loucura ala Matthew Vaughn, mas achei ele muito controlado, ainda temos as sequências de luta ao som de boas músicas, mas por mim teria mais violência, como em Kingsman e Kick Ass (2010) por exemplo.
Argylle é uma proposta extremamente audaciosa, Vaughn e a Apple tem planos gigantescos para essa nova marca, mas infelizmente creio que esses planos não serão concretizados tendo em vista a repercussão negativa que o filme está tendo, e principalmente ao desempenho da bilheteria que provavelmente será catastrófico. Honestamente não me importo muito com isso não, eu ainda estou esperando pelo meu Kingsman 3 concluindo a saga do Galahad, e quero que depois disso o Vaughn vá urgentemente atrás de outros projetos, que saia fora desse negócio de história em quadrinhos e de espionagem, ele é um excelente diretor, muito talentoso para ficar preso a um gênero, seria um desperdício, não que esse novo projeto seja de todo ruim, mas é decepcionante, haja vista o nível dos responsáveis pela execução do mesmo, é um filme divertido, que você vai assistir e esquecer, uma simples diversão passageira, coisa que não espero do Vaughn.
A cena pós-créditos revelando que Argylle faz parte da Kingsman deveria me animar, mas confesso que não fiquei muito empolgado não, mesmo sendo apaixonado pelo universo do Eggsy.
SUNRISE Direção: Andrew Baird Ano: 2024 Assistido em: 28/01/2024
Hollywood está cada dia que passa mais suja, os estúdios e as distribuidoras estão escondendo gêneros, estão fazendo de tudo para tentar convencer o público a se levantar da cadeira de casa e ir para poltrona do cinema. Quando saíram as primeiras notícias sobre esse projeto “informaram” que ele era um terror de vampiro, protagonizado por Guy Pearce e Alex Pettyfer, e como sou muito fã de histórias vampirescas e gosto bastante dos dois atores em questão, imediatamente fiquei animado para assistir, pena que assim como o Pica-Pau: fui tapeado.
No noroeste dos Estados Unidos somos apresentados a uma pequena cidadezinha onde o perverso Reynolds controla tudo com mãos de ferro e extrema violência. Entretanto, tudo vai mudar quando o misterioso Fallon chega ao local e coisas estranhas relacionadas a lenda do Capa Vermelha começam a ocorrer.
Quem pensa que isso aqui é um filme sobrenatural está muito enganado, toda a mística envolvendo o tal do Capa Vermelha é praticamente inexistente, tem pouquíssimas cenas de terror e todas elas muito desinteressante, Sunrise está mais para um suspense de vingança (mal feito) do que um filme de horror, e tudo isso com uma história pífia e personagens que são uma verdadeira água de salsicha de tão sem sal e sem gosto.
Como disse, gosto muito do Alex Pettyfer só que oh personagenzinho horroroso que ele tá fazendo aqui, é o típico forasteiro que chegam à cidade e decide ajudar seus moradores só que porra o sujeito era para ser uma entidade, uma criatura da noite, e ele não faz quase que merda nenhuma, tem uma história triste, mas caguei para isso, quem tem um destaque um pouquinho melhor é o Guy Pearce no papel de vilão genérico que controla a vida de todos, mas ainda assim não é nada demais, e só menos pior que todo o resto.
Com um roteiro fraquíssimo, personagens sem vida, sem brilho e com atuações apagadas Sunrise é uma enorme decepção. Se você chegou aqui esperando por um filme vampiro desista, não é nada disso que você vai encontrar, aliás nem terror você vai achar, é um filme B de suspense/vingança, que há uns 20 anos atrás era lançamento direto para DVD e hoje chega nos streamings, aliás, nem sei que milagre isso não foi lançado pela Netflix e sim por vídeo on demand.
TREASURE PLANET Direção: John Musker e Ron Clements Ano: 2002 Assistido em: 28/01/2024
Ron Clements e John Musker para mim são dois dos nomes mais importantes da história do cinema, e não estou exagerando, eles estão entre os mais cultuados diretores da história da Disney, e direciono a eles a responsabilidade pela formação de uma geração inteira de apaixonados pelo cinema. Eles são aqueles que deram o pontapé inicial na chamada Era Renascentista, período entre 1989 e 1999 no qual a Disney saiu do fundo do buraco e voltou a ter relevância com suas animações, nesse período eles dirigiram nada mais nada menos que The Little Mermaid (1989), Aladdin (1992) e Hercules (1997), três dos mais amados e queridos filmes do estúdio. E como eu era criança nesse período, Clements e Musker tem um verdadeiro altar aqui em casa, já que basicamente muito do que eu amo, vem do trabalho deles.
Jim Hawkins é um jovem que desde criança sonha em conquistar as estrelas. Certo dia Jim encontra um mapa para o tesouro do Capitão Flint, tesouro esse que é cobiçado por todos os piratas do universo. Quando o pirata John Silver chega a estalagem de Jim, eles vão embarcar em uma viagem pelo espaço em busca do tão desejado tesouro.
Chega a ser triste falar sobre esse filme, quem conhece um pouquinho da história da Disney ou da história dos diretores sabe que esse projeto demorou muito para sair do papel, Clements e Musker apresentaram a ideia de um filme baseado em A Ilha do Tesouro junto com o projeto da pequena sereia, isso em meados de 1985/86, mas enquanto a história da Ariel foi aprovada, essa daqui foi escanteada, e depois disso eles tentaram tirá-lo do papel por diversas vezes, mas o mesmo sempre era recusado pela Disney. Por um lado eu agradeço a recusa do rato, já que foi graças a isso que conseguimos três obras primas da animação, mas por outro fico triste de saber que quando finalmente os diretores conseguiram o aval para fazer o seu projeto dos sonhos, ele foi um puta fracasso.
Meu grande problema com esse filme é que não consegui reconhecer nele as características comuns às obras dos seus realizadores, ele é baseado no livro do Robert Louis Stevenson, entretanto é levado para as telas de uma forma apática, seus personagens são fracos e nada interessantes. A adaptação não chega a ser um problema, afinal de contas Clements e Musker são especialistas no assunto, já que levaram para as telas uma história do Hans Christian Andersen, outra das de As Mil e uma Noites, e até mesmo fizeram uma salada com os milenares mitos da Grécia Antiga, ou seja trabalhar personagens originados em outras fontes nunca foi o problema, entretanto em Treasure Planet faltou brilho, faltou vida, é tudo estranho, e não falo isso nem pela estética, mas por toda a composição da história, é algo pouco inspirado, que chega soa estranho levando em consideração que era o projeto dos sonhos.
Apesar do visual diferente, mas bonito, e da trilha sonora interessante, Treasure Planet falha em se conectar com seu público, ele não é divertido para uma criança ao mesmo tempo que também não consegue falar com os adultos, bem diferente das três obras-primas anteriores dos seus realizadores. Com admirador muito apaixonado do trabalho da dupla de ouro da Disney, me dói não ter gostado desse filme, fiquei com um gosto amargo na boca.
É triste saber que o fracasso dessa e de outras produções foram decisivos para a Disney abandonar as animações 2D, e mais triste ainda saber que o primeiro grande fracasso de Ron Clements e John Musker foi justamente aqueles pelo qual eles mais lutaram para tirar do papel. Fui assistir Treasure Planet de mente aberta, querendo gostar de tudo que estava assistindo, mas infelizmente não deu certo. É óbvio que ele não chegou nem perto de arranhar a admiração que tenho pelo trabalho do Clemente e do Musker, mas é desconfortável saber que eles têm essa bomba no currículo.
Eu amo suspense policial com plot twist, sou daqueles que vai atrás de listas, que vai no IMDb, que assiste o WatchMojo procurando qualquer nova recomendação do gênero, e mesmo venerando esse tipo específico de produção, nunca tive a oportunidade de assistir The Usual Suspects, que é de longe um dos mais famosos desse estilo. Sempre que eu via alguma menção ao seu roteiro, eu parava a leitura, pulava o vídeo, enfim, fazia de tudo para não estragar ainda mais minha futura experiência, já que conheço o fim da história há muitos anos, e agora chegada a hora de assistir… caramba que decepção!!
Após um barco ser incendiado no cais resultando em dezenas de mortos, a polícia interroga Verbal Kint, um dos únicos sobreviventes do crime. Kint vai aos poucos revelando toda a trama que levou ele e mais quatro criminosos a chegarem naquela embarcação e como se deu o massacre, entretanto a polícia tem muitas dúvidas, já que a história é mais complexa do que parece.
Olha eu sempre soube que esse filme tinha ganhado o Oscar de melhor roteiro original, só que logo nos primeiros minutos, eu já me perguntava como isso aconteceu. Sou muito fã do McQuarrie, ele é muito bom roteirista basta ver o excelente trabalho que ele fez nos últimos anos com a franquia Missão Impossível, mas gente isso aqui é uma bagunça, o roteiro é extremamente confuso, tem uma narrativa não linear, mas o público fica perdido logo no começo. Tudo bem que a edição do John Ottman também não ajuda, mas esse roteiro é muito caótico, existem diretores que conseguem contar uma história em ordem não linear de uma forma impecável vide Christopher Nolan e Quentin Tarantino só para citar dois exemplos, mas aqui não é o caso, você fica perdido e demora para conseguir se orientar, entender o que que tá acontecendo, e até mesmo no final, quando as peças começam a se encaixar, ainda assim existe a sensação de desorientação pois o filme simplesmente não consegue transmitir sua história com clareza.
O grande trunfo de The Usual Suspects está no plot twist, sendo inclusive bem mais lembrado por ele do que por sua história no geral, e é claro temos também a atuação do Kevin Spacey, mas sem sombra de dúvidas é a reviravolta do final que faz a fama, reviravolta essa que para mim foi estragada lá atrás, no primeiro Todo Mundo em Pânico (2000) há mais de 20 anos, mas ainda assim eu tinha esperança já que com outros filmes que também assisti após saber o final, eu consegui me surpreender com a construção do desfecho dos mesmos, vide Psicose (1960), Planeta dos Macacos (1968) e Clube da Luta (1999), mas aqui isso não ocorreu. Para dizer a verdade achei toda essa trama sobre a identidade do Keyser Söze bem sem graça e previsível, achei simplesmente impossível assistir sem desconfiar do Kint nem que seja por um segundo, só se a pessoa nunca assistiu a um thriller na vida.
Polêmicas à parte, eu gosto do trabalho do Bryan Singer e acho Kevin Spacey um ator espetacular, e eles ainda contam com Gabriel Byrne, Benicio del Toro, Giancarlo Esposito entre outros no cast, mas de The Usual Suspects não me cativou, tem a questão da expectativa, e quanto maior, maior é a decepção, e nesse caso eu tinha MUITAS expectativas. Sobre essa história, mesmo estando entre os famosões do plot twist, esse aqui é muito morno e sem graça. Talvez uma polida nesse roteiro, se fossem aparadas algumas tramas paralelas, e fosse mais objetivo ele funcionaria melhor, mas a impressão que tive é que Singer e McQuarrie simplesmente embaralharam a história para tentar fazer com que o público não perceba o que viria ao final. Mesmo com pontos positivos, é impossível ignorar a sensação de desorientação que esse roteiro deixa com em muitos momentos, do começo ao fim do filme.
PS: John Doe de Seven (1995), lançado no mesmo ano, é melhor que o Keyser Söze em tudo, seja na escrita, na atuação do Spacey, no impacto na cultura pop, enfim impossível não compará-los e ver como um é muito superior ao outro.
BIG Direção: Penny Marshall Ano: 1988 Assistido em: 27/01/2024
Se tem uma coisa que é admirável nesse mundo é a inocência das crianças, quando você é pequeno é muito comum querer crescer o mais rápido possível para fazer coisas que te proíbem, é frequente escutar frases como “quando eu crescer”, “quando eu for grande vou fazer isso e aquilo”, e é claro que os grandões de Hollywood também já foram crianças, e como eles gostam de ganhar dinheiro em cima de literalmente tudo, não poderiam deixar passar batido esse sentimento das crianças, e logo produzem a rodo diversos filmes que retratam os pequenos se tornando adultos em um passe de mágica, e aqui temos aquele que provavelmente é o mais famoso com essa proposta.
Josh é um garoto de 12 anos de idade que mora com sua família na cidade de Nova York, ele tem uma vida normal para sua faixa etária, e seu único grande problema é não ser um pouco maior, ser mais velho. Certo dia, enquanto passeava por um parque com sua família, ele acaba encontrando uma máquina esquisita que concede desejos, e como alguém que não tem nada a perder, Josh acaba pedindo para ser maior, o problema é que no dia seguinte ele acorda com 30 anos de idade, sendo forçado a mudar sua vida radicalmente.
Sejamos honestos, quantos de nós não queríamos ser mais velhos quando crianças, e agora que somos adultos daríamos de tudo para voltar a ser pequenos?! Essa é uma daquelas grandes ironias da vida, de você sempre querer aquilo que não se pode ter. Big é uma fantasia deliciosa que trata justamente sobre isso, vemos como Josh faria de tudo para ser grande, e quando ele consegue, e começa a sentir o peso das responsabilidades, da rotina, da pressão de ser um adulto, logo quer voltar a ser criança. Por outro lado também vemos uma crítica muito interessante, o dono da empresa de brinquedos, o sr. MacMillan, vê naquele adulto (que ele não sabe que é uma criança de 13 anos) um comportamento infantil, mas não enxerga isso como algo ruim, ele reconhece uma mentalidade que não é boba, e sim mais inocente, não seria essa uma crítica do filme para nos alertar que nós enquanto adultos, deveríamos ter essa visão mais inocente da vida!? Sem malícia, sem maldade, simplesmente buscarmos por simplificar nossas relações, vejam as crianças, elas brigam hoje é amanhã estão de boa brincando juntas novamente, não guardam mágoa de ninguém, o roteiro nos desperta essa linha de raciocínio, nos chamando a ser mais como as crianças que fomos um dia.
Apesar de começar como uma comédia, nos prometendo gargalhada soltas com aquele menino tendo que se enquadrar no padrão de um homem de 30 anos, a história é muito mais que isso, da metade em diante a diretora Penny Marshall e os roteiristas Gary Ross e Anne Spielberg (irmã do Steven), viram uma chavinha e transformam a trama em um drama romântico, isso não é ruim de forma de forma alguma, mas particularmente me senti um pouco traído, porque esperava rir e de repente eu estava me emocionando por conta dos questionamentos que o filme estava levantando, pela linha de pensamento que ele estava me obrigando a aderir. A parte romântica se estende demais, e particularmente preferia ele voltado para comédia, mostrando mais dos perrengues do Josh do que tendo um relacionamento com uma mulher muito mais velha, mas isso não é algo que prejudique o saldo geral, só é algo que me pegou desprevenido e que acabou influenciando um pouquinho o minha reação a obra.
Tom Hanks está soberbo, ele conseguiu aqui a sua primeira indicação ao Oscar, e ganhou um Globo de Ouro de melhor ator de comédia, e você vê que o porquê, ele está impecável, Hanks se diverte, ele tem essa carinha de inocente, de jovem, e seus trejeitos estão maravilhosos, ele tem uma atitude de criança e nos convence que é uma. A linda da Elizabeth Perkins tem uma veia cômica incrível, e o filme deveria ter investido nisso, mas provavelmente nessa época ela ainda não tinha se enveredado para parte da comédia, quem já assistiu Weeds (2005-2012) sabe do que que estou falando, também temos Robert Loggia muito bem, e fazendo uma pontinha bem rapidinha, no estilo quem piscou perdeu, temos a maravilhosa da Debra Jo Rupp que é uma atriz que eu amo de paixão.
Estou assistindo Big pela primeira vez agora com 31 anos de idade, praticamente a idade que o Tom Hanks tinha quando fez o filme, e que pena que ele não fez parte da minha infância, porque é maravilhoso. É claro que eu já conhecia a clássica cena da loja de brinquedos, onde Hanks e Loggia tocam a “música da Danoninho” com os pé no piano de chão, mas Big é muito mais do que isso, é um filme bonito que nos leva a compreender que tudo a seu tempo, que devemos curtir a nossa infância e adolescência porque elas são curtas e passam rápido, que a vida adulta vai chegar cheia de problemas, mas que se encararmos tudo de peito aberto e com a serenidade, a simplicidade, a honestidade e a fé das crianças, às vezes essa fase seria mais gostosa de ser vivida, enfim é uma produção que nem parece ter seus 36 anos de lançada, envelheceu bem demais e vale muito a pena ser assistido por todas as gerações.
STAND BY ME Direção: Rob Reiner Ano: 1986 Assistido em: 21/01/2024
Como já devo ter dito em dezenas de outros comentários, não fui aquele aquela criança, aquele adolescente que vivia assistindo a Sessão da Tarde, estudei no período vespertino durante todo o meu ensino fundamental, e só assistia a sessão nas férias, ou quando não ia a aula, portanto muitos clássicos só fui conhecer depois de velho. E pode até ser um crime dizer isso, afinal de contas Stephen King é de longe um dos meus autores favoritos, mas somente agora, aos 31 anos de idade, tive a oportunidade de assistir Stand by Me, e honestamente creio que o assisti na hora certa, já que a minha cabeça do passado não teria maturidade suficiente para entender todas as camadas apresentadas.
No final dos anos 1950 um grupo de quatro amigos da pequena Castle Rock no Oregon, decide entrar numa jornada durante um final de semana, observar o corpo de um garoto que estava desaparecido há alguns dias, e que estava jogado a beira de um ruim. Ao longo dessa jornada vemos os laços de amizade sendo reforçados, sendo transformados por um processo que mudará a vida desses meninos para sempre.
Os chamados coming of age movies estão aí desde que o cinema nasceu, alguns passam batidos, outros entram para cultura pop, o fato é que a nossa infância e adolescência são os períodos mais curtos de nossas vidas, e ainda assim são aqueles responsáveis por basicamente todas as decisões que tomamos no nosso futuro, é com base nas experiências, nos traumas, nos medos e nas realizações desses períodos que vamos pautar muitas das nossas atitudes futuras, então é muito comum você encontrar no cinema filmes que retratam a transição, o momento da chamada perda da inocência, quando finalmente percebemos que no futuro nada será como antes.
Sou muito fã dos trabalhos dos anos 80 e 90 do Rob Reiner, ele é responsável por alguns dos melhores títulos desse período. Ele já tinha garantido todo o meu respeito com a brilhante adaptação que fez de Misery (1990) uma das melhores obras do Stephen King, mas aqui ele me cativa mais uma vez, com um filme simples (não simplório), com personagens bem desenvolvidos, com cenas muito bonitas, ótima direção de elenco, enfim um trabalho singelo, sem grandes pretensões, mas tão marcante, com diversas passagens e momentos que me fizeram pensar não só sobre a minha infância, mas também como sobre a minha vida adulta, e é incrível ver o processo de crescimento daqueles quatro garotos em tela e Reiner conseguiu captar isso com maestria.
Na cena final do filme vemos os meninos retornarem a Castle Rock e narrador diz que a cidade “parecia estar menor”, obviamente sabemos que na realidade eram eles que estavam maiores, foram eles que amadureceram, foram eles que passaram a enxergar a vida de uma forma diferente, a cena retrata com perfeição a mudança de chave que na vida real não é em um momento tão específico, mas que você entende que dali para frente tudo vai ser diferente. Outro momento muito interessante é quando a narração revela que nunca mais os quatro se reuniram daquela maneira, tal qual faria em It (1986) Stephen King se recusa a manter essa “mística” de que amigos de infância e adolescência vão estar com você para sempre, ele escancara o que é verdade em 99% das situações: que essas pessoas passaram na sua vida e se foram, e que só vão ficar na sua memória, pois no futuro o contato será praticamente inexistente, amo como King sempre nos lembra disso, e que no final a única coisa que resta são as lembranças das experiências conjuntas, essas sim, ficam conosco para sempre.
Reiner escolheu um elenco que dá um show, e como era talentoso o River Phoenix, e é tão triste saber que a vida dele seria tão curta, e tudo o que iria acontecer pouco tempo depois do lançamento desse filme, temos também Wil Wheaton que estava excelente, e o debutante Jerry O’Connel que também estava muito bem, porém eu tenho um sério problema com o Corey Feldman, nunca gostei dele, acho péssimo em tudo que faz e aqui ele já dava sinais da desgraceira que viraria lá na frente, o único ponto negativo dos quatro protagonista para mim é ele, finalizando temos Keith Sutherland e John Cusack bem novinhos, mas já esbanjando competência.
Stand by Me é ótimo, ele tem todo aquele espírito dos anos 80 que fazia daqueles filmes algo mágico, algo tão especial e inesquecível. Sem sombra de dúvidas é um dos melhores trabalhos do Rob Reiner e merece todos os status que adquiriu ao longo dos anos, toda a força, toda a potência que fazem dele um dos mais queridos desse período. Essa é de longe uma das raras boas adaptações que o King teve para os cinemas, e é inegavelmente um clássico que nos deixa reflexivos, e que funciona para todas as idades porque conversa conosco em todos os momentos, sem sombra de dúvidas um filmaço.
PS: Nunca entendi o motivo da mudança do título de The Body para Stand by Me, mas só de ouvir a música clássica Ben E. King tocando no começo e no final, valeu demais, essa música é de arrepiar.
THE WALK Direção: Robert Zemeckis Ano: 2015 Assistido em: 21/01/2024
Algumas pessoas têm feitos únicos na vida, e não importa o que aconteça, não dá mais para se igualar. Philippe Petit é uma dessas pessoas, ele não só fez algo de uma dificuldade e periculosidade extremas, como que também é impossível de se repetir nos dias de hoje, portanto nada mais justo do que imortalizar seu feito em um filme, só que não precisava ser um tão chato.
Na década de 1970 a cidade de Nova York contemplava o lançamento do World Trade Center o maior centro financeiro do país, sua joia da coroa, entretanto eram as Torres Gêmeas, dois edifícios gigantescos, lado a lado, que se tornaram a maior construção feita pelo homem até então. As Torres chamam a atenção de Philippe, um equilibrista francês que teve a brilhante ideia de esticar um cabo de aço entre as duas e atravessar de uma pra outra.
Robert Zemeckis foi um dos principais nomes do cinema nas décadas de 1980/1990, entretanto de uns tempos para cá ele perdeu aquele toque mágico que garantia que tudo que fizesse renderia uma grande produção cinematográfica. Antes de mais nada deixo bem claro que não achei The Walk um filme ruim, eu disse que ele é chato, o feito de Petit é inegavelmente de tirar o fôlego, digno de aplausos, e ele merece ser reconhecido por isso até o fim de seus dias, mas a história apresentado em tela é muito chata, você sabe que será recompensado ao final com algo grandioso, mas o caminho até lá é doído.
O personagem Petit é um saco, ele mesmo diz em determinado momento que é uma pessoa difícil, mas eu não diria que era difícil, diria que ele é insuportável. Ok o homem precisa ser metódico, precisa ser focado para atingir o seu objetivo, que não é algo fácil, mas nada justifica ser um babaca com os amigos e com a namorada, aí já é demais. Outro detalhe que me incomoda horrores foi a narração, e ainda pior que a narração foram as interrupções mostrando Joseph Gordon Levitt em cima da tocha da Estátua da Liberdade com um CGI HORRENDO, sério Zemeckis?! Pra que isso?! Quebrava minha imersão a cada uma das inserções, e não foram poucas.
The Walk é um filme competente, tem seus acertos, e te entrega o que prometeu, afinal de contas a cena da travessia é muito bem feita, só que é um filme sem vida, sem alma, não é algo que você vai se lembrar, que vai ficar na memória, é só mais um daqueles que assim que subirem os créditos você vai deletar da cabeça, e é uma pena, principalmente se tratando de um profissional tão talentoso quanto Zemeckis, que precisa urgentemente dar uma revitalizada na sua carreira, e voltar a nos entregar os trabalhos grandiosos que outrora já entregou.
ARISTOTLE AND DANTE DISCOVER THE SECRETS OF THE UNIVERSE Direção: Aitch Alberto Ano: 2022 Assistido em: 20/01/2024
Pode até parecer piada, mas no primeiro momento que eu li o título desse filme eu pensava que se tratava de alguma ficção científica sobre dois amigos que tinha alguma ligação com o universo, espaço ou ciência, e decidi assistir sem nem ler a sinopse, e que baita surpresa ao perceber que se tratava de um temático sobre dois adolescentes descobrindo a sua sexualidade em plena década de 1980, é aquele belo ditado: mirei no que vi acertei no que não vi.
Em 1987 somos apresentados a Aristotle, conhecido como Ari, um jovem totalmente introvertido, que não se socializa, e que vive bem solitário. Entretanto tudo muda quando um dia no clube de natação ele acaba conhecendo Dante, que o ensina a nadar, dali nasce uma bela amizade que aos poucos vai se revelando algo muito maior na vida dos jovens.
Não sou maior adepto de filmes adolescentes, mas admito que quando se trata de um filme sobre adolescentes gays se descobrindo, ele ganha minha atenção de imediato. Como homossexual, creio que é muito importante retratar esse período que é o verdadeiro caos nas nossas vidas, se para os héteros, que são socialmente aceitos, não é fácil ser adolescente, imagine para nós gays, que nos sentimos ainda mais desconexos em um mundo que nos renega! Enfim, retratar isso é importante porque pode ajudar uma série de pessoas que está sofrendo neste exato momento, e nesse sentido o filme arrasa, porque trabalha muito bem o processo de descoberta, ao mesmo tempo que também não é aquele sonho adolescente utópico, como por exemplo aconteceu em Love, Simon(2018), aqui (ainda que de uma maneira mais moderada) conhecemos a força do ódio do ser humano, que simplesmente prefere matar aquele que é diferente dele, ao invés de simplesmente aceitar que existem pessoas de todos os tipos, de todos os gêneros, e que o que elas fazem de suas vidas sentimentais, não afeta os outros em nada.
Os protagonistas são muito bonitinhos, atores fofos e coisa e tal, mas devo admitir que não senti química de casal nos dois, preferia muito mais que a trama os trabalhasse apenas como amigos, porque sim minha gente, é possível existir amizade no mundo gay! Mas já que a história caminhava para um romance, o jeito foi aceitar, mesmo tudo relacionado ao relacionamento seja sem graça e sem paixão.
Em linhas gerais a história de Ari e Dante é simples, gostosinha de acompanhar, que como disse acima, não é perfeita, enfeitada e fantasiosa, tendo partes que nos puxam para a realidade, mas senti que ainda assim certas discussões ficaram superficiais. Se tratando do ano de 1987, acredito que o roteirista e diretor Aitch Alberto tinha uma base absurda para trabalhar muito mais a questão da intolerância, a questão do preconceito, a questão da AIDS que assolava a comunidade LGBT da época, enfim, poderia ser mais audacioso, ir além do simples romance adolescente, mas ainda assim ele entrega um filme bem satisfatório, ainda mais nesse deserto tão seco, que é o de produções de qualidade voltadas para o público LGBT.
Denis Villeneuve é de longe um dos diretores que mais me cativaram ao longo dos últimos anos, ele me deixou de boca aberta com alguns de seus títulos, principalmente suas ficções científicas Arrival (2016) e Dune (2021), essas que entraram para o meu clube de filmes favoritos. Entretanto ainda não posso colocá-lo no grupo dos meus diretores favoritos devido a inconstâncias, para cada obra que me apaixono, tem uma que me decepciona. Sicario é um que evitei assistir durante muito tempo, pois o gênero não chama minha atenção, mas resolvi dar uma oportunidade mesmo que tardiamente, e foi só para reforçar uma certeza que já tinha.
Na fronteira entre Estados Unidos e México, acompanhamos Kate, uma dedicada agente do FBI que é designada para ajudar no combate ao narcotráfico. Seu objetivo é derrubar um grande líder do crime organizado, entretanto isso não será nada fácil, já que ela será forçada a enfrentar tanto ameaças externas quanto internas.
Não sou fã de filmes policiais dessa linha “herói americano que combate o mal”, que quer acabar com o tráfico, que quer salvar as criancinhas que estão sendo ameaçadas e blá blá blá, para mim isso é pura hipocrisia ideológica. Lendo comentários avulsos na internet e assistindo vídeos de críticas, sempre soube do que esse aqui se tratava, e por isso nunca chamou minha atenção, e apesar da história ser bem construída, ele comete um crime muito pior do que ser ruim: é chata!! Chega a ser desinteressante em muito momentos, os personagens não cativam, e não entendam mal, não senti falta dos tiros, das explosões, dos esfaqueamento e do sangue comum ao gênero filme de “ação”, não é nada disso, aliás eu passo longe desse tipo, o problema é que a história não começa em momento algum, é como eu li um comentário aqui no Filmow, “o filme começa do nada e termina no lugar nenhum”, começa com uma trama e termina com outra, primeiro seguimos uma personagem e da metade pro final muda, é como se ninguém soubesse o que queria contar.
Villeneuve é um excelente diretor,e aqui ele reúne um cast brilhante, com os ótimos Emily Blunt, Benicio Del Toro e Josh Brolin como os protagonistas, mas infelizmente nenhum deles brilha. O personagens Del Toro ainda se destaca com um twist no final, mas nem assim foi algo que me animou, tanto que nem me importei com o desfecho de ninguém.
Sicario para mim fica como uma válida lição, de que quando você não gosta de uma coisa às vezes não vale a pena forçar, não importa se o diretor é um nível “A”, não importa se o elenco é de primeira, se o roteirista tem muitos trabalhos famosos, se o produto que está sendo oferecido já vem em uma embalagem que não te agrada, o melhor é passar longe. Apesar de não ter achado o filme ruim, e reconhecer suas qualidades técnicas como a excelente direção, e o show do elenco, confesso que já apaguei tudo da minha cabeça passado menos de 24h que assisti. Sei que existe uma sequência, e nos últimos meses vem se falando da possibilidade do Villeneuve retornar para um vindouro terceiro título, mas eu vou ficando por aqui, prefiro me concentrar nos próximos sci-fi do diretor, que nesse quesito ele (quase) nunca erra.
NIGHT SWIM Direção: Bryce McGuire Ano: 2024 Assistido em: 19/01/2024
Quando o ano começa eu já sei absolutamente todos os filmes que vou querer ver no cinema, muito raramente vou sem saber o que me espera, só que às vezes quando estou entre filmes, esperando a próxima estreia, fico com saudades de ir ao cinema e escolho um título aleatório e vou assistir sem quase nada saber. Com Night Swim o único detalhe que tinha conhecimento, eram as presença do Wyatt Russell e da Kerry Condon, e que havia uma piscina mal assombrada na história.
A família Waller se muda para uma nova residência com o objetivo de iniciar uma nova vida, já que Ray, um famoso jogador de beisebol, está em processo de tratamento devido à esclerose. Na nova residência, o ponto alto é a piscina que além de ajudar Ray em seu tratamento, torna-se o local favorito de sua esposa e filhos. Porém a casa dos sonhos logo se torna local de pesadelos, menos para Ray que é o único que se beneficia com o local, já os outros membros da família, estão assustados com visões e episódios cada vez mais perturbadores toda vez que estão dentro da água.
Uma piscina assassina pode até parecer uma ideia esdrúxula, mas o cinema do terror vive do absurdo, alguns dos melhores títulos do gênero nasceram de ideias estapafúrdias então é claro que isso aqui poderia dar muito certo, desde é claro, que se bem feito, e apesar das muitas falhas, é bem nítido que o diretor e roteirista Bryce McGuire se esforçou para conduzir essa trama da melhor maneira possível, mesmo que algumas derrapadas bem feias tenham ocorrido no processo.
O roteiro é basicão de sempre, bebeu muito de Amityville por exemplo, mas o grande problema aqui, é que Night Swim não assusta, na realidade ele não empolga em momento algum, é um filme que me deixou entediado mesmo sendo extremamente curto do alto de suas 1h38m, eu estava tão fatigado, que olhei no relógio umas cinco vezes, porque o que estava sendo apresentado nunca decolava, e claramente poderia ter rendido algo melhor caso seus personagens fossem melhor trabalhados e tivessem mais “profundidade”, até vemos uma boa apresentação do Ray, mas todos os outro são muito superficiais, feito de qualquer jeito, merecia mais esmero.
Foi-se o tempo que Blumhouse e James Wan eram sinônimos de bons filmes de terror, eles estão dando muitas vaciladas ultimamente, e mesmo que alguns títulos obtenham sucesso financeiro e repercussão como M3GAN (2022) para citar um exemplo, é inegável que não há mais aquele encantamento do passado, seria extremamente importante que os produtores descem uma revisada nos seus planos futuros, e começassem a reavaliar algumas produções, ponderando se vale a pena manchar o nome da marca em prol de alguns dólares, Night Swim mesmo vai passar batido, e creio eu que no final do ano ninguém nem mais vai lembrar de que se tratava essa estréia de janeiro.
Honestamente eu não entendo algumas taras que o ser humano tem, consigo entender o fascínio que o Everest exerce sobre as pessoas, afinal de contas estamos falando do ponto mais alto presente na Terra, à vista lá de cima com absoluta certeza é diferenciada, mas o que eu não consigo entender é essa vontade de se colocar em perigo. Existem alguns lugares no nosso planeta que não foram feitos para ter vida, nem animal nem vegetal, então não me entra na cabeça essa inexplicável atração por explorar certos locais, onde as condições naturais são extremas.
Em maio de 1996 somos apresentados a Rob Hall, um alpinista de grande renome que já subiu algumas das maiores montanhas do planeta, incluindo a maior, o Monte Everest. Ele está diante do que seria aparentemente mais uma subida, difícil, mas comum, entretanto quando Rob e Scott (que lidera uma outra expedição) acreditam que não teriam nenhum problema, eles vão descobrir da pior maneira possível que se algo não dá errado na ida, pode dar muito errado na volta.
Confesso que estava com esse filme há muitos anos na minha lista de pendências, mas que foi o lançamento de La Sociedad de la Nieve (2023), que fez com que eu furasse a fila de projetos e desse prioridade a Everest. E foi impossível não comparar os dois eventos, já que ambos retratam uma tragédia real ocorrida em uma montanha, onde vemos pessoas sucumbirem à força incontrolável da mãe natureza. Mas o paralelo mais interessante entre as duas histórias, é que enquanto os uruguaios de 1972 não tiveram “escolha” de ir parar nos Andes, todas as vítimas desse acidente de 1996 escolheram estar ali, não estou dizendo que eles foram os responsáveis de alguma forma pelo ocorrido, não é isso, somente me impressiona que quando falamos de algo tão arriscado quanto a subida ao Everest, as pessoas têm total ciência de que algo pode sair a seu controle, que algo pode dar terrivelmente errado, e ainda assim elas decidem ir em frente, só que lá em 1996 tudo que tinha pra dar errado, infelizmente deu.
Everest tem muito valor de produção, obviamente ele é praticamente todo feito em CGI, e apesar de algumas cenas deixarem isso bem visível, em quase que sua totalidade, o longa conseguiu ser bem realista. O elenco também é assombroso, Baltasar Kormákur conseguiu reunir uma equipe de primeira o único problema é que ter tantos atores talentosos com tantos personagens que necessitam de destaque, fez com que ninguém brilhasse como poderia/deveria, e esse é o principal problema do filme, não adianta nada ter nomes como Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Robin Wright, Keira Knightley, Martin Henderson e Emily Watson e não saber usá-los direito.
Everest traz uma sensação comum aos filmes de desastre, aquela que você sabe que algo vai dar errado a qualquer momento, particularmente eu sabia que houve algo que matou oito pessoas no Everest em 1996, mas eu não sabia o que era, e nem como tudo ocorreu, logo foi uma grande surpresa para mim a revelação do ocorrido, e quando as coisas começaram a sair do prumo.
No final a lição que fica (novamente) é de que o ser humano não é nada contra a natureza e que não vale a pena arriscar por mais que a recompensa de estar lá em cima deve ser algo único no mundo, o risco ao qual você se expõe é muito grande, basta ver a quantidade corpos que ficaram pelo caminho, inclusive dos membros desta expedição de 1996.
PAN Direção: Joe Wright Ano: 2015 Assistido em: 14/01/2024
Peter Pan é um clássico criado por J. M. Barrie que já teve incontáveis adaptações na história desde os anos 1900. É impossível calcular quantas vezes essa história já ganhou os palcos e as telas nos 120 anos de sua existência, mas uma coisa é inegável: para cada geração, há um filme do Pan que foi influenciado pelo momento histórico no qual foi produzido. Durante as décadas de 2000 e 2010 vimos uma infestação dos chamados “filmes de origem”, e com Peter não seria diferente, ele também ganhou um longa contando seu começo de carreira, e como ele chega ao ponto que todos conhecemos.
Na Londres da Segunda Guerra Mundial somos apresentados ao jovem Peter que cresce em um orfanato repleto de meninos, e onde além dos horrores da Guerra, ele enfrenta constantemente a total falta de carinho, afeto e atenção por parte das freiras que cuidam dele. Certo dia Peter é sequestrado por um navio voador e vai parar na chamada Terra do Nunca, que vem sendo assolada pelo terrível Barba Negra, lá Peter descobre que é peça fundamental para livrar o lugar dessa figura tão cruel, e mudar para sempre a vida de todos na Terra do Nunca.
Sendo honesto, não sei nem por onde começar a falar sobre esse filme, ele é tão insosso que me deixou sem palavras. Temos aqui a epítome de como deixar uma história desinteressante, pedante e genérica. Pan é retratado como o chose one, aquele que está destinado a salvar a Terra do Nunca, aquele herói clássico que não tem como fugir de sua missão sagrada e blá blá blá, algo que já estamos enjoados de assistir, sendo que a história do Peter é muito simples, ele é um garoto sem figura paterna, que recusa-se a crescer, não precisava de tanto floreio, de batalha, nada dessa bobajada toda, e o um único ponto que eu achei que seria interessante, que era ver o Gancho como aliado do Peter, nem chega a ser desenvolvido pelo roteiro, se você espera que o roteiro iria explorar o que leva os dois a se tornarem grandes inimigos, pode ir esquecendo, nada é mostrado aqui, todo foco fica no personagem horrendo de Hugh Jackman.
A trilha sonora é fraca, o CGI é pavoroso de ruim, os atores estão sem vontade, e olha que temos até nomes talentosos no cast, e o próprio Joe Wright parece que nem chegou a tentar criar algo interessante, simplesmente ligou o piloto automático e o foda-se e foi embora, entregou um pastiche de tudo que a gente já viu em outros filmes e em outras franquias.
Se Pan era uma tentativa da Warner Bros de recriar o fenômeno que foi Harry Potter (2001-2011) em pleno ano de 2015, eles quebraram a cara, e não tinha como ser diferente. Faltou cuidado, faltou vida, faltou alma, faltou tudo. Isso aqui é aquele tipo de filme que você assiste num domingo enquanto está jogado no sofá, justamente para tirar um cochilo, já que pouco ou quase nada pode ser salvo. Enfim, é só mais uma das muitas adaptações do personagem que foi rapidamente esquecida enquanto a próxima não apareceu.
Nos últimos anos produções de true crime cresceram muito no meio do cinema e da TV, não estou dizendo que o gênero surgiu por agora, mas é inegável que houve um grande crescimento de tudo relacionado a ele, e devo admitir que sou consumidor assíduo, principalmente de podcasts. Nesse contexto acabei por descobrir que o Denis Villeneuve, um dos diretores que mais passei a admirar nos últimos anos, tinha um filme que retrata um acontecimento sombrio da história do Canadá, o Massacre da Escola Politécnica de Montreal, ocorrido em 1989, então logo que descobri o ocorrido e sobre o filme, lá fui eu conferir.
No dia 6 de dezembro de 1989 um rapaz escreve um bilhete de despedida para sua mãe. Em seguida ele invade a Escola Politécnica de Montreal armado com um rifle semi-automático e começa um verdadeiro massacre. Entretanto, ele não matava aleatoriamente, ele tinha um objetivo bem específico: mulheres! Já que o mesmo se considerava um combatente ao movimento feminista.
Logo na primeira cena temos um letreiro informando que todos os personagens que aparecem em tela eram fictícios, por respeito às vítimas. Mas se quisessem mesmo respeitar suas memórias, por que não contaram suas histórias?! Ou então deixassem essa história quieta e não fizessem nada com ela, mas a partir do momento que você se propõe a contar um episódio tão pesado quanto o de um massacre, acredito que os roteiristas tinham a obrigação de dar voz às vítimas, de mostrar que aquelas mulheres tinham uma história, que elas tinham sonhos, que elas não foram apenas cordeiros sacrificados em um abate. Eu compreendo totalmente não querer difundir a ideologia do assassino, aí tudo bem, mas o mais estranho nesse filme é que Villeneuve mostra mais sobre o criminoso do que sobre suas vítimas.
Polytechnique é estranho, não é ruim, longe disso, mas ele é bem incomum, não só pelo fato de não trabalhar os personagens,não dar nenhum pano de fundo para eles, como pela sua estrutura. Curiosamente assim que o filme começou me lembrou mais os trabalhos do Christopher Nolan do que os outros títulos do Villeneuve, quem é fã do Nolan consegue encontrar facilmente elementos que se enquadram na filmografia dele, como a narrativa não linear e a fotografia em preto e branco sendo os maiores exemplos. Mas apesar de não lembrar nada dos demais trabalhos do Denis Villeneuve, ainda assim é possível encontrar o capricho habitual que ele coloca em suas histórias
Em linhas gerais Polytechnique é bom, mas poderia ser ótimo, quiçá excelente, a duração reduzida limita demais a história, que ficou concentrada apenas ao massacre, ao crime, ninguém ali tem uma vida pré acontecimento, existem sequências que retratam futuro de dois dos sobreviventes, mas é tudo muito rápido e superficial. Seria muito mais interessante caso ele se dedicasse a fazer todo um processo de construção daquelas figuras antes de nos entregar a carnificina, a forma como o filme foi entregue é basicamente a matança pela matança, sem conteúdo, sem sustância, o que infelizmente prejudica o resultado final.
PS: Sério, não tem como defender aquele idiota do Jean-François zanzando pelos corredores da escola ao invés de fugir, ligar para a polícia, para o socorro, ou qualquer coisa do tipo. Ele desfilando no meio do tiroteio, não tem como defender.
LA SOCIEDAD DE LA NIEVE Direção: J. A. Bayona Ano: 2023 Assistido em: 07/01/2024
A história do Voo da Força Aérea Uruguaia 571 é extremamente famosa, particularmente não me recordo quando tomei conhecimento do caso, só sei que já faz muitos anos que ouvi sobre ele pela primeira vez, e é simplesmente impossível não ficar extremamente impressionado com todo esse caso. Sei que existem outras adaptações cinematográficas sendo a mais famosa Alive (1993), do Frank Marshall, porém eu nunca tive oportunidade de assistir essas outras versões, sendo a de 2023 a primeira que consegui ter contato.
Em 13 de outubro de 1972, uma equipe de rugby uruguaia está de viagem marcada para o Chile, o grupo cuja faixa etária é muito jovem, é composto quase que inteiramente por amigos, por pessoas que se conhecem há muitos anos, e alguns até mesmo são familiares. Entretanto, o que eles não poderiam imaginar é que a simples viagem entre Montevidéu e Santiago, terminaria quando um gravíssimo acidente ocorreria enquanto eles sobrevoavam os Andes. Os sobreviventes são constantemente postos à prova em um ambiente completamente inóspito, onde não existe nenhum rastro de vida, seja ela animal ou vegetal.
J. A. Bayona nos entrega um filme bastante cru, ele tenta dar um rosto, uma perspectiva para todas as 45 pessoas que estavam a bordo daquele avião, nós temos todos os nomes e idades dos mortos na tela, ele se preocupa em nos mostrar o máximo daquelas pessoas, nos mostrando que elas tinham uma história, que elas não eram apenas vítimas daquela tragédia. A narração do Numa ajuda a deixar o público mais próximo daquela situação, por mais inimaginável que seja nos colocarmos no lugar deles.
Entre os muitos acidentes de avião que já presenciei em filmes, o de La Sociedad de la Nieve provavelmente é um dos mais impressionantes se não for o mais impressionante, nunca sofri um acidente de avião, para dizer a verdade nunca nem entrei em um, e espero que o dia que entrar, ocorra tudo bem, mas Bayona conseguiu tornar bastante realista o desastre do voo 571, foi de prender a respiração quando o avião parte ao meio, e outro ponto que o diretor acertou em cheio, foi nos convencer de que aquelas pessoas estavam em um ambiente terrível, deu para sentir o sofrimento delas, seja pelos ferimentos do acidente, seja pela escassez de alimentos, seja pelo frio extremo, ou pela terrível decisão que ele tiveram que tomar, a direção conseguiu, com a ajuda do excelente elenco obviamente, nos fazer mergulhar no pesadelo branco que aquelas pessoas viveram por quase três meses. É preciso ressaltar que mesmo diante do horror é possível encontrar beleza, sei que a situação daquelas pessoas era de morte certa, mas é inegável a beleza das montanhas congeladas, ou do céu coalhado de estrelas, mesmo que obviamente o que vemos no filme é apenas CGI
O acidente do Voo 571 é interpretado de duas maneiras, sob duas perspectivas completamente diferentes, enquanto muitos enxergam como uma grande desgraça, outros preferem se atentar ao “milagre” de 16 pessoas terem sobrevivido àquela situação, mas independente disso, La Sociedad de la Nieve é um filme muito triste, pois ele esfrega na nossa cara que nós seres humanos não somos absolutamente nada diante do poder da natureza, o quanto nós somos frágeis, o quanto nós somos simples, insignificantes diante da força daquela cordilheira, mas por outro lado ele também reforça que na hora do desespero, nas horas mais extremas, o ser humano consegue realizar atos em prol da coletividade, prova por A mais B que se aquelas pessoas não tivessem se unido, trabalhando juntas, tomado uma decisão cruelmente necessária, não haveria nenhum sobrevivente. Sou daqueles que não acredita em milagre, nessa história eu prefiro acreditar que o desejo de sobrevivência, a coletividade, e o fato do ser humano trabalhar como uma sociedade foram os principais fatores que intervieram para um desfecho não tão horrível quanto o que tudo indicava que seria.
PS: Infelizmente eu sei que esse filme não tem muitas chances de vitória nas premiações, mas é de muito longe o meu favorito para filme estrangeiro em todas os prêmios que ele disputar
THRILLER 40 Direção: Nelson George Ano: 2023 Assistido em: 07/01/2024
Existem pessoas que são tão boas naquilo que fazem que elas simplesmente mudam a história de algo completamente. Podemos dividir o mundo antes e depois de vários líderes políticos, de vários cientistas, de vários inventores, e no campo das artes o antes e depois de vários atores, roteiristas e diretores, e quando falamos de música é inegável que Michael Jackson é um desses divisores modernos, ele pode não ter criado a música pop, mas sem sombra de dúvida a mudou e a moldou para a forma que conhecemos hoje em dia.
Michael Jackson sempre foi um prodígio, sempre foi ele que levou os Jackson Five nas costas, isso é inegável. Quando ele começou a focar na sua carreira adulta no finalzinho dos anos 70 com o aclamadíssimo Off the Wall, Michael sentiu na pele muito preconceito. Foi muito difícil colocar suas músicas nas rádios porque existiam rádios de brancos e rádios de negros, então o sucesso de foi limitado, ele não teve o alcance que poderia ter, e logo não atingiu todo o seu potencial, portanto quando Michael se propoz a fazer o maior album da história ele tinha muito mais barreiras para quebrar do que qualquer outro artista, mais do que o Elvis Presley ou que os The Beatles, mas Jackson derrubou cada uma dessas barreiras, tijolo por tijolo.
Thriller é um daqueles raríssimos casos onde praticamente todas as músicas fizeram sucesso, todo fã do Michael Jackson conhece essa seleção de trás para frente, admito que não é meu álbum favorito dele, (ainda gosto mais da sonoridade de Dangerous e de Bad), mas é inegável a qualidade técnica, é inegável o poder do alcance dessas músicas, a trinca Billie Jean, Beat It e Thriller, são provavelmente as músicas mais famosas do Michael, são as músicas que melhor resistiram ao tempo e que passaram o legado dele adiante.
O grande problema desse documentário para mim é que ele foca mais no impacto do álbum do que na sua confecção, eu queria ter visto mais do processo criativo do Michael, queria ter visto a fonte de inspiração das músicas, queria ter ouvido pessoas que participaram do processo de gravação, conhecer todo o backstory, ESCUTAR UM DEPOIMENTO DO QUINCY JONES! Que é ao lado do MJ foi o maior responsável por essa obra-prima, e que sequer foi entrevistado, e outra, cadê o Paul McCartney?! Enfim, eu queria todos os detalhes possíveis, ouvir quem estava lá, e não apenas quem veio depois.
Apesar de ter uma qualidade muito grande e de trazer informações relevantes, e até mesmo algumas curiosidades desconhecidas, faltou o principal: Michael Jackson. Com absoluta certeza devem existir vídeos dele abordando o processo de criação de Thriller, alguma entrevista ou depoimento, sei lá, qualquer coisa que colocasse o MJ na tela por mais tempo já que infelizmente ele já faleceu. Thriller é provavelmente o mais importante álbum da carreira de Michael e um dos mais importantes da história da música como um todo, portanto ele merecia ser destrinchado de todas as formas e de todos os aspectos, de sua concepção, passando pela forma como trucidou o preconceito, seu legado, e até a hora que ele tornou a promessa Michael Jackson em sua majestade, O REI DO POP.
TAKERS Direção: John Luessenhop Ano: 2010 Assistido em: 06/01/2024
Nem só de clássicos vive um cinéfilo, escutei essa frase em algum lugar não sei onde, e de lá para cá, ano após ano, vou percebendo que isso é a mais pura verdade, para reconhecer os filmes bons precisamos ter experimentado os ruins também. Quando vi o elenco dessa produção, fiquei bastante animado, e mesmo que a história não tenha me encantado, decidi dar uma chance, só que não podia imaginar que seria algo tão patético.
Dois detetives estão à caça de um super grupo de ladrões que obteve êxito em todos os seus planos. Quando um antigo membro da equipe sai da cadeia, ele oferece um último trabalho para seus amigos. O problema é que tal empreitada vai colocar o grupo em linha de choque com as forças policiais, e também com perigosos membros da máfia russa, criando um verdadeiro caos.
Uma das coisas que mais me irrita, é ver que algumas pessoas defendem a ideia de que filmes de ação não precisam ter uma boa história, que não precisam ter bons personagens, com um bom desenvolvimento. Mas se a história não for boa, se os personagens não forem interessantes, não tem como o resultado final ser bom, tiro, pancadaria e explosões são legais, só que eles devem ser usados como adornos de algo maior e não o elemento principal. O que temos aqui é um bom exemplo disso, temos um elenco estelar, desperdiçado numa história medíocre, esquecível e com personagem sem um pingo de desenvolvimento, é como se tivessem aprovado o longa apenas pelo cast, sem nem ao menos ter uma ideia de roteiro.
Não conhecia o trabalho de John Luessenhop, e após esse desastre, fui dar uma olhadinha no perfil desse cidadão no IMDb, e descobri que ele fez apenas três filmes em 24 anos, e honestamente, por mim teria feito até menos. O sujeito não consegue manter a câmera parada, é um trimilique que não consigo entender, existe uma quantidade excessiva de cortes, uma simples cena de diálogo tem dezenas de cortes, ele só usa enquadramentos fechados, não tem um único plano aberto, você não entende as cenas de ação, você não entende o que tá acontecendo com o espaço, resumindo: é uma aula de como não se dirigir um filme, chega dar tristeza.
Além do saudoso Paul Walker, ainda temos Idris Elba, Matt Dillon, Jay Hernandez, Hayden Christensen, e Michael Ealy, atores que, com a direção certa e adequada, conseguem entregar alguma coisa. Mas queria saber quem foi que iludiu o Chris Brown dizendo ele é um ator, já não basta ser péssimo cantor, tem que ser ruim como ator também?!
Takers é um desperdício de potencial absurdo, fico imaginando se nas mãos de um bom roteirista, de um bom diretor, essa história poderia ter rendido uma boa produção de ação, mas o que é entregue é simplesmente pavoroso, como diz a Isabela Boscov, a única explicação que encontro para um elenco tão famoso, aceitar participar de uma desgraça dessas, só pode ser dívida de jogo.
V FOR VENDETTA Direção: James McTeigue Ano: 2005 Assistido em: 06/01/2024
Durante muitos anos escutei falar sobre a obra V de Vingança do Alan Moore, é de como era uma graphic novel espetacular, e que o filme era uma boa adaptação e blá blá blá. Entretanto nunca tive vontade de assistir apesar de gostar muito de assuntos como ditaduras, combate ao fascismo, distopias e etc, mas essa produção em especial nunca me chamou atenção, e o principal motivos é o fato do roteiro ser das Wachowski, que depois de The Matrix (1999) nunca mais fizeram nada verdadeiramente bom, mais ou menos sim, mas bom mesmo?! Nunca! E para completar a situação, a direção ficou a cargo de James McTeigue que é cria das irmãs, e um diretor sofrível, mas decidi dar a cara a tapa mesmo assim e me surpreendi, modestamente.
Em um futuro próximo, o Reino Unido elegeu Adam Sutler como novo chanceler, só que ele se revela um ditador que mergulha o país em um regime fascista extremamente repressivo e autoritário. Nesse cenário somos apresentados a V, um homem que esconde sua verdadeira identidade atrás de uma máscara de Guy Fawkes. Ele está decidido a derrubar o regime de Sutler e para isso, arquiteta um mirabolante plano que envolve toda a população do Reino Unido. Entretanto, seus planos mudam quando ele salva a jovem Every Hammond dos homens de Sutler.
Como bem disse o dramaturgo alemão Bertold Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”, e parece que essa frase nunca esteve tão correta quanto está agora, já que estamos passando por um momento em que governos da extrema direita estão assumindo poderes em diversos países, ou propagando seus ideais de ódio com muito mais força do que faziam a até poucos anos atrás. Sei que a obra original do Alan Moore saiu no finalzinho dos anos 1980, enquanto o filme por sua vez foi lançado há quase duas décadas, mas creio que V for Vendetta funcione muito melhor agora do que funcionava em 2005, já que estamos presenciando um momento que condiz muito mais com a história apresentada do que o contexto na qual ela foi escrita e posteriormente adaptada para o cinema.
Apesar de trazer uma mensagem extremamente relevante e de muita importância, como filme, a obra não me cativou tanto assim, roteiro e direção possuem muitas limitações, e não creio que os envolvidos foram as pessoas adequadas para traduzir essa história para as telas. Não conheço o material original, mas senti que estava assistindo algo que poderia ser muito mais intenso, o que temos aqui não é uma história de super-heróis com capa que voa pelos céus, a história é centrada em um homem que decidiu lutar contra um governo fascista, é claro que é fantasia, mas um cinema em seu estado mais puro seria melhor do que a forma rocambolesca como tudo foi conduzido, já que a todo momento o diretor reforçava que estávamos assistindo uma história em quadrinhos.
O elenco traz bons nomes como Natalie Portman, Hugo Weaving e John Hurt, a ideia é boa, mas sinto que V for Vendetta demora demais para engatar, não é um filme muito longo são apenas 2h13min, mas a primeira metade é cansativa, só fui mergulhar profundamente na proposta do segundo ato em diante, e é triste quando você não compra a história logo de cara. O que senti é que estava diante de uma boa ideia, porém de uma execução que não estava à altura, e que talvez com uma outra abordagem, por uma outra equipe, renderia algo melhor.
METROPOLIS Direção: Fritz Lang Ano: 1927 Assistido em: 01/01/2024
Continuando uma tradição que já dura muitos anos, o primeiro filme que assisto em um ano, sempre é um grande clássico que está há muito tempo na minha lista de pendências , mas que ainda não tive oportunidade de conferir, e para 2024 o escolhido foi o simbolo do expressionismo alemão, Metropolis, título esse que é tão importante, que mesmo que você nunca sequer tenha ouvido falar, com absoluta certeza já assistiu algo que foi influenciado por ele, que é indubitavelmente uma das obras cinematográficas mais importantes de todos os tempos.
100 anos no futuro a sociedade vive uma distopia onde a classe alta e a grande burguesia vivem em arranha-céus gigantescos na superfície, enquanto que a classe operária está confinada ao subterrâneo, Nesse contexto somos apresentados a Freder, filho de Joh Fredersen, o grande líder de Metropolis. Certo dia, quando Freder estava levando sua vida de playboy tranquilamente, surge em sua frente Maria, uma jovem da classe trabalhadora que bruscamente lhe mostra a diferença entre ele e os moradores do subsolo. Freder fica encantado pela moça, o que o leva a uma jornada de mudança de pensamento, entretanto tal sentimento vai em desacordo com os interesses de seu pai, que vai se aliar ao cientista Rotwang para utilizar a mais avançada tecnologia, a Máquina Homem, para acabar com tudo que Maria representa.
Sempre escutei que Metropolis era um filme a frente de seu tempo, e é até difícil acreditar que se trata produção realizada no final da década de 1920, mas tendo a oportunidade de assistir pela primeira vez, pude conferir que ele não só é a frente do seu tempo, como também é absurdamente certeiro em praticamente todas as suas previsões futuristas. Não sei se a Thea von Harbou tinha algum poder de prever o futuro, mas ela foi muito (in)feliz quando adivinhou que em um século, a tecnologia estaria tão avançada, que existiria uma inteligência artificial que seria uma ameaça. Atualmente vemos pessoas serem manipuladas por notícias falsas que são difundidas descontroladamente pela internet, profissões sendo extintas devido à evolução das máquinas, enfim, estamos vivendo a verdadeira “ameaça virtual”, e olha só Metropolis levantando essa questão, discutindo esse ponto quase 100 anos atrás, essa é daquelas histórias futuristas que rezamos para estarem erradas, mas que se mostrou assustadoramente precisa.
Sendo honesto, admito que não tenho muita experiência com o cinema mudo, tirando Charles Chaplin que para mim é um Deus, não sou muito de assistir produções sem áudio, mas Fritz Lang conseguiu me deixar muito imerso nessa história. O que mais me chamou a atenção nesse filme foram seus cenários, sei que é tudo maquete, sei que é tudo jogo de câmera para fazer com que elas pareçam gigantescas, que é tudo perspectiva, mas eles conseguiram criar uma sensação de que de fato estamos diante de uma cidade futurística colossal, com arranha-céus imensos, onde carros, aviões e pessoas transitam pelo espaço, dando uma sensação de uma vida apressada e corrida, algo que quem já morou em uma cidade grande sabe muito bem como é. Os cenários desse filme são tão espetaculares que até hoje eles influenciam não só o cinema, mas videogames, séries de TV, histórias em quadrinho, enfim é algo tão espetacular que sobreviveu ao tempo.
Por se tratar do expressionismo alemão, temos atuações muito peculiares, elas são extremamente exageradas com emoções muito intensificadas algo que evoca muito do teatro, isso até pode ser um pouco estranho para quem não tem costume (como eu), mas não condena o filme, afinal de contas é uma característica do gênero, aqui provavelmente temos as bases de alguns arquétipos cinematográficos eternos como o cientista maluco por exemplo, nos mostrando que Metropolis não segue tropos, mas sim os inventa.
A década de 1920 é particularmente tumultuada na história da Alemanha, ainda assim Fritz Lang e equipe criaram uma obra que é irretocável, que é eterna, que sobreviveu ao teste mais difícil de todos, o do tempo. Sempre fico impressionado como tem alguns filmes que são tão aclamados quando são lançados, são sucesso de bilheteria, a crítica se derrete por eles, e passados alguns anos (quiçá alguns meses) ninguém mais se lembra, caem totalmente no ostracismo, basta ver por exemplo, alguns vencedores do Oscar dos últimos 10 anos que ninguém sabe mais nem os nomes. Metropolis em contra partida, assim como alguns de seus contemporâneos, não só sobreviveu ao tempo, como sua influência continua até hoje. Pode passar mais um século que essa história continuará atual, sua técnica continuará sendo estudada e replicada, pois o que é feito com esmero continua relevante e influente passe o tempo que passar. Uma das jóias da coroa do cinema não só alemão, mas mundial, Metropolis merece todos os elogios que recebeu, e precisa ser redescoberto pela Nova Geração, é uma tristeza saber que atualmente sua versão completa está perdida, e que a mais próxima da totalidade possui cenas gravemente avariadas, uma obra tão icônica merecia ter sido melhor preservada.
ELEMENTAL Direção: Peter Sohn Ano: 2023 Assistido em: 31/12/2023
Eu sou cria da Pixar, uma das minhas melhores lembranças dos tempos de escola foi ter assistido A Bug’s Life (1998) pela primeira vez durante uma sessão de cinema EM VHS na primeira série, de lá para cá, caí de amores pelo estúdio, que foi durante muitos anos o melhor no quesito produções animadas dos Estados unidos, não tinha Disney, não tinha Dreamworks que batesse de frente. Entretanto a década de 2010 foi bastante sofrível para eles, após Toy Story 3 (2010), que foi excelente, a Pixar só foi nos entregar outro clássico com “c” maiúsculo com Inside Out (2015), e dali em diante foi só ladeira abaixo, com produções que, eram boas, mas não boas o suficiente para estar no mesmo nível dos títulos iniciais, ou que eram simplesmente descartáveis, tanto que simplesmente pulei os últimos lançamentos sem nenhum remorso, mas decidi retornar agora com Elemental, e que bom que me surpreendi novamente.
Em um mundo mágico, criaturas compostas pelos quatro elementos vivem em harmonia na cidade Elemental. Somos apresentados a Ember, filha de imigrantes do elemento fogo que lutaram para conquistar seu lugar na periferia da cidade. Ember se prepara para assumir o negócios na loja da família, porém seu temperamento “esquentado” pode pôr tudo a perder. Quando a loja do seu pai é quase destruída, Ember conhece Wade, um fiscal da prefeitura do elemento água, que vai se tornar muito mais do que um grande amigo.
A Pixar tem um toque mágico para criar universos, eles pegam os conceitos mais absurdos e transformam em magia, fizeram isso com brinquedos, com insetos, com peixes, com emoções, e agora com os quatro elementos da natureza. Eles conseguem encantar as crianças e passar uma grande lição para os adultos, afinal de contas foi isso que tornou essas produções sucessos gigantescos do cinema, já que elas funcionam com perfeição para todos os públicos.
Aqui temos uma clara alusão à situação de imigrantes na América, o diretor Peter Sohn é filho de coreanos, então ele tem bastante lugar de fala para poder contar uma história como da Ember, mas surpreendente é perceptível que todos os moradores do bairro do fogo representavam o pessoal do Oriente Médio, mas independente se seja da Coréia ou das Arábias, a questão é que o filme traz uma forte mensagem sobre o quão difícil é você abandonar sua terra natal e ir para um lugar onde não é bem recebido, e ainda assim tem que lutar para poder construir uma vida nova, talvez essa mensagem nunca tenha sido tão necessária, haja vista a situação geopolítica que vivemos atualmente.
Sohn é o diretor daquele que é disparado o pior filme do estúdio, The Good Dinosaur (2015), mas aqui, ele meio que desfez a sua péssima primeira impressão, Elemental traz um mundo encantador, repleto de magia, como a muito não se via na Pixar, misturando Romeu e Julieta com criação de universo inovador. Apesar de não colocá-lo no pódio dos melhores títulos da empresa, é um filme que está no grupo dos “acima da média”, e o que mais gostei desde do já citado Inside Out, lançado há quase 10 anos. Em uma época em que vemos a Disney investir descontroladamente em sequências, como o vindouro Toy Story 5, ou fazendo spin-off desnecessário como Lightyear (2022), o que temos aqui é um respiro, é um alívio ver uma animação como Elemental, que teve que lutar para se provar nas bilheterias, mas que conseguiu sair por cima, e sem sombra de dúvidas é um bom ensaio para um possível retorno do estúdio a boa forma.
Já disse em comentários anteriores que eu não sou muito conhecedor do cinema francês, mas essa semana em particular foi muito atípica, pois assisti duas produções vindas da França, o primeiro foi o ótimo Joyeux Noël (2005), e o segundo foi Anatomia de uma Queda, que vem se mostrando como um dos mais elogiados da temporada. Quando li a sinopse fiquei bastante animado porque sou apaixonado por filmes de tribunal, portanto cometi um gravíssimo erro, fui assistir com muitas expectativas.
Numa região isolada e montanhosa no interior da França vive Sandra com seu esposo, Samuel, seu filho Daniel, que ficou cego devido a um acidente, e o cachorro da família. Eles levam uma vida aparentemente normal, entretanto tudo vem abaixo quando Samuel é encontrado morto do lado de fora da casa. Quando a polícia chega ao local Sandra é vista como a única suspeita.
Eu amo os chamados courtroom drama, adoro ver personagens acuados, sendo acusados, lutando por suas vidas, enquanto detalhes nos são revelados aos poucos, fazendo com que possamos montar um enorme quebra-cabeça até chegarmos a uma conclusão. Entre meus favoritos do gênero estão 12 Angry Men (1957), Madame X (1966), A Few Good Men (1992) Primal Fear (1996) entre muitos outros, e o que todos têm em comum? Grandes personagens, grandes histórias, e grandes atuações, aqui até encontramos uma boa estrutura narrativa, mas infelizmente ela nunca alcança o ápice, ficando mais desinteressante à medida que a trama avança.
A história começa bem, temos um corpo, e precisamos entender como as coisas aconteceram, aparentemente Sandra é a única culpada, só que o longa vai se esvaziando, a história não engrena, não engata. A duração é ótima para desenvolver uma trama, mas aqui, esse tempo foi um um tiro no pé, porque simplesmente não existe uma conteudo para cobrir esse tempo ao mesmo tempo que sustenta o interesse do público ao longo de toda duração, a grande sensação que eu tenho é que o filme começa em nada e termina em lugar nenhum, com um desfecho que é um ultraje.
Quem esperou por um grande drama de tribunal, com grandes interpretações, e grandes momentos está completamente iludido, a Sandra Hüller é muito boa, e está excelente, assim como o jovem Milo Machado-Graner, ambos têm momentos dramáticos muito interessantes, garantindo um bom drama, mas ainda assim muito desinteressante na parte de tribunal, sendo um dos mais decepcionante que vi nos últimos tempos.
Como disse na abertura, cometi a imensa falha de esperar um grande filme de tribunal, e não foi isso que encontrei, não estou dizendo que é ruim, dá para notar todo o esmero dos realizadores, mas faltou história, faltou uma montagem melhor, faltou mais dinamismo e principalmente faltou coragem para tomar um posicionamento no final. Deixar perguntas em aberto, para a imaginação do público completar, é uma decisão que particularmente sempre achei muito covarde, e aqui não foi diferente.
Pegando Fogo
3.3 545 Assista AgoraBURNT
Direção: John Wells
Ano: 2015
Assistido em: 04/02/2024
Nos últimos anos estamos vivendo uma verdadeira “febre culinária”, a TV está cheia de programas sobre cozinheiros, reality shows estão fazendo com que o mundo das receitas que antes ficava restrito apenas às fãs da Ana Maria Braga, estejam alcançando uma grande gama de pessoas, mas não me encaixo nesse grupo, ainda não assisti The Bear, não tenho saco para o Masterchef, ou qualquer outra mídia que tenha comida e/ou restaurantes como tema, e cheguei a esse filme meio que por acaso, e que filminho mequetrefe hein?!
Adam foi um renomado cozinheiro no passado, mas perdeu tudo devido ao vício em álcool e drogas. Após um período de reabilitação ele tem uma nova oportunidade quando é contratado para um novo restaurante em Londres, entretanto, além do vício, o difícil temperamento do chef pode ser um grande empecilho para ele alcançar novamente a glória do passado.
Lida a sinopse, fiquei com esperanças de que estivesse diante de um grande drama, um filme de superação sobre um viciado que ganha uma nova oportunidade na vida e vai fazer de tudo para agarrá-la, só que não é isso que encontramos aqui, mas sim uma história morna, sem sal, sem tempero, que não explora o real potencial, seja da sua temática, seja do seu intérprete. Nas mãos de um roteirista/diretor ousado e que não tem medo de nos mostrar os seus personagem no fundo do poço, essa história poderia ter rendido bastante, mas John Wells prefere a superficialidade, não se aprofundar de verdade em nada, e consequentemente não entrega absolutamente nenhum impacto para o espectador.
Bradley Cooper é um excelente ator, ele tem performances absurdas, e creio que um dia ele vai ganhar o Oscar, (e graças aos deuses do cinema não vai ser com essa essa porqueira desse Maestro (2023)), mas aqui ele tem todo seu potencial desperdiçado, com um personagem medíocre que poderia ser vivido por qualquer ator comum, e que não desafia Cooper para que ele ofereça tudo o que poderia, o mesmo pode ser dito do Daniel Bruhl, da Siena Miller, do Matthew Rhys, da Uma Thurman, da Emma Thompson, da Alicia Vikander, e de todo o restante do elenco.
Fazendo uma alusão bem ruinzinha com comida, Burnt tinha excelentes ingredientes, entretanto um cozinheiro meia boca pilotando o fogão, tanto que entregou um prato sem sal, sem tempero, sem graça, o filme é chato, sonolento e não prende a atenção, resumindo é um desperdício de todos os seus envolvidos, talvez seja recomendado para o dia que você esteja com sono e queira dormir mais depressa, mas fora isso, é algo que é melhor manter distância.
O Último Reino: Sete Reis Devem Morrer
3.7 60 Assista AgoraTHE LAST KINGDOM: SEVEN KINGS MUST DIE
Direção: Edward Bazalgette
Ano: 2023
Assistido em: 04/02/2024
Como sou um apaixonado por história, desde que The Last Kingdom estreou em 2015 eu tinha pretensão de assisti-la, entretanto o tempo foi passando e eu fui adiando, dando preferência para outras produções e quando assustei a série foi concluída. Um ano depois a Netflix lançou esse filme que servia como epílogo para a história do Uhtred de Bebbanburg, e só então com toda a história completa, resolvi que era a hora de tirar essa saga da minha lista de pendências.
Uhtred vive um tempo de paz em Bebbanburg, após finalmente conseguir recuperar aquilo que lhe era de direito. Entretanto sua paz é interrompida devido à morte do Rei Edward, que desencadeia uma briga por poder no qual seu primogênito Athelstan sairá vitorioso. Entretanto para a decepção de Uhtred, Athelstan não vai ser um rei tão compassivo assim, já que ele irá colocar em prática o plano de seu avô, o Rei Alfred, a unificação de todos os reinos da ilha da Grã-Bretanha sobre a bandeira da Inglaterra, não importando o que tem que ser feito para isso.
Bom quem conhece um pouquinho dos bastidores dessa série sabe que ela foi concluída antes do Bernard Cornwell encerrar a saga das Crônicas Saxônicas, portanto, esse longa meio que foi um “tapa buraco”, para não deixar a produção televisiva incompleta, entretanto não sou o maior adepto de filmes serem usados para concluir séries, ambos os produtos são linguagens muito diferentes, ímpares, um filme precisa ter uma história mais concisa, enquanto uma série se permite abordar mais temas, ter um desenvolvimento mais demorado. Encaixar todos os finais em apenas duas horas, obrigou os roteiristas a sacrificarem muitos ponto, então não vemos a morte do Edward, vemos Athelstan assumir uma postura que não é condizente com a postura dele no episódio anterior da série, não vemos os destinos dos filhos do Uhtred, enfim, o que temos aqui é meio que um prêmio de consolação para agradar o público, já que a decisão de encerrar o show em sua quinta temporada, foi tomada no princípio da formatação do programa, antes da conclusão do Cornwell para seus livros .
Tecnicamente falando, esse filme não tem diferença nenhuma da série, é a mesma equipe, tem o mesmo valor de produção, percebe-se que não teve nenhum grande orçamento, resumindo é um trabalho modesto, regular, aliás chamá-lo de filme é um adjetivo muito forte, vamos dizer que são dois episódios especiais que condensam muito da história, e deram um título diferente. O elenco é o mesmo, o nível do roteiro é o mesmo, o que salva que a história é boa e apesar de ser contada de uma forma atropelada, ela ainda possui muito valor para quem acompanhou todos todas as temporadas anteriores.
The Last Kingdom: Seven Kings Must Die finaliza a saga do Ulthred de uma forma peculiar, ele até agrega valor a franquia, mas também não é indispensável, quem quiser ficar com o último episódio da quinta temporada da série como seu desfecho, pode ficar numa boa, porque esse longa não vai fazer falta. Seria muito melhor uma sexta temporada contando essa história de uma forma mais palatina, cadenciada, ao invés da pressa e da correria com que foi, mas apesar dos pesares, em uma era onde séries são canceladas abruptamente deixando seu público na mão, creio que um filme encerrando em definitivo e até é melhor do que nada, apesar de que mesmo sendo bom, ele poderia ser muito melhor.
Acusados
3.9 202 Assista AgoraTHE ACCUSED
Direção: Jonathan Kaplan
Ano: 1988
Assistido em: 03/02/2024
Sou um apaixonado por dramas de tribunal, e curiosamente apesar de já conhecer a história desse filme há muitos anos, principalmente devido ao fato da Jodie Foster ter ganho seu primeiro Oscar por ele, nunca tive a oportunidade de assisti-lo, isso até hoje, quando pude conferir essa obra impressionante, impactante e importante, e que deveria e merecia ser mais reconhecida no meio cinematográfico.
Certa noite a jovem Sara é violentada por três homens em um bar, ela procura a polícia, e o caso vai parar nas mãos da promotora Kathryn que logo faz um acordo com os acusados e finaliza o caso para a total insatisfação de Sara. Se sentindo culpada por não ter feito justiça, Kathryn descobre que ainda poderia conseguir prender mais culpados por essa história, recorrendo a uma manobra pouco antes vista na história dos tribunais americanos: processar os “espectadores” do estupro, que incentivaram o mesmo e nada fizeram para impedir que ocorresse.
Eu não fazia a menor ideia de que esse longa era vagamente inspirado e um caso real, sempre acreditei que era um drama legal de uma garota abusada sexualmente, mas não imaginava que o grande foco do roteiro não fosse a luta dela contra os estupradores, mas sim contra aqueles que testemunharam e nada fizeram, ou melhor, fizeram sim, instigaram a violência. Quando tomei conhecimento da história real ocorrida em 1983 nos Estados Unidos fiquei morto de curiosidade pelo filme que só pode ser descrito como brutal. Vemos uma mulher ser violentada, desacreditada, desrespeitada, humilhada e sendo julgada ao invés daqueles que são os verdadeiros criminosos.
Além de uma discussão absurda sobre as nossas responsabilidades civis, temos uma Jodie Foster espetacular, seja nos seus momentos de fragilidade, seja nas erupções de raiva de sua personagem, a atriz está fenomenal, foi merecidíssimo o seu primeiro Oscar de melhor atriz por esse trabalho, outro destaque é Kelly McGillis, que nesse final de anos 80 fazia grandes papéis em filmes importantes, pena que infelizmente ela não conseguiu manter o sucesso da carreira com o passar dos anos. Outro que merece destaque é o Leo Rossi, que me fez sentir mais ódio do personagem dele do que dos próprios estupradores, o homem estava absurdo, de despertar a ira no espectadores, e isso é devido a excelente performance e a direção afiada.
The Accused nunca seria feito nos dias de hoje, ele pode soar errado em muitos momentos porque obviamente estamos lidando com uma produção do final dos anos 1980, então o que hoje é considerado absurdo, naquela época era o normal, por isso não espere por um tratamento adequado para a vítima de abuso sexual, isso não existe aqui. Outra coisa que não imaginaria e que o filme mostraria a cena do estupro, foi surpreendente observar que o diretor Jonathan Kaplan a manteve no corte final, e a mesma foi tão bem realizada que conseguiu ser bem desconfortável e aterrorizante para quem assisti. Estamos diante de um filme que infelizmente não recebe o devido reconhecimento, já que ele traz uma discussão séria, relevante e que deveria ser ainda mais difundida no cinema, fala sobre os limites que devem ser impostos e respeitados, sobre como não tratar uma vítima de abuso, e principalmente que esse tipo de crime não pode ficar impune. Só espero que nesses 36 anos que separam 1988 de 2024, as leis norte-americanas e de todo o restante do mundo tenham sido endurecidas em relação a isso, porque um estuprador receber uma pena de cinco anos é surreal, é algo inaceitável.
Cavaleiro de Copas
3.2 413 Assista AgoraKNIGHT OF CUPS
Direção: Terrence Malick
Ano: 2015
Assistido em: 03/02/2024
Já prometi para mim mesmo inúmeras vezes, que tenho que parar com essa mania estúpida de querer assistir alguns filmes apenas pelo seu elenco, ou apenas por um ator específico. Tenho Christian Bale como o meu ator favorito, e isso já tem muitos anos, então quando ele está em um projeto automaticamente vou atrás, mas demorei 9 anos para poder assistir Knight of Cups, instintivamente já sabia que esse não era para mim e quando chegou a hora de finalmente conferir, a obra se mostrou ainda pior do que eu imaginava que seria.
Durante duas horas acompanhamos o personagem de Christian Bale caminhando de um lado para o outro, encontrando diversas pessoas, fazendo coisas aleatórias, muitas sem sentido, e todas desinteressantes, não existem diálogos complexos, ou sequer uma linha narrativa clara, e isso dá um sono desgraçado. Sempre soube que o Terrence Malick tem alguns filmes contemplativo, mas nunca fui atrás de nenhum deles porque isso não é para mim, sou um cara que gosta de diálogo, assisto cenas gigantescas de personagens discutindo e argumentando com um sorriso de orelha a orelha, mas não me ponha para assistir uma coisa dessas, de imagem aleatórias e sem sentido que isso não faz meu gênero.
Acredito que se você for fazer uma alegoria, ela precisa ter uma lógica para que as pessoas que vão contemplar a obra percebam do que se trata, entendam que é uma crítica, que é uma sátira, enfim, li algumas possíveis interpretações sobre esse filme na internet, e a mais aceitável é a de que o “roteiro” aborda a construção de um filme em Hollywood, e honestamente, se essa era a ideia original do Malick, para mim ele falhou miseravelmente, porque em momento algum consegui sentir que era isso que ele tava contando.
A única explicação que encontro para um elenco tão estelar ter aceitado participar desse projeto é devido ao forte nome do Terrence Malick, ele é um diretor muito conceituado em Hollywood e é devido a essa fama que acredito que ele tenha conseguido reunir Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Antonio Banderas, Jason Clark, Ben Kingsley, Wes Bentley, Ryan O’Neal entre outros, porque honestamente eu não consigo visualizar a cena de nenhum deles lendo esse “roteiro” e achando a história boa.
Esse é o primeiro trabalho do Malick que assisto, e só não vai ser o último porque eu ainda pretendo assistir aos quatro primeiros filmes dele, que são muito famosos e de uma época anterior a essa fase dele de querer usar o cinema para questionar a vida, ou seja lá qual é o objetivo desses filmes contemplativos que pra mim não passam de imagens aleatórias que não despertam interesse. Acredito que cada diretor faça o que bem entender com seu filme, mas antes de qualquer coisa é necessário que o público entenda, porquê do que que adianta você fazer um trabalho que só faça sentido para seu idealizador?! Talvez fosse melhor ter feito um vídeo caseiro, ao invés de uma produção que desperdiça tantos talentos, resumindo tudo: eu só queria minhas duas horas de vida de volta.
Argylle: O Superespião
2.8 86ARGYLLE
Direção: Matthew Vaughn
Ano: 2024
Assistido em: 02/02/2024
Se tem um diretor que soube conquistar meu coração na década passada, esse foi o Matthew Vaughn, desde que assisti Kingsman: The Secret Service (2014) pela primeira vez lá em 2015, me apaixonei perdidamente pelo universo, pela ironia, pelo deboche, pela piada que ele fazia com os clichês do mundo da espionagem, e de lá para cá Vaughn continuou focado nesse universo, e no seu primeiro passeio fora desse mundo, ele nos entrega Argylle que também trata sobre espionagem. E mesmo não conseguindo desgostar dos trabalhos atuais do diretor, tenho que admitir que esse é o pior filme dele desde Layer Cake (2004), seu primeiro trabalho de direção.
Elly Conway é uma escritora renomada do gênero suspense de espionagem, ela se tornou famosa com a série Argylle, que é um verdadeiro fenômeno literário. Quando Elly está concluindo o quinto livro da sua saga, ela é abordada por Aidan, um homem que alega ser um espião que quer salvá-la de uma perigosa organização secreta que esta atrás dela. Agora Elly deverá correr para salvar sua vida enquanto a ficção escrita para seus livros se mistura à sua realidade.
Vaughn resolveu brincar com público, Argylle é um seu trabalho mais diferente, e devo dizer que é mais um dos títulos recentes com o qual Hollywood está enganando o espectador. Como ocorreu recentemente com Wonka (2023) e com a nova versão de Mean Girls (2024), quem assistir ao trailer, ou só vê o pôster pode ser levado a crer que o protagonista dessa história é o personagem título interpretado por Henry Cavill, mas é aí que está o pulo do gato, Argylle é apenas um personagem criado por Elly, todas as cenas que Cavill está envolvido são uma enorme brincadeira, um contraste entre o que é a espionagem de ficção e a “espionagem real”, ou seja mais uma vez Vaughn brincando com a diferença que existe entre o trabalho ficcional de espiões e o trabalho da “realidade”, entretanto apesar da ideia ser boa a execução não foi das melhores, temos um filme inchado, cansativo e que é repleto de twists, dos quais alguns funcionam e outros não.
Eu teria adorado se os vilões fossem de fato pais da Elly, que ela fosse essa outsider, essa pessoa que cai de paraquedas nesse mundo. Mas quando revelam que ela era uma espiã, e que todas as histórias escritas para o Argylle na realidade são suas lembranças que ela havia perdido devido a um condicionamento de memória realizado pela Catherine O’Hara, o filme me perdeu. É como se o que havia de melhor nele fosse jogado na lata do lixo, já temos inúmeros filmes de super espiões, não precisava de mais um, seria muito mais interessante vermos a dinâmica de um civil no meio da loucura, entretanto isso ficou com deus.
O elenco desse filme é uma coisa de louco, Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Catherine O’Hara, Bryan Cranston, Samuel L. Jackson e o gatinho Chip (gato da esposa do Vaughn) esbanjam carisma, e seguram seus personagens mesmo quando o roteiro não colabora, o ponto fraco fica para Henry Cavill e John Cena, aqui ainda mais canastrões do que a história exigia. Ainda temos muita loucura ala Matthew Vaughn, mas achei ele muito controlado, ainda temos as sequências de luta ao som de boas músicas, mas por mim teria mais violência, como em Kingsman e Kick Ass (2010) por exemplo.
Argylle é uma proposta extremamente audaciosa, Vaughn e a Apple tem planos gigantescos para essa nova marca, mas infelizmente creio que esses planos não serão concretizados tendo em vista a repercussão negativa que o filme está tendo, e principalmente ao desempenho da bilheteria que provavelmente será catastrófico. Honestamente não me importo muito com isso não, eu ainda estou esperando pelo meu Kingsman 3 concluindo a saga do Galahad, e quero que depois disso o Vaughn vá urgentemente atrás de outros projetos, que saia fora desse negócio de história em quadrinhos e de espionagem, ele é um excelente diretor, muito talentoso para ficar preso a um gênero, seria um desperdício, não que esse novo projeto seja de todo ruim, mas é decepcionante, haja vista o nível dos responsáveis pela execução do mesmo, é um filme divertido, que você vai assistir e esquecer, uma simples diversão passageira, coisa que não espero do Vaughn.
A cena pós-créditos revelando que Argylle faz parte da Kingsman deveria me animar, mas confesso que não fiquei muito empolgado não, mesmo sendo apaixonado pelo universo do Eggsy.
Sunrise
2.3 2SUNRISE
Direção: Andrew Baird
Ano: 2024
Assistido em: 28/01/2024
Hollywood está cada dia que passa mais suja, os estúdios e as distribuidoras estão escondendo gêneros, estão fazendo de tudo para tentar convencer o público a se levantar da cadeira de casa e ir para poltrona do cinema. Quando saíram as primeiras notícias sobre esse projeto “informaram” que ele era um terror de vampiro, protagonizado por Guy Pearce e Alex Pettyfer, e como sou muito fã de histórias vampirescas e gosto bastante dos dois atores em questão, imediatamente fiquei animado para assistir, pena que assim como o Pica-Pau: fui tapeado.
No noroeste dos Estados Unidos somos apresentados a uma pequena cidadezinha onde o perverso Reynolds controla tudo com mãos de ferro e extrema violência. Entretanto, tudo vai mudar quando o misterioso Fallon chega ao local e coisas estranhas relacionadas a lenda do Capa Vermelha começam a ocorrer.
Quem pensa que isso aqui é um filme sobrenatural está muito enganado, toda a mística envolvendo o tal do Capa Vermelha é praticamente inexistente, tem pouquíssimas cenas de terror e todas elas muito desinteressante, Sunrise está mais para um suspense de vingança (mal feito) do que um filme de horror, e tudo isso com uma história pífia e personagens que são uma verdadeira água de salsicha de tão sem sal e sem gosto.
Como disse, gosto muito do Alex Pettyfer só que oh personagenzinho horroroso que ele tá fazendo aqui, é o típico forasteiro que chegam à cidade e decide ajudar seus moradores só que porra o sujeito era para ser uma entidade, uma criatura da noite, e ele não faz quase que merda nenhuma, tem uma história triste, mas caguei para isso, quem tem um destaque um pouquinho melhor é o Guy Pearce no papel de vilão genérico que controla a vida de todos, mas ainda assim não é nada demais, e só menos pior que todo o resto.
Com um roteiro fraquíssimo, personagens sem vida, sem brilho e com atuações apagadas Sunrise é uma enorme decepção. Se você chegou aqui esperando por um filme vampiro desista, não é nada disso que você vai encontrar, aliás nem terror você vai achar, é um filme B de suspense/vingança, que há uns 20 anos atrás era lançamento direto para DVD e hoje chega nos streamings, aliás, nem sei que milagre isso não foi lançado pela Netflix e sim por vídeo on demand.
Planeta do Tesouro
3.7 208 Assista AgoraTREASURE PLANET
Direção: John Musker e Ron Clements
Ano: 2002
Assistido em: 28/01/2024
Ron Clements e John Musker para mim são dois dos nomes mais importantes da história do cinema, e não estou exagerando, eles estão entre os mais cultuados diretores da história da Disney, e direciono a eles a responsabilidade pela formação de uma geração inteira de apaixonados pelo cinema. Eles são aqueles que deram o pontapé inicial na chamada Era Renascentista, período entre 1989 e 1999 no qual a Disney saiu do fundo do buraco e voltou a ter relevância com suas animações, nesse período eles dirigiram nada mais nada menos que The Little Mermaid (1989), Aladdin (1992) e Hercules (1997), três dos mais amados e queridos filmes do estúdio. E como eu era criança nesse período, Clements e Musker tem um verdadeiro altar aqui em casa, já que basicamente muito do que eu amo, vem do trabalho deles.
Jim Hawkins é um jovem que desde criança sonha em conquistar as estrelas. Certo dia Jim encontra um mapa para o tesouro do Capitão Flint, tesouro esse que é cobiçado por todos os piratas do universo. Quando o pirata John Silver chega a estalagem de Jim, eles vão embarcar em uma viagem pelo espaço em busca do tão desejado tesouro.
Chega a ser triste falar sobre esse filme, quem conhece um pouquinho da história da Disney ou da história dos diretores sabe que esse projeto demorou muito para sair do papel, Clements e Musker apresentaram a ideia de um filme baseado em A Ilha do Tesouro junto com o projeto da pequena sereia, isso em meados de 1985/86, mas enquanto a história da Ariel foi aprovada, essa daqui foi escanteada, e depois disso eles tentaram tirá-lo do papel por diversas vezes, mas o mesmo sempre era recusado pela Disney. Por um lado eu agradeço a recusa do rato, já que foi graças a isso que conseguimos três obras primas da animação, mas por outro fico triste de saber que quando finalmente os diretores conseguiram o aval para fazer o seu projeto dos sonhos, ele foi um puta fracasso.
Meu grande problema com esse filme é que não consegui reconhecer nele as características comuns às obras dos seus realizadores, ele é baseado no livro do Robert Louis Stevenson, entretanto é levado para as telas de uma forma apática, seus personagens são fracos e nada interessantes. A adaptação não chega a ser um problema, afinal de contas Clements e Musker são especialistas no assunto, já que levaram para as telas uma história do Hans Christian Andersen, outra das de As Mil e uma Noites, e até mesmo fizeram uma salada com os milenares mitos da Grécia Antiga, ou seja trabalhar personagens originados em outras fontes nunca foi o problema, entretanto em Treasure Planet faltou brilho, faltou vida, é tudo estranho, e não falo isso nem pela estética, mas por toda a composição da história, é algo pouco inspirado, que chega soa estranho levando em consideração que era o projeto dos sonhos.
Apesar do visual diferente, mas bonito, e da trilha sonora interessante, Treasure Planet falha em se conectar com seu público, ele não é divertido para uma criança ao mesmo tempo que também não consegue falar com os adultos, bem diferente das três obras-primas anteriores dos seus realizadores. Com admirador muito apaixonado do trabalho da dupla de ouro da Disney, me dói não ter gostado desse filme, fiquei com um gosto amargo na boca.
É triste saber que o fracasso dessa e de outras produções foram decisivos para a Disney abandonar as animações 2D, e mais triste ainda saber que o primeiro grande fracasso de Ron Clements e John Musker foi justamente aqueles pelo qual eles mais lutaram para tirar do papel. Fui assistir Treasure Planet de mente aberta, querendo gostar de tudo que estava assistindo, mas infelizmente não deu certo. É óbvio que ele não chegou nem perto de arranhar a admiração que tenho pelo trabalho do Clemente e do Musker, mas é desconfortável saber que eles têm essa bomba no currículo.
Os Suspeitos
4.1 782 Assista AgoraTHE USUAL SUSPECTS
Direção: Bryan Synger
Ano: 1995
Assistido em: 27/01/2024
Eu amo suspense policial com plot twist, sou daqueles que vai atrás de listas, que vai no IMDb, que assiste o WatchMojo procurando qualquer nova recomendação do gênero, e mesmo venerando esse tipo específico de produção, nunca tive a oportunidade de assistir The Usual Suspects, que é de longe um dos mais famosos desse estilo. Sempre que eu via alguma menção ao seu roteiro, eu parava a leitura, pulava o vídeo, enfim, fazia de tudo para não estragar ainda mais minha futura experiência, já que conheço o fim da história há muitos anos, e agora chegada a hora de assistir… caramba que decepção!!
Após um barco ser incendiado no cais resultando em dezenas de mortos, a polícia interroga Verbal Kint, um dos únicos sobreviventes do crime. Kint vai aos poucos revelando toda a trama que levou ele e mais quatro criminosos a chegarem naquela embarcação e como se deu o massacre, entretanto a polícia tem muitas dúvidas, já que a história é mais complexa do que parece.
Olha eu sempre soube que esse filme tinha ganhado o Oscar de melhor roteiro original, só que logo nos primeiros minutos, eu já me perguntava como isso aconteceu. Sou muito fã do McQuarrie, ele é muito bom roteirista basta ver o excelente trabalho que ele fez nos últimos anos com a franquia Missão Impossível, mas gente isso aqui é uma bagunça, o roteiro é extremamente confuso, tem uma narrativa não linear, mas o público fica perdido logo no começo. Tudo bem que a edição do John Ottman também não ajuda, mas esse roteiro é muito caótico, existem diretores que conseguem contar uma história em ordem não linear de uma forma impecável vide Christopher Nolan e Quentin Tarantino só para citar dois exemplos, mas aqui não é o caso, você fica perdido e demora para conseguir se orientar, entender o que que tá acontecendo, e até mesmo no final, quando as peças começam a se encaixar, ainda assim existe a sensação de desorientação pois o filme simplesmente não consegue transmitir sua história com clareza.
O grande trunfo de The Usual Suspects está no plot twist, sendo inclusive bem mais lembrado por ele do que por sua história no geral, e é claro temos também a atuação do Kevin Spacey, mas sem sombra de dúvidas é a reviravolta do final que faz a fama, reviravolta essa que para mim foi estragada lá atrás, no primeiro Todo Mundo em Pânico (2000) há mais de 20 anos, mas ainda assim eu tinha esperança já que com outros filmes que também assisti após saber o final, eu consegui me surpreender com a construção do desfecho dos mesmos, vide Psicose (1960), Planeta dos Macacos (1968) e Clube da Luta (1999), mas aqui isso não ocorreu. Para dizer a verdade achei toda essa trama sobre a identidade do Keyser Söze bem sem graça e previsível, achei simplesmente impossível assistir sem desconfiar do Kint nem que seja por um segundo, só se a pessoa nunca assistiu a um thriller na vida.
Polêmicas à parte, eu gosto do trabalho do Bryan Singer e acho Kevin Spacey um ator espetacular, e eles ainda contam com Gabriel Byrne, Benicio del Toro, Giancarlo Esposito entre outros no cast, mas de The Usual Suspects não me cativou, tem a questão da expectativa, e quanto maior, maior é a decepção, e nesse caso eu tinha MUITAS expectativas. Sobre essa história, mesmo estando entre os famosões do plot twist, esse aqui é muito morno e sem graça. Talvez uma polida nesse roteiro, se fossem aparadas algumas tramas paralelas, e fosse mais objetivo ele funcionaria melhor, mas a impressão que tive é que Singer e McQuarrie simplesmente embaralharam a história para tentar fazer com que o público não perceba o que viria ao final. Mesmo com pontos positivos, é impossível ignorar a sensação de desorientação que esse roteiro deixa com em muitos momentos, do começo ao fim do filme.
PS: John Doe de Seven (1995), lançado no mesmo ano, é melhor que o Keyser Söze em tudo, seja na escrita, na atuação do Spacey, no impacto na cultura pop, enfim impossível não compará-los e ver como um é muito superior ao outro.
Quero ser Grande
3.7 802BIG
Direção: Penny Marshall
Ano: 1988
Assistido em: 27/01/2024
Se tem uma coisa que é admirável nesse mundo é a inocência das crianças, quando você é pequeno é muito comum querer crescer o mais rápido possível para fazer coisas que te proíbem, é frequente escutar frases como “quando eu crescer”, “quando eu for grande vou fazer isso e aquilo”, e é claro que os grandões de Hollywood também já foram crianças, e como eles gostam de ganhar dinheiro em cima de literalmente tudo, não poderiam deixar passar batido esse sentimento das crianças, e logo produzem a rodo diversos filmes que retratam os pequenos se tornando adultos em um passe de mágica, e aqui temos aquele que provavelmente é o mais famoso com essa proposta.
Josh é um garoto de 12 anos de idade que mora com sua família na cidade de Nova York, ele tem uma vida normal para sua faixa etária, e seu único grande problema é não ser um pouco maior, ser mais velho. Certo dia, enquanto passeava por um parque com sua família, ele acaba encontrando uma máquina esquisita que concede desejos, e como alguém que não tem nada a perder, Josh acaba pedindo para ser maior, o problema é que no dia seguinte ele acorda com 30 anos de idade, sendo forçado a mudar sua vida radicalmente.
Sejamos honestos, quantos de nós não queríamos ser mais velhos quando crianças, e agora que somos adultos daríamos de tudo para voltar a ser pequenos?! Essa é uma daquelas grandes ironias da vida, de você sempre querer aquilo que não se pode ter. Big é uma fantasia deliciosa que trata justamente sobre isso, vemos como Josh faria de tudo para ser grande, e quando ele consegue, e começa a sentir o peso das responsabilidades, da rotina, da pressão de ser um adulto, logo quer voltar a ser criança. Por outro lado também vemos uma crítica muito interessante, o dono da empresa de brinquedos, o sr. MacMillan, vê naquele adulto (que ele não sabe que é uma criança de 13 anos) um comportamento infantil, mas não enxerga isso como algo ruim, ele reconhece uma mentalidade que não é boba, e sim mais inocente, não seria essa uma crítica do filme para nos alertar que nós enquanto adultos, deveríamos ter essa visão mais inocente da vida!? Sem malícia, sem maldade, simplesmente buscarmos por simplificar nossas relações, vejam as crianças, elas brigam hoje é amanhã estão de boa brincando juntas novamente, não guardam mágoa de ninguém, o roteiro nos desperta essa linha de raciocínio, nos chamando a ser mais como as crianças que fomos um dia.
Apesar de começar como uma comédia, nos prometendo gargalhada soltas com aquele menino tendo que se enquadrar no padrão de um homem de 30 anos, a história é muito mais que isso, da metade em diante a diretora Penny Marshall e os roteiristas Gary Ross e Anne Spielberg (irmã do Steven), viram uma chavinha e transformam a trama em um drama romântico, isso não é ruim de forma de forma alguma, mas particularmente me senti um pouco traído, porque esperava rir e de repente eu estava me emocionando por conta dos questionamentos que o filme estava levantando, pela linha de pensamento que ele estava me obrigando a aderir. A parte romântica se estende demais, e particularmente preferia ele voltado para comédia, mostrando mais dos perrengues do Josh do que tendo um relacionamento com uma mulher muito mais velha, mas isso não é algo que prejudique o saldo geral, só é algo que me pegou desprevenido e que acabou influenciando um pouquinho o minha reação a obra.
Tom Hanks está soberbo, ele conseguiu aqui a sua primeira indicação ao Oscar, e ganhou um Globo de Ouro de melhor ator de comédia, e você vê que o porquê, ele está impecável, Hanks se diverte, ele tem essa carinha de inocente, de jovem, e seus trejeitos estão maravilhosos, ele tem uma atitude de criança e nos convence que é uma. A linda da Elizabeth Perkins tem uma veia cômica incrível, e o filme deveria ter investido nisso, mas provavelmente nessa época ela ainda não tinha se enveredado para parte da comédia, quem já assistiu Weeds (2005-2012) sabe do que que estou falando, também temos Robert Loggia muito bem, e fazendo uma pontinha bem rapidinha, no estilo quem piscou perdeu, temos a maravilhosa da Debra Jo Rupp que é uma atriz que eu amo de paixão.
Estou assistindo Big pela primeira vez agora com 31 anos de idade, praticamente a idade que o Tom Hanks tinha quando fez o filme, e que pena que ele não fez parte da minha infância, porque é maravilhoso. É claro que eu já conhecia a clássica cena da loja de brinquedos, onde Hanks e Loggia tocam a “música da Danoninho” com os pé no piano de chão, mas Big é muito mais do que isso, é um filme bonito que nos leva a compreender que tudo a seu tempo, que devemos curtir a nossa infância e adolescência porque elas são curtas e passam rápido, que a vida adulta vai chegar cheia de problemas, mas que se encararmos tudo de peito aberto e com a serenidade, a simplicidade, a honestidade e a fé das crianças, às vezes essa fase seria mais gostosa de ser vivida, enfim é uma produção que nem parece ter seus 36 anos de lançada, envelheceu bem demais e vale muito a pena ser assistido por todas as gerações.
Conta Comigo
4.3 1,9K Assista AgoraSTAND BY ME
Direção: Rob Reiner
Ano: 1986
Assistido em: 21/01/2024
Como já devo ter dito em dezenas de outros comentários, não fui aquele aquela criança, aquele adolescente que vivia assistindo a Sessão da Tarde, estudei no período vespertino durante todo o meu ensino fundamental, e só assistia a sessão nas férias, ou quando não ia a aula, portanto muitos clássicos só fui conhecer depois de velho. E pode até ser um crime dizer isso, afinal de contas Stephen King é de longe um dos meus autores favoritos, mas somente agora, aos 31 anos de idade, tive a oportunidade de assistir Stand by Me, e honestamente creio que o assisti na hora certa, já que a minha cabeça do passado não teria maturidade suficiente para entender todas as camadas apresentadas.
No final dos anos 1950 um grupo de quatro amigos da pequena Castle Rock no Oregon, decide entrar numa jornada durante um final de semana, observar o corpo de um garoto que estava desaparecido há alguns dias, e que estava jogado a beira de um ruim. Ao longo dessa jornada vemos os laços de amizade sendo reforçados, sendo transformados por um processo que mudará a vida desses meninos para sempre.
Os chamados coming of age movies estão aí desde que o cinema nasceu, alguns passam batidos, outros entram para cultura pop, o fato é que a nossa infância e adolescência são os períodos mais curtos de nossas vidas, e ainda assim são aqueles responsáveis por basicamente todas as decisões que tomamos no nosso futuro, é com base nas experiências, nos traumas, nos medos e nas realizações desses períodos que vamos pautar muitas das nossas atitudes futuras, então é muito comum você encontrar no cinema filmes que retratam a transição, o momento da chamada perda da inocência, quando finalmente percebemos que no futuro nada será como antes.
Sou muito fã dos trabalhos dos anos 80 e 90 do Rob Reiner, ele é responsável por alguns dos melhores títulos desse período. Ele já tinha garantido todo o meu respeito com a brilhante adaptação que fez de Misery (1990) uma das melhores obras do Stephen King, mas aqui ele me cativa mais uma vez, com um filme simples (não simplório), com personagens bem desenvolvidos, com cenas muito bonitas, ótima direção de elenco, enfim um trabalho singelo, sem grandes pretensões, mas tão marcante, com diversas passagens e momentos que me fizeram pensar não só sobre a minha infância, mas também como sobre a minha vida adulta, e é incrível ver o processo de crescimento daqueles quatro garotos em tela e Reiner conseguiu captar isso com maestria.
Na cena final do filme vemos os meninos retornarem a Castle Rock e narrador diz que a cidade “parecia estar menor”, obviamente sabemos que na realidade eram eles que estavam maiores, foram eles que amadureceram, foram eles que passaram a enxergar a vida de uma forma diferente, a cena retrata com perfeição a mudança de chave que na vida real não é em um momento tão específico, mas que você entende que dali para frente tudo vai ser diferente. Outro momento muito interessante é quando a narração revela que nunca mais os quatro se reuniram daquela maneira, tal qual faria em It (1986) Stephen King se recusa a manter essa “mística” de que amigos de infância e adolescência vão estar com você para sempre, ele escancara o que é verdade em 99% das situações: que essas pessoas passaram na sua vida e se foram, e que só vão ficar na sua memória, pois no futuro o contato será praticamente inexistente, amo como King sempre nos lembra disso, e que no final a única coisa que resta são as lembranças das experiências conjuntas, essas sim, ficam conosco para sempre.
Reiner escolheu um elenco que dá um show, e como era talentoso o River Phoenix, e é tão triste saber que a vida dele seria tão curta, e tudo o que iria acontecer pouco tempo depois do lançamento desse filme, temos também Wil Wheaton que estava excelente, e o debutante Jerry O’Connel que também estava muito bem, porém eu tenho um sério problema com o Corey Feldman, nunca gostei dele, acho péssimo em tudo que faz e aqui ele já dava sinais da desgraceira que viraria lá na frente, o único ponto negativo dos quatro protagonista para mim é ele, finalizando temos Keith Sutherland e John Cusack bem novinhos, mas já esbanjando competência.
Stand by Me é ótimo, ele tem todo aquele espírito dos anos 80 que fazia daqueles filmes algo mágico, algo tão especial e inesquecível. Sem sombra de dúvidas é um dos melhores trabalhos do Rob Reiner e merece todos os status que adquiriu ao longo dos anos, toda a força, toda a potência que fazem dele um dos mais queridos desse período. Essa é de longe uma das raras boas adaptações que o King teve para os cinemas, e é inegavelmente um clássico que nos deixa reflexivos, e que funciona para todas as idades porque conversa conosco em todos os momentos, sem sombra de dúvidas um filmaço.
PS: Nunca entendi o motivo da mudança do título de The Body para Stand by Me, mas só de ouvir a música clássica Ben E. King tocando no começo e no final, valeu demais, essa música é de arrepiar.
A Travessia
3.6 613 Assista AgoraTHE WALK
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 2015
Assistido em: 21/01/2024
Algumas pessoas têm feitos únicos na vida, e não importa o que aconteça, não dá mais para se igualar. Philippe Petit é uma dessas pessoas, ele não só fez algo de uma dificuldade e periculosidade extremas, como que também é impossível de se repetir nos dias de hoje, portanto nada mais justo do que imortalizar seu feito em um filme, só que não precisava ser um tão chato.
Na década de 1970 a cidade de Nova York contemplava o lançamento do World Trade Center o maior centro financeiro do país, sua joia da coroa, entretanto eram as Torres Gêmeas, dois edifícios gigantescos, lado a lado, que se tornaram a maior construção feita pelo homem até então. As Torres chamam a atenção de Philippe, um equilibrista francês que teve a brilhante ideia de esticar um cabo de aço entre as duas e atravessar de uma pra outra.
Robert Zemeckis foi um dos principais nomes do cinema nas décadas de 1980/1990, entretanto de uns tempos para cá ele perdeu aquele toque mágico que garantia que tudo que fizesse renderia uma grande produção cinematográfica. Antes de mais nada deixo bem claro que não achei The Walk um filme ruim, eu disse que ele é chato, o feito de Petit é inegavelmente de tirar o fôlego, digno de aplausos, e ele merece ser reconhecido por isso até o fim de seus dias, mas a história apresentado em tela é muito chata, você sabe que será recompensado ao final com algo grandioso, mas o caminho até lá é doído.
O personagem Petit é um saco, ele mesmo diz em determinado momento que é uma pessoa difícil, mas eu não diria que era difícil, diria que ele é insuportável. Ok o homem precisa ser metódico, precisa ser focado para atingir o seu objetivo, que não é algo fácil, mas nada justifica ser um babaca com os amigos e com a namorada, aí já é demais. Outro detalhe que me incomoda horrores foi a narração, e ainda pior que a narração foram as interrupções mostrando Joseph Gordon Levitt em cima da tocha da Estátua da Liberdade com um CGI HORRENDO, sério Zemeckis?! Pra que isso?! Quebrava minha imersão a cada uma das inserções, e não foram poucas.
The Walk é um filme competente, tem seus acertos, e te entrega o que prometeu, afinal de contas a cena da travessia é muito bem feita, só que é um filme sem vida, sem alma, não é algo que você vai se lembrar, que vai ficar na memória, é só mais um daqueles que assim que subirem os créditos você vai deletar da cabeça, e é uma pena, principalmente se tratando de um profissional tão talentoso quanto Zemeckis, que precisa urgentemente dar uma revitalizada na sua carreira, e voltar a nos entregar os trabalhos grandiosos que outrora já entregou.
Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante
3.4 41 Assista AgoraARISTOTLE AND DANTE DISCOVER THE SECRETS OF THE UNIVERSE
Direção: Aitch Alberto
Ano: 2022
Assistido em: 20/01/2024
Pode até parecer piada, mas no primeiro momento que eu li o título desse filme eu pensava que se tratava de alguma ficção científica sobre dois amigos que tinha alguma ligação com o universo, espaço ou ciência, e decidi assistir sem nem ler a sinopse, e que baita surpresa ao perceber que se tratava de um temático sobre dois adolescentes descobrindo a sua sexualidade em plena década de 1980, é aquele belo ditado: mirei no que vi acertei no que não vi.
Em 1987 somos apresentados a Aristotle, conhecido como Ari, um jovem totalmente introvertido, que não se socializa, e que vive bem solitário. Entretanto tudo muda quando um dia no clube de natação ele acaba conhecendo Dante, que o ensina a nadar, dali nasce uma bela amizade que aos poucos vai se revelando algo muito maior na vida dos jovens.
Não sou maior adepto de filmes adolescentes, mas admito que quando se trata de um filme sobre adolescentes gays se descobrindo, ele ganha minha atenção de imediato. Como homossexual, creio que é muito importante retratar esse período que é o verdadeiro caos nas nossas vidas, se para os héteros, que são socialmente aceitos, não é fácil ser adolescente, imagine para nós gays, que nos sentimos ainda mais desconexos em um mundo que nos renega! Enfim, retratar isso é importante porque pode ajudar uma série de pessoas que está sofrendo neste exato momento, e nesse sentido o filme arrasa, porque trabalha muito bem o processo de descoberta, ao mesmo tempo que também não é aquele sonho adolescente utópico, como por exemplo aconteceu em Love, Simon(2018), aqui (ainda que de uma maneira mais moderada) conhecemos a força do ódio do ser humano, que simplesmente prefere matar aquele que é diferente dele, ao invés de simplesmente aceitar que existem pessoas de todos os tipos, de todos os gêneros, e que o que elas fazem de suas vidas sentimentais, não afeta os outros em nada.
Os protagonistas são muito bonitinhos, atores fofos e coisa e tal, mas devo admitir que não senti química de casal nos dois, preferia muito mais que a trama os trabalhasse apenas como amigos, porque sim minha gente, é possível existir amizade no mundo gay! Mas já que a história caminhava para um romance, o jeito foi aceitar, mesmo tudo relacionado ao relacionamento seja sem graça e sem paixão.
Em linhas gerais a história de Ari e Dante é simples, gostosinha de acompanhar, que como disse acima, não é perfeita, enfeitada e fantasiosa, tendo partes que nos puxam para a realidade, mas senti que ainda assim certas discussões ficaram superficiais. Se tratando do ano de 1987, acredito que o roteirista e diretor Aitch Alberto tinha uma base absurda para trabalhar muito mais a questão da intolerância, a questão do preconceito, a questão da AIDS que assolava a comunidade LGBT da época, enfim, poderia ser mais audacioso, ir além do simples romance adolescente, mas ainda assim ele entrega um filme bem satisfatório, ainda mais nesse deserto tão seco, que é o de produções de qualidade voltadas para o público LGBT.
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 942 Assista AgoraSICARIO
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2015
Assistido em: 20/01/2024
Denis Villeneuve é de longe um dos diretores que mais me cativaram ao longo dos últimos anos, ele me deixou de boca aberta com alguns de seus títulos, principalmente suas ficções científicas Arrival (2016) e Dune (2021), essas que entraram para o meu clube de filmes favoritos. Entretanto ainda não posso colocá-lo no grupo dos meus diretores favoritos devido a inconstâncias, para cada obra que me apaixono, tem uma que me decepciona. Sicario é um que evitei assistir durante muito tempo, pois o gênero não chama minha atenção, mas resolvi dar uma oportunidade mesmo que tardiamente, e foi só para reforçar uma certeza que já tinha.
Na fronteira entre Estados Unidos e México, acompanhamos Kate, uma dedicada agente do FBI que é designada para ajudar no combate ao narcotráfico. Seu objetivo é derrubar um grande líder do crime organizado, entretanto isso não será nada fácil, já que ela será forçada a enfrentar tanto ameaças externas quanto internas.
Não sou fã de filmes policiais dessa linha “herói americano que combate o mal”, que quer acabar com o tráfico, que quer salvar as criancinhas que estão sendo ameaçadas e blá blá blá, para mim isso é pura hipocrisia ideológica. Lendo comentários avulsos na internet e assistindo vídeos de críticas, sempre soube do que esse aqui se tratava, e por isso nunca chamou minha atenção, e apesar da história ser bem construída, ele comete um crime muito pior do que ser ruim: é chata!! Chega a ser desinteressante em muito momentos, os personagens não cativam, e não entendam mal, não senti falta dos tiros, das explosões, dos esfaqueamento e do sangue comum ao gênero filme de “ação”, não é nada disso, aliás eu passo longe desse tipo, o problema é que a história não começa em momento algum, é como eu li um comentário aqui no Filmow, “o filme começa do nada e termina no lugar nenhum”, começa com uma trama e termina com outra, primeiro seguimos uma personagem e da metade pro final muda, é como se ninguém soubesse o que queria contar.
Villeneuve é um excelente diretor,e aqui ele reúne um cast brilhante, com os ótimos Emily Blunt, Benicio Del Toro e Josh Brolin como os protagonistas, mas infelizmente nenhum deles brilha. O personagens Del Toro ainda se destaca com um twist no final, mas nem assim foi algo que me animou, tanto que nem me importei com o desfecho de ninguém.
Sicario para mim fica como uma válida lição, de que quando você não gosta de uma coisa às vezes não vale a pena forçar, não importa se o diretor é um nível “A”, não importa se o elenco é de primeira, se o roteirista tem muitos trabalhos famosos, se o produto que está sendo oferecido já vem em uma embalagem que não te agrada, o melhor é passar longe. Apesar de não ter achado o filme ruim, e reconhecer suas qualidades técnicas como a excelente direção, e o show do elenco, confesso que já apaguei tudo da minha cabeça passado menos de 24h que assisti. Sei que existe uma sequência, e nos últimos meses vem se falando da possibilidade do Villeneuve retornar para um vindouro terceiro título, mas eu vou ficando por aqui, prefiro me concentrar nos próximos sci-fi do diretor, que nesse quesito ele (quase) nunca erra.
Mergulho Noturno
2.2 103 Assista AgoraNIGHT SWIM
Direção: Bryce McGuire
Ano: 2024
Assistido em: 19/01/2024
Quando o ano começa eu já sei absolutamente todos os filmes que vou querer ver no cinema, muito raramente vou sem saber o que me espera, só que às vezes quando estou entre filmes, esperando a próxima estreia, fico com saudades de ir ao cinema e escolho um título aleatório e vou assistir sem quase nada saber. Com Night Swim o único detalhe que tinha conhecimento, eram as presença do Wyatt Russell e da Kerry Condon, e que havia uma piscina mal assombrada na história.
A família Waller se muda para uma nova residência com o objetivo de iniciar uma nova vida, já que Ray, um famoso jogador de beisebol, está em processo de tratamento devido à esclerose. Na nova residência, o ponto alto é a piscina que além de ajudar Ray em seu tratamento, torna-se o local favorito de sua esposa e filhos. Porém a casa dos sonhos logo se torna local de pesadelos, menos para Ray que é o único que se beneficia com o local, já os outros membros da família, estão assustados com visões e episódios cada vez mais perturbadores toda vez que estão dentro da água.
Uma piscina assassina pode até parecer uma ideia esdrúxula, mas o cinema do terror vive do absurdo, alguns dos melhores títulos do gênero nasceram de ideias estapafúrdias então é claro que isso aqui poderia dar muito certo, desde é claro, que se bem feito, e apesar das muitas falhas, é bem nítido que o diretor e roteirista Bryce McGuire se esforçou para conduzir essa trama da melhor maneira possível, mesmo que algumas derrapadas bem feias tenham ocorrido no processo.
O roteiro é basicão de sempre, bebeu muito de Amityville por exemplo, mas o grande problema aqui, é que Night Swim não assusta, na realidade ele não empolga em momento algum, é um filme que me deixou entediado mesmo sendo extremamente curto do alto de suas 1h38m, eu estava tão fatigado, que olhei no relógio umas cinco vezes, porque o que estava sendo apresentado nunca decolava, e claramente poderia ter rendido algo melhor caso seus personagens fossem melhor trabalhados e tivessem mais “profundidade”, até vemos uma boa apresentação do Ray, mas todos os outro são muito superficiais, feito de qualquer jeito, merecia mais esmero.
Foi-se o tempo que Blumhouse e James Wan eram sinônimos de bons filmes de terror, eles estão dando muitas vaciladas ultimamente, e mesmo que alguns títulos obtenham sucesso financeiro e repercussão como M3GAN (2022) para citar um exemplo, é inegável que não há mais aquele encantamento do passado, seria extremamente importante que os produtores descem uma revisada nos seus planos futuros, e começassem a reavaliar algumas produções, ponderando se vale a pena manchar o nome da marca em prol de alguns dólares, Night Swim mesmo vai passar batido, e creio eu que no final do ano ninguém nem mais vai lembrar de que se tratava essa estréia de janeiro.
Evereste
3.3 550 Assista AgoraEVEREST
Direção: Baltasar Kormákur
Ano:2015
Assistido em: 14/01/2024
Honestamente eu não entendo algumas taras que o ser humano tem, consigo entender o fascínio que o Everest exerce sobre as pessoas, afinal de contas estamos falando do ponto mais alto presente na Terra, à vista lá de cima com absoluta certeza é diferenciada, mas o que eu não consigo entender é essa vontade de se colocar em perigo. Existem alguns lugares no nosso planeta que não foram feitos para ter vida, nem animal nem vegetal, então não me entra na cabeça essa inexplicável atração por explorar certos locais, onde as condições naturais são extremas.
Em maio de 1996 somos apresentados a Rob Hall, um alpinista de grande renome que já subiu algumas das maiores montanhas do planeta, incluindo a maior, o Monte Everest. Ele está diante do que seria aparentemente mais uma subida, difícil, mas comum, entretanto quando Rob e Scott (que lidera uma outra expedição) acreditam que não teriam nenhum problema, eles vão descobrir da pior maneira possível que se algo não dá errado na ida, pode dar muito errado na volta.
Confesso que estava com esse filme há muitos anos na minha lista de pendências, mas que foi o lançamento de La Sociedad de la Nieve (2023), que fez com que eu furasse a fila de projetos e desse prioridade a Everest. E foi impossível não comparar os dois eventos, já que ambos retratam uma tragédia real ocorrida em uma montanha, onde vemos pessoas sucumbirem à força incontrolável da mãe natureza. Mas o paralelo mais interessante entre as duas histórias, é que enquanto os uruguaios de 1972 não tiveram “escolha” de ir parar nos Andes, todas as vítimas desse acidente de 1996 escolheram estar ali, não estou dizendo que eles foram os responsáveis de alguma forma pelo ocorrido, não é isso, somente me impressiona que quando falamos de algo tão arriscado quanto a subida ao Everest, as pessoas têm total ciência de que algo pode sair a seu controle, que algo pode dar terrivelmente errado, e ainda assim elas decidem ir em frente, só que lá em 1996 tudo que tinha pra dar errado, infelizmente deu.
Everest tem muito valor de produção, obviamente ele é praticamente todo feito em CGI, e apesar de algumas cenas deixarem isso bem visível, em quase que sua totalidade, o longa conseguiu ser bem realista. O elenco também é assombroso, Baltasar Kormákur conseguiu reunir uma equipe de primeira o único problema é que ter tantos atores talentosos com tantos personagens que necessitam de destaque, fez com que ninguém brilhasse como poderia/deveria, e esse é o principal problema do filme, não adianta nada ter nomes como Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Robin Wright, Keira Knightley, Martin Henderson e Emily Watson e não saber usá-los direito.
Everest traz uma sensação comum aos filmes de desastre, aquela que você sabe que algo vai dar errado a qualquer momento, particularmente eu sabia que houve algo que matou oito pessoas no Everest em 1996, mas eu não sabia o que era, e nem como tudo ocorreu, logo foi uma grande surpresa para mim a revelação do ocorrido, e quando as coisas começaram a sair do prumo.
No final a lição que fica (novamente) é de que o ser humano não é nada contra a natureza e que não vale a pena arriscar por mais que a recompensa de estar lá em cima deve ser algo único no mundo, o risco ao qual você se expõe é muito grande, basta ver a quantidade corpos que ficaram pelo caminho, inclusive dos membros desta expedição de 1996.
Peter Pan
3.2 559 Assista AgoraPAN
Direção: Joe Wright
Ano: 2015
Assistido em: 14/01/2024
Peter Pan é um clássico criado por J. M. Barrie que já teve incontáveis adaptações na história desde os anos 1900. É impossível calcular quantas vezes essa história já ganhou os palcos e as telas nos 120 anos de sua existência, mas uma coisa é inegável: para cada geração, há um filme do Pan que foi influenciado pelo momento histórico no qual foi produzido. Durante as décadas de 2000 e 2010 vimos uma infestação dos chamados “filmes de origem”, e com Peter não seria diferente, ele também ganhou um longa contando seu começo de carreira, e como ele chega ao ponto que todos conhecemos.
Na Londres da Segunda Guerra Mundial somos apresentados ao jovem Peter que cresce em um orfanato repleto de meninos, e onde além dos horrores da Guerra, ele enfrenta constantemente a total falta de carinho, afeto e atenção por parte das freiras que cuidam dele. Certo dia Peter é sequestrado por um navio voador e vai parar na chamada Terra do Nunca, que vem sendo assolada pelo terrível Barba Negra, lá Peter descobre que é peça
fundamental para livrar o lugar dessa figura tão cruel, e mudar para sempre a vida de todos na Terra do Nunca.
Sendo honesto, não sei nem por onde começar a falar sobre esse filme, ele é tão insosso que me deixou sem palavras. Temos aqui a epítome de como deixar uma história desinteressante, pedante e genérica. Pan é retratado como o chose one, aquele que está destinado a salvar a Terra do Nunca, aquele herói clássico que não tem como fugir de sua missão sagrada e blá blá blá, algo que já estamos enjoados de assistir, sendo que a história do Peter é muito simples, ele é um garoto sem figura paterna, que recusa-se a crescer, não precisava de tanto floreio, de batalha, nada dessa bobajada toda, e o um único ponto que eu achei que seria interessante, que era ver o Gancho como aliado do Peter, nem chega a ser desenvolvido pelo roteiro, se você espera que o roteiro iria explorar o que leva os dois a se tornarem grandes inimigos, pode ir esquecendo, nada é mostrado aqui, todo foco fica no personagem horrendo de Hugh Jackman.
A trilha sonora é fraca, o CGI é pavoroso de ruim, os atores estão sem vontade, e olha que temos até nomes talentosos no cast, e o próprio Joe Wright parece que nem chegou a tentar criar algo interessante, simplesmente ligou o piloto automático e o foda-se e foi embora, entregou um pastiche de tudo que a gente já viu em outros filmes e em outras franquias.
Se Pan era uma tentativa da Warner Bros de recriar o fenômeno que foi Harry Potter (2001-2011) em pleno ano de 2015, eles quebraram a cara, e não tinha como ser diferente. Faltou cuidado, faltou vida, faltou alma, faltou tudo. Isso aqui é aquele tipo de filme que você assiste num domingo enquanto está jogado no sofá, justamente para tirar um cochilo, já que pouco ou quase nada pode ser salvo. Enfim, é só mais uma das muitas adaptações do personagem que foi rapidamente esquecida enquanto a próxima não apareceu.
Politécnica
4.0 197POLYTECHNIQUE
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2009
Assistido em: 13/01/2024
Nos últimos anos produções de true crime cresceram muito no meio do cinema e da TV, não estou dizendo que o gênero surgiu por agora, mas é inegável que houve um grande crescimento de tudo relacionado a ele, e devo admitir que sou consumidor assíduo, principalmente de podcasts. Nesse contexto acabei por descobrir que o Denis Villeneuve, um dos diretores que mais passei a admirar nos últimos anos, tinha um filme que retrata um acontecimento sombrio da história do Canadá, o Massacre da Escola Politécnica de Montreal, ocorrido em 1989, então logo que descobri o ocorrido e sobre o filme, lá fui eu conferir.
No dia 6 de dezembro de 1989 um rapaz escreve um bilhete de despedida para sua mãe. Em seguida ele invade a Escola Politécnica de Montreal armado com um rifle semi-automático e começa um verdadeiro massacre. Entretanto, ele não matava aleatoriamente, ele tinha um objetivo bem específico: mulheres! Já que o mesmo se considerava um combatente ao movimento feminista.
Logo na primeira cena temos um letreiro informando que todos os personagens que aparecem em tela eram fictícios, por respeito às vítimas. Mas se quisessem mesmo respeitar suas memórias, por que não contaram suas histórias?! Ou então deixassem essa história quieta e não fizessem nada com ela, mas a partir do momento que você se propõe a contar um episódio tão pesado quanto o de um massacre, acredito que os roteiristas tinham a obrigação de dar voz às vítimas, de mostrar que aquelas mulheres tinham uma história, que elas tinham sonhos, que elas não foram apenas cordeiros sacrificados em um abate. Eu compreendo totalmente não querer difundir a ideologia do assassino, aí tudo bem, mas o mais estranho nesse filme é que Villeneuve mostra mais sobre o criminoso do que sobre suas vítimas.
Polytechnique é estranho, não é ruim, longe disso, mas ele é bem incomum, não só pelo fato de não trabalhar os personagens,não dar nenhum pano de fundo para eles, como pela sua estrutura. Curiosamente assim que o filme começou me lembrou mais os trabalhos do Christopher Nolan do que os outros títulos do Villeneuve, quem é fã do Nolan consegue encontrar facilmente elementos que se enquadram na filmografia dele, como a narrativa não linear e a fotografia em preto e branco sendo os maiores exemplos. Mas apesar de não lembrar nada dos demais trabalhos do Denis Villeneuve, ainda assim é possível encontrar o capricho habitual que ele coloca em suas histórias
Em linhas gerais Polytechnique é bom, mas poderia ser ótimo, quiçá excelente, a duração reduzida limita demais a história, que ficou concentrada apenas ao massacre, ao crime, ninguém ali tem uma vida pré acontecimento, existem sequências que retratam futuro de dois dos sobreviventes, mas é tudo muito rápido e superficial. Seria muito mais interessante caso ele se dedicasse a fazer todo um processo de construção daquelas figuras antes de nos entregar a carnificina, a forma como o filme foi entregue é basicamente a matança pela matança, sem conteúdo, sem sustância, o que infelizmente prejudica o resultado final.
PS: Sério, não tem como defender aquele idiota do Jean-François zanzando pelos corredores da escola ao invés de fugir, ligar para a polícia, para o socorro, ou qualquer coisa do tipo. Ele desfilando no meio do tiroteio, não tem como defender.
A Sociedade da Neve
4.2 711 Assista AgoraLA SOCIEDAD DE LA NIEVE
Direção: J. A. Bayona
Ano: 2023
Assistido em: 07/01/2024
A história do Voo da Força Aérea Uruguaia 571 é extremamente famosa, particularmente não me recordo quando tomei conhecimento do caso, só sei que já faz muitos anos que ouvi sobre ele pela primeira vez, e é simplesmente impossível não ficar extremamente impressionado com todo esse caso. Sei que existem outras adaptações cinematográficas sendo a mais famosa Alive (1993), do Frank Marshall, porém eu nunca tive oportunidade de assistir essas outras versões, sendo a de 2023 a primeira que consegui ter contato.
Em 13 de outubro de 1972, uma equipe de rugby uruguaia está de viagem marcada para o Chile, o grupo cuja faixa etária é muito jovem, é composto quase que inteiramente por amigos, por pessoas que se conhecem há muitos anos, e alguns até mesmo são familiares. Entretanto, o que eles não poderiam imaginar é que a simples viagem entre Montevidéu e Santiago, terminaria quando um gravíssimo acidente ocorreria enquanto eles sobrevoavam os Andes. Os sobreviventes são constantemente postos à prova em um ambiente completamente inóspito, onde não existe nenhum rastro de vida, seja ela animal ou vegetal.
J. A. Bayona nos entrega um filme bastante cru, ele tenta dar um rosto, uma perspectiva para todas as 45 pessoas que estavam a bordo daquele avião, nós temos todos os nomes e idades dos mortos na tela, ele se preocupa em nos mostrar o máximo daquelas pessoas, nos mostrando que elas tinham uma história, que elas não eram apenas vítimas daquela tragédia. A narração do Numa ajuda a deixar o público mais próximo daquela situação, por mais inimaginável que seja nos colocarmos no lugar deles.
Entre os muitos acidentes de avião que já presenciei em filmes, o de La Sociedad de la Nieve provavelmente é um dos mais impressionantes se não for o mais impressionante, nunca sofri um acidente de avião, para dizer a verdade nunca nem entrei em um, e espero que o dia que entrar, ocorra tudo bem, mas Bayona conseguiu tornar bastante realista o desastre do voo 571, foi de prender a respiração quando o avião parte ao meio, e outro ponto que o diretor acertou em cheio, foi nos convencer de que aquelas pessoas estavam em um ambiente terrível, deu para sentir o sofrimento delas, seja pelos ferimentos do acidente, seja pela escassez de alimentos, seja pelo frio extremo, ou pela terrível decisão que ele tiveram que tomar, a direção conseguiu, com a ajuda do excelente elenco obviamente, nos fazer mergulhar no pesadelo branco que aquelas pessoas viveram por quase três meses. É preciso ressaltar que mesmo diante do horror é possível encontrar beleza, sei que a situação daquelas pessoas era de morte certa, mas é inegável a beleza das montanhas congeladas, ou do céu coalhado de estrelas, mesmo que obviamente o que vemos no filme é apenas CGI
O acidente do Voo 571 é interpretado de duas maneiras, sob duas perspectivas completamente diferentes, enquanto muitos enxergam como uma grande desgraça, outros preferem se atentar ao “milagre” de 16 pessoas terem sobrevivido àquela situação, mas independente disso, La Sociedad de la Nieve é um filme muito triste, pois ele esfrega na nossa cara que nós seres humanos não somos absolutamente nada diante do poder da natureza, o quanto nós somos frágeis, o quanto nós somos simples, insignificantes diante da força daquela cordilheira, mas por outro lado ele também reforça que na hora do desespero, nas horas mais extremas, o ser humano consegue realizar atos em prol da coletividade, prova por A mais B que se aquelas pessoas não tivessem se unido, trabalhando juntas, tomado uma decisão cruelmente necessária, não haveria nenhum sobrevivente. Sou daqueles que não acredita em milagre, nessa história eu prefiro acreditar que o desejo de sobrevivência, a coletividade, e o fato do ser humano trabalhar como uma sociedade foram os principais fatores que intervieram para um desfecho não tão horrível quanto o que tudo indicava que seria.
PS: Infelizmente eu sei que esse filme não tem muitas chances de vitória nas premiações, mas é de muito longe o meu favorito para filme estrangeiro em todas os prêmios que ele disputar
Thriller 40
4.2 21 Assista AgoraTHRILLER 40
Direção: Nelson George
Ano: 2023
Assistido em: 07/01/2024
Existem pessoas que são tão boas naquilo que fazem que elas simplesmente mudam a história de algo completamente. Podemos dividir o mundo antes e depois de vários líderes políticos, de vários cientistas, de vários inventores, e no campo das artes o antes e depois de vários atores, roteiristas e diretores, e quando falamos de música é inegável que Michael Jackson é um desses divisores modernos, ele pode não ter criado a música pop, mas sem sombra de dúvida a mudou e a moldou para a forma que conhecemos hoje em dia.
Michael Jackson sempre foi um prodígio, sempre foi ele que levou os Jackson Five nas costas, isso é inegável. Quando ele começou a focar na sua carreira adulta no finalzinho dos anos 70 com o aclamadíssimo Off the Wall, Michael sentiu na pele muito preconceito. Foi muito difícil colocar suas músicas nas rádios porque existiam rádios de brancos e rádios de negros, então o sucesso de foi limitado, ele não teve o alcance que poderia ter, e logo não atingiu todo o seu potencial, portanto quando Michael se propoz a fazer o maior album da história ele tinha muito mais barreiras para quebrar do que qualquer outro artista, mais do que o Elvis Presley ou que os The Beatles, mas Jackson derrubou cada uma dessas barreiras, tijolo por tijolo.
Thriller é um daqueles raríssimos casos onde praticamente todas as músicas fizeram sucesso, todo fã do Michael Jackson conhece essa seleção de trás para frente, admito que não é meu álbum favorito dele, (ainda gosto mais da sonoridade de Dangerous e de Bad), mas é inegável a qualidade técnica, é inegável o poder do alcance dessas músicas, a trinca Billie Jean, Beat It e Thriller, são provavelmente as músicas mais famosas do Michael, são as músicas que melhor resistiram ao tempo e que passaram o legado dele adiante.
O grande problema desse documentário para mim é que ele foca mais no impacto do álbum do que na sua confecção, eu queria ter visto mais do processo criativo do Michael, queria ter visto a fonte de inspiração das músicas, queria ter ouvido pessoas que participaram do processo de gravação, conhecer todo o backstory, ESCUTAR UM DEPOIMENTO DO QUINCY JONES! Que é ao lado do MJ foi o maior responsável por essa obra-prima, e que sequer foi entrevistado, e outra, cadê o Paul McCartney?! Enfim, eu queria todos os detalhes possíveis, ouvir quem estava lá, e não apenas quem veio depois.
Apesar de ter uma qualidade muito grande e de trazer informações relevantes, e até mesmo algumas curiosidades desconhecidas, faltou o principal: Michael Jackson. Com absoluta certeza devem existir vídeos dele abordando o processo de criação de Thriller, alguma entrevista ou depoimento, sei lá, qualquer coisa que colocasse o MJ na tela por mais tempo já que infelizmente ele já faleceu. Thriller é provavelmente o mais importante álbum da carreira de Michael e um dos mais importantes da história da música como um todo, portanto ele merecia ser destrinchado de todas as formas e de todos os aspectos, de sua concepção, passando pela forma como trucidou o preconceito, seu legado, e até a hora que ele tornou a promessa Michael Jackson em sua majestade, O REI DO POP.
Ladrões
3.3 380 Assista AgoraTAKERS
Direção: John Luessenhop
Ano: 2010
Assistido em: 06/01/2024
Nem só de clássicos vive um cinéfilo, escutei essa frase em algum lugar não sei onde, e de lá para cá, ano após ano, vou percebendo que isso é a mais pura verdade, para reconhecer os filmes bons precisamos ter experimentado os ruins também. Quando vi o elenco dessa produção, fiquei bastante animado, e mesmo que a história não tenha me encantado, decidi dar uma chance, só que não podia imaginar que seria algo tão patético.
Dois detetives estão à caça de um super grupo de ladrões que obteve êxito em todos os seus planos. Quando um antigo membro da equipe sai da cadeia, ele oferece um último trabalho para seus amigos. O problema é que tal empreitada vai colocar o grupo em linha de choque com as forças policiais, e também com perigosos membros da máfia russa, criando um verdadeiro caos.
Uma das coisas que mais me irrita, é ver que algumas pessoas defendem a ideia de que filmes de ação não precisam ter uma boa história, que não precisam ter bons personagens, com um bom desenvolvimento. Mas se a história não for boa, se os personagens não forem interessantes, não tem como o resultado final ser bom, tiro, pancadaria e explosões são legais, só que eles devem ser usados como adornos de algo maior e não o elemento principal. O que temos aqui é um bom exemplo disso, temos um elenco estelar, desperdiçado numa história medíocre, esquecível e com personagem sem um pingo de desenvolvimento, é como se tivessem aprovado o longa apenas pelo cast, sem nem ao menos ter uma ideia de roteiro.
Não conhecia o trabalho de John Luessenhop, e após esse desastre, fui dar uma olhadinha no perfil desse cidadão no IMDb, e descobri que ele fez apenas três filmes em 24 anos, e honestamente, por mim teria feito até menos. O sujeito não consegue manter a câmera parada, é um trimilique que não consigo entender, existe uma quantidade excessiva de cortes, uma simples cena de diálogo tem dezenas de cortes, ele só usa enquadramentos fechados, não tem um único plano aberto, você não entende as cenas de ação, você não entende o que tá acontecendo com o espaço, resumindo: é uma aula de como não se dirigir um filme, chega dar tristeza.
Além do saudoso Paul Walker, ainda temos Idris Elba, Matt Dillon, Jay Hernandez, Hayden Christensen, e Michael Ealy, atores que, com a direção certa e adequada, conseguem entregar alguma coisa. Mas queria saber quem foi que iludiu o Chris Brown dizendo ele é um ator, já não basta ser péssimo cantor, tem que ser ruim como ator também?!
Takers é um desperdício de potencial absurdo, fico imaginando se nas mãos de um bom roteirista, de um bom diretor, essa história poderia ter rendido uma boa produção de ação, mas o que é entregue é simplesmente pavoroso, como diz a Isabela Boscov, a única explicação que encontro para um elenco tão famoso, aceitar participar de uma desgraça dessas, só pode ser dívida de jogo.
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraV FOR VENDETTA
Direção: James McTeigue
Ano: 2005
Assistido em: 06/01/2024
Durante muitos anos escutei falar sobre a obra V de Vingança do Alan Moore, é de como era uma graphic novel espetacular, e que o filme era uma boa adaptação e blá blá blá. Entretanto nunca tive vontade de assistir apesar de gostar muito de assuntos como ditaduras, combate ao fascismo, distopias e etc, mas essa produção em especial nunca me chamou atenção, e o principal motivos é o fato do roteiro ser das Wachowski, que depois de The Matrix (1999) nunca mais fizeram nada verdadeiramente bom, mais ou menos sim, mas bom mesmo?! Nunca! E para completar a situação, a direção ficou a cargo de James McTeigue que é cria das irmãs, e um diretor sofrível, mas decidi dar a cara a tapa mesmo assim e me surpreendi, modestamente.
Em um futuro próximo, o Reino Unido elegeu Adam Sutler como novo chanceler, só que ele se revela um ditador que mergulha o país em um regime fascista extremamente repressivo e autoritário. Nesse cenário somos apresentados a V, um homem que esconde sua verdadeira identidade atrás de uma máscara de Guy Fawkes. Ele está decidido a derrubar o regime de Sutler e para isso, arquiteta um mirabolante plano que envolve toda a população do Reino Unido. Entretanto, seus planos mudam quando ele salva a jovem Every Hammond dos homens de Sutler.
Como bem disse o dramaturgo alemão Bertold Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”, e parece que essa frase nunca esteve tão correta quanto está agora, já que estamos passando por um momento em que governos da extrema direita estão assumindo poderes em diversos países, ou propagando seus ideais de ódio com muito mais força do que faziam a até poucos anos atrás. Sei que a obra original do Alan Moore saiu no finalzinho dos anos 1980, enquanto o filme por sua vez foi lançado há quase duas décadas, mas creio que V for Vendetta funcione muito melhor agora do que funcionava em 2005, já que estamos presenciando um momento que condiz muito mais com a história apresentada do que o contexto na qual ela foi escrita e posteriormente adaptada para o cinema.
Apesar de trazer uma mensagem extremamente relevante e de muita importância, como filme, a obra não me cativou tanto assim, roteiro e direção possuem muitas limitações, e não creio que os envolvidos foram as pessoas adequadas para traduzir essa história para as telas. Não conheço o material original, mas senti que estava assistindo algo que poderia ser muito mais intenso, o que temos aqui não é uma história de super-heróis com capa que voa pelos céus, a história é centrada em um homem que decidiu lutar contra um governo fascista, é claro que é fantasia, mas um cinema em seu estado mais puro seria melhor do que a forma rocambolesca como tudo foi conduzido, já que a todo momento o diretor reforçava que estávamos assistindo uma história em quadrinhos.
O elenco traz bons nomes como Natalie Portman, Hugo Weaving e John Hurt, a ideia é boa, mas sinto que V for Vendetta demora demais para engatar, não é um filme muito longo são apenas 2h13min, mas a primeira metade é cansativa, só fui mergulhar profundamente na proposta do segundo ato em diante, e é triste quando você não compra a história logo de cara. O que senti é que estava diante de uma boa ideia, porém de uma execução que não estava à altura, e que talvez com uma outra abordagem, por uma outra equipe, renderia algo melhor.
Metrópolis
4.4 631 Assista AgoraMETROPOLIS
Direção: Fritz Lang
Ano: 1927
Assistido em: 01/01/2024
Continuando uma tradição que já dura muitos anos, o primeiro filme que assisto em um ano, sempre é um grande clássico que está há muito tempo na minha lista de pendências , mas que ainda não tive oportunidade de conferir, e para 2024 o escolhido foi o simbolo do expressionismo alemão, Metropolis, título esse que é tão importante, que mesmo que você nunca sequer tenha ouvido falar, com absoluta certeza já assistiu algo que foi influenciado por ele, que é indubitavelmente uma das obras cinematográficas mais importantes de todos os tempos.
100 anos no futuro a sociedade vive uma distopia onde a classe alta e a grande burguesia vivem em arranha-céus gigantescos na superfície, enquanto que a classe operária está confinada ao subterrâneo, Nesse contexto somos apresentados a Freder, filho de Joh Fredersen, o grande líder de Metropolis. Certo dia, quando Freder estava levando sua vida de playboy tranquilamente, surge em sua frente Maria, uma jovem da classe trabalhadora que bruscamente lhe mostra a diferença entre ele e os moradores do subsolo. Freder fica encantado pela moça, o que o leva a uma jornada de mudança de pensamento, entretanto tal sentimento vai em desacordo com os interesses de seu pai, que vai se aliar ao cientista Rotwang para utilizar a mais avançada tecnologia, a Máquina Homem, para acabar com tudo que Maria representa.
Sempre escutei que Metropolis era um filme a frente de seu tempo, e é até difícil acreditar que se trata produção realizada no final da década de 1920, mas tendo a oportunidade de assistir pela primeira vez, pude conferir que ele não só é a frente do seu tempo, como também é absurdamente certeiro em praticamente todas as suas previsões futuristas. Não sei se a Thea von Harbou tinha algum poder de prever o futuro, mas ela foi muito (in)feliz quando adivinhou que em um século, a tecnologia estaria tão avançada, que existiria uma inteligência artificial que seria uma ameaça. Atualmente vemos pessoas serem manipuladas por notícias falsas que são difundidas descontroladamente pela internet, profissões sendo extintas devido à evolução das máquinas, enfim, estamos vivendo a verdadeira “ameaça virtual”, e olha só Metropolis levantando essa questão, discutindo esse ponto quase 100 anos atrás, essa é daquelas histórias futuristas que rezamos para estarem erradas, mas que se mostrou assustadoramente precisa.
Sendo honesto, admito que não tenho muita experiência com o cinema mudo, tirando Charles Chaplin que para mim é um Deus, não sou muito de assistir produções sem áudio, mas Fritz Lang conseguiu me deixar muito imerso nessa história. O que mais me chamou a atenção nesse filme foram seus cenários, sei que é tudo maquete, sei que é tudo jogo de câmera para fazer com que elas pareçam gigantescas, que é tudo perspectiva, mas eles conseguiram criar uma sensação de que de fato estamos diante de uma cidade futurística colossal, com arranha-céus imensos, onde carros, aviões e pessoas transitam pelo espaço, dando uma sensação de uma vida apressada e corrida, algo que quem já morou em uma cidade grande sabe muito bem como é. Os cenários desse filme são tão espetaculares que até hoje eles influenciam não só o cinema, mas videogames, séries de TV, histórias em quadrinho, enfim é algo tão espetacular que sobreviveu ao tempo.
Por se tratar do expressionismo alemão, temos atuações muito peculiares, elas são extremamente exageradas com emoções muito intensificadas algo que evoca muito do teatro, isso até pode ser um pouco estranho para quem não tem costume (como eu), mas não condena o filme, afinal de contas é uma característica do gênero, aqui provavelmente temos as bases de alguns arquétipos cinematográficos eternos como o cientista maluco por exemplo, nos mostrando que Metropolis não segue tropos, mas sim os inventa.
A década de 1920 é particularmente tumultuada na história da Alemanha, ainda assim Fritz Lang e equipe criaram uma obra que é irretocável, que é eterna, que sobreviveu ao teste mais difícil de todos, o do tempo. Sempre fico impressionado como tem alguns filmes que são tão aclamados quando são lançados, são sucesso de bilheteria, a crítica se derrete por eles, e passados alguns anos (quiçá alguns meses) ninguém mais se lembra, caem totalmente no ostracismo, basta ver por exemplo, alguns vencedores do Oscar dos últimos 10 anos que ninguém sabe mais nem os nomes. Metropolis em contra partida, assim como alguns de seus contemporâneos, não só sobreviveu ao tempo, como sua influência continua até hoje. Pode passar mais um século que essa história continuará atual, sua técnica continuará sendo estudada e replicada, pois o que é feito com esmero continua relevante e influente passe o tempo que passar. Uma das jóias da coroa do cinema não só alemão, mas mundial, Metropolis merece todos os elogios que recebeu, e precisa ser redescoberto pela Nova Geração, é uma tristeza saber que atualmente sua versão completa está perdida, e que a mais próxima da totalidade possui cenas gravemente avariadas, uma obra tão icônica merecia ter sido melhor preservada.
Elementos
3.7 467ELEMENTAL
Direção: Peter Sohn
Ano: 2023
Assistido em: 31/12/2023
Eu sou cria da Pixar, uma das minhas melhores lembranças dos tempos de escola foi ter assistido A Bug’s Life (1998) pela primeira vez durante uma sessão de cinema EM VHS na primeira série, de lá para cá, caí de amores pelo estúdio, que foi durante muitos anos o melhor no quesito produções animadas dos Estados unidos, não tinha Disney, não tinha Dreamworks que batesse de frente. Entretanto a década de 2010 foi bastante sofrível para eles, após Toy Story 3 (2010), que foi excelente, a Pixar só foi nos entregar outro clássico com “c” maiúsculo com Inside Out (2015), e dali em diante foi só ladeira abaixo, com produções que, eram boas, mas não boas o suficiente para estar no mesmo nível dos títulos iniciais, ou que eram simplesmente descartáveis, tanto que simplesmente pulei os últimos lançamentos sem nenhum remorso, mas decidi retornar agora com Elemental, e que bom que me surpreendi novamente.
Em um mundo mágico, criaturas compostas pelos quatro elementos vivem em harmonia na cidade Elemental. Somos apresentados a Ember, filha de imigrantes do elemento fogo que lutaram para conquistar seu lugar na periferia da cidade. Ember se prepara para assumir o negócios na loja da família, porém seu temperamento “esquentado” pode pôr tudo a perder. Quando a loja do seu pai é quase destruída, Ember conhece Wade, um fiscal da prefeitura do elemento água, que vai se tornar muito mais do que um grande amigo.
A Pixar tem um toque mágico para criar universos, eles pegam os conceitos mais absurdos e transformam em magia, fizeram isso com brinquedos, com insetos, com peixes, com emoções, e agora com os quatro elementos da natureza. Eles conseguem encantar as crianças e passar uma grande lição para os adultos, afinal de contas foi isso que tornou essas produções sucessos gigantescos do cinema, já que elas funcionam com perfeição para todos os públicos.
Aqui temos uma clara alusão à situação de imigrantes na América, o diretor Peter Sohn é filho de coreanos, então ele tem bastante lugar de fala para poder contar uma história como da Ember, mas surpreendente é perceptível que todos os moradores do bairro do fogo representavam o pessoal do Oriente Médio, mas independente se seja da Coréia ou das Arábias, a questão é que o filme traz uma forte mensagem sobre o quão difícil é você abandonar sua terra natal e ir para um lugar onde não é bem recebido, e ainda assim tem que lutar para poder construir uma vida nova, talvez essa mensagem nunca tenha sido tão necessária, haja vista a situação geopolítica que vivemos atualmente.
Sohn é o diretor daquele que é disparado o pior filme do estúdio, The Good Dinosaur (2015), mas aqui, ele meio que desfez a sua péssima primeira impressão, Elemental traz um mundo encantador, repleto de magia, como a muito não se via na Pixar, misturando Romeu e Julieta com criação de universo inovador. Apesar de não colocá-lo no pódio dos melhores títulos da empresa, é um filme que está no grupo dos “acima da média”, e o que mais gostei desde do já citado Inside Out, lançado há quase 10 anos. Em uma época em que vemos a Disney investir descontroladamente em sequências, como o vindouro Toy Story 5, ou fazendo spin-off desnecessário como Lightyear (2022), o que temos aqui é um respiro, é um alívio ver uma animação como Elemental, que teve que lutar para se provar nas bilheterias, mas que conseguiu sair por cima, e sem sombra de dúvidas é um bom ensaio para um possível retorno do estúdio a boa forma.
Anatomia de uma Queda
4.0 789 Assista AgoraANATOMIE D'UNE CHUTE
Direção: Justine Triet
Ano: 2023
Assistido em: 30/12/2023
Já disse em comentários anteriores que eu não sou muito conhecedor do cinema francês, mas essa semana em particular foi muito atípica, pois assisti duas produções vindas da França, o primeiro foi o ótimo Joyeux Noël (2005), e o segundo foi Anatomia de uma Queda, que vem se mostrando como um dos mais elogiados da temporada. Quando li a sinopse fiquei bastante animado porque sou apaixonado por filmes de tribunal, portanto cometi um gravíssimo erro, fui assistir com muitas expectativas.
Numa região isolada e montanhosa no interior da França vive Sandra com seu esposo, Samuel, seu filho Daniel, que ficou cego devido a um acidente, e o cachorro da família. Eles levam uma vida aparentemente normal, entretanto tudo vem abaixo quando Samuel é encontrado morto do lado de fora da casa. Quando a polícia chega ao local Sandra é vista como a única suspeita.
Eu amo os chamados courtroom drama, adoro ver personagens acuados, sendo acusados, lutando por suas vidas, enquanto detalhes nos são revelados aos poucos, fazendo com que possamos montar um enorme quebra-cabeça até chegarmos a uma conclusão. Entre meus favoritos do gênero estão 12 Angry Men (1957), Madame X (1966), A Few Good Men (1992) Primal Fear (1996) entre muitos outros, e o que todos têm em comum? Grandes personagens, grandes histórias, e grandes atuações, aqui até encontramos uma boa estrutura narrativa, mas infelizmente ela nunca alcança o ápice, ficando mais desinteressante à medida que a trama avança.
A história começa bem, temos um corpo, e precisamos entender como as coisas aconteceram, aparentemente Sandra é a única culpada, só que o longa vai se esvaziando, a história não engrena, não engata. A duração é ótima para desenvolver uma trama, mas aqui, esse tempo foi um um tiro no pé, porque simplesmente não existe uma conteudo para cobrir esse tempo ao mesmo tempo que sustenta o interesse do público ao longo de toda duração, a grande sensação que eu tenho é que o filme começa em nada e termina em lugar nenhum, com um desfecho que é um ultraje.
Quem esperou por um grande drama de tribunal, com grandes interpretações, e grandes momentos está completamente iludido, a Sandra Hüller é muito boa, e está excelente, assim como o jovem Milo Machado-Graner, ambos têm momentos dramáticos muito interessantes, garantindo um bom drama, mas ainda assim muito desinteressante na parte de tribunal, sendo um dos mais decepcionante que vi nos últimos tempos.
Como disse na abertura, cometi a imensa falha de esperar um grande filme de tribunal, e não foi isso que encontrei, não estou dizendo que é ruim, dá para notar todo o esmero dos realizadores, mas faltou história, faltou uma montagem melhor, faltou mais dinamismo e principalmente faltou coragem para tomar um posicionamento no final. Deixar perguntas em aberto, para a imaginação do público completar, é uma decisão que particularmente sempre achei muito covarde, e aqui não foi diferente.