KUNG FU PANDA 4 Direção: Mike Mitchell Ano: 2024 Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
EX MACHINA Direção: Alex Garland Ano: 2014 Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
THE BOYS IN THE BOAT Direção: George Clooney Ano: 2023 Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
POOR THINGS Direção: Yorgos Lanthimos Ano: 2023 Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
DUNE: PART TWO Direção: Denis Villeneuve Ano: 2024 Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.
ANYONE BUT YOU Direção:Will Gluck Ano: 2023 Assistido em: 01/03/2024
Como já deixei bem claro em inúmeros comentários, eu não sou o cara das comédias românticas, acho todas iguais, mas quando tem uma que fura a bolha e toma proporções incomuns me sinto compelido a assistir. E foi com esse sentimento que eu fui até o cinema conferir Anyone but You, o exemplar do gênero que caiu no gosto do público e se tornou um verdadeiro fenômeno, um daqueles que não víamos provavelmente desde os anos 2000, e para a minha total e completa surpresa, eu adorei tudo do começo ao fim.
Após um encontro totalmente aleatório Ben e Bea passam uma noite incrível juntos, eles poderiam começar a namorar se não fosse pelo trauma que ele tem de ter sido abandonado e pelo fato dela ter escutado uma conversa dele com um amigo que acabou sendo bastante distorcida. Dois anos depois os agora desafetos são obrigados a se suportar durante um final de semana enquanto a irmã de Bea se casa com uma amiga de Ben. Quando os dois começam a fingir namorar para agradar as noivas e seus familiares, começam a nascer fortes sentimentos entre eles.
Antes de qualquer coisa é preciso sabermos que nada aqui é novidade, desde a ideia secular de autoria de William Shakespeare, até todo o desenvolvimento que não foge às regras estabelecidas pelas comédias românticas lá da década de 1990, mas então o que torna esse filme tão especial?! A resposta até que simples, ele acerta no básico onde a maioria dos outros títulos erram, ele tem um casal protagonista incrível, e melhor, os dois têm uma química explosiva, vulcânica quando estão juntos, Glen Powell e Sydney Sweeney são duas jovens potências que quando se encontraram fizeram a tela do cinema pegar fogo.
Ambos protagonistas são lindos, ambos são gostosos, e o diretor não tem medo de usar e abusar dos dois, Glen Powell sem camisa por quase duas horas é um presente que caiu dos céus, e creio que ver a Sydney com pouca roupa também agradou bastante quem gosta. Esses dois quando juntos formam um casal tão bonito que você torce por eles de imediato, não é aquele filme que se esforça para fazer com que o público se empolgue, isso acontece naturalmente. Geralmente nas comédias românticas nós já sabemos que o casal protagonista vai ficar junto no final, então não interessa muito o caminho até esse momento, mas aqui foi diferente, mesmo sabendo que eles vão se acertar, o caminho é essencial, porque queremos ver esses dois juntos, logo cada passo importa, nós estamos torcendo igual os personagens dentro da história também estão.
Will Gluck não reinventa a roda, seja no roteiro ou na direção, ele pega o mais do mesmo e aplica, é o basicão de sempre, e deu super certo, entre uma inovação mal feita e o feijão com arroz bem temperado, sempre fico com o feijão com arroz, e é isso que o filme acerta, ele pega uma história universal do Shakespeare, bons atores que têm uma química absurda, uma boa trilha sonora, e as lindas paisagem reais de Sidney, e tá pronto não precisa de mais nada, junte tudo isso ao fato da Sony ter confiado no filme e deixado ele no cinema por tempo suficiente para ganhar o boca a boca do público, e tá aí a comédia romântica de maior sucesso dos últimos anos provando que o gênero que vem sendo espremido nos streamings já há alguns anos, ainda tem cartucho para queimar nas telas grandes, basta saberem fazer, saberem dar tempo para que a obra naturalmente vá ganhando seu espaço e se provando, tal qual aconteceu com Anyone but You, que posso dizer tranquilamente, foi a melhor comédia romântica que vi nos últimos, sei lá, 10-15 anos. Adorei do começo ao fim, e com toda certeza vai se tornar um guilty pleasure que eu terei muito prazer em defender nos próximos anos.
LAND OF BAD Direção: William Eubank Ano: 2024 Assistido em: 25/02/2024
E aqui estamos nós, diante de mais uma bomba disfarçada de filme de ação, que aliás, é ao lado do terror o gênero mais sofrido da história do cinema, principalmente devido aos roteiros que beiram o amadorismo de tão fracos e direções que acreditam que apenas tiros e sequências de ação picotadas são suficientes para agradar o público, e vendo os elogios que essa coisa horrenda recebeu, talvez até sejam, já que esse tipo de produto genérico é lançado em quantidades gigantescas todos os anos por Hollywood.
Quando uma equipe da elite da Delta Force fica encurralada em solo inimigo nas Filipinas, cabe a um piloto de drone tentar ajudá-los da melhor forma possível, entretanto isso não vai ser fácil, já que os referidos soldados estão sob forte fogo inimigo.
O que me chamou atenção nesse título obviamente foi o elenco, Russell Crowe é um dos maiores de sua geração, mas nos últimos 10-15 anos ele só anda aceitando tranqueira, parece que está dependendo de centavos para poder pagar o aluguel, pois nada justifica um vencedor do Oscar se sujeitar a tantos projetos ruins. Luke Hemsworth não conseguiu muito sucesso depois do fim da franquia The Hunger Games (2012-2015) e aqui vive mais um personagem heróico genérico de filme de ação, ainda completam o elenco Milo Ventimiglia, Luke Hemsworth, Daniel MacPherson e Ricky Whittle, todos desperdiçados, pelo menos são bonitos e estão enfeitando a tela, já que seus personagens não vão além do qualquer coisa.
Land of Bad é pobre em todos os sentidos, fotografia, direção, roteiro, atuações é um daqueles filmecos sem nenhuma assinatura artística que os estúdios devem fazer apenas para lavar dinheiro, já que nada justifica a aplicação do termo arte para uma porcaria dessas.
Durante a década de 2000 o DVD se popularizou, e com ele gerou-se um efeito principalmente aqui no Brasil das banquinhas de camelô repletas de DVDs piratas que eram vendidos em saquinhos de plástico. Se Land of Bad tivesse sido lançado há uns 15 anos atrás, certamente seria um dos principais a estar lá nessas bancas, com uma impressão mal feita do poster em papel A4 e sendo vendido como um grande sucesso de ação, provavelmente o filme foi idealizado para tal, mas não ficou pronto a tempo.
ALL OF US STRANGERS Direção: Andrew Haigh Ano: 2023 Assistido em: 25/02/2024
As vezes é bom ser enganado, vim aqui esperando absolutamente nada além de um romance gay entre o Andrew Scott e o Paul Mescal, não sabia de absolutamente nada, nem sequer li a sinopse, muito menos vi o trailer, estava totalmente alheio a qualquer informação prévia que poderia estragar a experiência, e para minha total surpresa dei de cara com um encontro nada comum de Ghost (1990) com The Sixth Sense (1999). Jamais esperava um filme que envolvesse fantasia e muito menos um drama dessa proporção, uma trama sensível e que mexe com muitos sentimentos do espectador.
Certa noite Adam tem um encontro totalmente trivial com o seu vizinho Harry, após esse misterioso encontro ele acaba viajando até a antiga casa de seus pais que já estão mortos há muitos anos, e para sua total incredulidade ele encontra tanto seu pai quanto sua mãe exatamente da mesma forma que eram quando morreram, levando Adam a poder finalmente ter experiências com ambos que lhe foram privadas devido a morte dos mesmos, tudo isso enquanto se envolve romanticamente com Harry.
Como disse, é um filme que me pegou desprevenido, vinha buscando por putaria entre dois gostosos e acabei encontrando depressão pura com um protagonista que tem um trauma muito profundo de infância, e misteriosamente ganha a oportunidade de reaver nem que seja um pouquinho do tempo perdido com seus pais, tudo isso enquanto começa a namorar o vizinho gostosão. Mas toda essa loucura nos faz nos perguntar se Adam é esquizofrênico, se está alucinando, se ele está sonhando, ou se ele está se drogando, algo errado está ocorrendo, e a resposta é quase surpreendente.
O roteiro conseguiu esconder o fato de Harry estar morto até a cena que ele finalmente enxerga os pais de Adam, até aquele momento eu pensava que Adam era esquizofrênico, que ele estava louco, mas quando Harry também viu os pais de Adam, naquele momento o roteiro entregou todo o ouro, para depois vir a confirmação que Harry estava morto o tempo todo, e aliás ele morreu de overdose logo após o seu encontro incial com Adam nas primeiras cenas do filme. É algo muito triste porque é nesse momento que o título faz todo o sentido, Adam se sentia estranho, e sozinho quando perdeu seus pais, Harry por outro lado tinha seus pais vivos, e mesmo quando ele morreu, ninguém se importou, ninguém procurou por ele, essa solidão e tristeza que cerca muitas pessoas LGBT que tornam esse filme é um verdadeiro soco no estômago, muitos de nós somos os “desconhecidos” do título, somos invisíveis para muitas das famílias que preferem simplesmente esquecer que existimos tal qual aconteceu com o pobre Harry.
Muito bem escrito e dirigido, com uma belíssima fotografia, e um elenco de primeira All of Us Strangers marca o primeiro trabalho que assisto do Paul Mescal, que nos últimos anos vem se tornando um dos nomes mais relevantes de Hollywood, e além de lindo e gostoso ele atua muito bem, mas a grande surpresa com toda certeza é o Andrew Scott, que já conheço há alguns anos, mas nunca tinha visto em uma performance tão intensa, e com um personagem tão complexo. Completam o time os sempre afiados Jamie Bell e Claire Foy.
Para quem esperava um romance gay clássico (como eu) pode ir esquecendo, All of Us Strangers é um filme muito reflexivo que nos leva a pensar muito a respeito da solidão, é uma bela de uma porrada na cara de muita gente, e é uma pena que infelizmente não tem um grande alcance que merecia ter, pois a sociedade merece saber o mal que ela faz na vida daqueles que ela rejeita, essa responsabilidade precisa ser assumida, mas infelizmente nunca é.
THE ZONE OF INTEREST Direção: Jonathan Glazer Ano: 2023 Assistido em: 25/02/2024
Hannah Arendt, teórica política alemã, em suas obras buscava falar sobre o que ela chamava de “a banalização do mal”, quando as pessoas não se incomodam quando algo ruim acontece ao seu redor, simplesmente fazem o que é “comum”, sem questionar, sem se impor. Adolf Hitler sempre é citado como o grande responsável pelos horrores Nazistas, o grande criminoso, o mal encarnado, mas é importante ressaltar que Hitler não fez nada sozinho, ele tinha milhões de seguidores para lhe ajudar, alguns tão fanáticos quanto ele, outros até mais, e é justamente sobre uma família de sádicos que esse filme trata, os Höss conseguiram ter uma vida normal mesmo ao lado do inferno.
Rudolf Höss, sua esposa Hedwig e seus cinco filhos moram em uma bela casa, com um jardim imenso, piscina, e muito espaço para as crianças brincarem, um ambiente perfeito para sua família. Rudolf sai cedo para trabalhar e sua esposa fica cuidando da casa e das crianças, essas últimas, se divertem no maravilhoso jardim. Isso seria a descrição de uma família feliz e perfeita da Alemanha da década de 1940, o problema é que o quintal dos Höss acaba onde começam os muros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Desde que as críticas acerca desse filme começaram a surgir na internet, o som sempre foi citado como seu principal elemento, existe uma teoria de que nós seres humanos temos muito mais medo do desconhecido do que daquilo que vemos, as sombras e a escuridão deixam tudo mais assustador, aplicando esse conceito no filme, o diretor Jonathan Glazer não nos mostra NADA, mas nós conseguimos escutar. Enquanto vemos aquela linda família em seus dias ensolarados e perfeitos, escutamos tiroteios, massacres, gritos dos torturados, e os Höss agem como se absolutamente nada estivesse acontecendo, aliás, estou errado, eles não fingem que nada está acontecendo já que sabem o que ocorre do outro lado do muro, eles só não se importam, é a banalidade do mal citada Hannah Arendt, eles vem a fumaça das caldeiras onde pessoas estão sendo queimadas, e para eles é a coisa mais natural do mundo.
Glazer nos entrega um filme gelado, apesar da fotografia ser de cores pastéis e claras, e o ambiente está sempre ensolarado, não podemos esquecer do que que está acontecendo ali do lado, onde por dia morriam cerca de SEIS MIL PESSOAS. E não podemos atribuir a responsabilidade apenas ao oficial do exército Nazi, sua esposa Hedwig mantém escravas judias dentro da sua casa e as aterrorizava psicologicamente, essa é claramente uma história de terror, só que muito pior do que qualquer slasher, de qualquer longa sobre possessão demoníaca, porque isso aqui aconteceu de verdade, e é horrível saber que ESSAS PESSOAS NÃO SE ARREPENDERAM, pesquisando um pouquinho sobre o que ocorreu com a família Höss após os Julgamentos de Nuremberg, descobrimos que um neta de Rudolf e Hedwig que não concordava com as atitudes da família foi isolada por seus demais membros, que continuavam defendendo as ideologias nazistas até o fim de seus dias.
Geralmente The Zone of Interest é o tipo de projeto que eu odiaria, porque ele não tem nenhum grande momento dramático, é o cotidiano de uma família classe média alta vivendo os seus dias felizes na sua casa perfeita. Quem conhece um pouquinho de história e sabe dos horrores que ocorreram dentro de Auschwitz, com toda certeza se arrepia quando escutar os som de tiros, escuta os gritos, quando vê a fumaça no horizonte, ou quando o engenheiro mostra uma planta sobre uma forma de potencializar o número de baixas por dia e de forma ininterrupta. Esse é sem sombra de dúvidas o filme mais sufocante dos últimos anos, porque você vê tudo isso e sabe que foi real. O único detalhe que me desagradou foi o final, foi bacana mostrarem que a presença do mal que aquela família causou nunca passou, mas creio que o desfecho perfeito seria mostrar Rudolf sendo enforcado em 1947 pelos crimes contra a humanidade, mostrando que sim houve alguma justiça mesmo que mínima diante de todos os horrores que ele e sua família ajudaram a causar.
PS¹: O poster desse filme é perfeito, aquela família feliz sob o céu totalmente preto é de arrepiar. PS²: Me julguem, mas para mim a Sandra Hüller está melhor aqui, do que em Anatomy of a Fall (2023)
THE IRON CLAW Direção: Sean Durkin Ano: 2023 Assistido em: 24/02/2024
Não sou um cara de esportes, mas sou apaixonado por cinema, mas até que gosto de filmes que tratam sobre eventos esportivos famosos. Tomei conhecimento da família Von Erich quando começaram a sair as primeiras notícias a respeito desse filme, e por curiosidade, fui pesquisar sobre eles, e foi quando me deparei com a história da “maldição”, imediatamente fiquei muito interessado em assistir a essa cinebiografia e me surpreendi, não esperava algo desse nível.
Na década de 1970, Fritz Von Erich, um ex-lutador de luta livre que sempre sonhou em se tornar campeão mundial, decide transformar seus filhos em profissionais do gênero. Ele fará de tudo para isso, sem se importar com os estragos que tanta pressão poderá causar na vida de seus herdeiros. A partir daí, os quatro irmãos Von Erich serão obrigados a sentir na pele que o sucesso tem um preço, e às vezes ele é alto demais.
Não acredito nessa história de maldição, não sou nada supersticioso, acho muitas crendices populares uma baboseira sem tamanho, mas diante de toda a desgraça e sofrimento que a família Von Erich passou, a única maldição que consegui enxergar assistindo esse filme e pesquisando na internet sobre a história real, é o pai, Fritz, um homem completamente abusivo, que não se importava nem um pouco com os filhos, homem que mesmo diante de uma desgraça, ignorava toda dor e todo sofrimento da família e continuava pressionando como se absolutamente nada tivesse acontecido. Todos os horrores que cada um dos Van Erich sofreram seriam bem diferentes caso houvesse dentro daquela casa cuidado, caso aquele pai se importasse mais com seus filhos do que com sucesso, do que com as suas ambições.
Deus do céu, o quê que o Zac Efron fez com a cara dele minha gente?! Ele foi de um dos homens mais lindos de Hollywood, para um Lula Molusco depois da harmonização facial, apesar de estar totalmente quadrado, Efron entrega aquela que é de longe sua melhor performance, ele com um bom diretor e um bom roteiro, pode sim entregar excelentes performances, o elenco ainda é completo por Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney e Holt McCallany todos muito bem em seus papéis, entretanto fica aquela sensação de que se o roteiro investisse ainda mais na cenas dramáticas, ele renderia grandes momentos, onde esses intérpretes poderiam brilhar com mais intensidade.
The Iron Claw não é um filme sobre esportes, é um drama sobre uma família que por mais de uma década foi assolada por desgraças que poderiam sim ser evitadas, caso houvesse um acompanhamento psicológico para aquelas pessoas, ou se a criação deles fosse diferente, aliás a família Von Erich não é nada especial ela se encaixa na velha fórmula de que “por trás de toda criança/jovem bem sucedido, existem pais abusivos”. É muito triste saber o desfecho que cada um desses personagens, tiveram na vida real, mas ainda assim o filme termina com uma nota de esperança, nos mostrando que apesar de tudo que sofreu o Kevin ainda conseguiu, ao lado da sua esposa, criar uma bela e unida família, e seus filhos segue os passos de seus antecessores, só que sem toda a pressão.
Foi triste ver que A24 não se dedicou a fazer uma campanha de divulgação para The Iron Claw para a temporada de prêmios, porque o filme é muito melhor que muita porcaria que tá aí sendo nomeado a premiações. Uma história simples, bem contada, que nos deixa tristes com o passado, mas esperançosos para que no futuro a situação daquela família tenha melhorado, porque a cota de desgraça desse pessoalzinho já foi completada há muito e muito tempo
RAPITO Direção: Marco Bellocchio Ano: 2023 Assistido em: 24/02/2023
Sou de família de origem italiana, logo não ser católico era impensável até alguns anos atrás. Eu mesmo fui frequentador ativo da Igreja até por volta dos meus 15 anos, quando finalmente consegui minha emancipação, e desde então não voltei lá mais, e o motivo? É que eu nunca suportei a mania chata dos cristãos de se julgarem como os corretos e condenarem aqueles que pensam diferente deles, ou como eles fazem de tudo para converter os “errados” a sua doutrina “correta”, sempre achei isso algo extremamente hipócrita, e cheguei ao ponto de me sentir mal naquele ambiente, o que foi muito agravado nos dois anos que fui coroinha, portanto o dia que dei um basta na religião na minha vida foi libertador.
No século XIX os judeus eram extremamente perseguidos na Europa (e sabemos que isso iria piorar muito nos próximo anos), e devido as leis vigentes na Bolonha, um cristão jamais poderia ser criado por um não-cristão. Nesse cenário, a família Mortara é pega de surpresa, quando descobre que seu pequeno filho de 6 anos, Edgardo, havia sido batizado contra sua vontade. A criança é levada de seus pais e entregue aos cuidados da igreja em Roma, onde será convertida ao cristianismo enquanto seus pais lutam desesperadamente para tentar reaver sua guarda.
Quando fiquei sabendo dessa história, fiquei indignado, não consegui entender como a criança havia sido batizada contra a vontade de seus pais, e foi vendo o filme que me veio a resposta, uma empregada jogou três gotinhas de água na cabeça do bebê fez um sinal da cruz e pronto a criança estava “salva”, seu lugar no céu estava garantido, sério que as pessoas acreditam nisso?! Às vezes creio que alguns religiosos entendem tudo que Jesus falava ao contrário, por que não é possível uma coisa dessas, mas esse é só mais um dos muitos absurdos que rolavam há alguns anos quando a igreja católica tinha muito mais poder do que algumas legislações vigentes.
Marco Bellocchio entrega um filme bem equilibrado, com história muito boa, só tem um probleminha de ritmo ali pela metade, uma edição um pouquinho melhor trabalhada renderia um resultado mais dinâmico, mas a história é muito forte, muito bem contada, e isso compensa a fadiga, principalmente quando chegamos na segunda fase de todo esse imbróglio e descobrimos que os danos causados na vida do Edgardo foram permanentes. A direção é bem afiada e os atores bem escalados, o design de produção é absurdo, o valor de produção do filme é nítido, os cenários e os figurinos são excelentes recriando com muita qualidade aquela Bolonha do século XIX.
É impossível não sentir muita raiva de toda essa situação, ainda mais sabendo que é baseado em uma história real, e que os responsáveis saíram impunes, sei que até bastante injusto, mas também é difícil não sentir raiva do próprio Edgardo na sua fase adulta, mesmo ele sendo uma vítima de uma lavagem cerebral que é feita até os dias de hoje, só que hoje dia isso não é mais exclusividade da igreja católica.
Hoje em dia eu digo de boca cheia que só agnóstico e que me libertar da opressão religiosa que existe dentro da minha família foi a melhor coisa que fiz na minha vida, não estou dizendo que não sou mais vítima dos preconceitos, como um homem gay, ainda escuto muitos absurdos principalmente por parte da minha mãe, mas histórias como essa só reforçam meu pensamento que religião é o pior mal que existe na humanidade, não me refiro apenas a cristianismo mas também é ao islamismo, ao judaísmo e todos os outros “ismos”. Jesus nos uma mensagem belíssima mensagem, “amarmos uns aos outros e fazer o bem”, infelizmente suas palavras foram distorcidas por um bando de fanáticos, e dois mil anos depois cá estamos nós, penando com a presença de alguns que só estragam a mensagem tão bonita que Nazareno passou.
DARK CITY Direção: William Dieterle Ano: 1950 Assistido em: 18/02/2024
Como disse em um comentário recente, tem títulos que só lendo duas ou três linhas de uma breve sinopse eu já sei que eu não vou gostar, com outros no entanto, essas mesmas duas ou três linhas já despertam meu interesse de imediato, e foi isso que aconteceu com Dark City, foi só saber do que a trama se tratava, que imediatamente já queria assistir. Mas essas sinopses podem enganar e me meter em belas furadas, já que nem sempre uma boa ideia inicial garante um bom filme.
Após a polícia fechar uma casa de apostas, o dono do local, Danny, junto de seus cúmplices acabam por depenar Arthur , um turista que passava pela cidade, em um jogo totalmente manipulado. A grande questão é que Arthur comete suicídio logo no dia seguinte, e quando seu irmão, um homem completamente insano e bastante perigoso toma conhecimento do ocorrido, ele decide se vingar de todos que levaram seu irmão ao ato desesperado, colocando a vida de Danny e todos ao seu redor em risco.
O longa parte de uma premissa espetacular, temos um protagonista criminoso que não é nem de longe o mocinho honesto, sendo perseguido por um psicótico que quer vingança por algo muito ruim que esse protagonista causou. Quando lembramos que estamos em 1950, quando os protagonistas eram praticamente símbolos morais, Dark City se torna um ponto fora da curva ao apresentar um personagem central todo errado, entretanto, esse diferencial aqui é usado de maneira sofrível, e o que poderia ser grandioso acabou se tornando trivial.
Esse é o primeiro filme do futuro grande filho da puta e também ator, Charlton Heston, e ele está bem, não podemos dizer que está no mesmo nível do que seria no futuro, mas está bem, fora ele, nenhum outro interprete merece destaque. A direção também é muito protocolar, muito básica, e o roteiro não desenvolve os personagens, é tudo muito rápido, muito superficial, o filme é curto e não tem tempo a perder, e com isso acaba sacrificando algo muito relevante, que é nos dar um background maior desses personagens. A única ressalva interessante é não mostrar o vilão em momento algum até a cena final, isso é muito bom porque nos dá aquele ar de monstro, de mal imparável, é como diz o ditado: você tem muito mais medo do desconhecido do que do conhecido.
Dark City foi uma decepção, não é um ruim, mas é fraco, decepcionante, poderia ser muito grande, poderia ser um clássico da década de 50, mas não é. Com uma execução bem qualquer coisa, atuações fracas, e desenvolvimento sem inspiração, Dark City é esquecível, não lembra nada os títulos gigantes que são seus contemporâneos, e está mais para as meia-bombas que são lançadas hoje em dia.
UPGRADED Direção: Carlson Young Ano: 2024 Assistido em: 18/02/2024
Esse filme está no top 10 da Amazon Prime há alguns dias, e sse fosse só pela história eu ia passar longe, bem longe dele, mas devido a problemas técnicos, o título que eu estava programando para assistir no domingo à noite não deu certo, e sem muitas opção, decidi colocar esse aqui em campo e ver se essa popularidade toda é justificada. E honestamente, é a mesma porcaria de sempre, e a única conclusão que cheguei, é que toda essa repercussão só é explicada pelo fato do público amar esses clichês horrendos das comédias românticas.
Ana é uma aspirante a curadora de arte que após muito trabalho conseguiu um emprego em uma grande galeria de Nova York. Ela tem a chance de mostrar seu trabalho a sua chefe quando é convidada para um trabalho em Londres. Devido a um erro, ela acaba sendo colocada na primeira classe e viaja ao lado de William, um rapaz “bonito” e rico por quem ela se interessa, porém Ana acaba mentindo, dizendo que era a diretora de uma grande galeria de Nova York. O que parecia ser uma mentira qualquer para um estranho, vai tomando proporções gigantesca a medida que a jovem precisa mantê-la quando começa a se envolver seriamente com William.
Parando para pensar sobre esse filme, ele não é diferente de nada do gênero, só é bastante problemático, sei que é uma comédia romântica, que de comédia não tem nada já que não existe absolutamente nenhuma cena engraçada, mas fico pensando na mensagem que essa história passa, Ana mente o tempo todo para William e sua família, ela descaradamente assume uma vida que não é sua e não é repreendida em momento algum por isso, muito pelo contrário, ganha um namorado rico, ganha um bom emprego, ganha tudo o que sempre queria por ser uma mentirosa. Entendo perfeitamente que isso aqui é uma ficção, mas fico imaginando quantas pessoas não sonham com esse upgrade mágico em suas vidas, e o roteiro reforça que as coisas podem simplesmente vir da maneira mais fácil possível, cair dos céus, desde que você não tenha um pingo de caráter.
O ponto mais absurdo do filme foi a mãe de Will, Catherine, aceitar as mentiras de Ana tranquilamente! Em que mundo uma mãe rica vai ignorar que uma pobretona se aproximou do seu filho contando inúmeras mentiras, e magicamente se apaixonou por ele?! O golpe da barriga claro e simples, que na vida real não seria aceito por nada nesse mundo
Conheci a Camila Mendes em Riverdale (2017-2023) e gosto dela como atriz, mas infelizmente aqui, sua personagem é uma lástima, verdadeiramente horrível em todos os sentidos, sobre o Archie Renaux, pelo amor de Deus, ele até é gostosinho, mas galã?! Aí já é demais né! Se o sujeito virar para os lados rápido demais causa um furacão. Quem estava melhorzinha na produção é a Marisa Tomei que parecia estar se divertindo bastante, mas a personagem também não é lá essas coisas. Sobre os aspectos técnicos como roteiro, direção, fotografia e etc. é tudo terrivelmente pobre.
Upgraded é apenas mais um na multidão, é a “comédia” romântica genérica da semana, de roteiro fraco e nada memorável, nada marcante, é só mais uma daquelas que há alguns anos lotavam as salas de cinema, mas que de um tempo para cá estão espremidos nos streamings. A história da gata borralheira com um complementos modernos talvez possa agradar quem curte esse tipo de história, mas para quem não é fisgado por isso, nada salva.
STILL: A MICHAEL J. FOX MOVIE Direção: Davis Guggenheim Ano: 2023 Assistido em: 17/02/2024
Me lembro perfeitamente do dia no qual conheci o Michael J. Fox, o ano era 2001, um domingo à tarde e eu estava na casa de uma amiga da minha mãe, e eles estavam com uma fita VHS de um tal de um “De Volta Para o Futuro”, pronto, foi amor à primeira vista, Marty McFly se tornou o meu herói, um dos meus personagens favoritos da vida, e o Michael imediatamente se tornou o meu ídolo número um. Logo eu fui atrás de outros trabalhos dele, só que infelizmente, fui atropelado por uma notícia devastadora: meu ídolo já não atuava como antes devido a uma doença, o mal de Parkinson.
Do alto da minha ignorância, durante um bom tempo pensava que a única coisa que o Parkinson causava era um tremor nas mãos, eu não tinha noção do quão séria era essa doença neurológica, do quão limitadora ela é, e menos ainda, não conseguia entender como uma pessoa tão jovem com uma carreira tão bem sucedida poderia sofrer de um mau “de gente velha”.
Nesse documentário vemos bem de perto o impacto que essa maldita doença teve na vida do Michael, obviamente ele já havia escrito alguns livros tratando do assunto, mais uma coisa é você lê, outra bem diferente é assistir. Conseguimos finalmente entender como se deu a progressão da própria vida do Michael, de como foi difícil para ele atingir o sucesso, de como foi complicado se adaptar ao estrondoso sucesso, e como foi terrível ver tudo indo abaixo justamente quando ele estava no auge, de sua juventude, de sua fama, de seu sucesso e de seu talento.
Em determinado momento Michael diz a seguinte frase: “foi como se todo aquele sucesso tivesse um preço”, mas apesar disso em momento algum ele se faz de vítima, de coitado. Ele guardou para si esse peso durante muito tempo, não permitiu que seu público soubesse do seu estado, soubesse o quanto estava sendo custoso para ele manter a sua carreira, ele lutou o quanto pode sozinho, até que infelizmente não conseguiu mais, quando finalmente dividiu o seu fardo com o mundo, ele começou uma nova batalha, desta vez para tornar o Parkinson visível, buscando usar sua influência para conseguir investimento em programas de pesquisa, para quem sabe um dia conseguir uma cura para essa maldita doença.
Infelizmente desde a segunda metade dos anos 1990 a carreira do Michael não foi mais a mesma, ele foi obrigado a uma "aposentadoria" forçada, reduzindo drasticamente sua participação no cinema e na TV, mas isso não diminui o impacto, não diminuiu o brilho, não diminui o sucesso que ele representa. Michael J. Fox é um símbolo, ele “é” os anos 80, ele é o rosto de um fenômeno que foi/é a franquia De Volta Para o Futuro, ele marcou gerações de uma forma eterna, e isso essa maldita doença não consegue apagar, não consegue diminuir. Como disse, Marty McFly é se tornou meu herói de imediato, e quando eu soube de toda a história do Michael, ele se tornou um símbolo muito maior do que o próprio McFly, o meu amor pelo cinema se mistura com o amor que tenho por esse baixinho que marcou minha vida, e fico muito feliz que ele enfrente todas essa situação com o mesmo humor com a mesma leveza de sempre, que ele não se deixou abater, e nem perdeu o lindo sorriso que sempre teve, Michael J. Fox merece o mundo, e todo o amor que seus fãs têm por ele há décadas.
BOB MARLEY: ONE LOVE Direção: Reinaldo Marcus Green Ano: 2024 Assistido em: 17/02/2024
Eu não sou o que se pode chamar de fã do Bob Marley, não é que eu tenha algum problema com as músicas dele, muitíssimo pelo contrário, as poucas que conheço acho excelentes, só não tenho um conhecimento aprofundado da vida e da obra dele. Sempre fui um cara voltado para o lado do rock and roll, desde muito novo minhas referências musicais são os clássicos da música britânica e americana, então reggae nunca esteve presente na minha base de formação, mas Marley é diferenciado, é impossível conhecer alguém que nunca tenha escutado nem que seja no mínimo umas três músicas da carreira dele. E agora que Hollywood começou com essa onda de fazer filmes sobre os grandes ícones musicais, é óbvio que o rei do reggae seria contemplado, e fiquei imediatamente animado para finalmente conhecer mais da história dele.
Em 1976, a Jamaica está completamente dividida em meio a uma guerra política que está assolando o país e causando inúmeras baixas. Nesse cenário Bob Marley tenta utilizar a sua influência como uma forma de promover a paz, entretanto nem mesmo o famoso cantor está livre de se tornar uma das vítimas do massacre perpetrado por ambos os lados políticos conflitantes. Quando a vida de Bob é ameaçada, ele decide abandonar o seu país, só que não imaginava que isso seria o fato comitante para torná-lo um super astro Mundial.
O crítico de cinema Dalenogare tem um termo muito bacana que ele chama de “cinebiografia wikipédia”, aquele tipo de filme onde você tem na tela a data de um evento importante da vida de uma pessoa, tem a cena correspondente, pula para próxima data e próximo evento, e vai assim até o final. Bob Marley: One Love não usa essa estratégia, ele é a chamada cinebiografia de recorte, Reinaldo Marcus Green escolheu um ponto específico da carreira de Bob Marley e focou-se nele, nesse caso o ponto é um intervalo entre 1976 e 1978, só que isso acaba nos privando de conhecer outros momentos de extrema relevância da vida do astro. Como disse no primeiro parágrafo, não sou conhecedor da vida do Marley, então eu queria saber detalhes sobre a infância, detalhes sobre como ele se tornou um astro famoso na Jamaica e posteriormente no restante do mundo, é claro que o filme utiliza de artifícios como alguns flashbacks curtos nos contando pequenos detalhes do passado de Marley, mas eu queria algo mais profundo mais bem trabalhado e não tão breve.
Obviamente sendo uma biografia com a participação da família, nós sabemos que muita coisa fica de fora, basta dar uma breve pesquisada na internet sobre alguns pontos mais delicados da vida do cantor e veremos que o longa é beeeem “chapa branca”, e não poderia esperar diferente do Reinaldo Marcus Green já que ele seu último trabalho é justamente King Richard (2021), que passa a maior pano para o pai das irmãs Williams.
Tecnicamente falando o filme tem pontos bem positivos, Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch são bons, apesar de que senti ele muito artificial, principalmente na parte dos shows. As músicas estão muito bem encaixadas nas cenas e a fotografia é bonita, mas o roteiro é muito superficial, não se aprofundando basicamente em nada, nem na importância do Marley para a política jamaicana, nem no real conceito da religião Rastafari nem nada. Tudo é mostrado muito por cima, e quem quiser conhecer mais da relevância, da importância do Bob Marley vai ter que ir atrás da Wikipédia, porque aqui não vai achar muito não.
No geral Bob Marley: One Love é um bom filme, mas uma cinebiografia fraca, justamente por ser extremamente superficial ao falar da vida do biografado. Claramente Marley teve um impacto e uma importância na cultura musical muito maior do que a aqui retratada, o mais próximo que o filme tem de mostrar essa relevância é na confecção do álbum Exodus, mas apenas isso infelizmente não é suficiente para demonstrar todo a força do astro mais famoso da Jamaica.
MADAME WEB Direção: S. J. Clarkson Ano: 2024 Assistido em: 16/02/2024
Olha eu sou uma pessoa que não pode reclamar muito devido a minha grande teimosia, como disse em outro comentário a pouco tempo, quando o ano começa já sei quais os filmes que verei no cinema e não importa se o crítico A ou B não gosta, se eu decidi que vou assistir na tela grande, vou assistir e acabou, e como já tinha tomado essa decisão sobre essa joça aqui, não posso dizer que fui enganado, aliás desde o princípio eu já sabia que era uma porcaria, mas mesmo assim quis pagar para ver.
Após sofrer uma experiência de quase morte, a paramédica Cassandra Web começa a ter estranhas visões. Essas visões a colocam em rota de colisão com Ezekiel Sims, um perigoso assassino que quer matar três adolescentes. Cassandra vai descobrir como utilizar seus poderes, ao mesmo tempo que descobrirá detalhes até então desconhecidos sobre o seu passado, enquanto protege as garotas e foge de Sims.
Bom, não é segredo para ninguém que a Sony no começo da década de 2010 não fazia a menor ideia do que fazer com o seu Homem-Aranha, e por isso ela emprestou ele para a Disney usar no MCU, e de lá para cá o estúdio vem cometendo crimes contra a humanidade com produções cinematográficas desastrosas focadas nos personagens coadjuvantes do Teioso, e dessa vez eles resolveram fazer uma história sobre a Madame Teia. Madame Teia essa que para mim era um idosa que ajudava/testava o Peter lá na espetacular animação de 1994, mas aqui ela tem a sua história de "origem", precisava? Não! Alguém queria? Também não! Mas já que a Sony decidiu fazer, eles poderiam ao menos ter se esforçado, mesmo que minimamente.
O roteiro saiu das mesmas mãos que fizeram Morbius (2022), dupla que provavelmente deve ter algum vídeo dos executivos da Sony cometendo algum crime hediondo, então não esperava nada além do pior. A direção é de S.J. Clarkson que dirigiu muitas séries, mas que aqui demonstra tanto talento para função quanto uma criança de 5 anos de idade com um celular na mão. O elenco é talentoso, mas os personagens são sofríveis, os efeitos especiais estão no nível da CW, uma edição que parece que picotaram os rolos do filme em inúmeros pedacinhos, jogaram para cima e do jeito que caiu no chão colocaram de novo e colocaram em tela, um desastre. E o vilão?! Que além das motivações anêmicas, é interpretado pelo gato do Tahar Rahim, que está na casa dos 40, quando o personagem tem seus 60/70 anos, e nenhuma explicação decente é dada para a aparência mais jovem dele.
Não sou muito chegado na Dakota Johnson, acho ela uma atriz fraca, e das três atrizes vendidas como "Mulher Aranha" a única que eu conheço e gosto do trabalho é a Sydney Sweeney, mas até ela está ruim, como já disse acima o vilão tem motivações péssimas. A única coisa que me agradou foi o meu querido Adam Scott no papel do tio Ben, e ver todo o arco dele e da personagem da Emma Roberts, que para mim é o que dá para salvar do filme, mesmo sendo descaradamente sem propósito e a Sony não tendo a decência de no mínimo dizer o nome do personagem mais importante desse universo em tela.
Com toda certeza a Sony não vai parar de cometer essas atrocidades que elas andam fazendo ultimamente com os vilões do Homem-Aranha, cabe a nós aceitar ou não. Esse ano ainda tem mais duas, e confesso que até estou interessado no Kraven, já para Venom 3 não tenho nenhuma expectativa. Agora falando sobre Madame Web, é inacreditável como aprovaram esse roteiro justamente para o centenário da Columbia, começar as celebrações com uma catástrofe dessa, só vai manchar uma festa tão bonita que deveria ser a celebração desse um século de existência de um dos maiores mais importantes estúdios de Hollywood.
PS: Creio que esse patrocínio vai ser mais maléfico que benéfico ao nome da Pepsi PS²: As frases feitas desse roteiro são constrangedoras, mas "Quando você assumir a responsabilidade, um grande poder virá" foi de matar.
THE ROCKY HORROR PICTURE SHOW Direção: Jim Sharman Ano: 1975 Assistido em: 13/02/2024
Qualquer cinéfilo que se preze conhece The Rocky Horror Picture Show mesmo que nunca tenha assistido, afinal de contas ele é o maior entre os cults. O amor que sentem por esse filme é incrível, e a forma como as pessoas não tem vergonha de expressar isso é inspirador, é lindo ver o quanto o cinema pode unir as pessoas em meio a uma devoção em comum.
Após o pneu do carro de um jovem casal furar no meio de uma estrada praticamente abandonada, o único local que eles conseguem pedir ajuda é num estranho e misterioso Castelo. Lá dentro eles dão de cara com pessoas extremamente estranhas e com um comportamento totalmente esquisito. Logo eles percebem que estão diante de travestis do planeta transexual, e esses aliens tem perspectiva de vida muito diferente das suas.
Então, não sou o maior adepto a musicais, não é um gênero que me chama atenção porque sou muito chato para música, não é qualquer uma que eu gosto, meus gêneros favoritos são muito específicos, então gente cantando a torto à direita não faz meu tipo, mas fui assistir esse filme de peito aberto, porque tinha a curiosidade de saber como ele era, e tentar entender um pouquinho do fanatismo que ele gerou, e apesar de achar o resultado geral legal, com momentos muito interessantes e músicas legais (principalmente a de abertura, que pra mim é a melhor), sou obrigado a admitir que não encontrei tantas razões para essa idolatria toda não.
A trama é legalzinha, tem um muito de Frankenstein, as letras das músicas fazem a história ir para frente, o elenco é bom, principalmente o Tim Curry, que está absurdo como o cientista Frank-N-Furter, e ainda temos a maravilhosa da Susan Sarandon bem novinha, mas no roteiro que é bom mesmo, o filme deixa a desejar. É tudo extremamente simples, sem praticamente nenhuma curva dramática, é linear demais, sem surpresas, tem uma reviravolta pequenininha ali no final, mas que também não é nada demais, talvez uma grande história não fosse o foco dos roteiristas, mas para mim é um ponto que deixou a desejar.
The Rocky Horror Picture Show é uma boa distração, é interessante para estudar um nicho específico do cinema, que marcou tão forte uma parcela do público que se tornou praticamente o filme cult mais famoso de todos os tempos. Mas para quem não foi fisgado pelo charme dos aliens travestis cantores do planeta transexual, creio que é tudo bem lugar comum, bem simples. Pode ter um efeito 8 ou 80 entre o público, com alguns adorando e outros odiando, eu fico bem no meio termo, gostei mais da primeira metade do que da segunda, mas em linhas Gerais não é algo que considerei marcante, ou que vai ficar na minha lista de favoritos da sétima arte.
GOOSEBUMPS Direção: Rob Letterman Ano: 2015 Assistido em: 12/02/2024
Como cria dos anos 1990, cresci em uma época praticamente sem regras, os filmes exibidos na Sessão da Tarde e principalmente no extinto Cinema em Casa, eram bem inapropriados para o público infantil, mas mesmo assim as emissoras de TV tocavam o foda-se e nos colocavam para assistir comédias inadequadas para o horário cheias de teor sexual, e até produções de terror slasher, portanto a minha geração e o pessoal que nasceu nos anos 1980, foram moldados de uma forma diferente. Cheguei para assistir esse filme com expectativa de ver como são os terrir da geração atual e meu Deus, que desgraça foi essa que assisti?!
Zach Cooper é um adolescente revoltado por ter se mudado de uma cidade grande para um cu de mundo do interior. Ele se encanta pela bela jovem da casa vizinha, e certo dia quando visita seu novo interesse romântico, descobre que ela é filha de um famoso escritor de histórias de terror. O problema é que os monstros dessas histórias são criaturas reais criadas pela imaginação do famoso autor. E quando Zach liberta esses monstros acidentalmente no mundo real, caberá a eles fazer com que essas criaturas voltem para a literatura, antes que façam um grande estrago no nosso mundo.
O grande problema dessa história não é que ela é infantil, existem dramas voltados para o público pequeno que são ótimos, bem escritos e bem desenvolvidos, a questão aqui é que o roteiro é bobo, superficial, não assusta, não entretém, não anima. Como disse, sou cria dos anos 90, assisti produções que eram uma verdadeira lambança de temas, mas que nos deixavam animados, nós faziam vibrar, só lembrar do clássico Gremlins (1984) para citar um exemplo, uma mistura perfeita de comédia com horror, na mesma hora que a gente estava gargalhando com aquelas criaturazinha loucas, arrepiamos com suas insanidades, era puro equilíbrio. Aqui por sua vez, isso não existe, nada convence, a comédia não faz rir, o terror não assusta minimamente, o fato de tudo ser CGI só aumenta o desastre.
Jack Black é um mestre do humor, ele é naturalmente engraçado, quando tem um bom texto na ponta da língua, ele faz ouro, Amy Ryan é outra grande atriz, e quem assistiu The Office (2005-2013) sabe que ela sabe fazer comédia muito bem, já Dylan Minnette não é ator de comédia, mas é ótimo no papel de adolescente, então não sei como conseguiram desperdiçar esse trio e entregar essa uma coisa tão horrenda como essa.
Goosebumps é um filme que já tinha assistido algumas cenas avulsas enquanto zapeava pela televisão, porém, agora que peguei para assistir do começo ao fim foi torturante, foi 1h40min da minha vida desperdiçados com um filmeco que não consegue despertar o mínimo do que se propõe. É um desperdício de dinheiro, tempo e talento tão grande que chega ser revoltante.
BEFORE WE GO Direção: Chris Evans Ano: 2014 Assistido em: 12/02/2024
Nessa brincadeira de muitos atores pularem de trás para a frente das câmeras, e se tornarem diretores, fomos apresentados a alguns dos mais renomados e importantes cineastas de todos os tempos, até poderia citar um bocado deles, mas não vem ao caso. Chris Evans que não é bobo nem nada, e sabe que com o tempo a beleza vai acabando e os dias de galã vão ficar para trás, resolveu estrear como diretor com esse romance genérico lançado há alguns anos atrás.
O músico Nick decide ajudar Brooke, uma mulher desconhecida que ele encontra na estação de trem após ela perder o último transporte para a cidade de Boston. Ao longo da noite eles vão caminhando pela cidade, e à medida que vão se conhecendo melhor, eles vão descobrindo detalhes da vida um do outro que os levarão a repensar suas escolhas, o que os marcará profundamente e possivelmente mudará suas vidas para sempre.
Infelizmente Chris Evans escolheu começar da forma mais sem graça e insossa possível, já nem sei mais quantos filmes românticos foram feitos em que um casal desconhecido, acaba sendo forçado a ficar juntos e nasce um sentimento e blá blá blá, já vimos isso incontáveis vezes, não há novidade, não há surpresa alguma nesse tipo história, basicamente quem viu uma, viu todas, e aqui não é diferente. Os protagonistas Nick e Brooke são superficialmente trabalhados, de uma forma que apenas o básico é mostrado, o suficiente para fazer com o público se afeiçoe a eles, e torçam para que formem um casal, mas comigo isso não funcionou, não liguei a mínima se eles se relacionariam ou não.
A dupla Evans e Alice Eve são lindos e encantam os olhos, mas seus personagens são apagadinhos demais, sem brilho, sem charme. Não existe um bom desenvolvimento, e muito menos um roteiro que diferencie Nick e Brooke dos incontáveis personagens similares que povoam as centenas de títulos do mundo dos cinemas.
Gostaria muito que o Chris desse continuidade a carreira de diretor, mas para isso ele precisava de uma produção com um roteiro mais elaborado, uma história mais interessante, e melhor desenvolvida, com personagem que fossem além do estereótipo padrão de qualquer gênero. Enfim, Before We Go não é aquele desastre que muitos atores quando vão para o lado da direção entregam, mas também não é nada demais, é mais ou menos, irregular, fraquinho mesmo, espero que no futuro Evans retorne com algo mais interessante.
AMERICAN FICTION Direção: Cord Jefferson Ano: 2023 Assistido em: 11/01/2024
Como as sinopses nos enganam, não é mesmo?! Quando li sobre American Fiction, achei a ideia genial, e logo pensei que tinha potencial para ser grande, e quando ele começou a aparecer nas listas de prêmios da temporada, pronto, passei a ter certeza de que se tratava de um filmaço, ledo engano, o que temos aqui é a prova viva de que nem sempre o que é bom no papel fica bom nas telas.
Monk, é um professor e escritor que está cansado do público americano preferir histórias negras cheias de estereótipos raciais, em vez de materiais mais finos. Para provar sua teoria, ele adota um pseudônimo e escreve um romance com todos os clichês que detesta, porém tudo fica completamente fora de controle quando o livro se torna um grande best-seller.
Em todos os lugar que abordam cinema, só se fala que esse filme é daqueles feito para o seu protagonista brilhar, e de fato Jeffrey Wright, ator que gosto muito, está muito bem, o problema é que seu personagem é chato, sem graça, sem sal, um verdadeiro saco de acompanhar por duas horas, Monk não é aquele personagem gostoso de se ter como companhia.
Não estou falando que o filme é horrível, não é isso, mas ele fala mais sobre as complicadas relações de um homem meia idade, do que critica o meio literário americano, o que pressuponho que era a ideia base da trama. O roteiro foi mudando de direção ao longo do seu desenvolvimento, ao ponto de eu não conseguir entender qual era o seu foco real. A parte dramática não apresenta nada de novo, e toma muito espaço da parte da comédia, que poderia entregar algo muito mais satisfatório do que os problemas comuns que o protagonista enfrenta.
American Fiction fez barulho, mas chega sem força na temporada de prêmios, e isso é muito justificável quando você assiste, Cord Jefferson entrega um trabalho daqueles que se destacam em um ponto ou outro, mas que no todo não consegue se sobressair, é o mais do mesmo, não sendo diferente de absolutamente nenhum outro drama que foi produzido nos últimos anos, talvez se o diretor/roteirista tivesse focado mais na comédia, na crítica, e na sátira que se propôs, ao invés de perder tanto tempo de tela com drama batido, que já estamos cansados de ver em outras produções, o resultado seria mais satisfatório, mais memorável. Em linhas gerais o que é apresentado é terrivelmente esquecível, e é melhor um filme ser lembrado por ser ruim, do que não ser lembrado por absolutamente nada, o que tudo indica que acontecerá com esse título.
PS: O roteirista/diretor negro, faz um filme reclamando de estereótipos raciais, mas cagou na hora de retratar os gays, usando dos piores artifícios possíveis.
Kung Fu Panda 4
3.1 53KUNG FU PANDA 4
Direção: Mike Mitchell
Ano: 2024
Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Última Parada 174
3.5 601ÚLTIMA PARADA 174
Direção: Bruno Barreto
Ano: 2008
Assistido em: 17/03/2024
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraEX MACHINA
Direção: Alex Garland
Ano: 2014
Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Miranda's Victim
2.9 3MIRANDA’S VICTIM
Direção: Michelle Danner
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Man Suang
3.1 7MAN SUANG
Diretor: Chatchai Katenut, Pond Krisda Witthayakhajorndet & Bhanbhassa Dhubthien
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
Remando para o Ouro
3.5 16THE BOYS IN THE BOAT
Direção: George Clooney
Ano: 2023
Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Carandiru
3.7 750 Assista AgoraCARANDIRU
Direção: Héctor Babenco
Ano: 2003
Assistido em: 09/03/2024
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraPOOR THINGS
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
Duna: Parte 2
4.4 598DUNE: PART TWO
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2024
Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.
Todos Menos Você
3.1 345 Assista AgoraANYONE BUT YOU
Direção:Will Gluck
Ano: 2023
Assistido em: 01/03/2024
Como já deixei bem claro em inúmeros comentários, eu não sou o cara das comédias românticas, acho todas iguais, mas quando tem uma que fura a bolha e toma proporções incomuns me sinto compelido a assistir. E foi com esse sentimento que eu fui até o cinema conferir Anyone but You, o exemplar do gênero que caiu no gosto do público e se tornou um verdadeiro fenômeno, um daqueles que não víamos provavelmente desde os anos 2000, e para a minha total e completa surpresa, eu adorei tudo do começo ao fim.
Após um encontro totalmente aleatório Ben e Bea passam uma noite incrível juntos, eles poderiam começar a namorar se não fosse pelo trauma que ele tem de ter sido abandonado e pelo fato dela ter escutado uma conversa dele com um amigo que acabou sendo bastante distorcida. Dois anos depois os agora desafetos são obrigados a se suportar durante um final de semana enquanto a irmã de Bea se casa com uma amiga de Ben. Quando os dois começam a fingir namorar para agradar as noivas e seus familiares, começam a nascer fortes sentimentos entre eles.
Antes de qualquer coisa é preciso sabermos que nada aqui é novidade, desde a ideia secular de autoria de William Shakespeare, até todo o desenvolvimento que não foge às regras estabelecidas pelas comédias românticas lá da década de 1990, mas então o que torna esse filme tão especial?! A resposta até que simples, ele acerta no básico onde a maioria dos outros títulos erram, ele tem um casal protagonista incrível, e melhor, os dois têm uma química explosiva, vulcânica quando estão juntos, Glen Powell e Sydney Sweeney são duas jovens potências que quando se encontraram fizeram a tela do cinema pegar fogo.
Ambos protagonistas são lindos, ambos são gostosos, e o diretor não tem medo de usar e abusar dos dois, Glen Powell sem camisa por quase duas horas é um presente que caiu dos céus, e creio que ver a Sydney com pouca roupa também agradou bastante quem gosta. Esses dois quando juntos formam um casal tão bonito que você torce por eles de imediato, não é aquele filme que se esforça para fazer com que o público se empolgue, isso acontece naturalmente. Geralmente nas comédias românticas nós já sabemos que o casal protagonista vai ficar junto no final, então não interessa muito o caminho até esse momento, mas aqui foi diferente, mesmo sabendo que eles vão se acertar, o caminho é essencial, porque queremos ver esses dois juntos, logo cada passo importa, nós estamos torcendo igual os personagens dentro da história também estão.
Will Gluck não reinventa a roda, seja no roteiro ou na direção, ele pega o mais do mesmo e aplica, é o basicão de sempre, e deu super certo, entre uma inovação mal feita e o feijão com arroz bem temperado, sempre fico com o feijão com arroz, e é isso que o filme acerta, ele pega uma história universal do Shakespeare, bons atores que têm uma química absurda, uma boa trilha sonora, e as lindas paisagem reais de Sidney, e tá pronto não precisa de mais nada, junte tudo isso ao fato da Sony ter confiado no filme e deixado ele no cinema por tempo suficiente para ganhar o boca a boca do público, e tá aí a comédia romântica de maior sucesso dos últimos anos provando que o gênero que vem sendo espremido nos streamings já há alguns anos, ainda tem cartucho para queimar nas telas grandes, basta saberem fazer, saberem dar tempo para que a obra naturalmente vá ganhando seu espaço e se provando, tal qual aconteceu com Anyone but You, que posso dizer tranquilamente, foi a melhor comédia romântica que vi nos últimos, sei lá, 10-15 anos. Adorei do começo ao fim, e com toda certeza vai se tornar um guilty pleasure que eu terei muito prazer em defender nos próximos anos.
Zona de Risco
3.3 35 Assista AgoraLAND OF BAD
Direção: William Eubank
Ano: 2024
Assistido em: 25/02/2024
E aqui estamos nós, diante de mais uma bomba disfarçada de filme de ação, que aliás, é ao lado do terror o gênero mais sofrido da história do cinema, principalmente devido aos roteiros que beiram o amadorismo de tão fracos e direções que acreditam que apenas tiros e sequências de ação picotadas são suficientes para agradar o público, e vendo os elogios que essa coisa horrenda recebeu, talvez até sejam, já que esse tipo de produto genérico é lançado em quantidades gigantescas todos os anos por Hollywood.
Quando uma equipe da elite da Delta Force fica encurralada em solo inimigo nas Filipinas, cabe a um piloto de drone tentar ajudá-los da melhor forma possível, entretanto isso não vai ser fácil, já que os referidos soldados estão sob forte fogo inimigo.
O que me chamou atenção nesse título obviamente foi o elenco, Russell Crowe é um dos maiores de sua geração, mas nos últimos 10-15 anos ele só anda aceitando tranqueira, parece que está dependendo de centavos para poder pagar o aluguel, pois nada justifica um vencedor do Oscar se sujeitar a tantos projetos ruins. Luke Hemsworth não conseguiu muito sucesso depois do fim da franquia The Hunger Games (2012-2015) e aqui vive mais um personagem heróico genérico de filme de ação, ainda completam o elenco Milo Ventimiglia, Luke Hemsworth, Daniel MacPherson e Ricky Whittle, todos desperdiçados, pelo menos são bonitos e estão enfeitando a tela, já que seus personagens não vão além do qualquer coisa.
Land of Bad é pobre em todos os sentidos, fotografia, direção, roteiro, atuações é um daqueles filmecos sem nenhuma assinatura artística que os estúdios devem fazer apenas para lavar dinheiro, já que nada justifica a aplicação do termo arte para uma porcaria dessas.
Durante a década de 2000 o DVD se popularizou, e com ele gerou-se um efeito principalmente aqui no Brasil das banquinhas de camelô repletas de DVDs piratas que eram vendidos em saquinhos de plástico. Se Land of Bad tivesse sido lançado há uns 15 anos atrás, certamente seria um dos principais a estar lá nessas bancas, com uma impressão mal feita do poster em papel A4 e sendo vendido como um grande sucesso de ação, provavelmente o filme foi idealizado para tal, mas não ficou pronto a tempo.
Todos Nós Desconhecidos
3.9 168 Assista AgoraALL OF US STRANGERS
Direção: Andrew Haigh
Ano: 2023
Assistido em: 25/02/2024
As vezes é bom ser enganado, vim aqui esperando absolutamente nada além de um romance gay entre o Andrew Scott e o Paul Mescal, não sabia de absolutamente nada, nem sequer li a sinopse, muito menos vi o trailer, estava totalmente alheio a qualquer informação prévia que poderia estragar a experiência, e para minha total surpresa dei de cara com um encontro nada comum de Ghost (1990) com The Sixth Sense (1999). Jamais esperava um filme que envolvesse fantasia e muito menos um drama dessa proporção, uma trama sensível e que mexe com muitos sentimentos do espectador.
Certa noite Adam tem um encontro totalmente trivial com o seu vizinho Harry, após esse misterioso encontro ele acaba viajando até a antiga casa de seus pais que já estão mortos há muitos anos, e para sua total incredulidade ele encontra tanto seu pai quanto sua mãe exatamente da mesma forma que eram quando morreram, levando Adam a poder finalmente ter experiências com ambos que lhe foram privadas devido a morte dos mesmos, tudo isso enquanto se envolve romanticamente com Harry.
Como disse, é um filme que me pegou desprevenido, vinha buscando por putaria entre dois gostosos e acabei encontrando depressão pura com um protagonista que tem um trauma muito profundo de infância, e misteriosamente ganha a oportunidade de reaver nem que seja um pouquinho do tempo perdido com seus pais, tudo isso enquanto começa a namorar o vizinho gostosão. Mas toda essa loucura nos faz nos perguntar se Adam é esquizofrênico, se está alucinando, se ele está sonhando, ou se ele está se drogando, algo errado está ocorrendo, e a resposta é quase surpreendente.
O roteiro conseguiu esconder o fato de Harry estar morto até a cena que ele finalmente enxerga os pais de Adam, até aquele momento eu pensava que Adam era esquizofrênico, que ele estava louco, mas quando Harry também viu os pais de Adam, naquele momento o roteiro entregou todo o ouro, para depois vir a confirmação que Harry estava morto o tempo todo, e aliás ele morreu de overdose logo após o seu encontro incial com Adam nas primeiras cenas do filme. É algo muito triste porque é nesse momento que o título faz todo o sentido, Adam se sentia estranho, e sozinho quando perdeu seus pais, Harry por outro lado tinha seus pais vivos, e mesmo quando ele morreu, ninguém se importou, ninguém procurou por ele, essa solidão e tristeza que cerca muitas pessoas LGBT que tornam esse filme é um verdadeiro soco no estômago, muitos de nós somos os “desconhecidos” do título, somos invisíveis para muitas das famílias que preferem simplesmente esquecer que existimos tal qual aconteceu com o pobre Harry.
Muito bem escrito e dirigido, com uma belíssima fotografia, e um elenco de primeira All of Us Strangers marca o primeiro trabalho que assisto do Paul Mescal, que nos últimos anos vem se tornando um dos nomes mais relevantes de Hollywood, e além de lindo e gostoso ele atua muito bem, mas a grande surpresa com toda certeza é o Andrew Scott, que já conheço há alguns anos, mas nunca tinha visto em uma performance tão intensa, e com um personagem tão complexo. Completam o time os sempre afiados Jamie Bell e Claire Foy.
Para quem esperava um romance gay clássico (como eu) pode ir esquecendo, All of Us Strangers é um filme muito reflexivo que nos leva a pensar muito a respeito da solidão, é uma bela de uma porrada na cara de muita gente, e é uma pena que infelizmente não tem um grande alcance que merecia ter, pois a sociedade merece saber o mal que ela faz na vida daqueles que ela rejeita, essa responsabilidade precisa ser assumida, mas infelizmente nunca é.
Zona de Interesse
3.6 581 Assista AgoraTHE ZONE OF INTEREST
Direção: Jonathan Glazer
Ano: 2023
Assistido em: 25/02/2024
Hannah Arendt, teórica política alemã, em suas obras buscava falar sobre o que ela chamava de “a banalização do mal”, quando as pessoas não se incomodam quando algo ruim acontece ao seu redor, simplesmente fazem o que é “comum”, sem questionar, sem se impor. Adolf Hitler sempre é citado como o grande responsável pelos horrores Nazistas, o grande criminoso, o mal encarnado, mas é importante ressaltar que Hitler não fez nada sozinho, ele tinha milhões de seguidores para lhe ajudar, alguns tão fanáticos quanto ele, outros até mais, e é justamente sobre uma família de sádicos que esse filme trata, os Höss conseguiram ter uma vida normal mesmo ao lado do inferno.
Rudolf Höss, sua esposa Hedwig e seus cinco filhos moram em uma bela casa, com um jardim imenso, piscina, e muito espaço para as crianças brincarem, um ambiente perfeito para sua família. Rudolf sai cedo para trabalhar e sua esposa fica cuidando da casa e das crianças, essas últimas, se divertem no maravilhoso jardim. Isso seria a descrição de uma família feliz e perfeita da Alemanha da década de 1940, o problema é que o quintal dos Höss acaba onde começam os muros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Desde que as críticas acerca desse filme começaram a surgir na internet, o som sempre foi citado como seu principal elemento, existe uma teoria de que nós seres humanos temos muito mais medo do desconhecido do que daquilo que vemos, as sombras e a escuridão deixam tudo mais assustador, aplicando esse conceito no filme, o diretor Jonathan Glazer não nos mostra NADA, mas nós conseguimos escutar. Enquanto vemos aquela linda família em seus dias ensolarados e perfeitos, escutamos tiroteios, massacres, gritos dos torturados, e os Höss agem como se absolutamente nada estivesse acontecendo, aliás, estou errado, eles não fingem que nada está acontecendo já que sabem o que ocorre do outro lado do muro, eles só não se importam, é a banalidade do mal citada Hannah Arendt, eles vem a fumaça das caldeiras onde pessoas estão sendo queimadas, e para eles é a coisa mais natural do mundo.
Glazer nos entrega um filme gelado, apesar da fotografia ser de cores pastéis e claras, e o ambiente está sempre ensolarado, não podemos esquecer do que que está acontecendo ali do lado, onde por dia morriam cerca de SEIS MIL PESSOAS. E não podemos atribuir a responsabilidade apenas ao oficial do exército Nazi, sua esposa Hedwig mantém escravas judias dentro da sua casa e as aterrorizava psicologicamente, essa é claramente uma história de terror, só que muito pior do que qualquer slasher, de qualquer longa sobre possessão demoníaca, porque isso aqui aconteceu de verdade, e é horrível saber que ESSAS PESSOAS NÃO SE ARREPENDERAM, pesquisando um pouquinho sobre o que ocorreu com a família Höss após os Julgamentos de Nuremberg, descobrimos que um neta de Rudolf e Hedwig que não concordava com as atitudes da família foi isolada por seus demais membros, que continuavam defendendo as ideologias nazistas até o fim de seus dias.
Geralmente The Zone of Interest é o tipo de projeto que eu odiaria, porque ele não tem nenhum grande momento dramático, é o cotidiano de uma família classe média alta vivendo os seus dias felizes na sua casa perfeita. Quem conhece um pouquinho de história e sabe dos horrores que ocorreram dentro de Auschwitz, com toda certeza se arrepia quando escutar os som de tiros, escuta os gritos, quando vê a fumaça no horizonte, ou quando o engenheiro mostra uma planta sobre uma forma de potencializar o número de baixas por dia e de forma ininterrupta. Esse é sem sombra de dúvidas o filme mais sufocante dos últimos anos, porque você vê tudo isso e sabe que foi real. O único detalhe que me desagradou foi o final, foi bacana mostrarem que a presença do mal que aquela família causou nunca passou, mas creio que o desfecho perfeito seria mostrar Rudolf sendo enforcado em 1947 pelos crimes contra a humanidade, mostrando que sim houve alguma justiça mesmo que mínima diante de todos os horrores que ele e sua família ajudaram a causar.
PS¹: O poster desse filme é perfeito, aquela família feliz sob o céu totalmente preto é de arrepiar.
PS²: Me julguem, mas para mim a Sandra Hüller está melhor aqui, do que em Anatomy of a Fall (2023)
Garra de Ferro
3.9 108THE IRON CLAW
Direção: Sean Durkin
Ano: 2023
Assistido em: 24/02/2024
Não sou um cara de esportes, mas sou apaixonado por cinema, mas até que gosto de filmes que tratam sobre eventos esportivos famosos. Tomei conhecimento da família Von Erich quando começaram a sair as primeiras notícias a respeito desse filme, e por curiosidade, fui pesquisar sobre eles, e foi quando me deparei com a história da “maldição”, imediatamente fiquei muito interessado em assistir a essa cinebiografia e me surpreendi, não esperava algo desse nível.
Na década de 1970, Fritz Von Erich, um ex-lutador de luta livre que sempre sonhou em se tornar campeão mundial, decide transformar seus filhos em profissionais do gênero. Ele fará de tudo para isso, sem se importar com os estragos que tanta pressão poderá causar na vida de seus herdeiros. A partir daí, os quatro irmãos Von Erich serão obrigados a sentir na pele que o sucesso tem um preço, e às vezes ele é alto demais.
Não acredito nessa história de maldição, não sou nada supersticioso, acho muitas crendices populares uma baboseira sem tamanho, mas diante de toda a desgraça e sofrimento que a família Von Erich passou, a única maldição que consegui enxergar assistindo esse filme e pesquisando na internet sobre a história real, é o pai, Fritz, um homem completamente abusivo, que não se importava nem um pouco com os filhos, homem que mesmo diante de uma desgraça, ignorava toda dor e todo sofrimento da família e continuava pressionando como se absolutamente nada tivesse acontecido. Todos os horrores que cada um dos Van Erich sofreram seriam bem diferentes caso houvesse dentro daquela casa cuidado, caso aquele pai se importasse mais com seus filhos do que com sucesso, do que com as suas ambições.
Deus do céu, o quê que o Zac Efron fez com a cara dele minha gente?! Ele foi de um dos homens mais lindos de Hollywood, para um Lula Molusco depois da harmonização facial, apesar de estar totalmente quadrado, Efron entrega aquela que é de longe sua melhor performance, ele com um bom diretor e um bom roteiro, pode sim entregar excelentes performances, o elenco ainda é completo por Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney e Holt McCallany todos muito bem em seus papéis, entretanto fica aquela sensação de que se o roteiro investisse ainda mais na cenas dramáticas, ele renderia grandes momentos, onde esses intérpretes poderiam brilhar com mais intensidade.
The Iron Claw não é um filme sobre esportes, é um drama sobre uma família que por mais de uma década foi assolada por desgraças que poderiam sim ser evitadas, caso houvesse um acompanhamento psicológico para aquelas pessoas, ou se a criação deles fosse diferente, aliás a família Von Erich não é nada especial ela se encaixa na velha fórmula de que “por trás de toda criança/jovem bem sucedido, existem pais abusivos”. É muito triste saber o desfecho que cada um desses personagens, tiveram na vida real, mas ainda assim o filme termina com uma nota de esperança, nos mostrando que apesar de tudo que sofreu o Kevin ainda conseguiu, ao lado da sua esposa, criar uma bela e unida família, e seus filhos segue os passos de seus antecessores, só que sem toda a pressão.
Foi triste ver que A24 não se dedicou a fazer uma campanha de divulgação para The Iron Claw para a temporada de prêmios, porque o filme é muito melhor que muita porcaria que tá aí sendo nomeado a premiações. Uma história simples, bem contada, que nos deixa tristes com o passado, mas esperançosos para que no futuro a situação daquela família tenha melhorado, porque a cota de desgraça desse pessoalzinho já foi completada há muito e muito tempo
Rapito
3.5 5RAPITO
Direção: Marco Bellocchio
Ano: 2023
Assistido em: 24/02/2023
Sou de família de origem italiana, logo não ser católico era impensável até alguns anos atrás. Eu mesmo fui frequentador ativo da Igreja até por volta dos meus 15 anos, quando finalmente consegui minha emancipação, e desde então não voltei lá mais, e o motivo? É que eu nunca suportei a mania chata dos cristãos de se julgarem como os corretos e condenarem aqueles que pensam diferente deles, ou como eles fazem de tudo para converter os “errados” a sua doutrina “correta”, sempre achei isso algo extremamente hipócrita, e cheguei ao ponto de me sentir mal naquele ambiente, o que foi muito agravado nos dois anos que fui coroinha, portanto o dia que dei um basta na religião na minha vida foi libertador.
No século XIX os judeus eram extremamente perseguidos na Europa (e sabemos que isso iria piorar muito nos próximo anos), e devido as leis vigentes na Bolonha, um cristão jamais poderia ser criado por um não-cristão. Nesse cenário, a família Mortara é pega de surpresa, quando descobre que seu pequeno filho de 6 anos, Edgardo, havia sido batizado contra sua vontade. A criança é levada de seus pais e entregue aos cuidados da igreja em Roma, onde será convertida ao cristianismo enquanto seus pais lutam desesperadamente para tentar reaver sua guarda.
Quando fiquei sabendo dessa história, fiquei indignado, não consegui entender como a criança havia sido batizada contra a vontade de seus pais, e foi vendo o filme que me veio a resposta, uma empregada jogou três gotinhas de água na cabeça do bebê fez um sinal da cruz e pronto a criança estava “salva”, seu lugar no céu estava garantido, sério que as pessoas acreditam nisso?! Às vezes creio que alguns religiosos entendem tudo que Jesus falava ao contrário, por que não é possível uma coisa dessas, mas esse é só mais um dos muitos absurdos que rolavam há alguns anos quando a igreja católica tinha muito mais poder do que algumas legislações vigentes.
Marco Bellocchio entrega um filme bem equilibrado, com história muito boa, só tem um probleminha de ritmo ali pela metade, uma edição um pouquinho melhor trabalhada renderia um resultado mais dinâmico, mas a história é muito forte, muito bem contada, e isso compensa a fadiga, principalmente quando chegamos na segunda fase de todo esse imbróglio e descobrimos que os danos causados na vida do Edgardo foram permanentes. A direção é bem afiada e os atores bem escalados, o design de produção é absurdo, o valor de produção do filme é nítido, os cenários e os figurinos são excelentes recriando com muita qualidade aquela Bolonha do século XIX.
É impossível não sentir muita raiva de toda essa situação, ainda mais sabendo que é baseado em uma história real, e que os responsáveis saíram impunes, sei que até bastante injusto, mas também é difícil não sentir raiva do próprio Edgardo na sua fase adulta, mesmo ele sendo uma vítima de uma lavagem cerebral que é feita até os dias de hoje, só que hoje dia isso não é mais exclusividade da igreja católica.
Hoje em dia eu digo de boca cheia que só agnóstico e que me libertar da opressão religiosa que existe dentro da minha família foi a melhor coisa que fiz na minha vida, não estou dizendo que não sou mais vítima dos preconceitos, como um homem gay, ainda escuto muitos absurdos principalmente por parte da minha mãe, mas histórias como essa só reforçam meu pensamento que religião é o pior mal que existe na humanidade, não me refiro apenas a cristianismo mas também é ao islamismo, ao judaísmo e todos os outros “ismos”. Jesus nos uma mensagem belíssima mensagem, “amarmos uns aos outros e fazer o bem”, infelizmente suas palavras foram distorcidas por um bando de fanáticos, e dois mil anos depois cá estamos nós, penando com a presença de alguns que só estragam a mensagem tão bonita que Nazareno passou.
Cidade Negra
3.3 5DARK CITY
Direção: William Dieterle
Ano: 1950
Assistido em: 18/02/2024
Como disse em um comentário recente, tem títulos que só lendo duas ou três linhas de uma breve sinopse eu já sei que eu não vou gostar, com outros no entanto, essas mesmas duas ou três linhas já despertam meu interesse de imediato, e foi isso que aconteceu com Dark City, foi só saber do que a trama se tratava, que imediatamente já queria assistir. Mas essas sinopses podem enganar e me meter em belas furadas, já que nem sempre uma boa ideia inicial garante um bom filme.
Após a polícia fechar uma casa de apostas, o dono do local, Danny, junto de seus cúmplices acabam por depenar Arthur , um turista que passava pela cidade, em um jogo totalmente manipulado. A grande questão é que Arthur comete suicídio logo no dia seguinte, e quando seu irmão, um homem completamente insano e bastante perigoso toma conhecimento do ocorrido, ele decide se vingar de todos que levaram seu irmão ao ato desesperado, colocando a vida de Danny e todos ao seu redor em risco.
O longa parte de uma premissa espetacular, temos um protagonista criminoso que não é nem de longe o mocinho honesto, sendo perseguido por um psicótico que quer vingança por algo muito ruim que esse protagonista causou. Quando lembramos que estamos em 1950, quando os protagonistas eram praticamente símbolos morais, Dark City se torna um ponto fora da curva ao apresentar um personagem central todo errado, entretanto, esse diferencial aqui é usado de maneira sofrível, e o que poderia ser grandioso acabou se tornando trivial.
Esse é o primeiro filme do futuro grande filho da puta e também ator, Charlton Heston, e ele está bem, não podemos dizer que está no mesmo nível do que seria no futuro, mas está bem, fora ele, nenhum outro interprete merece destaque. A direção também é muito protocolar, muito básica, e o roteiro não desenvolve os personagens, é tudo muito rápido, muito superficial, o filme é curto e não tem tempo a perder, e com isso acaba sacrificando algo muito relevante, que é nos dar um background maior desses personagens. A única ressalva interessante é não mostrar o vilão em momento algum até a cena final, isso é muito bom porque nos dá aquele ar de monstro, de mal imparável, é como diz o ditado: você tem muito mais medo do desconhecido do que do conhecido.
Dark City foi uma decepção, não é um ruim, mas é fraco, decepcionante, poderia ser muito grande, poderia ser um clássico da década de 50, mas não é. Com uma execução bem qualquer coisa, atuações fracas, e desenvolvimento sem inspiração, Dark City é esquecível, não lembra nada os títulos gigantes que são seus contemporâneos, e está mais para as meia-bombas que são lançadas hoje em dia.
Upgrade: As Cores do Amor
2.8 72 Assista AgoraUPGRADED
Direção: Carlson Young
Ano: 2024
Assistido em: 18/02/2024
Esse filme está no top 10 da Amazon Prime há alguns dias, e sse fosse só pela história eu ia passar longe, bem longe dele, mas devido a problemas técnicos, o título que eu estava programando para assistir no domingo à noite não deu certo, e sem muitas opção, decidi colocar esse aqui em campo e ver se essa popularidade toda é justificada. E honestamente, é a mesma porcaria de sempre, e a única conclusão que cheguei, é que toda essa repercussão só é explicada pelo fato do público amar esses clichês horrendos das comédias românticas.
Ana é uma aspirante a curadora de arte que após muito trabalho conseguiu um emprego em uma grande galeria de Nova York. Ela tem a chance de mostrar seu trabalho a sua chefe quando é convidada para um trabalho em Londres. Devido a um erro, ela acaba sendo colocada na primeira classe e viaja ao lado de William, um rapaz “bonito” e rico por quem ela se interessa, porém Ana acaba mentindo, dizendo que era a diretora de uma grande galeria de Nova York. O que parecia ser uma mentira qualquer para um estranho, vai tomando proporções gigantesca a medida que a jovem precisa mantê-la quando começa a se envolver seriamente com William.
Parando para pensar sobre esse filme, ele não é diferente de nada do gênero, só é bastante problemático, sei que é uma comédia romântica, que de comédia não tem nada já que não existe absolutamente nenhuma cena engraçada, mas fico pensando na mensagem que essa história passa, Ana mente o tempo todo para William e sua família, ela descaradamente assume uma vida que não é sua e não é repreendida em momento algum por isso, muito pelo contrário, ganha um namorado rico, ganha um bom emprego, ganha tudo o que sempre queria por ser uma mentirosa. Entendo perfeitamente que isso aqui é uma ficção, mas fico imaginando quantas pessoas não sonham com esse upgrade mágico em suas vidas, e o roteiro reforça que as coisas podem simplesmente vir da maneira mais fácil possível, cair dos céus, desde que você não tenha um pingo de caráter.
O ponto mais absurdo do filme foi a mãe de Will, Catherine, aceitar as mentiras de Ana tranquilamente! Em que mundo uma mãe rica vai ignorar que uma pobretona se aproximou do seu filho contando inúmeras mentiras, e magicamente se apaixonou por ele?! O golpe da barriga claro e simples, que na vida real não seria aceito por nada nesse mundo
Conheci a Camila Mendes em Riverdale (2017-2023) e gosto dela como atriz, mas infelizmente aqui, sua personagem é uma lástima, verdadeiramente horrível em todos os sentidos, sobre o Archie Renaux, pelo amor de Deus, ele até é gostosinho, mas galã?! Aí já é demais né! Se o sujeito virar para os lados rápido demais causa um furacão. Quem estava melhorzinha na produção é a Marisa Tomei que parecia estar se divertindo bastante, mas a personagem também não é lá essas coisas. Sobre os aspectos técnicos como roteiro, direção, fotografia e etc. é tudo terrivelmente pobre.
Upgraded é apenas mais um na multidão, é a “comédia” romântica genérica da semana, de roteiro fraco e nada memorável, nada marcante, é só mais uma daquelas que há alguns anos lotavam as salas de cinema, mas que de um tempo para cá estão espremidos nos streamings. A história da gata borralheira com um complementos modernos talvez possa agradar quem curte esse tipo de história, mas para quem não é fisgado por isso, nada salva.
Still: A História de Michael J. Fox
4.1 28 Assista AgoraSTILL: A MICHAEL J. FOX MOVIE
Direção: Davis Guggenheim
Ano: 2023
Assistido em: 17/02/2024
Me lembro perfeitamente do dia no qual conheci o Michael J. Fox, o ano era 2001, um domingo à tarde e eu estava na casa de uma amiga da minha mãe, e eles estavam com uma fita VHS de um tal de um “De Volta Para o Futuro”, pronto, foi amor à primeira vista, Marty McFly se tornou o meu herói, um dos meus personagens favoritos da vida, e o Michael imediatamente se tornou o meu ídolo número um. Logo eu fui atrás de outros trabalhos dele, só que infelizmente, fui atropelado por uma notícia devastadora: meu ídolo já não atuava como antes devido a uma doença, o mal de Parkinson.
Do alto da minha ignorância, durante um bom tempo pensava que a única coisa que o Parkinson causava era um tremor nas mãos, eu não tinha noção do quão séria era essa doença neurológica, do quão limitadora ela é, e menos ainda, não conseguia entender como uma pessoa tão jovem com uma carreira tão bem sucedida poderia sofrer de um mau “de gente velha”.
Nesse documentário vemos bem de perto o impacto que essa maldita doença teve na vida do Michael, obviamente ele já havia escrito alguns livros tratando do assunto, mais uma coisa é você lê, outra bem diferente é assistir. Conseguimos finalmente entender como se deu a progressão da própria vida do Michael, de como foi difícil para ele atingir o sucesso, de como foi complicado se adaptar ao estrondoso sucesso, e como foi terrível ver tudo indo abaixo justamente quando ele estava no auge, de sua juventude, de sua fama, de seu sucesso e de seu talento.
Em determinado momento Michael diz a seguinte frase: “foi como se todo aquele sucesso tivesse um preço”, mas apesar disso em momento algum ele se faz de vítima, de coitado. Ele guardou para si esse peso durante muito tempo, não permitiu que seu público soubesse do seu estado, soubesse o quanto estava sendo custoso para ele manter a sua carreira, ele lutou o quanto pode sozinho, até que infelizmente não conseguiu mais, quando finalmente dividiu o seu fardo com o mundo, ele começou uma nova batalha, desta vez para tornar o Parkinson visível, buscando usar sua influência para conseguir investimento em programas de pesquisa, para quem sabe um dia conseguir uma cura para essa maldita doença.
Infelizmente desde a segunda metade dos anos 1990 a carreira do Michael não foi mais a mesma, ele foi obrigado a uma "aposentadoria" forçada, reduzindo drasticamente sua participação no cinema e na TV, mas isso não diminui o impacto, não diminuiu o brilho, não diminui o sucesso que ele representa. Michael J. Fox é um símbolo, ele “é” os anos 80, ele é o rosto de um fenômeno que foi/é a franquia De Volta Para o Futuro, ele marcou gerações de uma forma eterna, e isso essa maldita doença não consegue apagar, não consegue diminuir. Como disse, Marty McFly é se tornou meu herói de imediato, e quando eu soube de toda a história do Michael, ele se tornou um símbolo muito maior do que o próprio McFly, o meu amor pelo cinema se mistura com o amor que tenho por esse baixinho que marcou minha vida, e fico muito feliz que ele enfrente todas essa situação com o mesmo humor com a mesma leveza de sempre, que ele não se deixou abater, e nem perdeu o lindo sorriso que sempre teve, Michael J. Fox merece o mundo, e todo o amor que seus fãs têm por ele há décadas.
Bob Marley: One Love
3.2 130BOB MARLEY: ONE LOVE
Direção: Reinaldo Marcus Green
Ano: 2024
Assistido em: 17/02/2024
Eu não sou o que se pode chamar de fã do Bob Marley, não é que eu tenha algum problema com as músicas dele, muitíssimo pelo contrário, as poucas que conheço acho excelentes, só não tenho um conhecimento aprofundado da vida e da obra dele. Sempre fui um cara voltado para o lado do rock and roll, desde muito novo minhas referências musicais são os clássicos da música britânica e americana, então reggae nunca esteve presente na minha base de formação, mas Marley é diferenciado, é impossível conhecer alguém que nunca tenha escutado nem que seja no mínimo umas três músicas da carreira dele. E agora que Hollywood começou com essa onda de fazer filmes sobre os grandes ícones musicais, é óbvio que o rei do reggae seria contemplado, e fiquei imediatamente animado para finalmente conhecer mais da história dele.
Em 1976, a Jamaica está completamente dividida em meio a uma guerra política que está assolando o país e causando inúmeras baixas. Nesse cenário Bob Marley tenta utilizar a sua influência como uma forma de promover a paz, entretanto nem mesmo o famoso cantor está livre de se tornar uma das vítimas do massacre perpetrado por ambos os lados políticos conflitantes. Quando a vida de Bob é ameaçada, ele decide abandonar o seu país, só que não imaginava que isso seria o fato comitante para torná-lo um super astro Mundial.
O crítico de cinema Dalenogare tem um termo muito bacana que ele chama de “cinebiografia wikipédia”, aquele tipo de filme onde você tem na tela a data de um evento importante da vida de uma pessoa, tem a cena correspondente, pula para próxima data e próximo evento, e vai assim até o final. Bob Marley: One Love não usa essa estratégia, ele é a chamada cinebiografia de recorte, Reinaldo Marcus Green escolheu um ponto específico da carreira de Bob Marley e focou-se nele, nesse caso o ponto é um intervalo entre 1976 e 1978, só que isso acaba nos privando de conhecer outros momentos de extrema relevância da vida do astro. Como disse no primeiro parágrafo, não sou conhecedor da vida do Marley, então eu queria saber detalhes sobre a infância, detalhes sobre como ele se tornou um astro famoso na Jamaica e posteriormente no restante do mundo, é claro que o filme utiliza de artifícios como alguns flashbacks curtos nos contando pequenos detalhes do passado de Marley, mas eu queria algo mais profundo mais bem trabalhado e não tão breve.
Obviamente sendo uma biografia com a participação da família, nós sabemos que muita coisa fica de fora, basta dar uma breve pesquisada na internet sobre alguns pontos mais delicados da vida do cantor e veremos que o longa é beeeem “chapa branca”, e não poderia esperar diferente do Reinaldo Marcus Green já que ele seu último trabalho é justamente King Richard (2021), que passa a maior pano para o pai das irmãs Williams.
Tecnicamente falando o filme tem pontos bem positivos, Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch são bons, apesar de que senti ele muito artificial, principalmente na parte dos shows. As músicas estão muito bem encaixadas nas cenas e a fotografia é bonita, mas o roteiro é muito superficial, não se aprofundando basicamente em nada, nem na importância do Marley para a política jamaicana, nem no real conceito da religião Rastafari nem nada. Tudo é mostrado muito por cima, e quem quiser conhecer mais da relevância, da importância do Bob Marley vai ter que ir atrás da Wikipédia, porque aqui não vai achar muito não.
No geral Bob Marley: One Love é um bom filme, mas uma cinebiografia fraca, justamente por ser extremamente superficial ao falar da vida do biografado. Claramente Marley teve um impacto e uma importância na cultura musical muito maior do que a aqui retratada, o mais próximo que o filme tem de mostrar essa relevância é na confecção do álbum Exodus, mas apenas isso infelizmente não é suficiente para demonstrar todo a força do astro mais famoso da Jamaica.
Madame Teia
2.1 233 Assista AgoraMADAME WEB
Direção: S. J. Clarkson
Ano: 2024
Assistido em: 16/02/2024
Olha eu sou uma pessoa que não pode reclamar muito devido a minha grande teimosia, como disse em outro comentário a pouco tempo, quando o ano começa já sei quais os filmes que verei no cinema e não importa se o crítico A ou B não gosta, se eu decidi que vou assistir na tela grande, vou assistir e acabou, e como já tinha tomado essa decisão sobre essa joça aqui, não posso dizer que fui enganado, aliás desde o princípio eu já sabia que era uma porcaria, mas mesmo assim quis pagar para ver.
Após sofrer uma experiência de quase morte, a paramédica Cassandra Web começa a ter estranhas visões. Essas visões a colocam em rota de colisão com Ezekiel Sims, um perigoso assassino que quer matar três adolescentes. Cassandra vai descobrir como utilizar seus poderes, ao mesmo tempo que descobrirá detalhes até então desconhecidos sobre o seu passado, enquanto protege as garotas e foge de Sims.
Bom, não é segredo para ninguém que a Sony no começo da década de 2010 não fazia a menor ideia do que fazer com o seu Homem-Aranha, e por isso ela emprestou ele para a Disney usar no MCU, e de lá para cá o estúdio vem cometendo crimes contra a humanidade com produções cinematográficas desastrosas focadas nos personagens coadjuvantes do Teioso, e dessa vez eles resolveram fazer uma história sobre a Madame Teia. Madame Teia essa que para mim era um idosa que ajudava/testava o Peter lá na espetacular animação de 1994, mas aqui ela tem a sua história de "origem", precisava? Não! Alguém queria? Também não! Mas já que a Sony decidiu fazer, eles poderiam ao menos ter se esforçado, mesmo que minimamente.
O roteiro saiu das mesmas mãos que fizeram Morbius (2022), dupla que provavelmente deve ter algum vídeo dos executivos da Sony cometendo algum crime hediondo, então não esperava nada além do pior. A direção é de S.J. Clarkson que dirigiu muitas séries, mas que aqui demonstra tanto talento para função quanto uma criança de 5 anos de idade com um celular na mão. O elenco é talentoso, mas os personagens são sofríveis, os efeitos especiais estão no nível da CW, uma edição que parece que picotaram os rolos do filme em inúmeros pedacinhos, jogaram para cima e do jeito que caiu no chão colocaram de novo e colocaram em tela, um desastre. E o vilão?! Que além das motivações anêmicas, é interpretado pelo gato do Tahar Rahim, que está na casa dos 40, quando o personagem tem seus 60/70 anos, e nenhuma explicação decente é dada para a aparência mais jovem dele.
Não sou muito chegado na Dakota Johnson, acho ela uma atriz fraca, e das três atrizes vendidas como "Mulher Aranha" a única que eu conheço e gosto do trabalho é a Sydney Sweeney, mas até ela está ruim, como já disse acima o vilão tem motivações péssimas. A única coisa que me agradou foi o meu querido Adam Scott no papel do tio Ben, e ver todo o arco dele e da personagem da Emma Roberts, que para mim é o que dá para salvar do filme, mesmo sendo descaradamente sem propósito e a Sony não tendo a decência de no mínimo dizer o nome do personagem mais importante desse universo em tela.
Com toda certeza a Sony não vai parar de cometer essas atrocidades que elas andam fazendo ultimamente com os vilões do Homem-Aranha, cabe a nós aceitar ou não. Esse ano ainda tem mais duas, e confesso que até estou interessado no Kraven, já para Venom 3 não tenho nenhuma expectativa. Agora falando sobre Madame Web, é inacreditável como aprovaram esse roteiro justamente para o centenário da Columbia, começar as celebrações com uma catástrofe dessa, só vai manchar uma festa tão bonita que deveria ser a celebração desse um século de existência de um dos maiores mais importantes estúdios de Hollywood.
PS: Creio que esse patrocínio vai ser mais maléfico que benéfico ao nome da Pepsi
PS²: As frases feitas desse roteiro são constrangedoras, mas "Quando você assumir a responsabilidade, um grande poder virá" foi de matar.
The Rocky Horror Picture Show
4.1 1,3K Assista AgoraTHE ROCKY HORROR PICTURE SHOW
Direção: Jim Sharman
Ano: 1975
Assistido em: 13/02/2024
Qualquer cinéfilo que se preze conhece The Rocky Horror Picture Show mesmo que nunca tenha assistido, afinal de contas ele é o maior entre os cults. O amor que sentem por esse filme é incrível, e a forma como as pessoas não tem vergonha de expressar isso é inspirador, é lindo ver o quanto o cinema pode unir as pessoas em meio a uma devoção em comum.
Após o pneu do carro de um jovem casal furar no meio de uma estrada praticamente abandonada, o único local que eles conseguem pedir ajuda é num estranho e misterioso Castelo. Lá dentro eles dão de cara com pessoas extremamente estranhas e com um comportamento totalmente esquisito. Logo eles percebem que estão diante de travestis do planeta transexual, e esses aliens tem perspectiva de vida muito diferente das suas.
Então, não sou o maior adepto a musicais, não é um gênero que me chama atenção porque sou muito chato para música, não é qualquer uma que eu gosto, meus gêneros favoritos são muito específicos, então gente cantando a torto à direita não faz meu tipo, mas fui assistir esse filme de peito aberto, porque tinha a curiosidade de saber como ele era, e tentar entender um pouquinho do fanatismo que ele gerou, e apesar de achar o resultado geral legal, com momentos muito interessantes e músicas legais (principalmente a de abertura, que pra mim é a melhor), sou obrigado a admitir que não encontrei tantas razões para essa idolatria toda não.
A trama é legalzinha, tem um muito de Frankenstein, as letras das músicas fazem a história ir para frente, o elenco é bom, principalmente o Tim Curry, que está absurdo como o cientista Frank-N-Furter, e ainda temos a maravilhosa da Susan Sarandon bem novinha, mas no roteiro que é bom mesmo, o filme deixa a desejar. É tudo extremamente simples, sem praticamente nenhuma curva dramática, é linear demais, sem surpresas, tem uma reviravolta pequenininha ali no final, mas que também não é nada demais, talvez uma grande história não fosse o foco dos roteiristas, mas para mim é um ponto que deixou a desejar.
The Rocky Horror Picture Show é uma boa distração, é interessante para estudar um nicho específico do cinema, que marcou tão forte uma parcela do público que se tornou praticamente o filme cult mais famoso de todos os tempos. Mas para quem não foi fisgado pelo charme dos aliens travestis cantores do planeta transexual, creio que é tudo bem lugar comum, bem simples. Pode ter um efeito 8 ou 80 entre o público, com alguns adorando e outros odiando, eu fico bem no meio termo, gostei mais da primeira metade do que da segunda, mas em linhas Gerais não é algo que considerei marcante, ou que vai ficar na minha lista de favoritos da sétima arte.
Goosebumps: Monstros e Arrepios
3.1 436 Assista AgoraGOOSEBUMPS
Direção: Rob Letterman
Ano: 2015
Assistido em: 12/02/2024
Como cria dos anos 1990, cresci em uma época praticamente sem regras, os filmes exibidos na Sessão da Tarde e principalmente no extinto Cinema em Casa, eram bem inapropriados para o público infantil, mas mesmo assim as emissoras de TV tocavam o foda-se e nos colocavam para assistir comédias inadequadas para o horário cheias de teor sexual, e até produções de terror slasher, portanto a minha geração e o pessoal que nasceu nos anos 1980, foram moldados de uma forma diferente. Cheguei para assistir esse filme com expectativa de ver como são os terrir da geração atual e meu Deus, que desgraça foi essa que assisti?!
Zach Cooper é um adolescente revoltado por ter se mudado de uma cidade grande para um cu de mundo do interior. Ele se encanta pela bela jovem da casa vizinha, e certo dia quando visita seu novo interesse romântico, descobre que ela é filha de um famoso escritor de histórias de terror. O problema é que os monstros dessas histórias são criaturas reais criadas pela imaginação do famoso autor. E quando Zach liberta esses monstros acidentalmente no mundo real, caberá a eles fazer com que essas criaturas voltem para a literatura, antes que façam um grande estrago no nosso mundo.
O grande problema dessa história não é que ela é infantil, existem dramas voltados para o público pequeno que são ótimos, bem escritos e bem desenvolvidos, a questão aqui é que o roteiro é bobo, superficial, não assusta, não entretém, não anima. Como disse, sou cria dos anos 90, assisti produções que eram uma verdadeira lambança de temas, mas que nos deixavam animados, nós faziam vibrar, só lembrar do clássico Gremlins (1984) para citar um exemplo, uma mistura perfeita de comédia com horror, na mesma hora que a gente estava gargalhando com aquelas criaturazinha loucas, arrepiamos com suas insanidades, era puro equilíbrio. Aqui por sua vez, isso não existe, nada convence, a comédia não faz rir, o terror não assusta minimamente, o fato de tudo ser CGI só aumenta o desastre.
Jack Black é um mestre do humor, ele é naturalmente engraçado, quando tem um bom texto na ponta da língua, ele faz ouro, Amy Ryan é outra grande atriz, e quem assistiu The Office (2005-2013) sabe que ela sabe fazer comédia muito bem, já Dylan Minnette não é ator de comédia, mas é ótimo no papel de adolescente, então não sei como conseguiram desperdiçar esse trio e entregar essa uma coisa tão horrenda como essa.
Goosebumps é um filme que já tinha assistido algumas cenas avulsas enquanto zapeava pela televisão, porém, agora que peguei para assistir do começo ao fim foi torturante, foi 1h40min da minha vida desperdiçados com um filmeco que não consegue despertar o mínimo do que se propõe. É um desperdício de dinheiro, tempo e talento tão grande que chega ser revoltante.
Antes do Adeus
3.5 307 Assista AgoraBEFORE WE GO
Direção: Chris Evans
Ano: 2014
Assistido em: 12/02/2024
Nessa brincadeira de muitos atores pularem de trás para a frente das câmeras, e se tornarem diretores, fomos apresentados a alguns dos mais renomados e importantes cineastas de todos os tempos, até poderia citar um bocado deles, mas não vem ao caso. Chris Evans que não é bobo nem nada, e sabe que com o tempo a beleza vai acabando e os dias de galã vão ficar para trás, resolveu estrear como diretor com esse romance genérico lançado há alguns anos atrás.
O músico Nick decide ajudar Brooke, uma mulher desconhecida que ele encontra na estação de trem após ela perder o último transporte para a cidade de Boston. Ao longo da noite eles vão caminhando pela cidade, e à medida que vão se conhecendo melhor, eles vão descobrindo detalhes da vida um do outro que os levarão a repensar suas escolhas, o que os marcará profundamente e possivelmente mudará suas vidas para sempre.
Infelizmente Chris Evans escolheu começar da forma mais sem graça e insossa possível, já nem sei mais quantos filmes românticos foram feitos em que um casal desconhecido, acaba sendo forçado a ficar juntos e nasce um sentimento e blá blá blá, já vimos isso incontáveis vezes, não há novidade, não há surpresa alguma nesse tipo história, basicamente quem viu uma, viu todas, e aqui não é diferente. Os protagonistas Nick e Brooke são superficialmente trabalhados, de uma forma que apenas o básico é mostrado, o suficiente para fazer com o público se afeiçoe a eles, e torçam para que formem um casal, mas comigo isso não funcionou, não liguei a mínima se eles se relacionariam ou não.
A dupla Evans e Alice Eve são lindos e encantam os olhos, mas seus personagens são apagadinhos demais, sem brilho, sem charme. Não existe um bom desenvolvimento, e muito menos um roteiro que diferencie Nick e Brooke dos incontáveis personagens similares que povoam as centenas de títulos do mundo dos cinemas.
Gostaria muito que o Chris desse continuidade a carreira de diretor, mas para isso ele precisava de uma produção com um roteiro mais elaborado, uma história mais interessante, e melhor desenvolvida, com personagem que fossem além do estereótipo padrão de qualquer gênero. Enfim, Before We Go não é aquele desastre que muitos atores quando vão para o lado da direção entregam, mas também não é nada demais, é mais ou menos, irregular, fraquinho mesmo, espero que no futuro Evans retorne com algo mais interessante.
Ficção Americana
3.8 366 Assista AgoraAMERICAN FICTION
Direção: Cord Jefferson
Ano: 2023
Assistido em: 11/01/2024
Como as sinopses nos enganam, não é mesmo?! Quando li sobre American Fiction, achei a ideia genial, e logo pensei que tinha potencial para ser grande, e quando ele começou a aparecer nas listas de prêmios da temporada, pronto, passei a ter certeza de que se tratava de um filmaço, ledo engano, o que temos aqui é a prova viva de que nem sempre o que é bom no papel fica bom nas telas.
Monk, é um professor e escritor que está cansado do público americano preferir histórias negras cheias de estereótipos raciais, em vez de materiais mais finos. Para provar sua teoria, ele adota um pseudônimo e escreve um romance com todos os clichês que detesta, porém tudo fica completamente fora de controle quando o livro se torna um grande best-seller.
Em todos os lugar que abordam cinema, só se fala que esse filme é daqueles feito para o seu protagonista brilhar, e de fato Jeffrey Wright, ator que gosto muito, está muito bem, o problema é que seu personagem é chato, sem graça, sem sal, um verdadeiro saco de acompanhar por duas horas, Monk não é aquele personagem gostoso de se ter como companhia.
Não estou falando que o filme é horrível, não é isso, mas ele fala mais sobre as complicadas relações de um homem meia idade, do que critica o meio literário americano, o que pressuponho que era a ideia base da trama. O roteiro foi mudando de direção ao longo do seu desenvolvimento, ao ponto de eu não conseguir entender qual era o seu foco real. A parte dramática não apresenta nada de novo, e toma muito espaço da parte da comédia, que poderia entregar algo muito mais satisfatório do que os problemas comuns que o protagonista enfrenta.
American Fiction fez barulho, mas chega sem força na temporada de prêmios, e isso é muito justificável quando você assiste, Cord Jefferson entrega um trabalho daqueles que se destacam em um ponto ou outro, mas que no todo não consegue se sobressair, é o mais do mesmo, não sendo diferente de absolutamente nenhum outro drama que foi produzido nos últimos anos, talvez se o diretor/roteirista tivesse focado mais na comédia, na crítica, e na sátira que se propôs, ao invés de perder tanto tempo de tela com drama batido, que já estamos cansados de ver em outras produções, o resultado seria mais satisfatório, mais memorável. Em linhas gerais o que é apresentado é terrivelmente esquecível, e é melhor um filme ser lembrado por ser ruim, do que não ser lembrado por absolutamente nada, o que tudo indica que acontecerá com esse título.
PS: O roteirista/diretor negro, faz um filme reclamando de estereótipos raciais, mas cagou na hora de retratar os gays, usando dos piores artifícios possíveis.