Me recordo que quando esse filme foi lançado em 2009, ele causou bastante burburinho. Particularmente nunca quis assisti-lo, o motivo? Simples, já sabia toda a sua história, já que meus colegas do cursinho do pré-vestibular tinham contado toda trama e suas reviravoltas, logo perdi o interesse. Mas passado mais de uma década, escutando um podcast, fiquei sabendo do caso da menina Natalia Grace, que é muito similar com esse filme, bom similar até a página dois, então, decidi que era a hora de ir atrás do filme.
Após o trauma de perder um filho, o casal John e Kate decidem adotar uma nova criança. No orfanato, eles conhecem uma pequena Esther, uma garota vinda da Rússia que aparentemente era o perfeito encaixe para a vaga em aberto naquela família. Porém, não demora nada para Kate perceber que esta não é uma garotinha normal de 9 anos como ela dizia ser. Só que Kate não poderia imaginar, é que toda sua família está em grave perigo.
Eu amo thrillers, é meu gênero favorito, entretanto confesso que é muito fácil eles apelarem para o absurdo, ao ponto de beirar o ridículo. Consigo aceitar plenamente uma adulta com distúrbio hormonal se passando por uma garotinha de 9 anos, mas eu não consigo aceitar o quão fácil ela consegue manipular um casal de adultos, e amedrontar um adolescente com seus 13 anos mais ou menos. Todo mundo ali é tão inocente, tão puro e tão bonzinho, que Esther facilmente consegue direcioná-los para onde ela bem entende, e outra, mesmo sendo uma mulher de 33 anos, o corpo dela não é de um adulto, e mesmo assim ela consegue prodígios absurdos, ela mata pessoas com uma facilidade assustadora, parece até que são bonecas, enfim, não são detalhes que prejudiquem totalmente o filme, mais fazem com que a suspensão da descrença vá para as cucuias.
Orphan é protagonizado pelos excelentes Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, e Isabelle Fuhrman, que estava muito bem, ela conseguiu me fazer acreditar em determinados momentos no teatro da sua personagem. Entretanto a direção de Jaume Collet-Serra é a mesma, e até estranho perceber que mesmo passados 15 anos ele continua com os mesmos vícios, aqui ele fica o tempo todo criando jumpscares vagabundos, forçando uma atmosfera pouco natural, você sente a quilômetros que determinadas cena não vão dar em nada, e só estão ali para encher linguiça. Outro incômodo é o roteiro, que termina completamente aberto, não nos dando respostas sobre o real destino de alguns personagens, é de uma preguiça absurda por parte dos roteiristas que não se deram o trabalho de escrever uma conclusão satisfatória, ou quem sabe eles até fizeram, e o Collet-Serra que não filmou ou simplesmente cortou na edição final.
Produto de seu tempo, Orphan cheira a thrillers dos anos 2000, aqueles com psicopatas super inteligentes e mocinhos super burros que não enxergam um palmo na frente de seus narizes, facilitando bastante o trabalho dos vilões. Não é um filme revolucionário que vai marcar, ou entrar para a história, mas garante uma diversão momentânea graças a sua história mirabolantes que é feita para divertir e não necessariamente ser marcante.
PS: Eu no lugar da Kate teria curado a psicopatia dessa menina na base de tapa na primeira má resposta que ela me dava, ia fazer ela ficar mansinha em dois tempos.
THE SEARCHERS Direção: John Ford Ano: 1956 Assistido em: 20/04/2024
Ser considerado um dos melhores de todos os tempos coloca uma responsabilidade muito grande e até mesmo desnecessária em cima de alguns filmes, pois quando paramos para assistir queremos ver algo inacreditavelmente bom, completamente diferente dos demais, e por aí vai. Entretanto não é assim que as coisas funcionam, uma produção de 80/70 anos atrás não tem obrigação nenhuma de atender as expectativas que criamos em cima delas décadas depois. Durante anos escutei The Searchers era um dos melhores western de todos, e mesmo não sendo profundo admirador do gênero, cheguei aqui com expectativas demais, mas entretanto nem todas elas foram atendidas.
Nos Estados Unidos pós Guerra de Secessão, somos apresentados a Ethan, ex-militar que retorna a sua família. Entretanto, todo seu mundo vem abaixo quando seu irmão, cunhada e dois de seus sobrinhos são mortos em um ataque indígena. Ethan descobre que Debbie, sua sobrinha menor, estava viva e em poder dos indígenas, com ajuda de Martin, uma espécie de filho adotivo de seu irmão, ele embarca em uma jornada que duraria anos para encontrar sua sobrinha e vingar-se dos índios que mataram toda a sua família.
A dupla John Ford e John Wayne está entre as maiores e mais importantes da história do cinema, mas como disse anteriormente, não sou o maior amante de westerns, portanto é um gênero que eu não tenho muito conhecimento, mas esperava algo a mais vindo da dupla de ouro do cinema, algo diferente do comum, mas não, é o mesmo cowboy machão inveterado de sempre, o supra sumo do homem texano, republicano, o modelo-mor de todo redneck que combate os indígenas sanguinários, cujo maior crime foi terem nascido na terra que os americanos tanto queriam tomar. Mais um filme sobre a bravura do cowboy contra o indígena maligno, não que esses estereótipos formem um filme ruim, mas também não fazem dele especial.
Qualidades técnicas o filme tem de sobra, a direção do John Ford é excelente, com cenas belíssimas alinhadas a paisagens naturais que provam como CGI está longe de conseguir se igualar as belezas verdadeiras do nosso mundo. John Wayne é um bom ator, isso é inegável, entretanto seu personagem é extremamente chato, entendo perfeitamente que suas ações são justificáveis, entretanto Ethan é um personagem difícil de simpatizar, é muito mais fácil simpatizar com o co-protagonista, Martin, do excelente Jeffrey Hunter que estava ótimo no papel. Ainda completam o elenco Vera Miles é um papel bem ingrato, e Natalie Wood, lindíssima como sempre.
Longe de ser ruim, The Searchers não é o que eu esperava, imaginava que por ser um dos unanimemente reconhecidos como melhores de todos os tempos, ele apresentaria alguma diferença no quesito história, mas não, existem contemporâneos a ele que são mais interessantes, e subversivos. Mesmo bom, não consegui a conexão desejada, senti que para o nível dos envolvidos, o roteiro precisava ser mais elaborado.
Conheci a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett através dos novos títulos da franquia Pânico, e confesso que gostei do trabalho deles como diretores apesar de não ter caído de amores por esses últimos dois filmes, principalmente por conta de seus roteiros. Mas surpreendentemente os dois acabaram saindo da franquia antes de fazerem o sétimo episódio, o que se revelou um grande acerto da parte deles, já que a produção do mesmo virou o mais completo caos nos últimos meses, e não satisfeitos em sair, eles também trouxeram uma grande parte da equipe de realizadores junto com eles para essa empreitada, que a princípio, eu acreditava que era um remake de algum clássico de monstros da Universal Pictures, mas que se revelou uma reimaginação muito interessante de elementos utilizados no passado.
Quando um grupo misterioso de seis criminosos recebe a missão de sequestrar uma garotinha filha de um homem muito rico, eles acreditavam ser um trabalho simples, só que o que eles não imaginavam era a tremenda confusão que estavam se metendo. Além de não saberem que o pai de sua refém era um criminoso extremamente perigoso, eles não tinh a menor noção que a aparentemente doce menininha de 11 anos de idade, na realidade é uma vampira com séculos de existência e extremamente agressiva, perigosa e que gosta de brincar com a comida, e agora são eles que são os reféns do pequena filhote de Satanás.
Sempre fui apaixonado por comédias do terror as chamadas “terrir”, a mistura entre esses dois gêneros tão distantes é algo muito atraente, e funciona muito bem, entretanto é difícil encontrar boas histórias com essa pegada, porque é difícil equilibrar bem os dois lados, sem que um apague o outro, E para minha surpresa a dupla Bettinelli-Olpin e Gillett aqui estava bem melhor do que nas suas empreitadas da saga do Ghostface, seus personagens são mais carismáticos, e o elenco está bem confortável, o roteiro é o básico do básico, mas executado de uma maneira muito satisfatória. O filme não busca por grandes inovações, ele aposta no lugar comum, com um único cenário, um objetivo muito claro, gerando assim um bom resultado final.
Alisha Weir me surpreendeu como Abigail, ela consegue muito bem transitar entre a doçura infantil e a psicopatia de uma vampira secular, não sou maior fã da Melissa Barrera, mas aqui ela estava bem, por outro lado gosto muito do trabalho do Dan Stevens, e amo quando ele interpreta um vilão, e mesmo que seu personagem aqui não seja a grande ameaça, adoro quando ele tem um personagem brutal, me lembrou bastante o David de The Guest (2014), um dos melhores papéis da carreira dele. O restante do cast é composto por Kathryn Newton, Will Catlett, Kevin Durand, todos em personagens simples mas bem construídos, e também não podemos deixar de citar o recém falecido Angus Cloud em seu último trabalho, e o elo fraco da produção, Giancarlo Esposito, que deve estar com aluguel atrasado igual ao Seu Madruga, pois ele é grande demais para ter aceitado fazer um papel tão minúsculo, provavelmente deve está pagando algum favor aos executivos da Universal.
O problema do filme é que apesar de do roteiro ter personagens carismáticos, e bons atores os interpretando, o desenvolvimento dos mesmos é bem simplório. Tudo que sabemos sobre os criminosos ou sobre a própria Abigail é dito em linhas de diálogo, indo contra a máxima do cinema "não conte, mostre”, não teria nenhum problema se o corte final tivesse um pouco mais de tempo, talvez 15 a 20 minutos a mais que nos mostrasse um pouco de background tanto da vilã, quanto dos criminosos, nem que fosse dos dois personagens principais, Joey e Frank, mas mesmo assim a história consegue trazer muito mais detalhes sobre os personagem do que muito filminho famoso que por aí.
Abigail foi uma grata surpresa, queria assistir desde o anúncio porque, como disse, tinha a expectativa que fosse algo relacionado aos clássicos da Universal, mas quando revelaram que era uma comédia de terror, imediatamente me animei. Creio que a dupla de diretores tomou uma decisão muito sábia quando optou por deixar filmes de franquias de lado para se enveredar por algo um “pouquinho mais original” talvez esse seja o caminho correto para eles produzirem obras de maior qualidade.
LEGEND Direção: Brian Helgeland Ano: 2015 Assistido em: 14/04/2024
Certa vez lendo uma crítica, me deparei com uma frase cuja aplicação vejo em muitos e muitos filmes, e que que já repeti algumas vezes em meus comentários, a frase é a seguinte: “nem toda boa história, rende bons filmes”. Legend traz uma proposta bem interessante, nos mostrar como dois irmãos gêmeos membros da máfia inglesa tiveram uma vida bastante incomum na década de 1960, para melhorar ainda mais, o roteiro é baseado em uma história real, entretanto a execução dos envolvidos acabou entregando uma produção bem aquém das possibilidades.
Nos anos 1960, os irmãos Reggie e Ronnie Kray são gêmeos, porém bastante diferentes quanto a suas personalidades. Enquanto um tem sérios problemas psicológicos, o outro se vê sobrecarregado ao ser obrigado a assumir o controle das operações da família. Entretanto, eles estão na mira da polícia e de outras organizações criminosas rivais, e precisarão equilibrar essa vida arriscada de gangsters com suas conturbadas vidas pessoais.
O diretor Brian Helgeland não mediu esforços para executar a sua história de uma maneira convincente, ele recria os anos 60 de maneira bem realista, com bons cenários e figurinos, e temos sequências muito bem dirigidas. O elenco é primoroso com Tom Hardy brilhando como gêmeos idênticos fisicamente, mas bem diferentes emocionalmente, Emily Browning apresenta uma atuação bastante sensível, e o elenco de apoio também é repleto de estrelas como Christopher Eccleston, Paul Bettany, Colin Morgan, David Thewlis e Taron Egerton, resumindo Helgeland criou as circunstâncias perfeitas para nos entregar um grande filme de gângster, porém ele falhou no mais importante: na história.
Como bem disse o pessoal em comentários mais abaixo, a história começa do nada e termina em lugar nenhum, não existe uma boa introdução dos irmãos, nós não vemos nada de seu passado, eles apenas aparecem para nós como gêmeos mafiosos, do qual um tem sérios problemas psicológicos e o outro precisa se redobrar para proteger toda a sua operação. Fora isso, o filme não tem nenhuma grande história para ser contada, não tem nenhuma reviravolta e nenhum grande clímax, é como se pegassem um recorte aleatório da vida dos dois gangsters e decidiram levar para as telas, mas esse recorte foi o de uma semana comum e nada empolgante na vida dos gêmeos.
Legend tinha tudo para ser um clássico, mas é um filme fraco e vazio, inegavelmente tem seus valores principalmente na parte de produção e artística, mas é totalmente esquecível, nada marcante, e nem arranha o rodapé nas grandes produções sobre gangsters e sobre a máfia, que tanto são produzidas em Hollywood ao longo das décadas. Esse, por outro lado, é legitimamente frustrante, já que poderia render algo diferente para o gênero, com dois gêmeos criminosos como protagonistas, mas não foi nada além do mais do mesmo.
William Shakespeare sem sombra de dúvidas é o autor mais adaptado da história, isso é inquestionável. Entretanto, o que podemos questionar, e muito, é a qualidade das obras que adaptam suas histórias, já que à medida que temos clássicos, temos também aquelas que são bem aquém do que deveriam ser. Essa versão de Macbeth lançada em 2015 chegou com uma proposta bem ousada, adaptar a história utilizando o mesmo padrão de linguagem escrito por Shakespeare mais de 400 anos antes, porém o tiro aqui saiu pela culatra.
Após escutar a previsão de três bruxas que se tornaria rei, o general Macbeth repleto de ambição decide trair o rei da Escócia. Incitado por sua esposa, ele acaba cometendo regicídio e assumindo o trono. Entretanto, a corte do novo rei é repleta de maquinações, traições e manipulações, o que deixa um novo monarca completamente paranóico acerca de quem lhe quer mal, o levando a total tirania.
Esse foi o primeiro encontro do diretor Justin Kurzel com os atores Michael Fassbender e Marion Cotillard, eles se reencontraram um ano depois para fazer o assombroso Assassin's Creed (2016), que tive o desprazer de ter visto no cinema, mas enfim, minha expectativa é que essa produção apagasse o amargor que a outra havia deixado na minha boca, mas não foi isso que aconteceu. Apesar de possuir um valor de produção muito grande, fotografia, figurinos, cenários, maquiagens e atuações impecáveis, a decisão de manter um roteiro com um inglês arcaico acabou afastando o espectador ao invés de aproximar, por diversos momentos eu mal conseguia entender o que estava sendo dito, isso acabou me frustrando e por consequência fazendo com que minha atenção e interesse no filme se esvaziasse.
Macbeth é bonito, bem produzido com bastante capricho e esmero, o elenco é primoroso, como atores bem dedicados e com cenas de parecem pinturas de tão belas, tudo isso é inegável, mas em sua tentativa de soar diferente, o diretor e os três roteiristas acabaram por sacrificar uma oportunidade de entregar um filme mais acessível, resultando uma obra cansativa, arrastada, que não prende a atenção do público, e que não tem carisma, nunca assisti muitas produções sobre essa peça do Shakespeare em específico, mas creio que existem outras bem melhores por aí e com roteiros bem menos pedantes e enfadonhos.
Em linhas gerais, o grande sentimento que esse filme deixa é de frustração, porque ele não é de todo ruim, mas é muito decepcionante. Tinha absolutamente tudo para se tornar um clássico moderno, mas uma decisão mal calculada de seus realizadores, fez com que tudo acabasse passando batido. Tenho certeza que os professores de inglês clássico, ou estudantes de linguística, devem ter amado, eu particularmente não me enquadro nesse grupo e para mim simplesmente se tornou algo bem esquecível.
THE THIN RED LINE Direção: Terrence Malick Ano: 1998 Assistido em: 13/04/2024
E mais uma vez senti na pele que a frase “a expectativa é a mãe de todas as decepções” sempre está correta. Sou fascinado pela Segunda Guerra Mundial sempre adorei ler sobre o conflito e consumir os mais variados filmes e séries sobre episódios específicos desse período que mudou para sempre a nossa história, e por isso tinha muitas expectativas sobre esse projeto já que ele é muito cultuado, mas também tinha um receio muito grande sobre a forma como Terrence Malick iria contá-la, já que o estilo do diretor definitivamente não é para mim.
Em 1942, um batalhão americano chega à Ilha de Guadalcanal, um dos pontos mais estratégicos para o teatro de operações do Pacifico. Lá eles irão se deparar com os horrores da guerra, ao mesmo tempo que ficaram deslumbrados com a beleza natural do lugar.
Eu não sou cara de imagens bonitas com frases aleatórias sobre a vida, sobre a existência, sobre o universo e blá blá blá, gosto de roteiros com bastante diálogos, daqueles que fazem a narrativa andar, não me põe para assistir nada “introspectivo” ou que “desperte sensações” que não vai dar certo, não julgo quem goste, mas para mim não funciona. E a minha grande decepção, foi que cheguei esperando um grande filme sobre a chamada Operação Torre de Guarda, uma dos mais importantes conflitos da Batalha do Pacífico, mas nada disso é o ponto central, em muitas cenas diretor prefere tirar o som natural do espaço, para substituir por um voiceover repleto de frases que parecem ter saído de um livro de autoajuda. E para piorar os personagens não são bem trabalhados, por melhor que o elenco seja, todo mundo ali é descartável, não decorei o nome de absolutamente ninguém, pois nenhum tem desenvolvimento, não consegui simpatizar com nenhuma figura, e muito menos sentir suas mortes, já que o diretor prefere ficar mostrando paisagens ao som frases de efeito ao invés de trabalhar a história.
Além do fato de ter achado o roteiro raso, outro ponto bastante incômodo é a terrível edição, são 2h50min que parecem que tem o dobro de tempo. Mas apesar das muitas críticas que tenho, é impossível não reconhecer e elogiar a bela fotografia, a atuação do cast e principalmente a trilha sonora do Hans Zimmer, que é de longe uma das mais emblemáticas da carreira dele, e que não tem o reconhecimento que deveria, ela é tão incrível que em muitas cenas me serviu de âncora, não me deixando minha atenção dispersar, já que apenas as imagens não estavam surtindo efeito.
Sei que não é legal ficar comparando filmes mas é impossível não comparar The Thin Red Line com Saving Private Ryan (1998) já que ambos foram lançado no mesmo ano e inclusive disputaram o Oscar daquela temporada, e por mais que o filme do Spielberg também tenha seus problemas como, por exemplo, um patriotismo tão surreal que chega ser risível, como filme, ele é consegue ser muito mais marcante, curiosamente ambos têm a mesma duração, mas enquanto um é dinâmico e você nem sente o tempo passar, o outro é arrastado ao ponto de em muitos momentos chegar a ser tedioso. Esse é o segundo filme do Malick que assisto, e ainda tem alguns títulos dele que tenho a pretensão de assistir, mas ao ver a técnica do diretor, meu sinal de alerta foi a loucura, me avisando para me manter afastado.
PETER PAN Direção: P. J. Hogan Ano: 2003 Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
RAMPAGE Direção: William Friedkim Ano: 1987 Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS (FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN) Direção: Wuershan Ano: 2023 Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
BONNIE AND CLYDE Direção: Arthur Penn Ano: 1967 Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
PATTON Direção: Franklin J. Schaffner Ano: 1970 Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
GODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE Direção: Adam Wingard Ano: 2024 Assistido: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
BRING HIM TO ME Direção: Luke Sparke Ano: 2023 Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
ROAD HOUSE Direção: Doug Liman Ano: 2024 Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
LA VITA È BELLA Direção: Roberto Benigni Ano: 1997 Assistido: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
KUNG FU PANDA 4 Direção: Mike Mitchell Ano: 2024 Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
EX MACHINA Direção: Alex Garland Ano: 2014 Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
THE BOYS IN THE BOAT Direção: George Clooney Ano: 2023 Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
POOR THINGS Direção: Yorgos Lanthimos Ano: 2023 Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
DUNE: PART TWO Direção: Denis Villeneuve Ano: 2024 Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.
A Órfã
3.6 3,4K Assista AgoraORPHAN
Direção: Jaume Collet-Serra
Ano: 2009
Assistido em: 20/04/2024
Me recordo que quando esse filme foi lançado em 2009, ele causou bastante burburinho. Particularmente nunca quis assisti-lo, o motivo? Simples, já sabia toda a sua história, já que meus colegas do cursinho do pré-vestibular tinham contado toda trama e suas reviravoltas, logo perdi o interesse. Mas passado mais de uma década, escutando um podcast, fiquei sabendo do caso da menina Natalia Grace, que é muito similar com esse filme, bom similar até a página dois, então, decidi que era a hora de ir atrás do filme.
Após o trauma de perder um filho, o casal John e Kate decidem adotar uma nova criança. No orfanato, eles conhecem uma pequena Esther, uma garota vinda da Rússia que aparentemente era o perfeito encaixe para a vaga em aberto naquela família. Porém, não demora nada para Kate perceber que esta não é uma garotinha normal de 9 anos como ela dizia ser. Só que Kate não poderia imaginar, é que toda sua família está em grave perigo.
Eu amo thrillers, é meu gênero favorito, entretanto confesso que é muito fácil eles apelarem para o absurdo, ao ponto de beirar o ridículo. Consigo aceitar plenamente uma adulta com distúrbio hormonal se passando por uma garotinha de 9 anos, mas eu não consigo aceitar o quão fácil ela consegue manipular um casal de adultos, e amedrontar um adolescente com seus 13 anos mais ou menos. Todo mundo ali é tão inocente, tão puro e tão bonzinho, que Esther facilmente consegue direcioná-los para onde ela bem entende, e outra, mesmo sendo uma mulher de 33 anos, o corpo dela não é de um adulto, e mesmo assim ela consegue prodígios absurdos, ela mata pessoas com uma facilidade assustadora, parece até que são bonecas, enfim, não são detalhes que prejudiquem totalmente o filme, mais fazem com que a suspensão da descrença vá para as cucuias.
Orphan é protagonizado pelos excelentes Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, e Isabelle Fuhrman, que estava muito bem, ela conseguiu me fazer acreditar em determinados momentos no teatro da sua personagem. Entretanto a direção de Jaume Collet-Serra é a mesma, e até estranho perceber que mesmo passados 15 anos ele continua com os mesmos vícios, aqui ele fica o tempo todo criando jumpscares vagabundos, forçando uma atmosfera pouco natural, você sente a quilômetros que determinadas cena não vão dar em nada, e só estão ali para encher linguiça. Outro incômodo é o roteiro, que termina completamente aberto, não nos dando respostas sobre o real destino de alguns personagens, é de uma preguiça absurda por parte dos roteiristas que não se deram o trabalho de escrever uma conclusão satisfatória, ou quem sabe eles até fizeram, e o Collet-Serra que não filmou ou simplesmente cortou na edição final.
Produto de seu tempo, Orphan cheira a thrillers dos anos 2000, aqueles com psicopatas super inteligentes e mocinhos super burros que não enxergam um palmo na frente de seus narizes, facilitando bastante o trabalho dos vilões. Não é um filme revolucionário que vai marcar, ou entrar para a história, mas garante uma diversão momentânea graças a sua história mirabolantes que é feita para divertir e não necessariamente ser marcante.
PS: Eu no lugar da Kate teria curado a psicopatia dessa menina na base de tapa na primeira má resposta que ela me dava, ia fazer ela ficar mansinha em dois tempos.
Rastros de Ódio
4.1 264 Assista AgoraTHE SEARCHERS
Direção: John Ford
Ano: 1956
Assistido em: 20/04/2024
Ser considerado um dos melhores de todos os tempos coloca uma responsabilidade muito grande e até mesmo desnecessária em cima de alguns filmes, pois quando paramos para assistir queremos ver algo inacreditavelmente bom, completamente diferente dos demais, e por aí vai. Entretanto não é assim que as coisas funcionam, uma produção de 80/70 anos atrás não tem obrigação nenhuma de atender as expectativas que criamos em cima delas décadas depois. Durante anos escutei The Searchers era um dos melhores western de todos, e mesmo não sendo profundo admirador do gênero, cheguei aqui com expectativas demais, mas entretanto nem todas elas foram atendidas.
Nos Estados Unidos pós Guerra de Secessão, somos apresentados a Ethan, ex-militar que retorna a sua família. Entretanto, todo seu mundo vem abaixo quando seu irmão, cunhada e dois de seus sobrinhos são mortos em um ataque indígena. Ethan descobre que Debbie, sua sobrinha menor, estava viva e em poder dos indígenas, com ajuda de Martin, uma espécie de filho adotivo de seu irmão, ele embarca em uma jornada que duraria anos para encontrar sua sobrinha e vingar-se dos índios que mataram toda a sua família.
A dupla John Ford e John Wayne está entre as maiores e mais importantes da história do cinema, mas como disse anteriormente, não sou o maior amante de westerns, portanto é um gênero que eu não tenho muito conhecimento, mas esperava algo a mais vindo da dupla de ouro do cinema, algo diferente do comum, mas não, é o mesmo cowboy machão inveterado de sempre, o supra sumo do homem texano, republicano, o modelo-mor de todo redneck que combate os indígenas sanguinários, cujo maior crime foi terem nascido na terra que os americanos tanto queriam tomar. Mais um filme sobre a bravura do cowboy contra o indígena maligno, não que esses estereótipos formem um filme ruim, mas também não fazem dele especial.
Qualidades técnicas o filme tem de sobra, a direção do John Ford é excelente, com cenas belíssimas alinhadas a paisagens naturais que provam como CGI está longe de conseguir se igualar as belezas verdadeiras do nosso mundo. John Wayne é um bom ator, isso é inegável, entretanto seu personagem é extremamente chato, entendo perfeitamente que suas ações são justificáveis, entretanto Ethan é um personagem difícil de simpatizar, é muito mais fácil simpatizar com o co-protagonista, Martin, do excelente Jeffrey Hunter que estava ótimo no papel. Ainda completam o elenco Vera Miles é um papel bem ingrato, e Natalie Wood, lindíssima como sempre.
Longe de ser ruim, The Searchers não é o que eu esperava, imaginava que por ser um dos unanimemente reconhecidos como melhores de todos os tempos, ele apresentaria alguma diferença no quesito história, mas não, existem contemporâneos a ele que são mais interessantes, e subversivos. Mesmo bom, não consegui a conexão desejada, senti que para o nível dos envolvidos, o roteiro precisava ser mais elaborado.
Abigail
3.4 40ABIGAIL
Direção: Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett
Ano: 2024
Assistido em: 19/04/2024
Conheci a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett através dos novos títulos da franquia Pânico, e confesso que gostei do trabalho deles como diretores apesar de não ter caído de amores por esses últimos dois filmes, principalmente por conta de seus roteiros. Mas surpreendentemente os dois acabaram saindo da franquia antes de fazerem o sétimo episódio, o que se revelou um grande acerto da parte deles, já que a produção do mesmo virou o mais completo caos nos últimos meses, e não satisfeitos em sair, eles também trouxeram uma grande parte da equipe de realizadores junto com eles para essa empreitada, que a princípio, eu acreditava que era um remake de algum clássico de monstros da Universal Pictures, mas que se revelou uma reimaginação muito interessante de elementos utilizados no passado.
Quando um grupo misterioso de seis criminosos recebe a missão de sequestrar uma garotinha filha de um homem muito rico, eles acreditavam ser um trabalho simples, só que o que eles não imaginavam era a tremenda confusão que estavam se metendo. Além de não saberem que o pai de sua refém era um criminoso extremamente perigoso, eles não tinh a menor noção que a aparentemente doce menininha de 11 anos de idade, na realidade é uma vampira com séculos de existência e extremamente agressiva, perigosa e que gosta de brincar com a comida, e agora são eles que são os reféns do pequena filhote de Satanás.
Sempre fui apaixonado por comédias do terror as chamadas “terrir”, a mistura entre esses dois gêneros tão distantes é algo muito atraente, e funciona muito bem, entretanto é difícil encontrar boas histórias com essa pegada, porque é difícil equilibrar bem os dois lados, sem que um apague o outro, E para minha surpresa a dupla Bettinelli-Olpin e Gillett aqui estava bem melhor do que nas suas empreitadas da saga do Ghostface, seus personagens são mais carismáticos, e o elenco está bem confortável, o roteiro é o básico do básico, mas executado de uma maneira muito satisfatória. O filme não busca por grandes inovações, ele aposta no lugar comum, com um único cenário, um objetivo muito claro, gerando assim um bom resultado final.
Alisha Weir me surpreendeu como Abigail, ela consegue muito bem transitar entre a doçura infantil e a psicopatia de uma vampira secular, não sou maior fã da Melissa Barrera, mas aqui ela estava bem, por outro lado gosto muito do trabalho do Dan Stevens, e amo quando ele interpreta um vilão, e mesmo que seu personagem aqui não seja a grande ameaça, adoro quando ele tem um personagem brutal, me lembrou bastante o David de The Guest (2014), um dos melhores papéis da carreira dele. O restante do cast é composto por Kathryn Newton, Will Catlett, Kevin Durand, todos em personagens simples mas bem construídos, e também não podemos deixar de citar o recém falecido Angus Cloud em seu último trabalho, e o elo fraco da produção, Giancarlo Esposito, que deve estar com aluguel atrasado igual ao Seu Madruga, pois ele é grande demais para ter aceitado fazer um papel tão minúsculo, provavelmente deve está pagando algum favor aos executivos da Universal.
O problema do filme é que apesar de do roteiro ter personagens carismáticos, e bons atores os interpretando, o desenvolvimento dos mesmos é bem simplório. Tudo que sabemos sobre os criminosos ou sobre a própria Abigail é dito em linhas de diálogo, indo contra a máxima do cinema "não conte, mostre”, não teria nenhum problema se o corte final tivesse um pouco mais de tempo, talvez 15 a 20 minutos a mais que nos mostrasse um pouco de background tanto da vilã, quanto dos criminosos, nem que fosse dos dois personagens principais, Joey e Frank, mas mesmo assim a história consegue trazer muito mais detalhes sobre os personagem do que muito filminho famoso que por aí.
Abigail foi uma grata surpresa, queria assistir desde o anúncio porque, como disse, tinha a expectativa que fosse algo relacionado aos clássicos da Universal, mas quando revelaram que era uma comédia de terror, imediatamente me animei. Creio que a dupla de diretores tomou uma decisão muito sábia quando optou por deixar filmes de franquias de lado para se enveredar por algo um “pouquinho mais original” talvez esse seja o caminho correto para eles produzirem obras de maior qualidade.
Lendas do Crime
3.3 183LEGEND
Direção: Brian Helgeland
Ano: 2015
Assistido em: 14/04/2024
Certa vez lendo uma crítica, me deparei com uma frase cuja aplicação vejo em muitos e muitos filmes, e que que já repeti algumas vezes em meus comentários, a frase é a seguinte: “nem toda boa história, rende bons filmes”. Legend traz uma proposta bem interessante, nos mostrar como dois irmãos gêmeos membros da máfia inglesa tiveram uma vida bastante incomum na década de 1960, para melhorar ainda mais, o roteiro é baseado em uma história real, entretanto a execução dos envolvidos acabou entregando uma produção bem aquém das possibilidades.
Nos anos 1960, os irmãos Reggie e Ronnie Kray são gêmeos, porém bastante diferentes quanto a suas personalidades. Enquanto um tem sérios problemas psicológicos, o outro se vê sobrecarregado ao ser obrigado a assumir o controle das operações da família. Entretanto, eles estão na mira da polícia e de outras organizações criminosas rivais, e precisarão equilibrar essa vida arriscada de gangsters com suas conturbadas vidas pessoais.
O diretor Brian Helgeland não mediu esforços para executar a sua história de uma maneira convincente, ele recria os anos 60 de maneira bem realista, com bons cenários e figurinos, e temos sequências muito bem dirigidas. O elenco é primoroso com Tom Hardy brilhando como gêmeos idênticos fisicamente, mas bem diferentes emocionalmente, Emily Browning apresenta uma atuação bastante sensível, e o elenco de apoio também é repleto de estrelas como Christopher Eccleston, Paul Bettany, Colin Morgan, David Thewlis e Taron Egerton, resumindo Helgeland criou as circunstâncias perfeitas para nos entregar um grande filme de gângster, porém ele falhou no mais importante: na história.
Como bem disse o pessoal em comentários mais abaixo, a história começa do nada e termina em lugar nenhum, não existe uma boa introdução dos irmãos, nós não vemos nada de seu passado, eles apenas aparecem para nós como gêmeos mafiosos, do qual um tem sérios problemas psicológicos e o outro precisa se redobrar para proteger toda a sua operação. Fora isso, o filme não tem nenhuma grande história para ser contada, não tem nenhuma reviravolta e nenhum grande clímax, é como se pegassem um recorte aleatório da vida dos dois gangsters e decidiram levar para as telas, mas esse recorte foi o de uma semana comum e nada empolgante na vida dos gêmeos.
Legend tinha tudo para ser um clássico, mas é um filme fraco e vazio, inegavelmente tem seus valores principalmente na parte de produção e artística, mas é totalmente esquecível, nada marcante, e nem arranha o rodapé nas grandes produções sobre gangsters e sobre a máfia, que tanto são produzidas em Hollywood ao longo das décadas. Esse, por outro lado, é legitimamente frustrante, já que poderia render algo diferente para o gênero, com dois gêmeos criminosos como protagonistas, mas não foi nada além do mais do mesmo.
Macbeth: Ambição e Guerra
3.5 382 Assista AgoraMACBETH
Direção: Justin Kurzel
Ano: 2015
Assistido em: 15/04/2024
William Shakespeare sem sombra de dúvidas é o autor mais adaptado da história, isso é inquestionável. Entretanto, o que podemos questionar, e muito, é a qualidade das obras que adaptam suas histórias, já que à medida que temos clássicos, temos também aquelas que são bem aquém do que deveriam ser. Essa versão de Macbeth lançada em 2015 chegou com uma proposta bem ousada, adaptar a história utilizando o mesmo padrão de linguagem escrito por Shakespeare mais de 400 anos antes, porém o tiro aqui saiu pela culatra.
Após escutar a previsão de três bruxas que se tornaria rei, o general Macbeth repleto de ambição decide trair o rei da Escócia. Incitado por sua esposa, ele acaba cometendo regicídio e assumindo o trono. Entretanto, a corte do novo rei é repleta de maquinações, traições e manipulações, o que deixa um novo monarca completamente paranóico acerca de quem lhe quer mal, o levando a total tirania.
Esse foi o primeiro encontro do diretor Justin Kurzel com os atores Michael Fassbender e Marion Cotillard, eles se reencontraram um ano depois para fazer o assombroso Assassin's Creed (2016), que tive o desprazer de ter visto no cinema, mas enfim, minha expectativa é que essa produção apagasse o amargor que a outra havia deixado na minha boca, mas não foi isso que aconteceu. Apesar de possuir um valor de produção muito grande, fotografia, figurinos, cenários, maquiagens e atuações impecáveis, a decisão de manter um roteiro com um inglês arcaico acabou afastando o espectador ao invés de aproximar, por diversos momentos eu mal conseguia entender o que estava sendo dito, isso acabou me frustrando e por consequência fazendo com que minha atenção e interesse no filme se esvaziasse.
Macbeth é bonito, bem produzido com bastante capricho e esmero, o elenco é primoroso, como atores bem dedicados e com cenas de parecem pinturas de tão belas, tudo isso é inegável, mas em sua tentativa de soar diferente, o diretor e os três roteiristas acabaram por sacrificar uma oportunidade de entregar um filme mais acessível, resultando uma obra cansativa, arrastada, que não prende a atenção do público, e que não tem carisma, nunca assisti muitas produções sobre essa peça do Shakespeare em específico, mas creio que existem outras bem melhores por aí e com roteiros bem menos pedantes e enfadonhos.
Em linhas gerais, o grande sentimento que esse filme deixa é de frustração, porque ele não é de todo ruim, mas é muito decepcionante. Tinha absolutamente tudo para se tornar um clássico moderno, mas uma decisão mal calculada de seus realizadores, fez com que tudo acabasse passando batido. Tenho certeza que os professores de inglês clássico, ou estudantes de linguística, devem ter amado, eu particularmente não me enquadro nesse grupo e para mim simplesmente se tornou algo bem esquecível.
Além da Linha Vermelha
3.9 382 Assista AgoraTHE THIN RED LINE
Direção: Terrence Malick
Ano: 1998
Assistido em: 13/04/2024
E mais uma vez senti na pele que a frase “a expectativa é a mãe de todas as decepções” sempre está correta. Sou fascinado pela Segunda Guerra Mundial sempre adorei ler sobre o conflito e consumir os mais variados filmes e séries sobre episódios específicos desse período que mudou para sempre a nossa história, e por isso tinha muitas expectativas sobre esse projeto já que ele é muito cultuado, mas também tinha um receio muito grande sobre a forma como Terrence Malick iria contá-la, já que o estilo do diretor definitivamente não é para mim.
Em 1942, um batalhão americano chega à Ilha de Guadalcanal, um dos pontos mais estratégicos para o teatro de operações do Pacifico. Lá eles irão se deparar com os horrores da guerra, ao mesmo tempo que ficaram deslumbrados com a beleza natural do lugar.
Eu não sou cara de imagens bonitas com frases aleatórias sobre a vida, sobre a existência, sobre o universo e blá blá blá, gosto de roteiros com bastante diálogos, daqueles que fazem a narrativa andar, não me põe para assistir nada “introspectivo” ou que “desperte sensações” que não vai dar certo, não julgo quem goste, mas para mim não funciona. E a minha grande decepção, foi que cheguei esperando um grande filme sobre a chamada Operação Torre de Guarda, uma dos mais importantes conflitos da Batalha do Pacífico, mas nada disso é o ponto central, em muitas cenas diretor prefere tirar o som natural do espaço, para substituir por um voiceover repleto de frases que parecem ter saído de um livro de autoajuda. E para piorar os personagens não são bem trabalhados, por melhor que o elenco seja, todo mundo ali é descartável, não decorei o nome de absolutamente ninguém, pois nenhum tem desenvolvimento, não consegui simpatizar com nenhuma figura, e muito menos sentir suas mortes, já que o diretor prefere ficar mostrando paisagens ao som frases de efeito ao invés de trabalhar a história.
Além do fato de ter achado o roteiro raso, outro ponto bastante incômodo é a terrível edição, são 2h50min que parecem que tem o dobro de tempo. Mas apesar das muitas críticas que tenho, é impossível não reconhecer e elogiar a bela fotografia, a atuação do cast e principalmente a trilha sonora do Hans Zimmer, que é de longe uma das mais emblemáticas da carreira dele, e que não tem o reconhecimento que deveria, ela é tão incrível que em muitas cenas me serviu de âncora, não me deixando minha atenção dispersar, já que apenas as imagens não estavam surtindo efeito.
Sei que não é legal ficar comparando filmes mas é impossível não comparar The Thin Red Line com Saving Private Ryan (1998) já que ambos foram lançado no mesmo ano e inclusive disputaram o Oscar daquela temporada, e por mais que o filme do Spielberg também tenha seus problemas como, por exemplo, um patriotismo tão surreal que chega ser risível, como filme, ele é consegue ser muito mais marcante, curiosamente ambos têm a mesma duração, mas enquanto um é dinâmico e você nem sente o tempo passar, o outro é arrastado ao ponto de em muitos momentos chegar a ser tedioso. Esse é o segundo filme do Malick que assisto, e ainda tem alguns títulos dele que tenho a pretensão de assistir, mas ao ver a técnica do diretor, meu sinal de alerta foi a loucura, me avisando para me manter afastado.
Peter Pan
3.5 495 Assista AgoraPETER PAN
Direção: P. J. Hogan
Ano: 2003
Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
Síndrome do Mal
2.9 8RAMPAGE
Direção: William Friedkim
Ano: 1987
Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
Creation of the Gods I: Kingdom of Storms
3.2 5CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS
(FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN)
Direção: Wuershan
Ano: 2023
Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraBONNIE AND CLYDE
Direção: Arthur Penn
Ano: 1967
Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista AgoraPATTON
Direção: Franklin J. Schaffner
Ano: 1970
Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
Godzilla e Kong: O Novo Império
3.2 103GODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE
Direção: Adam Wingard
Ano: 2024
Assistido: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
Bring Him to Me
3.5 1BRING HIM TO ME
Direção: Luke Sparke
Ano: 2023
Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
Matador de Aluguel
3.1 246 Assista AgoraROAD HOUSE
Direção: Doug Liman
Ano: 2024
Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraLA VITA È BELLA
Direção: Roberto Benigni
Ano: 1997
Assistido: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
Kung Fu Panda 4
3.0 43KUNG FU PANDA 4
Direção: Mike Mitchell
Ano: 2024
Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Última Parada 174
3.5 601ÚLTIMA PARADA 174
Direção: Bruno Barreto
Ano: 2008
Assistido em: 17/03/2024
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraEX MACHINA
Direção: Alex Garland
Ano: 2014
Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Miranda's Victim
2.9 3MIRANDA’S VICTIM
Direção: Michelle Danner
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Man Suang
3.2 7MAN SUANG
Diretor: Chatchai Katenut, Pond Krisda Witthayakhajorndet & Bhanbhassa Dhubthien
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
Remando para o Ouro
3.6 14THE BOYS IN THE BOAT
Direção: George Clooney
Ano: 2023
Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Carandiru
3.7 750 Assista AgoraCARANDIRU
Direção: Héctor Babenco
Ano: 2003
Assistido em: 09/03/2024
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraPOOR THINGS
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
Duna: Parte 2
4.4 578DUNE: PART TWO
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2024
Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.