"A repressão é a nossa vacina. Reprimir é civilizar"
Obra magnífica sobre a hipocrisia e corrupção das instituições de justiça, servindo unicamente aos interesses de um pequeno grupo. Uma sátira que representa fielmente a realidade.
Impossível ter qualquer esperança de uma mudança de cenário. Atualmente, por exemplo, vemos um certo presidente aí que vive confessando crimes em lives, eventos, coletivas de imprensa. E os órgãos que deveriam investigar estão mais interessados, na verdade, em ignorar evidências e arranjar justificativas para defendê-lo do indefensável.
Em Frenzy, Hitchcock pôde trabalhar com suas habituais temáticas de forma muito mais gráfica. Há algumas cenas bem fortes aqui, e alguns momentos bastante inspirados.
Entretanto, o filme não encontra muito bem o seu tom, variando entre o suspense e algumas cenas cômicas que parecem deslocadas.
Mas o maior problema de Frenzy é o seu roteiro capenga e cheio de furos do início ao fim. A excelente direção de Hitchcock ainda consegue fazer muito com um texto tão fraco, mas é uma história que não se sustenta.
Bom, First Reformed começa de forma quase idêntica a Luz de inverno de Ingmar Bergman.
O pano de fundo para os conflitos espirituais do protagonista de Luz de inverno é a guerra, e aqui isso é atualizado para a tragédia climática.
Ambas as abordagens são muito provocativas, pois há muita ambiguidade nos ditos ensinamentos de Deus. Nas escrituras bíblicas você encontra ao mesmo tempo um Deus que prega o amor e respeito mutuo entre as pessoas, e um Deus que exalta a guerra e a morte em seu nome. Da mesma forma, o mesmo Deus que prega a preservação de toda a sua criação, também subjugou toda a natureza aos caprichos humanos.
E ao longo dos séculos a humanidade vem se utilizando dessa espécie de "permissão" divina para destruir a natureza. Impossível não lembrar de como Aronofsky também abordou esse mesmo tema de forma incrível em Mother.
O texto de First Reformed é muito forte, o desenvolvimento de personagem é dos mais refinados, é uma obra primorosa com uma crítica muito intensa e necessária.
Minha única ressalva é que Schrader para sua crítica na igreja, enquanto que Bergman avança com ela, passando pela fé e chegando diretamente a Deus. Enquanto Schrader pergunta se Deus poderá nos perdoar, Bergman pergunta se nós poderíamos, algum dia, perdoar Deus.
Written on the Wind é um melodrama clássico que se tornou uma grande obra graças a direção precisa de Douglas Sirk, e a excelente interpretação do quarteto principal.
A trama gira em torno dos conflitos familiares dos Hadleys e de Mitch (um amigo da família), mas o mais interessante da obra é todo o teor sexual latente. Marylee é apaixonada por Mitch, e fica subentendido que seu irmão Kyle também, e isso acabou minando a relação dos dois. E esse triângulo amoroso platônico explode com a entrada de uma quarta peça (Lucy).
Ambos os irmãos adotam comportamentos destrutivos como saída à esse desejo não realizado e impossível. E quando Mitch se apaixona por Lucy, ambos buscam, cada um a sua forma, separá-los.
Claro que tudo fica muito implícito, afinal é um filme dos anos 50, mas os elementos estão sempre lá, escondidos numa fala, num objeto, num jogo de cenas. E são justamente esses conflitos decorrentes da sexualidade reprimida que tornam as personagens tão interessantes. Quer dizer, tornam Kyle e Marylee interessantes, porque Mitch e Lucy não possuem muito aprofundamento psicológico, eles são apenas peças no jogo sintomático dos irmãos Hadleys.
E assim uma história que poderia ser um dramalhão qualquer ganha muito mais força.
Não sou uma fã de musicais. Mas gostei bastante de Tick tick... boom, talvez por ser um musical às avessas.
Fiquei realmente impressionada com a montagem incrível desse filme, sendo um reflexo perfeito dos pensamentos do protagonista.
Assistir a esse filme é uma experiência incrível de entrar na cabeça de um artista e enxergar o mundo através de seus olhos, vivenciando seu sofrido processo criativo. E a direção consegue realmente ser muito imersiva.
E se você também estiver com um pezinho nos 30, tudo ganha ainda mais força.
Sem dúvida um filme divisivo. Muitas pessoas irão se incomodar com o ritmo lento do filme e com a falta de uma história propriamente dita, outras irão se frustrar por esperar uma biografia mais fiel.
Mas a proposta de Larraín era trazer uma fábula, embora inspirada sim em fatos, mas uma fábula sobre uma mulher que foi levada ao limite.
E o filme cumpre totalmente o seu papel, a gente adentra no mundo interior da Diana e vive com ela toda a solidão, angústia, não pertencimento, e sua luta para não ceder e conseguir recuperar sua vida.
São 3 dias impossíveis para Diana, e para nós também. É uma experiência sufocante, a cada formalismo que ela precisa cumprir, eu sentia o peso. O filme é muito eficaz em representar como cada pequena tarefa é insuportavelmente difícil.
Quando uma mulher não é obediente e dócil como se espera, quando uma mulher não aceita todos os abusos que cometem contra ela e rebate, todos ao seu redor a taxam de louca, descontrolada, enfim, o problema é sempre a mulher. E isso num contexto de tanto poder é, claro, muito mais amplificado.
Vi vários comentários de pessoas falando que Diana parecia louca, desesperada, até esquizofrênica. Isso diz muito sobre como as pessoas enxergam mulheres. Porque não, loucura é a forma como aquelas pessoas vivem, uma encenação constante, repelindo qualquer traço de humanidade.
A protagonista é só uma mulher que não aceita viver assim, uma das poucas pessoas saudáveis naquele lugar.
Cat People (1942) é um dos melhores filmes de horror já realizados, sua atmosfera sombria, a maestria com que o suspense é construído, e o forte subtexto sobre repressão sexual o transformaram em um grande clássico.
The curse of the Cat People (1944) não tem qualquer relação com o filme anterior. O que temos aqui é um drama infantil lúdico, com alguns toques de horror. Porém, por pressão do estúdio, o filme foi lançado como uma continuação, buscando surfar no sucesso que Cat People havia sido.
Se fosse um filme solo, sem dúvida seria uma obra muito melhor, pois as conexões que forçam com o filme anterior, além de completamente sem sentido, ainda atrapalham o desenvolvimento da trama.
Poderia ter sido um simpático filme, talvez chamado Amy and her friend, mas essa enganação que o estúdio tentou fazer, infelizmente, é bastante frustrante.
Obra interessante explorando as entranhas da igreja com toda a sua hipocrisia, corrupção, interesses políticos, e transtornos delirantes.
Benedetta é uma protagonista complexa, mas eu particularmente achei que faltou força em sua construção. Tanto que a personagem mais interessante da trama é, de longe, a Abadessa Felicitá.
No geral, achei uma obra bastante aquém do filme anterior do diretor, o perfeito Elle (2016). Aliás, Elle é muito mais provocativo que Benedetta, que nunca atinge de fato a transgressão, talvez porque atualmente a igreja já perdeu muito do status que possuia e esse tipo de filme já não tem a mesma potência que tinha algumas décadas atrás.
Se tivesse sido feito há uns 20 anos, Benedetta seria um grande filme, ainda assim, é uma história que vale a pena ser vista.
Eu adoro o Robert Altman, alguns de seus filmes estão entre os meus favoritos da vida. E Short Cuts é uma grande obra, mas definitivamente é um tipo de filme que não funciona para mim.
Posso dizer que Short Cuts tem o segundo lugar no meu ranking de filmes bons que eu odeio; o primeiro lugar será sempre de Magnólia.
Em Santa Sangre, Jodorowsky promove o encontro do cinema com Freud, em uma trama bela, surrealista, poética, violenta e macabra, onde observamos a origem e desenvolvimento do trauma com base no contexto familiar.
O protagonista, Fenix, como o nome já diz, tem a sua jornada de construção, destruição e reconstrução. Uma jornada sobre o sangue em suas mais variadas representações, como símbolo sagrado, familiar, de tradição, de violência e de morte.
Jodorowsky traz diversas referências cinematográficas: Fellini, Buñuel, Uma analogia belíssima com o Filme The Invisible Man (1933), impossível não lembrar também de Psycho (1960), entre outros, enquanto adentramos o inconsciente do protagonista e nos deparamos com seus traumas, sendo possível analisar elementos como: a Introjeção da mãe, a passagem da fantasia ao Ato, a lei paterna, a repetição, o recalque, e claro, os conflitos do Complexo de Édipo.
Santa Sangre é o paraíso para cinéfilos e psicanalistas, ou para qualquer um que goste de analisar símbolos. Sem dúvida uma obra única.
Fortemente inspirado por “Repulsion", de Roman Polanski, e “Persona”, de Ingmar Bergman, Images é um fascinante mergulho na psiquê de uma mulher.
Uma mulher aprisionada em um grande pesadelo chamado "casamento burguês", cuja única forma que encontra de escapar e fazer frente a ele é a loucura.
Alguns anos mais tarde um outro filme trataria da mesma questão, "Possession" de Andrzej Żuławski, em que a protagonista em um belíssimo e perturbador monólogo discorre sobre o insuportável papel que as mulheres recebem na sociedade tradicional, cujas formas de escapar seriam a doença ou a loucura, o que a desespera, pois desejaria poder escapar e manter a realidade.
E as duas obras possuem muitos paralelos, duas protagonistas que se debatem entre o casamento (a ordem social aceita) e os amantes (atitude de confronto e resistência). Porém, Żuławski levaria isso à máxima potência.
Mas a obra de Altman também possui muita força, todo o simbolismo, o jogo de inversão, a luta interna da protagonista, a morte simbólica dos homens que, cada um a sua forma, a anularam e aprisionaram. E uma incrível cena final em que Cathryn mesmo que tragicamente acaba escolhendo a si mesma.
Em Images, Altman nos leva por um fascinante labirinto que revelam uma realidade cruel e assustadora.
The Magnificent Ambersons é uma obra remendada. Nunca saberemos como o filme teria sido, se os produtores tivessem respeitado as escolhas de Orson Welles.
Porém, em seu cerne ainda vemos a genialidade do diretor, que traz aqui os antagonismos, conflitos e disputas entre a tradição (os Ambersons) e a modernidade (os Morgans).
Centrado nos encontros e desencontros de Eugene e Isabel, o filme extrapola o romance para debater o avanço da sociedade que tenta ser barrado inutilmente por conservadores, muito bem representados na figura de George, um dos personagens mais odiosos do cinema.
Porém, esse debate se perde nos cortes feito pela produtora, que retira grande parte da força do filme, que termina de forma amarga com um "final feliz" sem sentido algum.
Ainda assim, uma obra que vale a pena ser vista e que ainda carrega a marca da direção precisa de Orson Welles.
Eu busquei ao máximo não saber nada sobre The Power of The Dog antes de assistir, mas ainda assim esperava que seria determinado tipo de filme.
E que felicidade quando a trama se encaminhou para algo completamente diferente.
É uma delícia assistir a um filme que subverte seu gênero. É uma delícia ver um filme com um roteiro tão bem escrito, com cada pequena palavra no seu devido lugar, onde cada pequeno gesto se enche de significado.
A tensão, o constrangimento, a solidão, a infelicidade, o amor perdido, os ataques silenciosos, o plano que se desenrola, a dinâmica de poder se alterando. Tudo tão sutil e tão forte. Ao mesmo tempo escondido e aos olhos de todos (dos querem ver pelo menos), assim como o cão na montanha.
Para mim só não foi 5 estrelas por conta de uma fala ao final que explica algo que não precisava, e algumas transições temporais que poderiam funcionar melhor.
Mas belíssima obra, uma história simples, mas com um aprofundamento psicológico muito poderoso. Que grande experiência. Cinema é isso.
Eu li o livro, gostei muito. Gosto do Villeneuve. Porém, achei um filme completamente vazio, não conseguiu me despertar uma única emoção. Minha experiência foi resumida em ficar 2h30min vendo imagens de deserto e gente desinteressante. Porém, a construção do universo de Duna é muito bem feita.
Filme divertido, dentro da fórmula clássica da época, e que aborda algumas questões trabalhistas. A mistura de comédia, romance e crítica social funciona bem.
Raw é um filme que esteve na minha watchlist desde o seu laçamento, mas por algum motivo eu o adiei por todos esses anos. Porém, após ver Titane (2021), eu sabia que precisava assistí-lo.
E realmente, que baita diretora é a Julia Ducournau, com seu cinema estranho e controverso ela consegue imprimir uma estética visual bem forte e suscitar muitas reflexões.
Raw utiliza da metáfora do canibalismo para discutir o predatismo social, a busca por independência, a sexualidade feminina e o que separa (ou não separa) humanos de animais.
Robert Altman é um diretor excepcional. Eu adoro 3 Women (1977), e The Long Goodbye (1973) é um dos meus filmes favoritos da vida. Em The Player, o diretor entrega mais um trabalho primoroso.
Temos aqui uma divertida e irônica trama, repleta de metalinguagem, acerca de Hollywood, que em seu processo industrial reduziu o cinema a uma série de clichês, sufocando qualquer processo criativo em prol do lucro dos executivos.
Griffin Mills é o personagem perfeito para encabeçar essa trama, autocentrado, narcisista, paranóico. E quando ele se junta à June (a artista viúva, que não gosta de ler, não vê filmes, não finaliza suas pinturas, e nem sabe em que acredita na vida) vemos que a crítica de Altman também chega à dita arte vazia e sem propósito. Como nos filmes que só se preocupam com a estética, planos rebuscados, mas que no fim não possuem nada a dizer. Um belo casal, sem dúvida.
Aliás, o filme já abre de forma perfeita ao recriar a clássica cena de Touch of Evil (1958), mas diferentemente desta, sem propósito algum, já estabelecendo assim a ironia e a sua crítica a quem coloca o estilo acima do conteúdo.
A trama segue entranhando cada vez mais nos jogos desenvolvidos pelos grandes nomes por trás do cinema Hollywoodiano em seu esforço de transformá-lo em pura publicidade, afinal basta misturar comédia, um drama barato, grandes estrelas, um final feliz e pronto, se agrada a massa e correm rios de dinheiro.
Fico pensando o que Altman acharia da Hollywood de hoje, onde o fan service domina tudo.
O filme termina então dando um nó em si mesmo em mais um brilhante jogo de metalinguagem, afinal "The Player" também é Hollywood, mas com a capacidade de olhar para si mesmo e fazer a crítica de dentro para fora.
Uma obs: a cena com Bruce Willis e Julia Roberts é engraçada demais.
Mills afirmava que um final não poderia ser ambíguo e principalmente, um personagem não poderia ser vilão e mocinho ao mesmo tempo. Bom, com Altman, o público vai ter que aprender lidar com isso.
Boas cenas de abertura tem a capacidade de resumir toda a obra que virá a seguir. E boas cenas finais tem a capacidade condensar toda a gama de sentimentos desenvolvidos ao longo da trama em uma imagem marcante e poderosa. Mouchette possui as duas coisas.
Bresson e a sua capacidade de nos surpreender com o familiar, nos apresentando personagens privadas dos alicerces nos quais se baseiam a sociedade moderna, o autor utiliza a crua realidade para discutir as questões mais profundas do espírito humano.
Em Mouchette, vemos o sofrimento de uma adolescente constantemente abusada por toda a sua comunidade. Mas Bresson não trata o assunto de forma nem sentimental nem moralista, todos os membros aqui aparecem como embrutecidos pela pobreza e desamparo. Não há interpretações simples para o que vemos na obra e o autor constantemente nos lembra que somos testemunhas silenciosas de uma tragédia da qual também fazemos parte.
A cena final de Mouchette é uma das mais marcantes na história do cinema, lindamente filmada e fugindo das interpretações simples. De forma brilhante, Bresson esvazia o potencial melodramático da cena. O autor não apresenta Mouchette como uma vítima convencional, não nos permite entender seu final como trágico. Em vez disso, vemos uma reminiscência das brincadeiras de criança, o vestido branco rasgado como metáfora da vida da menina, e então ela sendo a agente de um gesto de libertação.
Sem dúvida um filme que fornece uma gama de interpretações possíveis, correndo o risco até de algumas pessoas, equivocadamente, colocarem em dúvida se algumas coisas são abuso ou não. Mas é óbvio que são, não há discussão nisso. A questão é que Mouchette é mais do que essas experiências, reduzi-la a uma vítima apenas seria também um gesto de violência do espectador. E Bresson, o filme todo, introduz elementos que não nos permite desenvolver um sentimento de piedade pela menina, o que engrandece muito a personagem.
Devemos lembrar também que Mouchette é veículo de externalização de uma angustia coletiva. O sofrimento social é exorcizado com violência, abuso, exclusão, etc. Já vimos muitas histórias assim, não é? Aliás, uma das histórias na qual se centra nossa sociedade ocidental é a de Jesus Cristo, torturado e morto como forma de salvar a humanidade. E Mouchette também tem aqui sua espécie de via crucis.
Como disse, Bresson nos traz o familiar para discurtir questões espirituais. Cabe a reflexão do porquê de estarmos constantemente sacrificando certas pessoas ou grupos como busca de uma cura social.
E só uma observação: esse é um dos subtítulos de mais mau gosto que já deram a um filme no Brasil.
A premissa é boa, tem uma atmosfera melancólica que funciona, o desenvolvimento da doença é pesado de acompanhar e, meu deus, que filme nojento.
Porém, o trabalho de direção é muito ruim, atuações capengas, arcos mal desenvolvidos... Com uma direção mais competente e mais orçamento daria um ótimo filme, como foi o caso de seu primo, "It Follows".
Mas o que mais incomoda nesse filme é que a mulher foi drogada e estuprada, e todo mundo na trama trata como se tivesse sido um sexo casual. Inclusive é o que aparece nas sinopses. Se fosse bem desenvolvido na trama, seria uma crítica à culpabilização da mulher, mas não, só é ignorado.
O fato da personagem ser lésbica é mencionado diversas vezes no filme, ela tem um conflito com a mãe por conta disso, um ex que não aceita a sexualidade dela e a persegue. E fico pensando o quanto teria sido legal se isso tivesse sido bem desenvolvido, trazendo a doença como metáfora para a não aceitação e punição da homoafetividade. Mas da forma como é feito é muito pobre, uns diálogos jogados aleatóriamente sem aprofundamento e peso na história. Porém, o material bruto tá lá, só precisaria ser melhor trabalhado.
Um filme lindo, triste, sensível. A vida é mesmo uma bagunça e é um eterno tentar se equilibrar.
2 pontos me fizeram sair um pouco da experiência:
Eu amo o filme Thelma (2017), e fui com muitas expectativas para esse. Sem dúvida aqui vemos um trabalho mais maduro, mas Thelma traz um estudo sobre o desejo tão prufundo, alegórico e potente. Enquanto que aqui prevalece o cotidiano, o simples, e eu senti falta de um pouco mais dessa potência. Mas isso é uma questão pessoal, não é um problema do filme.
E o segundo ponto é que eu já vi esse filme antes, é brasileiro e se chama Pendular (2017). Não do ponto de vista da história exatamente, mas o conteúdo latente é o mesmo. Sem dúvida que aqui há um apuro técnico maior, mas foi como ter a mesma experiência outra vez.
De toda forma, um dos melhores filmes de 2021, se não o melhor.
O trabalho de ambientação é impecável, a atuação das protagonistas excelente. A degradação psicológica da Eloise muito inspirado em Repulsion funciona super bem. E o arco da Sandie é sensacional.
E é muito triste que a trama tenha encerrado de forma medíocre como foi. Realmente uma pena pois o final tira toda a força do filme.
Mas ainda assim foi uma ótima experiência. Me senti assistindo a um crossover de Repulsion com A Redoma de Vidro. Curti bastante.
Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita
4.2 45"A repressão é a nossa vacina. Reprimir é civilizar"
Obra magnífica sobre a hipocrisia e corrupção das instituições de justiça, servindo unicamente aos interesses de um pequeno grupo. Uma sátira que representa fielmente a realidade.
Impossível ter qualquer esperança de uma mudança de cenário. Atualmente, por exemplo, vemos um certo presidente aí que vive confessando crimes em lives, eventos, coletivas de imprensa. E os órgãos que deveriam investigar estão mais interessados, na verdade, em ignorar evidências e arranjar justificativas para defendê-lo do indefensável.
Frenesi
3.9 272 Assista AgoraEm Frenzy, Hitchcock pôde trabalhar com suas habituais temáticas de forma muito mais gráfica. Há algumas cenas bem fortes aqui, e alguns momentos bastante inspirados.
Entretanto, o filme não encontra muito bem o seu tom, variando entre o suspense e algumas cenas cômicas que parecem deslocadas.
Mas o maior problema de Frenzy é o seu roteiro capenga e cheio de furos do início ao fim. A excelente direção de Hitchcock ainda consegue fazer muito com um texto tão fraco, mas é uma história que não se sustenta.
Fé Corrompida
3.7 375 Assista AgoraBom, First Reformed começa de forma quase idêntica a Luz de inverno de Ingmar Bergman.
O pano de fundo para os conflitos espirituais do protagonista de Luz de inverno é a guerra, e aqui isso é atualizado para a tragédia climática.
Ambas as abordagens são muito provocativas, pois há muita ambiguidade nos ditos ensinamentos de Deus. Nas escrituras bíblicas você encontra ao mesmo tempo um Deus que prega o amor e respeito mutuo entre as pessoas, e um Deus que exalta a guerra e a morte em seu nome. Da mesma forma, o mesmo Deus que prega a preservação de toda a sua criação, também subjugou toda a natureza aos caprichos humanos.
E ao longo dos séculos a humanidade vem se utilizando dessa espécie de "permissão" divina para destruir a natureza. Impossível não lembrar de como Aronofsky também abordou esse mesmo tema de forma incrível em Mother.
O texto de First Reformed é muito forte, o desenvolvimento de personagem é dos mais refinados, é uma obra primorosa com uma crítica muito intensa e necessária.
Minha única ressalva é que Schrader para sua crítica na igreja, enquanto que Bergman avança com ela, passando pela fé e chegando diretamente a Deus. Enquanto Schrader pergunta se Deus poderá nos perdoar, Bergman pergunta se nós poderíamos, algum dia, perdoar Deus.
Palavras ao Vento
3.9 53 Assista AgoraWritten on the Wind é um melodrama clássico que se tornou uma grande obra graças a direção precisa de Douglas Sirk, e a excelente interpretação do quarteto principal.
A trama gira em torno dos conflitos familiares dos Hadleys e de Mitch (um amigo da família), mas o mais interessante da obra é todo o teor sexual latente. Marylee é apaixonada por Mitch, e fica subentendido que seu irmão Kyle também, e isso acabou minando a relação dos dois. E esse triângulo amoroso platônico explode com a entrada de uma quarta peça (Lucy).
Ambos os irmãos adotam comportamentos destrutivos como saída à esse desejo não realizado e impossível. E quando Mitch se apaixona por Lucy, ambos buscam, cada um a sua forma, separá-los.
Claro que tudo fica muito implícito, afinal é um filme dos anos 50, mas os elementos estão sempre lá, escondidos numa fala, num objeto, num jogo de cenas. E são justamente esses conflitos decorrentes da sexualidade reprimida que tornam as personagens tão interessantes. Quer dizer, tornam Kyle e Marylee interessantes, porque Mitch e Lucy não possuem muito aprofundamento psicológico, eles são apenas peças no jogo sintomático dos irmãos Hadleys.
E assim uma história que poderia ser um dramalhão qualquer ganha muito mais força.
tick, tick... BOOM!
3.8 450Não sou uma fã de musicais. Mas gostei bastante de Tick tick... boom, talvez por ser um musical às avessas.
Fiquei realmente impressionada com a montagem incrível desse filme, sendo um reflexo perfeito dos pensamentos do protagonista.
Assistir a esse filme é uma experiência incrível de entrar na cabeça de um artista e enxergar o mundo através de seus olhos, vivenciando seu sofrido processo criativo. E a direção consegue realmente ser muito imersiva.
E se você também estiver com um pezinho nos 30, tudo ganha ainda mais força.
Spencer
3.7 569 Assista AgoraSem dúvida um filme divisivo. Muitas pessoas irão se incomodar com o ritmo lento do filme e com a falta de uma história propriamente dita, outras irão se frustrar por esperar uma biografia mais fiel.
Mas a proposta de Larraín era trazer uma fábula, embora inspirada sim em fatos, mas uma fábula sobre uma mulher que foi levada ao limite.
E o filme cumpre totalmente o seu papel, a gente adentra no mundo interior da Diana e vive com ela toda a solidão, angústia, não pertencimento, e sua luta para não ceder e conseguir recuperar sua vida.
São 3 dias impossíveis para Diana, e para nós também. É uma experiência sufocante, a cada formalismo que ela precisa cumprir, eu sentia o peso. O filme é muito eficaz em representar como cada pequena tarefa é insuportavelmente difícil.
Quando uma mulher não é obediente e dócil como se espera, quando uma mulher não aceita todos os abusos que cometem contra ela e rebate, todos ao seu redor a taxam de louca, descontrolada, enfim, o problema é sempre a mulher. E isso num contexto de tanto poder é, claro, muito mais amplificado.
Vi vários comentários de pessoas falando que Diana parecia louca, desesperada, até esquizofrênica. Isso diz muito sobre como as pessoas enxergam mulheres. Porque não, loucura é a forma como aquelas pessoas vivem, uma encenação constante, repelindo qualquer traço de humanidade.
A protagonista é só uma mulher que não aceita viver assim, uma das poucas pessoas saudáveis naquele lugar.
A Maldição do Sangue da Pantera
3.6 18Cat People (1942) é um dos melhores filmes de horror já realizados, sua atmosfera sombria, a maestria com que o suspense é construído, e o forte subtexto sobre repressão sexual o transformaram em um grande clássico.
The curse of the Cat People (1944) não tem qualquer relação com o filme anterior. O que temos aqui é um drama infantil lúdico, com alguns toques de horror. Porém, por pressão do estúdio, o filme foi lançado como uma continuação, buscando surfar no sucesso que Cat People havia sido.
Se fosse um filme solo, sem dúvida seria uma obra muito melhor, pois as conexões que forçam com o filme anterior, além de completamente sem sentido, ainda atrapalham o desenvolvimento da trama.
Poderia ter sido um simpático filme, talvez chamado Amy and her friend, mas essa enganação que o estúdio tentou fazer, infelizmente, é bastante frustrante.
A Filha Perdida
3.6 573Leda é aquela personagem complexa, humana e real. Eu não necessariamente gostei dela, mas certamente a entendi.
Benedetta
3.5 198 Assista AgoraObra interessante explorando as entranhas da igreja com toda a sua hipocrisia, corrupção, interesses políticos, e transtornos delirantes.
Benedetta é uma protagonista complexa, mas eu particularmente achei que faltou força em sua construção. Tanto que a personagem mais interessante da trama é, de longe, a Abadessa Felicitá.
No geral, achei uma obra bastante aquém do filme anterior do diretor, o perfeito Elle (2016). Aliás, Elle é muito mais provocativo que Benedetta, que nunca atinge de fato a transgressão, talvez porque atualmente a igreja já perdeu muito do status que possuia e esse tipo de filme já não tem a mesma potência que tinha algumas décadas atrás.
Se tivesse sido feito há uns 20 anos, Benedetta seria um grande filme, ainda assim, é uma história que vale a pena ser vista.
Short Cuts: Cenas da Vida
4.0 97Eu adoro o Robert Altman, alguns de seus filmes estão entre os meus favoritos da vida. E Short Cuts é uma grande obra, mas definitivamente é um tipo de filme que não funciona para mim.
Posso dizer que Short Cuts tem o segundo lugar no meu ranking de filmes bons que eu odeio; o primeiro lugar será sempre de Magnólia.
Santa Sangre
4.2 150Em Santa Sangre, Jodorowsky promove o encontro do cinema com Freud, em uma trama bela, surrealista, poética, violenta e macabra, onde observamos a origem e desenvolvimento do trauma com base no contexto familiar.
O protagonista, Fenix, como o nome já diz, tem a sua jornada de construção, destruição e reconstrução. Uma jornada sobre o sangue em suas mais variadas representações, como símbolo sagrado, familiar, de tradição, de violência e de morte.
Jodorowsky traz diversas referências cinematográficas: Fellini, Buñuel, Uma analogia belíssima com o Filme The Invisible Man (1933), impossível não lembrar também de Psycho (1960), entre outros, enquanto adentramos o inconsciente do protagonista e nos deparamos com seus traumas, sendo possível analisar elementos como: a Introjeção da mãe, a passagem da fantasia ao Ato, a lei paterna, a repetição, o recalque, e claro, os conflitos do Complexo de Édipo.
Santa Sangre é o paraíso para cinéfilos e psicanalistas, ou para qualquer um que goste de analisar símbolos. Sem dúvida uma obra única.
Ghostbusters: Mais Além
3.5 404 Assista AgoraAté poderia gostar, se eu tivesse 10 anos e assistisse na sessão da tarde. Nostalgia não conserta um filme ruim.
Imagens
3.8 29Fortemente inspirado por “Repulsion", de Roman Polanski, e “Persona”, de Ingmar Bergman, Images é um fascinante mergulho na psiquê de uma mulher.
Uma mulher aprisionada em um grande pesadelo chamado "casamento burguês", cuja única forma que encontra de escapar e fazer frente a ele é a loucura.
Alguns anos mais tarde um outro filme trataria da mesma questão, "Possession" de Andrzej Żuławski, em que a protagonista em um belíssimo e perturbador monólogo discorre sobre o insuportável papel que as mulheres recebem na sociedade tradicional, cujas formas de escapar seriam a doença ou a loucura, o que a desespera, pois desejaria poder escapar e manter a realidade.
E as duas obras possuem muitos paralelos, duas protagonistas que se debatem entre o casamento (a ordem social aceita) e os amantes (atitude de confronto e resistência). Porém, Żuławski levaria isso à máxima potência.
Mas a obra de Altman também possui muita força, todo o simbolismo, o jogo de inversão, a luta interna da protagonista, a morte simbólica dos homens que, cada um a sua forma, a anularam e aprisionaram. E uma incrível cena final em que Cathryn mesmo que tragicamente acaba escolhendo a si mesma.
Em Images, Altman nos leva por um fascinante labirinto que revelam uma realidade cruel e assustadora.
Soberba
3.8 75 Assista AgoraThe Magnificent Ambersons é uma obra remendada. Nunca saberemos como o filme teria sido, se os produtores tivessem respeitado as escolhas de Orson Welles.
Porém, em seu cerne ainda vemos a genialidade do diretor, que traz aqui os antagonismos, conflitos e disputas entre a tradição (os Ambersons) e a modernidade (os Morgans).
Centrado nos encontros e desencontros de Eugene e Isabel, o filme extrapola o romance para debater o avanço da sociedade que tenta ser barrado inutilmente por conservadores, muito bem representados na figura de George, um dos personagens mais odiosos do cinema.
Porém, esse debate se perde nos cortes feito pela produtora, que retira grande parte da força do filme, que termina de forma amarga com um "final feliz" sem sentido algum.
Ainda assim, uma obra que vale a pena ser vista e que ainda carrega a marca da direção precisa de Orson Welles.
Ataque dos Cães
3.7 932Eu busquei ao máximo não saber nada sobre The Power of The Dog antes de assistir, mas ainda assim esperava que seria determinado tipo de filme.
E que felicidade quando a trama se encaminhou para algo completamente diferente.
É uma delícia assistir a um filme que subverte seu gênero. É uma delícia ver um filme com um roteiro tão bem escrito, com cada pequena palavra no seu devido lugar, onde cada pequeno gesto se enche de significado.
A tensão, o constrangimento, a solidão, a infelicidade, o amor perdido, os ataques silenciosos, o plano que se desenrola, a dinâmica de poder se alterando. Tudo tão sutil e tão forte. Ao mesmo tempo escondido e aos olhos de todos (dos querem ver pelo menos), assim como o cão na montanha.
Para mim só não foi 5 estrelas por conta de uma fala ao final que explica algo que não precisava, e algumas transições temporais que poderiam funcionar melhor.
Mas belíssima obra, uma história simples, mas com um aprofundamento psicológico muito poderoso. Que grande experiência. Cinema é isso.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraEu li o livro, gostei muito. Gosto do Villeneuve. Porém, achei um filme completamente vazio, não conseguiu me despertar uma única emoção. Minha experiência foi resumida em ficar 2h30min vendo imagens de deserto e gente desinteressante. Porém, a construção do universo de Duna é muito bem feita.
O Diabo e a Mulher
4.3 9 Assista AgoraFilme divertido, dentro da fórmula clássica da época, e que aborda algumas questões trabalhistas. A mistura de comédia, romance e crítica social funciona bem.
Grave
3.4 1,1KRaw é um filme que esteve na minha watchlist desde o seu laçamento, mas por algum motivo eu o adiei por todos esses anos. Porém, após ver Titane (2021), eu sabia que precisava assistí-lo.
E realmente, que baita diretora é a Julia Ducournau, com seu cinema estranho e controverso ela consegue imprimir uma estética visual bem forte e suscitar muitas reflexões.
Raw utiliza da metáfora do canibalismo para discutir o predatismo social, a busca por independência, a sexualidade feminina e o que separa (ou não separa) humanos de animais.
O Jogador
4.0 85 Assista AgoraRobert Altman é um diretor excepcional. Eu adoro 3 Women (1977), e The Long Goodbye (1973) é um dos meus filmes favoritos da vida. Em The Player, o diretor entrega mais um trabalho primoroso.
Temos aqui uma divertida e irônica trama, repleta de metalinguagem, acerca de Hollywood, que em seu processo industrial reduziu o cinema a uma série de clichês, sufocando qualquer processo criativo em prol do lucro dos executivos.
Griffin Mills é o personagem perfeito para encabeçar essa trama, autocentrado, narcisista, paranóico. E quando ele se junta à June (a artista viúva, que não gosta de ler, não vê filmes, não finaliza suas pinturas, e nem sabe em que acredita na vida) vemos que a crítica de Altman também chega à dita arte vazia e sem propósito. Como nos filmes que só se preocupam com a estética, planos rebuscados, mas que no fim não possuem nada a dizer. Um belo casal, sem dúvida.
Aliás, o filme já abre de forma perfeita ao recriar a clássica cena de Touch of Evil (1958), mas diferentemente desta, sem propósito algum, já estabelecendo assim a ironia e a sua crítica a quem coloca o estilo acima do conteúdo.
A trama segue entranhando cada vez mais nos jogos desenvolvidos pelos grandes nomes por trás do cinema Hollywoodiano em seu esforço de transformá-lo em pura publicidade, afinal basta misturar comédia, um drama barato, grandes estrelas, um final feliz e pronto, se agrada a massa e correm rios de dinheiro.
Fico pensando o que Altman acharia da Hollywood de hoje, onde o fan service domina tudo.
O filme termina então dando um nó em si mesmo em mais um brilhante jogo de metalinguagem, afinal "The Player" também é Hollywood, mas com a capacidade de olhar para si mesmo e fazer a crítica de dentro para fora.
Uma obs: a cena com Bruce Willis e Julia Roberts é engraçada demais.
Mills afirmava que um final não poderia ser ambíguo e principalmente, um personagem não poderia ser vilão e mocinho ao mesmo tempo. Bom, com Altman, o público vai ter que aprender lidar com isso.
Mouchette, a Virgem Possuída
4.0 58 Assista AgoraBoas cenas de abertura tem a capacidade de resumir toda a obra que virá a seguir. E boas cenas finais tem a capacidade condensar toda a gama de sentimentos desenvolvidos ao longo da trama em uma imagem marcante e poderosa. Mouchette possui as duas coisas.
Bresson e a sua capacidade de nos surpreender com o familiar, nos apresentando personagens privadas dos alicerces nos quais se baseiam a sociedade moderna, o autor utiliza a crua realidade para discutir as questões mais profundas do espírito humano.
Em Mouchette, vemos o sofrimento de uma adolescente constantemente abusada por toda a sua comunidade. Mas Bresson não trata o assunto de forma nem sentimental nem moralista, todos os membros aqui aparecem como embrutecidos pela pobreza e desamparo. Não há interpretações simples para o que vemos na obra e o autor constantemente nos lembra que somos testemunhas silenciosas de uma tragédia da qual também fazemos parte.
A cena final de Mouchette é uma das mais marcantes na história do cinema, lindamente filmada e fugindo das interpretações simples. De forma brilhante, Bresson esvazia o potencial melodramático da cena. O autor não apresenta Mouchette como uma vítima convencional, não nos permite entender seu final como trágico. Em vez disso, vemos uma reminiscência das brincadeiras de criança, o vestido branco rasgado como metáfora da vida da menina, e então ela sendo a agente de um gesto de libertação.
Sem dúvida um filme que fornece uma gama de interpretações possíveis, correndo o risco até de algumas pessoas, equivocadamente, colocarem em dúvida se algumas coisas são abuso ou não. Mas é óbvio que são, não há discussão nisso. A questão é que Mouchette é mais do que essas experiências, reduzi-la a uma vítima apenas seria também um gesto de violência do espectador. E Bresson, o filme todo, introduz elementos que não nos permite desenvolver um sentimento de piedade pela menina, o que engrandece muito a personagem.
Devemos lembrar também que Mouchette é veículo de externalização de uma angustia coletiva. O sofrimento social é exorcizado com violência, abuso, exclusão, etc. Já vimos muitas histórias assim, não é? Aliás, uma das histórias na qual se centra nossa sociedade ocidental é a de Jesus Cristo, torturado e morto como forma de salvar a humanidade. E Mouchette também tem aqui sua espécie de via crucis.
Como disse, Bresson nos traz o familiar para discurtir questões espirituais. Cabe a reflexão do porquê de estarmos constantemente sacrificando certas pessoas ou grupos como busca de uma cura social.
E só uma observação: esse é um dos subtítulos de mais mau gosto que já deram a um filme no Brasil.
Contágio Letal
2.4 421 Assista AgoraA premissa é boa, tem uma atmosfera melancólica que funciona, o desenvolvimento da doença é pesado de acompanhar e, meu deus, que filme nojento.
Porém, o trabalho de direção é muito ruim, atuações capengas, arcos mal desenvolvidos... Com uma direção mais competente e mais orçamento daria um ótimo filme, como foi o caso de seu primo, "It Follows".
Mas o que mais incomoda nesse filme é que a mulher foi drogada e estuprada, e todo mundo na trama trata como se tivesse sido um sexo casual. Inclusive é o que aparece nas sinopses. Se fosse bem desenvolvido na trama, seria uma crítica à culpabilização da mulher, mas não, só é ignorado.
O fato da personagem ser lésbica é mencionado diversas vezes no filme, ela tem um conflito com a mãe por conta disso, um ex que não aceita a sexualidade dela e a persegue. E fico pensando o quanto teria sido legal se isso tivesse sido bem desenvolvido, trazendo a doença como metáfora para a não aceitação e punição da homoafetividade. Mas da forma como é feito é muito pobre, uns diálogos jogados aleatóriamente sem aprofundamento e peso na história. Porém, o material bruto tá lá, só precisaria ser melhor trabalhado.
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 601 Assista AgoraUm filme lindo, triste, sensível. A vida é mesmo uma bagunça e é um eterno tentar se equilibrar.
2 pontos me fizeram sair um pouco da experiência:
Eu amo o filme Thelma (2017), e fui com muitas expectativas para esse. Sem dúvida aqui vemos um trabalho mais maduro, mas Thelma traz um estudo sobre o desejo tão prufundo, alegórico e potente. Enquanto que aqui prevalece o cotidiano, o simples, e eu senti falta de um pouco mais dessa potência. Mas isso é uma questão pessoal, não é um problema do filme.
E o segundo ponto é que eu já vi esse filme antes, é brasileiro e se chama Pendular (2017). Não do ponto de vista da história exatamente, mas o conteúdo latente é o mesmo. Sem dúvida que aqui há um apuro técnico maior, mas foi como ter a mesma experiência outra vez.
De toda forma, um dos melhores filmes de 2021, se não o melhor.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraQueria escrever uma review completa, mas tô com muito ódio ainda. Vou resumir só com: fogo nos negacionistas.
Noite Passada em Soho
3.5 736 Assista AgoraUm filme com muitos pontos altos.
O trabalho de ambientação é impecável, a atuação das protagonistas excelente. A degradação psicológica da Eloise muito inspirado em Repulsion funciona super bem. E o arco da Sandie é sensacional.
E é muito triste que a trama tenha encerrado de forma medíocre como foi. Realmente uma pena pois o final tira toda a força do filme.
Mas ainda assim foi uma ótima experiência. Me senti assistindo a um crossover de Repulsion com A Redoma de Vidro. Curti bastante.