Mais uma cinebiografia quadrada, que por contar uma história curiosa e relevante, se sustenta e mantém a atenção. Ao menos, O Jogo da Imitação é mais contundente e menos melodramático que seu parceiro tematicamente mais semelhante de indicação ao Oscar do ano passado, A Teoria de Tudo. Isso porque é mais abrangente, tanto ao tratar da vida pessoal do matemático Alan Turing e sua homossexualidade que era considerada crime na Inglaterra dessa época, quanto ao lidar com seu principal feito histórico, a criação de uma complexa máquina que decodificava códigos nazistas e que estima-se ter encurtado a segunda guerra em ao menos 2 anos. Ao também dar destaque para a personagem de Keira Knightley e desenvolver as dificuldades relacionadas ao machismo que a criptoanalista Joan Clarke enfrentou para fazer parte e acabar sendo peça chave na criação da máquina, o filme acaba tendo um viés mais necessário, discutindo temas que infelizmente permanecem atuais e defendendo as pessoas retratadas por seus grandes feitos.
A sensação que tive ao assistir Whiplash, foi semelhante a de quando assisto a um bom e nervoso filme de ação. Com a diferença de que ao invés de perseguições, tiroteios e lutas, o embate aqui é entre um professor de música absurdamente atento, exigente e autoritário e um baterista talentoso e aplicado, mas nunca o suficiente aos olhos do mestre. O personagem de J.K. Simmons é o ponto mais forte desse filme inteiramente bem construído. Seu método e tratamento carrasco o transforma em uma pessoa inalcançável, inabalável, desumana e quase mítica. E o diretor/roteirista Damien Chazelle é inteligente ao pincelar o personagem com breves momentos de empatia e sincero pesar, evitando dessa forma, que se torne uma caricatura. Tendo a música como o principal alimentador dessa história e recheando ao menos metade da duração com ela, esse longa ainda é finalizado de maneira sensacional, concentrando todas as emoções vivenciadas pelos personagens em uma cena alucinante que me jogou pra fora do filme completamente empolgado e satisfeito.
Fazendo muita vista grossa, um filme divertido. Os irmãos Wachowski tem em sua defesa o evidente prazer em criar mundos novos, seres novos e de alguma forma mostrar o planeta e a humanidade alheia a uma superior e verdadeira forma de vida ou de organização social. Isso acontece em Matrix, A Viagem e nesse O Destino de Júpiter. O problema é que parecem ter perdido a mão no processo criativo e transformam o que poderia ser interessante e coeso em um emaranhado de invenções que não se sustentam, se contradizem e que são disfarçadas por um visual carnavalesco e enfeitado demais. Além disso, os diretores optam por uma narrativa engraçadinha, leve, quase uma aventura família, que por si só não é um pecado, mas que se perde por apostar no convencional. A mocinha sempre será salva pelo herói no último segundo, eles fatalmente irão se apaixonar, os coadjuvantes bons serão salvos, os maus serão punidos, o vilão será feio, estranho e desumano e vai se dar mal no final e por aí vai. O filme não da espaço para a surpresa e nem novas formas de se contar uma história. Somado a tudo isso temos Channing Tatum, seus músculos, sua única expressão facial e seu único tom de voz e Mila Kunis com seu tipo moleca gente boa que aceita sem nenhum choque, muito pelo contrário, com a maior naturalidade e senso de humor o seu fantástico novo estilo de vida.
Nunca fui um grande fã de cinebiografias. Apesar de interessantes por trazerem um apanhado da vida de alguém normalmente relevante, como cinema quase sempre são naturalmente previsíveis e quadradas, com raras exceções. A Teoria de Tudo é mais um exemplar disso. Se esforça para homenagear Stephen e Jane Hawkins e mesmo envolvendo seus personagens em dúvidas morais, faz de tudo para não mostrar qualquer traço negativo de suas personalidades. Se atendo mais as questões do relacionamento e doença de Hawkins e menos ao trabalho do físico. Quase se entrega ao melodrama e a tentativa do choro fácil, sempre fazendo um óbvio paralelo da vida do retratado com suas teorias. Não restaria nada de muito precioso ao longa, se não fosse a linda trilha sonora e principalmente a atuação maravilhosa de Eddie Redmayne, que consegue dar ao espectador algo para admirar. Imagino que simular os movimentos cada vez mais limitadores de alguém com esclerose múltipla deve ter sido difícil, mas não é apenas o trabalho físico do ator que impressiona, já que quando não tem mais os artifícios do movimento e fala, Redmayne continua a emocionar apenas com o olhar.
Quando contei que iria assistir O Abutre para um amigo, fui informado que o personagem principal era um sociopata e que só precisava saber disso. Durante o filme, a informação ficou me acompanhando, já que o homem vivido por Jake Gyllenhaal é precisamente a definição de um, sem tirar nem pôr. Ao fim, fiquei pensando se não teria recebido um spoiler. O Abutre gira em torno dessa criatura doentia, que não parece ter vínculo emocional com nada, nem ninguém. Que não tem o menor senso do certo ou errado, fazendo o necessário para ter sucesso “profissional”, sem que com isso sinta algum tipo de remorso por suas ações altamente reprováveis. Introduzir esse personagem em um ambiente como o do jornalismo sensacionalista que está em busca permanente de acontecimentos isolados que sejam violentos e gráficos o suficiente para gerar audiência é perfeito, já que não enriquece apenas a essência do personagem, mas também a da profissão, que precisa justamente de pessoas como ele para ter “qualidade” a cima da média. Seria sociopata apenas o personagem central? Parece perguntar o filme. É muito legal ver a sutileza desse questionamento em um filme tão agressivo. Gyllenhaal está impecável. É muito difícil sentir, até nos atores mais reconhecidamente talentosos, que vivem integralmente na pele de outro ser humano, sem nenhum tipo de tique ou maneirismo corriqueiro da personalidade do próprio interprete. O ator consegue isso, mas infelizmente foi deixado de lado no Oscar desse ano.
Filmado inteiramente em um carro na autoestrada e com toda a ação se desenrolando através do telefone, Locke tenta algo novo e na maior parte do tempo tem sucesso ao menos em prender a atenção. Isso se deve em parte ao roteiro que busca sempre adicionar novos conflitos e evoluir os já existentes com agilidade, evitando na medida do possível que o filme se arraste e se torne tedioso devido a sua natureza. Mas é Tom Hardy que fica com a maior responsabilidade e cria um personagem interessante, que do auto de sua calma e autocontrole faz o que pode para controlar as variadas situações desesperadoras que se formam do outro lado da linha, sem que com isso, pareça despreocupado ou não a beira do descontrole nos momentos mais críticos. E é divertido perceber as muletas que o ator cria para seu personagem quando passa por momentos de maior tensão. O grande problema de Locke está na direção pouco inspirada de Steven Knight. Sem imaginação e engessada por duas dezenas de ângulos, se muito, que se repetem por todo o filme, o que acaba indo na contramão do roteiro escrito pelo próprio diretor. A impressão que fica é que Knight confiou tanto nos diálogos que criou e no ator que conseguiu que acabou esquecendo da imagem, entregando um trabalho de direção frouxo e agora sim, tedioso.
O Sea World é um parque que move milhões através de shows feitos com orcas adultas e crianças. O filme investiga principalmente através de imagens de arquivo e entrevistas com especialistas o quão prejudicial esse tipo de parque é para a vida dos mamíferos, que acabam sendo explorados, tendo o tempo e qualidade de vida diminuído pela metade por conta do cativeiro e submetidos a maus tratos velados, já que os seus adestradores acreditam estar cuidando dos animais. A questão se torna ainda mais relevante quando o filme se volta aos treinadores e ex-treinadores, apresentando suas percepções sobre o trabalho, a relação com os animais e suas impressões sobre acidentes e mortes de colegas atacados pelas baleias com qual se apresentavam. Além de deixar claro que foram ocasionados pela megalomania do Sea Word, o filme escancara a falta de caráter dos dirigentes da empresa ao apontar supostas falhas das vítimas no contato com os animais, e se isentar descaradamente de qualquer culpa que tiveram pelas mortes dos seus colaboradores. O documentário se prejudica um pouco por não ter conseguido a palavra dos chefões do parque, deixando uma lacuna em sua pesquisa.
Iñárritu, além de criativo, é bastante orgânico em todas as suas invencionices, fazendo um filme diferente, mas que tem motivos condizentes para adotar essa linguagem. Ao simular um único plano durante toda a projeção, ele cria a sensação de que não existe respiro para o perturbado personagem principal, fortalece a impressão de que está passando por um momento de muita pressão, sem espaços de tempo para descanso ou reflexão. Ao optar por uma trilha sonora feita apenas com solos de bateria, ele intensifica o estado emocionalmente caótico vivido pelo personagem de Michael Keaton, brincando com a intensidade dos solos nos momentos de menor e maior confusão, com o baterista literalmente surgindo em cena nos piores deles. Keaton, aliás, foi a escolha perfeita para o papel, já que como ex Batman e atual ator em decadência, tem similaridades óbvias com seu personagem. Birdman é um filme sobre ego e necessidade de se sentir importante através dos outros, não necessariamente apenas como artistas, o que é mais evidente, mas também como seres humanos. Isso fica mais claro através dos personagens coadjuvantes, que com quase nenhuma exceção, estão em busca de alguma aprovação artística ou emocional, e quando não, estão exercendo o seu egocentrismo para dominar ou pressionar aqueles que estão inseguros quanto a sua própria importância.
O mais divertido em As Duas Faces de Janeiro, não é apenas se passar nos anos 60, mas se parecer e criar a atmosfera de um thriller rodado nessa década. Impossível não ver referências em vários aspectos. E se pensar em Hitchcock durante o filme, não é por acaso. Tem início com um único acontecimento, que serve como desculpa para toda a trama. A fuga do trio de protagonistas gera a tenção desejada, mas o trabalho se torna mais interessante ao criar atritos e desconfianças entre os personagens, que fora do seu país natal e sem dominar a língua nativa, dependem uns dos outros para prosseguir na jornada. Ter sido rodado em cidades gregas e turcas, além de estilizar o longa, aumenta a tenção pelo contraste com o povo local, destacando-os na multidão.
Mais um filme absolutamente simples que tem sucesso graças ao roteiro ambíguo que procura criar tensão crescente entre dois personagens isolados. O comportamento anormal da personagem de Rose Leslie gera interesse e o filme não decepciona na resolução do suspense, além de ter certo frescor na forma de conduzir esse tipo de história.
O primeiro REC cumpria bem o que prometia e não precisava de uma continuação, muito menos três. O segundo se limitava a ser uma réplica inferior do anterior com alguns novos elementos e até divertia, já o terceiro é uma bomba de vergonha alheia. A boa notícia é que o quarto é a melhor continuação que o filme ganhou. Abandona por completo o estilo found footage e amarra bem todas as pontas deixadas pelos anteriores, explicando tudo o que não tinha necessidade, mas que se fez necessário a partir do segundo. Faz ainda a gentileza de considerar e dar uma ajeitada na bagunça deixada pelo terceiro e transforma a personagem principal em uma heroína raçuda que se resolve sozinha. Infelizmente, o filme se perde um pouco em passagens bobas, que poderiam ser tranquilamente resolvidas com uma revisão no roteiro, ou até com uma montagem mais cuidadosa.
Parece aproveitar ao máximo as possibilidades da animação. A criação dos cenários, a desconstrução dos traços, o sumiço e surgimento repentino de objetos, paisagens, mudanças de cor, de tamanhos, alterações na física, tudo é inventado através de uma lógica surreal e recheada de poesia. O Menino e o Mundo é um filme que se caracteriza pela criatividade e que usa uma suposta simplicidade na técnica para montar uma narrativa complexa, inteligente e original. Patriotismos a parte, feliz de poder ver desenhos como esse sendo feitos no Brasil.
O reencontro de um grupo de amigos, após 10 anos, para a leitura de cartas que escreveram e enterraram em um baú. Essa é a premissa resumida de Entre Nós. Não parece legal e cheira a pieguice. O bom é que não é, muito pelo contrário, o roteiro é complexo, espirituoso e de cortar o coração. Talvez algo que conte a favor é a aproximação que tive com os personagens. Falar de amizade é golpe baixo e qualquer um se identifica. A questão é que o filme vai além ao exigir que tantas emoções genuínas sejam afloradas e debatidas com um timing cuidadoso. Uma reaproximação entre duas pessoas machucadas é difícil, o que dirá de seis grandes amigos que já passaram por muitas coisas na vida, amadureceram de formas diferentes, cultivaram amarguras específicas e seguiram ideais diversos. Fazer um adendo sobre o elenco é essencial, já que a sintonia entre eles é absurda e é ponto chave para o sucesso do filme.
Desde que comecei a brincar de escrever sobre filmes regularmente, percebi que existem aqueles que, por mais que os tenha adorado, não são tão fáceis de assimilar e precisam de um tranco maior para que algo saia em forma de letrinhas decentemente condizentes com o trabalho tão bom que foi feito. O Lobo Atrás da Porta me deu um nó no estômago e me deixou sinceramente apreensivo. Falar sobre sua história ou seus personagens pode atrapalhar a experiência de quem ainda não viu. O ideal é não saber nada, nem sobre o que se trata e entrar com a mente aberta para ver aonde o filme quer te levar. O prazer está em desvendar quem são esses personagens através de seus comportamentos. Por conta disso, me fez lembrar bastante do Garota Exemplar, que também trazia um embate sem limites e de interesses muito pessoais, para não dizer fúteis e mesquinhos, mas enquanto aquele por vezes esbarrava na frustrante previsibilidade, nos limites hollywoodianos do bom mocismo e nas situações ficcionais demais, esse primeiro longa de Fernando Coimbra se compromete totalmente com a imprevisibilidade e a real falta de escrúpulos da nossa fofa espécie, indo por um caminho mais naturalista enquanto arquiteta com cuidado o suspense crescente e incomodo que vai tomando forma.
Wes Anderson poderia ser só puro estilo, mas também é um ótimo contador de histórias. Suas características seriam facilmente reconhecidas caso não houvesse nome algum aparecendo nos créditos. Em O Fantástico Sr. Raposo e A Vida Marinha com Steve Zissou me senti entediado e perdi o interesse pelo diretor que conheci com o ótimo Os Excêntricos Tenenbaums, mas foi com Moonrise Kingdom que restaurei totalmente minha crença e cheguei a conclusão de que quando ele acerta no roteiro, o filme dificilmente sairá ruim. O Grande Hotel Budapeste é rico narrativamente e povoado por personagens interessantes, interpretados por coadjuvantes de luxo. Além disso, o cuidado que Anderson tem com seus enquadramentos, movimentos de câmera milimetricamente pensados, ambientações coloridas e a caracterização dos atores está elevado a última potência, sendo o filme mais visualmente bonito do diretor.
Garota Exemplar se divide em duas partes. A primeira é previsível, mas acaba sendo interessante por esmiuçar a vida dos personagens centrais e liberar informações aos poucos para que o espectador vá construindo a real personalidade daquelas pessoas, sabendo que terá novas informações a seguir e tentando não se deixar levar pelas aparências. A segunda começa quando já entendemos quem são e o que querem, se focando nos resultados das ações tomadas até então. Esse jogo proposto pelo roteiro é o que o filme tem de melhor e nesse sentido, me fez lembrar bastante de Vidas em Jogo, trabalho menos lembrado de David Fincher. Diretor que tem se especializado em tramas policiais truncadas e complexas e que orquestra muito bem pequenas e grandes reviravoltas, se apegando a detalhes e a lógica dos acontecimentos.
Quanto Mais Quente Melhor é uma comédia que aqui e ali alfineta assuntos espinhosos para a sociedade, ainda mais a da época, com uma ousadia surpreendente e uma espirituosidade deliciosa. Acompanhando dois músicos que se travestem e entram em uma banda de garotas para escaparem de gangsters, Billy Wilder tem a desculpa perfeita para não só brincar com a situação inusitada, mas também quebrar levemente alguns paradigmas sobre gênero, além de cutucar o tema de assédio físico e moral sofrido pelas mulheres da época. O diálogo que fecha o filme é inusitado, libertador, engraçado e amarra toda a trama.
Apesar do prazer de retornar a Terra Média e rever vários personagens de O Senhor dos Anéis, é frustrante perceber que Peter Jackson não entende que O Hobbit é muito mais econômico na escala épica que a trilogia antecessora. A divisão de um pequeno livro infanto-juvenil em três filmes de quase 3 horas é só o princípio do erro. A saga se arrasta, existe a sensação de que diversas cenas poderiam ser cortadas e a impressão de que os filmes estão desesperadamente procurando por sub-tramas para rechear a história incomoda e nunca satisfaz totalmente, já que tudo é muito raso e as únicas figuras que realmente importam são aquelas que já conhecemos dos outros filmes, com poucas exceções. É incompreensível que Jackson, mesmo esticando a trama ao máximo, não consiga desenvolver e dar alguma individualidade e substancia para os personagens, principalmente os anões. Ainda não tenho ideia de quem é quem, também não decorei seus nomes e por vezes quando apareciam com algum destaque, não me recordava de tê-los visto antes. A Batalha dos Cinco Exércitos tem inicio com o que poderia ter sido o final perfeito para o filme anterior, o que já denuncia sua estrutura desleixada. A falta de clareza do roteiro atrapalha. Estou tentando ainda contabilizar os cinco exércitos. Contei três, forçando a barra consegui considerar quatro. Outro ponto é a mudança abrupta de comportamento, para pior e para melhor de Thorin, que nunca deixa claro se está sendo motivado por interesses próprios ou por uma doença, e por aí vai. O terceiro dessa nova trilogia ainda diverte e tem cenas imaginativas, mas que também empalidecem frente a aquelas vistas na jornada do anel, causando a impressão final de que é uma obra feita exclusivamente para fãs que gostariam de revisitar esse universo, mas que não funciona individualmente.
Não duvido que daqui a doze anos um novo Boyhood seja lançado, acompanhando ano a ano da vida do personagem principal até os seus 30 e poucos anos. Richard Linklater já demonstrou essa fixação pela passagem do tempo em sua trilogia (por enquanto) iniciada por Antes do Amanhecer. Só que nesse filme a intenção é ainda mais pretensiosa, já que literalmente acompanha o crescimento de uma pessoa e tenta representar todas as fases que passamos até o início da vida adulta. Linklater faz isso muito bem porque não extrapola na dramaticidade, não cria situações ficcionais demais e parece compreender que o mais importante para o filme é a naturalidade das relações com a família, amigos, amores, escola, cultura, profissão, a própria individualidade e tudo o que é do cotidiano, com seus momentos pontuais de maior tensão. Uma biografia de uma pessoa comum, provavelmente inspirada na própria vida do diretor e do seu elenco, e de suas famílias e de seus amigos e de quem quer que tenha observado e acompanhado através dos anos.
Gosto da linha de filmes de terror found footage pela tentativa de fazer a experiência parecer mais real. Adoro filmes como A Bruxa de Blair e REC e gosto muito do primeiro Atividade Paranormal, que apesar de ter falhas óbvias, causa tensão e me assustou de verdade. O principal diferencial estava na suscetibilidade que nos encontramos durante o sono. O segundo filme já me pareceu uma fórmula mal reprisada e agora, vendo o terceiro, perdi a vontade de acompanhar a série. Não que seja inteiramente ruim, até tenta adicionar novos elementos e criar uma história que interligue os filmes anteriores. O problema está na falta de necessidade de explicações, já que a graça estava exatamente em ser uma família comum tendo que lidar com uma entidade em sua casa. Difícil também é comprar a ideia de múltiplas câmeras ligadas na residência, câmeras que parecem modernas demais para os anos 80, década em que se passa a história. Percebemos isso através do ano estampado na tela e da permanente que uma das personagens usa no cabelo, único indício de que estamos acompanhando o ano de 88. Fora isso, temos atores que parecem interpretar, o que é um problema nesse tipo de filme e situações que forçam sustos fáceis e vazios, deixando o longa com cara de terror pasteurizado, feito para arrecadar bilheteria e deixar o campo livre para novas continuações.
Jeunet entende que pra fazer um filme sobre uma criança genial, não é preciso transforma-la em um pequeno adulto. Esse é um mérito muito grande que consigo encontrar no segundo trabalho do diretor em língua inglesa, o primeiro autoral de verdade. Spivet é uma criança praticante, que por conta de sua enorme inteligência e aptidão para a lógica, decide fazer sua própria viagem através do país, motivado por uma perda, de forma ingenua e doce, como sua idade deve transparecer, para receber um prêmio por sua contribuição a ciência. A visão lúdica que Jeunet tem das coisas e das pessoas, recorrente em todos os seus longas, mais o cuidado que tem com cada detalhe de composição da imagem e as múltiplas características que dá para seus personagens, constroem um filme com ritmo fluído, que é ainda mais prazeroso por contar com ótimos atores. Helena Bonham Carter sempre tem uma presença marcante, mas é o estreante Kyle Catlett que tem a responsabilidade maior de causar empatia e interesse pela história de seu personagem.
Não tenho muita paciência para filmes de heróis de HQs, nunca foi meu gênero favorito e sempre que assisto, mesmo me divertindo na maior parte das vezes, tenho sempre a sensação de estar vendo a mesma fórmula repetidas vezes. Isso se intensificou com a chegada da Marvel nos cinemas e seus filmes do universo expandido, que apesar da ideia legal, faz com que tenham um certo padrão visual, já que terão que se cruzar em algum momento. X-men é a série mais atrativa pra mim. Isso porque parece ter uma identidade maior e funciona bem dentro do seu próprio mundo. Gosto da variedade de personagens importantes e suas habilidades, dos seus dramas e pontos fracos, da facilidade como se formam em grupos e brigam entre si, também gosto da relação feita entre os mutantes com as minorias reais, acho interessante falarem sobre preconceitos e intolerância através de filmes tão populares e acredito que fazem isso relativamente bem. Esse quinto filme da franquia é muito melhor que o anterior e cria um elo entre os acontecimentos da primeira trilogia com os dos novos filmes, abrindo possibilidades novas e corrigindo acontecimentos que não foram muito bem vistos pelos fãs.
Não tem pretensão de ser emocionalmente impactante, mesmo com um tema com tanto potencial para tal. Ao contar a história da busca pelos corpos dos pais que desapareceram durante a segunda guerra na Polônia e as mudanças emocionais que sofrem as duas pessoas envolvidas durante a jornada, Ida é um filme contido como sua personagem central e trata o tema de forma séria, fria e sem nenhuma vocação para as lágrimas.
Cristopher Nolan é um diretor que sempre gostei, mas com ressalvas na maior parte de seus filmes. Compreendo a paixão que causa, já que consegue conciliar muito bem o cinema de puro entretenimento com um mais autoral e cheio de ideias. Isso não é pra qualquer um, mesmo. Minha pequena implicância está no excesso de explicações que seus filmes sempre apresentam, no didatismo dos seus conceitos, na forma expositiva como disseca seus quebra-cabeças. Poucos são os filmes em que o diretor não mastiga tudo, antes de deixar que o espectador engula. É por isso que não compreendo quando alguém diz não entender seus filmes. Sempre penso: "Sério mesmo? Mas é quase um manual de instruções". Em Interestelar essa característica está presente de maneira um pouco diferente. Sim, continua lá e incomoda em algumas cenas, como por exemplo no momento em que um personagem explica a outro o conceito básico de buraco de minhoca. Explicação que surge em um contexto absurdo, já que estão entre cientistas, físicos, beirando o buraco, em uma nave espacial próxima a Saturno. Uou, ok! Eu posso até ter entendido um pouco melhor, mas tenho certeza que o astronauta que recebeu a explicação teria no mínimo se sentido ofendido em um mundo real. Levando esses pequenos pecados em consideração, digo que é meu filme preferido do diretor. Isso porque Nolan mais uma vez é ousado e ambicioso em transportar para o cinema vários conceitos e teorias complexas, se debruça sobre elas e conta uma história humana calcada em questões exatas e racionais, mas principalmente por se libertar de suas amarras e finalmente se entregar no terço final, onde evita qualquer tipo de explicação e se preocupa apenas com a viagem literal e emocional de seus personagens.
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraMais uma cinebiografia quadrada, que por contar uma história curiosa e relevante, se sustenta e mantém a atenção. Ao menos, O Jogo da Imitação é mais contundente e menos melodramático que seu parceiro tematicamente mais semelhante de indicação ao Oscar do ano passado, A Teoria de Tudo. Isso porque é mais abrangente, tanto ao tratar da vida pessoal do matemático Alan Turing e sua homossexualidade que era considerada crime na Inglaterra dessa época, quanto ao lidar com seu principal feito histórico, a criação de uma complexa máquina que decodificava códigos nazistas e que estima-se ter encurtado a segunda guerra em ao menos 2 anos. Ao também dar destaque para a personagem de Keira Knightley e desenvolver as dificuldades relacionadas ao machismo que a criptoanalista Joan Clarke enfrentou para fazer parte e acabar sendo peça chave na criação da máquina, o filme acaba tendo um viés mais necessário, discutindo temas que infelizmente permanecem atuais e defendendo as pessoas retratadas por seus grandes feitos.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraA sensação que tive ao assistir Whiplash, foi semelhante a de quando assisto a um bom e nervoso filme de ação. Com a diferença de que ao invés de perseguições, tiroteios e lutas, o embate aqui é entre um professor de música absurdamente atento, exigente e autoritário e um baterista talentoso e aplicado, mas nunca o suficiente aos olhos do mestre. O personagem de J.K. Simmons é o ponto mais forte desse filme inteiramente bem construído. Seu método e tratamento carrasco o transforma em uma pessoa inalcançável, inabalável, desumana e quase mítica. E o diretor/roteirista Damien Chazelle é inteligente ao pincelar o personagem com breves momentos de empatia e sincero pesar, evitando dessa forma, que se torne uma caricatura. Tendo a música como o principal alimentador dessa história e recheando ao menos metade da duração com ela, esse longa ainda é finalizado de maneira sensacional, concentrando todas as emoções vivenciadas pelos personagens em uma cena alucinante que me jogou pra fora do filme completamente empolgado e satisfeito.
O Destino de Júpiter
2.5 1,3K Assista AgoraFazendo muita vista grossa, um filme divertido. Os irmãos Wachowski tem em sua defesa o evidente prazer em criar mundos novos, seres novos e de alguma forma mostrar o planeta e a humanidade alheia a uma superior e verdadeira forma de vida ou de organização social. Isso acontece em Matrix, A Viagem e nesse O Destino de Júpiter. O problema é que parecem ter perdido a mão no processo criativo e transformam o que poderia ser interessante e coeso em um emaranhado de invenções que não se sustentam, se contradizem e que são disfarçadas por um visual carnavalesco e enfeitado demais. Além disso, os diretores optam por uma narrativa engraçadinha, leve, quase uma aventura família, que por si só não é um pecado, mas que se perde por apostar no convencional. A mocinha sempre será salva pelo herói no último segundo, eles fatalmente irão se apaixonar, os coadjuvantes bons serão salvos, os maus serão punidos, o vilão será feio, estranho e desumano e vai se dar mal no final e por aí vai. O filme não da espaço para a surpresa e nem novas formas de se contar uma história. Somado a tudo isso temos Channing Tatum, seus músculos, sua única expressão facial e seu único tom de voz e Mila Kunis com seu tipo moleca gente boa que aceita sem nenhum choque, muito pelo contrário, com a maior naturalidade e senso de humor o seu fantástico novo estilo de vida.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraNunca fui um grande fã de cinebiografias. Apesar de interessantes por trazerem um apanhado da vida de alguém normalmente relevante, como cinema quase sempre são naturalmente previsíveis e quadradas, com raras exceções. A Teoria de Tudo é mais um exemplar disso. Se esforça para homenagear Stephen e Jane Hawkins e mesmo envolvendo seus personagens em dúvidas morais, faz de tudo para não mostrar qualquer traço negativo de suas personalidades. Se atendo mais as questões do relacionamento e doença de Hawkins e menos ao trabalho do físico. Quase se entrega ao melodrama e a tentativa do choro fácil, sempre fazendo um óbvio paralelo da vida do retratado com suas teorias. Não restaria nada de muito precioso ao longa, se não fosse a linda trilha sonora e principalmente a atuação maravilhosa de Eddie Redmayne, que consegue dar ao espectador algo para admirar. Imagino que simular os movimentos cada vez mais limitadores de alguém com esclerose múltipla deve ter sido difícil, mas não é apenas o trabalho físico do ator que impressiona, já que quando não tem mais os artifícios do movimento e fala, Redmayne continua a emocionar apenas com o olhar.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraQuando contei que iria assistir O Abutre para um amigo, fui informado que o personagem principal era um sociopata e que só precisava saber disso. Durante o filme, a informação ficou me acompanhando, já que o homem vivido por Jake Gyllenhaal é precisamente a definição de um, sem tirar nem pôr. Ao fim, fiquei pensando se não teria recebido um spoiler. O Abutre gira em torno dessa criatura doentia, que não parece ter vínculo emocional com nada, nem ninguém. Que não tem o menor senso do certo ou errado, fazendo o necessário para ter sucesso “profissional”, sem que com isso sinta algum tipo de remorso por suas ações altamente reprováveis. Introduzir esse personagem em um ambiente como o do jornalismo sensacionalista que está em busca permanente de acontecimentos isolados que sejam violentos e gráficos o suficiente para gerar audiência é perfeito, já que não enriquece apenas a essência do personagem, mas também a da profissão, que precisa justamente de pessoas como ele para ter “qualidade” a cima da média. Seria sociopata apenas o personagem central? Parece perguntar o filme. É muito legal ver a sutileza desse questionamento em um filme tão agressivo. Gyllenhaal está impecável. É muito difícil sentir, até nos atores mais reconhecidamente talentosos, que vivem integralmente na pele de outro ser humano, sem nenhum tipo de tique ou maneirismo corriqueiro da personalidade do próprio interprete. O ator consegue isso, mas infelizmente foi deixado de lado no Oscar desse ano.
Locke
3.5 442 Assista AgoraFilmado inteiramente em um carro na autoestrada e com toda a ação se desenrolando através do telefone, Locke tenta algo novo e na maior parte do tempo tem sucesso ao menos em prender a atenção. Isso se deve em parte ao roteiro que busca sempre adicionar novos conflitos e evoluir os já existentes com agilidade, evitando na medida do possível que o filme se arraste e se torne tedioso devido a sua natureza. Mas é Tom Hardy que fica com a maior responsabilidade e cria um personagem interessante, que do auto de sua calma e autocontrole faz o que pode para controlar as variadas situações desesperadoras que se formam do outro lado da linha, sem que com isso, pareça despreocupado ou não a beira do descontrole nos momentos mais críticos. E é divertido perceber as muletas que o ator cria para seu personagem quando passa por momentos de maior tensão. O grande problema de Locke está na direção pouco inspirada de Steven Knight. Sem imaginação e engessada por duas dezenas de ângulos, se muito, que se repetem por todo o filme, o que acaba indo na contramão do roteiro escrito pelo próprio diretor. A impressão que fica é que Knight confiou tanto nos diálogos que criou e no ator que conseguiu que acabou esquecendo da imagem, entregando um trabalho de direção frouxo e agora sim, tedioso.
Blackfish: Fúria Animal
4.4 456O Sea World é um parque que move milhões através de shows feitos com orcas adultas e crianças. O filme investiga principalmente através de imagens de arquivo e entrevistas com especialistas o quão prejudicial esse tipo de parque é para a vida dos mamíferos, que acabam sendo explorados, tendo o tempo e qualidade de vida diminuído pela metade por conta do cativeiro e submetidos a maus tratos velados, já que os seus adestradores acreditam estar cuidando dos animais. A questão se torna ainda mais relevante quando o filme se volta aos treinadores e ex-treinadores, apresentando suas percepções sobre o trabalho, a relação com os animais e suas impressões sobre acidentes e mortes de colegas atacados pelas baleias com qual se apresentavam. Além de deixar claro que foram ocasionados pela megalomania do Sea Word, o filme escancara a falta de caráter dos dirigentes da empresa ao apontar supostas falhas das vítimas no contato com os animais, e se isentar descaradamente de qualquer culpa que tiveram pelas mortes dos seus colaboradores. O documentário se prejudica um pouco por não ter conseguido a palavra dos chefões do parque, deixando uma lacuna em sua pesquisa.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraIñárritu, além de criativo, é bastante orgânico em todas as suas invencionices, fazendo um filme diferente, mas que tem motivos condizentes para adotar essa linguagem. Ao simular um único plano durante toda a projeção, ele cria a sensação de que não existe respiro para o perturbado personagem principal, fortalece a impressão de que está passando por um momento de muita pressão, sem espaços de tempo para descanso ou reflexão. Ao optar por uma trilha sonora feita apenas com solos de bateria, ele intensifica o estado emocionalmente caótico vivido pelo personagem de Michael Keaton, brincando com a intensidade dos solos nos momentos de menor e maior confusão, com o baterista literalmente surgindo em cena nos piores deles. Keaton, aliás, foi a escolha perfeita para o papel, já que como ex Batman e atual ator em decadência, tem similaridades óbvias com seu personagem. Birdman é um filme sobre ego e necessidade de se sentir importante através dos outros, não necessariamente apenas como artistas, o que é mais evidente, mas também como seres humanos. Isso fica mais claro através dos personagens coadjuvantes, que com quase nenhuma exceção, estão em busca de alguma aprovação artística ou emocional, e quando não, estão exercendo o seu egocentrismo para dominar ou pressionar aqueles que estão inseguros quanto a sua própria importância.
As Duas Faces de Janeiro
2.9 108 Assista AgoraO mais divertido em As Duas Faces de Janeiro, não é apenas se passar nos anos 60, mas se parecer e criar a atmosfera de um thriller rodado nessa década. Impossível não ver referências em vários aspectos. E se pensar em Hitchcock durante o filme, não é por acaso. Tem início com um único acontecimento, que serve como desculpa para toda a trama. A fuga do trio de protagonistas gera a tenção desejada, mas o trabalho se torna mais interessante ao criar atritos e desconfianças entre os personagens, que fora do seu país natal e sem dominar a língua nativa, dependem uns dos outros para prosseguir na jornada. Ter sido rodado em cidades gregas e turcas, além de estilizar o longa, aumenta a tenção pelo contraste com o povo local, destacando-os na multidão.
Honeymoon
2.7 279Mais um filme absolutamente simples que tem sucesso graças ao roteiro ambíguo que procura criar tensão crescente entre dois personagens isolados. O comportamento anormal da personagem de Rose Leslie gera interesse e o filme não decepciona na resolução do suspense, além de ter certo frescor na forma de conduzir esse tipo de história.
[REC]⁴ Apocalipse
2.5 594 Assista AgoraO primeiro REC cumpria bem o que prometia e não precisava de uma continuação, muito menos três. O segundo se limitava a ser uma réplica inferior do anterior com alguns novos elementos e até divertia, já o terceiro é uma bomba de vergonha alheia. A boa notícia é que o quarto é a melhor continuação que o filme ganhou. Abandona por completo o estilo found footage e amarra bem todas as pontas deixadas pelos anteriores, explicando tudo o que não tinha necessidade, mas que se fez necessário a partir do segundo. Faz ainda a gentileza de considerar e dar uma ajeitada na bagunça deixada pelo terceiro e transforma a personagem principal em uma heroína raçuda que se resolve sozinha. Infelizmente, o filme se perde um pouco em passagens bobas, que poderiam ser tranquilamente resolvidas com uma revisão no roteiro, ou até com uma montagem mais cuidadosa.
O Menino e o Mundo
4.3 735 Assista AgoraParece aproveitar ao máximo as possibilidades da animação. A criação dos cenários, a desconstrução dos traços, o sumiço e surgimento repentino de objetos, paisagens, mudanças de cor, de tamanhos, alterações na física, tudo é inventado através de uma lógica surreal e recheada de poesia. O Menino e o Mundo é um filme que se caracteriza pela criatividade e que usa uma suposta simplicidade na técnica para montar uma narrativa complexa, inteligente e original. Patriotismos a parte, feliz de poder ver desenhos como esse sendo feitos no Brasil.
Entre Nós
3.6 617 Assista AgoraO reencontro de um grupo de amigos, após 10 anos, para a leitura de cartas que escreveram e enterraram em um baú. Essa é a premissa resumida de Entre Nós. Não parece legal e cheira a pieguice. O bom é que não é, muito pelo contrário, o roteiro é complexo, espirituoso e de cortar o coração. Talvez algo que conte a favor é a aproximação que tive com os personagens. Falar de amizade é golpe baixo e qualquer um se identifica. A questão é que o filme vai além ao exigir que tantas emoções genuínas sejam afloradas e debatidas com um timing cuidadoso. Uma reaproximação entre duas pessoas machucadas é difícil, o que dirá de seis grandes amigos que já passaram por muitas coisas na vida, amadureceram de formas diferentes, cultivaram amarguras específicas e seguiram ideais diversos. Fazer um adendo sobre o elenco é essencial, já que a sintonia entre eles é absurda e é ponto chave para o sucesso do filme.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraDesde que comecei a brincar de escrever sobre filmes regularmente, percebi que existem aqueles que, por mais que os tenha adorado, não são tão fáceis de assimilar e precisam de um tranco maior para que algo saia em forma de letrinhas decentemente condizentes com o trabalho tão bom que foi feito. O Lobo Atrás da Porta me deu um nó no estômago e me deixou sinceramente apreensivo. Falar sobre sua história ou seus personagens pode atrapalhar a experiência de quem ainda não viu. O ideal é não saber nada, nem sobre o que se trata e entrar com a mente aberta para ver aonde o filme quer te levar. O prazer está em desvendar quem são esses personagens através de seus comportamentos. Por conta disso, me fez lembrar bastante do Garota Exemplar, que também trazia um embate sem limites e de interesses muito pessoais, para não dizer fúteis e mesquinhos, mas enquanto aquele por vezes esbarrava na frustrante previsibilidade, nos limites hollywoodianos do bom mocismo e nas situações ficcionais demais, esse primeiro longa de Fernando Coimbra se compromete totalmente com a imprevisibilidade e a real falta de escrúpulos da nossa fofa espécie, indo por um caminho mais naturalista enquanto arquiteta com cuidado o suspense crescente e incomodo que vai tomando forma.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KWes Anderson poderia ser só puro estilo, mas também é um ótimo contador de histórias. Suas características seriam facilmente reconhecidas caso não houvesse nome algum aparecendo nos créditos. Em O Fantástico Sr. Raposo e A Vida Marinha com Steve Zissou me senti entediado e perdi o interesse pelo diretor que conheci com o ótimo Os Excêntricos Tenenbaums, mas foi com Moonrise Kingdom que restaurei totalmente minha crença e cheguei a conclusão de que quando ele acerta no roteiro, o filme dificilmente sairá ruim. O Grande Hotel Budapeste é rico narrativamente e povoado por personagens interessantes, interpretados por coadjuvantes de luxo. Além disso, o cuidado que Anderson tem com seus enquadramentos, movimentos de câmera milimetricamente pensados, ambientações coloridas e a caracterização dos atores está elevado a última potência, sendo o filme mais visualmente bonito do diretor.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraGarota Exemplar se divide em duas partes. A primeira é previsível, mas acaba sendo interessante por esmiuçar a vida dos personagens centrais e liberar informações aos poucos para que o espectador vá construindo a real personalidade daquelas pessoas, sabendo que terá novas informações a seguir e tentando não se deixar levar pelas aparências. A segunda começa quando já entendemos quem são e o que querem, se focando nos resultados das ações tomadas até então. Esse jogo proposto pelo roteiro é o que o filme tem de melhor e nesse sentido, me fez lembrar bastante de Vidas em Jogo, trabalho menos lembrado de David Fincher. Diretor que tem se especializado em tramas policiais truncadas e complexas e que orquestra muito bem pequenas e grandes reviravoltas, se apegando a detalhes e a lógica dos acontecimentos.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraQuanto Mais Quente Melhor é uma comédia que aqui e ali alfineta assuntos espinhosos para a sociedade, ainda mais a da época, com uma ousadia surpreendente e uma espirituosidade deliciosa. Acompanhando dois músicos que se travestem e entram em uma banda de garotas para escaparem de gangsters, Billy Wilder tem a desculpa perfeita para não só brincar com a situação inusitada, mas também quebrar levemente alguns paradigmas sobre gênero, além de cutucar o tema de assédio físico e moral sofrido pelas mulheres da época. O diálogo que fecha o filme é inusitado, libertador, engraçado e amarra toda a trama.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
3.9 2,0K Assista AgoraApesar do prazer de retornar a Terra Média e rever vários personagens de O Senhor dos Anéis, é frustrante perceber que Peter Jackson não entende que O Hobbit é muito mais econômico na escala épica que a trilogia antecessora. A divisão de um pequeno livro infanto-juvenil em três filmes de quase 3 horas é só o princípio do erro. A saga se arrasta, existe a sensação de que diversas cenas poderiam ser cortadas e a impressão de que os filmes estão desesperadamente procurando por sub-tramas para rechear a história incomoda e nunca satisfaz totalmente, já que tudo é muito raso e as únicas figuras que realmente importam são aquelas que já conhecemos dos outros filmes, com poucas exceções. É incompreensível que Jackson, mesmo esticando a trama ao máximo, não consiga desenvolver e dar alguma individualidade e substancia para os personagens, principalmente os anões. Ainda não tenho ideia de quem é quem, também não decorei seus nomes e por vezes quando apareciam com algum destaque, não me recordava de tê-los visto antes.
A Batalha dos Cinco Exércitos tem inicio com o que poderia ter sido o final perfeito para o filme anterior, o que já denuncia sua estrutura desleixada. A falta de clareza do roteiro atrapalha. Estou tentando ainda contabilizar os cinco exércitos. Contei três, forçando a barra consegui considerar quatro. Outro ponto é a mudança abrupta de comportamento, para pior e para melhor de Thorin, que nunca deixa claro se está sendo motivado por interesses próprios ou por uma doença, e por aí vai.
O terceiro dessa nova trilogia ainda diverte e tem cenas imaginativas, mas que também empalidecem frente a aquelas vistas na jornada do anel, causando a impressão final de que é uma obra feita exclusivamente para fãs que gostariam de revisitar esse universo, mas que não funciona individualmente.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraNão duvido que daqui a doze anos um novo Boyhood seja lançado, acompanhando ano a ano da vida do personagem principal até os seus 30 e poucos anos. Richard Linklater já demonstrou essa fixação pela passagem do tempo em sua trilogia (por enquanto) iniciada por Antes do Amanhecer. Só que nesse filme a intenção é ainda mais pretensiosa, já que literalmente acompanha o crescimento de uma pessoa e tenta representar todas as fases que passamos até o início da vida adulta.
Linklater faz isso muito bem porque não extrapola na dramaticidade, não cria situações ficcionais demais e parece compreender que o mais importante para o filme é a naturalidade das relações com a família, amigos, amores, escola, cultura, profissão, a própria individualidade e tudo o que é do cotidiano, com seus momentos pontuais de maior tensão.
Uma biografia de uma pessoa comum, provavelmente inspirada na própria vida do diretor e do seu elenco, e de suas famílias e de seus amigos e de quem quer que tenha observado e acompanhado através dos anos.
Atividade Paranormal 3
2.9 1,9K Assista AgoraGosto da linha de filmes de terror found footage pela tentativa de fazer a experiência parecer mais real. Adoro filmes como A Bruxa de Blair e REC e gosto muito do primeiro Atividade Paranormal, que apesar de ter falhas óbvias, causa tensão e me assustou de verdade. O principal diferencial estava na suscetibilidade que nos encontramos durante o sono. O segundo filme já me pareceu uma fórmula mal reprisada e agora, vendo o terceiro, perdi a vontade de acompanhar a série. Não que seja inteiramente ruim, até tenta adicionar novos elementos e criar uma história que interligue os filmes anteriores. O problema está na falta de necessidade de explicações, já que a graça estava exatamente em ser uma família comum tendo que lidar com uma entidade em sua casa. Difícil também é comprar a ideia de múltiplas câmeras ligadas na residência, câmeras que parecem modernas demais para os anos 80, década em que se passa a história. Percebemos isso através do ano estampado na tela e da permanente que uma das personagens usa no cabelo, único indício de que estamos acompanhando o ano de 88. Fora isso, temos atores que parecem interpretar, o que é um problema nesse tipo de filme e situações que forçam sustos fáceis e vazios, deixando o longa com cara de terror pasteurizado, feito para arrecadar bilheteria e deixar o campo livre para novas continuações.
Uma Viagem Extraordinária
4.1 611 Assista AgoraJeunet entende que pra fazer um filme sobre uma criança genial, não é preciso transforma-la em um pequeno adulto. Esse é um mérito muito grande que consigo encontrar no segundo trabalho do diretor em língua inglesa, o primeiro autoral de verdade. Spivet é uma criança praticante, que por conta de sua enorme inteligência e aptidão para a lógica, decide fazer sua própria viagem através do país, motivado por uma perda, de forma ingenua e doce, como sua idade deve transparecer, para receber um prêmio por sua contribuição a ciência. A visão lúdica que Jeunet tem das coisas e das pessoas, recorrente em todos os seus longas, mais o cuidado que tem com cada detalhe de composição da imagem e as múltiplas características que dá para seus personagens, constroem um filme com ritmo fluído, que é ainda mais prazeroso por contar com ótimos atores. Helena Bonham Carter sempre tem uma presença marcante, mas é o estreante Kyle Catlett que tem a responsabilidade maior de causar empatia e interesse pela história de seu personagem.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraNão tenho muita paciência para filmes de heróis de HQs, nunca foi meu gênero favorito e sempre que assisto, mesmo me divertindo na maior parte das vezes, tenho sempre a sensação de estar vendo a mesma fórmula repetidas vezes. Isso se intensificou com a chegada da Marvel nos cinemas e seus filmes do universo expandido, que apesar da ideia legal, faz com que tenham um certo padrão visual, já que terão que se cruzar em algum momento. X-men é a série mais atrativa pra mim. Isso porque parece ter uma identidade maior e funciona bem dentro do seu próprio mundo. Gosto da variedade de personagens importantes e suas habilidades, dos seus dramas e pontos fracos, da facilidade como se formam em grupos e brigam entre si, também gosto da relação feita entre os mutantes com as minorias reais, acho interessante falarem sobre preconceitos e intolerância através de filmes tão populares e acredito que fazem isso relativamente bem. Esse quinto filme da franquia é muito melhor que o anterior e cria um elo entre os acontecimentos da primeira trilogia com os dos novos filmes, abrindo possibilidades novas e corrigindo acontecimentos que não foram muito bem vistos pelos fãs.
Ida
3.7 439Não tem pretensão de ser emocionalmente impactante, mesmo com um tema com tanto potencial para tal. Ao contar a história da busca pelos corpos dos pais que desapareceram durante a segunda guerra na Polônia e as mudanças emocionais que sofrem as duas pessoas envolvidas durante a jornada, Ida é um filme contido como sua personagem central e trata o tema de forma séria, fria e sem nenhuma vocação para as lágrimas.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraCristopher Nolan é um diretor que sempre gostei, mas com ressalvas na maior parte de seus filmes. Compreendo a paixão que causa, já que consegue conciliar muito bem o cinema de puro entretenimento com um mais autoral e cheio de ideias. Isso não é pra qualquer um, mesmo.
Minha pequena implicância está no excesso de explicações que seus filmes sempre apresentam, no didatismo dos seus conceitos, na forma expositiva como disseca seus quebra-cabeças. Poucos são os filmes em que o diretor não mastiga tudo, antes de deixar que o espectador engula. É por isso que não compreendo quando alguém diz não entender seus filmes. Sempre penso: "Sério mesmo? Mas é quase um manual de instruções".
Em Interestelar essa característica está presente de maneira um pouco diferente. Sim, continua lá e incomoda em algumas cenas, como por exemplo no momento em que um personagem explica a outro o conceito básico de buraco de minhoca. Explicação que surge em um contexto absurdo, já que estão entre cientistas, físicos, beirando o buraco, em uma nave espacial próxima a Saturno. Uou, ok! Eu posso até ter entendido um pouco melhor, mas tenho certeza que o astronauta que recebeu a explicação teria no mínimo se sentido ofendido em um mundo real.
Levando esses pequenos pecados em consideração, digo que é meu filme preferido do diretor. Isso porque Nolan mais uma vez é ousado e ambicioso em transportar para o cinema vários conceitos e teorias complexas, se debruça sobre elas e conta uma história humana calcada em questões exatas e racionais, mas principalmente por se libertar de suas amarras e finalmente se entregar no terço final, onde evita qualquer tipo de explicação e se preocupa apenas com a viagem literal e emocional de seus personagens.