Existe uma sensibilidade rara em The Babadook. Algo difícil de encontrar no cinema de horror. Personifica medos, dificuldades, frustrações, traumas e os percalços da vida em uma criatura aterrorizante, imprevisível e que se apodera de elementos familiares, íntimos e representativos para a vida machucada de uma mulher e seu filho. Cria alegorias e trabalha o tempo todo com metáforas, sem trair em momento algum a ideia inicial em detrimento de sustos fáceis ou do terror barato, mesmo sendo sim um filme assustador, dramático e com um nível de complexidade bem acima do esperado para produções do gênero.
O principal trunfo de O Extermínio é conseguir convencer de que uma epidemia zumbi, ou de raiva como se referem, pode sim dizimar a população mundial. Danny Boyle pensa em seus infectados como criaturas ágeis, velozes, atentas a qualquer movimento e altamente agressivas. O processo de transformação não dura mais do que 20 segundos e as estruturas de sobrevivência são muito mais precárias e inconsistentes do que o necessário. Com isso, o filme se torna mais urgente, mais perigoso e mais instável, fazendo desse exemplar de subgênero de horror um filme com valor próprio em meio a uma enxurrada de títulos sobre a mesma coisa.
Filmes que reúnem antologias de curtas-metragens geralmente são irregulares e problemáticos por natureza. É muito difícil fazer um trabalho coeso e sem pontos muito baixos, dentro de uma estrutura em que várias histórias diferentes tratam de um tema em comum. É natural que exista aquela passagem preferida, aquela outra odiável e aquela apenas ok. Partindo desse principio, Relatos Selvagens é um sucesso, já que não tem nenhum conto desinteressante ou muito inferior aos demais. Escrito e dirigido unicamente por Damián Szifrón, o que talvez explique a homogeneidade do longa, o filme, ou os filmes, partem sempre de uma premissa simples e cotidiana, que acabam tomando dimensões enormes e de pura insanidade. O diretor é perspicaz e ágil ao apresentar seus personagens e a situação em que estão inseridos, tornando a identificação do espectador quase imediata, para logo em seguida tripudiar na vida de suas criações, abusando criativamente do humor negro e levando em conta que nada é tão ruim que não possa piorar.
Acompanhando a vida de dois vampiros que já viveram milhares de anos, Jim Jarmusch se interessa mais pelo estilo de vida dos protagonistas do que pelo próprio vampirismo. Apesar de respeitar as regras já estabelecidas para as criaturas, o diretor tenta observar a maturidade que atingiram com o passar dos anos através de diálogos e percepções sobre suas vidas, sobre o mundo através da história, sobre seus interesses atuais e também através da dinâmica de seu relacionamento.
Festa no Céu é uma animação lindíssima que merece elogios pelo seu apreço estético acima de tudo. Seus personagens são visualmente marcantes e os cenários são imponentes, coloridos e ricos em detalhes. O roteiro inventivo, pega emprestado o dia dos mortos mexicano e faz uma homenagem as tradições e a alguns elementos culturais do país, utilizando pelo caminho, canções e temas conhecidos de artistas como Radiohead, Mumford and Sons, Edward Sharpe & the Magnetic Zeros e Ennio Morricone, só pra citar meus preferidos, repaginados pela dramaticidade latina de seus personagens.
Era Uma Vez na Anatólia é um trabalho lindíssimo no que diz respeito a imagem e som. Fotografado quase sempre em locações bem abertas e com grande profundidade de campo em detrimento dos personagens que quase sempre aparecem como detalhes, faz das paisagens opressoras e mergulhadas na escuridão personagens essenciais para o filme. Junto a isso, o universo criado através do som do vento, das árvores, dos carros e dos ruídos noturnos, transformam o filme em um exemplo perfeito de cinema puro, com seus principais atributos bem representados.
Vale a pena por tentar desconstruir o universo mágico da Disney e transforma-lo em um sonho surreal de terror ao estilo David Lynch. Também pela curiosidade de ter sido filmado sem permissão no parque, já que com certeza não teria o aval para rodar esse roteiro por lá. Perde um pouco o fôlego quando começa a mudar o foco para várias direções e inserir diversas situações que servem mais como enfeite e distração do que como algo orgânico.
Jonn-Ho Bong é um dos grandes diretores da atualidade pra mim. Adoro seus 4 filmes mais recentes e gosto bastante do seu primeiro. Ele cria em Expresso do Amanhã um mundo pós apocalíptico original e uma gama de personagens complexos que servem como ilustrações, por vezes conscientemente caricatas, de classes, com cada um desempenhando seu papel no modelo de organização social retratado no filme. Entre opressores e oprimidos, abastados e necessitados, se da início a uma revolução contra as injustiças na dinâmica autoritária do trem, palco do enredo. A cada vagão percorrido, o diretor mostra mais um pouco de como é mantida a vida no expresso e alfineta através de alegorias modelos sociais existentes na vida real. Além disso, Bong é um diretor cuidadoso e tem um domínio estético arrepiante, o filme é lindíssimo visualmente e se aproveita da necessidade de deslocamento através dos vagões para criar ambientes únicos, tornando a experiência mais chocante, dinâmica e empolgante. Soma-se a isso a violência estilizada, o exagero característico do cinema coreano e um elenco multinacional, talentoso e beneficiado por uma interpretação deliciosamente alucinada de Tilda Swinton e temos uma das melhores ficções científicas que tive o prazer de assistir em alguns anos.
Esse musical escrito e dirigido por Stuart Murdoch, vocalista e principal compositor da banda Belle & Sebastian é afetado principalmente por querer ser tão fofo e hipster quanto possível. O que é uma pena, já que a trilha é uma delicinha em sua grande maioria. Murdoch parece não ter a menor noção de como dirigir e dar dinâmica a um musical. Quando algum personagem começa a cantar, ele cria alguns momentos quase constrangedores. Seus atores parecem robôs se movimentando em cena de forma atrapalhada e não à vontade. O diretor alterna dancinhas estúpidas, personagens fazendo exatamente o que a letra diz, cantoria para a câmera com cara de blasé e mudanças de cenário sem sentido. Junto a isso, o filme além dos musicais não tem muita consistência, forçando situações que não aconteceriam com pessoas como aquelas, facilitando de maneira preguiçosa a evolução da história. Mas, né? A trilha é legal.
Gostei tanto de Elefante, principalmente por não buscar dar nenhuma resposta pronta, ou justificar ações, nem fazer sensacionalismo em cima de uma tragédia tão aparentemente incompreensível. O olhar que Gus Van Sant da para essa história inspirada em Columbine é livre de julgamentos. Parece querer que apenas observemos e nos detalhes do cotidiano dos alunos nos provoca a tentar entender o que levou ao massacre, ou a série de fatores que o levaram.
Absolutamente singelo. O novo filme de Woody Allen é uma comédia romântica que não é tão romântica e nem tão engraçada, mas que se sustenta muito bem através de personagens carismáticos e interessantes. Colin Firth, que assume a habitual persona neurótica e principalmente, nesse caso, cética do diretor e Emma Stone, que de tão doce se torna impossível sentir antipatia.
Primeira vez que vejo a fofa da Anne Hathaway atuar de verdade. E sim, eu vi Os Miseráveis, mas acho aquele chororo cantado todo muito overacting. Acontece que nesse filme a personagem tem camadas e não é apenas um turbilhão de sofrimento sem fim. É notável a frustração, o incomodo e a culpa que a personagem carrega o tempo todo, e não só quando o motivo desses sentimentos são evidenciados. Lindo trabalho da Hathaway em um bom filme muito simples. Funciona tão bem em grande parte por conta dela.
Existe uma tentativa genuína de ser um terror original, com reviravoltas que fogem do óbvio e que usam artifícios de montagem de tempo diferentes para causar um novo efeito. O problema é que chega o momento em que essa lógica adotada parece não fazer diferença para o rumo da história, servindo apenas como distração. Também não ajuda a insossa dupla de irmãos protagonistas, que são vividos por dois atores no piloto automático.
Lida com assuntos difíceis como a doença, a morte e o processo de aceitação que pode ser penoso e desequilibrar outros pontos da vida. É muito bacana por fugir do melodrama simplista e confrontar ideias ateístas e religiosas, levantando questões como o prejuízo definitivo que conservadorismos podem causar. Além disso, usa a música de maneira emocional e condizente com os momentos vividos pelos personagens, servindo como um respiro tanto para as pessoas ali retratadas, quanto para o espectador.
Como em seu filme anterior, Deus da Carnificina, Polanski adapta para o cinema mais uma peça de teatro com elenco reduzido, apenas dois atores, um único cenário, um teatro, e uma situação cotidiana que evolui para algo fora dos padrões da normalidade. Tenho uma queda forte por adaptações desse tipo, já que normalmente dependem de um ótimo texto e interpretações fortes. Se contarem com um diretor talentoso que consiga fazer algo interessante como cinema e não só como teatro filmado, a experiência pode ser ainda mais prazerosa. É o caso de A Pele de Vênus. Emmanuelle Seigner e Mathieu Amalric estão incríveis como uma atriz que faz um teste para o papel de protagonista e o diretor da peça em questão, que contrariado, ajuda na leitura dos diálogos. O embate dos dois se torna mais e mais interessante quando já não se nota o que é interpretação e o que é tentativa de dominação real, através do texto dúbio, confuso e com margens para múltiplos entendimentos, mas que é usado para uma finalidade surpreendente e bem específica.
Luc Besson mais uma vez sem medo de parecer over, transforma uma premissa idiota em um filme de ficção científica de ação cheio de energia. Com a desculpa de ter uma personagem que aumenta sua capacidade cerebral progressivamente através de uma ultra overdose causada por uma nova droga (yeah!), ele nos mantém sempre interessados através da instabilidade e imprevisibilidade da heroína, que ganha novas habilidades a cada minuto. Além disso, faz provocações sem medo com conceitos religiosos, com o uso de drogas e com teorias científicas. Absurdos, mais absurdos, boas sacadas e tudo sempre com estilo.
História clássica de casa mal assombrada, com roteiro redondinho, bonita fotografia e direção de arte. Tenta seguir a risca os moldes de um filme de terror clássico de época, mas acaba se tornando só mais um filme. Não tenta inovar, surpreender, incomodar, excitar, assustar a mais, nem a menos. Segue a formula.
Qualquer filme, mesmo de monstros gigantes, só funciona quando nos preocupamos ou sentimos alguma emoção por seus personagens. Godzilla não tem isso. Seus personagens mais interessantes morrem no primeiro ato e somos obrigados a acompanhar o herói mais sem atitude que já vi em muitos anos, se limitando a observar o desastre e raramente tomar qualquer decisão.
É muito legal quando um filme com uma premissa tão fantástica consegue tratar de assuntos tão reais e tenta recriar em outro universo, a natureza de conflitos tão sérios que são recorrentes na história humana. E ainda fazer isso de forma complexa, com muita propriedade. Esse novo Planeta dos Macacos está vários passos a frente do seu antecessor, que também tentava fazer o mesmo, mas com muito menos eficácia.
Guardiões da Galáxia é o filme de super heróis mais diferente da Marvel que vi até agora. Isso porque é despretensioso, leve e livre da preocupação da moda, a obrigatoriedade de trazer densidade dramática para tudo. Nem todas as piadas funcionam e nem todos os personagens são tão carismáticos assim, mas funciona muito bem sendo divertido, agradável e conscientemente inofensivo.
Refilmagem do primeiro filme de Wes Craven, A Última Casa é recheado de clichês de filmes de maniacos, mas tenta trabalhar com eles de uma nova forma e consegue em partes. Vai mais longe do que o habitual do gênero, levanto apenas em consideração o que é produzido no cinema de entretenimento americano. O que incomoda é a dificuldade em ser realmente ousado no que diz respeito a quem sai ganhando ou perdendo no embate entre bonzinhos e mauzões, além de não conseguir fugir do estereótipo de vitimas lindas, loiras, ricas, certinhas e saudáveis enquanto os vilões são lindos também, ok, mas estranhos, pobres, drogados e muito, muito maus!
Estava gostando moderadamente do filme até o momento em que força a barra pra fazer chorar, utilizando os artificiosos mais pobres, como a trilha excessivamente chorosa em cenas que julga excessivamente tristes, que não são. Além de frases de efeito mastigadas e bregas que surgem em momentos chave afim de potencializar a força dramática que não é tão forte assim. Apesar de ser adaptado de um livro, o filme tem uma ligação com a música Norwegian Wood dos Beatles, que quando surge nos créditos finais parece completamente deslocada do universo dos personagens.
O forte de As Vantagens de Ser Invisível não é necessariamente o tema, já que filmes sobre o amadurecimento e a passagem para a vida adulta existem aos montes em variadas épocas. Talvez funcione tão bem por conta do cuidado com que tudo foi feito, o trio principal e os coadjuvantes são ótimos, o roteiro é recheado de momentos deliciosos, a trilha é viciante. Mas o que conta mais para a grande qualidade do filme é a maturidade com que esse momento da vida é mostrado e a forma respeitosa e não imbecilizada com que os problemas variados e complexos da adolescência são tratados.
Acho Luc Besson um diretor exagerado, mas bastante divertido e autoral. Gosto de suas escolhas imprevisíveis, hora fazendo um thriller dramático, pulando para uma ficção científica, depois um drama histórico, uma trilogia de animação, um filme de ação, uma comédia de humor negro e por aí vai. Não que seus filmes sejam sempre bons, mas tem sua marca, independente do gênero. Nesse filme o desafio é adaptar uma HQ de fantasia, com toques de Indiana Jones e Amélie Poulain ao mesmo tempo. As vezes parece uma bagunça, misturando dinossauros com múmias egípcias em uma Paris do inicio do seculo XX. Mesmo com todo o excesso, é divertido e espirituoso, com uma personagem central de humor feroz e cheia de si e repleto de coadjuvantes tão irreais que parecem saídos de desenhos animados.
O Babadook
3.5 2,0KExiste uma sensibilidade rara em The Babadook. Algo difícil de encontrar no cinema de horror. Personifica medos, dificuldades, frustrações, traumas e os percalços da vida em uma criatura aterrorizante, imprevisível e que se apodera de elementos familiares, íntimos e representativos para a vida machucada de uma mulher e seu filho. Cria alegorias e trabalha o tempo todo com metáforas, sem trair em momento algum a ideia inicial em detrimento de sustos fáceis ou do terror barato, mesmo sendo sim um filme assustador, dramático e com um nível de complexidade bem acima do esperado para produções do gênero.
Extermínio
3.7 948O principal trunfo de O Extermínio é conseguir convencer de que uma epidemia zumbi, ou de raiva como se referem, pode sim dizimar a população mundial. Danny Boyle pensa em seus infectados como criaturas ágeis, velozes, atentas a qualquer movimento e altamente agressivas. O processo de transformação não dura mais do que 20 segundos e as estruturas de sobrevivência são muito mais precárias e inconsistentes do que o necessário. Com isso, o filme se torna mais urgente, mais perigoso e mais instável, fazendo desse exemplar de subgênero de horror um filme com valor próprio em meio a uma enxurrada de títulos sobre a mesma coisa.
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraFilmes que reúnem antologias de curtas-metragens geralmente são irregulares e problemáticos por natureza. É muito difícil fazer um trabalho coeso e sem pontos muito baixos, dentro de uma estrutura em que várias histórias diferentes tratam de um tema em comum. É natural que exista aquela passagem preferida, aquela outra odiável e aquela apenas ok. Partindo desse principio, Relatos Selvagens é um sucesso, já que não tem nenhum conto desinteressante ou muito inferior aos demais. Escrito e dirigido unicamente por Damián Szifrón, o que talvez explique a homogeneidade do longa, o filme, ou os filmes, partem sempre de uma premissa simples e cotidiana, que acabam tomando dimensões enormes e de pura insanidade. O diretor é perspicaz e ágil ao apresentar seus personagens e a situação em que estão inseridos, tornando a identificação do espectador quase imediata, para logo em seguida tripudiar na vida de suas criações, abusando criativamente do humor negro e levando em conta que nada é tão ruim que não possa piorar.
Amantes Eternos
3.8 782 Assista AgoraAcompanhando a vida de dois vampiros que já viveram milhares de anos, Jim Jarmusch se interessa mais pelo estilo de vida dos protagonistas do que pelo próprio vampirismo. Apesar de respeitar as regras já estabelecidas para as criaturas, o diretor tenta observar a maturidade que atingiram com o passar dos anos através de diálogos e percepções sobre suas vidas, sobre o mundo através da história, sobre seus interesses atuais e também através da dinâmica de seu relacionamento.
Festa no Céu
4.0 689 Assista AgoraFesta no Céu é uma animação lindíssima que merece elogios pelo seu apreço estético acima de tudo. Seus personagens são visualmente marcantes e os cenários são imponentes, coloridos e ricos em detalhes. O roteiro inventivo, pega emprestado o dia dos mortos mexicano e faz uma homenagem as tradições e a alguns elementos culturais do país, utilizando pelo caminho, canções e temas conhecidos de artistas como Radiohead, Mumford and Sons, Edward Sharpe & the Magnetic Zeros e Ennio Morricone, só pra citar meus preferidos, repaginados pela dramaticidade latina de seus personagens.
Era Uma Vez na Anatólia
3.8 60Era Uma Vez na Anatólia é um trabalho lindíssimo no que diz respeito a imagem e som. Fotografado quase sempre em locações bem abertas e com grande profundidade de campo em detrimento dos personagens que quase sempre aparecem como detalhes, faz das paisagens opressoras e mergulhadas na escuridão personagens essenciais para o filme. Junto a isso, o universo criado através do som do vento, das árvores, dos carros e dos ruídos noturnos, transformam o filme em um exemplo perfeito de cinema puro, com seus principais atributos bem representados.
Fugindo do Amanhã
2.0 75Vale a pena por tentar desconstruir o universo mágico da Disney e transforma-lo em um sonho surreal de terror ao estilo David Lynch. Também pela curiosidade de ter sido filmado sem permissão no parque, já que com certeza não teria o aval para rodar esse roteiro por lá. Perde um pouco o fôlego quando começa a mudar o foco para várias direções e inserir diversas situações que servem mais como enfeite e distração do que como algo orgânico.
Expresso do Amanhã
3.5 1,3K Assista grátisJonn-Ho Bong é um dos grandes diretores da atualidade pra mim. Adoro seus 4 filmes mais recentes e gosto bastante do seu primeiro. Ele cria em Expresso do Amanhã um mundo pós apocalíptico original e uma gama de personagens complexos que servem como ilustrações, por vezes conscientemente caricatas, de classes, com cada um desempenhando seu papel no modelo de organização social retratado no filme. Entre opressores e oprimidos, abastados e necessitados, se da início a uma revolução contra as injustiças na dinâmica autoritária do trem, palco do enredo. A cada vagão percorrido, o diretor mostra mais um pouco de como é mantida a vida no expresso e alfineta através de alegorias modelos sociais existentes na vida real. Além disso, Bong é um diretor cuidadoso e tem um domínio estético arrepiante, o filme é lindíssimo visualmente e se aproveita da necessidade de deslocamento através dos vagões para criar ambientes únicos, tornando a experiência mais chocante, dinâmica e empolgante. Soma-se a isso a violência estilizada, o exagero característico do cinema coreano e um elenco multinacional, talentoso e beneficiado por uma interpretação deliciosamente alucinada de Tilda Swinton e temos uma das melhores ficções científicas que tive o prazer de assistir em alguns anos.
God Help The Girl
3.6 238Esse musical escrito e dirigido por Stuart Murdoch, vocalista e principal compositor da banda Belle & Sebastian é afetado principalmente por querer ser tão fofo e hipster quanto possível. O que é uma pena, já que a trilha é uma delicinha em sua grande maioria. Murdoch parece não ter a menor noção de como dirigir e dar dinâmica a um musical. Quando algum personagem começa a cantar, ele cria alguns momentos quase constrangedores. Seus atores parecem robôs se movimentando em cena de forma atrapalhada e não à vontade. O diretor alterna dancinhas estúpidas, personagens fazendo exatamente o que a letra diz, cantoria para a câmera com cara de blasé e mudanças de cenário sem sentido. Junto a isso, o filme além dos musicais não tem muita consistência, forçando situações que não aconteceriam com pessoas como aquelas, facilitando de maneira preguiçosa a evolução da história. Mas, né? A trilha é legal.
Elefante
3.6 1,2K Assista AgoraGostei tanto de Elefante, principalmente por não buscar dar nenhuma resposta pronta, ou justificar ações, nem fazer sensacionalismo em cima de uma tragédia tão aparentemente incompreensível. O olhar que Gus Van Sant da para essa história inspirada em Columbine é livre de julgamentos. Parece querer que apenas observemos e nos detalhes do cotidiano dos alunos nos provoca a tentar entender o que levou ao massacre, ou a série de fatores que o levaram.
Magia ao Luar
3.4 569 Assista AgoraAbsolutamente singelo. O novo filme de Woody Allen é uma comédia romântica que não é tão romântica e nem tão engraçada, mas que se sustenta muito bem através de personagens carismáticos e interessantes. Colin Firth, que assume a habitual persona neurótica e principalmente, nesse caso, cética do diretor e Emma Stone, que de tão doce se torna impossível sentir antipatia.
O Casamento de Rachel
3.3 511Primeira vez que vejo a fofa da Anne Hathaway atuar de verdade. E sim, eu vi Os Miseráveis, mas acho aquele chororo cantado todo muito overacting. Acontece que nesse filme a personagem tem camadas e não é apenas um turbilhão de sofrimento sem fim. É notável a frustração, o incomodo e a culpa que a personagem carrega o tempo todo, e não só quando o motivo desses sentimentos são evidenciados. Lindo trabalho da Hathaway em um bom filme muito simples. Funciona tão bem em grande parte por conta dela.
O Espelho
2.9 933 Assista AgoraExiste uma tentativa genuína de ser um terror original, com reviravoltas que fogem do óbvio e que usam artifícios de montagem de tempo diferentes para causar um novo efeito. O problema é que chega o momento em que essa lógica adotada parece não fazer diferença para o rumo da história, servindo apenas como distração. Também não ajuda a insossa dupla de irmãos protagonistas, que são vividos por dois atores no piloto automático.
Alabama Monroe
4.3 1,4K Assista AgoraLida com assuntos difíceis como a doença, a morte e o processo de aceitação que pode ser penoso e desequilibrar outros pontos da vida. É muito bacana por fugir do melodrama simplista e confrontar ideias ateístas e religiosas, levantando questões como o prejuízo definitivo que conservadorismos podem causar. Além disso, usa a música de maneira emocional e condizente com os momentos vividos pelos personagens, servindo como um respiro tanto para as pessoas ali retratadas, quanto para o espectador.
A Pele de Vênus
4.0 218 Assista AgoraComo em seu filme anterior, Deus da Carnificina, Polanski adapta para o cinema mais uma peça de teatro com elenco reduzido, apenas dois atores, um único cenário, um teatro, e uma situação cotidiana que evolui para algo fora dos padrões da normalidade. Tenho uma queda forte por adaptações desse tipo, já que normalmente dependem de um ótimo texto e interpretações fortes. Se contarem com um diretor talentoso que consiga fazer algo interessante como cinema e não só como teatro filmado, a experiência pode ser ainda mais prazerosa. É o caso de A Pele de Vênus.
Emmanuelle Seigner e Mathieu Amalric estão incríveis como uma atriz que faz um teste para o papel de protagonista e o diretor da peça em questão, que contrariado, ajuda na leitura dos diálogos. O embate dos dois se torna mais e mais interessante quando já não se nota o que é interpretação e o que é tentativa de dominação real, através do texto dúbio, confuso e com margens para múltiplos entendimentos, mas que é usado para uma finalidade surpreendente e bem específica.
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraLuc Besson mais uma vez sem medo de parecer over, transforma uma premissa idiota em um filme de ficção científica de ação cheio de energia. Com a desculpa de ter uma personagem que aumenta sua capacidade cerebral progressivamente através de uma ultra overdose causada por uma nova droga (yeah!), ele nos mantém sempre interessados através da instabilidade e imprevisibilidade da heroína, que ganha novas habilidades a cada minuto. Além disso, faz provocações sem medo com conceitos religiosos, com o uso de drogas e com teorias científicas. Absurdos, mais absurdos, boas sacadas e tudo sempre com estilo.
A Mulher de Preto
3.0 2,9KHistória clássica de casa mal assombrada, com roteiro redondinho, bonita fotografia e direção de arte. Tenta seguir a risca os moldes de um filme de terror clássico de época, mas acaba se tornando só mais um filme. Não tenta inovar, surpreender, incomodar, excitar, assustar a mais, nem a menos. Segue a formula.
Godzilla
3.1 2,1K Assista AgoraQualquer filme, mesmo de monstros gigantes, só funciona quando nos preocupamos ou sentimos alguma emoção por seus personagens. Godzilla não tem isso. Seus personagens mais interessantes morrem no primeiro ato e somos obrigados a acompanhar o herói mais sem atitude que já vi em muitos anos, se limitando a observar o desastre e raramente tomar qualquer decisão.
Planeta dos Macacos: O Confronto
3.9 1,8K Assista AgoraÉ muito legal quando um filme com uma premissa tão fantástica consegue tratar de assuntos tão reais e tenta recriar em outro universo, a natureza de conflitos tão sérios que são recorrentes na história humana. E ainda fazer isso de forma complexa, com muita propriedade. Esse novo Planeta dos Macacos está vários passos a frente do seu antecessor, que também tentava fazer o mesmo, mas com muito menos eficácia.
Guardiões da Galáxia
4.1 3,8K Assista AgoraGuardiões da Galáxia é o filme de super heróis mais diferente da Marvel que vi até agora. Isso porque é despretensioso, leve e livre da preocupação da moda, a obrigatoriedade de trazer densidade dramática para tudo. Nem todas as piadas funcionam e nem todos os personagens são tão carismáticos assim, mas funciona muito bem sendo divertido, agradável e conscientemente inofensivo.
A Última Casa
3.5 1,2K Assista AgoraRefilmagem do primeiro filme de Wes Craven, A Última Casa é recheado de clichês de filmes de maniacos, mas tenta trabalhar com eles de uma nova forma e consegue em partes. Vai mais longe do que o habitual do gênero, levanto apenas em consideração o que é produzido no cinema de entretenimento americano. O que incomoda é a dificuldade em ser realmente ousado no que diz respeito a quem sai ganhando ou perdendo no embate entre bonzinhos e mauzões, além de não conseguir fugir do estereótipo de vitimas lindas, loiras, ricas, certinhas e saudáveis enquanto os vilões são lindos também, ok, mas estranhos, pobres, drogados e muito, muito maus!
Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood
3.3 136Estava gostando moderadamente do filme até o momento em que força a barra pra fazer chorar, utilizando os artificiosos mais pobres, como a trilha excessivamente chorosa em cenas que julga excessivamente tristes, que não são. Além de frases de efeito mastigadas e bregas que surgem em momentos chave afim de potencializar a força dramática que não é tão forte assim. Apesar de ser adaptado de um livro, o filme tem uma ligação com a música Norwegian Wood dos Beatles, que quando surge nos créditos finais parece completamente deslocada do universo dos personagens.
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraO forte de As Vantagens de Ser Invisível não é necessariamente o tema, já que filmes sobre o amadurecimento e a passagem para a vida adulta existem aos montes em variadas épocas. Talvez funcione tão bem por conta do cuidado com que tudo foi feito, o trio principal e os coadjuvantes são ótimos, o roteiro é recheado de momentos deliciosos, a trilha é viciante. Mas o que conta mais para a grande qualidade do filme é a maturidade com que esse momento da vida é mostrado e a forma respeitosa e não imbecilizada com que os problemas variados e complexos da adolescência são tratados.
As Múmias do Faraó
3.1 218Acho Luc Besson um diretor exagerado, mas bastante divertido e autoral. Gosto de suas escolhas imprevisíveis, hora fazendo um thriller dramático, pulando para uma ficção científica, depois um drama histórico, uma trilogia de animação, um filme de ação, uma comédia de humor negro e por aí vai. Não que seus filmes sejam sempre bons, mas tem sua marca, independente do gênero. Nesse filme o desafio é adaptar uma HQ de fantasia, com toques de Indiana Jones e Amélie Poulain ao mesmo tempo. As vezes parece uma bagunça, misturando dinossauros com múmias egípcias em uma Paris do inicio do seculo XX. Mesmo com todo o excesso, é divertido e espirituoso, com uma personagem central de humor feroz e cheia de si e repleto de coadjuvantes tão irreais que parecem saídos de desenhos animados.