Duas mulheres tentam, com ardor, se aproximar uma da outra, mas enfrentam barreiras invisíveis, mas quase impossíveis de serem ultrapassadas. Barreiras antigas, que acompanharam as duas por boa parte das suas vidas. De um lado, Natalia Akerman, a mãe. A ansiedade e as crises nervosas agravadas pelo sentimento cada vez mais iminente de que já não lhe resta muito tempo. Cada dia, hora, até mesmo minuto, ao lado de sua filha se tornam preciosos. Porém, ao mesmo tempo, sente pavor de ter se tornado apenas um incômodo, um aborrecimento. A sua boca diz "Vá, pode ir", quando todo o seu ser queria apenas dizer :"Fique mais um pouco". E do outro lado, a filha, Chantal Akerman. Uma artista reconhecida, mulher livre e independente, mas completamente solitária. Como a própria diretora nos diz em seu filme Là-bas, as únicas pessoas com que ela realmente conseguia cultivar uma sensação de intimidade eram seus parentes mais próximos, mas sua própria natureza a fazia se afastar delas. Inventava desculpas para não precisar sair ou se mantinha ocupada com algum projeto. Sua tentativa de se aproximar mais de sua mãe era também uma tentativa de se aproximar mais do mundo, das pessoas ao redor. Não é à toa que a sua câmera, sempre ligada quando está com a mãe, parece estar tão interessada com o que ocorre fora da casa quanto com o que acontece dentro.
Entretanto, a relação delas parece jamais poder sair da superfície. Elas conversam e conversam, mas nunca falam realmente nada. Não há intimidade o suficiente ali para se abrirem, contarem o que realmente se passa em suas mentes e espíritos. Quando a mãe, já sem forças para portar qualquer máscara, começa finalmente a falar o que de fato pensa, sente e desesperadamente deseja, já é tarde demais. No final, em que com apenas uma sequência de imagens fica subentendido que sua mãe teria falecido, Chantal violentamente fecha a cortina da janela do seu quarto (janela essa que permaneceu aberta durante todo o filme). Ela já não queria ou podia ter algum contato com o mundo. Desta vez, seu isolamento seria definitivo.
Os dois amantes pairam a poucos centímetros um do outro, mas jamais chegam a compartilhar a mesma órbita. É um amor resignado, ciente de que jamais poderão ficar juntos. Contando com uma belíssima fotografia e o uso brilhante da trilha sonora, Kar-Wai filma os movimentos do casal como uma valsa, onde os dançarinos se cruzam em escadarias estreitas ou fogem da chuva em ruas sombrias, mas que jamais chegam a se tocar.
Afetado pela paixão que nutria na época por Jeanne Moreau, Truffaut criou Jules e Jim a partir deste sentimento. O fascínio que os protagonistas sentem por Catherine é o mesmo que o diretor sentia pela atriz. Um ponta de melancolia pode ser sentida a cada vez que ela sai de cena. Um arrepio de alegria e desejo desponta cada vez que ela retorna. E esse é o maior mérito não apenas de Jules e Jim, mas do próprio cinema em si. O de ser capaz de registrar não apenas pessoas, objetos e sons, mas sentimentos genuínos, por mais efêmeros que estes possam ser.
"Porque uma pessoa se suicidaria nos dias de hoje?", se perguntam atônitos os personagens de As Armas das Árvores. O próprio filme parece dar a resposta: Como Não se matar nos dias de hoje?
Como Scorsese fala em Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano todos os filmes de Cassavetes eram épicos sobre a alma humana. Ninguém filmava com mais intimidade um rosto humano quanto o Cassavetes.
Um dos raros filmes em que tudo funciona, todos os elementos se encaixam perfeitamente. As atuações, os diálogos inesquecíveis, a narração de noticiário de rádio sensacionalista, a mistura de ficção científica
De tão denso, confuso e provocante, Almoço Nu era considerado inadaptável por todos. Cronenberg respondeu a esta afirmação fazendo um filme propositalmente ainda mais confuso, incorporando elementos da vida do autor (como a morte da esposa) e de suas outras obras, como Junky e Queer. Assim como Cronenberg mistura fatos reais com a ficção de Burroughs, o próprio filme habita essa área cinzenta entre o que é real e imaginário, o que é verdade ou apenas alucinação. O resultado é uma grande homenagem e um retrato surreal de um dos maiores autores americanos do século XX.
Após quase quarenta anos de seu lançamento, ter influenciado centenas de filmes e se firmado como clássico absoluto do horror, O Massacre da Serra Elétrica teve todo tipo de interpretação intelectualizada. Já foi dito que o filme era sobre a degradação da família americana, sobre a revolta das subclasses econômicas, choque cultural entre hippies e as pessoas à favor da Guerra do Vietnã e até de que era um tratado vegetariano extremamente radical, em que s vítimas passam pelo mesmo sofrimento terrível que o gado enfrenta diariamente no matadouro. Mas a verdade é que o filme de Tobe Hooper é tão visceral, impiedoso e implacável até hoje que mal dá tempo de respirar, que dirá para pensar sobre o que se trata. Com ar de documentário de baixo orçamento e imprevistos que geraram cenas icônicas, o filme é um dos poucos a conseguir capturar a real essência da insanidade. Seu maior mérito é mostrar que o pior monstro é o próprio homem.
Repulsa ao Sexo, tal qual Bebê de Rosemary, é um brilhante exercício de inquietação e paranóia que não perdeu nada do seu poder depois de quase cinquenta anos de seu lançamento. Ele ainda é um dos filmes mais perturbadores já feitos, conseguindo evocar uma atmosfera cheia de medo e terror, sem precisar recorrer a táticas típicas do gênero. Catherine Deneuve, uma das maiores atrizes da história, deu aqui a interpretação da sua vida, conseguindo representar toda a perturbação da sua personagem apenas com o olhar. A sua Carol Ledoux é inesquecível, ficando na nossa mente por muito tempo depois do filme acabar.
Embora nem o próprio Buñuel tivesse problemas de chamar A Bela da Tarde, um dos seus melhores filmes, de pornográfico, o sexo nunca é mostrado na tela. Acontece sempre atrás de portas fechadas, em cantinhos secretos e até debaixo de um caixão. As perversões sexuais são sugeridas ao expectador sempre da maneira mais maluca possível. A preocupação de Buñuel não é mostrar a nudez da belíssima Catherine Deneuve e sim suas roupas, chapéus e véus, que cobrem seu corpo e representam a vida respeitável que leva em sociedade e que a impedem de realizar seus desejos mais ocultos.
Assim como A Maldição de Frankenstein, o filme anterior da produtora Hammer e do diretor britânico Terence Fisher, Dracula foi uma grande surpresa para os críticos e os fãs de horror. A ênfase do estúdio numa maior carga de violência e sexualidade é reconhecida até hoje como revolucionário para o gênero e se tornou marca registrada do estúdio lendário. Marcando para sempre a carreira de dois grandes atores, Christopher Lee e Peter Cushing, Dracula ultrapassa todas as barreiras cinematográficas definidas pelo horror no passado. Ao contrário dos caninos tímidos de Bela Lugosi aqui Lee ostenta presas bestiais. As vampiras transbordam sensualidade com seus generosos decotes. O sangue jorra em profusão e em vermelho vivo. Graças a estes avanços, se iniciava o reinado da Hammer, durando até a década de 70.
Ápice incontestável entre todos os filmes de monstros e um marco no uso de efeitos especiais nos primórdios de Hollywood, King Kong é, em sua essência uma versão símia de A Bela e a Fera em proporções épicas. Além dos efeitos que impressionam até hoje, o filme marca a primeira aparição de Kong, uma das criaturas mais carismáticas e trágicas do cinema.
"Você se lembra da manhã em que surgiu o bípede da savana? Com capim grudado na testa, nossa tão esperada imagem. Sua primeira palavra foi um grito. Foi “ah”, “oh” ou somente um gemido? Pela primeira vez fomos capazes de rir. Rir desse homem. E, através do grito desse homem e seus seguidores, aprendemos a falar. Uma longa história."
Diferente da versão água-com-açúcar estrelada por Meg Ryan e Nicolas Cage, Asas do Desejo une o talento inquestionável de Wim Wenders, o texto original do grande poeta alemão Rainer Maria Rilke e a deslumbrante fotografia do lendário Henri Alekan para criar um suntuoso e brilhante poema visual. Obra-prima inquestionável, abarca em suas pouco mais de duas horas temas tão diversos como a divisão da Alemanha, o Holocausto, o cinema, o suicídio, a literatura, o amor, o conflito entre o eterno e o efêmero e, sobretudo, a beleza suprema da vida.
A filmagem caseira, com muitas cenas mal enquadradas e fora de foco, zooms aparentemente sem propósito, cortes bruscos e várias sequências bizarras de vulgaridades inesquecíveis impedem que muita gente consiga ver o que está realmente por trás de Pink Flamingos. O filme é uma sátira à cultura de celebridades, em que as pessoas se dispõem a fazer qualquer coisa, por mais degradante que seja, para conseguir seus quinze minutos de fama. Além disso, existe a crítica à imprensa norte-americana, que na década de 70 não se fazia de rogada em publicar fotos de acidentes e pessoas assassinadas. Hoje em dia, a cultura em ascensão dos vídeos do Youtube, com gente que topa beber vodka até pelo ouvido, e um jornalismo que faz cobertura em tempo real de pessoas ameaçando se suicidar e de sequestro com reféns, Pink Flamingos permanece cada vez mais atual.
Uma das grandes obras-primas de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary é a aterradora prova que a sugestão é muito mais poderosa que o susto em si. Sua câmera jamais enfoca o horror diretamente, mas, em vez disso, deixa que o público a localize por si próprio, com seus próprios olhos. Embora para muitos a abordagem religiosa talvez seja o elemento mais marcante da história, para mim é o seu senso de paranoia que faz dele um clássico absoluto. Todos nós temos nossos momentos de paranoia. O que nos torna normais é que conseguimos manter as nossas suspeitas mais loucas sobre controle. Conforme Polanski avança a história de Rosemary começamos a suspeitar de TODOS, sem exceção, e, na maioria das vezes, estamos certos. De repente, tudo o que você imaginou de pior sobre a velha caduca que mora ao lado é verdadeiro e nem mesmo a pessoa com que você se casou é confiável. O maior mérito do filme é que ele nos autoriza a satisfazer ao máximo nossa paranoia, fazendo todos os nossos maiores pesadelos tornarem-se realidade.
Em O Pássaro Sangrento, primeiro filme de Michele Soavi, uma das pessoas que mais compreenderam o cinema terror italiano, existe um diálogo entre um produtor e um diretor de balé. O primeiro, furioso, pergunta ao diretor qual o sentido de uma passagem que o diretor havia criado. O diretor responde: “Você consegue imaginar a reação do público quando ver a vítima estuprando seu próprio assassino? Vai ser sensacional!”. Esta crença no poder de uma imagem, na força de uma cena por si só, acima de coisas tidas como essenciais no cinema de outros países, como lógica e coerência, resume todo o terror italiano. E também cai como uma luva para um dos maiores diretores desse movimento, Lucio Fulci. Em seus filmes não existe espaço para a beleza das imagens de Bava ou as imagens catárticas de Argento. Há apenas a violência, pura e simples, com tudo o que há de mais terrível e feio nela. As Sete Portas do Inferno até tem um fio narrativo, sobre um tal hotel construído acima de uma das sete portas do inferno, mas o filme se concentra mesmo numa série de sequências delirantes e ultraviolentas. É Fulci sem amarras e sem limites, dando o dedo meio à realidade e a lógica. Ele busca em cada cena criar horrores que fiquem queimados na nossa retina, bem depois de terminado o filme. E o fato de Fulci conseguir isso, fazendo do filme um pesadelo pingando sangue, mesmo com um orçamento minúsculo, um punhado de interpretações inexpressivas e sangue falso, que faz de As Sete Portas do Inferno um dos melhores filmes de Lucio Fulci.
O romance de Mary Shelley, além de ser uma discussão sobre os limites éticos e religiosos da ciência, também trata sobre a rejeição ao que é diferente, incomum, anômalo. A criatura de Frankenstein, que em sua essência é um ser amável, é um símbolo dos excluídos, uma espécie de mártir da intolerância e do preconceito. Não foi à toa que James Whale, homossexual assumido em uma sociedade conservadora como eram os Estados unidos da década de 30, voltou seus olhos para história não apenas uma, mas duas vezes.
"Repugnante", "escabroso", "degradante", "obsceno", "pornográfico", "desperdício de dinheiro público". Estas foram apenas algumas das muitas acusações que uma inflamada crítica canadense lançou ao longa-metragem de estreia profissional de David Cronenberg, Calafrios. Cult quase imediato, idolatrado por cineastas como Scorsese e John Carpenter, além de provável inspiração para Alien. Calafrios é uma mistura de excrescências corporais, vísceras, humor agressivo e sexo em uma estética claramente trash, devido ao baixo orçamento. Uma espécia de antecipação da AIDS e uma paródia a Uma Noite dos Mortos Vivos, aqui os contaminados invés de comerem carne humana buscar criar uma orgia perpétua, cruel, total. Após a quase interdição do filme pelo Parlamento Cronenberg deu uma resposta provocadora aos seus detratores: contratou Marilyn Chambers, conhecida na época como Rainha do Pornô, para estrelar seu próximo filme.
Nos anos 30, a Universal buscava um ator carismático para viver o vampiro na primeira adaptação oficial do livro de Bram Stoker (anos antes houve a versão apócrifa de Murnau, Nosferatu). Lon Chaney, ator favorito do diretor Tod Browning, morreu antes do início das filmagens. Foi então que o mundo descobriu a expressão terrivelmente gélida do húngaro Bela Lugosi. Nem mesmo a morte e mais de oitenta anos foram o bastante para tira-lo do posto de melhor Drácula da história.
Não é Um Filme Caseiro
3.8 8 Assista AgoraDuas mulheres tentam, com ardor, se aproximar uma da outra, mas enfrentam barreiras invisíveis, mas quase impossíveis de serem ultrapassadas. Barreiras antigas, que acompanharam as duas por boa parte das suas vidas. De um lado, Natalia Akerman, a mãe. A ansiedade e as crises nervosas agravadas pelo sentimento cada vez mais iminente de que já não lhe resta muito tempo. Cada dia, hora, até mesmo minuto, ao lado de sua filha se tornam preciosos. Porém, ao mesmo tempo, sente pavor de ter se tornado apenas um incômodo, um aborrecimento. A sua boca diz "Vá, pode ir", quando todo o seu ser queria apenas dizer :"Fique mais um pouco".
E do outro lado, a filha, Chantal Akerman. Uma artista reconhecida, mulher livre e independente, mas completamente solitária. Como a própria diretora nos diz em seu filme Là-bas, as únicas pessoas com que ela realmente conseguia cultivar uma sensação de intimidade eram seus parentes mais próximos, mas sua própria natureza a fazia se afastar delas. Inventava desculpas para não precisar sair ou se mantinha ocupada com algum projeto. Sua tentativa de se aproximar mais de sua mãe era também uma tentativa de se aproximar mais do mundo, das pessoas ao redor. Não é à toa que a sua câmera, sempre ligada quando está com a mãe, parece estar tão interessada com o que ocorre fora da casa quanto com o que acontece dentro.
Entretanto, a relação delas parece jamais poder sair da superfície. Elas conversam e conversam, mas nunca falam realmente nada. Não há intimidade o suficiente ali para se abrirem, contarem o que realmente se passa em suas mentes e espíritos. Quando a mãe, já sem forças para portar qualquer máscara, começa finalmente a falar o que de fato pensa, sente e desesperadamente deseja, já é tarde demais. No final, em que com apenas uma sequência de imagens fica subentendido que sua mãe teria falecido, Chantal violentamente fecha a cortina da janela do seu quarto (janela essa que permaneceu aberta durante todo o filme). Ela já não queria ou podia ter algum contato com o mundo. Desta vez, seu isolamento seria definitivo.
Amor à Flor da Pele
4.3 497 Assista AgoraAo contrário do que pode dar a entender o título nacional, Amor à Flor da Pele não é uma história de amor fervilhante.
Os dois amantes pairam a poucos centímetros um do outro, mas jamais chegam a compartilhar a mesma órbita. É um amor resignado, ciente de que jamais poderão ficar juntos.
Contando com uma belíssima fotografia e o uso brilhante da trilha sonora, Kar-Wai filma os movimentos do casal como uma valsa, onde os dançarinos se cruzam em escadarias estreitas ou fogem da chuva em ruas sombrias, mas que jamais chegam a se tocar.
Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois
4.1 335 Assista AgoraAfetado pela paixão que nutria na época por Jeanne Moreau, Truffaut criou Jules e Jim a partir deste sentimento. O fascínio que os protagonistas sentem por Catherine é o mesmo que o diretor sentia pela atriz. Um ponta de melancolia pode ser sentida a cada vez que ela sai de cena. Um arrepio de alegria e desejo desponta cada vez que ela retorna.
E esse é o maior mérito não apenas de Jules e Jim, mas do próprio cinema em si. O de ser capaz de registrar não apenas pessoas, objetos e sons, mas sentimentos genuínos, por mais efêmeros que estes possam ser.
A Grande Testemunha
4.0 94 Assista Agora"O mais alto ato de pureza já feito no cinema."
Jean-Luc Godard
As Armas das Árvores
4.2 17"Porque uma pessoa se suicidaria nos dias de hoje?", se perguntam atônitos os personagens de As Armas das Árvores. O próprio filme parece dar a resposta: Como Não se matar nos dias de hoje?
Faces
4.1 62Como Scorsese fala em Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano todos os filmes de Cassavetes eram épicos sobre a alma humana. Ninguém filmava com mais intimidade um rosto humano quanto o Cassavetes.
Maridos e Esposas
3.9 108 Assista Agora"A vida não imita a arte, imita programas de TV ruins."
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 263 Assista AgoraUm dos raros filmes em que tudo funciona, todos os elementos se encaixam perfeitamente. As atuações, os diálogos inesquecíveis, a narração de noticiário de rádio sensacionalista, a mistura de ficção científica
(os ETs chegando no final é uma sequência genial)
Asas do Desejo
4.3 493 Assista AgoraMelhor poema já filmado.
Mistérios e Paixões
3.8 312De tão denso, confuso e provocante, Almoço Nu era considerado inadaptável por todos. Cronenberg respondeu a esta afirmação fazendo um filme propositalmente ainda mais confuso, incorporando elementos da vida do autor (como a morte da esposa) e de suas outras obras, como Junky e Queer.
Assim como Cronenberg mistura fatos reais com a ficção de Burroughs, o próprio filme habita essa área cinzenta entre o que é real e imaginário, o que é verdade ou apenas alucinação. O resultado é uma grande homenagem e um retrato surreal de um dos maiores autores americanos do século XX.
O Massacre da Serra Elétrica
3.7 1,0K Assista AgoraApós quase quarenta anos de seu lançamento, ter influenciado centenas de filmes e se firmado como clássico absoluto do horror, O Massacre da Serra Elétrica teve todo tipo de interpretação intelectualizada. Já foi dito que o filme era sobre a degradação da família americana, sobre a revolta das subclasses econômicas, choque cultural entre hippies e as pessoas à favor da Guerra do Vietnã e até de que era um tratado vegetariano extremamente radical, em que s vítimas passam pelo mesmo sofrimento terrível que o gado enfrenta diariamente no matadouro. Mas a verdade é que o filme de Tobe Hooper é tão visceral, impiedoso e implacável até hoje que mal dá tempo de respirar, que dirá para pensar sobre o que se trata.
Com ar de documentário de baixo orçamento e imprevistos que geraram cenas icônicas, o filme é um dos poucos a conseguir capturar a real essência da insanidade. Seu maior mérito é mostrar que o pior monstro é o próprio homem.
Esse Louco, Louco Amor
3.9 8Sei que o mundo é injusto quando vejo que quase ninguém conhece essa obra-prima.
Repulsa ao Sexo
4.0 461 Assista AgoraRepulsa ao Sexo, tal qual Bebê de Rosemary, é um brilhante exercício de inquietação e paranóia que não perdeu nada do seu poder depois de quase cinquenta anos de seu lançamento. Ele ainda é um dos filmes mais perturbadores já feitos, conseguindo evocar uma atmosfera cheia de medo e terror, sem precisar recorrer a táticas típicas do gênero. Catherine Deneuve, uma das maiores atrizes da história, deu aqui a interpretação da sua vida, conseguindo representar toda a perturbação da sua personagem apenas com o olhar. A sua Carol Ledoux é inesquecível, ficando na nossa mente por muito tempo depois do filme acabar.
A Bela da Tarde
4.1 340 Assista AgoraEmbora nem o próprio Buñuel tivesse problemas de chamar A Bela da Tarde, um dos seus melhores filmes, de pornográfico, o sexo nunca é mostrado na tela. Acontece sempre atrás de portas fechadas, em cantinhos secretos e até debaixo de um caixão. As perversões sexuais são sugeridas ao expectador sempre da maneira mais maluca possível.
A preocupação de Buñuel não é mostrar a nudez da belíssima Catherine Deneuve e sim suas roupas, chapéus e véus, que cobrem seu corpo e representam a vida respeitável que leva em sociedade e que a impedem de realizar seus desejos mais ocultos.
O Vampiro da Noite
3.8 102Assim como A Maldição de Frankenstein, o filme anterior da produtora Hammer e do diretor britânico Terence Fisher, Dracula foi uma grande surpresa para os críticos e os fãs de horror. A ênfase do estúdio numa maior carga de violência e sexualidade é reconhecida até hoje como revolucionário para o gênero e se tornou marca registrada do estúdio lendário.
Marcando para sempre a carreira de dois grandes atores, Christopher Lee e Peter Cushing, Dracula ultrapassa todas as barreiras cinematográficas definidas pelo horror no passado. Ao contrário dos caninos tímidos de Bela Lugosi aqui Lee ostenta presas bestiais. As vampiras transbordam sensualidade com seus generosos decotes. O sangue jorra em profusão e em vermelho vivo. Graças a estes avanços, se iniciava o reinado da Hammer, durando até a década de 70.
King Kong
3.8 194 Assista AgoraÁpice incontestável entre todos os filmes de monstros e um marco no uso de efeitos especiais nos primórdios de Hollywood, King Kong é, em sua essência uma versão símia de A Bela e a Fera em proporções épicas. Além dos efeitos que impressionam até hoje, o filme marca a primeira aparição de Kong, uma das criaturas mais carismáticas e trágicas do cinema.
Asas do Desejo
4.3 493 Assista Agora"Você se lembra da manhã em que surgiu o bípede da savana? Com capim grudado na testa, nossa tão esperada imagem. Sua primeira palavra foi um grito. Foi “ah”, “oh” ou somente um gemido? Pela primeira vez fomos capazes de rir. Rir desse homem. E, através do grito desse homem e seus seguidores, aprendemos a falar. Uma longa história."
Diferente da versão água-com-açúcar estrelada por Meg Ryan e Nicolas Cage, Asas do Desejo une o talento inquestionável de Wim Wenders, o texto original do grande poeta alemão Rainer Maria Rilke e a deslumbrante fotografia do lendário Henri Alekan para criar um suntuoso e brilhante poema visual. Obra-prima inquestionável, abarca em suas pouco mais de duas horas temas tão diversos como a divisão da Alemanha, o Holocausto, o cinema, o suicídio, a literatura, o amor, o conflito entre o eterno e o efêmero e, sobretudo, a beleza suprema da vida.
Pink Flamingos
3.4 879A filmagem caseira, com muitas cenas mal enquadradas e fora de foco, zooms aparentemente sem propósito, cortes bruscos e várias sequências bizarras de vulgaridades inesquecíveis impedem que muita gente consiga ver o que está realmente por trás de Pink Flamingos. O filme é uma sátira à cultura de celebridades, em que as pessoas se dispõem a fazer qualquer coisa, por mais degradante que seja, para conseguir seus quinze minutos de fama. Além disso, existe a crítica à imprensa norte-americana, que na década de 70 não se fazia de rogada em publicar fotos de acidentes e pessoas assassinadas.
Hoje em dia, a cultura em ascensão dos vídeos do Youtube, com gente que topa beber vodka até pelo ouvido, e um jornalismo que faz cobertura em tempo real de pessoas ameaçando se suicidar e de sequestro com reféns, Pink Flamingos permanece cada vez mais atual.
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraUma das grandes obras-primas de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary é a aterradora prova que a sugestão é muito mais poderosa que o susto em si. Sua câmera jamais enfoca o horror diretamente, mas, em vez disso, deixa que o público a localize por si próprio, com seus próprios olhos.
Embora para muitos a abordagem religiosa talvez seja o elemento mais marcante da história, para mim é o seu senso de paranoia que faz dele um clássico absoluto. Todos nós temos nossos momentos de paranoia. O que nos torna normais é que conseguimos manter as nossas suspeitas mais loucas sobre controle. Conforme Polanski avança a história de Rosemary começamos a suspeitar de TODOS, sem exceção, e, na maioria das vezes, estamos certos. De repente, tudo o que você imaginou de pior sobre a velha caduca que mora ao lado é verdadeiro e nem mesmo a pessoa com que você se casou é confiável. O maior mérito do filme é que ele nos autoriza a satisfazer ao máximo nossa paranoia, fazendo todos os nossos maiores pesadelos tornarem-se realidade.
Terror nas Trevas
3.6 132Em O Pássaro Sangrento, primeiro filme de Michele Soavi, uma das pessoas que mais compreenderam o cinema terror italiano, existe um diálogo entre um produtor e um diretor de balé. O primeiro, furioso, pergunta ao diretor qual o sentido de uma passagem que o diretor havia criado. O diretor responde: “Você consegue imaginar a reação do público quando ver a vítima estuprando seu próprio assassino? Vai ser sensacional!”. Esta crença no poder de uma imagem, na força de uma cena por si só, acima de coisas tidas como essenciais no cinema de outros países, como lógica e coerência, resume todo o terror italiano. E também cai como uma luva para um dos maiores diretores desse movimento, Lucio Fulci. Em seus filmes não existe espaço para a beleza das imagens de Bava ou as imagens catárticas de Argento. Há apenas a violência, pura e simples, com tudo o que há de mais terrível e feio nela.
As Sete Portas do Inferno até tem um fio narrativo, sobre um tal hotel construído acima de uma das sete portas do inferno, mas o filme se concentra mesmo numa série de sequências delirantes e ultraviolentas. É Fulci sem amarras e sem limites, dando o dedo meio à realidade e a lógica. Ele busca em cada cena criar horrores que fiquem queimados na nossa retina, bem depois de terminado o filme. E o fato de Fulci conseguir isso, fazendo do filme um pesadelo pingando sangue, mesmo com um orçamento minúsculo, um punhado de interpretações inexpressivas e sangue falso, que faz de As Sete Portas do Inferno um dos melhores filmes de Lucio Fulci.
Frankenstein
4.0 284 Assista AgoraO romance de Mary Shelley, além de ser uma discussão sobre os limites éticos e religiosos da ciência, também trata sobre a rejeição ao que é diferente, incomum, anômalo. A criatura de Frankenstein, que em sua essência é um ser amável, é um símbolo dos excluídos, uma espécie de mártir da intolerância e do preconceito. Não foi à toa que James Whale, homossexual assumido em uma sociedade conservadora como eram os Estados unidos da década de 30, voltou seus olhos para história não apenas uma, mas duas vezes.
Calafrios
3.4 144 Assista Agora"Repugnante", "escabroso", "degradante", "obsceno", "pornográfico", "desperdício de dinheiro público". Estas foram apenas algumas das muitas acusações que uma inflamada crítica canadense lançou ao longa-metragem de estreia profissional de David Cronenberg, Calafrios. Cult quase imediato, idolatrado por cineastas como Scorsese e John Carpenter, além de provável inspiração para Alien. Calafrios é uma mistura de excrescências corporais, vísceras, humor agressivo e sexo em uma estética claramente trash, devido ao baixo orçamento.
Uma espécia de antecipação da AIDS e uma paródia a Uma Noite dos Mortos Vivos, aqui os contaminados invés de comerem carne humana buscar criar uma orgia perpétua, cruel, total.
Após a quase interdição do filme pelo Parlamento Cronenberg deu uma resposta provocadora aos seus detratores: contratou Marilyn Chambers, conhecida na época como Rainha do Pornô, para estrelar seu próximo filme.
Tetsuo, o Homem de Ferro
3.7 134É como se David Lynch e David Cronenberg deixassem de lado a sua desavença pra produzir juntos um filme no Japão.
Drácula
3.9 295 Assista AgoraNos anos 30, a Universal buscava um ator carismático para viver o vampiro na primeira adaptação oficial do livro de Bram Stoker (anos antes houve a versão apócrifa de Murnau, Nosferatu). Lon Chaney, ator favorito do diretor Tod Browning, morreu antes do início das filmagens. Foi então que o mundo descobriu a expressão terrivelmente gélida do húngaro Bela Lugosi. Nem mesmo a morte e mais de oitenta anos foram o bastante para tira-lo do posto de melhor Drácula da história.