Muito interessante a história da Vivian Maier. A nota é mais por causa do documentário em si, que apesar de ter me despertado ainda mais curiosidade a respeito da Maier, me parece pender para a intriga, especulação e criação de uma mística em torno da personagem. Achei mais interessante o documentario da BBC, que inclusive vai atrás de outros que adquiriram os itens leiloados (e que John Maloof simplesmente ignora neste documentário). Não consigo deixar de pensar, assistindo este documentário, que Maloof detém os direitos autorais (que estao em disputa, que eu saiba) e de fato tem muito a ganhar financeiramente com a exposição da Maier. Outras questões foram levantadas no doc da BBC e outros artigos e que parecem relevantes, como a curadoria realizada por pessoas sem experiência nas artes e especificamente na fotografia como arte, e o fato de que o processo de revelar não tenha contado com a participação da própria fotógrafa. Teria sido honesto que Maloof colocasse estas questões mais abertamente em seu documentário.
Estou vendo muita gente dizendo sobre ser um filme da poesia do cotidiano. Acho que é isso tambem, mas gosto mais de pensar que Paterson é a defesa de que o homem comum, fazendo tarefas comuns, nao está distanciado da arte ("um motorista de ônibus que gosta dd Emily Dickinson"). E que a arte não é só para os tais gênios, porque o que sao afinal os gênios?, e que a gente pode e talvez deva fazer arte todos os dias. ♥️
Muito interessante, sobretudo o esclarecimento acerca da compra de terras. Reforçou o asco que tenho dessa empresa. Me espanta muitíssimo que outros comentários aqui amenizem ou mesmo aprovem o tipo de comportamento de Ray Kroc, com a justificativa bizarra de que "escolhemos viver no sistema capitalista" (não escolhi) e que temos que aceitar essa sua faceta. Ora, o que o filme mostra é justamente como é possível, neste sistema, simplesmente ignorar leis e contratos quando se tem DINHEIRO.
Para além de cair na questão de culpados ou não, o interessante do filme é desvelar as ações irresponsáveis dos envolvidos tanto na investigação quanto na notícia. As falas do detetive encarregado são no mínimo ridículas, escancarando um julgamento moral por parte de um religioso conservador. Ao mesmo tempo, o jornalista entrevistado revela exatamente o pensamento que guia a fabricação do "furo" - em determinado momento ele chega a dizer que o jornalista publica tudo aquilo que chega até ele, e que não é possível ficar checando fontes e fatos, o que é exatamente o CONTRÁRIO do que entende-se por jornalismo sério e ético. Ora, o papel do jornalista é justamente perguntar, duvidar e checar as fontes. É de um cinismo sem fim. Ao final, fica claro como a influência midiática transformou o caso, influenciando também a polícia local que de repente se viu centro das atenções a nível mundial e precisava resolver o caso logo.
Recomendação para outro caso de exposição na mídia: O.J.Simpson: Made in America, e American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson (este ultimo disponível na Netflix).
Interessante, mas morno. Me parece que faltou falar mais sobre racismo e sexismo no meio da indústria musical. A referência a isso aparece apenas muito brevemente em falas como "só há espaço para uma Aretha Franklin" ou quando são mostradas as backing vocals ultra sexualizadas de Ike Turner. Me parece que havia uma crítica importante a ser feita, mas ela não aconteceu e o documentário perdeu uma oportunidade de ser de fato muito relevante. Sobre músicos "invisíveis" da grande cena, há outro documentário chamado "The wrecking crew" - fica a indicação para quem se interessou pelo tema.
Esse filme deve ser interessante para começar um debate sobre o conceito de liberdade nos EUA. De um lado, temos um estado financiado por empresas privadas e que exerce um controle arbitrário sobre os cidadãos. Do outro lado, neste filme, temos o fundador da Silk Road, um cara que se diz alinhar com ideais libertários, e que assim acredita na total liberdade de mercado. O problema neste filme é deixar de lado a irresponsabilidade na venda de mercadorias perigosas, como drogas pesadas: o cenário pintado é de uma comunidade online que funciona lindamente, esquecendo que as relações ali estabelecidas visam em primeiro lugar o comércio, e não as relações pessoais. Bate-se na tecla da "liberdade de escolha" do indivíduo (se uma pessoa quer colocar drogas em seu corpo, que coloque), esquecendo-se que existem contextos diferentes de educação formal, família, classe etc, e que portanto as informações não são iguais para todos. O argumento de que comercializar drogas online diminui a violência parece desviar da discussão principal, que é a da política anti drogas norte-americana e, mais ainda, da ação violenta da polícia. Por outro lado, é inegável que as agências de inteligência dos EUA incorrem repetidamente e constantemente em quebra de privacidade, como já ficou claro desde a revelação dos arquivos Snowden. Mais ainda, o documentário fornece mais elementos ainda para o questionamento da justiça norte-americana: as decisões da juíza durante o julgamento são parciais, evocando outros casos/documentários que colocam em xeque o sistema judiciário, como Making a Muderer e 13ª Emenda, dentre outros. Acredito que este é um filme que vale a pena ser visto, mas tendo em conta que servirá como ponto de partida para discussões e questionamentos.
Embora eu concorde com a crítica feita no documentário, achei que a estrutura do filme para elaborar uma argumentação contundente deixou a desejar. Muito tempo é dispensado às experiências pessoais do diretor e sua família, e o salto do micro para o macro da sociedade norte-americana acaba ficando corrido e não aprofunda-se muito. Há uma notável falta de foco, o que fica evidenciado ao final do filme, quando o diretor diz que o filme se trata "apenas" de drogas prescritas por médicos, mas sobre vício. Embora os dois temas se relacionem, o título do filme e o propósito anunciado (e não muito bem cumprido) é falar das drogas legalizadas, produzidas pela indústria farmacêutica, e prescritas irresponsavelmente por médicos a seus pacientes, em um esquema que visa, como bem disse a ex-representante farmacêutica entrevistada, o LUCRO dos acionistas. Me parece que o diretor, com seus entrevistados relacionados ao meio, tinha um material muito mais rico a ser explorado, mas perdeu-se (a cena sobre conseguir medicamentos pelo Craigslist, por exemplo, foge ao ponto de drogas PRESCRITAS POR MÉDICOS, uma vez que já cai no tráfico de drogas). Enfim, é um assunto que merece maior cuidado, mas ainda assim acho vale a pena ver este documentário.
Não vi ninguém nos comentários falando sobre, então deixo aqui a recomendação também do excelente "The Magdalene Sisters", que foca nas vidas das mulheres jogadas nestes conventos pela família. É outro foco e com uma visão menos conciliadora do que a de Philomena Lee.
Tem seus méritos, mas é aquela coisa na mesma linha de "Histórias cruzadas", com uma ideia de que ao final tudo se resolve. Claro que é uma história MUITO relevante de ser contada, mas o jeito como as coisas se resolvem no filme aparenta uma certa amenidade, uma ideia de que "é só vc se esforçar (muito mais do que os outros) que o reconhecimento chega". Houve ainda o problema do contraponto russo: é verdade que o filme coloca nas bocas dos personagens o pensamento dominante na época sobre a URSS, mas o filme como um todo parece concordar com essa ideia de "soviéticos vilões". Muito interessante, contudo, a representação de mulheres negras que são diferentes entre si e que, à exceção da Octavia Spencer, não caem em um estereótipo. No geral, um filme legal, que vale a pena ser visto e debatido, e que se faz ainda necessário pelo protagonismo de mulheres negras - mesmo que venha ainda cheio de problemas que atendem às exigências de mercado de Hollywood.
Um filme muito interessante para pensar nos movimentos que contestam qualquer aspecto da ordem estabelecida, e que existem muitas maneiras de ser contra o status quo: seja como classe trabalhadora, LGBTQ ou outros. Mais ainda, ele evidencia um importante elemento, que é a pluralidade de ideias dentro dos movimentos contestatórios, e como o poder se beneficia dessas desavenças. Para além disso, um filme muito querido na sua forma de falar das pessoas, mostrando os preconceitos e sua superação de acordo com entradas diversas em cada indivíduo. Pode ser um filme muito legal para trabalhar em escolas, unindo a discussao sobre greve, governo Thatcher e movimentos pelos direitos civis.
Interessante a construção das atividades e relações do clã. As cenas iniciais evocam episódios de resistência à ditadura argentina e violência militar, e ao longo do filme vai sendo revelado o contexto e a localização de cada ator dentro daquele quadro. É verdade, contudo, que a ditadura argentina não é o foco do filme, e sim o caso particular desta família. Mesmo assim, o filme não deixa de falar sobre a ditadura, apontando a corrupção da polícia.
Ken Loach mostrando que ser contra o status quo não coloca todo mundo alinhado, que há divergências quanto a como resistir. Mas mais ainda, evidenciando como o establishment sabe muito bem disso e consegue se aproveitar destes desacordos para quebrar a resistência jogando uns contra os outros.
O negócio da guerra e principalmente da suposta reconstrução: como empresas privadas ganham bilhões em acordos com governos como EUA e Grã-Bretanha (e outros), além da ONU. Na terra de ninguém que são os territórios supostamente em reconstrução, onde reina o privilégio de uns e a desumanização dos já destruídos, afogados na pobreza.
De fato o Michael Moore tem um certo sensacionalismo e isso já é amplamente sabido. Me espantam os comentários aqui que insistem neste ponto, passando por cima de todo o resto do documentário. Me espanta ainda mais que a crítica esteja sendo feita com base no quanto de dinheiro Michael Moore tem ou não, além dos que viram apenas alguns minutos e já se sentem capazes de emitir uma opinião sobre o todo. Quanto ao filme, acredito que ele é uma boa introdução e visão geral do que significa o capitalismo de forma concreta nos EUA, um capitalismo financeiro que culminou na crise que explodiu em 2008, e como bancos saíram ilesos. O filme também consegue mostrar o fosso gigante que existe na distribuição de riquezas, e como políticas aliadas a interesses corporativos (e privados, claro) foram se solidificando ao longo do século XX. De fato, não se trata de um filme que, como aparentemente alguns esperam, expõe teorias a respeito do capitalismo, mas que se debruça sobre políticas e ações concretas, bem como na população que vive dentro deste sistema (tal como é nos EUA). Ressalto novamente: é um bom filme enquanto visão geral e como porta de entrada para a discussão. Recomendo "Requiem for the American Dream", com Noam Chomsky, para uma exposição clara e acessível, porém mais detalhada (está na Netflix).
Necessário. Absolutamente. Um histórico muito esclarecedor sobre QUEM faz as leis que beneficiam uns e encarceram outros, atribuindo penas desproporcionais baseadas em preconceitos e estereótipos.
Mais do mesmo. Faço eco aos outros comentarios aqui: onde está Hannah Arendt? Nao digo nem que precisava ter aparecido enquanto personagem do filme, mas sem sombra de dúvidas suas ideias deveriam ter influenciado esta produçao. O filme me pareceu passar longe da discussao levantada por ela. Aliás, fica a recomendaçao para o filme wue cobre o mesmo evento, mas muito melhor: "Hannah Arendt"
Um filme muito interessante do ponto de vista das discussões que ele suscita: racismo, machismo e classe. Fiquei muito surpresa por ter sido uma história real: a Belle de fato existiu. Nascida fora do casamento de uma negra escravizada e um inglês da força naval, Dido foi levada por seu pai para a Inglaterra e criada junto de seus familiares quase como uma igual. Quase - porque na presença de pessoas de fora da família, ela deveria se retirar. O filme é interessante porque mostra a protagonista descobrindo suas múltiplas identidades: como mulher numa sociedade extremamente machista, como negra em uma sociedade racista e que enxergava no negro mera mercadoria (interessante também para discutir a própria escravidão moderna, dentro de um sistema mercadológico), como pessoa de posses ao herdar uma fortuna. Interessante ver as relações das mulheres no filme, geralmente em situação de apoio umas às outras, o que é raro. Ao final do filme vi que se tratava de obra dirigida por mulher negra, o que acredito ter feito muita diferença para o modo como essas relações são tratadas. Não gostei muito do desenvolvimento individual dos personagens, sobretudo do objeto de amor, Duvinier. Não sei se foi problema do ator ou de roteiro, acho que ambos. No geral, filme muito recomendado. Acho que em escolas ele pode ser mega aproveitado.
Não entendi muito bem o propósito além de exaltar esse grupo de senhoras de classe média. Me irritou particularmente o fato de que, em todos os encontros, existe sempre uma empregada indígena e as senhoras demonstram ser preconceituosas, uma vez ou outra fazendo comentários a respeito de indígenas e peruanos/bolivianos. É interessante somente no sentido de, eventualmente, perceber as contradições de suas vidas, mas no geral elas reforçam estereótipos.
Apesar de ter gostado do filme no sentido de achá-lo necessário, justifico minha nota porque me pareceu ainda insuficiente, principalmente porque parece haver pouco foco para além de "a indústria pornográfica é horrível". É mesmo, mas me parece que, para fazer uma crítica de fato contundente, seria necessário ter sido mais incisivo em certos aspectos, ao invés de ter deixado tudo na superficialidade. O filme passa por sexo sem proteção em dois minutos. Fica o tempo todo martelando na ideia de que se trata de dinheiro fácil para, somente no final e em uma fala curta, mostrar que as mulheres que saem da indústria estão com pouquíssimo dinheiro - teria que ter sido explorado os porquês disso, o custo envolvido. Não é explicado o que significa o pornô amador dentro da indústria, o que mais existe... Também ficou vaga, neste sentido, como é a carreira de alguém no pornô, uma vez que a coisa fica focada no amador, sem que a gente consiga ter uma ideia mais ampla do cenário. O que o filme pega um pouco mais (embora ainda seja pouco) é o fato de que o pornô é sempre do ponto de vista do homem e existe para dar prazer ao homem. Algumas das atrizes dizem isso, mas mais uma vez isso está em um momento bem localizado do filme e curto. Enfim, embora me pareça necessário assistir, penso que o filme ficou solto, não se aprofundou em nada e, assim, ficou vulnerável a muitas críticas. Claro, um filme desses vai despertar mesmo a ira de quem faz dinheiro com isso, mas a forma como foi feito facilitou a existências dessas críticas.
Que filme bonitinho, fofo e sensível. Uma história sobre adolescentes, contada de uma maneira muito delicada e real. Fofo toda vida! Acho que se fosse um filme independente americano teria estourado algo como Juno. <3
Fiquei surpresa, não esperava gostar tanto. Assisti na versão legendada, acredito fazer muita diferença. Não somente visualmente bem feito, "Mogli" tem também uma história fechadinha, plausível e bonita. Ainda vou rever a animação da Disney, mas arrisco de dizer que preferi este filme. <3
A Fotografia Oculta de Vivian Maier
4.4 106Muito interessante a história da Vivian Maier. A nota é mais por causa do documentário em si, que apesar de ter me despertado ainda mais curiosidade a respeito da Maier, me parece pender para a intriga, especulação e criação de uma mística em torno da personagem. Achei mais interessante o documentario da BBC, que inclusive vai atrás de outros que adquiriram os itens leiloados (e que John Maloof simplesmente ignora neste documentário). Não consigo deixar de pensar, assistindo este documentário, que Maloof detém os direitos autorais (que estao em disputa, que eu saiba) e de fato tem muito a ganhar financeiramente com a exposição da Maier. Outras questões foram levantadas no doc da BBC e outros artigos e que parecem relevantes, como a curadoria realizada por pessoas sem experiência nas artes e especificamente na fotografia como arte, e o fato de que o processo de revelar não tenha contado com a participação da própria fotógrafa. Teria sido honesto que Maloof colocasse estas questões mais abertamente em seu documentário.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraEstou vendo muita gente dizendo sobre ser um filme da poesia do cotidiano. Acho que é isso tambem, mas gosto mais de pensar que Paterson é a defesa de que o homem comum, fazendo tarefas comuns, nao está distanciado da arte ("um motorista de ônibus que gosta dd Emily Dickinson"). E que a arte não é só para os tais gênios, porque o que sao afinal os gênios?, e que a gente pode e talvez deva fazer arte todos os dias. ♥️
Fome de Poder
3.6 830 Assista AgoraMuito interessante, sobretudo o esclarecimento acerca da compra de terras. Reforçou o asco que tenho dessa empresa. Me espanta muitíssimo que outros comentários aqui amenizem ou mesmo aprovem o tipo de comportamento de Ray Kroc, com a justificativa bizarra de que "escolhemos viver no sistema capitalista" (não escolhi) e que temos que aceitar essa sua faceta. Ora, o que o filme mostra é justamente como é possível, neste sistema, simplesmente ignorar leis e contratos quando se tem DINHEIRO.
Amanda Knox
3.6 229 Assista AgoraPara além de cair na questão de culpados ou não, o interessante do filme é desvelar as ações irresponsáveis dos envolvidos tanto na investigação quanto na notícia. As falas do detetive encarregado são no mínimo ridículas, escancarando um julgamento moral por parte de um religioso conservador. Ao mesmo tempo, o jornalista entrevistado revela exatamente o pensamento que guia a fabricação do "furo" - em determinado momento ele chega a dizer que o jornalista publica tudo aquilo que chega até ele, e que não é possível ficar checando fontes e fatos, o que é exatamente o CONTRÁRIO do que entende-se por jornalismo sério e ético. Ora, o papel do jornalista é justamente perguntar, duvidar e checar as fontes. É de um cinismo sem fim. Ao final, fica claro como a influência midiática transformou o caso, influenciando também a polícia local que de repente se viu centro das atenções a nível mundial e precisava resolver o caso logo.
Recomendação para outro caso de exposição na mídia: O.J.Simpson: Made in America, e American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson (este ultimo disponível na Netflix).
A Um Passo do Estrelato
4.0 60 Assista AgoraInteressante, mas morno. Me parece que faltou falar mais sobre racismo e sexismo no meio da indústria musical. A referência a isso aparece apenas muito brevemente em falas como "só há espaço para uma Aretha Franklin" ou quando são mostradas as backing vocals ultra sexualizadas de Ike Turner. Me parece que havia uma crítica importante a ser feita, mas ela não aconteceu e o documentário perdeu uma oportunidade de ser de fato muito relevante. Sobre músicos "invisíveis" da grande cena, há outro documentário chamado "The wrecking crew" - fica a indicação para quem se interessou pelo tema.
Deep Web
3.6 103Esse filme deve ser interessante para começar um debate sobre o conceito de liberdade nos EUA. De um lado, temos um estado financiado por empresas privadas e que exerce um controle arbitrário sobre os cidadãos. Do outro lado, neste filme, temos o fundador da Silk Road, um cara que se diz alinhar com ideais libertários, e que assim acredita na total liberdade de mercado. O problema neste filme é deixar de lado a irresponsabilidade na venda de mercadorias perigosas, como drogas pesadas: o cenário pintado é de uma comunidade online que funciona lindamente, esquecendo que as relações ali estabelecidas visam em primeiro lugar o comércio, e não as relações pessoais. Bate-se na tecla da "liberdade de escolha" do indivíduo (se uma pessoa quer colocar drogas em seu corpo, que coloque), esquecendo-se que existem contextos diferentes de educação formal, família, classe etc, e que portanto as informações não são iguais para todos. O argumento de que comercializar drogas online diminui a violência parece desviar da discussão principal, que é a da política anti drogas norte-americana e, mais ainda, da ação violenta da polícia.
Por outro lado, é inegável que as agências de inteligência dos EUA incorrem repetidamente e constantemente em quebra de privacidade, como já ficou claro desde a revelação dos arquivos Snowden. Mais ainda, o documentário fornece mais elementos ainda para o questionamento da justiça norte-americana: as decisões da juíza durante o julgamento são parciais, evocando outros casos/documentários que colocam em xeque o sistema judiciário, como Making a Muderer e 13ª Emenda, dentre outros.
Acredito que este é um filme que vale a pena ser visto, mas tendo em conta que servirá como ponto de partida para discussões e questionamentos.
Mercadores de Receitas
3.6 1Embora eu concorde com a crítica feita no documentário, achei que a estrutura do filme para elaborar uma argumentação contundente deixou a desejar. Muito tempo é dispensado às experiências pessoais do diretor e sua família, e o salto do micro para o macro da sociedade norte-americana acaba ficando corrido e não aprofunda-se muito. Há uma notável falta de foco, o que fica evidenciado ao final do filme, quando o diretor diz que o filme se trata "apenas" de drogas prescritas por médicos, mas sobre vício. Embora os dois temas se relacionem, o título do filme e o propósito anunciado (e não muito bem cumprido) é falar das drogas legalizadas, produzidas pela indústria farmacêutica, e prescritas irresponsavelmente por médicos a seus pacientes, em um esquema que visa, como bem disse a ex-representante farmacêutica entrevistada, o LUCRO dos acionistas. Me parece que o diretor, com seus entrevistados relacionados ao meio, tinha um material muito mais rico a ser explorado, mas perdeu-se (a cena sobre conseguir medicamentos pelo Craigslist, por exemplo, foge ao ponto de drogas PRESCRITAS POR MÉDICOS, uma vez que já cai no tráfico de drogas). Enfim, é um assunto que merece maior cuidado, mas ainda assim acho vale a pena ver este documentário.
Philomena
4.0 925 Assista AgoraNão vi ninguém nos comentários falando sobre, então deixo aqui a recomendação também do excelente "The Magdalene Sisters", que foca nas vidas das mulheres jogadas nestes conventos pela família. É outro foco e com uma visão menos conciliadora do que a de Philomena Lee.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraTem seus méritos, mas é aquela coisa na mesma linha de "Histórias cruzadas", com uma ideia de que ao final tudo se resolve. Claro que é uma história MUITO relevante de ser contada, mas o jeito como as coisas se resolvem no filme aparenta uma certa amenidade, uma ideia de que "é só vc se esforçar (muito mais do que os outros) que o reconhecimento chega". Houve ainda o problema do contraponto russo: é verdade que o filme coloca nas bocas dos personagens o pensamento dominante na época sobre a URSS, mas o filme como um todo parece concordar com essa ideia de "soviéticos vilões". Muito interessante, contudo, a representação de mulheres negras que são diferentes entre si e que, à exceção da Octavia Spencer, não caem em um estereótipo. No geral, um filme legal, que vale a pena ser visto e debatido, e que se faz ainda necessário pelo protagonismo de mulheres negras - mesmo que venha ainda cheio de problemas que atendem às exigências de mercado de Hollywood.
Orgulho e Esperança
4.3 291 Assista AgoraUm filme muito interessante para pensar nos movimentos que contestam qualquer aspecto da ordem estabelecida, e que existem muitas maneiras de ser contra o status quo: seja como classe trabalhadora, LGBTQ ou outros. Mais ainda, ele evidencia um importante elemento, que é a pluralidade de ideias dentro dos movimentos contestatórios, e como o poder se beneficia dessas desavenças. Para além disso, um filme muito querido na sua forma de falar das pessoas, mostrando os preconceitos e sua superação de acordo com entradas diversas em cada indivíduo.
Pode ser um filme muito legal para trabalhar em escolas, unindo a discussao sobre greve, governo Thatcher e movimentos pelos direitos civis.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraEsquisito, engraçado e ótimo.
O Clã
3.7 198 Assista AgoraInteressante a construção das atividades e relações do clã. As cenas iniciais evocam episódios de resistência à ditadura argentina e violência militar, e ao longo do filme vai sendo revelado o contexto e a localização de cada ator dentro daquele quadro. É verdade, contudo, que a ditadura argentina não é o foco do filme, e sim o caso particular desta família. Mesmo assim, o filme não deixa de falar sobre a ditadura, apontando a corrupção da polícia.
A Garota do Livro
3.1 147 Assista AgoraMuito real a abordagem sobre abuso sexual e emocional. A parte do romance achei desnecessária e em determinado momento brega mesmo.
Ventos da Liberdade
3.9 68Ken Loach mostrando que ser contra o status quo não coloca todo mundo alinhado, que há divergências quanto a como resistir. Mas mais ainda, evidenciando como o establishment sabe muito bem disso e consegue se aproveitar destes desacordos para quebrar a resistência jogando uns contra os outros.
A Informante
3.8 327 Assista AgoraO negócio da guerra e principalmente da suposta reconstrução: como empresas privadas ganham bilhões em acordos com governos como EUA e Grã-Bretanha (e outros), além da ONU. Na terra de ninguém que são os territórios supostamente em reconstrução, onde reina o privilégio de uns e a desumanização dos já destruídos, afogados na pobreza.
Capitalismo: Uma História de Amor
4.0 221De fato o Michael Moore tem um certo sensacionalismo e isso já é amplamente sabido. Me espantam os comentários aqui que insistem neste ponto, passando por cima de todo o resto do documentário. Me espanta ainda mais que a crítica esteja sendo feita com base no quanto de dinheiro Michael Moore tem ou não, além dos que viram apenas alguns minutos e já se sentem capazes de emitir uma opinião sobre o todo.
Quanto ao filme, acredito que ele é uma boa introdução e visão geral do que significa o capitalismo de forma concreta nos EUA, um capitalismo financeiro que culminou na crise que explodiu em 2008, e como bancos saíram ilesos. O filme também consegue mostrar o fosso gigante que existe na distribuição de riquezas, e como políticas aliadas a interesses corporativos (e privados, claro) foram se solidificando ao longo do século XX. De fato, não se trata de um filme que, como aparentemente alguns esperam, expõe teorias a respeito do capitalismo, mas que se debruça sobre políticas e ações concretas, bem como na população que vive dentro deste sistema (tal como é nos EUA). Ressalto novamente: é um bom filme enquanto visão geral e como porta de entrada para a discussão.
Recomendo "Requiem for the American Dream", com Noam Chomsky, para uma exposição clara e acessível, porém mais detalhada (está na Netflix).
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraNecessário. Absolutamente. Um histórico muito esclarecedor sobre QUEM faz as leis que beneficiam uns e encarceram outros, atribuindo penas desproporcionais baseadas em preconceitos e estereótipos.
The Eichmann Show
3.6 26Mais do mesmo. Faço eco aos outros comentarios aqui: onde está Hannah Arendt? Nao digo nem que precisava ter aparecido enquanto personagem do filme, mas sem sombra de dúvidas suas ideias deveriam ter influenciado esta produçao. O filme me pareceu passar longe da discussao levantada por ela. Aliás, fica a recomendaçao para o filme wue cobre o mesmo evento, mas muito melhor: "Hannah Arendt"
Belle
4.0 99Um filme muito interessante do ponto de vista das discussões que ele suscita: racismo, machismo e classe. Fiquei muito surpresa por ter sido uma história real: a Belle de fato existiu. Nascida fora do casamento de uma negra escravizada e um inglês da força naval, Dido foi levada por seu pai para a Inglaterra e criada junto de seus familiares quase como uma igual. Quase - porque na presença de pessoas de fora da família, ela deveria se retirar. O filme é interessante porque mostra a protagonista descobrindo suas múltiplas identidades: como mulher numa sociedade extremamente machista, como negra em uma sociedade racista e que enxergava no negro mera mercadoria (interessante também para discutir a própria escravidão moderna, dentro de um sistema mercadológico), como pessoa de posses ao herdar uma fortuna.
Interessante ver as relações das mulheres no filme, geralmente em situação de apoio umas às outras, o que é raro. Ao final do filme vi que se tratava de obra dirigida por mulher negra, o que acredito ter feito muita diferença para o modo como essas relações são tratadas.
Não gostei muito do desenvolvimento individual dos personagens, sobretudo do objeto de amor, Duvinier. Não sei se foi problema do ator ou de roteiro, acho que ambos.
No geral, filme muito recomendado. Acho que em escolas ele pode ser mega aproveitado.
Hora do Chá
3.8 8 Assista AgoraNão entendi muito bem o propósito além de exaltar esse grupo de senhoras de classe média. Me irritou particularmente o fato de que, em todos os encontros, existe sempre uma empregada indígena e as senhoras demonstram ser preconceituosas, uma vez ou outra fazendo comentários a respeito de indígenas e peruanos/bolivianos. É interessante somente no sentido de, eventualmente, perceber as contradições de suas vidas, mas no geral elas reforçam estereótipos.
Hot Girls Wanted
3.3 196 Assista AgoraApesar de ter gostado do filme no sentido de achá-lo necessário, justifico minha nota porque me pareceu ainda insuficiente, principalmente porque parece haver pouco foco para além de "a indústria pornográfica é horrível". É mesmo, mas me parece que, para fazer uma crítica de fato contundente, seria necessário ter sido mais incisivo em certos aspectos, ao invés de ter deixado tudo na superficialidade.
O filme passa por sexo sem proteção em dois minutos. Fica o tempo todo martelando na ideia de que se trata de dinheiro fácil para, somente no final e em uma fala curta, mostrar que as mulheres que saem da indústria estão com pouquíssimo dinheiro - teria que ter sido explorado os porquês disso, o custo envolvido. Não é explicado o que significa o pornô amador dentro da indústria, o que mais existe... Também ficou vaga, neste sentido, como é a carreira de alguém no pornô, uma vez que a coisa fica focada no amador, sem que a gente consiga ter uma ideia mais ampla do cenário.
O que o filme pega um pouco mais (embora ainda seja pouco) é o fato de que o pornô é sempre do ponto de vista do homem e existe para dar prazer ao homem. Algumas das atrizes dizem isso, mas mais uma vez isso está em um momento bem localizado do filme e curto.
Enfim, embora me pareça necessário assistir, penso que o filme ficou solto, não se aprofundou em nada e, assim, ficou vulnerável a muitas críticas. Claro, um filme desses vai despertar mesmo a ira de quem faz dinheiro com isso, mas a forma como foi feito facilitou a existências dessas críticas.
Mercedes Sosa, A Voz da América Latina
4.3 12 Assista AgoraAMO Mercedes Sosa, mas por algum motivo o filme me pareceu pouco.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraQue filme bonitinho, fofo e sensível. Uma história sobre adolescentes, contada de uma maneira muito delicada e real. Fofo toda vida! Acho que se fosse um filme independente americano teria estourado algo como Juno. <3
Mogli: O Menino Lobo
3.8 1,0K Assista AgoraFiquei surpresa, não esperava gostar tanto. Assisti na versão legendada, acredito fazer muita diferença. Não somente visualmente bem feito, "Mogli" tem também uma história fechadinha, plausível e bonita. Ainda vou rever a animação da Disney, mas arrisco de dizer que preferi este filme. <3