"Nos anos 1940, o cinema hollywoodiano respondeu às consequências da Segunda Guerra Mundial na sociedade norte-americana com o noir, incorporando na figura do detetive moralmente ambíguo toda uma crise de valores decorrente das atrocidades da guerra. No contexto da Nova Hollywood, contestador da careta indústria do cinema mainstream, Paul Schrader e Martin Scorsese fizeram emergir das profundezas duma Nova York decadente um personagem que correspondia aos anseios próprios da geração setentista, uma espécie de renovação do anti-herói noir numa época muito mais sórdida, instável e violentada por uma política excludente."
Leia a crítica completa: http://janela.art.br/criticas/taxi-driver/
"Numa sobreposição de camadas, somos revelados a um olho mecânico. Descobrimos, imediatamente, tratar-se de um robô. Em seguida, o aprendizado da linguagem. Nada além disso. Desprovida de sentimentos humanos, Scarlett Johanson seduz homens solitários – presa mais fácil – para, então, executá-los. Não há nenhuma explicação clara, no próprio filme, para as atitudes da personagem, tampouco para o estilizado universo no qual ela aprisiona suas vítimas."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/05/16/sob-a-pele-jonathan-glazer-2013/
"Compreendam: Marc Webb é o responsável por (500) Dias com Elas, uma comédia romântica metida a espertinha. Sendo assim, dá-lhe diálogos pretensamente meigos, que parecem retirados de alguma sitcom genérica norte-americana (especialmente a conversa entre o casal sobre seus defeitos), resultando em momentos constrangedores. A obra resume-se a esse romance tacanho que nunca passa da superfície das comédias românticas hollywoodianas, justificando-se todas as atitudes moralmente duvidosas de Peter em nome desse amor. "
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/04/17/o-espetacular-homem-aranha-2/
"Existem em Noé, de certa forma, dois filmes. O primeiro reconta a histórica bíblica de Noé transformando o personagem num arquétipo de ação e músculos, pronto pra porrada, rígido e destinado. Sendo um verdadeiro seguidor do Criador, recebe uma mensagem para salvar toda a espécie animal e varrer todos os pecadores da Terra, recriando um mundo perfeito. Nesse sentido, observamos um filme tipicamente hollywoodiano, em que me perguntava constantemente o que, afinal, Aronofsky estava fazendo ali. Há gigantes de pedra, belas paisagens aéreas, construções digitais monumentais e, no meio disso, um personagem forte e emblemático, poderoso e indestrutível. Nada diferente da cartilha hollywoodiana."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/04/04/noe/
"“A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.” – Karl Marx, O Manifesto do Partido Comunista.
Descobre-se, já no final da obra, que todo o universo construído em Uma Aventura Lego é uma metáfora das relações familiares. O Senhor Negócios pode ser visto como um pai ausente por causa do trabalho. Dito isso, é válido comentar que estamos falando duma animação muito mais inteligente do que meramente esta metáfora."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/03/19/uma-aventura-lego/
"Coppola não desdenha do gênero B. Todavia, vale-se de todas suas características e cacoetes para provocar humor, justamente porque sabe que tudo isso parece muito anacrônico atualmente. Engana-se quem pensa que o diretor é desleixado. Ele sabe muito bem o que faz. Na apresentação da cidade, com uma narração meio sinistra falando de todos os mistérios do local, não há terror. É propositalmente cômico. Existe o xerife estranho, o escritor melancólico (meio álcoolatra e amargurado pela vida, no que o tom apático de Kilmer provoca um efeito inevitavelmente humorístico), um grande mistério e os cidadãos que pouco sabem sobre ele. Toda essa cafonice, essa estética kitsch com cores vibrantes, tornam árdua a tarefa de levar o filme a sério – e a intenção é justamente essa. Coppola se apropria dos clichês do gênero para fazer chistes, brincar de fazer cinema, testar o espectador para saber onde acaba a piada. É anunciando sempre algo sinistro, com a névoa permanente e a trilha fantamasgórica, que nunca se concretiza muito bem. E quando o faz, de maneira bastante caricata, que o diretor constrói seu humor."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/26/virginia/
"Se pode soar repetitivo dizer que a influência católica no cinema de Martin Scorsese é determinante, fica latente o senso de moral em toda sua obra. Em Caminhos Perigosos, por exemplo, há o retrato do submundo gangster de Nova York, com uma visão extremamente religiosa – observada tanto no discurso do personagem de Harvey Keitel como na própria linguagem do filme, em especial na sua fotografia vermelha e pecaminosa. Quando soube da sua adaptação de O Lobo de Wall Street, achei estranho, levando em conta a carreira do diretor. Enganei-me. Não há nada mais natural do que este ser um projeto de Martin Scorsese. Profundamente baseado na moral, feito toda a sua obra – falamos dum grande aprendiz de Elia Kazan, afinal."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/17/o-lobo-de-wall-street/
"Um espectro ronda os cineastas desde sempre: a crise autoral. Em um dado momento na vida, um diretor de cinema poderá cair na bobagem de querer reafirmar seu estilo, imprimir sua marca. A Origem, por exemplo, é um filme que sofre disso, onde percebemos o quanto Christopher Nolan se desespera para consolidar uma identidade cinematográfica. Parece-me que Lars von Trier, o marqueteiro maior do cinema (mais até do que Cláudio Assis), afundou-se nessa busca há alguns anos, atingindo seu auge em Ninfomaníaca."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/14/ninfomaniaca-vol-1/
"Sofia Coppola cresceu em Hollywood. Ser filha de um dos maiores cineastas norte-americanos lhe proporcionou uma vida diferente. Seu cinema é puro reflexo da sua criação. Os filmes de Coppola só poderiam ser dela. Uma obra que vem sido construída com autoria, onde observamos uma conexão evidente entre todos os seus longas. Assim, qualquer esforço em permanecer nessa unidade soa legítimo – e até um filme pequeno como “Um Lugar Qualquer” toma proporções mais dramáticas se inserido na filmografia da diretora. Dessa forma, Sofia apropria-se duma história real (especificamente, de um artigo publicado na revista Vanity Fair por Nancy Jo Sales) para compor um filme com seu rosto. Bling Ring só poderia ser dirigido por Sofia Coppola, num caso curioso onde uma história real serve ao diretor, e não o contrário."
Leia a crítica no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/10/16/bling-ring/
Tomara que, se houver uma verdadeira invasão alienígena, mirem diretamente em Los Angeles, Califórnia. Quem sabe assim a indústria do cinema norte-americano possa olhar para dentro de si e perceber a necessidade de mudança.
Leia a crítica no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/08/23/circulo-de-fogo/
"Passion constitui-se, afinal, um genuíno filme autoral. Acusar o roteiro de “raso” é perda de tempo: nos filmes de Brian De Palma, o roteiro nunca foi muito importante – prova-se isso com Um Tiro na Noite, por exemplo. É um cineasta de imagens. Como um verdadeiro diretor hitchcockiano, extrai de histórias sem muita profundidade grandes filmes. E é justamente na câmera elegante de De Palma que repousam os inegáveis atributos do filme."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/08/06/passion-brian-de-palma-2012/
"Acusado de abusar da violência desnecessariamente, Martin Scorsese utiliza o recurso, intrínseco ao filme, de forma orgânica e extremamente real. E é interessante observar como a violência se manifesta na carreira do diretor. Diferente da maioria dos filmes, ela não é construída gradativamente, através da tensão. É, pelo contrário, absolutamente imprevisível e repentina. Foi assim que o nova-iorquino a viu se manifestar, nas ruas, sem avisos. Assim, em Caminhos Perigosos, quando menos percebemos, estamos diante duma briga de bar que começou sem cerimônia alguma. A prova maior disso, contudo, é o clímax, de grande violência, absolutamente imprevisível e completamente repentino. Afinal, a realidade não é assim mesmo?"
Embora possa parecer batido, bullying ainda é um tema pertinente. Afinal, somos bombardeados pela mídia com casos de violência escolar e tudo mais. Não só isso, mas, se você estuda no ensino médio, certamente verá pelos menos uns dez casos de bullying na sua sala de aula. Talvez você cometa bullying e nem sabe. Michel Franco discute isso e muito mais em Depois de Lúcia – um soco na cara da sociedade que deixa qualquer um perplexo após o fim da sessão.
Alejandra (Tessa Ia) é uma garota que muda-se com seu pai para uma nova cidade após a morte de sua mãe. Lá, estabelece novas amizades e rapidamente se adapta ao novo ambiente. Em certo dia, transa com um garoto e ele filma e joga na internet. Todos da escola assistem e a julgam. Suas amigas acham que ela está dando em cima de seus parceiros. E uma onda de violência psicológica e física contra a garota se inicia.
Franco, optando pela ausência quase completa de trilha sonora, intensifica ainda mais a tensão de sua obra. Ele nos escancara, através dos atos violentos contra a garota, o moralismo de nossa sociedade, nossa mania de apontar o dedo e julgar as pessoas, o nosso machismo – os garotos da escola ovacionam o rapaz que abusa de Ale, mas a condenam por ter feito sexo (?) -, puritanismo e pensamento retrógrado. Afinal, se o sexo da garota foi visto por todos, quem somos nós para julgá-la? E pior: quem disse que há algo de errado no ato sexual? – todos praticam, ora. Questionamentos como este são constantemente levantados pelo diretor, concentrando sua discussão no âmbito escolar, mas pretendendo simbolizar a sociedade – hipócrita – como um todo.
O final, aliás, levanta outra discussão, dessa vez sobre o ciclo da violência. Este, iniciado com as piadas para o garoto gordo, e reiniciado e alimentado pelo violento final. Uma vingança está selada, mas um ciclo muito maior do que uma família ou uma escola se perpetua.
Estreando na direção, o diretor e roteirista Nicholas Jarecki conta a história dum magnata que se envolve numa fraude pelo bem maior da empresa da qual é dono, ao passo que se envolve numa relação extraconjugal com uma artista francesa. Acaba sendo responsável por um acidente, que pode levá-lo para a prisão, enquanto ele tem que lidar também com seus problemas pessoais e profissionais.
Interpretado por Richard Gere, Robert Miller é o típico personagem da elite que tem um casamento infeliz, decide se relacionar com uma garota bem mais jovem, e, claro, acaba se ferrando. O acidente do filme, aliás, é tipicamente hollywoodiano – não, eu não fui convencido por aquilo. E, putz!, até mesmo na construção da trama o filme soa esquemático, já que, convenhamos, dificilmente aconteceria algo com uma pessoa tão rica. Isso tudo só revela a falta de criatividade de Jarecki. A direção também é genérica, a trilha sonora, a fotografia, e daí por diante. Seria um filme perfeito para passar na Tela Quente. O que nos mantém realmente tenso, portanto, é a situação criada pelo roteiro. A rede de complicações para o protagonista fica cada vez mais complexa e intrincada: um verdadeiro beco sem saída.
Além de tudo, o roteiro cria um conto moralista da condenação da figura do capitalista. O protagonista parece ser penalizado por toda sua ambição desenfreada – amorosa e financeira. Não que isso seja ruim, mas é tão batido…
Um dos sentimentos mais complicados, e menos respeitados, do ser humano, é a melancolia. Alguns já sentiram-na em peso, outros sequer sabem como é isso. Com um estudo clínico e extremamente respeitoso não só da melancolia, como da depressão, Joachim Trier cria um ensaio humanista com delicadeza extrema.
Anders é um sujeito absolutamente autodestrutivo, em busca de compaixão. Preso ao passado, o personagem não só é incapaz de se desvencilhar das suas antigas namoradas, como, é, claro, da droga. As substâncias que ele ingere são refúgios de sua vida triste. Ele não necessariamente gosta de se entorpecer.
E Joachim Trier é muitíssimo hábil ao captar o frenesi da noite retratada no filme, com uma trilha sonora brilhante composta por músicas eletrônicas e uma câmera na mão que confere realismo a obra, além de evidenciar o confuso estado mental do protagonista.
O que é mais bonito, porém, é que o diretor abandona a câmera de mão na última cena em detrimento da imagem estática. Nela, vemos Anders se drogando. É sua tranquilização. Ele está, finalmente, autorealizado – não feliz.
No Brasil, existem os considerados gênios pela maior parte da população – embora muitos sequer conheçam seus trabalhos a fundo -, como Caetano, Gil, Chico, Ney Matogrosso e por aí vai. Não que eles não mereçam tais posições. O problema é a valorização desta elite artística em detrimento de outros músicos, talvez, igualmente brilhantes, destinados à adoração por meia dúzia de fãs assíduos. Se Jupiter Maçã pode não fazer sentido para alguns com sua psicodelia, traz, inegavelmente, um frescor ao cenário undergroud; Tom Zé foi esquecido por amigos, apesar de ser um absoluto gênio que permanece se reinventando; e, como não poderia deixar de ser, Jorge Mautner nos fascina com sua performance magnética e suas músicas metafóricas.Aliás, um dos maiores responsáveis, claro, pelo sucesso de Jorge Mautner – Filho do Holocausto é o documentado. Suficientemente cinematográfico, Mautner nos encanta com suas belas canções, com sua verve performática, seu bom humor, sua voz doce e sua genialidade. E destaco uma frase brilhante proferida por ele: “Não existem verdades, apenas interpretações”. Assim, não só é comovente presenciar seus relatos do passado, como é gratificante ver a admiração de outros mestres da MPB em relação a ele – a cena em que Gil canta para ele é impagável.
Igualmente notável é o trabalho da fotografia, alterando as cores das luzes de acordo com a temática, sentimento e ritmo da música. Dessa forma, quando é tocada “Cinco Bombas Atômicas”, a luz fica vermelha, remetendo aos terrores da guerra e, óbvio, representando o sangue nela derramado. Além disso, algumas soluções imagéticas tornam o documentário singular, tais como os bonecos de corda e as brincadeiras com imagens de arquivo. É uma pena que, ocasionalmente, Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, a dupla de diretores, se renda a maneirismos estilísticos em busca de uma marca autoral, com vários ângulos diferentes da câmera sobre sobre o mesmo depoimento, por exemplo.
E se falta foco em Jorge Mautner – Filho do Holocausto, não é necessariamente por culpa total dos realizadores (embora haja algumas sequências descartáveis, como o deslocado depoimento duma sobrevivente do holocausto) e sim uma característica de Mautner, artista multifacetado, impossível de ser definido em uma linha cronológica seguida a risca. E isso, tenham certeza, é uma característica de um gênio incontestável.
Conhecido por “O Exorcista” e “Operação França”, o diretor William Friedkin é considerado por muitos o demônio do movimento cinematográfico conhecido como Nova Hollywood. Não necessariamente por seus filmes, mas por sua metodologia de trabalho. Depois de afundar sua carreira, produziu meia dúzia de obras realmente compensadoras. Pois ele merecia um retorno triunfante por dirigir Killer Joe, que deixa qualquer diretor jovem metido a violento comendo poeira.
Revelando-se cada vez mais um ator fascinante, McConaughey encarna brilhantemente o frio assassino Joe Cooper. Apresentado logo no início de maneira maravilhosa com planos-detalhe, o personagem é assustador justamente por sua frieza. Ele não tem problema algum em espancar alguém, por exemplo. Longe de ser um personagem unidimensional, o assassino muitas vezes estampa um semblante de felicidade (e o take final é genial), espanto ou, mais frequentemente, um olhar penetrante capaz de exercer uma forte pressão psicológica em seu interlocutor. McConaughey também impressiona em sequências emblemáticas como a do frango, em que parece sentir tesão com o ato.
É impressionante, também, o modo natural como Joe fala sobre assassinatos e assuntos-tabu. Não só ele, aliás, mas todos os personagens da obra parecem tratar isso com a maior naturalidade do mundo – o que rende, invariavelmente, momentos hilários. Essa característica acaba criando um clima de terror constante, já que ficamos temerosos o tempo inteiro com o que pode ocorrer ali. E Friedkin vale-se disso em dados momentos para inverter nossa expectativa e imediatamente nos surpreender. Algo constatado no terceiro ato, que nos induz a pensar uma coisa, e acontece outra. A tensão construída nessa sequência é absolutamente brilhante.
Contando ainda com um elenco composto inteiramente por atuações formidáveis, Friedkin nos dá de presente uma obra violenta e tensa. Um filme de que, convenhamos, eu – e quem sabe você – estava precisando há tempos.
Certamente, debruçar-se sobre o romance de dois dos maiores artistas do Cinema, Ingmar Bergman e Liv Ullmann, é um argumento, no mínimo, interessante para um filme. Não obstante, existe um problema inevitável em se fazer um filme sobre isto hoje em dia: a visão unidimensional da história, uma vez que ela só pode ser contada por Liv – Bergman está morto. Todavia, o maior problema de Liv e Ingmar – Uma História de Amor não é isso, definitivamente. O que incomoda de verdade é a falta de pulso do diretor Dheeraj Akolkar ao conduzir uma história tão intensa.
Assim, o documentário vale muito mais como um retrato histórico, já que a história do casal é, por si só, maravilhosa. Descobrimos pelos depoimentos de Liv algumas curiosidades das produções de filmes que muitos adoram (vide Persona), ou como Bergman a tratava no set de acordo com a relação pessoal dos dois, e como este relacionamento refletia diretamente nas obras do diretor. Neste caso, as imagens de filmes do Bergman criam uma conexão muito interessante entre a vida pessoal dos dois e suas produções juntos. Mas na maioria das vezes, essas imagens ilustrativas buscam apenas a diferenciação da obra de outros documentários, visto que há momentos em que o rosto de Liv faria muito mais efeito dramático. Não posso deixar de mencionar a cafonice do diretor ao abusar no uso da trilha sonora, como se o depoimento de Liv não bastasse, além dos slow motion apelativos. Ademais, incomodam muito os longos fade in-out por ele empregados, dando a ideia de que a todo momento o filme irá acabar.
Isso tudo me leva a crer que Bergman possivelmente detestaria este documentário.
Taxi Driver
4.2 2,5K Assista Agora"Nos anos 1940, o cinema hollywoodiano respondeu às consequências da Segunda Guerra Mundial na sociedade norte-americana com o noir, incorporando na figura do detetive moralmente ambíguo toda uma crise de valores decorrente das atrocidades da guerra. No contexto da Nova Hollywood, contestador da careta indústria do cinema mainstream, Paul Schrader e Martin Scorsese fizeram emergir das profundezas duma Nova York decadente um personagem que correspondia aos anseios próprios da geração setentista, uma espécie de renovação do anti-herói noir numa época muito mais sórdida, instável e violentada por uma política excludente."
Leia a crítica completa: http://janela.art.br/criticas/taxi-driver/
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista Agora"Numa sobreposição de camadas, somos revelados a um olho mecânico. Descobrimos, imediatamente, tratar-se de um robô. Em seguida, o aprendizado da linguagem. Nada além disso. Desprovida de sentimentos humanos, Scarlett Johanson seduz homens solitários – presa mais fácil – para, então, executá-los. Não há nenhuma explicação clara, no próprio filme, para as atitudes da personagem, tampouco para o estilizado universo no qual ela aprisiona suas vítimas."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/05/16/sob-a-pele-jonathan-glazer-2013/
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
3.5 2,6K"Compreendam: Marc Webb é o responsável por (500) Dias com Elas, uma comédia romântica metida a espertinha. Sendo assim, dá-lhe diálogos pretensamente meigos, que parecem retirados de alguma sitcom genérica norte-americana (especialmente a conversa entre o casal sobre seus defeitos), resultando em momentos constrangedores. A obra resume-se a esse romance tacanho que nunca passa da superfície das comédias românticas hollywoodianas, justificando-se todas as atitudes moralmente duvidosas de Peter em nome desse amor. "
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/04/17/o-espetacular-homem-aranha-2/
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
3.5 2,6KConsegue a proeza de ser pior do que seu antecessor. (Antes tietes venham chorar: o Aranha é meu herói favorito.)
Noé
3.0 2,6K Assista Agora"Existem em Noé, de certa forma, dois filmes. O primeiro reconta a histórica bíblica de Noé transformando o personagem num arquétipo de ação e músculos, pronto pra porrada, rígido e destinado. Sendo um verdadeiro seguidor do Criador, recebe uma mensagem para salvar toda a espécie animal e varrer todos os pecadores da Terra, recriando um mundo perfeito. Nesse sentido, observamos um filme tipicamente hollywoodiano, em que me perguntava constantemente o que, afinal, Aronofsky estava fazendo ali. Há gigantes de pedra, belas paisagens aéreas, construções digitais monumentais e, no meio disso, um personagem forte e emblemático, poderoso e indestrutível. Nada diferente da cartilha hollywoodiana."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/04/04/noe/
Uma Aventura LEGO
3.8 907 Assista Agora"“A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.” – Karl Marx, O Manifesto do Partido Comunista.
Descobre-se, já no final da obra, que todo o universo construído em Uma Aventura Lego é uma metáfora das relações familiares. O Senhor Negócios pode ser visto como um pai ausente por causa do trabalho. Dito isso, é válido comentar que estamos falando duma animação muito mais inteligente do que meramente esta metáfora."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/03/19/uma-aventura-lego/
Virgínia
2.3 256 Assista Agora"Coppola não desdenha do gênero B. Todavia, vale-se de todas suas características e cacoetes para provocar humor, justamente porque sabe que tudo isso parece muito anacrônico atualmente. Engana-se quem pensa que o diretor é desleixado. Ele sabe muito bem o que faz. Na apresentação da cidade, com uma narração meio sinistra falando de todos os mistérios do local, não há terror. É propositalmente cômico. Existe o xerife estranho, o escritor melancólico (meio álcoolatra e amargurado pela vida, no que o tom apático de Kilmer provoca um efeito inevitavelmente humorístico), um grande mistério e os cidadãos que pouco sabem sobre ele. Toda essa cafonice, essa estética kitsch com cores vibrantes, tornam árdua a tarefa de levar o filme a sério – e a intenção é justamente essa. Coppola se apropria dos clichês do gênero para fazer chistes, brincar de fazer cinema, testar o espectador para saber onde acaba a piada. É anunciando sempre algo sinistro, com a névoa permanente e a trilha fantamasgórica, que nunca se concretiza muito bem. E quando o faz, de maneira bastante caricata, que o diretor constrói seu humor."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/26/virginia/
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista Agora"Se pode soar repetitivo dizer que a influência católica no cinema de Martin Scorsese é determinante, fica latente o senso de moral em toda sua obra. Em Caminhos Perigosos, por exemplo, há o retrato do submundo gangster de Nova York, com uma visão extremamente religiosa – observada tanto no discurso do personagem de Harvey Keitel como na própria linguagem do filme, em especial na sua fotografia vermelha e pecaminosa. Quando soube da sua adaptação de O Lobo de Wall Street, achei estranho, levando em conta a carreira do diretor. Enganei-me. Não há nada mais natural do que este ser um projeto de Martin Scorsese. Profundamente baseado na moral, feito toda a sua obra – falamos dum grande aprendiz de Elia Kazan, afinal."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/17/o-lobo-de-wall-street/
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista Agora"Um espectro ronda os cineastas desde sempre: a crise autoral. Em um dado momento na vida, um diretor de cinema poderá cair na bobagem de querer reafirmar seu estilo, imprimir sua marca. A Origem, por exemplo, é um filme que sofre disso, onde percebemos o quanto Christopher Nolan se desespera para consolidar uma identidade cinematográfica. Parece-me que Lars von Trier, o marqueteiro maior do cinema (mais até do que Cláudio Assis), afundou-se nessa busca há alguns anos, atingindo seu auge em Ninfomaníaca."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2014/01/14/ninfomaniaca-vol-1/
Peões
4.1 55 Assista AgoraSabe o que seria demais? O Coutinho fazer uma espécie de continuação para saber o que acham do PT e do Lula depois dos oito anos de presidência.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista Agora"Sofia Coppola cresceu em Hollywood. Ser filha de um dos maiores cineastas norte-americanos lhe proporcionou uma vida diferente. Seu cinema é puro reflexo da sua criação. Os filmes de Coppola só poderiam ser dela. Uma obra que vem sido construída com autoria, onde observamos uma conexão evidente entre todos os seus longas. Assim, qualquer esforço em permanecer nessa unidade soa legítimo – e até um filme pequeno como “Um Lugar Qualquer” toma proporções mais dramáticas se inserido na filmografia da diretora. Dessa forma, Sofia apropria-se duma história real (especificamente, de um artigo publicado na revista Vanity Fair por Nancy Jo Sales) para compor um filme com seu rosto. Bling Ring só poderia ser dirigido por Sofia Coppola, num caso curioso onde uma história real serve ao diretor, e não o contrário."
Leia a crítica no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/10/16/bling-ring/
Círculo de Fogo
3.8 2,6K Assista AgoraTomara que, se houver uma verdadeira invasão alienígena, mirem diretamente em Los Angeles, Califórnia. Quem sabe assim a indústria do cinema norte-americano possa olhar para dentro de si e perceber a necessidade de mudança.
Leia a crítica no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/08/23/circulo-de-fogo/
Paixão
2.7 333"Passion constitui-se, afinal, um genuíno filme autoral. Acusar o roteiro de “raso” é perda de tempo: nos filmes de Brian De Palma, o roteiro nunca foi muito importante – prova-se isso com Um Tiro na Noite, por exemplo. É um cineasta de imagens. Como um verdadeiro diretor hitchcockiano, extrai de histórias sem muita profundidade grandes filmes. E é justamente na câmera elegante de De Palma que repousam os inegáveis atributos do filme."
Leia a crítica completa no Cinetoscópio: http://cinetoscopio.com.br/2013/08/06/passion-brian-de-palma-2012/
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraAlguém tem notícia de legendas para esse filme?
Caminhos Perigosos
3.6 254 Assista Agora"Acusado de abusar da violência desnecessariamente, Martin Scorsese utiliza o recurso, intrínseco ao filme, de forma orgânica e extremamente real. E é interessante observar como a violência se manifesta na carreira do diretor. Diferente da maioria dos filmes, ela não é construída gradativamente, através da tensão. É, pelo contrário, absolutamente imprevisível e repentina. Foi assim que o nova-iorquino a viu se manifestar, nas ruas, sem avisos. Assim, em Caminhos Perigosos, quando menos percebemos, estamos diante duma briga de bar que começou sem cerimônia alguma. A prova maior disso, contudo, é o clímax, de grande violência, absolutamente imprevisível e completamente repentino. Afinal, a realidade não é assim mesmo?"
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Mama
3.0 2,8K Assista Agorahttp://www.youtube.com/watch?v=5L6TejdJXCc
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraArreganham as pernas para os europeus, mas não vão ao cinema assistir esta obra-prima brasileira. ESTAMOS DE OLHO!
A Busca
3.4 714 Assista AgoraSe não tiver "palavrão" nem sexo, o público irá amar. Aguardem!
Depois de Lúcia
3.8 1,1K Assista AgoraEmbora possa parecer batido, bullying ainda é um tema pertinente. Afinal, somos bombardeados pela mídia com casos de violência escolar e tudo mais. Não só isso, mas, se você estuda no ensino médio, certamente verá pelos menos uns dez casos de bullying na sua sala de aula. Talvez você cometa bullying e nem sabe. Michel Franco discute isso e muito mais em Depois de Lúcia – um soco na cara da sociedade que deixa qualquer um perplexo após o fim da sessão.
Alejandra (Tessa Ia) é uma garota que muda-se com seu pai para uma nova cidade após a morte de sua mãe. Lá, estabelece novas amizades e rapidamente se adapta ao novo ambiente. Em certo dia, transa com um garoto e ele filma e joga na internet. Todos da escola assistem e a julgam. Suas amigas acham que ela está dando em cima de seus parceiros. E uma onda de violência psicológica e física contra a garota se inicia.
Franco, optando pela ausência quase completa de trilha sonora, intensifica ainda mais a tensão de sua obra. Ele nos escancara, através dos atos violentos contra a garota, o moralismo de nossa sociedade, nossa mania de apontar o dedo e julgar as pessoas, o nosso machismo – os garotos da escola ovacionam o rapaz que abusa de Ale, mas a condenam por ter feito sexo (?) -, puritanismo e pensamento retrógrado. Afinal, se o sexo da garota foi visto por todos, quem somos nós para julgá-la? E pior: quem disse que há algo de errado no ato sexual? – todos praticam, ora. Questionamentos como este são constantemente levantados pelo diretor, concentrando sua discussão no âmbito escolar, mas pretendendo simbolizar a sociedade – hipócrita – como um todo.
O final, aliás, levanta outra discussão, dessa vez sobre o ciclo da violência. Este, iniciado com as piadas para o garoto gordo, e reiniciado e alimentado pelo violento final. Uma vingança está selada, mas um ciclo muito maior do que uma família ou uma escola se perpetua.
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A Negociação
3.0 264Estreando na direção, o diretor e roteirista Nicholas Jarecki conta a história dum magnata que se envolve numa fraude pelo bem maior da empresa da qual é dono, ao passo que se envolve numa relação extraconjugal com uma artista francesa. Acaba sendo responsável por um acidente, que pode levá-lo para a prisão, enquanto ele tem que lidar também com seus problemas pessoais e profissionais.
Interpretado por Richard Gere, Robert Miller é o típico personagem da elite que tem um casamento infeliz, decide se relacionar com uma garota bem mais jovem, e, claro, acaba se ferrando. O acidente do filme, aliás, é tipicamente hollywoodiano – não, eu não fui convencido por aquilo. E, putz!, até mesmo na construção da trama o filme soa esquemático, já que, convenhamos, dificilmente aconteceria algo com uma pessoa tão rica. Isso tudo só revela a falta de criatividade de Jarecki. A direção também é genérica, a trilha sonora, a fotografia, e daí por diante. Seria um filme perfeito para passar na Tela Quente. O que nos mantém realmente tenso, portanto, é a situação criada pelo roteiro. A rede de complicações para o protagonista fica cada vez mais complexa e intrincada: um verdadeiro beco sem saída.
Além de tudo, o roteiro cria um conto moralista da condenação da figura do capitalista. O protagonista parece ser penalizado por toda sua ambição desenfreada – amorosa e financeira. Não que isso seja ruim, mas é tão batido…
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Oslo, 31 de Agosto
3.9 194Um dos sentimentos mais complicados, e menos respeitados, do ser humano, é a melancolia. Alguns já sentiram-na em peso, outros sequer sabem como é isso. Com um estudo clínico e extremamente respeitoso não só da melancolia, como da depressão, Joachim Trier cria um ensaio humanista com delicadeza extrema.
Anders é um sujeito absolutamente autodestrutivo, em busca de compaixão. Preso ao passado, o personagem não só é incapaz de se desvencilhar das suas antigas namoradas, como, é, claro, da droga. As substâncias que ele ingere são refúgios de sua vida triste. Ele não necessariamente gosta de se entorpecer.
E Joachim Trier é muitíssimo hábil ao captar o frenesi da noite retratada no filme, com uma trilha sonora brilhante composta por músicas eletrônicas e uma câmera na mão que confere realismo a obra, além de evidenciar o confuso estado mental do protagonista.
O que é mais bonito, porém, é que o diretor abandona a câmera de mão na última cena em detrimento da imagem estática. Nela, vemos Anders se drogando. É sua tranquilização. Ele está, finalmente, autorealizado – não feliz.
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Jorge Mautner - O Filho do Holocausto
3.7 24No Brasil, existem os considerados gênios pela maior parte da população – embora muitos sequer conheçam seus trabalhos a fundo -, como Caetano, Gil, Chico, Ney Matogrosso e por aí vai. Não que eles não mereçam tais posições. O problema é a valorização desta elite artística em detrimento de outros músicos, talvez, igualmente brilhantes, destinados à adoração por meia dúzia de fãs assíduos. Se Jupiter Maçã pode não fazer sentido para alguns com sua psicodelia, traz, inegavelmente, um frescor ao cenário undergroud; Tom Zé foi esquecido por amigos, apesar de ser um absoluto gênio que permanece se reinventando; e, como não poderia deixar de ser, Jorge Mautner nos fascina com sua performance magnética e suas músicas metafóricas.Aliás, um dos maiores responsáveis, claro, pelo sucesso de Jorge Mautner – Filho do Holocausto é o documentado. Suficientemente cinematográfico, Mautner nos encanta com suas belas canções, com sua verve performática, seu bom humor, sua voz doce e sua genialidade. E destaco uma frase brilhante proferida por ele: “Não existem verdades, apenas interpretações”. Assim, não só é comovente presenciar seus relatos do passado, como é gratificante ver a admiração de outros mestres da MPB em relação a ele – a cena em que Gil canta para ele é impagável.
Igualmente notável é o trabalho da fotografia, alterando as cores das luzes de acordo com a temática, sentimento e ritmo da música. Dessa forma, quando é tocada “Cinco Bombas Atômicas”, a luz fica vermelha, remetendo aos terrores da guerra e, óbvio, representando o sangue nela derramado. Além disso, algumas soluções imagéticas tornam o documentário singular, tais como os bonecos de corda e as brincadeiras com imagens de arquivo. É uma pena que, ocasionalmente, Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, a dupla de diretores, se renda a maneirismos estilísticos em busca de uma marca autoral, com vários ângulos diferentes da câmera sobre sobre o mesmo depoimento, por exemplo.
E se falta foco em Jorge Mautner – Filho do Holocausto, não é necessariamente por culpa total dos realizadores (embora haja algumas sequências descartáveis, como o deslocado depoimento duma sobrevivente do holocausto) e sim uma característica de Mautner, artista multifacetado, impossível de ser definido em uma linha cronológica seguida a risca. E isso, tenham certeza, é uma característica de um gênio incontestável.
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Killer Joe: Matador de Aluguel
3.6 877 Assista AgoraConhecido por “O Exorcista” e “Operação França”, o diretor William Friedkin é considerado por muitos o demônio do movimento cinematográfico conhecido como Nova Hollywood. Não necessariamente por seus filmes, mas por sua metodologia de trabalho. Depois de afundar sua carreira, produziu meia dúzia de obras realmente compensadoras. Pois ele merecia um retorno triunfante por dirigir Killer Joe, que deixa qualquer diretor jovem metido a violento comendo poeira.
Revelando-se cada vez mais um ator fascinante, McConaughey encarna brilhantemente o frio assassino Joe Cooper. Apresentado logo no início de maneira maravilhosa com planos-detalhe, o personagem é assustador justamente por sua frieza. Ele não tem problema algum em espancar alguém, por exemplo. Longe de ser um personagem unidimensional, o assassino muitas vezes estampa um semblante de felicidade (e o take final é genial), espanto ou, mais frequentemente, um olhar penetrante capaz de exercer uma forte pressão psicológica em seu interlocutor. McConaughey também impressiona em sequências emblemáticas como a do frango, em que parece sentir tesão com o ato.
É impressionante, também, o modo natural como Joe fala sobre assassinatos e assuntos-tabu. Não só ele, aliás, mas todos os personagens da obra parecem tratar isso com a maior naturalidade do mundo – o que rende, invariavelmente, momentos hilários. Essa característica acaba criando um clima de terror constante, já que ficamos temerosos o tempo inteiro com o que pode ocorrer ali. E Friedkin vale-se disso em dados momentos para inverter nossa expectativa e imediatamente nos surpreender. Algo constatado no terceiro ato, que nos induz a pensar uma coisa, e acontece outra. A tensão construída nessa sequência é absolutamente brilhante.
Contando ainda com um elenco composto inteiramente por atuações formidáveis, Friedkin nos dá de presente uma obra violenta e tensa. Um filme de que, convenhamos, eu – e quem sabe você – estava precisando há tempos.
O demônio está, finalmente, de volta.
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Liv & Ingmar - Uma História de Amor
4.2 125Certamente, debruçar-se sobre o romance de dois dos maiores artistas do Cinema, Ingmar Bergman e Liv Ullmann, é um argumento, no mínimo, interessante para um filme. Não obstante, existe um problema inevitável em se fazer um filme sobre isto hoje em dia: a visão unidimensional da história, uma vez que ela só pode ser contada por Liv – Bergman está morto. Todavia, o maior problema de Liv e Ingmar – Uma História de Amor não é isso, definitivamente. O que incomoda de verdade é a falta de pulso do diretor Dheeraj Akolkar ao conduzir uma história tão intensa.
Assim, o documentário vale muito mais como um retrato histórico, já que a história do casal é, por si só, maravilhosa. Descobrimos pelos depoimentos de Liv algumas curiosidades das produções de filmes que muitos adoram (vide Persona), ou como Bergman a tratava no set de acordo com a relação pessoal dos dois, e como este relacionamento refletia diretamente nas obras do diretor. Neste caso, as imagens de filmes do Bergman criam uma conexão muito interessante entre a vida pessoal dos dois e suas produções juntos. Mas na maioria das vezes, essas imagens ilustrativas buscam apenas a diferenciação da obra de outros documentários, visto que há momentos em que o rosto de Liv faria muito mais efeito dramático. Não posso deixar de mencionar a cafonice do diretor ao abusar no uso da trilha sonora, como se o depoimento de Liv não bastasse, além dos slow motion apelativos. Ademais, incomodam muito os longos fade in-out por ele empregados, dando a ideia de que a todo momento o filme irá acabar.
Isso tudo me leva a crer que Bergman possivelmente detestaria este documentário.
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