Na resenha de 'Sempre ao Seu Lado', afirmei que Lasse Hallström é um dos únicos diretores da indústria que se arrisca e que sucede ao dirigir melodramas contemporâneos. Infelizmente, não é o que acontece com 'Querido John'. A produção falha como romance, como drama e, principalmente, como melodrama. Para mim, o erro inicial é a falta de química entre os protagonistas. É difícil se comover com um filme no qual você não torce e pouco se importa com o destino do romance do casal. Não convence. E, se o primeiro ato do filme até fluia, a partir do segundo, você deixa de se importar e a trama toma um rumo inverossímil e dramaticamente exacerbado. Os personagens não são desenvolvidos a fundo, o que prejudica mais a relação entre eles. Essa sucessão de erros irá convergir, justamente, para a falta de clímax, a ausência de uma catarse. Hallström prova que sabe conduzir algumas cenas - como a do hospital, entre pai e filho -, mas falha ao tentar conceber um clímax entre John e Savannah no desfecho do filme. No final, a impressão que fica é: tanto faz, tanto fez para o espectador quanto para o casal.
Ao término deste remake do clássico dirigido pelo Wes Craven, me veio uma única pergunta na cabeça: O que está acontecendo com essa geração de atores adolescentes? É culpa da direção e da direção de atores ou é tudo fruto de falta capacidade dos próprios? Independente das péssimas atuações, que se repetem em, praticamente, todas as produções contemporâneas do gênero, temos, aqui, um exemplar nada inventivo, apelativo, clichê e que subestima a inteligência do próprio espectador. E o pior é que enquanto Michael Bay continuar lucrando com estas porcarias, teremos que aguentar refilmagens e mais refilmagens que surtam como ofensa a memória dos originais. Ainda não sei o que é pior: Michael Bay produtor, ou Michael Bay diretor.
Das vanguardas artísticas dos séculos XIX e XX, uma das que mais me agrada é o surrealismo. Um dos idealizadores do movimento, André Breton, publicou o Manifesto Surrealista defendendo um tipo de arte que deveria se libertar de seus princípios racionais, indo além da consciência, representando um mundo psicológico, abstrato e de sonhos. Justamente, Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho de Lewis Carrol podem até se encontrar em um período anterior ao da vanguarda, mas refletem todo o ideal surrealista. Todo esse teor também estaria presente na memorável obra dos estúdios Disney. Pois bem. Um grande diretor do cinema contemporâneo teve a oportunidade de adaptar a narrativa através de uma nova tecnologia que já aparenta ganhar cada vez mais o público. A fusão de surrealismo com o cinema 3D, uma técnica que mexe muito com o visual, poderia resultar em algo magnífico - ainda mais dirigido por Tim Burton. Infelizmente, o resultado é um "desastre espetacular".
Acima de tudo, o surrealismo sempre gerou interpretações variadas, metáforas e outras figuras de linguagens. A própria obra de Lewis Carroll é um excelente estudo e discurso psicológico, onde filosofias como a questão do amadurecimento eram destacadas. A própria obra dos estúdios Disney realizava tal abordagem, em suas devidas proporções. Aqui, entretanto, é interessante verificarmos como tudo é infantilizado. Algo curioso, afinal, Alice já está com 17 anos e aparenta ser mais infantil do que quando era mais nova. Todos os seus dilemas são abandonados e o que temos em tela é uma aventura superficial, que aborda os mais diversos clichês e que, ao seu término, reforça ser destinado ao público juvenil. Logicamente, Burton, na minha opinião, não quis parecer pretensioso e dar uma profundidade a trama. Entretanto, o material exige, acima de tudo, um discurso psicológico. Afinal, Alice no País das Maravilhas sempre foi um estudo da mente e da imaginação do ser humano. Descarto o argumento "é entretenimento" pois, mesmo assim, foi um entretenimento que, pelo menos comigo, não funcionou.
Confesso, também, que não fiquei tão impressionado com o desenho de produção. Talvez, seja algo pessoal, mas esta digitalização cenográfica e fotográfica causam efeito artifical demais. Sou fã, acima de tudo, de direção de arte e nada como grandes cenários projetados e, sim, construídos. Continuo achando que a tecnologia colabora cada vez mais para uma artificialização. E, em relação ao 3D, decepcionante. Não chega a ser tão funcional e a tão comentada "profundidade" quase passa despecerbida. Uma pena, já que Burton, acima de tudo, é um visionário em termos de cenografia e direção de arte.
A produção possui alguns pontos positivos, todavia. Apesar de Mia Wasikowska interpretar uma Alice pouco carismática, o grande destaque fica com o elenco secundário. Talvez, arrisco dizer que Helena Bonham Carter é o que Heath Ledger foi para The Dark Knight. Sem dúvidas, a interpretação mais marcante de todas. Matthew Richard Lucas também diverte como Tweedledee e Tweedledum, e, por mais que tenham pouquíssimo tempo em tela, Alan Rickman, Stephen Fry e Timothy Spall cumprem o seu papel muitíssimo bem. A decepção fica por conta do chapeleiro de Johnny Depp. Aliás, o ator, que aparenta ter gosto por interpretar caricaturas, aparenta ter pego um vício comum a todos os seus personagens: os trejeitos. Aqui, por exemplo, temos um chapeleiro de personalidade nada convincente e unidimensional, que faz as mesmas expressões faciais que Willy Wonka, Jack Sparrow, entre outros. O personagem nunca é desenvolvido com profundidade e, sinceramente, me aparenta ser mais culpa do próprio ator do que da direção. Aparenta-me que Burton confia muito em Depp para, de fato, conduzir a sua atuação. Entretanto, no matters what, direção de atores é uma necessidade em qualquer produção.
Ainda que Burton confira algumas divertidas homenagens ao desenho da Disney e às obras de Carroll - me recuso a dizer que isto é uma adaptação -, o fato é que a película nunca empolga e emociona, nunca diverte e nem faz pensar. Alice no País das Maravilhas é um filme insosso, que não faz proveito do originalíssimo e belo material no qual é embasado. E, quanto a isso, só temos que lamentar. Eu esperava conferir uma aventura divertida, empolgante, reflexiva e, acima de tudo, sensorial. O que eu vi foi algo superficial, infantil e medíocre. E, sinceramente, tudo me aparenta ser reflexo do excesso de auto-confiança de Tim Burton. Mas, convenhamos: para um filme que já arrecadou mais de U$800 milhões ao redor do globo, críticas são o que menos importa para a produtora e para o diretor.
(Antes de mais nada, não acompanho a saga literária. Portanto, é a opinião de um usuário que desconhecia o material de origem)
Se há um adjetivo que define esta modesta, mas essencialmente caprichada, co-produção sueca, dinamarquesa, alemã e norueguesa, ele é: intenso - principalmente no que se diz a condução da narrativa. E tal intensidade, obviamente, sucede na concepção da catarse de cada espectador. Há tempos que eu não assistia um thriller particularmente tenso e angustiante. Suas duas horas e meia de duração são trabalhadas em um ritmo excelente, o qual nunca desvia a atenção. Ainda, os personagens são bem desenvolvidos - coisa rara no cinema contemporâneo, diga-se de passagem - o que só colabora para o desenrolar da trama. Curioso como tudo é tratado com crueza e é explícito. Uma temática pesada, tratada como tal. Elogios, também, para a direção, a qual foge da obviedade e que, associada com uma competentíssima direção de fotografia, explora as mais variadas paisagens, inclusive a "frieza" (reflexo da própria trama), da Europa nórdica. Um exemplar eletrizante e, claro, intenso, que merece ser visto. Sensacional.
De uma coisa não tenho dúvida: o alemão Christian Alvart sabe, de fato, conceber atmosfera em seus filmes. Recente em Hollywood, o diretor já havia me impressionado com a direção ousada e o desenho de produção em Pandorum, principalmente dado ao baixo orçamento. Aqui, temos um exemplar diferente no que se diz à temática, mas semelhante na importante concepção de atmosfera tensa e sufocante. De fato, ele domina bem a câmera criando sequências instigantes, as quais tentam fugir da obviedade. Entretanto, depois de dois filmes americanos, fica claro que falta ao diretor um roteirista competente. Após um primeiro e segundo atos particularmente dramáticos, tocando em questões polêmicas, tudo converge para o previsível e clichês do gênero. Caso 39 aparenta refletir os mesmos erros de Pandorum: Alvart não sabe encontrar o equilíbrio entre seriedade e diversão, o que acaba desagradando o público mais exigente e o mais convencional. Além disso, assim como em seu filme anterior, o diretor tenta abordar diversos gêneros, tentando fornecer várias facetas ao filme que, no final, não acaba funcionando como terror, ou suspense, ou thriller. É uma mescla de gêneros que não convence. Uma pena.
Comédia convencional, com piadas convencionais, que só funciona graças a ótima dupla Tina Fey e Steve Carrell. É o típico caso no qual, por incrível que pareça, os atores desenvolvem um papel mais importante do que a própria direção e o roteiro.
Achei curiosa a linguagem abordada e adotada por Taylor e Neveldine neste daqui. É, no mínimo, excêntrica e original para uma produção do gênero. Porém, é uma pena que a trama, que parte de uma premissa interessante, não seja aprofundada e tudo se torna pretexto para explosões, perseguições e sangue.
É cafona e antiquado ao extremo. É o típico exemplar de época que assume o seu caráter clássico sem hesitar. E, justamente por isso, é politicamente correto, sem ousadias - com uma trama que permitiria, porém. Entretanto, o último ato do filme funciona muito, mas muito bem. Não pelo poder de surpreender, nem pela reviravolta, mas sim pela crueza que a narrativa assume. As atuações do elenco juvenil feminino é elevada a um patamar muito intenso, deixando Eva Green apagada. E, sinceramente? A última impressão que eu tive foi positiva. Tive que parar e analisar o filme como um todo antes de comentar aqui. É muito curioso o poder que o final de uma produção pode exercer. Afinal, o final sempre será a sua última impressão que é, justamente, a que fica, certo? Saí satisfeito. Entretanto, repito: cafona e antiquado ao extremo.
Uma obra legítima sobre vampirismo. Chega a ser impressionante como tudo é muito intenso e explícito. Não é um filme perfeito: há alguns probleminhas de ritmo da narrativa e certos personagens não são nem um pouco interessantes como o casal. Ainda, os minutos finais são de uma beleza lírica e poética arrebatadora. Um exercício de estilo e dramaturgia onde tudo converge para o psicótico. Muito bom.
O discurso proposto é muito mais envolvente e interessante do que os personagens. Estes, por sua vez, são muito apáticos. Não culpo as atuações, que são sim competentes, mas o próprio roteiro. De certa forma, não há espaço para o desenvolvimento psicológico de cada indivíduo em tela. Tudo converge para o fator inverossimilhança. Não há motivações, não há temores. Faltou humanização. No mais, é muito bem dirigido, e como já afirmei, o discurso é incrível. Imperfeito, mas recomendado.
Apesar do roteiro - propositalmente? - exagerado e caricato, o filme é um exercício de estilo muito bacana. São diversas as sequências memoráveis. Interessante, também, é a forma como o humor negro é abordado. Aliás, são raros os filmes que provocam o riso, o medo e a tensão de forma competente.
Considero o primeiro filme um dos clássicos do terror contemporâneo. É com muito pesar que afirmo que esta - desnecessária - sequência é quase uma ofensa a memória da produção do Neil Marshall. Chega a ser impressionante como Abismo do Medo 2 erra em todos os aspectos no qual o primeiro chega a acertar. Partindo do péssimo desenvolvimento dos personagens e de seus conflitos. Aliás, se os conflitos de egos e personalidades eram a alavanca do primeiro, aqui tudo é raso, superficial e anti-carismático. Você pouco se importa com os personagens. O roteiro parte de uma premissa totalmente absurda e nonsense. Nonsense porque não faz sentido, literalmente. Quem assistir, vai entender do que eu estou falando. E, apesar de contar com uma direção de arte e cenografia suntuosas, é muito perceptível que Jon Harris pode ser até um montador competente, mas não sabe nada de direção. Além disso, o diretor de fotografia realiza um trabalho medíocre na concepção da atmosfera claustrofóbica e sombria. A produção é iluminada demais, tudo é muito visível o que, obviamente, prejudica os momentos de catarse no espectador. Para piorar ainda mais, a utilização de sangue e gore em excesso converge o filme para uma típica produção B. Se no primeiro isso era bem dosado, aqui chega a ser risível. Lamentável. Em respeito a memória da primeira parte, esta aqui deveria ser queimada. Fujam.
Eu acho uma pena quando um filme que merece ser visto é pouco conhecido. Talvez, seja um dos mais significativos exemplares do chamado 'cinema independente americano contemporâneo'. Chega a ser impressionante como TUDO é bem trabalhado, principalmente ao levarmos em questão a temática adolescente. A direção instiga, as atuações desta produção formada por um elenco, quase em sua totalidade, juvenil são impressionantes. Por ora, o roteiro é inteligente ao nunca se tornar maniqueísta ou parcial. Muitos sempre questionam a "moral da história" contida em um filme. Aqui, por exemplo, não temos moral. Eu até arriscaria dizer que Quase um Segredo / Pacto Maldito / Mean Creek é amoral, principalmente pela quase total ausência de adultos. Tudo converge para o fator crescimento e amadurecimento, e a consequência do embate entre egos e personalidades em formação. Façam um favor a si mesmos e assistam.
Nunca fui fã dos irmãos Coen. Suas tramas e seus personagens nunca me convenceram, do ponto de vista dramático. E este aqui não foi diferente. Destaque mesmo para Michael Stuhlbarg que carrega o filme nas costas.
Ainda se utiliza decupagem clássica em Hollywood. E, por incrível que pareça, funciona neste aqui. Não é um grande filme, a direção é óbvia, o roteiro idem. Entretanto, é um drama simpático que cativa, justamente, pela sua simplicidade. É uma bonita história real, com personagens interessantes e atuações competentes. Obviamente, a indicação ao Oscar de Melhor Filme soa forçada, mas é reflexo da própria indústria. Afinal, se um drama de conjuntura correta conseguiu ser uma das maiores bilheterias dos últimos anos para o gênero, é sinal de que o público ainda aceita o cinema em sua forma mais tradicional.
Sobre a atuação da Sandra Bullock, é bem consistente. Às vezes, o público banaliza e acha que uma boa interpretação é aquela a qual o ator deve berrar, gritar, espernear, chorar, sorrir, rir, ser alegre ao extremo quando, no fundo, tudo isso já deve ser considerado um estereotipo. A atuação de Sandra Bullock merece destaque, justamente, pela simplicidade. Ela interpreta uma personagem de forma real e convincente. Por que tirar seus méritos?
Não consigo ver muitos defeitos neste curioso filme que presta singelas homenagens a Abismo do Medo, Alien, Sunshine - Alerta Solar e até 2001 - Uma Odisséia no Espaço.
O desenho de produção é incrível, dado o orçamento modesto. A atmosfera criada por Christian Alvart, principalmente no primeiro ato, convence e sucede na concepção de tensão e claustrofobia. Obviamente, as competentes atuações de Ben Foster e Dennis Quaid também colaboram.
Talvez, o problema esteja no esforço em tentar parecer inteligente. No fundo, é apenas um filme que se leva a sério demais perante ao que propõe. Ainda assim, o roteiro possui manifestações criativas e interessantes, o que é sempre bem vindo, claro.
O fato é que sci-fi é um gênero um tanto evitado e nada compreendido pelo público. Se Pandorum evitasse debates filosóficos e mantesse uma linha narrativa voltada, exclusivamente, ao horror, tenho certeza que o público não iria estranhar tanto. Mas, ao dar esta abertura e discussões éticas, morais e filosóficas, a produção cai na armadilha de ser destinada a um grupo de espectadores específicos. Uma pena.
Querido John
3.3 2,4K Assista AgoraNa resenha de 'Sempre ao Seu Lado', afirmei que Lasse Hallström é um dos únicos diretores da indústria que se arrisca e que sucede ao dirigir melodramas contemporâneos. Infelizmente, não é o que acontece com 'Querido John'. A produção falha como romance, como drama e, principalmente, como melodrama. Para mim, o erro inicial é a falta de química entre os protagonistas. É difícil se comover com um filme no qual você não torce e pouco se importa com o destino do romance do casal. Não convence. E, se o primeiro ato do filme até fluia, a partir do segundo, você deixa de se importar e a trama toma um rumo inverossímil e dramaticamente exacerbado. Os personagens não são desenvolvidos a fundo, o que prejudica mais a relação entre eles. Essa sucessão de erros irá convergir, justamente, para a falta de clímax, a ausência de uma catarse. Hallström prova que sabe conduzir algumas cenas - como a do hospital, entre pai e filho -, mas falha ao tentar conceber um clímax entre John e Savannah no desfecho do filme. No final, a impressão que fica é: tanto faz, tanto fez para o espectador quanto para o casal.
A Hora do Pesadelo
3.0 1,5K Assista AgoraAo término deste remake do clássico dirigido pelo Wes Craven, me veio uma única pergunta na cabeça: O que está acontecendo com essa geração de atores adolescentes? É culpa da direção e da direção de atores ou é tudo fruto de falta capacidade dos próprios? Independente das péssimas atuações, que se repetem em, praticamente, todas as produções contemporâneas do gênero, temos, aqui, um exemplar nada inventivo, apelativo, clichê e que subestima a inteligência do próprio espectador. E o pior é que enquanto Michael Bay continuar lucrando com estas porcarias, teremos que aguentar refilmagens e mais refilmagens que surtam como ofensa a memória dos originais. Ainda não sei o que é pior: Michael Bay produtor, ou Michael Bay diretor.
Alice no País das Maravilhas
3.4 4,0K Assista AgoraDas vanguardas artísticas dos séculos XIX e XX, uma das que mais me agrada é o surrealismo. Um dos idealizadores do movimento, André Breton, publicou o Manifesto Surrealista defendendo um tipo de arte que deveria se libertar de seus princípios racionais, indo além da consciência, representando um mundo psicológico, abstrato e de sonhos. Justamente, Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho de Lewis Carrol podem até se encontrar em um período anterior ao da vanguarda, mas refletem todo o ideal surrealista. Todo esse teor também estaria presente na memorável obra dos estúdios Disney. Pois bem. Um grande diretor do cinema contemporâneo teve a oportunidade de adaptar a narrativa através de uma nova tecnologia que já aparenta ganhar cada vez mais o público. A fusão de surrealismo com o cinema 3D, uma técnica que mexe muito com o visual, poderia resultar em algo magnífico - ainda mais dirigido por Tim Burton. Infelizmente, o resultado é um "desastre espetacular".
Acima de tudo, o surrealismo sempre gerou interpretações variadas, metáforas e outras figuras de linguagens. A própria obra de Lewis Carroll é um excelente estudo e discurso psicológico, onde filosofias como a questão do amadurecimento eram destacadas. A própria obra dos estúdios Disney realizava tal abordagem, em suas devidas proporções. Aqui, entretanto, é interessante verificarmos como tudo é infantilizado. Algo curioso, afinal, Alice já está com 17 anos e aparenta ser mais infantil do que quando era mais nova. Todos os seus dilemas são abandonados e o que temos em tela é uma aventura superficial, que aborda os mais diversos clichês e que, ao seu término, reforça ser destinado ao público juvenil. Logicamente, Burton, na minha opinião, não quis parecer pretensioso e dar uma profundidade a trama. Entretanto, o material exige, acima de tudo, um discurso psicológico. Afinal, Alice no País das Maravilhas sempre foi um estudo da mente e da imaginação do ser humano. Descarto o argumento "é entretenimento" pois, mesmo assim, foi um entretenimento que, pelo menos comigo, não funcionou.
Confesso, também, que não fiquei tão impressionado com o desenho de produção. Talvez, seja algo pessoal, mas esta digitalização cenográfica e fotográfica causam efeito artifical demais. Sou fã, acima de tudo, de direção de arte e nada como grandes cenários projetados e, sim, construídos. Continuo achando que a tecnologia colabora cada vez mais para uma artificialização. E, em relação ao 3D, decepcionante. Não chega a ser tão funcional e a tão comentada "profundidade" quase passa despecerbida. Uma pena, já que Burton, acima de tudo, é um visionário em termos de cenografia e direção de arte.
A produção possui alguns pontos positivos, todavia. Apesar de Mia Wasikowska interpretar uma Alice pouco carismática, o grande destaque fica com o elenco secundário. Talvez, arrisco dizer que Helena Bonham Carter é o que Heath Ledger foi para The Dark Knight. Sem dúvidas, a interpretação mais marcante de todas. Matthew Richard Lucas também diverte como Tweedledee e Tweedledum, e, por mais que tenham pouquíssimo tempo em tela, Alan Rickman, Stephen Fry e Timothy Spall cumprem o seu papel muitíssimo bem. A decepção fica por conta do chapeleiro de Johnny Depp. Aliás, o ator, que aparenta ter gosto por interpretar caricaturas, aparenta ter pego um vício comum a todos os seus personagens: os trejeitos. Aqui, por exemplo, temos um chapeleiro de personalidade nada convincente e unidimensional, que faz as mesmas expressões faciais que Willy Wonka, Jack Sparrow, entre outros. O personagem nunca é desenvolvido com profundidade e, sinceramente, me aparenta ser mais culpa do próprio ator do que da direção. Aparenta-me que Burton confia muito em Depp para, de fato, conduzir a sua atuação. Entretanto, no matters what, direção de atores é uma necessidade em qualquer produção.
Ainda que Burton confira algumas divertidas homenagens ao desenho da Disney e às obras de Carroll - me recuso a dizer que isto é uma adaptação -, o fato é que a película nunca empolga e emociona, nunca diverte e nem faz pensar. Alice no País das Maravilhas é um filme insosso, que não faz proveito do originalíssimo e belo material no qual é embasado. E, quanto a isso, só temos que lamentar. Eu esperava conferir uma aventura divertida, empolgante, reflexiva e, acima de tudo, sensorial. O que eu vi foi algo superficial, infantil e medíocre. E, sinceramente, tudo me aparenta ser reflexo do excesso de auto-confiança de Tim Burton. Mas, convenhamos: para um filme que já arrecadou mais de U$800 milhões ao redor do globo, críticas são o que menos importa para a produtora e para o diretor.
Os Homens que não Amavam as Mulheres
4.1 1,5K(Antes de mais nada, não acompanho a saga literária. Portanto, é a opinião de um usuário que desconhecia o material de origem)
Se há um adjetivo que define esta modesta, mas essencialmente caprichada, co-produção sueca, dinamarquesa, alemã e norueguesa, ele é: intenso - principalmente no que se diz a condução da narrativa. E tal intensidade, obviamente, sucede na concepção da catarse de cada espectador. Há tempos que eu não assistia um thriller particularmente tenso e angustiante. Suas duas horas e meia de duração são trabalhadas em um ritmo excelente, o qual nunca desvia a atenção. Ainda, os personagens são bem desenvolvidos - coisa rara no cinema contemporâneo, diga-se de passagem - o que só colabora para o desenrolar da trama. Curioso como tudo é tratado com crueza e é explícito. Uma temática pesada, tratada como tal. Elogios, também, para a direção, a qual foge da obviedade e que, associada com uma competentíssima direção de fotografia, explora as mais variadas paisagens, inclusive a "frieza" (reflexo da própria trama), da Europa nórdica. Um exemplar eletrizante e, claro, intenso, que merece ser visto. Sensacional.
Caso 39
3.1 1,9K Assista AgoraDe uma coisa não tenho dúvida: o alemão Christian Alvart sabe, de fato, conceber atmosfera em seus filmes. Recente em Hollywood, o diretor já havia me impressionado com a direção ousada e o desenho de produção em Pandorum, principalmente dado ao baixo orçamento. Aqui, temos um exemplar diferente no que se diz à temática, mas semelhante na importante concepção de atmosfera tensa e sufocante. De fato, ele domina bem a câmera criando sequências instigantes, as quais tentam fugir da obviedade. Entretanto, depois de dois filmes americanos, fica claro que falta ao diretor um roteirista competente. Após um primeiro e segundo atos particularmente dramáticos, tocando em questões polêmicas, tudo converge para o previsível e clichês do gênero. Caso 39 aparenta refletir os mesmos erros de Pandorum: Alvart não sabe encontrar o equilíbrio entre seriedade e diversão, o que acaba desagradando o público mais exigente e o mais convencional. Além disso, assim como em seu filme anterior, o diretor tenta abordar diversos gêneros, tentando fornecer várias facetas ao filme que, no final, não acaba funcionando como terror, ou suspense, ou thriller. É uma mescla de gêneros que não convence. Uma pena.
Uma Noite Fora de Série
3.2 1,2K Assista AgoraComédia convencional, com piadas convencionais, que só funciona graças a ótima dupla Tina Fey e Steve Carrell. É o típico caso no qual, por incrível que pareça, os atores desenvolvem um papel mais importante do que a própria direção e o roteiro.
Gamer
3.0 863 Assista AgoraAchei curiosa a linguagem abordada e adotada por Taylor e Neveldine neste daqui. É, no mínimo, excêntrica e original para uma produção do gênero. Porém, é uma pena que a trama, que parte de uma premissa interessante, não seja aprofundada e tudo se torna pretexto para explosões, perseguições e sangue.
Sedução
3.6 567É cafona e antiquado ao extremo. É o típico exemplar de época que assume o seu caráter clássico sem hesitar. E, justamente por isso, é politicamente correto, sem ousadias - com uma trama que permitiria, porém. Entretanto, o último ato do filme funciona muito, mas muito bem. Não pelo poder de surpreender, nem pela reviravolta, mas sim pela crueza que a narrativa assume. As atuações do elenco juvenil feminino é elevada a um patamar muito intenso, deixando Eva Green apagada. E, sinceramente? A última impressão que eu tive foi positiva. Tive que parar e analisar o filme como um todo antes de comentar aqui. É muito curioso o poder que o final de uma produção pode exercer. Afinal, o final sempre será a sua última impressão que é, justamente, a que fica, certo? Saí satisfeito. Entretanto, repito: cafona e antiquado ao extremo.
Sedução
3.6 567O filme já ganhou título nacional: SEDUÇÃO. E chega nas locadoras em Junho.
Sede de Sangue
3.7 338Uma obra legítima sobre vampirismo. Chega a ser impressionante como tudo é muito intenso e explícito. Não é um filme perfeito: há alguns probleminhas de ritmo da narrativa e certos personagens não são nem um pouco interessantes como o casal. Ainda, os minutos finais são de uma beleza lírica e poética arrebatadora. Um exercício de estilo e dramaturgia onde tudo converge para o psicótico. Muito bom.
A Onda
4.2 1,9KO discurso proposto é muito mais envolvente e interessante do que os personagens. Estes, por sua vez, são muito apáticos. Não culpo as atuações, que são sim competentes, mas o próprio roteiro. De certa forma, não há espaço para o desenvolvimento psicológico de cada indivíduo em tela. Tudo converge para o fator inverossimilhança. Não há motivações, não há temores. Faltou humanização. No mais, é muito bem dirigido, e como já afirmei, o discurso é incrível. Imperfeito, mas recomendado.
Cães Assassinos
2.6 156 Assista AgoraAo terminar, pensei: coitados dos cachorros, por terem que se envolver com algo tão cretino e embaraçoso.
Rejeitados pelo Diabo
3.7 617 Assista AgoraApesar do roteiro - propositalmente? - exagerado e caricato, o filme é um exercício de estilo muito bacana. São diversas as sequências memoráveis. Interessante, também, é a forma como o humor negro é abordado. Aliás, são raros os filmes que provocam o riso, o medo e a tensão de forma competente.
Brilho de uma Paixão
3.7 383 Assista AgoraDica, se não gosta de poesia e não tem paciência, nem assista. [2]
Totalmente incompreendido.
Abismo do Medo 2
2.9 546 Assista AgoraConsidero o primeiro filme um dos clássicos do terror contemporâneo. É com muito pesar que afirmo que esta - desnecessária - sequência é quase uma ofensa a memória da produção do Neil Marshall. Chega a ser impressionante como Abismo do Medo 2 erra em todos os aspectos no qual o primeiro chega a acertar. Partindo do péssimo desenvolvimento dos personagens e de seus conflitos. Aliás, se os conflitos de egos e personalidades eram a alavanca do primeiro, aqui tudo é raso, superficial e anti-carismático. Você pouco se importa com os personagens. O roteiro parte de uma premissa totalmente absurda e nonsense. Nonsense porque não faz sentido, literalmente. Quem assistir, vai entender do que eu estou falando. E, apesar de contar com uma direção de arte e cenografia suntuosas, é muito perceptível que Jon Harris pode ser até um montador competente, mas não sabe nada de direção. Além disso, o diretor de fotografia realiza um trabalho medíocre na concepção da atmosfera claustrofóbica e sombria. A produção é iluminada demais, tudo é muito visível o que, obviamente, prejudica os momentos de catarse no espectador. Para piorar ainda mais, a utilização de sangue e gore em excesso converge o filme para uma típica produção B. Se no primeiro isso era bem dosado, aqui chega a ser risível. Lamentável. Em respeito a memória da primeira parte, esta aqui deveria ser queimada. Fujam.
A Ressaca
3.1 933 Assista AgoraA estréia no Brasil está prevista para 21/05
Quase um Segredo
3.7 143Eu acho uma pena quando um filme que merece ser visto é pouco conhecido. Talvez, seja um dos mais significativos exemplares do chamado 'cinema independente americano contemporâneo'. Chega a ser impressionante como TUDO é bem trabalhado, principalmente ao levarmos em questão a temática adolescente. A direção instiga, as atuações desta produção formada por um elenco, quase em sua totalidade, juvenil são impressionantes. Por ora, o roteiro é inteligente ao nunca se tornar maniqueísta ou parcial. Muitos sempre questionam a "moral da história" contida em um filme. Aqui, por exemplo, não temos moral. Eu até arriscaria dizer que Quase um Segredo / Pacto Maldito / Mean Creek é amoral, principalmente pela quase total ausência de adultos. Tudo converge para o fator crescimento e amadurecimento, e a consequência do embate entre egos e personalidades em formação. Façam um favor a si mesmos e assistam.
O Enigma do Horizonte
3.2 310 Assista AgoraFunciona mais na teoria do que na prática.
Um Homem Sério
3.5 574 Assista AgoraQue filminho sem personalidade, hein?
Nunca fui fã dos irmãos Coen. Suas tramas e seus personagens nunca me convenceram, do ponto de vista dramático. E este aqui não foi diferente. Destaque mesmo para Michael Stuhlbarg que carrega o filme nas costas.
Um Sonho Possível
4.0 2,4K Assista AgoraAinda se utiliza decupagem clássica em Hollywood. E, por incrível que pareça, funciona neste aqui. Não é um grande filme, a direção é óbvia, o roteiro idem. Entretanto, é um drama simpático que cativa, justamente, pela sua simplicidade. É uma bonita história real, com personagens interessantes e atuações competentes. Obviamente, a indicação ao Oscar de Melhor Filme soa forçada, mas é reflexo da própria indústria. Afinal, se um drama de conjuntura correta conseguiu ser uma das maiores bilheterias dos últimos anos para o gênero, é sinal de que o público ainda aceita o cinema em sua forma mais tradicional.
Sobre a atuação da Sandra Bullock, é bem consistente. Às vezes, o público banaliza e acha que uma boa interpretação é aquela a qual o ator deve berrar, gritar, espernear, chorar, sorrir, rir, ser alegre ao extremo quando, no fundo, tudo isso já deve ser considerado um estereotipo. A atuação de Sandra Bullock merece destaque, justamente, pela simplicidade. Ela interpreta uma personagem de forma real e convincente. Por que tirar seus méritos?
O Lobisomem
2.9 1,0K Assista AgoraDesastroso.
Pandorum
3.1 569 Assista AgoraNão consigo ver muitos defeitos neste curioso filme que presta singelas homenagens a Abismo do Medo, Alien, Sunshine - Alerta Solar e até 2001 - Uma Odisséia no Espaço.
O desenho de produção é incrível, dado o orçamento modesto. A atmosfera criada por Christian Alvart, principalmente no primeiro ato, convence e sucede na concepção de tensão e claustrofobia. Obviamente, as competentes atuações de Ben Foster e Dennis Quaid também colaboram.
Talvez, o problema esteja no esforço em tentar parecer inteligente. No fundo, é apenas um filme que se leva a sério demais perante ao que propõe. Ainda assim, o roteiro possui manifestações criativas e interessantes, o que é sempre bem vindo, claro.
O fato é que sci-fi é um gênero um tanto evitado e nada compreendido pelo público. Se Pandorum evitasse debates filosóficos e mantesse uma linha narrativa voltada, exclusivamente, ao horror, tenho certeza que o público não iria estranhar tanto. Mas, ao dar esta abertura e discussões éticas, morais e filosóficas, a produção cai na armadilha de ser destinada a um grupo de espectadores específicos. Uma pena.
Ainda assim, recomendo.
Educação
3.8 1,2K Assista AgoraBem feitinho e atuado. No mais, é convencional e insosso, soando até antiquado em sua conclusão.
Up: Altas Aventuras
4.3 3,8K Assista AgoraPode não ser a melhor animação da Pixar, mas, com certeza, é uma das mais - se não a mais - divertida. Incrível :)