Acabo de corrigir um de meus maiores pecados cinéfilos: nunca ter assistido ao telefilme Alguém Me Vigia, que o mestre supremo John Carpenter dirigiu pouco antes de lançar sua obra-prima definitiva, Halloween. Justamente por ser um filme feito para TV (categoria que na época ainda era sinônimo de limitações estéticas e artísticas), o filme é menos conhecido e um pouco mais difícil de encontrar que os clássicos do príncipe das trevas. No entanto, sei desde sempre que este trabalho é tão amado pelos fãs hardcore de Carpenter quanto seus filmes mais populares. Acabo de assistir e já posso me incluir entre eles. Antes de o filme completar trinta segundos de duração, Carpenter já trasforma o ambiente externo à ação principal em um lugar ameaçador. Sua câmera, sempre em movimento, parece perseguir os personagens como se incorporasse seus temores, até os invisíveis, internalizados. Os interiores são tão ameaçadores quando a selva de pedra. Um apartamento aconchegante e bem decorado é o lugar mais sufocante do mundo. Um jantar a dois parece ser a situação mais solitária possível, para ambos os envolvidos. Tudo isso já era obtido, lá atrás, pelas exatas características que viriam a transformar John Carpenter em uma das maiores referências para estudantes e aspirantes a cineastas de gênero até hoje. Os enquadramentos minuciosos, mas que existem em função do movimento, da narrativa, nunca chamando atenção para si mesmos. Os movimentos de câmera que transformam a espacialidade em sensação, nos aproximando dos personagens sem a necessidade de didatismos. O uso minucioso da música para indicar presenças, ausências, dúvidas, inseguranças. Há claras e até escancaradas referências a Alfred Hitchcock aqui. O velho ranzinza que fez os melhores filmes de suspense de todos os tempos é certamente uma das razões pelas quais John Carpenter desenvolveu tamanho domínio da linguagem cinematográfica. Um filme como este que terminei de assistir há uns 15 minutos e ainda estou completamente eletrizado, no entanto, não poderia ter sido realizado por nenhum outro cineasta além de John Carpenter. Tá aí a própria definição de cinema autoral. Genial. Sempre. #JohnCarpenter
Meu interesse por Sick, de John Hyams, era exclusivamente o fato de que o filme trouxe o icônico roteirista Kevin Williamson de volta a sua grande paixão: o gênero slasher movie. Ainda assim, relutei em me aventurar, pelo fato de que o último grande trabalho de Williamson no gênero foi Pânico 4, de Wes Craven, há mais de dez anos.
Agora estou muito feliz por ter interrompido a procrastinação.
Sick, como quase todos os filmes escritos por Kevin Williamson, retrabalha as convenções básica do horror para esconder um subtexto sociocultural, no caso a paranoia generalizada que a pandemia de Covid 19 desencadeou.
Após a ótima abertura, achei que o filme seria uma enorme decepção, por conta de uns 20 minutos de conversas aparentemente inúteis. Calma: é Kevin Williamson. A recompensa virá.
A partir do momento em que o filme engata, torna-se uma experiência eletrizante como há um bom tempo eu não vivia com um filme desse tipo. Situações que já vimos diversas vezes são apresentadas de maneira notoriamente eficiente, cortesia não apenas do roteiro, mas do excelente diretor John Hyams (guardem esse nome: o cara é fera!).
Tomei meia dúzia de sustos (é raro, sou vacinado #semtrocadilhos), fiquei tenso em várias cenas e soltei até uns gritinhos (não espalhem).
Aí vem o terceiro ato.
Mesmo com todas as atrocidades apresentadas, sorri quase o tempo todo durante a resolução. Estão lá todas as principais qualidades de Kevin Williamson como criador de histórias de apelo popular que, ironicamente, apontam suas críticas para o próprio público que ele tanto sabe agradar.
Sarcástico, impiedoso, ambíguo, o filme termina com uma cena que provavelmente ficará eternamente gravada na minha memória. Um final seco, sem adendos, que sem nada verbalizar deixa abertos alguns questionamentos morais que não queremos sequer considerar.
A única certeza é a de que os doentes do tíulo (Sick) somos todos nós.
PS: a distribuidora brasileira não ajudou ninguém a interpretar o substexto do filme ao batizá-lo de "Isolamento Mortal". Triste.
A frase que define o conceito básico do feriado americano de Ação de Graças é pronunciada várias vezes durante Thanksgiving (que obviamente ganhou um título picareta em português que sequer mencionarei), novo filme de Eli Roth. O filme de fato faz com que a insistência em tal questionamento faça muito sentido.
Baseado num dos trailers falsos exibidos em Grindhouse, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, o filme de Roth consegue ser bem mais que uma mera brincadeira, embora trate-se de uma escancarada sátira do american way of life, assumidamente cartunesca e cafona.
A abertura é genial: uma cena tensa, assustadora, repugnante, onde ao invés de monstros, zumbis e assassinos, temos um bando de consumidores descontrolados agredindo uns aos outros numa loja de departamentos, durante uma black friday. A confusão acaba em morte e desencadeia o misterioso plano de vingança de um assassino implacável. É uma empolgante inversão do conceito de vítima e vilão, que permeará o filme até o fim.
A partir daí, pérolas não param de se enfileirar. A tela do celular suja demais de sangue para servir como meio de pedir ajuda; o rosto da patricinha se confundindo com os de dezenas de manequins enquanto o assassino tenta cortar-lhe o pescoço com um machado; as crianças assistindo alegremente a rituais violentos; o personagem que grita "Sou um guarda de segurança! Mato pessoas todos os dias!" para afrontar o assassino e uma impagável cena com um autêntico roqueiro reaça expulsando de uma festa um moleque que perguntou "Quem é Black Sabath?" (rachei!).
Capicce? O filme desconstroi a imagem de controle e segurança da sociedade norte americana através da associação entre a cultura do consumo e a banalização da violência.
"Prepare-se para viralizar. Você vai quebrar a internet! Olha só quantos likes!"
O filme joga na nossa cara o quanto os confortos oferecidos pela sociedade do consumo nos anestesiam diante da violência enraizada nessa sociedade.
Um filme extremamente divertido, feito por um fã de horror para fãs de horror.
Especialmente os que compreendem o gênero como um reflexo das doenças sociais.
Deixa o tio pensar no que dizer sobre A Freira 2...
Já sei:
QUE BOSTA DO KRL É ESSA?
Na boa, um filme como esse só tem duas funções:
1. Assustar crianças, debiloides, paumoles e gente que em 2023 ainda acredita em milagres, tem medo de demônios chifrudos, pensa que objetos benzidos vão espantar o mal e que rezas vão destruir o "inimigo".
2. Reforçar todas as ideias mais erradas e nocivas a respeito do cristianismo, da igreja católica, do papel histórico das mulheres e, principalmente, das religiões pré-cristãs.
Não bastando, é um filme francamente medíocre de um ponto de vista estético e narrativo.
O primeiro A Freira, outra porcaria, ao menos tinha a vantagem de ser hilário (eu e a Jess Zoto assistimos em Los Angeles e tivemos que fazer um esforço descomunal para não explodir em gargalhadas na cena em que a protagonista mocoronga literalmente cospe o sangue de cristo na cara do bicho feio!).
Insuportável, inútil enquanto cinema e um desserviço enquanto instrumento de comunicação.
Havia prometido a mim mesmo não me submeter a essa sessão de tortura voluntária (ao contrário das praticadas durante séculos por certa instituição sagrada) mas, como bom gato que sou, a curiosidade me matou. #rimas
O começo até engana, mas lá pelos 40 minutos de projeção eu já tinha me cagado de rir das ceninhas de horror porcamente encenadas, editadas e atuadas. Os sustinhos dignos do Castelo dos Horrores do Playcenter foram hilários também. Então chega uma creiça que quer salvar as possuidas (sempre meninas, né?) para compensar seu trauma por ter cometido um aborto no passado (!!!!). Depois dessa tosquice, a ladeira nunca mostra onde vai terminar.
Lá pelo meio, achei que a pior característica desse pedaço de esterco mole foi trazer de volta a lendária Ellen Burstyn como a mãe de Regan (a possuída do filme original, caso exista alguém que não sabe o nome dela), para retratar a coitada como uma idiota que ganhou um dinheirão escrevendo um livro sobre as experiências que passou. O livro, aliás, com certeza é uma merda de braquiossauro, já que a creiça só abre a boca pra proferir frasezinhas de autoajuda que poderiam ter sido escritas por Rhonda Byrne, Paulo Coelho, Augusto Cury, esse pessoal aí. Pra completar, o desfecho dado à personagem é tão deprimente quanto o de Sally Harding na última profanação de O Massacre da Serra Elétrica.
Depois disso o filme realmente fica assustador: a completa falta de criatividade, comprometimento e respeito pelo material original é apavorante. Sem comentários para o falso progressismo, como apontaria Zizek: outras religiões são supostamente "respeitadas" nessa farofagem, mas todo o mal aqui é obra "do demônio" e toda a solução é o deus cristão (e Jesus, claro, que é citado 666 vezes).
Os minutos finais foram literalmente o maior martírio que passei com um filme nos últimos anos.Todo o significado filosófico e sociocultural de O Exorcista deu lugar a uma historinha moralista e doutrinária que poderia ser contada no DVD de lobotomização infantil da Ana Paula Valadão.
Nota zero porque se der menos vou pro inferno por ser maldoso demais.
Ontem revi essa obra-prima acompanhado da Grasy Schmitt
Senhor!
Tenho certeza de que esse texto resultará pobre, diante de todas as discussões que esse extraordinário trabalho de Steven Spielberg levanta.
Há a vontade humana de substituir suas faltas por uma imitação de si mesmo. Há, mais do que tudo, o dilema ético de se obrigar uma criatura a nos servir, inclusive afetivamente, independentemente de nossa capacidade de retribuir a esse ser o que ele nos oferece.
Para mim, as cenas mais impactantes são aquelas que ilustram um show de entretenimento em que robôs são trucidados para o deleite de um público ensandecido. É evidente a intenção de Spielberg em fazer um paralelo com a maneira como tratamos os animais, os seres que julgamos interiores, que estão aqui para nos servir e entreter. A cena toda claramente emula um maldito evento de rodeios, onde o ser humano demonstra sua faceta mais bestial ao se regozijar com a tortura pública de animais indefesos.
O final, no entanto, permanece devastador. Os simplistas gostam de acusar Spielberg de ser um sentimentalista. Não, meus caros. Ele criou um final que me destrói justamente por ser uma das manifestações artísticas mais pessimistas, trágicas de todos os tempos. A única maneira de o robozinho David viver seu sonho de ser amado por sua mãe é através de uma simulação, tão artificial quanto ele, que durará apenas um dia.
Abram seus olhos!
Steven Spielberg é um mestre absoluto do cinema, mas seus filmes frequentemente circulam do território da ambiguidade, da dúvida e do desconforto.
Comédias compõem um gênero difícil pra mim. Como escrevi em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia, não as busco. Elas surgem na minha vida, algumas vezes para ficar.
Foi o caso de Que Horas eu Te Pego, de Gene Stupnitski. Confesso que busquei o filme por conta da repercussão gigantesca da performance de Jennifer Lawrence. Não era em vão: ela está estupenda, perfeita no papel da garota mais comum do mundo, a ferrada que faz qualquer coisa para não perder sua casa por falta de pagamento da hipoteca (um assunto sério, espertamente abordado pelo roteiro).
Há cenas em que basicamente vemos ela se metendo em alguma enrascada, mas a atriz consegue iluminar o quadro e arrancar gargalhadas com uma simples levantada de sobrancelha. Sua interação com o novato Andrew Barth Feldman, no entanto, é a chave do encanto do filme. Uma vitória inequívoca de casting: o moleque é sensacional, de um carisma apaixonante, retratando com naturalidade a transformação de um personagem aprisionado em si mesmo num garoto que exala liberdade e autoconfiança.
O roteiro de Stupnitski e John Phillips é outro achado. Partindo das convenções básicas da comédia romântica, criam uma série de situações curiosas, que sempre soam triviais, palpáveis. As alfinetadas à geração das redes sociais e do "cancelamento" são deliciosas, bem como as observações sobre o pessoal que chegou aos 40 e não conquistou nada do que a sociedade decidiu que deveriam.
Ao contrário do que se espera desse tipo de filme, não há a redenção fantasiosa, que resolve tudo com conversas e abraços. O final não é feliz, nem triste. É o que tinha que ser.
Lindíssimo. Uma surpresa que pretendo revisitar e o farei com um sorriso estampado no rosto.
É engraçado que a história simples e direta não torne fácil escrever sobre esse filme. Eu mesmo, horas após a sessão, ainda não havia absorvido direito a experiência. Estava um pouco chocado, para ser sincero. A única certeza é a de que Avatar - Caminho da Água é um filme especial e importante.
Vejamos, em plena era digital, com o ser humano notoriamente tornando-se mais impaciente, apático, cínico, além de escravo de narrativas rápidas e verborrágicas, James Cameron retornou de um longo hiato com uma narrativa de três horas e narrada predominantemente em linguagem visual. Seu filme nos desafia a contemplar a beleza, nos emocionar com a poesia e acompanhar pacientemente duas horas de apresentação dos personagens e suas relações, para só depois termos a recompensa do clímax (diga-se de passagem, o mais apoteótico da carreira do diretor). O resultado? Uma das experiências mais hipnóticas, quase lisérgicas, que lembro de ter vivido.
Quem viu em casa, não perca os óbvios relançamentos nas grandes telas: o próprio propósito primário do filme é nos lembrar de que há experiências que só podem ser vividas numa sala de cinema. Com suas inimitáveis habilidades, Cameron entra no clube de Meliés, Grifith, Lang, Selznick, Capra, DeMille, Lean e Spielberg, os artistas que levaram o povo em massa aos cinemas para sonhar um sonho coletivo, se expurgar, lavar a alma, como aconteceu comigo na sessão de pré-estreia de Avatar - O Caminho da Água.
O belíssimo THX 1138, primeiro filme de George Lucas, não se parece com nada do que ele fez posteriormente. O filme até toca em temas que Lucas exploraria novamente em Star Wars, como o totalitarismo e a rebeldia contra o sistema, mas num tom muito diferente. Lento, contemplativo e triste, THX 1138 acompanha os moradores de uma imensa cidade subterrânea onde é proibido amar, fazer sexo, tomar decisões por conta própria ou seguir alguma religião que não seja a dominante. É um contexto que certamente se beneficia das grandes criações de Audous Huxley e George Orwell quanto à temática, porém me parece extremamente original na maneira como materializa esse universo na tela.
O filme todo é lindo, mas há momentos especialmente marcantes. Um é a cena em que o protagonista THX, vivido por Robert Duvall, entra em uma espécie de confessionário para pedir perdão por seu medo de “sentimentos inapropriados” que parecem estar aflorando, especialmente seu amor por LUH, personagem de Maggie McComie. A enorme imagem de um rosto (retirado de Christ Giving His Blessing, tela de Hans Memling, de 1478), cujos olhos sem vida o encaram, estampa as paredes, fazendo com que a entidade a quem ele pensa dirigir-se se iguale ao poder que o controla. Somando isso à voz robótica que responde seus questionamentos com frases prontas – literalmente –, a cena claramente compara a religião ao Estado que manipula os personagens.
Seus nomes, aliás, simbolizam conceitos fundamentais para que o controle seja mantido. Quando pronunciado em inglês, THX lembra SEX (sexo), LUH lembra LOVE (amor) e SEN (personagem de Donald Pleasance) lembra SIN (pecado). O amor e o sexo devem ser “banidos”, pois o pecado precisa“existir”e sertemido/punido.Em outro momento o protagonista, condenado por seus pensamentos proibidos, é aprisionado num espaço onde o branco parece infinito, por mais que se tente fugir. É uma das mais aterradoras visões de uma prisão que já presenciei. Outra imagem recorrente e bastante sugestiva é a dos policiais sem rosto, todos iguais, como se fossem meras máquinas programadas para servir ao sistema. Há ainda o epílogo, com a fuga de THX para a superfície. O imenso sol que ilumina um “nada” de proporções infinitas é a falsa redenção que encerra o filme em irônico pessimismo.
Eu e a grande comentarista cultural e modal @grasyschmitt acabamos de rever a gloriosa porcaria Show Bar, por motivos de "vamo ver alguma coisa que nos tire da realidade."
E não é que agora, mais de vinte anos depois, ficou muito claro que a função desse filme é exatamente essa?
Vamos lá: mitos, lendas, contos de fadas, causos e whatever sempre tiveram a função de moralizar. E que moral é essa? Oras, a dos donos do mundo, inocente!
Show Bar (que se chama Coyote Ugly, nome do bar do título e que tem em Coyote o signo que representa as meninas "livres" da história, mas que a distribuidora brasileira picareta resolveu associar a Showgirls, de Paul Verhoeven, obra completamente oposta a essa em todos os sentidos), começa com a pobre coitada Violet (own 🥰), que teve o azar de nascer em New Jersey, convencendo o pai (um claro republicano que votou em George W. Bush Junior) de que ela deve ir para New York ser a nova (insira aqui alguém que fez sucesso de maneira complemente diferente).
O papai reluta, mas logo cede. Ele é americano, né? Na cena em que se despedem, uma bandeira americana, triunfante, passa quase um minuto posicionada no ponto mais estratégico do quadro (quem estudou cinema, publicidade ou comunicação em geral sabe muito bem que truque é esse). Então ela vai a New York e, NOSSA! Que sortuda! Tem umas dez cenas seguidas em que ela parede estar com os dias contados e alguém a ajuda, ou ela vence por seus talentos.
Na cena em que ela, pela primeira vez, mostra todo seu potencial, adivinha o que aparece durante quatro minutos atrás dela? OITO bandeiras americanas penduradas na parede do bar, entrecortadas por uma mensagem de liberdade escrita em... azul e vermelho.
Seu pai e seu namoradinho imbecil a humilham por ser "a garota que seduz homens para vender bebida", mas ela jamais os questiona e ambos terminam devidamente absolvidos.
Violet triunfa tão facilmente e tão rapidamente que a maior cantora de country rock da época, LeeAnne Rimes vai ao próprio Coyote Ugly cantar a canção que ela compôs.
E no fim ela termina beijando apaixonadamente seu namoradinho misógino, afinal, é só um filme, né?
Incrível como é fácil enganar as pessoas com discursos ardilosamente ambíguos. A abordagem supostamente autorreflexiva do filme não passa de um truque dos mais chulos. A mesma boneca símbolo de segregação social entre crianças, do padrão eurocentrista de beleza e de surtos de anorexia, bulimia e disformia corporal é o produto que está sendo vendido por esse anúncio publicitário travestido de filme. Não há transgressão alguma aqui, apenas a manutenção do status quo por vias um pouco mais espertas.
Às vezes até cogito me submeter à tortura voluntária de rever Dançando no Escuro, mas aí lembro que quase tive uma síncope na primeira e única vez que vi e desisto. Não sei se tenho preparo psicológico pra passar por isso de novo. Von Trier, tu é um sádico! Obrigado por isso. 🥺 #DançandoNoEscuro #DancerInTheDark #Björk #LarsVonTrier #Cinema
Qual era mesmo o nome daquele filme sobre um revolucionário que queria libertar um povo africano e honrar a história de seus antepassados que foram escravizados durante séculos, mas acabou morto por um fdp capitalista que leva uma ONG para o local, perpetuando o status quo, mas saindo da história como heroi humanitário?
Ah, lembrei:
Era Pantera Negra.
Até hoje ouço ecos do quack quack dos patos que caíram nesse truque baixo e ardiloso.
Vamos brincar de ser realistas? Blade Runner 2049 fez um excelente trabalho visualmente, cortesia da produção luxuosa, da fotografia do grande Roger Deakins e do talento de Denis Villeneuve para a criação de imagens plasticamente belas (foco no plástico!), mas todos os defeitos deste último citado estão lá também, com destaque para o didatismo, a necessidade de backgrounds explicativos, que só rivaliza com Christopher Nolan. Em resumo, este é um filme interessante e digno, pelas razões citadas, mas Denis Villeneuve não é Ridley Scott... e Hans Zimmer não é Vangelis. Nunca serão. No futuro, caso esse filme seja lembrado, profetizo que será um parágrafo ou uma nota de rodapé em meio a capítulos inteiros sobre a genialidade e impacto cultural da obra-prima Blade Runner (e seus posteriores cortes "definitivos"), de 1982, dirigida por um jovem Ridley Scott no esplendor de seus poderes.
Esse filme surge em meus pensamentos todos os dias há quase 30 anos.
Só cresce, só melhora, só incomoda mais.
Custa um gênio como Paul Verhoeven para criar uma obra que nunca deixa de perturbar, indignar, instigar, seja por ódio, por inconveniência, por admiração.
Em respeito aos amigos, vou tentar escrever sobre essa porcaria desgraçada e fétida sem ofender a ninguém.
Reviravolta: até parece! Quem aceita uma palhaçada dessas tem que aguentar xingão mesmo! Depois a gente resolve a treta no boteco e tá tudo certo.
A primeira cena com cara de Evil Dead nesse lixo acontece aos exatos 80 minutos (!) de projeção e em seguida o filmeco acaba. Para chegar ao clímax bacaninha, é preciso aguentar uma hora e vinte minutos de personagens apáticos (não quis escrever "com cara de cu", oops!), ambientes falsamente mal iluminados, visual padronizado, trilha sonora genérica, ceninhas clicherentas de horror e susto para impressionar gente cuzona, ausência completa de humor e ironia e, pior do que tudo, uma historinha idiota sobre uma família despedaçada se reconciliando.
Ou seja: tudo nessa porcaria de quinta é literalmente oposto ao que Evil Dead surgiu representando. É quase tão imbecil quanto o moralismo da versão de 2013, que transformava o demônio num símbolo do vício em drogas que a protagonista babaca precisava derrotar (🤮🤮🤮). Aquele filme ao menos era divertido. Esse é uma verdadeira tortura, ao menos para quem se importa com a integridade artística da obra contracultural e anárquica que era Evil Dead.
"Ah, mas o filme tá fazendo o maior sucesso", dizem os punheteiros. Claro que está! O gênero do horror é o mais sociológico que existe. No caso do tempo disforme, sem estilo, sem criatividade e, acima de tudo, terrivelmente conservador em que vivemos, isso não é motivo para comemorações, mas para medo. E não o bom medo.
Realmente, esse deprimente Evil Dead Rise é a cara de 2023.
Permanece o filme definitivo sobre as dores da adolescência.
Inclusive, no ano retrasado foi incluído na lista dos 100 Maiores Filmes de Todos os Temos do American Film Institute, votada apenas por grandes membros da indústria cinematográfica.
Além do elenco inesquecível de ícones do Brat Pack, trilha sonora maravilhosa de synth pop oitentista, moda e comportamento que caracterizam a época, o filme tem um roteiro tão incomum quanto perfeito, evitando a maldição do plot para ser inteiramente conduzido pela atmosfera, as situações aparentemente triviais e os diálogos de extrema naturalidade, que aos poucos revelam as camadas por trás dos personagens aparentemente estereotipados.
John Hughes foi sem dúvida o cineasta que mergulhou mais fundo na mente e no coração do adolescente.
Relutei em falar sobre essa porcaria antes, por conta da histeria coletiva que se iniciou e não terminou desde a estreia.
Todo santo dia as páginas que deveriam falar sobre cinema estão comemorando os números de bilheteria de Pânico 6, com centenas de comentários que invariavelmente celebram o filme por ser "o mais brutal", "o mais violento", "o que tem mais ação". Ou seja, quase ninguém parece estar preocupado com o fato de que esse filme medíocre e padronizado literalmente subtrai toda a razão de ser da série (franquia é o lixo que você come no shopping, camarada!) Pânico.
Parece que o público e até os ditos críticos esqueceram que o clássico escrito por Kevin Williamson e dirigido pela lenda Wes Craven era uma sátira impiedosa sobre a alienação do público que cresceu assistindo a filmes de terror, terminando por culpar a própria cultura pop pela violência que essa juventude acaba promovendo, ao mesmo tempo em que usava de metalinguagem para transformar a vida da protagonista Sidney Prescott num autêntico filme de terror.
Lembram que Stu Macher morreu com a cabeça esmagada pela TV que exibia Halloween, de John Carpenter? Não é uma imagem simbólica?
E a parte 2? Começava mostrando o comportamento idiota e inconsequente do público que cultuava um filme sobre os acontecimentos do primeiro filme de maneira celebrativa e imponderada. Alienação era o tema novamente. No quarto, temos a ascenção das redes sociais e uma juventude capaz de cometer crimes em nome de popularidade, fama, fãs.
Pânico é (ou era) pura sociologia, na tradição de Craven, Carpenter, Hooper, Barker, os últimos grandes gênios do cinema de horror.
Agora é o quê? Nada. Um espetáculo aborrecido, sem carisma, personalidade ou inteligência, que não comunica nem significa nada. Um filme que inverte completamente a própria razão de ser do original.
Que o público o celebre justamente por ser assim poderia ser uma imensa decepção para Craven, se estivesse vivo para presenciar.
Ou não, já que prova o quanto ele estava certo a respeito de seus temores sociais expressados nos preciosos filmes que dirigiu.
Queria escapar da realidade por um momento e acabei tendo a melhor ideia possível: Resgatei meu antigo VHS dessa pira de cogumelo disfarçada de filme chamada Super Xuxa Contra Baixo Astral.
MANO.
É difícil analisar esse filme, viu?
Vejamos: tem aqui o conceito de dualidade, com o vilão interpretado por Guilherme Karan (genial até hoje no papel), tentando atrair Xuxa para as profundezas de um universo subterrâneo, a fim de impedir que ela contamine o mundo com sua positividade. Dessa vez ficou muito claro pra mim que ele faz isso invadindo o subconsciente dela, o que deixou a história UM POUCO menos bizarra. Em sua jornada sonial, Xuxa encontra um monte de seres encantados, cada um com alguma lição a ensinar. A lagarta Xixa fala sobre a reconstrução do olhar através de uma canção e ainda cita Lavoisier. A tartaruga centenária Vó Cascadura cita Lao Tsé e fala sobre como as palavras escritas nos livros são sementes a se plantar nas novas gerações para evoluir as ideias. O boto rosa lamenta a forma como o ser humano trata os animais e a natureza. Os pássaros ensinam o desapego dos bens materiais e cantam uma música sobre consumismo e ganância. Os capangas de Baixo Astral representam a corrupção policial. Um deles, Morcegão, obriga Xuxa a passar por diversos procedimentos para atravessar uma fronteira, enquanto ela canta uma canção chamada Burocracia. O outro, Titica, inspira a protagonista a cantar uma canção chamada Hey Machão (e o tema é bem esse que você pensou). Há ainda várias cenas que satirizam telejornais, criticam a política brasileira (PSDB é o alvo mais claro) e expõe a violência das guerras do mundo.
Xuxa se atrapalha com suas falas, mas carrega o filme todo com seu carisma. Os bonecos e cenários são precários em comparação às produções de Hollywood na época, mas os dubladores fazem um belo trabalho (Sandra de Sá é uma almofada falante!). As mais de 40 inserções de merchandising me fizeram rir pela aleatoriedade, mas seria impossível produzir um filme como esse de outra maneira no Brasil de 1988. Deliciosamente bizarro, parece um filme de ambições filosóficas típicas de hippies, em conflito com a obrigação de ser um produto da marca Xuxa.
Galera, papo reto: Não caiam no marketing barato e anacrônico dos filmes Terrifier 1 e 2. Além de esse papo de "o filme que faz as pessoas vomitarem no cinema" já estar saturado desde os anos 70, ambos esses filmes são um lixo completo. Juntos somam 4 horas de cenas de violência gratuitas, malfeitas e embaladas em duas demonstrações de completo amadorismo e falta de ambição artística. Não sou de dizer isso sobre nenhum filme, mas nesse caso suplico: Fujam!
Galera, papo reto: Não caiam no marketing barato e anacrônico dos filmes Terrifier 1 e 2. Além de esse papo de "o filme que faz as pessoas vomitarem no cinema" já estar saturado desde os anos 70, ambos esses filmes são um lixo completo. Juntos somam 4 horas de cenas de violência gratuitas, malfeitas e embaladas em duas demonstrações de completo amadorismo e falta de ambição artística. Não sou de dizer isso sobre nenhum filme, mas nesse caso suplico: Fujam!
Vamos brincar de desconstrução? Lá por 2019, eu alguns amigos que viviam comigo em Los Angeles resolvemos rever o amado - inclusive por mim - filme Segundas Intenções, que definiu tendências diversas no final dos anos 90.
Esse texto é para quem conhece o filme. Lembram da trama, certo? Os meio irmãos Sebastian e Katheryne se uniam para destruir reputações, usando como arma o sex appeal comum a ambos. Após toda a desgraça acontecer, no entanto, o diário de Sebastian, onde relatava tudo o que aconteceu, é impresso aos milhares de cópias e entregue a toda a sociedade que os envolvia. O filme ternina com Katheryne sendo julgada por todos, que têm em mãos o tal diário, enquanto Sebastian é absolvido. Os dois bolaram o plano e o executaram com equivalente crueldade, mas no fim a vilã que merece ser escorraçada da sociedade é Katheryne.
Sim, Segundas Intenções permanece tendo o fugurino, o elenco, a estética visual e a trilha sonora maravilhosa que definem os anos 90. Mas é também um dos filmes mais bizarramente machistas produzidos no período.
Vontade de comprar uma garrafa de Lambrusco e beber inteira assistindo a esse festival da desgraça chamado O Campeão, de Franco Zefirelli, com o intuito de desidratar a ponto de nunca mais ser capaz de chorar.
Reviravolta: já fiz exatamente isso, há uns dez anos, quando vivia em Curitiba. Funcionou, viu? Se o mérito foi do Lambrusco ou do mestre da manipulação Zefirelli, permanece um mistério.
Alguém Me Vigia
3.5 55Acabo de corrigir um de meus maiores pecados cinéfilos: nunca ter assistido ao telefilme Alguém Me Vigia, que o mestre supremo John Carpenter dirigiu pouco antes de lançar sua obra-prima definitiva, Halloween.
Justamente por ser um filme feito para TV (categoria que na época ainda era sinônimo de limitações estéticas e artísticas), o filme é menos conhecido e um pouco mais difícil de encontrar que os clássicos do príncipe das trevas. No entanto, sei desde sempre que este trabalho é tão amado pelos fãs hardcore de Carpenter quanto seus filmes mais populares.
Acabo de assistir e já posso me incluir entre eles.
Antes de o filme completar trinta segundos de duração, Carpenter já trasforma o ambiente externo à ação principal em um lugar ameaçador. Sua câmera, sempre em movimento, parece perseguir os personagens como se incorporasse seus temores, até os invisíveis, internalizados. Os interiores são tão ameaçadores quando a selva de pedra. Um apartamento aconchegante e bem decorado é o lugar mais sufocante do mundo. Um jantar a dois parece ser a situação mais solitária possível, para ambos os envolvidos.
Tudo isso já era obtido, lá atrás, pelas exatas características que viriam a transformar John Carpenter em uma das maiores referências para estudantes e aspirantes a cineastas de gênero até hoje. Os enquadramentos minuciosos, mas que existem em função do movimento, da narrativa, nunca chamando atenção para si mesmos. Os movimentos de câmera que transformam a espacialidade em sensação, nos aproximando dos personagens sem a necessidade de didatismos. O uso minucioso da música para indicar presenças, ausências, dúvidas, inseguranças.
Há claras e até escancaradas referências a Alfred Hitchcock aqui. O velho ranzinza que fez os melhores filmes de suspense de todos os tempos é certamente uma das razões pelas quais John Carpenter desenvolveu tamanho domínio da linguagem cinematográfica. Um filme como este que terminei de assistir há uns 15 minutos e ainda estou completamente eletrizado, no entanto, não poderia ter sido realizado por nenhum outro cineasta além de John Carpenter. Tá aí a própria definição de cinema autoral.
Genial.
Sempre.
#JohnCarpenter
Isolamento Mortal
3.3 195 Assista AgoraRAPAZ!
Meu interesse por Sick, de John Hyams, era exclusivamente o fato de que o filme trouxe o icônico roteirista Kevin Williamson de volta a sua grande paixão: o gênero slasher movie. Ainda assim, relutei em me aventurar, pelo fato de que o último grande trabalho de Williamson no gênero foi Pânico 4, de Wes Craven, há mais de dez anos.
Agora estou muito feliz por ter interrompido a procrastinação.
Sick, como quase todos os filmes escritos por Kevin Williamson, retrabalha as convenções básica do horror para esconder um subtexto sociocultural, no caso a paranoia generalizada que a pandemia de Covid 19 desencadeou.
Após a ótima abertura, achei que o filme seria uma enorme decepção, por conta de uns 20 minutos de conversas aparentemente inúteis. Calma: é Kevin Williamson. A recompensa virá.
A partir do momento em que o filme engata, torna-se uma experiência eletrizante como há um bom tempo eu não vivia com um filme desse tipo. Situações que já vimos diversas vezes são apresentadas de maneira notoriamente eficiente, cortesia não apenas do roteiro, mas do excelente diretor John Hyams (guardem esse nome: o cara é fera!).
Tomei meia dúzia de sustos (é raro, sou vacinado #semtrocadilhos), fiquei tenso em várias cenas e soltei até uns gritinhos (não espalhem).
Aí vem o terceiro ato.
Mesmo com todas as atrocidades apresentadas, sorri quase o tempo todo durante a resolução. Estão lá todas as principais qualidades de Kevin Williamson como criador de histórias de apelo popular que, ironicamente, apontam suas críticas para o próprio público que ele tanto sabe agradar.
Sarcástico, impiedoso, ambíguo, o filme termina com uma cena que provavelmente ficará eternamente gravada na minha memória. Um final seco, sem adendos, que sem nada verbalizar deixa abertos alguns questionamentos morais que não queremos sequer considerar.
A única certeza é a de que os doentes do tíulo (Sick) somos todos nós.
PS: a distribuidora brasileira não ajudou ninguém a interpretar o substexto do filme ao batizá-lo de "Isolamento Mortal". Triste.
#Sick #KevinWilliamson #FilmesDeTerror #Cinema
Feriado Sangrento
3.1 402"O que você tem a agradecer?"
A frase que define o conceito básico do feriado americano de Ação de Graças é pronunciada várias vezes durante Thanksgiving (que obviamente ganhou um título picareta em português que sequer mencionarei), novo filme de Eli Roth. O filme de fato faz com que a insistência em tal questionamento faça muito sentido.
Baseado num dos trailers falsos exibidos em Grindhouse, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, o filme de Roth consegue ser bem mais que uma mera brincadeira, embora trate-se de uma escancarada sátira do american way of life, assumidamente cartunesca e cafona.
A abertura é genial: uma cena tensa, assustadora, repugnante, onde ao invés de monstros, zumbis e assassinos, temos um bando de consumidores descontrolados agredindo uns aos outros numa loja de departamentos, durante uma black friday. A confusão acaba em morte e desencadeia o misterioso plano de vingança de um assassino implacável. É uma empolgante inversão do conceito de vítima e vilão, que permeará o filme até o fim.
A partir daí, pérolas não param de se enfileirar. A tela do celular suja demais de sangue para servir como meio de pedir ajuda; o rosto da patricinha se confundindo com os de dezenas de manequins enquanto o assassino tenta cortar-lhe o pescoço com um machado; as crianças assistindo alegremente a rituais violentos; o personagem que grita "Sou um guarda de segurança! Mato pessoas todos os dias!" para afrontar o assassino e uma impagável cena com um autêntico roqueiro reaça expulsando de uma festa um moleque que perguntou "Quem é Black Sabath?" (rachei!).
Capicce? O filme desconstroi a imagem de controle e segurança da sociedade norte americana através da associação entre a cultura do consumo e a banalização da violência.
"Prepare-se para viralizar. Você vai quebrar a internet! Olha só quantos likes!"
O filme joga na nossa cara o quanto os confortos oferecidos pela sociedade do consumo nos anestesiam diante da violência enraizada nessa sociedade.
Um filme extremamente divertido, feito por um fã de horror para fãs de horror.
Especialmente os que compreendem o gênero como um reflexo das doenças sociais.
#Thanksgiving
A Freira 2
2.6 424 Assista AgoraTá.
Deixa o tio pensar no que dizer sobre A Freira 2...
Já sei:
QUE BOSTA DO KRL É ESSA?
Na boa, um filme como esse só tem duas funções:
1. Assustar crianças, debiloides, paumoles e gente que em 2023 ainda acredita em milagres, tem medo de demônios chifrudos, pensa que objetos benzidos vão espantar o mal e que rezas vão destruir o "inimigo".
2. Reforçar todas as ideias mais erradas e nocivas a respeito do cristianismo, da igreja católica, do papel histórico das mulheres e, principalmente, das religiões pré-cristãs.
Não bastando, é um filme francamente medíocre de um ponto de vista estético e narrativo.
O primeiro A Freira, outra porcaria, ao menos tinha a vantagem de ser hilário (eu e a Jess Zoto assistimos em Los Angeles e tivemos que fazer um esforço descomunal para não explodir em gargalhadas na cena em que a protagonista mocoronga literalmente cospe o sangue de cristo na cara do bicho feio!).
Insuportável, inútil enquanto cinema e um desserviço enquanto instrumento de comunicação.
#AFreira2
O Exorcista: O Devoto
2.1 404 Assista AgoraPelo amor de John Carpenter (Nesse eu acredito!):
Que filme bunda!
Havia prometido a mim mesmo não me submeter a essa sessão de tortura voluntária (ao contrário das praticadas durante séculos por certa instituição sagrada) mas, como bom gato que sou, a curiosidade me matou. #rimas
O começo até engana, mas lá pelos 40 minutos de projeção eu já tinha me cagado de rir das ceninhas de horror porcamente encenadas, editadas e atuadas. Os sustinhos dignos do Castelo dos Horrores do Playcenter foram hilários também. Então chega uma creiça que quer salvar as possuidas (sempre meninas, né?) para compensar seu trauma por ter cometido um aborto no passado (!!!!). Depois dessa tosquice, a ladeira nunca mostra onde vai terminar.
Lá pelo meio, achei que a pior característica desse pedaço de esterco mole foi trazer de volta a lendária Ellen Burstyn como a mãe de Regan (a possuída do filme original, caso exista alguém que não sabe o nome dela), para retratar a coitada como uma idiota que ganhou um dinheirão escrevendo um livro sobre as experiências que passou. O livro, aliás, com certeza é uma merda de braquiossauro, já que a creiça só abre a boca pra proferir frasezinhas de autoajuda que poderiam ter sido escritas por Rhonda Byrne, Paulo Coelho, Augusto Cury, esse pessoal aí. Pra completar, o desfecho dado à personagem é tão deprimente quanto o de Sally Harding na última profanação de O Massacre da Serra Elétrica.
Depois disso o filme realmente fica assustador: a completa falta de criatividade, comprometimento e respeito pelo material original é apavorante. Sem comentários para o falso progressismo, como apontaria Zizek: outras religiões são supostamente "respeitadas" nessa farofagem, mas todo o mal aqui é obra "do demônio" e toda a solução é o deus cristão (e Jesus, claro, que é citado 666 vezes).
Os minutos finais foram literalmente o maior martírio que passei com um filme nos últimos anos.Todo o significado filosófico e sociocultural de O Exorcista deu lugar a uma historinha moralista e doutrinária que poderia ser contada no DVD de lobotomização infantil da Ana Paula Valadão.
Nota zero porque se der menos vou pro inferno por ser maldoso demais.
#OExorcistaODevoto
A.I. Inteligência Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraOntem revi essa obra-prima acompanhado da Grasy Schmitt
Senhor!
Tenho certeza de que esse texto resultará pobre, diante de todas as discussões que esse extraordinário trabalho de Steven Spielberg levanta.
Há a vontade humana de substituir suas faltas por uma imitação de si mesmo. Há, mais do que tudo, o dilema ético de se obrigar uma criatura a nos servir, inclusive afetivamente, independentemente de nossa capacidade de retribuir a esse ser o que ele nos oferece.
Para mim, as cenas mais impactantes são aquelas que ilustram um show de entretenimento em que robôs são trucidados para o deleite de um público ensandecido. É evidente a intenção de Spielberg em fazer um paralelo com a maneira como tratamos os animais, os seres que julgamos interiores, que estão aqui para nos servir e entreter. A cena toda claramente emula um maldito evento de rodeios, onde o ser humano demonstra sua faceta mais bestial ao se regozijar com a tortura pública de animais indefesos.
O final, no entanto, permanece devastador. Os simplistas gostam de acusar Spielberg de ser um sentimentalista. Não, meus caros. Ele criou um final que me destrói justamente por ser uma das manifestações artísticas mais pessimistas, trágicas de todos os tempos. A única maneira de o robozinho David viver seu sonho de ser amado por sua mãe é através de uma simulação, tão artificial quanto ele, que durará apenas um dia.
Abram seus olhos!
Steven Spielberg é um mestre absoluto do cinema, mas seus filmes frequentemente circulam do território da ambiguidade, da dúvida e do desconforto.
Obra-prima.
#AIArtificialInteligence #StevenSpielberg #InteligênciaArtificial
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 494Comédias compõem um gênero difícil pra mim. Como escrevi em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia, não as busco. Elas surgem na minha vida, algumas vezes para ficar.
Foi o caso de Que Horas eu Te Pego, de Gene Stupnitski. Confesso que busquei o filme por conta da repercussão gigantesca da performance de Jennifer Lawrence. Não era em vão: ela está estupenda, perfeita no papel da garota mais comum do mundo, a ferrada que faz qualquer coisa para não perder sua casa por falta de pagamento da hipoteca (um assunto sério, espertamente abordado pelo roteiro).
Há cenas em que basicamente vemos ela se metendo em alguma enrascada, mas a atriz consegue iluminar o quadro e arrancar gargalhadas com uma simples levantada de sobrancelha. Sua interação com o novato Andrew Barth Feldman, no entanto, é a chave do encanto do filme. Uma vitória inequívoca de casting: o moleque é sensacional, de um carisma apaixonante, retratando com naturalidade a transformação de um personagem aprisionado em si mesmo num garoto que exala liberdade e autoconfiança.
O roteiro de Stupnitski e John Phillips é outro achado. Partindo das convenções básicas da comédia romântica, criam uma série de situações curiosas, que sempre soam triviais, palpáveis. As alfinetadas à geração das redes sociais e do "cancelamento" são deliciosas, bem como as observações sobre o pessoal que chegou aos 40 e não conquistou nada do que a sociedade decidiu que deveriam.
Ao contrário do que se espera desse tipo de filme, não há a redenção fantasiosa, que resolve tudo com conversas e abraços. O final não é feliz, nem triste. É o que tinha que ser.
Lindíssimo. Uma surpresa que pretendo revisitar e o farei com um sorriso estampado no rosto.
#QueHorasEuTePego #NoHardFeelings #Cinema
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraÉ engraçado que a história simples e direta não torne fácil escrever sobre esse filme. Eu mesmo, horas após a sessão, ainda não havia absorvido direito a experiência. Estava um pouco chocado, para ser sincero. A única certeza é a de que Avatar - Caminho da Água é um filme especial e importante.
Vejamos, em plena era digital, com o ser humano notoriamente tornando-se mais impaciente, apático, cínico, além de escravo de narrativas rápidas e verborrágicas, James Cameron retornou de um longo hiato com uma narrativa de três horas e narrada predominantemente em linguagem visual. Seu filme nos desafia a contemplar a beleza, nos emocionar com a poesia e acompanhar pacientemente duas horas de apresentação dos personagens e suas relações, para só depois termos a recompensa do clímax (diga-se de passagem, o mais apoteótico da carreira do diretor). O resultado? Uma das experiências mais hipnóticas, quase lisérgicas, que lembro de ter vivido.
Quem viu em casa, não perca os óbvios relançamentos nas grandes telas: o próprio propósito primário do filme é nos lembrar de que há experiências que só podem ser vividas numa sala de cinema. Com suas inimitáveis habilidades, Cameron entra no clube de Meliés, Grifith, Lang, Selznick, Capra, DeMille, Lean e Spielberg, os artistas que levaram o povo em massa aos cinemas para sonhar um sonho coletivo, se expurgar, lavar a alma, como aconteceu comigo na sessão de pré-estreia de Avatar - O Caminho da Água.
Cinema é isso.
#AvatarTheWayOfWater #Avatar #JamesCameron #Cinema
THX 1138
3.5 200 Assista AgoraO belíssimo THX 1138, primeiro filme de George Lucas, não se parece com nada do que ele fez posteriormente. O filme até toca em temas que Lucas exploraria novamente em Star Wars, como o totalitarismo e a rebeldia contra o sistema, mas num tom muito diferente. Lento, contemplativo e triste, THX 1138 acompanha os moradores de uma imensa cidade subterrânea onde é proibido amar, fazer sexo, tomar decisões por conta própria ou seguir alguma religião que não seja a dominante. É um contexto que certamente se beneficia das grandes criações de Audous Huxley e George Orwell quanto à temática, porém me parece extremamente original na maneira como materializa esse universo na tela.
O filme todo é lindo, mas há momentos especialmente marcantes. Um é a cena em que o protagonista THX, vivido por Robert Duvall, entra em uma espécie de confessionário para pedir perdão por seu medo de “sentimentos inapropriados” que parecem estar aflorando, especialmente seu amor por LUH, personagem de Maggie McComie. A enorme imagem de um rosto (retirado de Christ Giving His Blessing, tela de Hans Memling, de 1478), cujos olhos sem vida o encaram, estampa as paredes, fazendo com que a entidade a quem ele pensa dirigir-se se iguale ao poder que o controla. Somando isso à voz robótica que responde seus questionamentos com frases prontas – literalmente –, a cena claramente compara a religião ao Estado que manipula os personagens.
Seus nomes, aliás, simbolizam conceitos fundamentais para que o controle seja mantido. Quando pronunciado em inglês, THX lembra SEX (sexo), LUH lembra LOVE (amor) e SEN (personagem de Donald Pleasance) lembra SIN (pecado). O amor e o sexo devem ser “banidos”, pois o pecado precisa“existir”e sertemido/punido.Em outro momento o protagonista, condenado por seus pensamentos proibidos, é aprisionado num espaço onde o branco parece infinito, por mais que se tente fugir. É uma das mais aterradoras visões de uma prisão que já presenciei. Outra imagem recorrente e bastante sugestiva é a dos policiais sem rosto, todos iguais, como se fossem meras máquinas programadas para servir ao sistema. Há ainda o epílogo, com a fuga de THX para a superfície. O imenso sol que ilumina um “nada” de proporções infinitas é a falsa redenção que encerra o filme em irônico pessimismo.
Show Bar
3.1 489 Assista AgoraBicho!
Eu e a grande comentarista cultural e modal @grasyschmitt acabamos de rever a gloriosa porcaria Show Bar, por motivos de "vamo ver alguma coisa que nos tire da realidade."
E não é que agora, mais de vinte anos depois, ficou muito claro que a função desse filme é exatamente essa?
Vamos lá: mitos, lendas, contos de fadas, causos e whatever sempre tiveram a função de moralizar. E que moral é essa? Oras, a dos donos do mundo, inocente!
Show Bar (que se chama Coyote Ugly, nome do bar do título e que tem em Coyote o signo que representa as meninas "livres" da história, mas que a distribuidora brasileira picareta resolveu associar a Showgirls, de Paul Verhoeven, obra completamente oposta a essa em todos os sentidos), começa com a pobre coitada Violet (own 🥰), que teve o azar de nascer em New Jersey, convencendo o pai (um claro republicano que votou em George W. Bush Junior) de que ela deve ir para New York ser a nova (insira aqui alguém que fez sucesso de maneira complemente diferente).
O papai reluta, mas logo cede. Ele é americano, né? Na cena em que se despedem, uma bandeira americana, triunfante, passa quase um minuto posicionada no ponto mais estratégico do quadro (quem estudou cinema, publicidade ou comunicação em geral sabe muito bem que truque é esse). Então ela vai a New York e, NOSSA! Que sortuda! Tem umas dez cenas seguidas em que ela parede estar com os dias contados e alguém a ajuda, ou ela vence por seus talentos.
Na cena em que ela, pela primeira vez, mostra todo seu potencial, adivinha o que aparece durante quatro minutos atrás dela? OITO bandeiras americanas penduradas na parede do bar, entrecortadas por uma mensagem de liberdade escrita em... azul e vermelho.
Seu pai e seu namoradinho imbecil a humilham por ser "a garota que seduz homens para vender bebida", mas ela jamais os questiona e ambos terminam devidamente absolvidos.
Violet triunfa tão facilmente e tão rapidamente que a maior cantora de country rock da época, LeeAnne Rimes vai ao próprio Coyote Ugly cantar a canção que ela compôs.
E no fim ela termina beijando apaixonadamente seu namoradinho misógino, afinal, é só um filme, né?
A indústria cultural sempre vence.
#ShowBar
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraIncrível como é fácil enganar as pessoas com discursos ardilosamente ambíguos. A abordagem supostamente autorreflexiva do filme não passa de um truque dos mais chulos. A mesma boneca símbolo de segregação social entre crianças, do padrão eurocentrista de beleza e de surtos de anorexia, bulimia e disformia corporal é o produto que está sendo vendido por esse anúncio publicitário travestido de filme. Não há transgressão alguma aqui, apenas a manutenção do status quo por vias um pouco mais espertas.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraÀs vezes até cogito me submeter à tortura voluntária de rever Dançando no Escuro, mas aí lembro que quase tive uma síncope na primeira e única vez que vi e desisto.
Não sei se tenho preparo psicológico pra passar por isso de novo.
Von Trier, tu é um sádico!
Obrigado por isso.
🥺
#DançandoNoEscuro #DancerInTheDark #Björk #LarsVonTrier #Cinema
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraQual era mesmo o nome daquele filme sobre um revolucionário que queria libertar um povo africano e honrar a história de seus antepassados que foram escravizados durante séculos, mas acabou morto por um fdp capitalista que leva uma ONG para o local, perpetuando o status quo, mas saindo da história como heroi humanitário?
Ah, lembrei:
Era Pantera Negra.
Até hoje ouço ecos do quack quack dos patos que caíram nesse truque baixo e ardiloso.
#BlackPanther #PanteraNegra #Kikmonger #IndústriaCultural #PropagandaIdeológica #Neoliberalismo #Marvel #CulturaPop #Cinema
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraVamos brincar de ser realistas? Blade Runner 2049 fez um excelente trabalho visualmente, cortesia da produção luxuosa, da fotografia do grande Roger Deakins e do talento de Denis Villeneuve para a criação de imagens plasticamente belas (foco no plástico!), mas todos os defeitos deste último citado estão lá também, com destaque para o didatismo, a necessidade de backgrounds explicativos, que só rivaliza com Christopher Nolan. Em resumo, este é um filme interessante e digno, pelas razões citadas, mas Denis Villeneuve não é Ridley Scott... e Hans Zimmer não é Vangelis. Nunca serão. No futuro, caso esse filme seja lembrado, profetizo que será um parágrafo ou uma nota de rodapé em meio a capítulos inteiros sobre a genialidade e impacto cultural da obra-prima Blade Runner (e seus posteriores cortes "definitivos"), de 1982, dirigida por um jovem Ridley Scott no esplendor de seus poderes.
#BladeRunner #RidleyScott #Cinema
Showgirls
3.0 210 Assista AgoraEsse filme surge em meus pensamentos todos os dias há quase 30 anos.
Só cresce, só melhora, só incomoda mais.
Custa um gênio como Paul Verhoeven para criar uma obra que nunca deixa de perturbar, indignar, instigar, seja por ódio, por inconveniência, por admiração.
❤️
#Showgirls #PaulVerhoeven #Cinema
A Morte do Demônio: A Ascensão
3.3 817 Assista AgoraEm respeito aos amigos, vou tentar escrever sobre essa porcaria desgraçada e fétida sem ofender a ninguém.
Reviravolta: até parece! Quem aceita uma palhaçada dessas tem que aguentar xingão mesmo! Depois a gente resolve a treta no boteco e tá tudo certo.
A primeira cena com cara de Evil Dead nesse lixo acontece aos exatos 80 minutos (!) de projeção e em seguida o filmeco acaba. Para chegar ao clímax bacaninha, é preciso aguentar uma hora e vinte minutos de personagens apáticos (não quis escrever "com cara de cu", oops!), ambientes falsamente mal iluminados, visual padronizado, trilha sonora genérica, ceninhas clicherentas de horror e susto para impressionar gente cuzona, ausência completa de humor e ironia e, pior do que tudo, uma historinha idiota sobre uma família despedaçada se reconciliando.
Ou seja: tudo nessa porcaria de quinta é literalmente oposto ao que Evil Dead surgiu representando. É quase tão imbecil quanto o moralismo da versão de 2013, que transformava o demônio num símbolo do vício em drogas que a protagonista babaca precisava derrotar (🤮🤮🤮). Aquele filme ao menos era divertido. Esse é uma verdadeira tortura, ao menos para quem se importa com a integridade artística da obra contracultural e anárquica que era Evil Dead.
"Ah, mas o filme tá fazendo o maior sucesso", dizem os punheteiros. Claro que está! O gênero do horror é o mais sociológico que existe. No caso do tempo disforme, sem estilo, sem criatividade e, acima de tudo, terrivelmente conservador em que vivemos, isso não é motivo para comemorações, mas para medo. E não o bom medo.
Realmente, esse deprimente Evil Dead Rise é a cara de 2023.
Onde está Ash Williams quando precisamos dele?
🤦♂️
#EvilDeadRise #AMorteDoDemônio #FilmesdeTerror #CulturaPop #Cinema
Clube dos Cinco
4.2 2,6K Assista AgoraPermanece o filme definitivo sobre as dores da adolescência.
Inclusive, no ano retrasado foi incluído na lista dos 100 Maiores Filmes de Todos os Temos do American Film Institute, votada apenas por grandes membros da indústria cinematográfica.
Além do elenco inesquecível de ícones do Brat Pack, trilha sonora maravilhosa de synth pop oitentista, moda e comportamento que caracterizam a época, o filme tem um roteiro tão incomum quanto perfeito, evitando a maldição do plot para ser inteiramente conduzido pela atmosfera, as situações aparentemente triviais e os diálogos de extrema naturalidade, que aos poucos revelam as camadas por trás dos personagens aparentemente estereotipados.
John Hughes foi sem dúvida o cineasta que mergulhou mais fundo na mente e no coração do adolescente.
Todos os adolescentes.
❤️
#OClubeDosCinco #JohnHughes #AFI #BratPack #Anos80 #Cinema
Pânico VI
3.5 798 Assista AgoraRelutei em falar sobre essa porcaria antes, por conta da histeria coletiva que se iniciou e não terminou desde a estreia.
Todo santo dia as páginas que deveriam falar sobre cinema estão comemorando os números de bilheteria de Pânico 6, com centenas de comentários que invariavelmente celebram o filme por ser "o mais brutal", "o mais violento", "o que tem mais ação". Ou seja, quase ninguém parece estar preocupado com o fato de que esse filme medíocre e padronizado literalmente subtrai toda a razão de ser da série (franquia é o lixo que você come no shopping, camarada!) Pânico.
Parece que o público e até os ditos críticos esqueceram que o clássico escrito por Kevin Williamson e dirigido pela lenda Wes Craven era uma sátira impiedosa sobre a alienação do público que cresceu assistindo a filmes de terror, terminando por culpar a própria cultura pop pela violência que essa juventude acaba promovendo, ao mesmo tempo em que usava de metalinguagem para transformar a vida da protagonista Sidney Prescott num autêntico filme de terror.
Lembram que Stu Macher morreu com a cabeça esmagada pela TV que exibia Halloween, de John Carpenter? Não é uma imagem simbólica?
E a parte 2? Começava mostrando o comportamento idiota e inconsequente do público que cultuava um filme sobre os acontecimentos do primeiro filme de maneira celebrativa e imponderada. Alienação era o tema novamente. No quarto, temos a ascenção das redes sociais e uma juventude capaz de cometer crimes em nome de popularidade, fama, fãs.
Pânico é (ou era) pura sociologia, na tradição de Craven, Carpenter, Hooper, Barker, os últimos grandes gênios do cinema de horror.
Agora é o quê? Nada. Um espetáculo aborrecido, sem carisma, personalidade ou inteligência, que não comunica nem significa nada. Um filme que inverte completamente a própria razão de ser do original.
Que o público o celebre justamente por ser assim poderia ser uma imensa decepção para Craven, se estivesse vivo para presenciar.
Ou não, já que prova o quanto ele estava certo a respeito de seus temores sociais expressados nos preciosos filmes que dirigiu.
Nota zero com toda a veemência.
#Pânico6 #WesCraven #FilmesdeTerror
Super Xuxa contra Baixo Astral
2.7 529 Assista AgoraQueria escapar da realidade por um momento e acabei tendo a melhor ideia possível: Resgatei meu antigo VHS dessa pira de cogumelo disfarçada de filme chamada Super Xuxa Contra Baixo Astral.
MANO.
É difícil analisar esse filme, viu?
Vejamos: tem aqui o conceito de dualidade, com o vilão interpretado por Guilherme Karan (genial até hoje no papel), tentando atrair Xuxa para as profundezas de um universo subterrâneo, a fim de impedir que ela contamine o mundo com sua positividade. Dessa vez ficou muito claro pra mim que ele faz isso invadindo o subconsciente dela, o que deixou a história UM POUCO menos bizarra. Em sua jornada sonial, Xuxa encontra um monte de seres encantados, cada um com alguma lição a ensinar. A lagarta Xixa fala sobre a reconstrução do olhar através de uma canção e ainda cita Lavoisier. A tartaruga centenária Vó Cascadura cita Lao Tsé e fala sobre como as palavras escritas nos livros são sementes a se plantar nas novas gerações para evoluir as ideias. O boto rosa lamenta a forma como o ser humano trata os animais e a natureza. Os pássaros ensinam o desapego dos bens materiais e cantam uma música sobre consumismo e ganância. Os capangas de Baixo Astral representam a corrupção policial. Um deles, Morcegão, obriga Xuxa a passar por diversos procedimentos para atravessar uma fronteira, enquanto ela canta uma canção chamada Burocracia. O outro, Titica, inspira a protagonista a cantar uma canção chamada Hey Machão (e o tema é bem esse que você pensou). Há ainda várias cenas que satirizam telejornais, criticam a política brasileira (PSDB é o alvo mais claro) e expõe a violência das guerras do mundo.
Xuxa se atrapalha com suas falas, mas carrega o filme todo com seu carisma. Os bonecos e cenários são precários em comparação às produções de Hollywood na época, mas os dubladores fazem um belo trabalho (Sandra de Sá é uma almofada falante!). As mais de 40 inserções de merchandising me fizeram rir pela aleatoriedade, mas seria impossível produzir um filme como esse de outra maneira no Brasil de 1988. Deliciosamente bizarro, parece um filme de ambições filosóficas típicas de hippies, em conflito com a obrigação de ser um produto da marca Xuxa.
#Xuxa
Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois
4.1 335 Assista AgoraVira e mexe lembro desse filme e penso em como a felicidade é traiçoeira, por mais irônico que isso pareça.
Ela se manifesta grandiosa, explosiva, mas se esvai numa fração de segundo, sem aviso, sem alarde.
Você pode se lembrar eternamente daquele momento em que foi feliz, mas jamais o viverá novamente.
Que filme devastador.
#JuleseJim #FrançoisTruffaut #Cinema
Aterrorizante 2
2.9 423 Assista AgoraGalera, papo reto:
Não caiam no marketing barato e anacrônico dos filmes Terrifier 1 e 2.
Além de esse papo de "o filme que faz as pessoas vomitarem no cinema" já estar saturado desde os anos 70, ambos esses filmes são um lixo completo.
Juntos somam 4 horas de cenas de violência gratuitas, malfeitas e embaladas em duas demonstrações de completo amadorismo e falta de ambição artística.
Não sou de dizer isso sobre nenhum filme, mas nesse caso suplico:
Fujam!
Aterrorizante
2.9 455 Assista AgoraGalera, papo reto:
Não caiam no marketing barato e anacrônico dos filmes Terrifier 1 e 2.
Além de esse papo de "o filme que faz as pessoas vomitarem no cinema" já estar saturado desde os anos 70, ambos esses filmes são um lixo completo.
Juntos somam 4 horas de cenas de violência gratuitas, malfeitas e embaladas em duas demonstrações de completo amadorismo e falta de ambição artística.
Não sou de dizer isso sobre nenhum filme, mas nesse caso suplico:
Fujam!
Segundas Intenções
3.6 1,1KVamos brincar de desconstrução?
Lá por 2019, eu alguns amigos que viviam comigo em Los Angeles resolvemos rever o amado - inclusive por mim - filme Segundas Intenções, que definiu tendências diversas no final dos anos 90.
Esse texto é para quem conhece o filme. Lembram da trama, certo? Os meio irmãos Sebastian e Katheryne se uniam para destruir reputações, usando como arma o sex appeal comum a ambos. Após toda a desgraça acontecer, no entanto, o diário de Sebastian, onde relatava tudo o que aconteceu, é impresso aos milhares de cópias e entregue a toda a sociedade que os envolvia. O filme ternina com Katheryne sendo julgada por todos, que têm em mãos o tal diário, enquanto Sebastian é absolvido. Os dois bolaram o plano e o executaram com equivalente crueldade, mas no fim a vilã que merece ser escorraçada da sociedade é Katheryne.
Sim, Segundas Intenções permanece tendo o fugurino, o elenco, a estética visual e a trilha sonora maravilhosa que definem os anos 90. Mas é também um dos filmes mais bizarramente machistas produzidos no período.
De nada.
O Campeão
4.0 215 Assista AgoraVontade de comprar uma garrafa de Lambrusco e beber inteira assistindo a esse festival da desgraça chamado O Campeão, de Franco Zefirelli, com o intuito de desidratar a ponto de nunca mais ser capaz de chorar.
Reviravolta: já fiz exatamente isso, há uns dez anos, quando vivia em Curitiba. Funcionou, viu? Se o mérito foi do Lambrusco ou do mestre da manipulação Zefirelli, permanece um mistério.