É impossível assistir a “Nomadland” e não perceber que a diretora e roteirista Chloé Zhao entende do que está falando: mais do que entender, temos aqui uma direção que compreende como as injustiças sociais afetam sujeitos em suas esferas pessoais. É um filme consciente das falhas do sistema neoliberal e que consegue retratar bem o grupo de marginalizados criados por essa ideologia. Aliado à sensível e verdadeira atuação de Frances McDormand - sem duvidas uma das melhores atrizes americanas hoje - o sensível roteiro faz o espectador “sentir muito” pela situação crítica em que vive sua protagonista e as pessoas que vagam ao seu redor.
Porém, talvez a coisa que mais falta em “Nomadland” seja uma posição mais clara sobre o tema que está tratando. De fato, é algo que tem sido cada vez mais comum no cinema americano: o filme que retrata temas sociais, que parece compreende a urgência do debate sobre o tema, mas que empalidece sob a escolha consciente de um filtro menos “politizado” e mais “neutro” sobre as questões sociais abordadas. De forma consciente, “Nomadland” opta por um caminho frio e não tão corajoso que não fornece algo além de um verdadeiro retrato sob a classe mais baixa do proletariado norte-americano, mas que jamais deixa claro sua posição como filme além desse retrato social - algo que feito tantas vezes por outros bons filmes que o cinema já produziu. Dada a emergência da temática e a consciência de seu roteiro, esperava um filme mais político - e sim, não há nada de errado em ser “político” no cinema, principalmente em momentos onde um certo posicionamento é necessário.
Mesmo sendo um filme que constrói um realismo muito convincente e traz excelentes e verdadeiras interpretações, “Nomadland” soa relativamente morno diante da realidade crua que vivemos. E como parece um filme relativamente neutro em suas denúncias, assistir apenas à sua “realidade” se revela muito menos real do que o simples exercício de andar, por exemplo, pelas ruas de São Paulo, Nova York ou Londres e observar a vida de pessoas em situação de rua.
Um filme bom pode ser um filme simples - assim como uma boa vida pode também ser caracterizada pela simplicidade. Essa é a melhor forma que posso definir o novo filme da Pixar, “Soul”.
“Soul” pra mim representa uma ruptura na história da Pixar, não completamente do nada, mas algo que vem sido criado desde “Divertida Mente”. Uma ruptura entre um tipo de cinema infantil - também voltado para adultos - para um cinema adulto também voltado para crianças.
Não que isso seja necessariamente algo positivo em sua essencia. Porém, ao lidar com temas que iam desde emoções humanas (Divertidade mente) à preservação da memória dos que já se foram (Coco), a Pixar vinha se destacando como um estúdio que parece pensar sim no público infantil mas que cada vez mais ponta seus roteiros para um público mais adulto - e que preserva a qualidade presente desde o início em suas histórias. Porém “Soul” pra mim está num outro nível disso: todo o filme está involto em uma abordagem impressiona pela ousadia - e por mais que o seu roteiro possa soar previsível algumas vezes, a Pixar sempre consegue surpreender trazendo ideias que quando não são hiper originais são extremamente bem contadas - e contadas aqui com uma roupagem nova, com uma cara quase de cinema live-action. Roteiro aliás que mesmo se entregando a fórmulas no início, traz aquele que é pra mim o único final aberto da Pixar desde “Monstros SA”. E que final.
É uma animação até mesmo contida emocionalmente - algo não comumente visto pelo estúdio. Parece que a valorização da simplicidade pelo roteiro é transmitida pela direção que é a mais simples e relaxada possível - alguns breves momentos remetem até mesmo a “2001 - uma odisseia no espaço” - sim, acreditem. A animação impressiona tecnicamente pelo nível de detalhe, pelo movimento das mãos dos personagens e pela incrível mistura de 2D e 3D. É lindo também como nos momentos em que os personagens estão na Terra, podemos perceber a profundidade de campo reduzida, dando um aspecto muito mais de cinema live-action e que impressiona pelo seu tamanho realismo.
A trilha sonora é genial, sem duvidas deve concorrer ao Oscar. A utilização de dois tipos de músicas diferentes fazem um serviço a narrativa que faz o espectador compreender perfeitamente a diferença entre o mundo das almas e ao mundo como nós humanos conhecemos. É um trabalho sonoramente inventivo na história da Pixar, sem dúvidas.
Eu estava esperando meio receoso, com medo da repetição da temática que já foi abordada pela produtora antes. Porém fui positivamente surpreendido. Realmente, a maneira como a história é contada aqui - principalmente pela sua simplicidade - me emocionaram profundamente. É realmente incrível ver um estúdio que mesmo seguindo uma fórmula narrativa, consegue a cada filme trazer um frescor novo e se reinventar.
Vamos combinar: o namorado da Anne Hathaway é a única pessoa consciente e normal nesse filme. Roteiro que relativiza absolutamente tudo em nome da meritocratica: desde atropelamento a abusos psicológicos dentro do ambiente profissional. A abordagem do filme é extremamente problemática ao ponto de termos imediatamente após uma cena de atropelamento - causada pelo estresse do trabalho - uma trilha sonora de comédia, que tenta relativizar a quase morte de uma pessoa em nome de um “lugar onde muitas pessoas dariam a vida para estar”.
A Miranda só consegue se tornar uma figura emblemática pela inesquecível interpretação da Meryl Streep, que a humaniza num nível que o roteiro jamais chega.
Que tragédia. Roteiro covarde e novelesco: os “amores” da vida de Elis são retratados como um demônio sem escrúpulos e um anjo na terra respectivamente. A própria Elis não apresenta nenhum desenvolvimento sequer ou algum tipo de camada - e se não fosse a ótima interpretação de Andréia Horta não conseguiríamos sequer conectar a personagem com a cantora. Aliás, o roteiro em si verbaliza absolutamente tudo que está acontecendo em tela, fazendo qualquer filme do Nolan parecer sútil nos diálogos.
A montagem aqui é horrorosa - cenas que se conectam sem sentido narrativo algum, transições que te fazem questionar se quem montou esse filme sequer já viu um filme na vida - tornam o longa incompreensível do ponto de vista narrativo e emocionalmente pobre. A direção de Hugo Prata é brega num nível doloroso - num determinado momento, com medo dos militares, Elis olha para o berço do seu filho vazio e o diretor faz questão de fazer um movimento brusco e sem corte da personagem ao berço, que pra ficar perfeito na sua breguice só faltaria um som de “PAM” bem alto encaixado na trilha.
É realmente um filme que te faz se perguntar como alguém pode ter trabalhado tanto tempo em um produto tão ruim. Os problemas já estavam no roteiro, mas eles se alastram pela fotografia, montagem e direção. Bizarro.
Nem só de fotografia, figurino e maquiagem bonitos vive um filme. “Emma” parece se esquecer disso ao trazer uma direção sem energia, atuações medianas e uma das trilhas sonoras mais irritantes do ano.
Segunda vez que vejo esse ano. Um dos maiores trabalhos de Walter Salles: é surreal como o diretor consegue humanizar desde figuras historicamente importantes - como o Che Guevara - até mesmo a um simples coadjuvante. Finalizar o filme no rosto dos coadjuvantes que passaram pela vida de Che só mostra a genialidade de Salles: o diretor compreende que o filme, assim como a viagem de Che, não é apenas sobre Che, mas principalmente sobre as pessoas comuns que ele conheceu no caminho e que compõe o cenário fascinante, brutal, alegre e trágico que é a América Latina.
A fotografia do filme quase documental, junto com o trabalho fascinante de som e de trilha sonora nos inserem dentro da viagem de uma maneira que poucos road movies conseguem fazer. É realmente um clássico que deveria ser assistido por todo mundo, principalmente em tempos difíceis nos quais vivemos.
“The Vast Of The Night” é um filme que mexe com o nosso imaginário através dos nossos sentidos sonoros. De fato, estamos diante de um filme que poderia ser todo contado apenas com sua trilha sonora e seus diálogos inquietantes: a imagem - apesar da eficiente fotografia aqui ajudar a criar um clima de suspense com seus longuíssimos planos que literalmente sobrevoam como naves pela cidade minúscula da história - assume um caráter quase que secundário, o que traz ao filme um certo tom de novidade e frescor que não é comumente visto no cinema.
De fato, tratando-se de um filme que tem as ondas de rádio como parte fundamental de sua narrativa, “The Vast Of The Night” soa às vezes mais como uma espécie de “radionovela visiva” do que como um filme de fato. Obviamente não estou negando a sua parte visual - que até mesmo o seu diretor, compreendendo a proposta do longa, faz questão de “apagar” por diversos segundos, permitindo apenas que ouçamos o que está acontecendo - mas o papel sonoro aqui é tão central que até mesmo quando a imagem nos é mostrada em diversas cenas, é quase como não se não as víssemos. Algo que só contribui para uma certa atmosfera de mistério que o filme vai construindo de maneira brilhante.
É inquietante, tenso, misterioso, assustador e fantástico tudo ao mesmo tempo. E mesmo se apoiando em filmes do gênero como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, a maneira como essa história aqui é contada é deliciosamente original.
Poderíamos estar diante de uma obra-prima se Christopher Nolan não tivesse se perdido na complexidade da histórica que ele mesmo criou em Tenet que, pelos excessos de exposição e informação do roteiro, tenta transparecer mais complexo do que realmente é. É um roteiro que falha justamente por trazer uma trama relativamente simples, mas contada - em alguns momentos - de uma maneira propositalmente hiper complexa... e daí, como recurso de explicação para as dificuldades que joga gratuitamente para o espectador, Nolan responde com exposição desnecessária - os diálogos, meu Deus.
Por mais problemático que seja o roteiro de Tenet nos pontos citados acima, não dá pra falar o mesmo das suas cenas de ação, que aqui, estão entre as mais belas e complexas da carreira do diretor. É impressionante a quantidade de ousadia dos efeitos especiais e da própria direção de Nolan: em certos momentos vemos ao mesmo tempo coisas que acontecem em lapsos de tempo se colidirem, e assim Nolan consegue, por exemplo, transformar uma cena de luta em uma dança surreal bizarra na qual seus protagonistas dançam em lapsos de tempo diferentes. E é lindo de se assistir.
As sequências de ação são no geral de tirar o fôlego e de prender qualquer espectador na cadeira - mesmo com o excesso de diálogos desnecessários que tentam arruinar a experiência. O elenco é forte, de peso e extremamente carismático - com destaque para Robert Pattinson, Elizabeth Debicki e John David Washington.
No mais, Tenet é uma experiência mainstream cinematográfica que fascina, apesar de não ser perfeita. Em um momento onde o cinema mainstream se dedica apenas a franquias, continuações e remakes, é belo ver um diretor como Nolan trazer criatividade, mesmo que dentro de sua fórmula “nolanística”, para uma área do cinema que anda tão empobrecida.
Rever E.T. não é apenas uma das experiências mais emocionantes que existem dentro do gênero aventura/ficção-científica, como também é testemunhar a própria história do cinema sendo feita. Impressionante a quantidade de coisa nova que esse filme trouxe pra época e como tudo que veio posteriormente e que tentou imitá-lo jamais conseguiu superá-lo.
Desde a maquiagem incrível, a trilha sonora icônica de John Williams, cara... realmente não tem o que falar. O que dizer da antológica interpretação de Henry Thomas como Elliot? Sem duvidas uma das interpretações infantis mais marcantes e perfeitas que já vi na sétima arte. A emoção do filme é elevada a máxima potência toda vez que o garoto aparece em cena (e Spielberg sabe explorar a genialidade do ator dando closes recorrentes em seu rosto e sabendo fazer um jogo de plano contra-plano perfeito entre Elliot e o E.T.).
O ritmo do filme é perfeito... não tem pressa em desenvolver sua história num ritmo acelerado mesmo se destinando primordialmente a um público infantil. Em alguns momentos é impressionante a economia de diálogos que Spielberg prega, principalmente na primeira metade do filme. É um uso perfeito do silêncio que a trilha sonora sabe preencher de maneira brilhante. A fotografia icônica cumpre sua função ao criar um clima de fantasia, mistério e terror (interessante notar como nas cenas internas, mesmo se tratando de um filme infantil, Spielberg traz a fotografia dos filmes noir com uso de contraluz).
Mesmo com suas facilitações narrativas que sinceramente não me incomodam em nada - se tratando de um filme infantil - E.T. é aquele clássico que será visto e revisto pelo mundo inteiro por gerações a frente. Não tem como ignorar ou ser indiferente a sua magia e a sua dramaticidade impecável.
O que Ettore Scola faz com o roteiro e direção de “Una Giornata Particolare” é de encher os olhos de lágrimas: a história é a mais simples possível, contada da forma mais simples possível (porém com muita eficiência) relembrando demais o neorealismo italiano. A relação entre os dois personagens principais (Sophia Loren e Mastroianni em duas interpretações pra dizer no mínimo brilhantes e inesquecíveis) é tão convincente que você quase se esquece que a mesma termina no mesmo dia em que começa. A maneira como o roteiro mostra como ambos, como minorias oprimidas pelo fascismo, parecem precisar um do outro, quase como se encontrassem na existência do outro um consolo pra dura realidade solitária que vivem beira ao poético. É doloroso e cruel... mas poético.
É realmente a obra-prima que dizem que é. Tenho que admitir que acabei o filme às lágrimas.
Revisto pela milionésima vez. Um dos filmes que mais me influenciam e que mais vão me influenciar como cineasta. Não tenho palavras pra descrever a complexidade da trama e das relações entre os personagens e de seus dramas psicológicos pessoais. Algo surreal! Sublime! Extremamente relevante artisticamente mesmo mais de 60 anos após seu lançamento.
O uso das cores é revolucionário dentro do período bariolage. Nunca houve uma atribuição ao psicológico e às complexidades da mente humana atreladas a cores como em VERTIGO... e risco a dizer que até depois a complexidade da utilização das cores do filme só rivaliza com as de “O Deserto Vermelho” de Antonioni, filmado poucos anos depois.
Numa época em que as pessoas ou eram normais ou eram doentes mentais, Hitchcock desafiava a mostrar na sétima arte as complexidades da mente humana, seja com seu roteiro brilhante, seja com seu visual super simbólico. É aquele filme inesquecível que todo mundo que ama cinema ama, porque ele é uma das raras personificações totais do que pode se achar de mais belo na sétima arte.
O polêmico francês “Mignonnes” não é definitivamente pra todo mundo: principalmente pra aqueles que já criticam uma obra de arte sem sequer apreciá-la para poder assim formular uma opinião própria - algo tão comum nos tempos em que vivemos.
É um filme-denúncia que não se abstém de chocar o público quando necessário... Ao mesmo tempo que o choque jamais se revela gratuito, graças ao tom de denúncia que o filme traz em relação a falta de liberdade feminina em meios fundamentalistas religiosos, sem jamais utilizar a hipersexualização feminina infantil como um meio libertador, mas sim a utilizando para denunciar e demonstrar como uma criança pode vir cair nas garras de uma cultura em que as mulheres são completamente oprimidas em todos os contextos: seja através da repressão sexual ou de hipersexualização - como nas "grandes democracias liberais ocidentais". E é triste ver a personagem, uma garotinha, correndo em desespero de um ambiente opressor para o outro em busca de sua liberdade feminina.
É um filme muito consciente da crítica que faz, sem jamais recorrer a qualquer tipo de polêmica gratuita. Quem o critica ignorou completamente as criticas da diretora aos meios opressores e só viu as cenas de dança das garotas fora de contexto e julgou o filme sem sequer assistí-lo de uma maneira honesta. Seria bacana se as pessoas que fazem campanha contra o filme tivessem a mesma força de vontade de fazer campanhas contra as empresas multibilionárias de aplicativos que produzem logaritmos que buscam na hipersexualização do corpo feminino uma forma de obter mais lucro.
Daí uma artista mulher, afro-francesa, vê o quão errado as coisas tem estado, decide se expressar artisticamente para levar o tema a debate, e as pessoas atacam o filme por isso. Essa galera não é muito diferente dos que acham que educação sexual nas escolas é incentivo sexual pra crianças.
Delroy Lindo merece um Oscar por sua interpretação no novo filme do Spike Lee,”Da 5 Bloods”: uma interpretação que consegue dar muito mais profundidade ao personagem do Paul do que o roteiro aqui jamais consegue.
Roteiro esse, aliás, que parece ter sido escrito às pressas, com excesso de diálogos que não levam a trama para lugar nenhum, algumas subtramas que fazem sentido mas que não são desenvolvidas da maneira que deveriam e alguns personagens que não apresentam qualquer substância além de funcionarem apenas como estereótipos rasos. Há uma problemática utilização dos povos vietnamitas durante praticamente toda a projeção do filme como apenas “gente exótica e perigosa” (com exceção do vietnamita que ajuda os americanos, óbvio) que torna o filme em alguns momentos racista quase num nível “Rambo” e coisas do gênero e, apesar do roteiro tentar consertar isso nos minutos finais de maneira ridícula, a mensagem que prevalece não é das melhores. Triste ver isso vindo de um diretor como o Spike Lee, que tinha tudo nas mãos para desenvolver muito melhor a sua crítica, mas que peca por simplificar demais a questão geopolítica abordada aqui.
O roteiro não é a única parte problemática do filme: a sua montagem e edição, em alguns momentos, são simplesmente pavorosas.
No momento em que Paul, por exemplo, é golpeado pelo filho (pelo filho? Foi isso mesmo?) a montagem não permite nem que entendamos quem fez o que, com o que, e quem está fugindo para onde.
Essa cena é tão problemática que tive que retornar várias vezes para entender o que de fato tinha acontecido. Somados a isso temos problemas de cenas que enchem linguiça ou meramente desnecessárias (a morte em flashback de um personagem importante, por exemplo), o que torna o filme cansativo em alguns momentos e bastante inchado. A trilha sonora beira ao insuportável na primeira metade do longa: busca fazer momentos triviais, como por exemplo uma mera caminhada dos personagens, como atos grandiosos de heroísmo com uma tom sempre insistentemente grandioso. Em alguns momentos a trilha distoa tanto da proposta da cena que está comentando, que causaram em mim uma enorme sensação de estranheza é incômodo.
Mas há o que se gostar no filme. A interpretação de Delroy Lindo é o ponto alto do longa: o ator vai do pai mais preocupado do mundo ao homem mais violento e traumatizado num piscar de olhos. O elenco inteiro está muito bem, para falar a verdade, o que contribue para que o dinamismo das cenas em que a relação dos personagens é o foco soe bastante orgânico. Além disso, as cenas de violência são inesperadas e apresentam um grau de “gore” que impressionam em alguns momentos, principalmente quando optam por efeitos práticos. Já quando o filme opta pelo CGI (cenas de sangue em cgi por exemplo), ele se torna grotesco e parece muito mais velho do que realmente é.
No mais, “Da 5 Blood” é um filme interessante e envolvente mas que tinha tudo para ser uma grande obra, o que não seria o caso se tudo aqui não parecesse feito tanto às pressas. A impressão que dá é que Spike Lee correu contra o tempo para fazer o filme e isso é notável desde o seu roteiro até a sua pós-produção.
Um dos maiores filmes do Kubrick, um dos mais controversos e, ouso a dizer, um dos mais complexos. O foco aqui é no quanto a visão machista de um homem tão seguro de si, quando confrontada pelo despertar do empoderamento sexual de sua mulher, pode trazer-lhe diversas inseguranças pessoais e ideológicas, como a sua baixa autoestima exemplificada nas suas tentativas incessantes de demonstrar poder com dinheiro e com seu título de doutor. É sobre a alucinação de um homem que acreditava que a esposa jamais lhe trairia porque mulheres “não são assim”. Porque, segundo o mesmo, as mulheres, uma vez casadas, libertam-se de todas as suas fantasias sexuais que vão além de seus juramentos conjugais. É um estudo muito forte também da hipocrisia de sociedade que esconde seus verdadeiros impulsos sexuais através de máscaras. E, principalmente, de como dirigir perfeitamente um drama com tons de suspense com a maestria inigualável do Kubrick.
Um filme que tenta pegar o estilo de John Hughes (inclusive rouba descaradamente a “Don’t You Forget About Me” de “The Breakfast Club”) mas que se esquece totalmente de que estamos em 2018 e não nos anos 80. Para piorar, é um filme que erra miseravelmente em absolutamente todos os seus aspectos cinematográficos: roteiro, atuações, direção, fotografia, edição, montagem... tudo!
Personagens de uma unidemensionalidade que chega enjoa; a protagonista é cercada de homens que a mandam fazer o que eles querem que ela faça, tornando o longa tão sexista que assisti-lo torna-se insuportável. Os conflitos são dignos de uma novela mexicana das mais piores possíveis, os dramas não fazem sentido... Os diálogos são sofríveis.
Esse filme deveria ser usado como exemplo em todas as universidades do mundo de cinema do que não fazer para o seu filme não sair uma merda sem igual. Este pedaço de lixo deve ser encarado como um contraexemplo perfeito do que é uma obra-prima cinematográfica.
Uma experiência sensorial rara no cinema nacional! Algo completamente novo, excitante e intenso. Pouquíssimas vezes passei por uma experiência atmosférica semelhante com um filme brasileiro igual ao que esse filme me proporcionou.
Os atores são incríveis (o garoto principal merecia prêmios!). O roteiro minimalista funciona bem com suas metáforas aparentemente descoesas, mas que não busca chamar tanto a atenção. Já a direção de José Goulart é algo realmente surpreendente, como a fotografia, que é tão eficiente que acaba por deixar o espectador boquiaberto do início ao fim (principalmente com a sequência inteira da chuva).
Direção super sensível e sútil, casado com atuações super profundas e com um excelente roteiro que humaniza todos os seus personagens.
O final de “God’s Own Country” é uma explosão de silenciosa de sentimentos, no qual a troca de olhares faz a narrativa prosseguir, e o pouco que é dito já é mais que o suficiente.
Um dos documentários mais fascinantes e sensíveis que já assisti. Santiago é um personagem que pela sua complexidade e excentricidade parece quase fictício. Os depoimentos são carregados de dor, solidão, nostalgia e desconforto. Os personagens históricos que tornam-se seus amigos, os momentos históricos que tornam-se parte de sua vida...
No final fica a dúvida se o que estamos vendo é um homem extremamente inteligente (diria até mesmo um gênio) ou um senhor enfraquecido emocionalmente pelo que eles sabe serem seus últimos anos de vida.
E o que mais dói de tudo: ver uma obra tão vasta e tão pessoal como o arquivo de mais de 30 mil páginas escritas por Santiago ao longo de sua vida sem rumo algum.
Roteiro com algumas ideias muito boas é desperdiçado por problemas grotescos de estrutura narrativa, edição, montagem e direção (Yates acerta no tom, mas peca demais no controle da decupagem do filme). Os personagens são vazios, as situações e suas decisões são forçadas pelo roteiro ditador e a montagem é incompreensível. Não parece um filme de Harry Potter: parece, em algumas vezes, um projeto bem trabalhado de Michael Bay, referindo-se a cenas de ação (e isso não é um elogio) que promove de maneira exagerada um caos narrativo e estrutural.
Claro que nem tudo é perdido: há bons momentos, em algumas cenas boas ideias, boas atuações (destaque para o charmoso Grindelwald de Johnny Depp) e momentos muito divertidos. O filme é belíssimo e o design de produção já garantiu sua vaga no Oscar. Os efeitos especiais também são excelentes. O fã service é bem usado, mas as vezes força demais a barra.
Fora isso, temos um filme raso e muito mal desenvolvido, que mesmo com boas ideias e bons momentos, choca até mesmo o fã menos exigente com a sua qualidade baixa em estrutura cinematográfica.
Eu, fã de Harry Potter, estou acostumado com exemplares melhores que esse.
Uma obra-prima comovente sobre um grande homem, que mesmo rodeado de críticos e haters transforma o que uma sociedade corrompida pela violência e intolerância chama de “ingenuidade” na mais pura e simples “bondade”.
Eu, que atualmente descobri que sou bipolar, vi nesse documentário e na filosofia de ser do Fred uma forma para me ajudar com a terapia que ele utilizava em seus fantoches em seu programa para lidar com temas complexos da vida. Eu a usarei e sei que me sentirei melhor... como me senti enquanto assistia essa obra-prima do cinema documentário.
Os convidados são tão sinceros nos seu depoimentos... A carga aqui imposta pela direção é tão humana que reflete a alma desse homem magnífico e tristemente excêntrico (da visão de uma sociedade doente) que foi o Fred. É tudo tão mágico e tão profundo que é impossível não derramar algumas lágrimas durante toda a projeção.
Eu levarei os ensinamentos de Fred como uma espécie de terapia autopessoal e senti que ele conseguia compreender a mentalidade humana na maneira mais pura e sincera possível. Não era apenas um homem... Era um filósofo e um líder que pregava o amor e a tolerância, até mesmo em momentos em que isso poderia ser considerado maluquice (quando ele confronta o governo de Nixon que quer fechar a PBS, por exemplo... um dos mais lindos do longa).
Enfim, estou realmente sem palavras. Esse filme é um daqueles que toca a vida das pessoas e que tem a capacidade de fazer elas sentirem que a vida pode ser mais bonita do que aquela que a sociedade vende como real.
Obrigado, Fred. Seguirei seus ensinamentos e os adotarei como filosofia pessoal.
Roteiro fraquíssimo (cheio de Deus Ex-Machina e convenções do gênero) traz uma protagonista desinteressante (que de chupadora de pirulito se transforma numa Lara Croft da vida num piscar de olhos) em uma trama recheada de clichês, que não traz nada de novo e só entendia. Tirando algumas boas cenas de perseguição e de gore explícito, “Revenge” se consagra claramente como uma homenagem mal-feita à Kill Bill em que a crença do espectador tem que sempre estar abaixo das fragilidades narrativas do filme para que o mesmo seja digerível.
O roteiro é fraquinho, as atuações beiram o bizarro, mas a atmosfera criada por Argento é única. A todo momento, o espectador fica atento esperando que algo de extremamente ruim aconteça... E o final do filme é absurdamente hilário e horrorizante!
O documentário não foi feito para investigar se o Michael fez ou não, mas sim para defender a visão dos dois garotos que foram, segundo os mesmos, abusados pelo rei do pop. O filme claramente não tem a intenção de ser um documentário investigativo, logo, não apresentar contra-argumentos a favor do Michael não o torna ruim ou fraco como obra. Há uma clara visão sendo defendida ali, e a maneira como o documentário defende essa visão é espetacular.
Os relatos são surpreendentes, e, mesmo que não sejam verdadeiros, soam extremamente sinceros e reais. Você consegue sentir a dor dos entrevistados e como a vida deles foram afetadas pela vida conturbada do Michael.
Acho um trabalho excepcional na maneira como o filme constrói sua narrativa e defende a sua visão dos fatos. Talvez no que ele peque seja na montagem, que em alguns momentos torna o filme inchado demais (daria para cortar no mínimo uns 30 minutos das 4 horas de documentário), mas de resto me surpreendeu muito positivamente.
“Democracia em Vertigem” é um daqueles documentários difíceis de assistir. Apesar de traçar um panorama narrativo já conhecido pela maior parte dos brasileiros (do impeachment até a posse de Bolsonaro como presidente da república), aqui a visão pessimista e extremamente pessoal de sua autora é a grande novidade. É a nova lente sob a qual enxergamos os fatos que já conhecemos.
A vida pessoal de Petra Costa (num trabalho de narração absurdo, que traz de volta aos conhecedores de seu trabalho, a sua obra-prima máxima “Elena) e a política brasileira se misturam, junto com os anseios da diretora, suas angústias, suas decepções e sua visão honesta sobre a construção e a desconstrução da democracia brasileira ao longo dos últimos anos. Há um lado político aqui sendo defendido, há um outro também sendo atacado, e ao contrário do abominável “1964: Brasil Entre Armas e Livros” lançado no mesmo ano, o documentário de Petra não tenta disfarçar posições políticas. Ele apresenta como argumentos os próprios arquivos de vídeo gravados pela própria equipe da diretora, por jornais ou por terceiros para analisar a fragilidade das instituições democráticas no Brasil e como algumas dessas instituições atuaram de maneira antidemocrática para derrubar um governo democraticamente eleito e prender um candidato a presidente de maneira comprovadamente conspiratória.
Em tempos recentes onde quase todos os dias somos bombardeados com diálogos que confirmam a aproximação ilegal entre o juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato, “Democracia em Vertigem” é um documentário excepcional, que define em pouco mais de duas horas os últimos anos de um país que, como diz o seu próprio título, não está mais com sua democracia em cima da corda bamba, mas sim completamente espatifada em um chão cheio de arame farpado e cobras famintas.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraNomadland (2020)
★★★
É impossível assistir a “Nomadland” e não perceber que a diretora e roteirista Chloé Zhao entende do que está falando: mais do que entender, temos aqui uma direção que compreende como as injustiças sociais afetam sujeitos em suas esferas pessoais. É um filme consciente das falhas do sistema neoliberal e que consegue retratar bem o grupo de marginalizados criados por essa ideologia. Aliado à sensível e verdadeira atuação de Frances McDormand - sem duvidas uma das melhores atrizes americanas hoje - o sensível roteiro faz o espectador “sentir muito” pela situação crítica em que vive sua protagonista e as pessoas que vagam ao seu redor.
Porém, talvez a coisa que mais falta em “Nomadland” seja uma posição mais clara sobre o tema que está tratando. De fato, é algo que tem sido cada vez mais comum no cinema americano: o filme que retrata temas sociais, que parece compreende a urgência do debate sobre o tema, mas que empalidece sob a escolha consciente de um filtro menos “politizado” e mais “neutro” sobre as questões sociais abordadas. De forma consciente, “Nomadland” opta por um caminho frio e não tão corajoso que não fornece algo além de um verdadeiro retrato sob a classe mais baixa do proletariado norte-americano, mas que jamais deixa claro sua posição como filme além desse retrato social - algo que feito tantas vezes por outros bons filmes que o cinema já produziu. Dada a emergência da temática e a consciência de seu roteiro, esperava um filme mais político - e sim, não há nada de errado em ser “político” no cinema, principalmente em momentos onde um certo posicionamento é necessário.
Mesmo sendo um filme que constrói um realismo muito convincente e traz excelentes e verdadeiras interpretações, “Nomadland” soa relativamente morno diante da realidade crua que vivemos. E como parece um filme relativamente neutro em suas denúncias, assistir apenas à sua “realidade” se revela muito menos real do que o simples exercício de andar, por exemplo, pelas ruas de São Paulo, Nova York ou Londres e observar a vida de pessoas em situação de rua.
Soul
4.3 1,4KUm filme bom pode ser um filme simples - assim como uma boa vida pode também ser caracterizada pela simplicidade. Essa é a melhor forma que posso definir o novo filme da Pixar, “Soul”.
“Soul” pra mim representa uma ruptura na história da Pixar, não completamente do nada, mas algo que vem sido criado desde “Divertida Mente”. Uma ruptura entre um tipo de cinema infantil - também voltado para adultos - para um cinema adulto também voltado para crianças.
Não que isso seja necessariamente algo positivo em sua essencia. Porém, ao lidar com temas que iam desde emoções humanas (Divertidade mente) à preservação da memória dos que já se foram (Coco), a Pixar vinha se destacando como um estúdio que parece pensar sim no público infantil mas que cada vez mais ponta seus roteiros para um público mais adulto - e que preserva a qualidade presente desde o início em suas histórias. Porém “Soul” pra mim está num outro nível disso: todo o filme está involto em uma abordagem impressiona pela ousadia - e por mais que o seu roteiro possa soar previsível algumas vezes, a Pixar sempre consegue surpreender trazendo ideias que quando não são hiper originais são extremamente bem contadas - e contadas aqui com uma roupagem nova, com uma cara quase de cinema live-action. Roteiro aliás que mesmo se entregando a fórmulas no início, traz aquele que é pra mim o único final aberto da Pixar desde “Monstros SA”. E que final.
É uma animação até mesmo contida emocionalmente - algo não comumente visto pelo estúdio. Parece que a valorização da simplicidade pelo roteiro é transmitida pela direção que é a mais simples e relaxada possível - alguns breves momentos remetem até mesmo a “2001 - uma odisseia no espaço” - sim, acreditem. A animação impressiona tecnicamente pelo nível de detalhe, pelo movimento das mãos dos personagens e pela incrível mistura de 2D e 3D. É lindo também como nos momentos em que os personagens estão na Terra, podemos perceber a profundidade de campo reduzida, dando um aspecto muito mais de cinema live-action e que impressiona pelo seu tamanho realismo.
A trilha sonora é genial, sem duvidas deve concorrer ao Oscar. A utilização de dois tipos de músicas diferentes fazem um serviço a narrativa que faz o espectador compreender perfeitamente a diferença entre o mundo das almas e ao mundo como nós humanos conhecemos. É um trabalho sonoramente inventivo na história da Pixar, sem dúvidas.
Eu estava esperando meio receoso, com medo da repetição da temática que já foi abordada pela produtora antes. Porém fui positivamente surpreendido. Realmente, a maneira como a história é contada aqui - principalmente pela sua simplicidade - me emocionaram profundamente. É realmente incrível ver um estúdio que mesmo seguindo uma fórmula narrativa, consegue a cada filme trazer um frescor novo e se reinventar.
O Diabo Veste Prada
3.8 2,4K Assista AgoraVamos combinar: o namorado da Anne Hathaway é a única pessoa consciente e normal nesse filme. Roteiro que relativiza absolutamente tudo em nome da meritocratica: desde atropelamento a abusos psicológicos dentro do ambiente profissional. A abordagem do filme é extremamente problemática ao ponto de termos imediatamente após uma cena de atropelamento - causada pelo estresse do trabalho - uma trilha sonora de comédia, que tenta relativizar a quase morte de uma pessoa em nome de um “lugar onde muitas pessoas dariam a vida para estar”.
A Miranda só consegue se tornar uma figura emblemática pela inesquecível interpretação da Meryl Streep, que a humaniza num nível que o roteiro jamais chega.
Elis
3.5 522 Assista AgoraQue tragédia. Roteiro covarde e novelesco: os “amores” da vida de Elis são retratados como um demônio sem escrúpulos e um anjo na terra respectivamente. A própria Elis não apresenta nenhum desenvolvimento sequer ou algum tipo de camada - e se não fosse a ótima interpretação de Andréia Horta não conseguiríamos sequer conectar a personagem com a cantora. Aliás, o roteiro em si verbaliza absolutamente tudo que está acontecendo em tela, fazendo qualquer filme do Nolan parecer sútil nos diálogos.
A montagem aqui é horrorosa - cenas que se conectam sem sentido narrativo algum, transições que te fazem questionar se quem montou esse filme sequer já viu um filme na vida - tornam o longa incompreensível do ponto de vista narrativo e emocionalmente pobre. A direção de Hugo Prata é brega num nível doloroso - num determinado momento, com medo dos militares, Elis olha para o berço do seu filho vazio e o diretor faz questão de fazer um movimento brusco e sem corte da personagem ao berço, que pra ficar perfeito na sua breguice só faltaria um som de “PAM” bem alto encaixado na trilha.
É realmente um filme que te faz se perguntar como alguém pode ter trabalhado tanto tempo em um produto tão ruim. Os problemas já estavam no roteiro, mas eles se alastram pela fotografia, montagem e direção. Bizarro.
Emma.
3.4 290 Assista AgoraNem só de fotografia, figurino e maquiagem bonitos vive um filme. “Emma” parece se esquecer disso ao trazer uma direção sem energia, atuações medianas e uma das trilhas sonoras mais irritantes do ano.
Diários de Motocicleta
3.9 827Segunda vez que vejo esse ano. Um dos maiores trabalhos de Walter Salles: é surreal como o diretor consegue humanizar desde figuras historicamente importantes - como o Che Guevara - até mesmo a um simples coadjuvante. Finalizar o filme no rosto dos coadjuvantes que passaram pela vida de Che só mostra a genialidade de Salles: o diretor compreende que o filme, assim como a viagem de Che, não é apenas sobre Che, mas principalmente sobre as pessoas comuns que ele conheceu no caminho e que compõe o cenário fascinante, brutal, alegre e trágico que é a América Latina.
A fotografia do filme quase documental, junto com o trabalho fascinante de som e de trilha sonora nos inserem dentro da viagem de uma maneira que poucos road movies conseguem fazer. É realmente um clássico que deveria ser assistido por todo mundo, principalmente em tempos difíceis nos quais vivemos.
A Vastidão da Noite
3.5 575 Assista Agora“The Vast Of The Night” é um filme que mexe com o nosso imaginário através dos nossos sentidos sonoros. De fato, estamos diante de um filme que poderia ser todo contado apenas com sua trilha sonora e seus diálogos inquietantes: a imagem - apesar da eficiente fotografia aqui ajudar a criar um clima de suspense com seus longuíssimos planos que literalmente sobrevoam como naves pela cidade minúscula da história - assume um caráter quase que secundário, o que traz ao filme um certo tom de novidade e frescor que não é comumente visto no cinema.
De fato, tratando-se de um filme que tem as ondas de rádio como parte fundamental de sua narrativa, “The Vast Of The Night” soa às vezes mais como uma espécie de “radionovela visiva” do que como um filme de fato. Obviamente não estou negando a sua parte visual - que até mesmo o seu diretor, compreendendo a proposta do longa, faz questão de “apagar” por diversos segundos, permitindo apenas que ouçamos o que está acontecendo - mas o papel sonoro aqui é tão central que até mesmo quando a imagem nos é mostrada em diversas cenas, é quase como não se não as víssemos. Algo que só contribui para uma certa atmosfera de mistério que o filme vai construindo de maneira brilhante.
É inquietante, tenso, misterioso, assustador e fantástico tudo ao mesmo tempo. E mesmo se apoiando em filmes do gênero como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, a maneira como essa história aqui é contada é deliciosamente original.
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraPoderíamos estar diante de uma obra-prima se Christopher Nolan não tivesse se perdido na complexidade da histórica que ele mesmo criou em Tenet que, pelos excessos de exposição e informação do roteiro, tenta transparecer mais complexo do que realmente é. É um roteiro que falha justamente por trazer uma trama relativamente simples, mas contada - em alguns momentos - de uma maneira propositalmente hiper complexa... e daí, como recurso de explicação para as dificuldades que joga gratuitamente para o espectador, Nolan responde com exposição desnecessária - os diálogos, meu Deus.
Por mais problemático que seja o roteiro de Tenet nos pontos citados acima, não dá pra falar o mesmo das suas cenas de ação, que aqui, estão entre as mais belas e complexas da carreira do diretor. É impressionante a quantidade de ousadia dos efeitos especiais e da própria direção de Nolan: em certos momentos vemos ao mesmo tempo coisas que acontecem em lapsos de tempo se colidirem, e assim Nolan consegue, por exemplo, transformar uma cena de luta em uma dança surreal bizarra na qual seus protagonistas dançam em lapsos de tempo diferentes. E é lindo de se assistir.
As sequências de ação são no geral de tirar o fôlego e de prender qualquer espectador na cadeira - mesmo com o excesso de diálogos desnecessários que tentam arruinar a experiência. O elenco é forte, de peso e extremamente carismático - com destaque para Robert Pattinson, Elizabeth Debicki e John David Washington.
No mais, Tenet é uma experiência mainstream cinematográfica que fascina, apesar de não ser perfeita. Em um momento onde o cinema mainstream se dedica apenas a franquias, continuações e remakes, é belo ver um diretor como Nolan trazer criatividade, mesmo que dentro de sua fórmula “nolanística”, para uma área do cinema que anda tão empobrecida.
E.T.: O Extraterrestre
3.9 1,4K Assista AgoraRever E.T. não é apenas uma das experiências mais emocionantes que existem dentro do gênero aventura/ficção-científica, como também é testemunhar a própria história do cinema sendo feita. Impressionante a quantidade de coisa nova que esse filme trouxe pra época e como tudo que veio posteriormente e que tentou imitá-lo jamais conseguiu superá-lo.
Desde a maquiagem incrível, a trilha sonora icônica de John Williams, cara... realmente não tem o que falar. O que dizer da antológica interpretação de Henry Thomas como Elliot? Sem duvidas uma das interpretações infantis mais marcantes e perfeitas que já vi na sétima arte. A emoção do filme é elevada a máxima potência toda vez que o garoto aparece em cena (e Spielberg sabe explorar a genialidade do ator dando closes recorrentes em seu rosto e sabendo fazer um jogo de plano contra-plano perfeito entre Elliot e o E.T.).
O ritmo do filme é perfeito... não tem pressa em desenvolver sua história num ritmo acelerado mesmo se destinando primordialmente a um público infantil. Em alguns momentos é impressionante a economia de diálogos que Spielberg prega, principalmente na primeira metade do filme. É um uso perfeito do silêncio que a trilha sonora sabe preencher de maneira brilhante. A fotografia icônica cumpre sua função ao criar um clima de fantasia, mistério e terror (interessante notar como nas cenas internas, mesmo se tratando de um filme infantil, Spielberg traz a fotografia dos filmes noir com uso de contraluz).
Mesmo com suas facilitações narrativas que sinceramente não me incomodam em nada - se tratando de um filme infantil - E.T. é aquele clássico que será visto e revisto pelo mundo inteiro por gerações a frente. Não tem como ignorar ou ser indiferente a sua magia e a sua dramaticidade impecável.
Um Dia Muito Especial
4.4 92O que Ettore Scola faz com o roteiro e direção de “Una Giornata Particolare” é de encher os olhos de lágrimas: a história é a mais simples possível, contada da forma mais simples possível (porém com muita eficiência) relembrando demais o neorealismo italiano. A relação entre os dois personagens principais (Sophia Loren e Mastroianni em duas interpretações pra dizer no mínimo brilhantes e inesquecíveis) é tão convincente que você quase se esquece que a mesma termina no mesmo dia em que começa. A maneira como o roteiro mostra como ambos, como minorias oprimidas pelo fascismo, parecem precisar um do outro, quase como se encontrassem na existência do outro um consolo pra dura realidade solitária que vivem beira ao poético. É doloroso e cruel... mas poético.
É realmente a obra-prima que dizem que é. Tenho que admitir que acabei o filme às lágrimas.
Um Corpo que Cai
4.2 1,3K Assista AgoraVertigo (1958)
★★★★★
Revisto pela milionésima vez. Um dos filmes que mais me influenciam e que mais vão me influenciar como cineasta. Não tenho palavras pra descrever a complexidade da trama e das relações entre os personagens e de seus dramas psicológicos pessoais. Algo surreal! Sublime! Extremamente relevante artisticamente mesmo mais de 60 anos após seu lançamento.
O uso das cores é revolucionário dentro do período bariolage. Nunca houve uma atribuição ao psicológico e às complexidades da mente humana atreladas a cores como em VERTIGO... e risco a dizer que até depois a complexidade da utilização das cores do filme só rivaliza com as de “O Deserto Vermelho” de Antonioni, filmado poucos anos depois.
Numa época em que as pessoas ou eram normais ou eram doentes mentais, Hitchcock desafiava a mostrar na sétima arte as complexidades da mente humana, seja com seu roteiro brilhante, seja com seu visual super simbólico. É aquele filme inesquecível que todo mundo que ama cinema ama, porque ele é uma das raras personificações totais do que pode se achar de mais belo na sétima arte.
Pra sempre um clássico. Pra sempre inesquecível.
Lindinhas
3.0 195 Assista AgoraMignonnes (2020)
★★★★
O polêmico francês “Mignonnes” não é definitivamente pra todo mundo: principalmente pra aqueles que já criticam uma obra de arte sem sequer apreciá-la para poder assim formular uma opinião própria - algo tão comum nos tempos em que vivemos.
É um filme-denúncia que não se abstém de chocar o público quando necessário... Ao mesmo tempo que o choque jamais se revela gratuito, graças ao tom de denúncia que o filme traz em relação a falta de liberdade feminina em meios fundamentalistas religiosos, sem jamais utilizar a hipersexualização feminina infantil como um meio libertador, mas sim a utilizando para denunciar e demonstrar como uma criança pode vir cair nas garras de uma cultura em que as mulheres são completamente oprimidas em todos os contextos: seja através da repressão sexual ou de hipersexualização - como nas "grandes democracias liberais ocidentais". E é triste ver a personagem, uma garotinha, correndo em desespero de um ambiente opressor para o outro em busca de sua liberdade feminina.
É um filme muito consciente da crítica que faz, sem jamais recorrer a qualquer tipo de polêmica gratuita. Quem o critica ignorou completamente as criticas da diretora aos meios opressores e só viu as cenas de dança das garotas fora de contexto e julgou o filme sem sequer assistí-lo de uma maneira honesta. Seria bacana se as pessoas que fazem campanha contra o filme tivessem a mesma força de vontade de fazer campanhas contra as empresas multibilionárias de aplicativos que produzem logaritmos que buscam na hipersexualização do corpo feminino uma forma de obter mais lucro.
Daí uma artista mulher, afro-francesa, vê o quão errado as coisas tem estado, decide se expressar artisticamente para levar o tema a debate, e as pessoas atacam o filme por isso. Essa galera não é muito diferente dos que acham que educação sexual nas escolas é incentivo sexual pra crianças.
Hipocrisia reina.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraDelroy Lindo merece um Oscar por sua interpretação no novo filme do Spike Lee,”Da 5 Bloods”: uma interpretação que consegue dar muito mais profundidade ao personagem do Paul do que o roteiro aqui jamais consegue.
Roteiro esse, aliás, que parece ter sido escrito às pressas, com excesso de diálogos que não levam a trama para lugar nenhum, algumas subtramas que fazem sentido mas que não são desenvolvidas da maneira que deveriam e alguns personagens que não apresentam qualquer substância além de funcionarem apenas como estereótipos rasos. Há uma problemática utilização dos povos vietnamitas durante praticamente toda a projeção do filme como apenas “gente exótica e perigosa” (com exceção do vietnamita que ajuda os americanos, óbvio) que torna o filme em alguns momentos racista quase num nível “Rambo” e coisas do gênero e, apesar do roteiro tentar consertar isso nos minutos finais de maneira ridícula, a mensagem que prevalece não é das melhores. Triste ver isso vindo de um diretor como o Spike Lee, que tinha tudo nas mãos para desenvolver muito melhor a sua crítica, mas que peca por simplificar demais a questão geopolítica abordada aqui.
O roteiro não é a única parte problemática do filme: a sua montagem e edição, em alguns momentos, são simplesmente pavorosas.
No momento em que Paul, por exemplo, é golpeado pelo filho (pelo filho? Foi isso mesmo?) a montagem não permite nem que entendamos quem fez o que, com o que, e quem está fugindo para onde.
Mas há o que se gostar no filme. A interpretação de Delroy Lindo é o ponto alto do longa: o ator vai do pai mais preocupado do mundo ao homem mais violento e traumatizado num piscar de olhos. O elenco inteiro está muito bem, para falar a verdade, o que contribue para que o dinamismo das cenas em que a relação dos personagens é o foco soe bastante orgânico. Além disso, as cenas de violência são inesperadas e apresentam um grau de “gore” que impressionam em alguns momentos, principalmente quando optam por efeitos práticos. Já quando o filme opta pelo CGI (cenas de sangue em cgi por exemplo), ele se torna grotesco e parece muito mais velho do que realmente é.
No mais, “Da 5 Blood” é um filme interessante e envolvente mas que tinha tudo para ser uma grande obra, o que não seria o caso se tudo aqui não parecesse feito tanto às pressas. A impressão que dá é que Spike Lee correu contra o tempo para fazer o filme e isso é notável desde o seu roteiro até a sua pós-produção.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraUm dos maiores filmes do Kubrick, um dos mais controversos e, ouso a dizer, um dos mais complexos. O foco aqui é no quanto a visão machista de um homem tão seguro de si, quando confrontada pelo despertar do empoderamento sexual de sua mulher, pode trazer-lhe diversas inseguranças pessoais e ideológicas, como a sua baixa autoestima exemplificada nas suas tentativas incessantes de demonstrar poder com dinheiro e com seu título de doutor. É sobre a alucinação de um homem que acreditava que a esposa jamais lhe trairia porque mulheres “não são assim”. Porque, segundo o mesmo, as mulheres, uma vez casadas, libertam-se de todas as suas fantasias sexuais que vão além de seus juramentos conjugais. É um estudo muito forte também da hipocrisia de sociedade que esconde seus verdadeiros impulsos sexuais através de máscaras. E, principalmente, de como dirigir perfeitamente um drama com tons de suspense com a maestria inigualável do Kubrick.
A Barraca do Beijo
2.9 928 Assista AgoraUm filme que tenta pegar o estilo de John Hughes (inclusive rouba descaradamente a “Don’t You Forget About Me” de “The Breakfast Club”) mas que se esquece totalmente de que estamos em 2018 e não nos anos 80. Para piorar, é um filme que erra miseravelmente em absolutamente todos os seus aspectos cinematográficos: roteiro, atuações, direção, fotografia, edição, montagem... tudo!
Personagens de uma unidemensionalidade que chega enjoa; a protagonista é cercada de homens que a mandam fazer o que eles querem que ela faça, tornando o longa tão sexista que assisti-lo torna-se insuportável. Os conflitos são dignos de uma novela mexicana das mais piores possíveis, os dramas não fazem sentido... Os diálogos são sofríveis.
Esse filme deveria ser usado como exemplo em todas as universidades do mundo de cinema do que não fazer para o seu filme não sair uma merda sem igual. Este pedaço de lixo deve ser encarado como um contraexemplo perfeito do que é uma obra-prima cinematográfica.
Ponto Zero
3.2 3 Assista AgoraUma experiência sensorial rara no cinema nacional! Algo completamente novo, excitante e intenso. Pouquíssimas vezes passei por uma experiência atmosférica semelhante com um filme brasileiro igual ao que esse filme me proporcionou.
Os atores são incríveis (o garoto principal merecia prêmios!). O roteiro minimalista funciona bem com suas metáforas aparentemente descoesas, mas que não busca chamar tanto a atenção. Já a direção de José Goulart é algo realmente surpreendente, como a fotografia, que é tão eficiente que acaba por deixar o espectador boquiaberto do início ao fim (principalmente com a sequência inteira da chuva).
O Reino de Deus
4.1 335Um filmaco!
Direção super sensível e sútil, casado com atuações super profundas e com um excelente roteiro que humaniza todos os seus personagens.
O final de “God’s Own Country” é uma explosão de silenciosa de sentimentos, no qual a troca de olhares faz a narrativa prosseguir, e o pouco que é dito já é mais que o suficiente.
Santiago
4.1 134Um dos documentários mais fascinantes e sensíveis que já assisti. Santiago é um personagem que pela sua complexidade e excentricidade parece quase fictício. Os depoimentos são carregados de dor, solidão, nostalgia e desconforto. Os personagens históricos que tornam-se seus amigos, os momentos históricos que tornam-se parte de sua vida...
No final fica a dúvida se o que estamos vendo é um homem extremamente inteligente (diria até mesmo um gênio) ou um senhor enfraquecido emocionalmente pelo que eles sabe serem seus últimos anos de vida.
E o que mais dói de tudo: ver uma obra tão vasta e tão pessoal como o arquivo de mais de 30 mil páginas escritas por Santiago ao longo de sua vida sem rumo algum.
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraRoteiro com algumas ideias muito boas é desperdiçado por problemas grotescos de estrutura narrativa, edição, montagem e direção (Yates acerta no tom, mas peca demais no controle da decupagem do filme). Os personagens são vazios, as situações e suas decisões são forçadas pelo roteiro ditador e a montagem é incompreensível. Não parece um filme de Harry Potter: parece, em algumas vezes, um projeto bem trabalhado de Michael Bay, referindo-se a cenas de ação (e isso não é um elogio) que promove de maneira exagerada um caos narrativo e estrutural.
Claro que nem tudo é perdido: há bons momentos, em algumas cenas boas ideias, boas atuações (destaque para o charmoso Grindelwald de Johnny Depp) e momentos muito divertidos. O filme é belíssimo e o design de produção já garantiu sua vaga no Oscar. Os efeitos especiais também são excelentes. O fã service é bem usado, mas as vezes força demais a barra.
Fora isso, temos um filme raso e muito mal desenvolvido, que mesmo com boas ideias e bons momentos, choca até mesmo o fã menos exigente com a sua qualidade baixa em estrutura cinematográfica.
Eu, fã de Harry Potter, estou acostumado com exemplares melhores que esse.
Fred Rogers: O Padrinho da Criançada
4.3 43Uma obra-prima comovente sobre um grande homem, que mesmo rodeado de críticos e haters transforma o que uma sociedade corrompida pela violência e intolerância chama de “ingenuidade” na mais pura e simples “bondade”.
Eu, que atualmente descobri que sou bipolar, vi nesse documentário e na filosofia de ser do Fred uma forma para me ajudar com a terapia que ele utilizava em seus fantoches em seu programa para lidar com temas complexos da vida. Eu a usarei e sei que me sentirei melhor... como me senti enquanto assistia essa obra-prima do cinema documentário.
Os convidados são tão sinceros nos seu depoimentos... A carga aqui imposta pela direção é tão humana que reflete a alma desse homem magnífico e tristemente excêntrico (da visão de uma sociedade doente) que foi o Fred. É tudo tão mágico e tão profundo que é impossível não derramar algumas lágrimas durante toda a projeção.
Eu levarei os ensinamentos de Fred como uma espécie de terapia autopessoal e senti que ele conseguia compreender a mentalidade humana na maneira mais pura e sincera possível. Não era apenas um homem... Era um filósofo e um líder que pregava o amor e a tolerância, até mesmo em momentos em que isso poderia ser considerado maluquice (quando ele confronta o governo de Nixon que quer fechar a PBS, por exemplo... um dos mais lindos do longa).
Enfim, estou realmente sem palavras. Esse filme é um daqueles que toca a vida das pessoas e que tem a capacidade de fazer elas sentirem que a vida pode ser mais bonita do que aquela que a sociedade vende como real.
Obrigado, Fred. Seguirei seus ensinamentos e os adotarei como filosofia pessoal.
Vingança
3.2 581 Assista AgoraRoteiro fraquíssimo (cheio de Deus Ex-Machina e convenções do gênero) traz uma protagonista desinteressante (que de chupadora de pirulito se transforma numa Lara Croft da vida num piscar de olhos) em uma trama recheada de clichês, que não traz nada de novo e só entendia. Tirando algumas boas cenas de perseguição e de gore explícito, “Revenge” se consagra claramente como uma homenagem mal-feita à Kill Bill em que a crença do espectador tem que sempre estar abaixo das fragilidades narrativas do filme para que o mesmo seja digerível.
Phenomena
3.7 246O roteiro é fraquinho, as atuações beiram o bizarro, mas a atmosfera criada por Argento é única. A todo momento, o espectador fica atento esperando que algo de extremamente ruim aconteça... E o final do filme é absurdamente hilário e horrorizante!
Deixando Neverland
3.4 245O documentário não foi feito para investigar se o Michael fez ou não, mas sim para defender a visão dos dois garotos que foram, segundo os mesmos, abusados pelo rei do pop. O filme claramente não tem a intenção de ser um documentário investigativo, logo, não apresentar contra-argumentos a favor do Michael não o torna ruim ou fraco como obra. Há uma clara visão sendo defendida ali, e a maneira como o documentário defende essa visão é espetacular.
Os relatos são surpreendentes, e, mesmo que não sejam verdadeiros, soam extremamente sinceros e reais. Você consegue sentir a dor dos entrevistados e como a vida deles foram afetadas pela vida conturbada do Michael.
Acho um trabalho excepcional na maneira como o filme constrói sua narrativa e defende a sua visão dos fatos. Talvez no que ele peque seja na montagem, que em alguns momentos torna o filme inchado demais (daria para cortar no mínimo uns 30 minutos das 4 horas de documentário), mas de resto me surpreendeu muito positivamente.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3K“Democracia em Vertigem” é um daqueles documentários difíceis de assistir. Apesar de traçar um panorama narrativo já conhecido pela maior parte dos brasileiros (do impeachment até a posse de Bolsonaro como presidente da república), aqui a visão pessimista e extremamente pessoal de sua autora é a grande novidade. É a nova lente sob a qual enxergamos os fatos que já conhecemos.
A vida pessoal de Petra Costa (num trabalho de narração absurdo, que traz de volta aos conhecedores de seu trabalho, a sua obra-prima máxima “Elena) e a política brasileira se misturam, junto com os anseios da diretora, suas angústias, suas decepções e sua visão honesta sobre a construção e a desconstrução da democracia brasileira ao longo dos últimos anos. Há um lado político aqui sendo defendido, há um outro também sendo atacado, e ao contrário do abominável “1964: Brasil Entre Armas e Livros” lançado no mesmo ano, o documentário de Petra não tenta disfarçar posições políticas. Ele apresenta como argumentos os próprios arquivos de vídeo gravados pela própria equipe da diretora, por jornais ou por terceiros para analisar a fragilidade das instituições democráticas no Brasil e como algumas dessas instituições atuaram de maneira antidemocrática para derrubar um governo democraticamente eleito e prender um candidato a presidente de maneira comprovadamente conspiratória.
Em tempos recentes onde quase todos os dias somos bombardeados com diálogos que confirmam a aproximação ilegal entre o juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato, “Democracia em Vertigem” é um documentário excepcional, que define em pouco mais de duas horas os últimos anos de um país que, como diz o seu próprio título, não está mais com sua democracia em cima da corda bamba, mas sim completamente espatifada em um chão cheio de arame farpado e cobras famintas.