Toda vez que um cultuado diretor estrangeiro pisa pela primeira vez em solo americano, cresce o medo de que Hollywood pode seu estilo e sua assinatura artística a fim de pasteurizar a obra e torná-la mais palatável ao público estadunidense médio. Quando o sul-coreano Chan-Wook Park, diretor da fantástica Trilogia da Vingança, anunciou seu primeiro projeto em Hollywood logo surgiu a desconfiança. Ainda bem que as expectativas nem sempre se concretizam.
Com uma riqueza de detalhes visuais e sonoros a trama aborda uma possível hereditariedade da psicopatia, onde a mão de Chan-Wook é sentida, com uma câmera escorregadia e um cuidado extremo com cada tomada. Tecnicamente o filme é excepcional, com uma montagem fluída e bem realizada, uma fotografia belíssima e um figurino que ajuda na construção da estranheza do longa.
E por falar em estranheza, o elenco também colabora para essa sensação, apesar de não contar com nenhum desempenho espetacular, demonstra precisão na hora do casting. Nicole Kidman, Matthew Goode e Mia Wasikowska combinam perfeitamente com seus personagens, e isso deixa uma impressão fortíssima e muito positiva.
Enfim, “Segredos de Sangue” é uma obra excepcional que mostra que o talento de Chan-Wook Park não respeita fronteiras. Uma obra cheia de significados, com uma erotização quase mórbida que fala da violência inerente às pessoas, com uma narrativa precisa, que mistura fetiche e suspense e se encerra de maneira estranhamente satisfatória.
A premissa é interessante e evoca vários sub-textos, mas que nunca chegam a ser decentemente explorados, apenas pincelando a questão do preconceito e também do desespero que se instaura na sociedade nos momentos de tragédia anunciada. Trazendo uma vaga lembrança de ‘Ensaio sobre a cegueira’, o filme se mostra como um drama essencialmente humano, mas ao fazê-lo, perde a força quando percebemos que todas as escolhas da narrativa já foram usadas em outros filmes e de maneira mais eficiente.
O roteiro usa de alguns mecanismos bem questionáveis para dar sequência a trama, como a protagonista sair falando pra quem quiser ouvir, algo que certamente deveria ser mantido em sigilo. Sem falar que da metade para o fim a personagem perde qualquer noção do que está acontecendo a sua volta, de maneira que parece que todo mundo prevê o que vai acontecer, menos ela. Isso também prejudica a ideia final, que deveria ser bem mais impactante do que foi.
Com um elenco ok e uma produção, até certo ponto, caprichada, The Returned é um filme de zumbis praticamente sem zumbis, que parte de uma ideia original e bastante interessante, mas se perde na execução e falha em detalhes cruciais. Mesmo assim, pra quem gosta do gênero e está cansado da mesmice que assola a maioria dos filmes de zumbi, é uma boa pedida.
Com um roteiro muito bem trabalhado, com diálogos bem escritos e extremamente relevantes, ‘Nothing But The Truth’ nos mostra as terríveis consequências que Rachel enfrenta ao fazer valer a sua principal convicção profissional. Consequências que vão muito além das batalhas judiciais travadas entre seu advogado e o promotor, consequências que refletem física e emocionalmente nela e em todos a sua volta.
A trama intricada e bem conduzida pelo diretor ganha muito ao ser acompanhada por atuações realistas e bastante convincentes. Kate dá um senso moral impressionante a sua personagem, e transparece no olhar cada derrota que sofre no caso. Matt Dillon está implacável como o promotor, que deixa claro até em suas ações mais questionáveis que nada se colocará entre ele e seu objetivo. Entre os coadjuvantes se destacam Vera Farmiga e Alan Alda.
Tecnicamente eficiente o diretor não foge muito da normalidade, deixando o destaque da obra para seu texto politico e seu caráter de reflexão. Enfim, ‘Nothing but the Truth’ é um filme que oferece um dilema quase que inquebrável, botando em xeque as convicções tanto dos personagens quanto dos espectadores. Onde as semelhanças com a realidade são mais do que mera coincidência.
Imagine aqueles reality shows americanos bem populares, tipo ‘Keeping Up With The Kardashians’, mas substitua as socialites por um grupo de quatro vampiros que dividem uma casa em algum lugar da Nova Zelândia. Uma receita curiosa que resultou na melhor e mais original comédia dos últimos tempos.
Durante a projeção conhecemos as dificuldades que os sugadores de sangue encontram para se alimentar, mas principalmente para se manterem atualizados com a tecnologia e com as tendências de moda da atualidade. Eles são basicamente os estereótipos vampirescos já vistos no cinema, o sedutor do século 19, o almofadinha afeminado a lá ‘Entrevista com O Vampiro’, o rebelde e o vampiro monstro, ao estilo Nosferatu.
Com piadas e referências extremamente inteligentes, o roteiro brinca com os clichês tanto dos reality shows, quanto dos filmes de vampiros e criaturas em geral. Ainda sobra tempo para aquelas reflexões tipicas, como a dificuldade de lidar com a passagem do tempo e a imortalidade, o amor e os laços de amizade, tudo feito de maneira leve e bem humorada.
O elenco é afiadíssimo, todos os integrantes estão á vontade e parecem estar se divertindo horrores enquanto atuam. Tanto roteiro, quanto direção são dos mesmos responsáveis pela série ‘Flight of the Conchords’, e trazem um estilo de humor bastante peculiar.
Enfim, com um humor inteligente e algumas sequências impagáveis que ecoarão na sua memória por muito tempo, ‘What we do in the Shadows’ é uma das melhores comédias de horror dos últimos tempos, e um dos grandes filmes “perdidos” de 2014.
Keanu Reeves é um caso a ser estudado, não consigo me lembrar de outro ator que consegue compensar tão bem com carisma e presença em cena sua inexpressividade e ausência de alcance dramático. Mais uma vez se apoiando nessas qualidades do ator, alguém conseguiu realizar um belo filme de ação.
Uma sinopse simples para um filme simples. John Wick é o típico filme de vingança e o que o faz se destacar em meio a tantos filmes de vingança (os filmes de vingança americanos, pelo menos) é a sua honestidade com suas pretensões e premissa. Em nenhum momento ele tenta ser mais do que de fato é, o diretor Chad Stahelski promete um filme de ação simplista e divertido e entrega exatamente isso.
John Wick não é só um assassino profissional, ele é “O” assassino profissional, e a maneira que foi utilizada para evidenciar o quão fodão ele é foi bastante interessante. Sem diálogos expositivos falando de um provável passado na CIA, FBI, KGB ou qualquer coisa do tipo. Sua construção é digna de uma lenda urbana, com falas como: “…ouvi dizer que ele matou quatro caras com um lápis.” Ou “… você roubou o carro de quem?? Do John Wick, não acredito nisso, você o matou, não é?”. E toda essa construção funciona, antes mesmo dele começar a agir como um “badass motherfucker” o expectador compra o fato de ele ser um “badass motherfucker”.
Outra escolha acertada que evidencia os talentos de John, é o fato de ele ser preciso nos movimentos, sem desperdiçar tempo nem munição, é tiro na cabeça e que venha o próximo capanga. Existem também outros pequenos detalhes que chamam a atenção na produção, existe um submundo dos assassinos muito bem construído e com dinâmicas interessantíssimas, como o Hotel onde ninguém pode “falar de negócios”, ou a empresa de limpeza que arruma a casa depois de um serviço. Parece até que os assassinos tem sua própria moeda.
O elenco, apesar de ter alguns bons nomes pouco aproveitados, como Willem Dafoe e John Leguizamo, é competente e mantém o nível da produção alto. As cenas de ação também merecem certo destaque, apesar do modus operandi de John evocar algumas sequências meio mecânicas, o jeito de filmar, sem câmeras tremidas e cortes bruscos, contribui para o entendimento das cenas.
Enfim, John Wick é um filme de ação honesto e que cumpre exatamente o que promete, uma hora e meia de diversão descompromissada. As continuações parecem inevitáveis. Honestamente foi pra mim o que eu esperava que ‘O Protetor’ seria.
Não é fácil acertar em comédias de humor negro, extrair comédia da tragédia é algo arriscado e que nem sempre dá certo, pois o equilíbrio entre o tom da obra e a premissa tem que ser preciso. Foi isso que prejudicou o filme ‘Sem dor, sem Ganho’, por exemplo, o absurdo da premissa e a forma com que ela foi retratada não foram condizentes e o caldo então desandou. ‘The Voices’ quase se perde pelo mesmo caminho, mas a qualidade da realizadora teve seu peso e fez com que o filme terminasse em uma média extremamente positiva.
Nessa pegada meio ‘Dr. Dolittle’ vemos Jerry tentando escolher entre os conselhos dados por seu cachorro, Bosco, e seu gato Sr. Whiskers (ambas as vozes feitas por Reynolds), que tentam o ajudar a decidir entre ser “um bom garoto” ou um serial killer (não preciso dizer quem sugere o que, correto?). Uma premissa esquisitinha, mas até certo ponto bem simples, que se alia a uma execução bastante inspirada para se tornar um filme morbidamente divertido.
Ryan Reynolds é um dos pontos fortes do longa, seu trabalho de criação de personagem é notável, conciliando muito bem os trejeitos com a postura, o tom de voz e principalmente o olhar de Jerry, criando uma persona adorável, porém assustadora. Destaque para seu trabalho de dublagem dos pets, que mesmo que tenha sido feito com retoques digitais, não perde seu valor. Anna Kendrick faz seu papel de Anna Kendrick habitual, aquela pessoinha que de tão fofinha chega a ser irritante. Gemma Arterton não faz nada mais além de ser linda nesse filme, sua personagem nem tem tanta importância quanto parecia que teria.
Visualmente caprichado, com cores muito “chamativas” e uma fotografia excepcional, o filme usa muito da linguagem gráfica para definir o que é real na narrativa. É bem verdade que, como eu disse no inicio, o roteiro acaba escorregando um pouco quando a trama fica sombria demais para o clima pré-estabelecido, mas ele costuma se recuperar.
Enfim, ‘The Voices’ é um filme estranho, com um humor negro bastante sombrio apesar da pegada “fofinha” que ele demonstra no começo. Que muda de direção e de gênero várias vezes durante seus 103min de duração, a última cena dá uma quebrada forte no clima do filme e acaba deslocando a ótima sequência de créditos finais. Um longa esquisitíssimo que dificilmente agradará todo mundo, mas que com certeza merece ser visto.
Não é difícil constatar que nós somos o resultado de nossas experiências, em outras palavras somos essencialmente nossas memórias, nada no mundo é tão íntimo e pessoal quanto nossas lembranças, por isso ver alguém perdendo as suas é uma experiência tão tocante e devastadora. Se levarmos em conta o quão ativa era a nossa protagonista, tão viva e jovial, torna-se ainda mais chocante a experiência de vê-la se perder em meio a essa terrível doença.
Julianne Moore é a principal responsável por tornar tão palpável esse desmoronamento de Alice, suas relações familiares passam a trazer uma expressão de frieza, um ar melancólico. Ela traz uma devastação emocional tão real no olhar que só uma atriz do calibre de Julianne para conseguir tal desempenho, por isso seu Globo de Ouro e seu Oscar foram merecidíssmos.
O restante do elenco também está muito bem, especialmente Alec Baldwin que interpreta o marido de Alice. Até mesmo a inexpressiva Kristen Stewart está bem inserida no contexto do filme, ela ainda não demonstrou grande versatilidade dramática em nenhum papel, mas pelo menos está sabendo escolher seus trabalhos. Todos os outros atores demonstram de maneira realista como a evolução da doença da mãe os afeta.
Tanto a direção quanto o roteiro são extremamente simples e objetivos, sem muitos gracejos ou rodeios, tudo parece apenas um artificio para Juliane Moore fazer o seu show. Mesmo assim não podemos classificar esse filme como um draminha barato, pois não é, é verdade que existem centenas de filmes que contam histórias de pessoas que vão perdendo alguma coisa/habilidade no intuito de comover o público e só, mas não é o caso aqui.
Enfim, Still Alice é um filme que vale pela mensagem e por uma atuação colossal de sua protagonista. É uma obra singela, sensível e bastante tocante, que não usa de truques fáceis para induzir choro no espectador, as possíveis lágrimas que surgirem virão naturalmente naqueles que forem genuinamente tocados por esse drama que está cada vez mais comum, infelizmente.
Todos os pontos de partida são bastante promissores, mas eles acabam sendo prejudicados por um defeito que já foi observado em “JL: War”, o pouco tempo de desenvolvimento. A duração de 1h13min aproximadamente, não é suficiente para preencher todas as lacunas da trama e isso cria alguns furos de roteiro, sem falar que os acontecimentos acabam soando bastante apressados.
A origem aqui apresentada está muito mais para a apresentada nos novos 52, do que para a clássica do personagem, como vem sendo o foco das animações recentes, e confesso que a escolha foi bastante apropriada, já que a nova história de origem do Aquaman é muito mais interessante do que a clássica.
Mas por falar em Novos 52, isso nos leva a outro fator determinante para a qualidade da animação, uma das críticas recorrentes que as histórias pós-reboot sofrem é acerca da “falta de profundidade” (sem trocadilhos com Atlantis), e isso fica claro aqui. A trama surge de um argumento promissor, mas falta alguma coisa pra ela tornar-se realmente relevante, a narrativa insiste em parecer superficial demais.
A qualidade gráfica da animação é indiscutível, como sempre, e as sequências de ação também são muito bem pensadas e executadas (salvo um momento ridículo envolvendo o Lanterna Verde), apesar de não serem muitas. O filme traz algumas surpresinhas como a humanização de alguns heróis (curiosamente os que estão mais próximos dos Deuses), e até uma referência a um outro super-herói da editora que deve dar as caras nas animações muito em breve.
Enfim, JL: Throne of Atlantis tem muitas qualidades e muitos defeitos, mas acaba por sair com uma média positiva. A dinâmica entre os personagens está interessante, mas a equipe não precisa de tantos alívios cômicos. O argumento é promissor, mas o texto não engrena. O resultado é melhor do “JL: War”, mas não chega perto de “JL: Flashpoint Paradox”. Por fim é estranho definir assim, mas a primeira incursão do Rei das Profundezas do Mar acabou preferindo se manter no raso.
Como é bom ver o cinema nacional sabendo explorar novos gêneros, com muita qualidade e talento. Em uma mistura bem feita de drama com mistério Paulo e Pedro Morelli, pai e filho, entregam um exemplar digno da crescente (ainda que lenta) evolução do cinema tupiniquim.
As qualidades do longa começam com a escolha da locação, a paisagem é lindíssima e tem muita importância no simbolismo da trama. O roteiro é repleto de pequenos insights muito singelos e interessantes e por meio de pequenos momentos consegue abordar assuntos muito perspicazes, como as esperanças nutridas pela ingenuidades da juventude e o posterior choque de realidade causado pelas desilusões que povoam o caminho da vida. Esses momentos podem ser observados graças ao desempenho soberbo do elenco, que tem uma química natural entre si, e individualmente todos conseguem transpassar toda a carga de experiência vivida.
Existe sensibilidade até no jeito de filmar dos diretores, a juventude é mostrada com uma câmera livre que se movimenta bastante de acordo com a alegria do momento, enquanto que os momentos do reencontro trazem takes mais firmes, sisudos, com uma câmera estática implacável. Um cuidado estético que não se vê em qualquer produção.
No que diz respeito ao fio principal da narrativa, o mistério central da trama é um tanto quanto óbvio, mas seus efeitos em cada um e principalmente no grande interessado é muito bem construído, criando um ar de paranoia no personagem digno de grandes suspenses policiais. Mas o roteiro não isola o mistério central, ele dá o devido destaque a todos os personagens e as suas angústias particulares, como o casal que enfrenta o “dilema da maternidade”, ou o colega que se perde na própria ideia de fracasso, ou aquela que tem dificuldades de se conectar com o grupo graças aos percalços amorosos de sua história.
Enfim, Entre Nós é um filme melancólico e delicado, com um sub-texto muito melhor elaborado do que a própria trama central, um filme que diz muito sem usar palavras, com um elenco primoroso e uma execução ainda melhor. Sem ser piegas é um filme bastante reflexivo e até um pouco sentimental. É uma produção um pouco subjetiva e que talvez não agrade a todos os gostos, mas com certeza vale o tempo investido.
A cena que dá inicio ao longa acaba por prestar um pequeno desserviço ao restante dele, pois a música densa e opressora que acompanha a sequência do desaparecimento de uma menina nos dá uma ideia meio errada do que está por vir. É bem verdade que o tema é bastante sensível, mas a abordagem passa longe da seriedade. Até a sinopse evoca um clima muito mais sombrio do que os diretores Aharon Keshales e Navot Papushado resolveram seguir. Não é exatamente um thriller de investigação como o plot sugere, é na verdade uma comédia de humor negro misturado com filme de vingança. Com essa escolha os diretores nos brindam com cenas de violência surpreendentes, tortura envolvendo alicates, maçaricos, unhas e dedos e etc., mas para não ficar chocante demais eles intercalam com ótimos momentos de humor negro, uma escolha bastante interessante.
O elenco está muito bem nas performances levemente caricatas e exageradas, com um cinismo bem colocado que realça a força do humor nervoso do filme. Os personagens são suficientemente desenvolvidos, o policial atrapalhado e o pai com histórico militar tem uma leve construção que serve para justificar suas decisões. O único que deixa a desejar na construção (mas que até parece ser de maneira proposital) é o principal suspeito crime, não fica claro o porquê dele ser o principal suspeito e isso acaba por deixar o espectador em dúvida. Faz parte da construção do desfecho, é verdade, mas não foi feito de uma maneira competente.
Vale dizer que não é um filme que visa alertar ou refletir sobre a pedofilia e/ou crimes contra as crianças, não é a pretensão dele. Big Bad Wolves se contenta em ser um filme de vingança com boas doses de humor, foge do “estigma” de que só os filmes de arte de Israel é que fazem sucesso. No que se propõe a ser, Big Bad Wolves acaba por ter muitas qualidades, apesar de não explorar todo seu potencial e contar com uma conclusão um tanto quanto anti-climática.
Quanto mais simples for a vida que você leva, mais simples, e aparentemente banais, serão seus anseios. É o caso de Victor (Celso Franco), um jovem pobre que habita nos corredores do Mercado Quatro onde trabalha como carregador, uma das maiores feiras do centro de Assunção.
Os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori souberam emular precisamente alguns maneirismos do cinemão americano, com cenas de ação frenéticas capturadas com a câmera nas mãos, ou no peito dos personagens, mas em nenhum momento confundindo o espectador. Existem cenas de perseguição muito bem conduzidas, mas talvez ironizando o próprio cinemão hollywoodiano que ele “homenageia”, os carrões são substituídos por carrinhos de mão, que se adéquam aos estreitos corredores do local.
Apesar de abordar criticamente aspectos do terceiro mundo, como a criminalidade recorrente e a pobreza, o filme mantém uma inocência, focando na ação e pincelando temas mais sérios enquanto nos mostra uma cativante aventura. Usando de violência estilizada com uma fotografia condizente com clima de subúrbio, os diretores fazem seu trabalho remeter a obras de Guy Ritchie e até Quentin Tarantino.
O filme tem um entra e sai de personagens constante, alguns tão cartunescos que beiram o absurdo, mas nesse universo de exagero criado naquele pequeno espaço, tudo soa estranhamente natural. O roteiro ágil e bem escrito não se preocupa em fazer julgamentos, e apresenta resquícios de motivação que são até compreensíveis, ainda que os atos sejam um tanto quanto questionáveis. O filme conta com um humor inteligente e sagaz, que bate na tecla das críticas sociais sem se deslocar do tom da película.
Enfim, 7 Caixas é um achado em um país sem muita tradição cinematográfica, repleto de ação, humor negro e um desfecho/cena final perfeitamente colocado, além de contar com atores e personagens carismáticos. Em uma mistura de ‘Cidade de Deus’ com ‘Quem quer ser um Milionário’, ele brinca com os clichês hollywoodianos e entrega um produto caseiro perfeito para exportação.
O inicio do filme é bastante eficiente, o espectador compra a confusão do protagonista e a estranheza que se instaura ao chegar nesse misterioso local. A maneira como é mostrada a convivência dos garotos que já estão lá também é bem construída, a organização que eles criaram é interessante e plausível, cada garoto tem sua função naquela sociedade e cada um deles tem suas diferenças na personalidade, isso faz com que os personagens coadjuvantes não passem a sensação de descartabilidade como é comum em outros filmes.
Obviamente o que rege não só a primeira parte, mas toda a extensão do filme é o mistério: quem os colocou ali e por quê? E esse mistério é mostrado de maneira a provocar o interesse de quem assiste, os lampejos de memória que o protagonista tem ajudam a conceber esse questionamento de maneira bastante intrigante. Como é de praxe, o nosso protagonista é o cara que vai ser a fagulha para mudar a situação em que o grupo se encontra, criando assim apoiadores e rivais para sua causa. A rivalização se personifica em Gally (Will Poulter), um dos integrantes mais importantes do grupo e que se mostra como uma interessante referência ao mito da caverna de Platão.
O filme também é tecnicamente bem executado, bem fotografado e com cenas de ação muito bem filmadas. O único demérito nesse sentido fica com o estreante diretor Wes Ball, que não conseguiu dar ao labirinto a imponência que o desenvolvimento pedia, principalmente quando as tomadas aéreas entregam suas dimensões. O elenco coadjuvante vai muito bem, mas os protagonistas Dylan O’Brien e Kaya Scodelario que são bons atores, sofrem com a falta de material para trabalhar. Dylan vai bem de confuso para libertador, mas falta uma maior empatia em seu personagem, enquanto Kaya está completamente inútil. Sua personagem poderia trazer uma nova dinâmica para o grupo, mas isso não é feito, ela aparece apenas para enfeitar as cenas e fazer carinha de desentendida.
Existem outros defeitos aqui, como uma tentativa de fazer uma cena engraçada que acaba por ser ridícula, ou a insistência em querer criar momentos tocantes onde não havia necessidade (só um funciona, de fato), sem falar em uma cena que não faz o menor sentido que acontece já no finalzinho, chega a ser patética. Mas no geral, Maze Runner se sobressai em comparação a outros lançamentos desse interminável nicho, com um mistério interessante (apesar do desfecho questionável), boas cenas de ação e um elenco competente acaba sendo um entretenimento bastante válido. Tem tudo pra ser a mais (ou única) interessante saga dessa nova e extensa safra.
Como é curioso o efeito do tempo, implacável e transformador. Sua devastadora e imparável passagem já foi documentada várias vezes e de diversos modos, mas no cinema não me recordo de alguém fazê-lo de maneira tão simploriamente encantadora como Richard Linklater em Boyhood.
Uma proposta simples, até aparentemente desinteressante, é o que cerca esse filme: Documentar o crescimento de um rapaz dos seus seis aos dezoito anos de idade. Nada de extraordinário acontecerá a ele, ele não será abduzido para anos mais tarde se tornar um fora da lei intergalático, nem descobrirá que foi selecionado para uma escola de magia e bruxaria em algum lugar da Inglaterra. Apenas levará uma vida absolutamente normal (seja lá o que signifique isso). Mas em contrapartida a trivialidade da ideia tivemos uma produção surpreendente e ambiciosa, que acompanhou seu elenco por doze anos afim de captuar de maneira intensamente realista sua evolução e amadurecimento.
Durante ás 2h45min de duração do filme acompanhamos o desenrolar da vida de Mason Jr. (Ellar Coltrane) e de sua família, com seus pais divorciados (Patricia Arquette e Ethan Hawke) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater). A história transcorre através de uma seleção de momentos aparentemente banais, mas que em conjunto formarão a personalidade de Mason e dos seus familiares também. Graças a um roteiro maduro e extremamente verossímil, acontecimentos comuns como brigas entre irmãos, as primeiras desilusões, o amor, o rompimento, um pai ausente, as broncas, o trabalho, o primeiro padastro, as responsabilidades e toda uma gama de situações experimentadas pela maioria das pessoas comuns, acabam ganhando um grande significado na experiência de vida de cada personagem.
Nossa identificação também se deve ao excelente trabalho dos atores, especialmente Patricia Arquette e Ethan Hawke, que encarnam seus papéis tão bem que acaba tornando tudo incrivelmente natural. Patricia começa como uma mãe muito jovem, um pouco perdida, mas vai crescendo com o passar do tempo, com uma incansável dedicação aos filhos ela alcança um bom patamar profissional graças a seu esforço. Também vemos nela, e nos filhos o peso de suas escolhas amorosas que não deram muito certo. Ethan também começa como um pai jovem, aventureiro e até um pouco imaturo e irresponsável, mas sua carga de experiência vai acumulando e seu desenvolvimento até chegar em um responsável pai de família é altamente palpável. O desempenho de Ethan é excepcional aqui, não que em outras ocasiões ele seja um mau ator, longe disso, mas é impressionante como Linklater consegue extrair dele as melhores performances.
Já que eu falei em naturalidade, vale citar também os lapsos de tempo nesse quesito. Não foi necessário verbalizar certas coisas para evidenciar uma evolução e/ou passagem de tempo, Linklater o fez de maneira sútil, além das mudanças físicas dos personagens, nos situamos no tempo ao ver a tecnologia, ao ouvir uma música e até com diálogos sobre a situação politica dos EUA. A fotografia do filme é simples, sem invenções mirabolantes, apenas o necessário. Linklater também reforça sua pericia técnica como diretor ao conduzir alguns plano-sequências maravilhosos, tal qual alguns da “Trilogia Before”.
O desenrolar de Boyhood acaba por evocar uma nostalgia no espectador, também. Principalmente lá pelo final, quando você se orgulha de Mason por ele ter se formado, sensação estranha para ter com um personagem, mas natural, afinal você o conhece desde garoto. Sem falar nas saudades antecipadas que sentimos ao perceber que ele está indo para a faculdade, e que consequentemente o filme está acabando. Vi algumas pessoas comparando com a sensação de acompanhar uma série por anos e estar se despedindo dela, muitos usando a série ‘Anos Incríveis’ como exemplo. É uma uma comparação extremamente válida, mas trazendo a uma realidade palpável a mim, foi como se despedir da saga Harry Potter, guardada as devidas proporções obviamente. Dizer que Linklater conseguiu fazer com seus personagens em três horas, algo comparável ao que uma série ou saga de filmes fez em anos ajuda a dimensionar o peso de sua história.
Enfim, Boyhood é o ponto mais alto da ótima carreira de Richard Linklater, sua obra prima. Uma experiência cinematográfica indispensável, bem escrita, bem dirigida e muito bem atuada, com uma excelente trilha sonora que trabalha em favor da narrativa. Uma obra simples, mas grandiosa, encantadora e extremamente humana.
Joe Carnahan é um cineasta interessante e que vem amadurecendo bem seu jeito de fazer cinema, seus trabalhos anteriores deixavam muito claras suas influências, como por exemplo a verborragia remetente a Tarantino, ou a violência estilizada e a linguagem de videoclipe muito comum nas obras de Guy Ritchie e semelhantes. Em Stretch ele reforça a tentativa de encontrar sua própria assinatura, e mesmo caindo em algumas soluções comuns demais acaba por entregar uma comédia competente e divertida.
Stretch é basicamente uma comédia de erros bem ao estilo “Uma noite fora de série”, mas com uma pegada um pouco mais ‘suja’, numa pegada mais “Se beber, não case!”. Junte-se a isso o frenesi da narrativa característica do trabalho de Carnahan, e temos uma combinação bastante agradável de se assistir. As piadas que povoam o roteiro do longa não são telegrafadas e nem forçadas, elas fluem de maneira bastante natural de acordo com as situações. Grandes momentos do filme também se dão graças a algumas participações especiais, como a de Ray Liotta e do gênio David Hasselhoff, ambos sempre dispostos a rir de si mesmos.
Além dos méritos de direção e roteiro, muito do potencial de Stretch se deve a seu ótimo elenco. Patrick Wilson, como sempre, esbanja carisma e presença em cena. Ed Helms está muito bem, engraçado como nunca, mas o destaque fica com a performance completamente insana de Chris Pine, que sempre foi um ator bastante contido, mas que de uma hora para a outra engatou dois personagens meio despirocados (vide Quero matar meu chefe 2) e mandou muito bem. Para tornar tudo ainda mais bonito temos a presença das estonteantes Jessica Alba e Brooklyn Decker, quem precisa de mais?
Enfim, Stretch pode até repetir alguns conceitos de outros filme, além de ainda não ter a assinatura forte do diretor, mas graças a um texto eficiente e um elenco inspirado acaba por cumprir perfeitamente o propósito de divertir.
Viagem no tempo sempre é um tema bastante fértil no cinema, mas também traz consigo uma certa polêmica, afinal é muito fácil derrapar e acabar sabotando suas próprias regras. Quando um filme consegue desenvolver seu roteiro sem cair em suas próprias armadilhas, além de ter todo o resto de seus aspectos igualmente bem realizados, nasce um novo clássico.
O filme tem muitas coisas interessantíssimas, como as escolhas visuais minimalistas que se adequam ao enxuto orçamento, mas mesmo assim conseguem construir de maneira bastante convincente a atmosfera das épocas tratadas. Isso nos dá uma noção da habilidade dos diretores em driblar as “adversidades técnicas”, que não se vê em qualquer cineasta por aí.
A ideia central do enredo é extremamente original e bem montada, mas não escapa da tentativa daqueles espectadores mais cínicos (tipo eu) de tentar procura e racionalizar qualquer inconsistência que possa povoar o roteiro. Confesso que não consegui encontrar falhas nesse roteiro meticulosamente orquestrado de maneira tão inteligente. Todas as ‘suspeitas’ levantadas são respondidas após uma olhada mais atenta na obra. Por falar em atenção, os espectadores mais atentos podem até captar as pistas e desvendar o mistério antes da conclusão, mas isso passa longe de ser um demérito do filme, já que se ponto forte está mais na construção da jornada e em seus reflexos nos personagens, no que no destino em si.
Antes de finalizar não posso deixar de elogiar a fantástica atuação de Sarah Snook, que se entrega ao papel de maneira intensa e entrega um desempenho camaleônico totalmente impactante. Ethan Hawke, que caprichou nos filmes lançados nesse ano, está mais uma vez carismático e convincente, apesar de estar ali mais para ajudar a vender o filme do que qualquer outra coisa.
Enfim, Predestination tem um alto fator mind-blowing muito bem construído pelos jovens diretores. Com uma trama magistralmente amarrada ele aborda um complexo paradoxo temporal sem insultar a inteligência do espectador, nem criar mais perguntas do que pode responder. Se junta a Coherence como uma das gratas surpresas da ficção científica independente de 2014.
Palo Alto não esconde suas influências e vem carregado com as características do subgênero de drama independente voltado ao público adolescente, que busca tirar o brilho do frescor e liberdade dessa fase da vida e substituí-lo pelo cotidiano problemático, sem perspectiva, com dificuldades de comunicação e com a imensa solidão e melancolia, preenchido pelo uso corriqueiro de drogas e dificuldade de comunicação entre gerações.
Infelizmente a insistência em deixar claro suas inspirações acaba engessando um pouco a história, e evidenciando o excesso de trivialidade que povoa o roteiro. Não há nenhum aspecto que desperte maior interesse, o texto se preocupa tanto em reforçar o vazio da vida dos adolescentes, que acaba esquecendo-se de formular um plot minimamente interessante. Esses detalhes escancaram a inexperiência de Gia como diretora, que assim como seus personagens não sabe o que fazer ou aonde quer ir.
Os personagens que devem ser a chave da identificação com o público não convencem em suas convicções, nem em seus dramas ou dilemas. Alguns chegam a ser desprezíveis, como o rebelde Fred (Nat Wolff), que irrita durante todo o filme e nas poucas vezes em que tenta se desenvolver o “porquê” de sua personalidade autodestrutiva, tudo soa extremamente estereotipado e superficial.
Apesar de demonstrar lampejos de alguma coisa a dizer e contar com certa pericia técnica, além dos atores em papéis convincentes, Palo Alto falha como estudo de uma geração e de seus ritos. A inexperiência de Gia impede um maior controle sobre a narrativa e transforma o longa em algo raso e muitas vezes entediante. Torço bastante para o amadurecimento de mais uma “Coppola” como cineasta, mas sua primeira incursão é esquecível e não muito recomendável.
O resultado de A Entrevista é muito menos polêmico do que sua projeção pré-estreia dava a entender, existem sim alfinetadas ao modo que Kim comanda seu país ou a postura que ele apresenta para com os seus rivais políticos, mas todas essas críticas estão misturadas com as referências a cultura pop, participações de celebridades do cinema, da música e da tv dos EUA, e até uma crítica ao próprio americano em si, principalmente no que diz respeito ao conteúdo consumido semanalmente em frente aos televisores.
Como é de costume nas comédias escritas pela dupla Rogen / Goldberg, existem piadas ácidas inteligentes e observações interessantes do ponto de vista politico, críticas sutis, mas muito bem tecidas. Só que tudo isso está chafurdado em um mar de escatologia e piadas envolvendo pênis, anus e afins. Isso deixa claro a polivalência da dupla no quesito fazer rir, mas sempre preferindo se divertir do jeito deles, principalmente .
O ditador é interpretado por Randall Park, que está muito bem no papel. Ele é mostrado ao público como alguém bastante manipulador, mas antes de tudo, muito mimado. Que sofre por ter que esconder seus gostos, além de se sentir acuado por uma suposta pressão ancestral. Quase como um adolescente histérico, com a sútil diferença de que ele tem um país pra comandar. Franco está surtadíssimo e impagável como o excêntrico apresentador, enquanto Rogen entrega sua única expressão habitual. Destacam-se nas participações especiais o rapper Eminem e a atriz Diana Bang, além da lindíssima Lizzy Caplan, que merecia mais tempo de tela.
Enfim, A Entrevista não é nada mais que um besteirol digno de seus realizadores, especialistas nesse tipo de filme. Com críticas bem feitas, bastante escatologia e muito nonsense, sem falar no simpático e estranho bromance que também é uma marca dos dois autores. Não é o filme mais controverso da história, longe disso, mas é uma ótima pedida para os apreciadores do estilo de humor visto em ‘É o Fim’, ‘SuperBad’ e ‘Segurando as Pontas’. Uma comédia que se entrar para a história, terá sido pelos motivos errados.
The Equalizer tem vários problemas, mas não podemos negar que se trata de um filme honesto, que não nega suas origens em uma série dos anos setenta e põe Denzel como um justiceiro urbano que volta a ativa já veterano, tema cada vez mais em voga nos filmes de ação atuais (Liam Neeson que o diga), e que remete muito a época de lançamento da série e principalmente a década posterior.
A trama extremamente simples se desenrola de maneira linear e se esforça para preencher as mais de duas horas de duração do filme, nem sempre obtendo êxito. Algumas cenas que são colocadas com a intenção de construir a “fodacidade” do protagonista e de estabelecer sua conexão com os oprimidos, acabam por soar como pura encheção de linguiça, apesar das boas intenções.
A longa duração também não ajuda a desenvolver os personagens do filme como seria de se esperar, então todos eles servem apenas de engrenagem para Fuqua transformar McCall em um daqueles caras fodões que não olham para explosões, mas tudo sem profundidade alguma.
As cenas de ação que exploram bastante a imagem de Denzel são bem executadas, mas são muito poucas e esparsas para um filme de gênero. Cabe ao ator usar seu carisma para preencher os momentos de “paradeira”, pelo menos Denzel é e sempre será capaz de cativar o público e junto com seu antagonista, muito bem interpretado por Marton Csokas, conseguem manter o interesse do espectador.
Enfim, The Equalizer se apoia muito no carisma dos atores e nos poucos momentos de ação estilizada, mas é um filme bastante desnivelado e com vários problemas de desenvolvimento. Não faz jus a expectativa de uma grande reunião, mesmo assim conseguiu construir um terreno fértil para continuações e pode ter aí seu ponto mais promissor.
O projeto todo é uma grande referência / homenagem aos filmes dos anos oitenta, começando pela trama e passando por vários outros detalhes importantes, como a trilha sonora eletrônica ou a própria ambientação em uma pequena cidade do interior. Até mesmo o desenrolar do roteiro, suas escolhas e soluções remetem ao charme dos clássicos de John Carpenter e companhia. Com um ritmo bem distinto em suas duas metades, a narrativa traz doses precisas de mistério, ação e um ar de deboche de quem sabe se levar a sério apenas quando é necessário.
Dan Stevens, o protagonista, transborda charme em sua atuação, com um sorriso firme e expressões que andam na tangente da canastrice, ele cria um personagem cativante e sedutor, mas que sabe ser ameaçador quando é preciso. Os outros atores reagem bem ao domínio que ele exerce nas cenas, e a sensação de encantamento misturada com desconfiança é muito bem demonstrada por todos eles.
Adam Wingard, que já havia dirigido o ótimo ‘Você é o Próximo’, mostra que sabe muito bem conduzir seu filme de modo que prende o espectador, sem fazê-lo se importar com o absurdo da situação ou com qualquer pequena incoerência que possa surgir. Ele sabe combinar perfeitamente a música com a fotografia, aliada as locações e a situação como um todo, criando uma aura psicodélica interessantíssima.
Enfim, The Guest é um filme preciso, ciente de suas pretensões, extremamente estiloso e deliciosamente divertido. Com atores á vontade em seus papéis e um roteiro repleto de referências bacanas ao cinema dos anos oitenta. Uma mistura de gêneros e conceitos que deu muito certo graças a competência de seu realizador. Altamente recomendado.
Nem todas as pessoas tem estrutura para suportar um mundo pós-colapso. Nem todas as pessoas terão estrutura para suportar ‘The Rover’. Mas aquelas que conseguirem sobreviver a ambos podem ser recompensadas ao final da jornada. Ou não.
Dizer que um filme parece durar muito mais do que ele de fato dura, raramente será uma forma de elogiá-lo, e aqui também não é. A trama de The Rover é mínima e estender seu desenrolar por 1h40min torna a experiência extremamente maçante e incomoda. Não fosse o fato de isso parecer proposital, seria difícil não classificá-lo como uma completa perda de tempo.
O diretor David Michôd (do ótimo ‘Reino Animal’) entrega um filme que caminha tanto entre gêneros que é até difícil cravar a qual ele pertence. Com um quê de Western, pitadas de Road Movie, um toque de filme pós-apocalíptico e até um dedinho de humor negro e filmes de vingança, temos algo que dificilmente agradará a todo tipo de público.
Seguimos os protagonistas Eric (Guy Pearce) e Rey (Robert Pattinson) nessa jornada pelas áridas estradas australianas. O primeiro é um homem furioso, com um passado negro, poucas palavras e atitudes que mostram que sua moralidade foi pro saco junto com a economia. O segundo é o irmão que fora deixado para trás na fuga, ele possui algum atraso mental e suas motivações vão se moldando com o decorrer da viagem
Ambos são interpretados brilhantemente, Guy Pearce deixa de lado a canastrice que tem adotado e entrega uma atuação contida, mas cheia de nuances intensas e repleta de ódio. Pattinson, quem diria, passa longe da mediocridade de suas atuações anteriores, aqui ele encarna de maneira voraz um homem cheio de tiques e com um sotaque caipira, que em nenhum momento soa forçado. E os dois criam uma dinâmica interessante, semelhante a uma espécie de síndrome de Estocolmo.
A cinematografia é bem realizada, com paisagens secas e um tom de sépia que condiz com a ambientação e o estado em que o mundo se encontra, deixando um ar de Mad Max nas cenas. A trilha sonora é totalmente maluca, em certos momentos ela incomoda propositalmente com sons industriais, tão maquinais que chegam a doer. Mas também temos trechos cantados de maneira dramática e até uma música pop que inicialmente parece deslocada, mas que ganha certo simbolismo no decorrer da fita.
O mistério que rege a viagem é o porquê de Eric querer tanto esse carro, e a resolução tem um significado alegórico interessante, mas não evita aquela reação: “putz, sério que era só por isso?” Enfim, The Rover incomoda propositalmente o espectador com sua trama desenvolvida a passos de tartaruga, e trata das coisas que mantém no homem um pouco de civilidade quando o mundo sai dos trilhos. Mesmo sendo um pouco pretensioso e bastante cansativo, ainda vale o tempo investido, desde que o espectador saiba onde está se metendo.
O primeiro ato, apesar de um pouco lento, é bastante promissor em construir o senso de mistério, com pesquisas e dúvidas que remetem a ótimos filmes de aventura já produzidos. Infelizmente já vemos aí o tipo de decisão que permeará todo o desenvolvimento da trama, a insistência em usar clichês desde as primeiras cenas nos dá a dimensão do problema e tornam a desfecho altamente previsível logo de cara.
Mas se o roteiro é um problema em Ragnarok, a produção está de parabéns. As paisagens de lagos e florestas escandinavas é linda e muito bem fotografada. O desconhecido elenco é competente, mesmo com a unidimensionalidade dos personagens. Os efeitos visuais são bem realizados, principalmente se for levado em conta o tamanho da produção. A música também é ótima, ela emula perfeitamente os tons aventurescos de grandes obras do passado, como Jurassic Park e Indiana Jones.
Infelizmente o plot altamente promissor se perde em meio a escolhas erradas e um desenvolvimento incrivelmente previsível. Essas escolhas do diretor Mikkel Brænne Sandemose transformam o que poderia ser um marco, tanto dessa mitologia quanto desse gênero, em uma aventura genérica que depende de circunstâncias muito especificas para ser aproveitada. Se você gostou de filmes como A Lenda do Tesouro Perdido e Viagem ao Centro da Terra, talvez seja uma boa pedida.
A investigação se resume aos depoimentos colhidos pelo Delegado (Juliano Cazarré), e esses vão se moldando na tela em forma de flashbacks que não representam claramente os fatos, mas sim as versões de cada um para o acontecido. Essa escolha do diretor colabora para a criação do mistério na cabeça do espectador, além de nos apresentar melhor aos personagens. Nesses momentos conhecemos a dubiedade de cada um deles, a maneira como o pacato pai de família e a amante iludida e apaixonada reagem ao serem ameaçados, mostrando quem realmente são.
O elenco inteiro entrega atuações seguras, com destaque para Leandra Leal que realmente impressiona por seu poder de alternância de personalidade, e Juliano Cazarré, responsável pelos poucos momentos em que cabem risos no filme, ainda que esses saiam nervosamente. Um ponto recorrente no longa, que começa soando apropriado, mas que cansa um pouco no seu decorrer é o uso de extensos planos estáticos, ora eles focam em diálogos relevantes e expressões significativas, ora exageram nos momentos de contemplação e silêncio, que acabam soando um pouco deslocados.
Antes de começar a assistir não sabia que se tratava de uma história real, mesmo assim a descoberta do culpado foi previsível. Na verdade a identidade do culpado é previsível, a descoberta segura bem o mistério. O desfecho é impactante e desconcertante, daqueles que te jogam no chão.
Enfim, O Lobo Atrás da Porta é um filmaço, bem realizado, bem atuado e muito bem escrito, que te prende do inicio ao fim. Fernando Coimbra chega com o pé na porta e entra pra caderneta de cineastas brasileiros que temos que ficar de olho, entregando um dos grandes filmes nacionais dos últimos anos.
O maior problema em The Purge: Anarchy não está no que ele é, até por que o filme é divertido, um survivor movie bem realizado, que tem um ritmo alucinante, ação frenética e ótima pericia técnica. Os atores são competentes, Frank Grillo está muito bem e as situações vividas pelos protagonistas são verossímeis, levando em conta o mundo em que vivem. Tirando o pouco desenvolvimento dos personagens, e um furo ou outro no roteiro, a continuação de The Purge é um entretenimento perfeitamente aceitável e eficiente.
O problema está no que ele poderia ser, mas por escolha (ou mais provavelmente, incompetência) de seu realizador, não foi. Ele apenas pincela uma gama de situações que poderiam ser mais bem exploradas e daria uma profundidade muito maior aquela apocalíptica situação. Seria interessante abordar e/ou esclarecer quem são os ‘Novos Fundadores’, e quais as circunstâncias desse renascimento da nação.
O teor de crítica que essa premissa evoca se perde no desenvolvimento da trama, poderíamos ter acompanhado mais do grupo rebelde, da guerra de classes e das artimanhas e intenções governamentais com essa atitude, que vai muito além do controle da criminalidade. Ou poderíamos ter um melhor desenvolvimento da história pessoal dos personagens, criar mais empatia com eles, esclarecer motivações. Nada disso é feito, temos apenas lampejos do que poderia ter acontecido.
The Purge sofre com a falta de um diretor que saiba o que quer, fico pensando na falta de umas metáforas e críticas sociais a lá Neil Blomkamp, com uma pitada da acidez e ultra violência de Paul Verhoeven. Seria uma mistura que combinaria com o plot dessa série, e digo série por que o terceiro filme já foi confirmado, com James DeMonaco na direção. Por ser bem abrangente, The Purge tem potencial para gerar infinitas continuações, o que daria espaço para o amadurecimento da ideia e de seu realizador. Tomara.
Enfim, mesmo funcionando como entretenimento puro, The Purge: Anarchy abre mão de ser memorável. Quem sabe em futuro próximo essa franquia consiga expurgar seus defeitos e se tornar tão boa quanto a premissa é.
O grande problema de ‘Sétimo’ está no fato de o filme ser extremamente genérico, praticamente tudo que ele apresenta já foi feito anteriormente por outros filmes, desde a cena de abertura com seus planos aéreos da metrópole Buenos Aires (mas que poderia ser qualquer cidade), até seu desfecho que se dá sem o impacto necessário. Nesse decorrer até temos uma criação de mistério interessante, afinal, quem diabos levou as crianças? Zeladores, moradores e até os próprios pais são suspeitos e isso é o suficiente para despertar o interesse do espectador, mas não para vidrá-lo como um bom suspense realmente faria.
Além de ser um dos principais expoentes do cinema argentino para o mundo, Ricardo Darín também é um dos atores mais regulares em atividade. Eu não me lembro de ter visto qualquer filme em que sua atuação tenha deixado a desejar. E o fato de ele entregar mais um ótimo desempenho, cativa o espectador. Sua angústia é palpável e o desespero que se instaura no seu personagem é muito bem construído. Sua colega Belén Rueda, que vive sua ex-esposa, também está muito bem e divide com ele o peso do filme.
A cinematografia está relativamente boa, e o diretor Patxi Amézcua não perde tempo com cenas desnecessárias ao desenvolvimento da trama. A trilha sonora incomoda um pouco, o uso constante de uma guitarrinha acaba dando um ar quase novelesco ao filme, e não tem nem um pouco de peso.
Enfim, ‘Sétimo’ não está nem perto dos grandes filmes portenhos dos últimos anos, seu final é previsível e sem impacto, mas seu eficiente e carismático protagonista segura a onda e impede o filme de se tornar uma completa perda de tempo.
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista AgoraToda vez que um cultuado diretor estrangeiro pisa pela primeira vez em solo americano, cresce o medo de que Hollywood pode seu estilo e sua assinatura artística a fim de pasteurizar a obra e torná-la mais palatável ao público estadunidense médio. Quando o sul-coreano Chan-Wook Park, diretor da fantástica Trilogia da Vingança, anunciou seu primeiro projeto em Hollywood logo surgiu a desconfiança. Ainda bem que as expectativas nem sempre se concretizam.
Com uma riqueza de detalhes visuais e sonoros a trama aborda uma possível hereditariedade da psicopatia, onde a mão de Chan-Wook é sentida, com uma câmera escorregadia e um cuidado extremo com cada tomada. Tecnicamente o filme é excepcional, com uma montagem fluída e bem realizada, uma fotografia belíssima e um figurino que ajuda na construção da estranheza do longa.
E por falar em estranheza, o elenco também colabora para essa sensação, apesar de não contar com nenhum desempenho espetacular, demonstra precisão na hora do casting. Nicole Kidman, Matthew Goode e Mia Wasikowska combinam perfeitamente com seus personagens, e isso deixa uma impressão fortíssima e muito positiva.
Enfim, “Segredos de Sangue” é uma obra excepcional que mostra que o talento de Chan-Wook Park não respeita fronteiras. Uma obra cheia de significados, com uma erotização quase mórbida que fala da violência inerente às pessoas, com uma narrativa precisa, que mistura fetiche e suspense e se encerra de maneira estranhamente satisfatória.
Retornados
3.2 86 Assista AgoraA premissa é interessante e evoca vários sub-textos, mas que nunca chegam a ser decentemente explorados, apenas pincelando a questão do preconceito e também do desespero que se instaura na sociedade nos momentos de tragédia anunciada. Trazendo uma vaga lembrança de ‘Ensaio sobre a cegueira’, o filme se mostra como um drama essencialmente humano, mas ao fazê-lo, perde a força quando percebemos que todas as escolhas da narrativa já foram usadas em outros filmes e de maneira mais eficiente.
O roteiro usa de alguns mecanismos bem questionáveis para dar sequência a trama, como a protagonista sair falando pra quem quiser ouvir, algo que certamente deveria ser mantido em sigilo. Sem falar que da metade para o fim a personagem perde qualquer noção do que está acontecendo a sua volta, de maneira que parece que todo mundo prevê o que vai acontecer, menos ela. Isso também prejudica a ideia final, que deveria ser bem mais impactante do que foi.
Com um elenco ok e uma produção, até certo ponto, caprichada, The Returned é um filme de zumbis praticamente sem zumbis, que parte de uma ideia original e bastante interessante, mas se perde na execução e falha em detalhes cruciais. Mesmo assim, pra quem gosta do gênero e está cansado da mesmice que assola a maioria dos filmes de zumbi, é uma boa pedida.
Faces da Verdade
3.7 187Com um roteiro muito bem trabalhado, com diálogos bem escritos e extremamente relevantes, ‘Nothing But The Truth’ nos mostra as terríveis consequências que Rachel enfrenta ao fazer valer a sua principal convicção profissional. Consequências que vão muito além das batalhas judiciais travadas entre seu advogado e o promotor, consequências que refletem física e emocionalmente nela e em todos a sua volta.
A trama intricada e bem conduzida pelo diretor ganha muito ao ser acompanhada por atuações realistas e bastante convincentes. Kate dá um senso moral impressionante a sua personagem, e transparece no olhar cada derrota que sofre no caso. Matt Dillon está implacável como o promotor, que deixa claro até em suas ações mais questionáveis que nada se colocará entre ele e seu objetivo. Entre os coadjuvantes se destacam Vera Farmiga e Alan Alda.
Tecnicamente eficiente o diretor não foge muito da normalidade, deixando o destaque da obra para seu texto politico e seu caráter de reflexão. Enfim, ‘Nothing but the Truth’ é um filme que oferece um dilema quase que inquebrável, botando em xeque as convicções tanto dos personagens quanto dos espectadores. Onde as semelhanças com a realidade são mais do que mera coincidência.
O Que Fazemos nas Sombras
4.0 662 Assista AgoraImagine aqueles reality shows americanos bem populares, tipo ‘Keeping Up With The Kardashians’, mas substitua as socialites por um grupo de quatro vampiros que dividem uma casa em algum lugar da Nova Zelândia. Uma receita curiosa que resultou na melhor e mais original comédia dos últimos tempos.
Durante a projeção conhecemos as dificuldades que os sugadores de sangue encontram para se alimentar, mas principalmente para se manterem atualizados com a tecnologia e com as tendências de moda da atualidade. Eles são basicamente os estereótipos vampirescos já vistos no cinema, o sedutor do século 19, o almofadinha afeminado a lá ‘Entrevista com O Vampiro’, o rebelde e o vampiro monstro, ao estilo Nosferatu.
Com piadas e referências extremamente inteligentes, o roteiro brinca com os clichês tanto dos reality shows, quanto dos filmes de vampiros e criaturas em geral. Ainda sobra tempo para aquelas reflexões tipicas, como a dificuldade de lidar com a passagem do tempo e a imortalidade, o amor e os laços de amizade, tudo feito de maneira leve e bem humorada.
O elenco é afiadíssimo, todos os integrantes estão á vontade e parecem estar se divertindo horrores enquanto atuam. Tanto roteiro, quanto direção são dos mesmos responsáveis pela série ‘Flight of the Conchords’, e trazem um estilo de humor bastante peculiar.
Enfim, com um humor inteligente e algumas sequências impagáveis que ecoarão na sua memória por muito tempo, ‘What we do in the Shadows’ é uma das melhores comédias de horror dos últimos tempos, e um dos grandes filmes “perdidos” de 2014.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraKeanu Reeves é um caso a ser estudado, não consigo me lembrar de outro ator que consegue compensar tão bem com carisma e presença em cena sua inexpressividade e ausência de alcance dramático. Mais uma vez se apoiando nessas qualidades do ator, alguém conseguiu realizar um belo filme de ação.
Uma sinopse simples para um filme simples. John Wick é o típico filme de vingança e o que o faz se destacar em meio a tantos filmes de vingança (os filmes de vingança americanos, pelo menos) é a sua honestidade com suas pretensões e premissa. Em nenhum momento ele tenta ser mais do que de fato é, o diretor Chad Stahelski promete um filme de ação simplista e divertido e entrega exatamente isso.
John Wick não é só um assassino profissional, ele é “O” assassino profissional, e a maneira que foi utilizada para evidenciar o quão fodão ele é foi bastante interessante. Sem diálogos expositivos falando de um provável passado na CIA, FBI, KGB ou qualquer coisa do tipo. Sua construção é digna de uma lenda urbana, com falas como: “…ouvi dizer que ele matou quatro caras com um lápis.” Ou “… você roubou o carro de quem?? Do John Wick, não acredito nisso, você o matou, não é?”. E toda essa construção funciona, antes mesmo dele começar a agir como um “badass motherfucker” o expectador compra o fato de ele ser um “badass motherfucker”.
Outra escolha acertada que evidencia os talentos de John, é o fato de ele ser preciso nos movimentos, sem desperdiçar tempo nem munição, é tiro na cabeça e que venha o próximo capanga. Existem também outros pequenos detalhes que chamam a atenção na produção, existe um submundo dos assassinos muito bem construído e com dinâmicas interessantíssimas, como o Hotel onde ninguém pode “falar de negócios”, ou a empresa de limpeza que arruma a casa depois de um serviço. Parece até que os assassinos tem sua própria moeda.
O elenco, apesar de ter alguns bons nomes pouco aproveitados, como Willem Dafoe e John Leguizamo, é competente e mantém o nível da produção alto. As cenas de ação também merecem certo destaque, apesar do modus operandi de John evocar algumas sequências meio mecânicas, o jeito de filmar, sem câmeras tremidas e cortes bruscos, contribui para o entendimento das cenas.
Enfim, John Wick é um filme de ação honesto e que cumpre exatamente o que promete, uma hora e meia de diversão descompromissada. As continuações parecem inevitáveis. Honestamente foi pra mim o que eu esperava que ‘O Protetor’ seria.
As Vozes
3.2 340Não é fácil acertar em comédias de humor negro, extrair comédia da tragédia é algo arriscado e que nem sempre dá certo, pois o equilíbrio entre o tom da obra e a premissa tem que ser preciso. Foi isso que prejudicou o filme ‘Sem dor, sem Ganho’, por exemplo, o absurdo da premissa e a forma com que ela foi retratada não foram condizentes e o caldo então desandou. ‘The Voices’ quase se perde pelo mesmo caminho, mas a qualidade da realizadora teve seu peso e fez com que o filme terminasse em uma média extremamente positiva.
Nessa pegada meio ‘Dr. Dolittle’ vemos Jerry tentando escolher entre os conselhos dados por seu cachorro, Bosco, e seu gato Sr. Whiskers (ambas as vozes feitas por Reynolds), que tentam o ajudar a decidir entre ser “um bom garoto” ou um serial killer (não preciso dizer quem sugere o que, correto?). Uma premissa esquisitinha, mas até certo ponto bem simples, que se alia a uma execução bastante inspirada para se tornar um filme morbidamente divertido.
Ryan Reynolds é um dos pontos fortes do longa, seu trabalho de criação de personagem é notável, conciliando muito bem os trejeitos com a postura, o tom de voz e principalmente o olhar de Jerry, criando uma persona adorável, porém assustadora. Destaque para seu trabalho de dublagem dos pets, que mesmo que tenha sido feito com retoques digitais, não perde seu valor. Anna Kendrick faz seu papel de Anna Kendrick habitual, aquela pessoinha que de tão fofinha chega a ser irritante. Gemma Arterton não faz nada mais além de ser linda nesse filme, sua personagem nem tem tanta importância quanto parecia que teria.
Visualmente caprichado, com cores muito “chamativas” e uma fotografia excepcional, o filme usa muito da linguagem gráfica para definir o que é real na narrativa. É bem verdade que, como eu disse no inicio, o roteiro acaba escorregando um pouco quando a trama fica sombria demais para o clima pré-estabelecido, mas ele costuma se recuperar.
Enfim, ‘The Voices’ é um filme estranho, com um humor negro bastante sombrio apesar da pegada “fofinha” que ele demonstra no começo. Que muda de direção e de gênero várias vezes durante seus 103min de duração, a última cena dá uma quebrada forte no clima do filme e acaba deslocando a ótima sequência de créditos finais. Um longa esquisitíssimo que dificilmente agradará todo mundo, mas que com certeza merece ser visto.
Para Sempre Alice
4.1 2,3K Assista AgoraNão é difícil constatar que nós somos o resultado de nossas experiências, em outras palavras somos essencialmente nossas memórias, nada no mundo é tão íntimo e pessoal quanto nossas lembranças, por isso ver alguém perdendo as suas é uma experiência tão tocante e devastadora. Se levarmos em conta o quão ativa era a nossa protagonista, tão viva e jovial, torna-se ainda mais chocante a experiência de vê-la se perder em meio a essa terrível doença.
Julianne Moore é a principal responsável por tornar tão palpável esse desmoronamento de Alice, suas relações familiares passam a trazer uma expressão de frieza, um ar melancólico. Ela traz uma devastação emocional tão real no olhar que só uma atriz do calibre de Julianne para conseguir tal desempenho, por isso seu Globo de Ouro e seu Oscar foram merecidíssmos.
O restante do elenco também está muito bem, especialmente Alec Baldwin que interpreta o marido de Alice. Até mesmo a inexpressiva Kristen Stewart está bem inserida no contexto do filme, ela ainda não demonstrou grande versatilidade dramática em nenhum papel, mas pelo menos está sabendo escolher seus trabalhos. Todos os outros atores demonstram de maneira realista como a evolução da doença da mãe os afeta.
Tanto a direção quanto o roteiro são extremamente simples e objetivos, sem muitos gracejos ou rodeios, tudo parece apenas um artificio para Juliane Moore fazer o seu show. Mesmo assim não podemos classificar esse filme como um draminha barato, pois não é, é verdade que existem centenas de filmes que contam histórias de pessoas que vão perdendo alguma coisa/habilidade no intuito de comover o público e só, mas não é o caso aqui.
Enfim, Still Alice é um filme que vale pela mensagem e por uma atuação colossal de sua protagonista. É uma obra singela, sensível e bastante tocante, que não usa de truques fáceis para induzir choro no espectador, as possíveis lágrimas que surgirem virão naturalmente naqueles que forem genuinamente tocados por esse drama que está cada vez mais comum, infelizmente.
Liga da Justiça: Trono de Atlantis
3.5 160 Assista AgoraTodos os pontos de partida são bastante promissores, mas eles acabam sendo prejudicados por um defeito que já foi observado em “JL: War”, o pouco tempo de desenvolvimento. A duração de 1h13min aproximadamente, não é suficiente para preencher todas as lacunas da trama e isso cria alguns furos de roteiro, sem falar que os acontecimentos acabam soando bastante apressados.
A origem aqui apresentada está muito mais para a apresentada nos novos 52, do que para a clássica do personagem, como vem sendo o foco das animações recentes, e confesso que a escolha foi bastante apropriada, já que a nova história de origem do Aquaman é muito mais interessante do que a clássica.
Mas por falar em Novos 52, isso nos leva a outro fator determinante para a qualidade da animação, uma das críticas recorrentes que as histórias pós-reboot sofrem é acerca da “falta de profundidade” (sem trocadilhos com Atlantis), e isso fica claro aqui. A trama surge de um argumento promissor, mas falta alguma coisa pra ela tornar-se realmente relevante, a narrativa insiste em parecer superficial demais.
A qualidade gráfica da animação é indiscutível, como sempre, e as sequências de ação também são muito bem pensadas e executadas (salvo um momento ridículo envolvendo o Lanterna Verde), apesar de não serem muitas. O filme traz algumas surpresinhas como a humanização de alguns heróis (curiosamente os que estão mais próximos dos Deuses), e até uma referência a um outro super-herói da editora que deve dar as caras nas animações muito em breve.
Enfim, JL: Throne of Atlantis tem muitas qualidades e muitos defeitos, mas acaba por sair com uma média positiva. A dinâmica entre os personagens está interessante, mas a equipe não precisa de tantos alívios cômicos. O argumento é promissor, mas o texto não engrena. O resultado é melhor do “JL: War”, mas não chega perto de “JL: Flashpoint Paradox”. Por fim é estranho definir assim, mas a primeira incursão do Rei das Profundezas do Mar acabou preferindo se manter no raso.
Entre Nós
3.6 617 Assista AgoraComo é bom ver o cinema nacional sabendo explorar novos gêneros, com muita qualidade e talento. Em uma mistura bem feita de drama com mistério Paulo e Pedro Morelli, pai e filho, entregam um exemplar digno da crescente (ainda que lenta) evolução do cinema tupiniquim.
As qualidades do longa começam com a escolha da locação, a paisagem é lindíssima e tem muita importância no simbolismo da trama. O roteiro é repleto de pequenos insights muito singelos e interessantes e por meio de pequenos momentos consegue abordar assuntos muito perspicazes, como as esperanças nutridas pela ingenuidades da juventude e o posterior choque de realidade causado pelas desilusões que povoam o caminho da vida. Esses momentos podem ser observados graças ao desempenho soberbo do elenco, que tem uma química natural entre si, e individualmente todos conseguem transpassar toda a carga de experiência vivida.
Existe sensibilidade até no jeito de filmar dos diretores, a juventude é mostrada com uma câmera livre que se movimenta bastante de acordo com a alegria do momento, enquanto que os momentos do reencontro trazem takes mais firmes, sisudos, com uma câmera estática implacável. Um cuidado estético que não se vê em qualquer produção.
No que diz respeito ao fio principal da narrativa, o mistério central da trama é um tanto quanto óbvio, mas seus efeitos em cada um e principalmente no grande interessado é muito bem construído, criando um ar de paranoia no personagem digno de grandes suspenses policiais. Mas o roteiro não isola o mistério central, ele dá o devido destaque a todos os personagens e as suas angústias particulares, como o casal que enfrenta o “dilema da maternidade”, ou o colega que se perde na própria ideia de fracasso, ou aquela que tem dificuldades de se conectar com o grupo graças aos percalços amorosos de sua história.
Enfim, Entre Nós é um filme melancólico e delicado, com um sub-texto muito melhor elaborado do que a própria trama central, um filme que diz muito sem usar palavras, com um elenco primoroso e uma execução ainda melhor. Sem ser piegas é um filme bastante reflexivo e até um pouco sentimental. É uma produção um pouco subjetiva e que talvez não agrade a todos os gostos, mas com certeza vale o tempo investido.
Os Lobos Maus
3.5 74A cena que dá inicio ao longa acaba por prestar um pequeno desserviço ao restante dele, pois a música densa e opressora que acompanha a sequência do desaparecimento de uma menina nos dá uma ideia meio errada do que está por vir. É bem verdade que o tema é bastante sensível, mas a abordagem passa longe da seriedade. Até a sinopse evoca um clima muito mais sombrio do que os diretores Aharon Keshales e Navot Papushado resolveram seguir. Não é exatamente um thriller de investigação como o plot sugere, é na verdade uma comédia de humor negro misturado com filme de vingança. Com essa escolha os diretores nos brindam com cenas de violência surpreendentes, tortura envolvendo alicates, maçaricos, unhas e dedos e etc., mas para não ficar chocante demais eles intercalam com ótimos momentos de humor negro, uma escolha bastante interessante.
O elenco está muito bem nas performances levemente caricatas e exageradas, com um cinismo bem colocado que realça a força do humor nervoso do filme. Os personagens são suficientemente desenvolvidos, o policial atrapalhado e o pai com histórico militar tem uma leve construção que serve para justificar suas decisões. O único que deixa a desejar na construção (mas que até parece ser de maneira proposital) é o principal suspeito crime, não fica claro o porquê dele ser o principal suspeito e isso acaba por deixar o espectador em dúvida. Faz parte da construção do desfecho, é verdade, mas não foi feito de uma maneira competente.
Vale dizer que não é um filme que visa alertar ou refletir sobre a pedofilia e/ou crimes contra as crianças, não é a pretensão dele. Big Bad Wolves se contenta em ser um filme de vingança com boas doses de humor, foge do “estigma” de que só os filmes de arte de Israel é que fazem sucesso. No que se propõe a ser, Big Bad Wolves acaba por ter muitas qualidades, apesar de não explorar todo seu potencial e contar com uma conclusão um tanto quanto anti-climática.
7 Caixas
3.9 188 Assista AgoraQuanto mais simples for a vida que você leva, mais simples, e aparentemente banais, serão seus anseios. É o caso de Victor (Celso Franco), um jovem pobre que habita nos corredores do Mercado Quatro onde trabalha como carregador, uma das maiores feiras do centro de Assunção.
Os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori souberam emular precisamente alguns maneirismos do cinemão americano, com cenas de ação frenéticas capturadas com a câmera nas mãos, ou no peito dos personagens, mas em nenhum momento confundindo o espectador. Existem cenas de perseguição muito bem conduzidas, mas talvez ironizando o próprio cinemão hollywoodiano que ele “homenageia”, os carrões são substituídos por carrinhos de mão, que se adéquam aos estreitos corredores do local.
Apesar de abordar criticamente aspectos do terceiro mundo, como a criminalidade recorrente e a pobreza, o filme mantém uma inocência, focando na ação e pincelando temas mais sérios enquanto nos mostra uma cativante aventura. Usando de violência estilizada com uma fotografia condizente com clima de subúrbio, os diretores fazem seu trabalho remeter a obras de Guy Ritchie e até Quentin Tarantino.
O filme tem um entra e sai de personagens constante, alguns tão cartunescos que beiram o absurdo, mas nesse universo de exagero criado naquele pequeno espaço, tudo soa estranhamente natural. O roteiro ágil e bem escrito não se preocupa em fazer julgamentos, e apresenta resquícios de motivação que são até compreensíveis, ainda que os atos sejam um tanto quanto questionáveis. O filme conta com um humor inteligente e sagaz, que bate na tecla das críticas sociais sem se deslocar do tom da película.
Enfim, 7 Caixas é um achado em um país sem muita tradição cinematográfica, repleto de ação, humor negro e um desfecho/cena final perfeitamente colocado, além de contar com atores e personagens carismáticos. Em uma mistura de ‘Cidade de Deus’ com ‘Quem quer ser um Milionário’, ele brinca com os clichês hollywoodianos e entrega um produto caseiro perfeito para exportação.
Maze Runner: Correr ou Morrer
3.6 2,1K Assista AgoraO inicio do filme é bastante eficiente, o espectador compra a confusão do protagonista e a estranheza que se instaura ao chegar nesse misterioso local. A maneira como é mostrada a convivência dos garotos que já estão lá também é bem construída, a organização que eles criaram é interessante e plausível, cada garoto tem sua função naquela sociedade e cada um deles tem suas diferenças na personalidade, isso faz com que os personagens coadjuvantes não passem a sensação de descartabilidade como é comum em outros filmes.
Obviamente o que rege não só a primeira parte, mas toda a extensão do filme é o mistério: quem os colocou ali e por quê? E esse mistério é mostrado de maneira a provocar o interesse de quem assiste, os lampejos de memória que o protagonista tem ajudam a conceber esse questionamento de maneira bastante intrigante. Como é de praxe, o nosso protagonista é o cara que vai ser a fagulha para mudar a situação em que o grupo se encontra, criando assim apoiadores e rivais para sua causa. A rivalização se personifica em Gally (Will Poulter), um dos integrantes mais importantes do grupo e que se mostra como uma interessante referência ao mito da caverna de Platão.
O filme também é tecnicamente bem executado, bem fotografado e com cenas de ação muito bem filmadas. O único demérito nesse sentido fica com o estreante diretor Wes Ball, que não conseguiu dar ao labirinto a imponência que o desenvolvimento pedia, principalmente quando as tomadas aéreas entregam suas dimensões. O elenco coadjuvante vai muito bem, mas os protagonistas Dylan O’Brien e Kaya Scodelario que são bons atores, sofrem com a falta de material para trabalhar. Dylan vai bem de confuso para libertador, mas falta uma maior empatia em seu personagem, enquanto Kaya está completamente inútil. Sua personagem poderia trazer uma nova dinâmica para o grupo, mas isso não é feito, ela aparece apenas para enfeitar as cenas e fazer carinha de desentendida.
Existem outros defeitos aqui, como uma tentativa de fazer uma cena engraçada que acaba por ser ridícula, ou a insistência em querer criar momentos tocantes onde não havia necessidade (só um funciona, de fato), sem falar em uma cena que não faz o menor sentido que acontece já no finalzinho, chega a ser patética. Mas no geral, Maze Runner se sobressai em comparação a outros lançamentos desse interminável nicho, com um mistério interessante (apesar do desfecho questionável), boas cenas de ação e um elenco competente acaba sendo um entretenimento bastante válido. Tem tudo pra ser a mais (ou única) interessante saga dessa nova e extensa safra.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraComo é curioso o efeito do tempo, implacável e transformador. Sua devastadora e imparável passagem já foi documentada várias vezes e de diversos modos, mas no cinema não me recordo de alguém fazê-lo de maneira tão simploriamente encantadora como Richard Linklater em Boyhood.
Uma proposta simples, até aparentemente desinteressante, é o que cerca esse filme: Documentar o crescimento de um rapaz dos seus seis aos dezoito anos de idade. Nada de extraordinário acontecerá a ele, ele não será abduzido para anos mais tarde se tornar um fora da lei intergalático, nem descobrirá que foi selecionado para uma escola de magia e bruxaria em algum lugar da Inglaterra. Apenas levará uma vida absolutamente normal (seja lá o que signifique isso). Mas em contrapartida a trivialidade da ideia tivemos uma produção surpreendente e ambiciosa, que acompanhou seu elenco por doze anos afim de captuar de maneira intensamente realista sua evolução e amadurecimento.
Durante ás 2h45min de duração do filme acompanhamos o desenrolar da vida de Mason Jr. (Ellar Coltrane) e de sua família, com seus pais divorciados (Patricia Arquette e Ethan Hawke) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater). A história transcorre através de uma seleção de momentos aparentemente banais, mas que em conjunto formarão a personalidade de Mason e dos seus familiares também. Graças a um roteiro maduro e extremamente verossímil, acontecimentos comuns como brigas entre irmãos, as primeiras desilusões, o amor, o rompimento, um pai ausente, as broncas, o trabalho, o primeiro padastro, as responsabilidades e toda uma gama de situações experimentadas pela maioria das pessoas comuns, acabam ganhando um grande significado na experiência de vida de cada personagem.
Nossa identificação também se deve ao excelente trabalho dos atores, especialmente Patricia Arquette e Ethan Hawke, que encarnam seus papéis tão bem que acaba tornando tudo incrivelmente natural. Patricia começa como uma mãe muito jovem, um pouco perdida, mas vai crescendo com o passar do tempo, com uma incansável dedicação aos filhos ela alcança um bom patamar profissional graças a seu esforço. Também vemos nela, e nos filhos o peso de suas escolhas amorosas que não deram muito certo. Ethan também começa como um pai jovem, aventureiro e até um pouco imaturo e irresponsável, mas sua carga de experiência vai acumulando e seu desenvolvimento até chegar em um responsável pai de família é altamente palpável. O desempenho de Ethan é excepcional aqui, não que em outras ocasiões ele seja um mau ator, longe disso, mas é impressionante como Linklater consegue extrair dele as melhores performances.
Já que eu falei em naturalidade, vale citar também os lapsos de tempo nesse quesito. Não foi necessário verbalizar certas coisas para evidenciar uma evolução e/ou passagem de tempo, Linklater o fez de maneira sútil, além das mudanças físicas dos personagens, nos situamos no tempo ao ver a tecnologia, ao ouvir uma música e até com diálogos sobre a situação politica dos EUA. A fotografia do filme é simples, sem invenções mirabolantes, apenas o necessário. Linklater também reforça sua pericia técnica como diretor ao conduzir alguns plano-sequências maravilhosos, tal qual alguns da “Trilogia Before”.
O desenrolar de Boyhood acaba por evocar uma nostalgia no espectador, também. Principalmente lá pelo final, quando você se orgulha de Mason por ele ter se formado, sensação estranha para ter com um personagem, mas natural, afinal você o conhece desde garoto. Sem falar nas saudades antecipadas que sentimos ao perceber que ele está indo para a faculdade, e que consequentemente o filme está acabando. Vi algumas pessoas comparando com a sensação de acompanhar uma série por anos e estar se despedindo dela, muitos usando a série ‘Anos Incríveis’ como exemplo. É uma uma comparação extremamente válida, mas trazendo a uma realidade palpável a mim, foi como se despedir da saga Harry Potter, guardada as devidas proporções obviamente. Dizer que Linklater conseguiu fazer com seus personagens em três horas, algo comparável ao que uma série ou saga de filmes fez em anos ajuda a dimensionar o peso de sua história.
Enfim, Boyhood é o ponto mais alto da ótima carreira de Richard Linklater, sua obra prima. Uma experiência cinematográfica indispensável, bem escrita, bem dirigida e muito bem atuada, com uma excelente trilha sonora que trabalha em favor da narrativa. Uma obra simples, mas grandiosa, encantadora e extremamente humana.
Stretch
3.0 76Joe Carnahan é um cineasta interessante e que vem amadurecendo bem seu jeito de fazer cinema, seus trabalhos anteriores deixavam muito claras suas influências, como por exemplo a verborragia remetente a Tarantino, ou a violência estilizada e a linguagem de videoclipe muito comum nas obras de Guy Ritchie e semelhantes. Em Stretch ele reforça a tentativa de encontrar sua própria assinatura, e mesmo caindo em algumas soluções comuns demais acaba por entregar uma comédia competente e divertida.
Stretch é basicamente uma comédia de erros bem ao estilo “Uma noite fora de série”, mas com uma pegada um pouco mais ‘suja’, numa pegada mais “Se beber, não case!”. Junte-se a isso o frenesi da narrativa característica do trabalho de Carnahan, e temos uma combinação bastante agradável de se assistir. As piadas que povoam o roteiro do longa não são telegrafadas e nem forçadas, elas fluem de maneira bastante natural de acordo com as situações. Grandes momentos do filme também se dão graças a algumas participações especiais, como a de Ray Liotta e do gênio David Hasselhoff, ambos sempre dispostos a rir de si mesmos.
Além dos méritos de direção e roteiro, muito do potencial de Stretch se deve a seu ótimo elenco. Patrick Wilson, como sempre, esbanja carisma e presença em cena. Ed Helms está muito bem, engraçado como nunca, mas o destaque fica com a performance completamente insana de Chris Pine, que sempre foi um ator bastante contido, mas que de uma hora para a outra engatou dois personagens meio despirocados (vide Quero matar meu chefe 2) e mandou muito bem. Para tornar tudo ainda mais bonito temos a presença das estonteantes Jessica Alba e Brooklyn Decker, quem precisa de mais?
Enfim, Stretch pode até repetir alguns conceitos de outros filme, além de ainda não ter a assinatura forte do diretor, mas graças a um texto eficiente e um elenco inspirado acaba por cumprir perfeitamente o propósito de divertir.
O Predestinado
4.0 1,6K Assista AgoraViagem no tempo sempre é um tema bastante fértil no cinema, mas também traz consigo uma certa polêmica, afinal é muito fácil derrapar e acabar sabotando suas próprias regras. Quando um filme consegue desenvolver seu roteiro sem cair em suas próprias armadilhas, além de ter todo o resto de seus aspectos igualmente bem realizados, nasce um novo clássico.
O filme tem muitas coisas interessantíssimas, como as escolhas visuais minimalistas que se adequam ao enxuto orçamento, mas mesmo assim conseguem construir de maneira bastante convincente a atmosfera das épocas tratadas. Isso nos dá uma noção da habilidade dos diretores em driblar as “adversidades técnicas”, que não se vê em qualquer cineasta por aí.
A ideia central do enredo é extremamente original e bem montada, mas não escapa da tentativa daqueles espectadores mais cínicos (tipo eu) de tentar procura e racionalizar qualquer inconsistência que possa povoar o roteiro. Confesso que não consegui encontrar falhas nesse roteiro meticulosamente orquestrado de maneira tão inteligente. Todas as ‘suspeitas’ levantadas são respondidas após uma olhada mais atenta na obra. Por falar em atenção, os espectadores mais atentos podem até captar as pistas e desvendar o mistério antes da conclusão, mas isso passa longe de ser um demérito do filme, já que se ponto forte está mais na construção da jornada e em seus reflexos nos personagens, no que no destino em si.
Antes de finalizar não posso deixar de elogiar a fantástica atuação de Sarah Snook, que se entrega ao papel de maneira intensa e entrega um desempenho camaleônico totalmente impactante. Ethan Hawke, que caprichou nos filmes lançados nesse ano, está mais uma vez carismático e convincente, apesar de estar ali mais para ajudar a vender o filme do que qualquer outra coisa.
Enfim, Predestination tem um alto fator mind-blowing muito bem construído pelos jovens diretores. Com uma trama magistralmente amarrada ele aborda um complexo paradoxo temporal sem insultar a inteligência do espectador, nem criar mais perguntas do que pode responder. Se junta a Coherence como uma das gratas surpresas da ficção científica independente de 2014.
Palo Alto
3.2 429Palo Alto não esconde suas influências e vem carregado com as características do subgênero de drama independente voltado ao público adolescente, que busca tirar o brilho do frescor e liberdade dessa fase da vida e substituí-lo pelo cotidiano problemático, sem perspectiva, com dificuldades de comunicação e com a imensa solidão e melancolia, preenchido pelo uso corriqueiro de drogas e dificuldade de comunicação entre gerações.
Infelizmente a insistência em deixar claro suas inspirações acaba engessando um pouco a história, e evidenciando o excesso de trivialidade que povoa o roteiro. Não há nenhum aspecto que desperte maior interesse, o texto se preocupa tanto em reforçar o vazio da vida dos adolescentes, que acaba esquecendo-se de formular um plot minimamente interessante. Esses detalhes escancaram a inexperiência de Gia como diretora, que assim como seus personagens não sabe o que fazer ou aonde quer ir.
Os personagens que devem ser a chave da identificação com o público não convencem em suas convicções, nem em seus dramas ou dilemas. Alguns chegam a ser desprezíveis, como o rebelde Fred (Nat Wolff), que irrita durante todo o filme e nas poucas vezes em que tenta se desenvolver o “porquê” de sua personalidade autodestrutiva, tudo soa extremamente estereotipado e superficial.
Apesar de demonstrar lampejos de alguma coisa a dizer e contar com certa pericia técnica, além dos atores em papéis convincentes, Palo Alto falha como estudo de uma geração e de seus ritos. A inexperiência de Gia impede um maior controle sobre a narrativa e transforma o longa em algo raso e muitas vezes entediante. Torço bastante para o amadurecimento de mais uma “Coppola” como cineasta, mas sua primeira incursão é esquecível e não muito recomendável.
A Entrevista
3.1 1,0K Assista AgoraO resultado de A Entrevista é muito menos polêmico do que sua projeção pré-estreia dava a entender, existem sim alfinetadas ao modo que Kim comanda seu país ou a postura que ele apresenta para com os seus rivais políticos, mas todas essas críticas estão misturadas com as referências a cultura pop, participações de celebridades do cinema, da música e da tv dos EUA, e até uma crítica ao próprio americano em si, principalmente no que diz respeito ao conteúdo consumido semanalmente em frente aos televisores.
Como é de costume nas comédias escritas pela dupla Rogen / Goldberg, existem piadas ácidas inteligentes e observações interessantes do ponto de vista politico, críticas sutis, mas muito bem tecidas. Só que tudo isso está chafurdado em um mar de escatologia e piadas envolvendo pênis, anus e afins. Isso deixa claro a polivalência da dupla no quesito fazer rir, mas sempre preferindo se divertir do jeito deles, principalmente .
O ditador é interpretado por Randall Park, que está muito bem no papel. Ele é mostrado ao público como alguém bastante manipulador, mas antes de tudo, muito mimado. Que sofre por ter que esconder seus gostos, além de se sentir acuado por uma suposta pressão ancestral. Quase como um adolescente histérico, com a sútil diferença de que ele tem um país pra comandar. Franco está surtadíssimo e impagável como o excêntrico apresentador, enquanto Rogen entrega sua única expressão habitual. Destacam-se nas participações especiais o rapper Eminem e a atriz Diana Bang, além da lindíssima Lizzy Caplan, que merecia mais tempo de tela.
Enfim, A Entrevista não é nada mais que um besteirol digno de seus realizadores, especialistas nesse tipo de filme. Com críticas bem feitas, bastante escatologia e muito nonsense, sem falar no simpático e estranho bromance que também é uma marca dos dois autores. Não é o filme mais controverso da história, longe disso, mas é uma ótima pedida para os apreciadores do estilo de humor visto em ‘É o Fim’, ‘SuperBad’ e ‘Segurando as Pontas’. Uma comédia que se entrar para a história, terá sido pelos motivos errados.
O Protetor
3.6 923 Assista AgoraThe Equalizer tem vários problemas, mas não podemos negar que se trata de um filme honesto, que não nega suas origens em uma série dos anos setenta e põe Denzel como um justiceiro urbano que volta a ativa já veterano, tema cada vez mais em voga nos filmes de ação atuais (Liam Neeson que o diga), e que remete muito a época de lançamento da série e principalmente a década posterior.
A trama extremamente simples se desenrola de maneira linear e se esforça para preencher as mais de duas horas de duração do filme, nem sempre obtendo êxito. Algumas cenas que são colocadas com a intenção de construir a “fodacidade” do protagonista e de estabelecer sua conexão com os oprimidos, acabam por soar como pura encheção de linguiça, apesar das boas intenções.
A longa duração também não ajuda a desenvolver os personagens do filme como seria de se esperar, então todos eles servem apenas de engrenagem para Fuqua transformar McCall em um daqueles caras fodões que não olham para explosões, mas tudo sem profundidade alguma.
As cenas de ação que exploram bastante a imagem de Denzel são bem executadas, mas são muito poucas e esparsas para um filme de gênero. Cabe ao ator usar seu carisma para preencher os momentos de “paradeira”, pelo menos Denzel é e sempre será capaz de cativar o público e junto com seu antagonista, muito bem interpretado por Marton Csokas, conseguem manter o interesse do espectador.
Enfim, The Equalizer se apoia muito no carisma dos atores e nos poucos momentos de ação estilizada, mas é um filme bastante desnivelado e com vários problemas de desenvolvimento. Não faz jus a expectativa de uma grande reunião, mesmo assim conseguiu construir um terreno fértil para continuações e pode ter aí seu ponto mais promissor.
O Hóspede
3.1 486O projeto todo é uma grande referência / homenagem aos filmes dos anos oitenta, começando pela trama e passando por vários outros detalhes importantes, como a trilha sonora eletrônica ou a própria ambientação em uma pequena cidade do interior. Até mesmo o desenrolar do roteiro, suas escolhas e soluções remetem ao charme dos clássicos de John Carpenter e companhia. Com um ritmo bem distinto em suas duas metades, a narrativa traz doses precisas de mistério, ação e um ar de deboche de quem sabe se levar a sério apenas quando é necessário.
Dan Stevens, o protagonista, transborda charme em sua atuação, com um sorriso firme e expressões que andam na tangente da canastrice, ele cria um personagem cativante e sedutor, mas que sabe ser ameaçador quando é preciso. Os outros atores reagem bem ao domínio que ele exerce nas cenas, e a sensação de encantamento misturada com desconfiança é muito bem demonstrada por todos eles.
Adam Wingard, que já havia dirigido o ótimo ‘Você é o Próximo’, mostra que sabe muito bem conduzir seu filme de modo que prende o espectador, sem fazê-lo se importar com o absurdo da situação ou com qualquer pequena incoerência que possa surgir. Ele sabe combinar perfeitamente a música com a fotografia, aliada as locações e a situação como um todo, criando uma aura psicodélica interessantíssima.
Enfim, The Guest é um filme preciso, ciente de suas pretensões, extremamente estiloso e deliciosamente divertido. Com atores á vontade em seus papéis e um roteiro repleto de referências bacanas ao cinema dos anos oitenta. Uma mistura de gêneros e conceitos que deu muito certo graças a competência de seu realizador. Altamente recomendado.
The Rover: A Caçada
3.3 355 Assista AgoraNem todas as pessoas tem estrutura para suportar um mundo pós-colapso. Nem todas as pessoas terão estrutura para suportar ‘The Rover’. Mas aquelas que conseguirem sobreviver a ambos podem ser recompensadas ao final da jornada. Ou não.
Dizer que um filme parece durar muito mais do que ele de fato dura, raramente será uma forma de elogiá-lo, e aqui também não é. A trama de The Rover é mínima e estender seu desenrolar por 1h40min torna a experiência extremamente maçante e incomoda. Não fosse o fato de isso parecer proposital, seria difícil não classificá-lo como uma completa perda de tempo.
O diretor David Michôd (do ótimo ‘Reino Animal’) entrega um filme que caminha tanto entre gêneros que é até difícil cravar a qual ele pertence. Com um quê de Western, pitadas de Road Movie, um toque de filme pós-apocalíptico e até um dedinho de humor negro e filmes de vingança, temos algo que dificilmente agradará a todo tipo de público.
Seguimos os protagonistas Eric (Guy Pearce) e Rey (Robert Pattinson) nessa jornada pelas áridas estradas australianas. O primeiro é um homem furioso, com um passado negro, poucas palavras e atitudes que mostram que sua moralidade foi pro saco junto com a economia. O segundo é o irmão que fora deixado para trás na fuga, ele possui algum atraso mental e suas motivações vão se moldando com o decorrer da viagem
Ambos são interpretados brilhantemente, Guy Pearce deixa de lado a canastrice que tem adotado e entrega uma atuação contida, mas cheia de nuances intensas e repleta de ódio. Pattinson, quem diria, passa longe da mediocridade de suas atuações anteriores, aqui ele encarna de maneira voraz um homem cheio de tiques e com um sotaque caipira, que em nenhum momento soa forçado. E os dois criam uma dinâmica interessante, semelhante a uma espécie de síndrome de Estocolmo.
A cinematografia é bem realizada, com paisagens secas e um tom de sépia que condiz com a ambientação e o estado em que o mundo se encontra, deixando um ar de Mad Max nas cenas. A trilha sonora é totalmente maluca, em certos momentos ela incomoda propositalmente com sons industriais, tão maquinais que chegam a doer. Mas também temos trechos cantados de maneira dramática e até uma música pop que inicialmente parece deslocada, mas que ganha certo simbolismo no decorrer da fita.
O mistério que rege a viagem é o porquê de Eric querer tanto esse carro, e a resolução tem um significado alegórico interessante, mas não evita aquela reação: “putz, sério que era só por isso?” Enfim, The Rover incomoda propositalmente o espectador com sua trama desenvolvida a passos de tartaruga, e trata das coisas que mantém no homem um pouco de civilidade quando o mundo sai dos trilhos. Mesmo sendo um pouco pretensioso e bastante cansativo, ainda vale o tempo investido, desde que o espectador saiba onde está se metendo.
Ragnarok
2.6 63 Assista AgoraO primeiro ato, apesar de um pouco lento, é bastante promissor em construir o senso de mistério, com pesquisas e dúvidas que remetem a ótimos filmes de aventura já produzidos. Infelizmente já vemos aí o tipo de decisão que permeará todo o desenvolvimento da trama, a insistência em usar clichês desde as primeiras cenas nos dá a dimensão do problema e tornam a desfecho altamente previsível logo de cara.
Mas se o roteiro é um problema em Ragnarok, a produção está de parabéns. As paisagens de lagos e florestas escandinavas é linda e muito bem fotografada. O desconhecido elenco é competente, mesmo com a unidimensionalidade dos personagens. Os efeitos visuais são bem realizados, principalmente se for levado em conta o tamanho da produção. A música também é ótima, ela emula perfeitamente os tons aventurescos de grandes obras do passado, como Jurassic Park e Indiana Jones.
Infelizmente o plot altamente promissor se perde em meio a escolhas erradas e um desenvolvimento incrivelmente previsível. Essas escolhas do diretor Mikkel Brænne Sandemose transformam o que poderia ser um marco, tanto dessa mitologia quanto desse gênero, em uma aventura genérica que depende de circunstâncias muito especificas para ser aproveitada. Se você gostou de filmes como A Lenda do Tesouro Perdido e Viagem ao Centro da Terra, talvez seja uma boa pedida.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraA investigação se resume aos depoimentos colhidos pelo Delegado (Juliano Cazarré), e esses vão se moldando na tela em forma de flashbacks que não representam claramente os fatos, mas sim as versões de cada um para o acontecido. Essa escolha do diretor colabora para a criação do mistério na cabeça do espectador, além de nos apresentar melhor aos personagens. Nesses momentos conhecemos a dubiedade de cada um deles, a maneira como o pacato pai de família e a amante iludida e apaixonada reagem ao serem ameaçados, mostrando quem realmente são.
O elenco inteiro entrega atuações seguras, com destaque para Leandra Leal que realmente impressiona por seu poder de alternância de personalidade, e Juliano Cazarré, responsável pelos poucos momentos em que cabem risos no filme, ainda que esses saiam nervosamente. Um ponto recorrente no longa, que começa soando apropriado, mas que cansa um pouco no seu decorrer é o uso de extensos planos estáticos, ora eles focam em diálogos relevantes e expressões significativas, ora exageram nos momentos de contemplação e silêncio, que acabam soando um pouco deslocados.
Antes de começar a assistir não sabia que se tratava de uma história real, mesmo assim a descoberta do culpado foi previsível. Na verdade a identidade do culpado é previsível, a descoberta segura bem o mistério. O desfecho é impactante e desconcertante, daqueles que te jogam no chão.
Enfim, O Lobo Atrás da Porta é um filmaço, bem realizado, bem atuado e muito bem escrito, que te prende do inicio ao fim. Fernando Coimbra chega com o pé na porta e entra pra caderneta de cineastas brasileiros que temos que ficar de olho, entregando um dos grandes filmes nacionais dos últimos anos.
Uma Noite de Crime: Anarquia
3.5 1,2K Assista AgoraO maior problema em The Purge: Anarchy não está no que ele é, até por que o filme é divertido, um survivor movie bem realizado, que tem um ritmo alucinante, ação frenética e ótima pericia técnica. Os atores são competentes, Frank Grillo está muito bem e as situações vividas pelos protagonistas são verossímeis, levando em conta o mundo em que vivem. Tirando o pouco desenvolvimento dos personagens, e um furo ou outro no roteiro, a continuação de The Purge é um entretenimento perfeitamente aceitável e eficiente.
O problema está no que ele poderia ser, mas por escolha (ou mais provavelmente, incompetência) de seu realizador, não foi. Ele apenas pincela uma gama de situações que poderiam ser mais bem exploradas e daria uma profundidade muito maior aquela apocalíptica situação. Seria interessante abordar e/ou esclarecer quem são os ‘Novos Fundadores’, e quais as circunstâncias desse renascimento da nação.
O teor de crítica que essa premissa evoca se perde no desenvolvimento da trama, poderíamos ter acompanhado mais do grupo rebelde, da guerra de classes e das artimanhas e intenções governamentais com essa atitude, que vai muito além do controle da criminalidade. Ou poderíamos ter um melhor desenvolvimento da história pessoal dos personagens, criar mais empatia com eles, esclarecer motivações. Nada disso é feito, temos apenas lampejos do que poderia ter acontecido.
The Purge sofre com a falta de um diretor que saiba o que quer, fico pensando na falta de umas metáforas e críticas sociais a lá Neil Blomkamp, com uma pitada da acidez e ultra violência de Paul Verhoeven. Seria uma mistura que combinaria com o plot dessa série, e digo série por que o terceiro filme já foi confirmado, com James DeMonaco na direção. Por ser bem abrangente, The Purge tem potencial para gerar infinitas continuações, o que daria espaço para o amadurecimento da ideia e de seu realizador. Tomara.
Enfim, mesmo funcionando como entretenimento puro, The Purge: Anarchy abre mão de ser memorável. Quem sabe em futuro próximo essa franquia consiga expurgar seus defeitos e se tornar tão boa quanto a premissa é.
Sétimo
3.0 187O grande problema de ‘Sétimo’ está no fato de o filme ser extremamente genérico, praticamente tudo que ele apresenta já foi feito anteriormente por outros filmes, desde a cena de abertura com seus planos aéreos da metrópole Buenos Aires (mas que poderia ser qualquer cidade), até seu desfecho que se dá sem o impacto necessário. Nesse decorrer até temos uma criação de mistério interessante, afinal, quem diabos levou as crianças? Zeladores, moradores e até os próprios pais são suspeitos e isso é o suficiente para despertar o interesse do espectador, mas não para vidrá-lo como um bom suspense realmente faria.
Além de ser um dos principais expoentes do cinema argentino para o mundo, Ricardo Darín também é um dos atores mais regulares em atividade. Eu não me lembro de ter visto qualquer filme em que sua atuação tenha deixado a desejar. E o fato de ele entregar mais um ótimo desempenho, cativa o espectador. Sua angústia é palpável e o desespero que se instaura no seu personagem é muito bem construído. Sua colega Belén Rueda, que vive sua ex-esposa, também está muito bem e divide com ele o peso do filme.
A cinematografia está relativamente boa, e o diretor Patxi Amézcua não perde tempo com cenas desnecessárias ao desenvolvimento da trama. A trilha sonora incomoda um pouco, o uso constante de uma guitarrinha acaba dando um ar quase novelesco ao filme, e não tem nem um pouco de peso.
Enfim, ‘Sétimo’ não está nem perto dos grandes filmes portenhos dos últimos anos, seu final é previsível e sem impacto, mas seu eficiente e carismático protagonista segura a onda e impede o filme de se tornar uma completa perda de tempo.