É interessante observar todo o ótimo desenvolvimento dramático dos personagens frente suas perdas, é talvez a melhor interpretação de boa parte do elenco, e apesar do inegável e forte tom melancólico por trás das cortinas, há um grande senso de aventura, de justiça e de esperança em que a narrativa se desenrola. A sequência de batalha do terceiro ato é um verdadeiro banquete visual, uma aula de edição e efeitos visuais e um conjunto de eventos simbólicos e inacreditáveis, algo tão surreal e impressionante que eu só havia visto em desenhos animados até então. É um desfecho extremamente bem organizado e amarradinho que fecha com louvor a saga, é um filme épico, grandioso, marcante, intenso, e por que não, histórico? Há 11 anos a Marvel vem cozinhando este epílogo e ainda entrega mais do que promete, consagrando Vingadores: Ultimato oficialmente como a epopeia dos super-heróis e um prato cheio para a nossa criança interior que na infância sempre teve super-heróis como referência e muito, muito amor pelo fantástico e pelo extraordinário.
A criação estética do Dumbo é caprichada, feito a base de efeitos visuais, ele tem bastante personalidade, doçura e carrega uma inocência juvenil no olhar bem característica do personagem, não há como não se afeiçoar e não torcer por ele. O mesmo vale para a trilha sonora e a fotografia que é rica em cenários circences e parques temáticos. Infelizmente, esta nova versão virou mais uma história sobre humanos gananciosos cercados por um elefante voador do que o amadurecimento e a jornada de um elefante bebê separado da mãe e maltratado por todos, como acontece no original. Aliás, seria redundante ressaltar o quanto a animação de 1941 é superior a esta versão em todos os sentidos, mas é. Há muitos desdobramentos e personagens novos que não acrescentaram em quase nada e uma notável falta de inspiração e originalidade na tentativa de construir novas camadas e novos desfechos ao filme, há uma fraqueza muito incômoda no esqueleto do roteiro. Faltou coração, faltou a dinâmica mãe e filho, faltou a inesquecível canção "Baby Mine" nos balanços do amor materno, faltou a essência do verdadeiro Dumbo. Mas, como entretenimento escapista, serve.
"Nós" é um filme de terror que consegue ser intrigante, tenso, metafórico, simbólico, assustador, vertiginoso e cômico, tudo em seu devido tempo e na medida certa. O uso do vermelho opressor, a expressão maníaca no rosto dos antagonistas, a tesoura que corta o vínculo, a máscara que cai, a voz demoníaca que arrepia a espinha, é um festival de originalidade e insanidade. A Lupita Nyong'O merece o mundo por sua interpretação, que mulher extraordinária! E o resto do elenco, idem.
Este filme é um exemplo de como se fazer um terror genuíno. A história se passa num vilarejo assombrado por forças sobrenaturais pesadíssimas e segue uma equipe de investigadores que procuram por respostas. Há três sequências nos 40 minutos iniciais que são espetaculares, refletem um verdadeiro controle de direção e uma originalidade muito bem-vinda para o gênero; a primeira pega de jeito o espectador pelo choque, pela violência gráfica brutal; a segunda pela apreensão, pelo jogo de luz e sombras, de movimentos de câmera e de expectativas, é a sequência mais assustadora; e a terceira pega pelo psicológico, pelo sentimentalismo, é uma problemática situacional extremamente bizarra e perturbadora que ainda vai ficar comigo por um bom tempo. Infelizmente, a partir da segunda metade o filme sucumbe à própria grandeza, perde a sutileza, pesa na trilha, não resiste aos clichês americanos e recorre deliberadamente a múltiplos exageros que poderiam ter sido evitados. Sofre do mesmo problema do provocativo "A Autópsia", de 2016, ambos filmes de grande potencial que sabem preparar o terreno, mas não conseguem segurar a barra e se perdem dentro da própria ambição. Mas, a despeito de suas imperfeições, Aterrorizados é um filme que não merece ser perdido.
O documentário acompanha a história de vida dos trigêmeos que, nos anos 60, foram separados no nascimento e postos para adoção, e por incidências da vida, se conheceram apenas aos 19 anos de idade. É retratado aqui toda a repercussão midiática que o caso surtiu nos anos 80, toda a popularidade e alcance que os trigêmeos conseguiram e há um levantamento interessante sobre questões comportamentais e psicológicas, mas a grande força do documentário está na investigação dos reais motivos da separação destes trigêmeos, o que direciona a história para um caminho cada vez mais sombrio, bizarro e intrigante. Uma pena ter sido esnobado no Oscar 2019.
Assistir o cinema do Gaspar Noé é sempre uma experiência desafiadora que flerta com o masoquismo (ou até mesmo com o sadomasoquismo), e Climax é uma maçã que não cai muito longe do pé. Muito estilo e ostentação visual, muitos planos-sequência (a primeira cena de dança é perfeita) muito vermelho sangue, muita psicodelia, paranoias, histeria, alvoroço, sexo e violência à flor da pele. É um filme que transpira loucura, celebra o sadismo e liberta os demônios interiores com sua premissa que incita à reflexão sobre os limites da sanidade e da moral. Só não leva uma nota maior porque suas metáforas não têm muito a dizer e há realmente um exagero na construção (ou desconstrução) da perturbação e alienação da experiência de morte e vida. E apesar de ter saído do cinema com dor de cabeça, gostei bastante.
Ainda estou atônito, coração despedaçado, mas vou tentar por em breves palavras o quão extraordinário este filme é. A premissa lembra vagamente Túmulo dos Vagalumes, conta a história de um garoto que tenta levar a vida por conta própria junto de seu irmão mais novo meio a um cenário de muita pobreza, abandono, desolação e desesperança. É um retrato frio e cruel de uma realidade que grita em todos os lugares, seja em menor ou maior intensidade: o despreparo na tarefa de cuidar, criar e trazer um filho ao mundo. É uma denúncia extremamente dolorosa sobre as consequências e as cicatrizes que o desamor e a falta de uma estrutura familiar podem causar no coração de uma criança. É assustador pensar em todos os paralelos e conexões da vida real que me vieram à mente enquanto assistia. Obra de arte irretocável!
A nova versão de Suspiria é um show de horrores, mas no bom sentido, é original, assustadora e jamais se contenta em ser uma mera cópia ou se aproveita do sucesso da obra original do Dario Argento. Um diretor inferior ao Luca Guadagnino não conseguiria segurar a barra de recriar um clássico tão referencial. Fosse essa releitura mais enxugada, menos insossa e um roteiro voltado apenas às bruxas, seria um grande nome para o terror contemporâneo. Reconheço que ambas as versões podem conviver em harmonia no mesmo espaço, apesar da original de 1977 seguir intacta e soberana, obviamente.
Há uma pitada generosa de "De Volta Para o Futuro" aqui, porém, apenas como plano de fundo para uma inspiração, Mirai tem bastante personalidade e caminha com as próprias pernas tranquilamente. É um filme sobre amor fraterno, laços familiares, amadurecimento, fortalecimento de vínculos afetivos, sobre aprender a realizar pequenas concessões, sobre o medo de perder os pais, sobre reconhecer o valor histórico de sua própria árvore genealógica e como ela deve ser sólida e bem enraizada para uma estrutura familiar funcionar, é sobre enxergar o mundo sob o ponto de vista de um garoto carente de atenção. Esteticamente há um forte uso de cores vibrantes e de um azul-celeste que evocam toda a doçura e nostalgia da infância e a trilha sonora belíssima do Tatsuro Yamashita encaixa maravilhosamente na proposta. Só o que me incomodou foi o trabalho de voz do Kun que jamais parece ser a voz de um garotinho, mas isso é um mero detalhe tamanha beleza de Mirai. Ao término do filme, tudo o que ficou comigo foi aquele adocicado sabor saudoso das lembranças da minha infância, como uma leve fragrância se dissipando no ar, e um desejo de poder dividir a vida com alguém especial para construir memórias felizes e inesquecíveis. Filme grande que valoriza as pequenas coisas. Minha animação preferida de 2018.
Roma não só é meu filme preferido de 2018, como também uma aula de cinema, um daqueles poucos filmes que podemos chamar de "experiência cinematográfica sensível e sinestésica completa". É um filme que encontra beleza no cotidiano, no trivial, mais especificamente no dia-a-dia de uma mulher chamada Cleo e sua rotina como emprega doméstica de uma família classe média na Cidade do México nos anos 70. O requinte estético em preto e branco ressalta e valoriza a majestade da cinematografia que transborda em pequenos detalhes (remetendo em alguns segmentos a veia artística do mestre Hayao Miyazaki), fica perceptível a mão do diretor Alfonso Cuarón em cada frame, que construiu aqui um trabalho realmente muito cuidadoso, minucioso e de uma beleza ímpar. É assombrosa a grandiosidade de Roma ao observarmos sua riqueza estrutural: os planos panorâmicos em ambientes abertos e fechados, as interpretações sensacionais (destaque para a novata Yalitza Aparicio e sua colega coadjuvante Marina de Tavira), os deslumbrantes planos-sequência de extremo realismo e desenvolvimento orgânico e as críticas sociais, que embora sutis, estão lá. A sequência do parto e a cena da praia foram as que mais mexeram comigo, são de uma intensidade dramática e de uma verdade cênica tão impressionante, que é impossível não se sentir estremecido; o que esse diretor fez aqui é algo que mexe com o íntimo e deixa uma marca profunda. Obra-prima instantânea!
Mais um filme que aborda sobre os inacreditáveis grupos religiosos de terapia de conversão homossexual, e este aqui é baseado numa história real. Já deixo registrado que, considerando ser este um tema tão pesado, doloroso e polêmico, Boy Erased deixou faltando no meio do caminho uma maior intensidade, mais pulso, mais urgência, mais apreensão em sua narrativa. É notável o esforço do Lucas Hedges para entrar na pele de um garoto em conflito consigo mesmo, mas ele jamais me convenceu por completo em relação aos anseios de seu personagem. Em contrapartida, Nicole Kidman, como uma mãe também em conflito, está maravilhosa como sempre. No geral, Boy Erased é um bom filme que vale a conferida pela sua premissa de extremo valor social (ainda mais em tempos de plena intolerância e ignorância).
A trama é derivada demais das distopias adolescentes, o roteiro é fraco, batido, desgastado, previsível, o desenvolvimento do antagonista é caricato e preguiçoso, é notável que há uma ostentação visual grandiosa e caprichada e o elenco está razoável num geral, mas Máquinas Mortais é um mais um filme adaptado de um livro teen que não empolga, não inova, não ousa, não sai da zona de conforto e não tem nada a dizer. Não se deixem enganar pelo nome do Peter Jackson por trás da produção.
O filme segue a vida do lutador de pro wrestling Randy "The Ram" Robinson, que já teve seus anos de glória e hoje vive de glórias do passado, enquanto tenta uma reaproximação de sua filha ao mesmo tempo que tem de lidar com um ataque cardíaco repentino devido a anos e anos de uma vida exaustiva de drogas e esforços físicos extremos. É admirável todo o cuidado aos detalhes no que diz respeito a recriação do universo do pro wrestling e da realidade decadente dos que um dia foram grandes lutadores, o desenvolvimento de personagem, a performance do Mickey Rourke, sua fisicalidade, seus trejeitos, o acúmulo de angústias e arrependimentos ao longo da vida, a deterioração do homem indestrutível, é tudo muito real e muito sensível. Eu até que segurei bem a barra, mas quando chegou a cena do Sweet Child O' Mine, a represa rompeu e veio abaixo.
É interessante a forma como a diretora cria uma atmosfera melancólica tão pesada utilizando recursos sutis como os olhares discretos e reflexivos do protagonista, sua rotina monótona, suas tentativas de se reafirmar como um homem capaz, um amigo que sofreu o mesmo tipo de acidente e está hospitalizado, uma fotografia com planos abertos lindíssimos que faz contrastes entre um homem apaixonado pela majestade da natureza sem poder "tocá-la", são recursos muito eficientes que nos dão um vislumbre de como é enxergar o mundo através do ponto de vista dele. O elenco é composto pelas próprias pessoas da história, que fazem um ótimo trabalho, o que deixa o filme muito mais natural e realista, chega a parecer até um documentário. E esse vaqueiro Brady Jandreau, além de muito bonito, é muito bom ator!
O filme é um coming-of-age que retrata as consequências da falta de uma estrutura familiar e a necessidade de lidar com as perdas e se adaptar ao meio. Trabalha uma carga emocional muito forte para um adolescente e o Charlie Plummer segura a barra o filme todo, é um personagem complexo desenvolvido numa descendente e o ator transparece com muita naturalidade e de forma orgânica as várias camadas decadentes de seu personagem, desde a entonação de voz tímida e o olhar baixo e distante até a humilhação, o desespero, as fugas, a desesperança e o desabamento emocional. Na reta final, nem eu me segurei quando ele finalmente disse as palavras:
A trama aqui é bem semelhante a do filme A Autópsia, de 2016, se passa num necrotério onde há um cadáver misterioso e coisas estranhas começam a acontecer, mas as semelhanças acabam aí. Não costumo fazer comparações, mas A Autópsia é um filme que, em partes, compreende o conceito de "menos é mais", há um genuíno senso de ameaça, vários dispositivos assustadores que funcionam, jogos de câmera traiçoeiros sobre o cadáver, ele sabe brincar com as expectativas e tudo sem o cadáver sequer se mexer; já aqui, em Cadáver, há um exagero na forma como o misticismo do corpo é desenvolvido e na fisicalidade do mesmo, incontáveis clichês, dramas irrelevantes, diversos personagens vazios e descartáveis e uma notável falta de inventividade ao que diz respeito à própria manipulação da imagem do cadáver, que por si só é bem assustadora, mas cai na armadilha do exagero. O resultado final é um filmeco que parece muito mais longo do que é, chato, malfeito, mal dirigido e sem personalidade.
Amigos fotógrafos, assistam este filme, é uma aula de cinematografia. Amigos não-fotógrafos, assistam também, é uma aula de cinema e sensibilidade. A história se passa durante a Guerra Fria entre Polônia e Paris e segue os encontros e desencontros de um casal apaixonado deixado às margens do destino e de uma realidade claustrofóbica. O amor aqui é palpável, intenso, pincelado em forma de olhares, de melodias, de composições cênicas, de movimentos suaves de câmera. As interpretações e a trilha sonora são tão sublimes quanto o requinte estético em preto e branco. Divino em todos os sentidos.
O filme permite à Chloë Moretz uma oportunidade de mostrar um trabalho de atriz mais maduro e dedicado, mas o roteiro é inofensivo e o desenvolvimento de seus personagens é brando demais ao considerarmos a premissa de uma realidade tão repressora, faltou mais pulso, mais vigor, mais histeria e desespero, tanto por parte dos opressores quanto dos oprimidos. Não me convenceu.
Você sabe quando o filme é realmente bom quando percebe a sagacidade do roteiro ao retratar uma realidade tão dura e cruel com toques calculados e certeiros de humor, humor negro, é claro, equilibrados com altas doses de tensão e uma forte carga dramática nas entrelinhas. Inspirado na história real de Ron Stallworth, um policial negro que em 1978 se infiltrou na Ku Klux Klan, o filme constantemente traça paralelos entre as ideologias extremistas de décadas atrás em contraste com a sociedade dos dias atuais. O elenco é muito competente, a cinematografia remete propositadamente aos filmes dos anos 70, o texto é muito bem escrito, os diálogos dos extremistas são tão venenosos que chega a ser difícil de assistir. BlacKkKlansman é um desses documentos necessários que nos mantém alerta ao que tange a mentalidade dúbia, a ignorância coletiva e os vários discursos de ódio reprimido que vêm assolando nossos dias, necessário para hoje e para os dias que virão.
Del Toro sabe pincelar as nuances do terror de forma orgânica, conhece suas estruturas e suas variáveis. A construção de espaço (o casarão sujo e antigo no meio do deserto que abriga meninos órfãos, a bomba que jamais explodiu cravada no coração daquele chão de terra), as parábolas sobre espiritualidade, o toque sobrenatural ambíguo e a carga dramática fortíssima fazem deste um grande e relevante filme de terror.
É interessante a abordagem adotada pelo diretor Damien Chazelle para contar uma história já tão conhecida, sem a menor pressa ele guia nosso ponto de vista para o íntimo do protagonista, seus anseios, seus sentimentos, seus conflitos internos, o pesar constante em seus olhos que reflete o quão intenso e doloroso foi carregar tamanha responsabilidade nas costas enquanto a angústia na família e a repercussão mundial eram cada vez mais intensas. É uma abordagem humana, de dentro para fora, que usa de pequenos momentos como a respiração ofegante segundos antes de uma decolagem, peças metálicas que tilintam freneticamente, vários recursos sinestésicos para trazer à tona a tensão e o senso de perigo que inevitavelmente provém de tais missões espaciais. A trilha sonora e a edição e mixagem de som são um espetáculo à parte, além do uso pontual de alguns silêncios que trazem um peso dramático fortíssimo, o som transborda vida, o som conta a história, o zumbido do espaço, a melodia hipnótica da trilha, é um filme concebido para ser visto, ouvido e sentido como uma experiência imersiva e sensorial. A sequencia em que ele finalmente dá os primeiros passos na Lua e avista o horizonte daquela paisagem lunar alva e desértica é a coisa mais linda que assisti esse ano, chorei como se eu estivesse lá. Meu filme preferido de 2018 até aqui.
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista AgoraÉ interessante observar todo o ótimo desenvolvimento dramático dos personagens frente suas perdas, é talvez a melhor interpretação de boa parte do elenco, e apesar do inegável e forte tom melancólico por trás das cortinas, há um grande senso de aventura, de justiça e de esperança em que a narrativa se desenrola. A sequência de batalha do terceiro ato é um verdadeiro banquete visual, uma aula de edição e efeitos visuais e um conjunto de eventos simbólicos e inacreditáveis, algo tão surreal e impressionante que eu só havia visto em desenhos animados até então. É um desfecho extremamente bem organizado e amarradinho que fecha com louvor a saga, é um filme épico, grandioso, marcante, intenso, e por que não, histórico? Há 11 anos a Marvel vem cozinhando este epílogo e ainda entrega mais do que promete, consagrando Vingadores: Ultimato oficialmente como a epopeia dos super-heróis e um prato cheio para a nossa criança interior que na infância sempre teve super-heróis como referência e muito, muito amor pelo fantástico e pelo extraordinário.
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista Agora"You took everything from me"
Eu: CARALHOOOOOOOOOO FOI O QUE EU PEDI SIM!!!!!
Dumbo
3.4 611 Assista AgoraA criação estética do Dumbo é caprichada, feito a base de efeitos visuais, ele tem bastante personalidade, doçura e carrega uma inocência juvenil no olhar bem característica do personagem, não há como não se afeiçoar e não torcer por ele. O mesmo vale para a trilha sonora e a fotografia que é rica em cenários circences e parques temáticos. Infelizmente, esta nova versão virou mais uma história sobre humanos gananciosos cercados por um elefante voador do que o amadurecimento e a jornada de um elefante bebê separado da mãe e maltratado por todos, como acontece no original. Aliás, seria redundante ressaltar o quanto a animação de 1941 é superior a esta versão em todos os sentidos, mas é. Há muitos desdobramentos e personagens novos que não acrescentaram em quase nada e uma notável falta de inspiração e originalidade na tentativa de construir novas camadas e novos desfechos ao filme, há uma fraqueza muito incômoda no esqueleto do roteiro. Faltou coração, faltou a dinâmica mãe e filho, faltou a inesquecível canção "Baby Mine" nos balanços do amor materno, faltou a essência do verdadeiro Dumbo. Mas, como entretenimento escapista, serve.
Nós
3.8 2,3K Assista Agora"Nós" é um filme de terror que consegue ser intrigante, tenso, metafórico, simbólico, assustador, vertiginoso e cômico, tudo em seu devido tempo e na medida certa. O uso do vermelho opressor, a expressão maníaca no rosto dos antagonistas, a tesoura que corta o vínculo, a máscara que cai, a voz demoníaca que arrepia a espinha, é um festival de originalidade e insanidade. A Lupita Nyong'O merece o mundo por sua interpretação, que mulher extraordinária! E o resto do elenco, idem.
Aterrorizados
3.0 254Este filme é um exemplo de como se fazer um terror genuíno. A história se passa num vilarejo assombrado por forças sobrenaturais pesadíssimas e segue uma equipe de investigadores que procuram por respostas. Há três sequências nos 40 minutos iniciais que são espetaculares, refletem um verdadeiro controle de direção e uma originalidade muito bem-vinda para o gênero; a primeira pega de jeito o espectador pelo choque, pela violência gráfica brutal; a segunda pela apreensão, pelo jogo de luz e sombras, de movimentos de câmera e de expectativas, é a sequência mais assustadora; e a terceira pega pelo psicológico, pelo sentimentalismo, é uma problemática situacional extremamente bizarra e perturbadora que ainda vai ficar comigo por um bom tempo. Infelizmente, a partir da segunda metade o filme sucumbe à própria grandeza, perde a sutileza, pesa na trilha, não resiste aos clichês americanos e recorre deliberadamente a múltiplos exageros que poderiam ter sido evitados. Sofre do mesmo problema do provocativo "A Autópsia", de 2016, ambos filmes de grande potencial que sabem preparar o terreno, mas não conseguem segurar a barra e se perdem dentro da própria ambição. Mas, a despeito de suas imperfeições, Aterrorizados é um filme que não merece ser perdido.
Três Estranhos Idênticos
4.0 214 Assista AgoraO documentário acompanha a história de vida dos trigêmeos que, nos anos 60, foram separados no nascimento e postos para adoção, e por incidências da vida, se conheceram apenas aos 19 anos de idade. É retratado aqui toda a repercussão midiática que o caso surtiu nos anos 80, toda a popularidade e alcance que os trigêmeos conseguiram e há um levantamento interessante sobre questões comportamentais e psicológicas, mas a grande força do documentário está na investigação dos reais motivos da separação destes trigêmeos, o que direciona a história para um caminho cada vez mais sombrio, bizarro e intrigante. Uma pena ter sido esnobado no Oscar 2019.
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraAssistir o cinema do Gaspar Noé é sempre uma experiência desafiadora que flerta com o masoquismo (ou até mesmo com o sadomasoquismo), e Climax é uma maçã que não cai muito longe do pé. Muito estilo e ostentação visual, muitos planos-sequência (a primeira cena de dança é perfeita) muito vermelho sangue, muita psicodelia, paranoias, histeria, alvoroço, sexo e violência à flor da pele. É um filme que transpira loucura, celebra o sadismo e liberta os demônios interiores com sua premissa que incita à reflexão sobre os limites da sanidade e da moral. Só não leva uma nota maior porque suas metáforas não têm muito a dizer e há realmente um exagero na construção (ou desconstrução) da perturbação e alienação da experiência de morte e vida. E apesar de ter saído do cinema com dor de cabeça, gostei bastante.
Cafarnaum
4.6 673 Assista AgoraAinda estou atônito, coração despedaçado, mas vou tentar por em breves palavras o quão extraordinário este filme é. A premissa lembra vagamente Túmulo dos Vagalumes, conta a história de um garoto que tenta levar a vida por conta própria junto de seu irmão mais novo meio a um cenário de muita pobreza, abandono, desolação e desesperança. É um retrato frio e cruel de uma realidade que grita em todos os lugares, seja em menor ou maior intensidade: o despreparo na tarefa de cuidar, criar e trazer um filho ao mundo. É uma denúncia extremamente dolorosa sobre as consequências e as cicatrizes que o desamor e a falta de uma estrutura familiar podem causar no coração de uma criança. É assustador pensar em todos os paralelos e conexões da vida real que me vieram à mente enquanto assistia. Obra de arte irretocável!
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraA nova versão de Suspiria é um show de horrores, mas no bom sentido, é original, assustadora e jamais se contenta em ser uma mera cópia ou se aproveita do sucesso da obra original do Dario Argento. Um diretor inferior ao Luca Guadagnino não conseguiria segurar a barra de recriar um clássico tão referencial. Fosse essa releitura mais enxugada, menos insossa e um roteiro voltado apenas às bruxas, seria um grande nome para o terror contemporâneo. Reconheço que ambas as versões podem conviver em harmonia no mesmo espaço, apesar da original de 1977 seguir intacta e soberana, obviamente.
Mirai
3.6 119Há uma pitada generosa de "De Volta Para o Futuro" aqui, porém, apenas como plano de fundo para uma inspiração, Mirai tem bastante personalidade e caminha com as próprias pernas tranquilamente. É um filme sobre amor fraterno, laços familiares, amadurecimento, fortalecimento de vínculos afetivos, sobre aprender a realizar pequenas concessões, sobre o medo de perder os pais, sobre reconhecer o valor histórico de sua própria árvore genealógica e como ela deve ser sólida e bem enraizada para uma estrutura familiar funcionar, é sobre enxergar o mundo sob o ponto de vista de um garoto carente de atenção. Esteticamente há um forte uso de cores vibrantes e de um azul-celeste que evocam toda a doçura e nostalgia da infância e a trilha sonora belíssima do Tatsuro Yamashita encaixa maravilhosamente na proposta. Só o que me incomodou foi o trabalho de voz do Kun que jamais parece ser a voz de um garotinho, mas isso é um mero detalhe tamanha beleza de Mirai. Ao término do filme, tudo o que ficou comigo foi aquele adocicado sabor saudoso das lembranças da minha infância, como uma leve fragrância se dissipando no ar, e um desejo de poder dividir a vida com alguém especial para construir memórias felizes e inesquecíveis. Filme grande que valoriza as pequenas coisas. Minha animação preferida de 2018.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraRoma não só é meu filme preferido de 2018, como também uma aula de cinema, um daqueles poucos filmes que podemos chamar de "experiência cinematográfica sensível e sinestésica completa". É um filme que encontra beleza no cotidiano, no trivial, mais especificamente no dia-a-dia de uma mulher chamada Cleo e sua rotina como emprega doméstica de uma família classe média na Cidade do México nos anos 70. O requinte estético em preto e branco ressalta e valoriza a majestade da cinematografia que transborda em pequenos detalhes (remetendo em alguns segmentos a veia artística do mestre Hayao Miyazaki), fica perceptível a mão do diretor Alfonso Cuarón em cada frame, que construiu aqui um trabalho realmente muito cuidadoso, minucioso e de uma beleza ímpar. É assombrosa a grandiosidade de Roma ao observarmos sua riqueza estrutural: os planos panorâmicos em ambientes abertos e fechados, as interpretações sensacionais (destaque para a novata Yalitza Aparicio e sua colega coadjuvante Marina de Tavira), os deslumbrantes planos-sequência de extremo realismo e desenvolvimento orgânico e as críticas sociais, que embora sutis, estão lá. A sequência do parto e a cena da praia foram as que mais mexeram comigo, são de uma intensidade dramática e de uma verdade cênica tão impressionante, que é impossível não se sentir estremecido; o que esse diretor fez aqui é algo que mexe com o íntimo e deixa uma marca profunda. Obra-prima instantânea!
Boy Erased: Uma Verdade Anulada
3.6 402 Assista AgoraMais um filme que aborda sobre os inacreditáveis grupos religiosos de terapia de conversão homossexual, e este aqui é baseado numa história real. Já deixo registrado que, considerando ser este um tema tão pesado, doloroso e polêmico, Boy Erased deixou faltando no meio do caminho uma maior intensidade, mais pulso, mais urgência, mais apreensão em sua narrativa. É notável o esforço do Lucas Hedges para entrar na pele de um garoto em conflito consigo mesmo, mas ele jamais me convenceu por completo em relação aos anseios de seu personagem. Em contrapartida, Nicole Kidman, como uma mãe também em conflito, está maravilhosa como sempre. No geral, Boy Erased é um bom filme que vale a conferida pela sua premissa de extremo valor social (ainda mais em tempos de plena intolerância e ignorância).
A Sereia: Lago dos Mortos
1.7 111 Assista Agorameu deus já chegou morta
Máquinas Mortais
2.7 467 Assista AgoraA trama é derivada demais das distopias adolescentes, o roteiro é fraco, batido, desgastado, previsível, o desenvolvimento do antagonista é caricato e preguiçoso, é notável que há uma ostentação visual grandiosa e caprichada e o elenco está razoável num geral, mas Máquinas Mortais é um mais um filme adaptado de um livro teen que não empolga, não inova, não ousa, não sai da zona de conforto e não tem nada a dizer. Não se deixem enganar pelo nome do Peter Jackson por trás da produção.
O Retorno de Mary Poppins
3.5 343 Assista AgoraDevolve a tigela, Meryl Streep
O Lutador
4.0 912O filme segue a vida do lutador de pro wrestling Randy "The Ram" Robinson, que já teve seus anos de glória e hoje vive de glórias do passado, enquanto tenta uma reaproximação de sua filha ao mesmo tempo que tem de lidar com um ataque cardíaco repentino devido a anos e anos de uma vida exaustiva de drogas e esforços físicos extremos. É admirável todo o cuidado aos detalhes no que diz respeito a recriação do universo do pro wrestling e da realidade decadente dos que um dia foram grandes lutadores, o desenvolvimento de personagem, a performance do Mickey Rourke, sua fisicalidade, seus trejeitos, o acúmulo de angústias e arrependimentos ao longo da vida, a deterioração do homem indestrutível, é tudo muito real e muito sensível. Eu até que segurei bem a barra, mas quando chegou a cena do Sweet Child O' Mine, a represa rompeu e veio abaixo.
Domando o Destino
3.8 78 Assista AgoraÉ interessante a forma como a diretora cria uma atmosfera melancólica tão pesada utilizando recursos sutis como os olhares discretos e reflexivos do protagonista, sua rotina monótona, suas tentativas de se reafirmar como um homem capaz, um amigo que sofreu o mesmo tipo de acidente e está hospitalizado, uma fotografia com planos abertos lindíssimos que faz contrastes entre um homem apaixonado pela majestade da natureza sem poder "tocá-la", são recursos muito eficientes que nos dão um vislumbre de como é enxergar o mundo através do ponto de vista dele. O elenco é composto pelas próprias pessoas da história, que fazem um ótimo trabalho, o que deixa o filme muito mais natural e realista, chega a parecer até um documentário. E esse vaqueiro Brady Jandreau, além de muito bonito, é muito bom ator!
A Rota Selvagem
3.7 73 Assista AgoraO filme é um coming-of-age que retrata as consequências da falta de uma estrutura familiar e a necessidade de lidar com as perdas e se adaptar ao meio. Trabalha uma carga emocional muito forte para um adolescente e o Charlie Plummer segura a barra o filme todo, é um personagem complexo desenvolvido numa descendente e o ator transparece com muita naturalidade e de forma orgânica as várias camadas decadentes de seu personagem, desde a entonação de voz tímida e o olhar baixo e distante até a humilhação, o desespero, as fugas, a desesperança e o desabamento emocional. Na reta final, nem eu me segurei quando ele finalmente disse as palavras:
"I just miss him so much".
Cadáver
2.4 368 Assista AgoraA trama aqui é bem semelhante a do filme A Autópsia, de 2016, se passa num necrotério onde há um cadáver misterioso e coisas estranhas começam a acontecer, mas as semelhanças acabam aí. Não costumo fazer comparações, mas A Autópsia é um filme que, em partes, compreende o conceito de "menos é mais", há um genuíno senso de ameaça, vários dispositivos assustadores que funcionam, jogos de câmera traiçoeiros sobre o cadáver, ele sabe brincar com as expectativas e tudo sem o cadáver sequer se mexer; já aqui, em Cadáver, há um exagero na forma como o misticismo do corpo é desenvolvido e na fisicalidade do mesmo, incontáveis clichês, dramas irrelevantes, diversos personagens vazios e descartáveis e uma notável falta de inventividade ao que diz respeito à própria manipulação da imagem do cadáver, que por si só é bem assustadora, mas cai na armadilha do exagero. O resultado final é um filmeco que parece muito mais longo do que é, chato, malfeito, mal dirigido e sem personalidade.
Guerra Fria
3.8 326 Assista AgoraAmigos fotógrafos, assistam este filme, é uma aula de cinematografia. Amigos não-fotógrafos, assistam também, é uma aula de cinema e sensibilidade. A história se passa durante a Guerra Fria entre Polônia e Paris e segue os encontros e desencontros de um casal apaixonado deixado às margens do destino e de uma realidade claustrofóbica. O amor aqui é palpável, intenso, pincelado em forma de olhares, de melodias, de composições cênicas, de movimentos suaves de câmera. As interpretações e a trilha sonora são tão sublimes quanto o requinte estético em preto e branco. Divino em todos os sentidos.
O Mau Exemplo de Cameron Post
3.4 319 Assista AgoraO filme permite à Chloë Moretz uma oportunidade de mostrar um trabalho de atriz mais maduro e dedicado, mas o roteiro é inofensivo e o desenvolvimento de seus personagens é brando demais ao considerarmos a premissa de uma realidade tão repressora, faltou mais pulso, mais vigor, mais histeria e desespero, tanto por parte dos opressores quanto dos oprimidos. Não me convenceu.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraVocê sabe quando o filme é realmente bom quando percebe a sagacidade do roteiro ao retratar uma realidade tão dura e cruel com toques calculados e certeiros de humor, humor negro, é claro, equilibrados com altas doses de tensão e uma forte carga dramática nas entrelinhas. Inspirado na história real de Ron Stallworth, um policial negro que em 1978 se infiltrou na Ku Klux Klan, o filme constantemente traça paralelos entre as ideologias extremistas de décadas atrás em contraste com a sociedade dos dias atuais. O elenco é muito competente, a cinematografia remete propositadamente aos filmes dos anos 70, o texto é muito bem escrito, os diálogos dos extremistas são tão venenosos que chega a ser difícil de assistir. BlacKkKlansman é um desses documentos necessários que nos mantém alerta ao que tange a mentalidade dúbia, a ignorância coletiva e os vários discursos de ódio reprimido que vêm assolando nossos dias, necessário para hoje e para os dias que virão.
A Espinha do Diabo
3.8 350 Assista AgoraDel Toro sabe pincelar as nuances do terror de forma orgânica, conhece suas estruturas e suas variáveis. A construção de espaço (o casarão sujo e antigo no meio do deserto que abriga meninos órfãos, a bomba que jamais explodiu cravada no coração daquele chão de terra), as parábolas sobre espiritualidade, o toque sobrenatural ambíguo e a carga dramática fortíssima fazem deste um grande e relevante filme de terror.
O Primeiro Homem
3.6 649 Assista AgoraÉ interessante a abordagem adotada pelo diretor Damien Chazelle para contar uma história já tão conhecida, sem a menor pressa ele guia nosso ponto de vista para o íntimo do protagonista, seus anseios, seus sentimentos, seus conflitos internos, o pesar constante em seus olhos que reflete o quão intenso e doloroso foi carregar tamanha responsabilidade nas costas enquanto a angústia na família e a repercussão mundial eram cada vez mais intensas. É uma abordagem humana, de dentro para fora, que usa de pequenos momentos como a respiração ofegante segundos antes de uma decolagem, peças metálicas que tilintam freneticamente, vários recursos sinestésicos para trazer à tona a tensão e o senso de perigo que inevitavelmente provém de tais missões espaciais. A trilha sonora e a edição e mixagem de som são um espetáculo à parte, além do uso pontual de alguns silêncios que trazem um peso dramático fortíssimo, o som transborda vida, o som conta a história, o zumbido do espaço, a melodia hipnótica da trilha, é um filme concebido para ser visto, ouvido e sentido como uma experiência imersiva e sensorial. A sequencia em que ele finalmente dá os primeiros passos na Lua e avista o horizonte daquela paisagem lunar alva e desértica é a coisa mais linda que assisti esse ano, chorei como se eu estivesse lá. Meu filme preferido de 2018 até aqui.