valha! e cadê o pai desse menino afetando ele? esse não era o principal motivo da sua paranoia? há uma bagunça muito grande na construção desse roteiro e dos seus motivos... sobretudo no título.
"Três anúncios para um crime" está no mesmo roll de atrocidades legalizadas encampados pelo russo "Sem Amor". A apatia apresentada no filme de Andrey Zvyagintsev estranhamente remete à tragicomédia dirigida por Martin McDonagh... Mas, "Corra!" ainda é meu preferido.
Acho que ele consegue fundir o terror psicológico causado por relações abusivas à um conjunto bem elaborado de metáforas da relação homem/natureza. acho realmente o roteiro muito bom. viajei na coisa toda. e um show de imagem. entretenimento digno.
Acho que o filme transita entre "Anticristo" e "A Serbian film"... seu desejo profano beira à bizarrice do horror b (daqueles bem péssimos)... e isto me sai muito bem calculado, sobretudo quando há em jogo a 'iconoclastia' masculina e da 'grande arte'... o diretor acerta em cheio quando, no fundo, mostra rasgar em imagem (às vezes rizível) a voracidade do circuito em que ele mesmo, enquanto homem, está inserido...
Este filme me fez lembrar da minha primeira e da minha última paixão: separadas no tempo, mas celebradas no corpo... é tempo de corporificar o presente e não cair nas ciladas de um intelecto petrificado. E de que precisão o roteiro de “Me Chame Pelo Seu Nome” é feito! Arqueólogos imersos nas peripécias da paixão: tempo, tempo, tempo, tempo...
Mesmo querendo não dar spoilers, transcrevo a citação de uma cena brilhante:
“Quando você menos espera, a natureza tem maneiras de encontrar nosso ponto mais fraco. (...) Agora você pode querer não sentir nada. Talvez você nunca quis sentir nada. (...) Mas arrancamos tanto de nós para nos curarmos mais rápido das coisas que ficamos falidos aos 30 anos. E temos menos a oferecer cada vez que recomeçamos com uma nova pessoa. Mas se fazer insensível para não sentir nada? Que desperdício!”
Frio. Corpo congelado. Pedrada. "Não se pode viver em desamor"...
ALERTA DE SPOILER Chave pra entender o final: O menino ficou congelado no rio em frente à casa. Por que? Sobre o começo do filme: o rio ainda não está congelado e ele busca por uma fita. No começo do filme uma fita fica presa numa árvore (capa do filme)…. embaixo dele a água corre. No final do filme mostra a mesma fita e a água congelada. Metáfora total. Ele caiu no rio ao tentar pegar novamente a fita, a única brincadeira possivel para aquela criança… ficou ali, congelado. E o diretor é certeiro na capa do filme e ao retornar essa imagem no final. Talvez ele nunca seja encontrado. Outra pista: no meio do filme, o pai pergunta pra equipe de voluntários: “não pode procurar no rio?”… eles respondem que não procuram por mortos.
Você quer um roteiro bem construido e uma direção eletrizante? Veja "Corra!!!"
Corra urgentemente da sensualidade fascinante de uma Cultura Branca! Corra a léguas dos fetiches abissais legados ao corpo negro! Corra desesperadamente da dominação psicológica de um mundo que disfarça seu poder colonizador! Corra! Corra! Corra do sinismo facista entranhado nas relações de afeto no mundo contemporâneo.
Três baques, três surpresas desestabilizadoras. É fantástico quando a gente se perde nas peripécias de tramas bem elaboradas, quando o fio condutor da obra dá uma rasteira no que estamos concebendo e nos leva pra outro lugar... "A Ghost History" (2017) e "Miss Violence" (2013) são dessas coisas doidas que arrebata a gente! Nuhhh... como dormir? Fomos atrás de uma coisinha mais leve quando decidimos ver "Respire" (2014). Pra quê? Que pancada!!!! Nunca desistir do filme pelas suas primeiras horas de clichês e obviedades...
Tem filme que parece que precisa envelhecer pra apurar seus sentidos. É como se a História a Cultura fossem lapidando a película que, nada fixa, vai se transformando em algo muito melhor... "E sua mãe também" é desses prazeres fisgados de quase duas décadas se implicando com tudo o que o Afonso Cuarón (ou Gael García Bernal) fez depois... que lindeza, que leveza! O Road Movie de um passado que se faz presente e, quem sabe, ainda fala de futuro. "A vida é como a espuma, por isso deve-se entregar-se como o mar".
"O Poderoso Chefinho" e "Cosmópolis", um atrás do outro: sequenciado. Algo em Comum? Neoliberalismo para crianças? Entre a limosine e a família, o poder como marca do "Amor" privado.
Como fala a "Chefe da Teoria": "o dinheiro sofreu uma mudança. Toda riqueza virou seu próprio objeto. Toda riqueza enorme agora é assim. O dinheiro perdeu sua qualidade narrativa, tal como a pintura antes"...
Nossa! Há algo de muito potente e revigorante em Xavier Dolan. Depois de ter me intrigado com a direção de "É apenas o fim do mundo" (onde caio na dúvida de celebrar o vídeoclipe ou me entregar ao ritmo jocoso da sua consciente condução pop), vejo o eletrizante TOM NA FAZENDA. Nossa! Nossa! Desde a primeira cena do filme, a condução é de uma precisão poética que dá nos nervos, de tirar o fôlego. Foda! Mais um pra devorar a filmografia!
Mais do que um cinema notadamente com aspirações políticas, a poética dos Irmãos Dardenne perpassa uma decisão ética sobre o mundo. Forma e conteúdo se fundem num amálgama curioso de alcances inquietantes. Falta pouco para eu concluir a filmografia dos caras, mas a cada filme fica o resquício misterioso de um realismo que está interessado na crueza absurda da paranóia ética em que estamos inseridos. Vale a pena.
Alguém me abraça, por favor! Nossa, Deus! Que bela condução dramática. A jornada do menino Saroo é de tirar o fôlego e já é, de longe, o meu preferido. Impossível não se emocionar. Do começo ao fim, mesmo sendo previsível, o filme é um soco no estômago. Ufaa... “Lion, uma jornada para casa” é estonteantemente lindo e só prova o quanto “La La Land” tá bem distante de ser “o melhor” do Oscar 2017. Pelo contrário, diferente de 2016, nesse ano tem coisa boa pra se ver. Desde a bem conduzida história do ex jogador de beisebol Troy Maxson, em Fences, ou o trauma inquietante revelado em “Manchester à Beira do Mar” (que lindeza!), ou mesmo as maravilhosas “computadoras” de “Estrelas além do tempo”, há roteiros e direções bem mais competentes e que mereceriam levar essa estatueta. Envolvido num universo indiano, não tem como não lembrar de “Quem quer ser um milionário”, aliás, Dev Patel cresceu bastante nesse filme... Vai ficar na memória. Tenho que ver de novo... e de novo... putz!
Denzel Washington é genial. O roteiro de August Wilson é de brilhar os olhos. "Fences" (prefiro chamar assim pois o título em português, como sempre, é uma merda), na sua simplicidade, é de tirar o fôlego, em cada palavra, em cada gesto, em cada take. Fui totalmente "cercado" pela coisa toda, envolvido num lugar bem singelo. Como um filme adaptado de uma peça de teatro, assume sua potência dramatúrgica nesse lugar: com cenários únicos, e câmeras fluidas, como nos bons filmes dos anos 50. Que delícia de dia chuvoso! Viola Davis, você me encanta, e será sempre uma das atrizes mais relevantes do nosso tempo! Salve! O melhor filme da corrida do Oscar 2017 até agora.
"Estrelas além do tempo": não deixem de ver. Sim, é mais um daqueles filmes americanos sobre a segregação. Com o mesmo ritmo de sempre e com as mesmas nuances de roteiro, de trilha e de fotografia: há um mercado lucrativo em torno do empoderamento, é necessário assumir. Mas esta fórmula já esgotou? Não mesmo. Ainda há muitas histórias pra contar, várias vozes caladas ao longo dos anos... E mais do que tudo: vozes femininas. Uma vez uma amiga me disse: "quando tudo estiver bom para a mulher negra, estará bom para todo mundo"... sigo pensando nisto e sacando do quanto esta colocação é verdadeira.
No dia em que o teto do meu quarto desaba e um amigo manda um áudio de watssap com sugestões de novos apartamentos para eu morar, saio de casa, meio desolado, para ver “Aquarius”, do Kleber Mendonça Filho. Preciso, antes de tudo, dizer que não sabia nada sobre a sinopse do filme. Fui ao cinema apenas instigado pelo burburinho que se criou em cima da obra, o que de certo não deixa de agir como captura de marketing: ponto para o bom cinema brasileiro, esse que não cai nas manobras de um tempo arraigado de fundamentalismos e reacionários de plantão. Sim: #ForaTemer! Era o que bradava a plateia do Dragão do Mar ao final da sessão. Fiquei apenas observando, pois não sabia ainda ao certo em que mistério a obra me acionava a pensar politicamente sobre o tempo em que vivemos e quais são as suas reais ligações com o grito de liberdade tão pulsante nessa plateia. Sai absorto, pensante, pensante... Foi necessário alguns bons goles de vinho ao lado de Bianca Ziegler e Ana Luiza Rios para, na volta pra casa, tentar assimilar, poética e politicamente, as inquietações trazidas pelo filme, sobretudo ao pensarmos em “memórias” e em “cidades” (com “s”: múltiplas, possíveis, misteriosas, vivas). A trama do filme, ainda mistério, me captava em cada take e, de um certo modo, me lia, dizia sobre mim, falava sobre a cidade que habita em mim. Como resistir e ficar? Como não sair desse prédio velho, caindo aos pedaços, na periferia de Fortaleza, onde quase ninguém me visita, quase ninguém sabe onde chegar? Como ficar nessa cidade e não ceder ao chamado de outras eras, outros tempos, outros corpos, outras Fortalezas? Sozinho resisto. Resistimos, Clara, em nossos silêncios, com nossas músicas, com nossas complexas questões. Contudo, em que medida o nosso corpo pode acionar-se em devir-outro, agenciando um chamado de transformação, se junto com isso há todo um arsenal de memórias e afetos nos segurando e demarcando o território onde estamos/somos? É nesse momento que surge a distinção entre a resistência e o pensamento reacionário: há uma decisão política em jogo. E nesse sentido, Aquários acerta em cheio: Como habitar as cidades num tempo em que suas memórias são usurpadas a todo instante pela gentrificação de um consumo pixelizado? “Se é bom é Vintage, se é ruim é velho”, brada a personagem-alegoria de uma resistência aguerrida à especulação privatizadora dos modos de viver. Rasgo-me, por inteiro, junto com “Aquarius”, no mistério da tradição, que a todo instante revira-me enquanto traição. Que corpos ainda são possíveis, resistindo sozinhos em apartamentos velhos, enquanto o cupim vai comendo as bordas, as beiras, ávido pela ruína da nossa carne? Essas pragas estão cada vez mais perto, agindo às escuras, num tempo de estratégias claras de um jogo obscuro. Nossos corredores estão cada vez mais tomados por fezes, por evangélicos fundamentalistas, pelo business estrangeiro, pela máquina do poderio desgarrado. Por essa e por outras é que, junto com Clara, resistiremos. E sim, gritaremos ao final de Aquarius e nas ruas: Fora Temer.
"Dheepan: O refúgio" bem que poderia ser um filme que se refugiasse das formas já devastadas pela guerra da indústria cinematográfica. Mas não. Ao fugir da guerra do Sri Kanka e tentar reconstruir um mundo, sua linguagem não deixa de ser pura metáfora do abandono e da readequação à força dominante: "Não estou falando em religião, mas em parecer com os outros", diz o protagonista... E sim: Dheepan parece muito com os outros, mas com o puro diferencial de uma organicidade venérea, porque sim: a guera afeta. O que não é familiar pode também, inelutavelmente, tornar-se afago. Vejam...
DOMINGUEIRA DOS FILMES: Enfim vi o famoso "Precisamos Falar Sobre o Kevin" (2011). Fora toda a trama previsível, é sempre bom ver a Tilda Swinton. Nada mais a declarar. O imprevisto realmente acontece é em "Vidas Sem destino" (1997): paranoia pós-apocalíptica, sujeira multicaótica. Racismo, machismo, homofobia, tudo assim: esfregado na nossa cara, como quem joga a merda toda no ventilador provocando outros tufões: natureza selvagem. Mas o prêmio "joinha" vai mesmo é para "O lagosta" (2015): realmente uma surpresa. Yorgos Lanthimos parece mesmo ser esse mestre em criar outras realidades e torná-las, paradoxalmente, espelhos de metáforas sobre o mundo em que vivemos... Merece ser visto e discutido.
Genial! É bom ver um filme sem expectativa nenhuma e ser surpreendido. Nem a sinopse eu tinha lido, mas depois de adentrar no "passeio" por Los Angeles com Sin-Dee e Alexandra, não tive como ficar mais surpreso ainda ao saber que o filme foi rodado apenas com iPhones. Que maravilha! Sem maniqueísmos, de forma crua, cruel e criativa, podemos vivenciar por 90min a eletrizante noção de alteridade sendo colocada na tela. E não tem como não se apaixonar por cada um desses "personagens": complexos, humanos, sórdidos, crueis... e lindos!
Três atos de uma mesma peça. Três tempos de um mesmo compasso. Concatenados. Ligados através de pontes de ressonância. Hoje fui pego de surpresa ao assistir o elogioso “Paz Para Nós em Nossos Sonhos”, do lituano Šarūnas Bartas e, arrebatado, em sequência, vivenciar outras duas profusões. Incrível como o existencialismo presente no filme, que já havia me deixado com várias questões e impressões, casou-se perfeitamente com o infanto-respiro advindo da Mostra Sesc de Arte Naïf, no SESC Iracema. O jogo lúdico das cores dos quadros em contraponto ao tom monocromático e minimalista do filme fizeram-me viajar entre niilismo e esperança. Sensações reiteradas quando um ator de “Para frente: o pior” (Inquieta Cia) me diz que “o poeta ingênuo continuará ingênuo”. Como essa frase reverberou... e ainda reverbera, ressona em minhas pontes Naïf, lembrando-me, inconscientemente, da poesia de Júnior Pimenta. Potência: eis o pilar da ponte que nos liga, de mãos dadas, para além dos sonhos, à esperança de outras formas de existência.
Roda Gigante
3.3 309Kate Winslet é uma das melhores atrizes do cinema atual... nossa!
Paranóia
3.5 1,5K Assista Agoravalha! e cadê o pai desse menino afetando ele? esse não era o principal motivo da sua paranoia? há uma bagunça muito grande na construção desse roteiro e dos seus motivos... sobretudo no título.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista Agora"Três anúncios para um crime" está no mesmo roll de atrocidades legalizadas encampados pelo russo "Sem Amor". A apatia apresentada no filme de Andrey Zvyagintsev estranhamente remete à tragicomédia dirigida por Martin McDonagh... Mas, "Corra!" ainda é meu preferido.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraAcho que ele consegue fundir o terror psicológico causado por relações abusivas à um conjunto bem elaborado de metáforas da relação homem/natureza. acho realmente o roteiro muito bom. viajei na coisa toda. e um show de imagem. entretenimento digno.
Acho que o filme transita entre "Anticristo" e "A Serbian film"... seu desejo profano beira à bizarrice do horror b (daqueles bem péssimos)... e isto me sai muito bem calculado, sobretudo quando há em jogo a 'iconoclastia' masculina e da 'grande arte'... o diretor acerta em cheio quando, no fundo, mostra rasgar em imagem (às vezes rizível) a voracidade do circuito em que ele mesmo, enquanto homem, está inserido...
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraEste filme me fez lembrar da minha primeira e da minha última paixão: separadas no tempo, mas celebradas no corpo... é tempo de corporificar o presente e não cair nas ciladas de um intelecto petrificado. E de que precisão o roteiro de “Me Chame Pelo Seu Nome” é feito! Arqueólogos imersos nas peripécias da paixão: tempo, tempo, tempo, tempo...
Mesmo querendo não dar spoilers, transcrevo a citação de uma cena brilhante:
“Quando você menos espera, a natureza tem maneiras de encontrar nosso ponto mais fraco. (...) Agora você pode querer não sentir nada. Talvez você nunca quis sentir nada. (...) Mas arrancamos tanto de nós para nos curarmos mais rápido das coisas que ficamos falidos aos 30 anos. E temos menos a oferecer cada vez que recomeçamos com uma nova pessoa. Mas se fazer insensível para não sentir nada? Que desperdício!”
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraFrio. Corpo congelado. Pedrada.
"Não se pode viver em desamor"...
ALERTA DE SPOILER
Chave pra entender o final: O menino ficou congelado no rio em frente à casa. Por que?
Sobre o começo do filme: o rio ainda não está congelado e ele busca por uma fita. No começo do filme uma fita fica presa numa árvore (capa do filme)…. embaixo dele a água corre. No final do filme mostra a mesma fita e a água congelada. Metáfora total. Ele caiu no rio ao tentar pegar novamente a fita, a única brincadeira possivel para aquela criança… ficou ali, congelado. E o diretor é certeiro na capa do filme e ao retornar essa imagem no final. Talvez ele nunca seja encontrado. Outra pista: no meio do filme, o pai pergunta pra equipe de voluntários: “não pode procurar no rio?”… eles respondem que não procuram por mortos.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraVocê quer um roteiro bem construido e uma direção eletrizante? Veja "Corra!!!"
Corra urgentemente da sensualidade fascinante de uma Cultura Branca! Corra a léguas dos fetiches abissais legados ao corpo negro! Corra desesperadamente da dominação psicológica de um mundo que disfarça seu poder colonizador! Corra! Corra! Corra do sinismo facista entranhado nas relações de afeto no mundo contemporâneo.
Get out? Não! Não corramos! Enfrentemos!
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraComo sobreviver depois desse filme?
Respire
3.8 290 Assista AgoraTrês baques, três surpresas desestabilizadoras. É fantástico quando a gente se perde nas peripécias de tramas bem elaboradas, quando o fio condutor da obra dá uma rasteira no que estamos concebendo e nos leva pra outro lugar... "A Ghost History" (2017) e "Miss Violence" (2013) são dessas coisas doidas que arrebata a gente! Nuhhh... como dormir? Fomos atrás de uma coisinha mais leve quando decidimos ver "Respire" (2014). Pra quê? Que pancada!!!! Nunca desistir do filme pelas suas primeiras horas de clichês e obviedades...
E Sua Mãe Também
4.0 519Tem filme que parece que precisa envelhecer pra apurar seus sentidos. É como se a História a Cultura fossem lapidando a película que, nada fixa, vai se transformando em algo muito melhor... "E sua mãe também" é desses prazeres fisgados de quase duas décadas se implicando com tudo o que o Afonso Cuarón (ou Gael García Bernal) fez depois... que lindeza, que leveza! O Road Movie de um passado que se faz presente e, quem sabe, ainda fala de futuro.
"A vida é como a espuma, por isso deve-se entregar-se como o mar".
O Poderoso Chefinho
3.4 521 Assista Agora"O Poderoso Chefinho" e "Cosmópolis", um atrás do outro: sequenciado. Algo em Comum? Neoliberalismo para crianças? Entre a limosine e a família, o poder como marca do "Amor" privado.
Como fala a "Chefe da Teoria": "o dinheiro sofreu uma mudança. Toda riqueza virou seu próprio objeto. Toda riqueza enorme agora é assim. O dinheiro perdeu sua qualidade narrativa, tal como a pintura antes"...
Laurence Anyways
4.1 551 Assista AgoraFilme lento.
o mais fraco do xavier.
Tom na Fazenda
3.7 368 Assista AgoraNossa! Há algo de muito potente e revigorante em Xavier Dolan. Depois de ter me intrigado com a direção de "É apenas o fim do mundo" (onde caio na dúvida de celebrar o vídeoclipe ou me entregar ao ritmo jocoso da sua consciente condução pop), vejo o eletrizante TOM NA FAZENDA. Nossa! Nossa! Desde a primeira cena do filme, a condução é de uma precisão poética que dá nos nervos, de tirar o fôlego. Foda! Mais um pra devorar a filmografia!
A Garota Desconhecida
3.2 112 Assista AgoraMais do que um cinema notadamente com aspirações políticas, a poética dos Irmãos Dardenne perpassa uma decisão ética sobre o mundo. Forma e conteúdo se fundem num amálgama curioso de alcances inquietantes. Falta pouco para eu concluir a filmografia dos caras, mas a cada filme fica o resquício misterioso de um realismo que está interessado na crueza absurda da paranóia ética em que estamos inseridos. Vale a pena.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraAlguém me abraça, por favor! Nossa, Deus! Que bela condução dramática. A jornada do menino Saroo é de tirar o fôlego e já é, de longe, o meu preferido. Impossível não se emocionar. Do começo ao fim, mesmo sendo previsível, o filme é um soco no estômago. Ufaa... “Lion, uma jornada para casa” é estonteantemente lindo e só prova o quanto “La La Land” tá bem distante de ser “o melhor” do Oscar 2017. Pelo contrário, diferente de 2016, nesse ano tem coisa boa pra se ver. Desde a bem conduzida história do ex jogador de beisebol Troy Maxson, em Fences, ou o trauma inquietante revelado em “Manchester à Beira do Mar” (que lindeza!), ou mesmo as maravilhosas “computadoras” de “Estrelas além do tempo”, há roteiros e direções bem mais competentes e que mereceriam levar essa estatueta. Envolvido num universo indiano, não tem como não lembrar de “Quem quer ser um milionário”, aliás, Dev Patel cresceu bastante nesse filme... Vai ficar na memória. Tenho que ver de novo... e de novo... putz!
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraDenzel Washington é genial. O roteiro de August Wilson é de brilhar os olhos. "Fences" (prefiro chamar assim pois o título em português, como sempre, é uma merda), na sua simplicidade, é de tirar o fôlego, em cada palavra, em cada gesto, em cada take. Fui totalmente "cercado" pela coisa toda, envolvido num lugar bem singelo. Como um filme adaptado de uma peça de teatro, assume sua potência dramatúrgica nesse lugar: com cenários únicos, e câmeras fluidas, como nos bons filmes dos anos 50. Que delícia de dia chuvoso! Viola Davis, você me encanta, e será sempre uma das atrizes mais relevantes do nosso tempo! Salve! O melhor filme da corrida do Oscar 2017 até agora.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista Agora"Estrelas além do tempo": não deixem de ver. Sim, é mais um daqueles filmes americanos sobre a segregação. Com o mesmo ritmo de sempre e com as mesmas nuances de roteiro, de trilha e de fotografia: há um mercado lucrativo em torno do empoderamento, é necessário assumir. Mas esta fórmula já esgotou? Não mesmo. Ainda há muitas histórias pra contar, várias vozes caladas ao longo dos anos... E mais do que tudo: vozes femininas. Uma vez uma amiga me disse: "quando tudo estiver bom para a mulher negra, estará bom para todo mundo"... sigo pensando nisto e sacando do quanto esta colocação é verdadeira.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraNo dia em que o teto do meu quarto desaba e um amigo manda um áudio de watssap com sugestões de novos apartamentos para eu morar, saio de casa, meio desolado, para ver “Aquarius”, do Kleber Mendonça Filho. Preciso, antes de tudo, dizer que não sabia nada sobre a sinopse do filme. Fui ao cinema apenas instigado pelo burburinho que se criou em cima da obra, o que de certo não deixa de agir como captura de marketing: ponto para o bom cinema brasileiro, esse que não cai nas manobras de um tempo arraigado de fundamentalismos e reacionários de plantão. Sim: #ForaTemer! Era o que bradava a plateia do Dragão do Mar ao final da sessão. Fiquei apenas observando, pois não sabia ainda ao certo em que mistério a obra me acionava a pensar politicamente sobre o tempo em que vivemos e quais são as suas reais ligações com o grito de liberdade tão pulsante nessa plateia. Sai absorto, pensante, pensante... Foi necessário alguns bons goles de vinho ao lado de Bianca Ziegler e Ana Luiza Rios para, na volta pra casa, tentar assimilar, poética e politicamente, as inquietações trazidas pelo filme, sobretudo ao pensarmos em “memórias” e em “cidades” (com “s”: múltiplas, possíveis, misteriosas, vivas). A trama do filme, ainda mistério, me captava em cada take e, de um certo modo, me lia, dizia sobre mim, falava sobre a cidade que habita em mim. Como resistir e ficar? Como não sair desse prédio velho, caindo aos pedaços, na periferia de Fortaleza, onde quase ninguém me visita, quase ninguém sabe onde chegar? Como ficar nessa cidade e não ceder ao chamado de outras eras, outros tempos, outros corpos, outras Fortalezas? Sozinho resisto. Resistimos, Clara, em nossos silêncios, com nossas músicas, com nossas complexas questões. Contudo, em que medida o nosso corpo pode acionar-se em devir-outro, agenciando um chamado de transformação, se junto com isso há todo um arsenal de memórias e afetos nos segurando e demarcando o território onde estamos/somos? É nesse momento que surge a distinção entre a resistência e o pensamento reacionário: há uma decisão política em jogo. E nesse sentido, Aquários acerta em cheio: Como habitar as cidades num tempo em que suas memórias são usurpadas a todo instante pela gentrificação de um consumo pixelizado? “Se é bom é Vintage, se é ruim é velho”, brada a personagem-alegoria de uma resistência aguerrida à especulação privatizadora dos modos de viver. Rasgo-me, por inteiro, junto com “Aquarius”, no mistério da tradição, que a todo instante revira-me enquanto traição. Que corpos ainda são possíveis, resistindo sozinhos em apartamentos velhos, enquanto o cupim vai comendo as bordas, as beiras, ávido pela ruína da nossa carne? Essas pragas estão cada vez mais perto, agindo às escuras, num tempo de estratégias claras de um jogo obscuro. Nossos corredores estão cada vez mais tomados por fezes, por evangélicos fundamentalistas, pelo business estrangeiro, pela máquina do poderio desgarrado. Por essa e por outras é que, junto com Clara, resistiremos. E sim, gritaremos ao final de Aquarius e nas ruas: Fora Temer.
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraSe tu ficou tocado com a poética colorida de "O menino do Pijama Listrado", veja "Filho de Saul", daí depois a gente conversa...
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista Agorao filme poderia durar uma hora e meia tranquilamente...
Dheepan: O Refúgio
3.6 82 Assista Agora"Dheepan: O refúgio" bem que poderia ser um filme que se refugiasse das formas já devastadas pela guerra da indústria cinematográfica. Mas não. Ao fugir da guerra do Sri Kanka e tentar reconstruir um mundo, sua linguagem não deixa de ser pura metáfora do abandono e da readequação à força dominante: "Não estou falando em religião, mas em parecer com os outros", diz o protagonista... E sim: Dheepan parece muito com os outros, mas com o puro diferencial de uma organicidade venérea, porque sim: a guera afeta. O que não é familiar pode também, inelutavelmente, tornar-se afago. Vejam...
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraDOMINGUEIRA DOS FILMES:
Enfim vi o famoso "Precisamos Falar Sobre o Kevin" (2011). Fora toda a trama previsível, é sempre bom ver a Tilda Swinton. Nada mais a declarar. O imprevisto realmente acontece é em "Vidas Sem destino" (1997): paranoia pós-apocalíptica, sujeira multicaótica. Racismo, machismo, homofobia, tudo assim: esfregado na nossa cara, como quem joga a merda toda no ventilador provocando outros tufões: natureza selvagem.
Mas o prêmio "joinha" vai mesmo é para "O lagosta" (2015): realmente uma surpresa. Yorgos Lanthimos parece mesmo ser esse mestre em criar outras realidades e torná-las, paradoxalmente, espelhos de metáforas sobre o mundo em que vivemos... Merece ser visto e discutido.
Tangerina
4.0 278 Assista AgoraGenial!
É bom ver um filme sem expectativa nenhuma e ser surpreendido. Nem a sinopse eu tinha lido, mas depois de adentrar no "passeio" por Los Angeles com Sin-Dee e Alexandra, não tive como ficar mais surpreso ainda ao saber que o filme foi rodado apenas com iPhones. Que maravilha! Sem maniqueísmos, de forma crua, cruel e criativa, podemos vivenciar por 90min a eletrizante noção de alteridade sendo colocada na tela. E não tem como não se apaixonar por cada um desses "personagens": complexos, humanos, sórdidos, crueis... e lindos!
Paz Para Nós em Nossos Sonhos
3.6 16Três atos de uma mesma peça. Três tempos de um mesmo compasso. Concatenados. Ligados através de pontes de ressonância.
Hoje fui pego de surpresa ao assistir o elogioso “Paz Para Nós em Nossos Sonhos”, do lituano Šarūnas Bartas e, arrebatado, em sequência, vivenciar outras duas profusões. Incrível como o existencialismo presente no filme, que já havia me deixado com várias questões e impressões, casou-se perfeitamente com o infanto-respiro advindo da Mostra Sesc de Arte Naïf, no SESC Iracema. O jogo lúdico das cores dos quadros em contraponto ao tom monocromático e minimalista do filme fizeram-me viajar entre niilismo e esperança. Sensações reiteradas quando um ator de “Para frente: o pior” (Inquieta Cia) me diz que “o poeta ingênuo continuará ingênuo”. Como essa frase reverberou... e ainda reverbera, ressona em minhas pontes Naïf, lembrando-me, inconscientemente, da poesia de Júnior Pimenta. Potência: eis o pilar da ponte que nos liga, de mãos dadas, para além dos sonhos, à esperança de outras formas de existência.