Existe uma polêmica entre os estudiosos de cinema se "O Gabinete do Dr. Caligari" é o marco inicial do expressionismo alemão ou se ele tem sua origem em "O estudante de Praga",no qual são encontrados aspectos considerados fantásticos. Mas, todos concordam que "O Gabinete..." continua sendo a obra mais significativa do movimento expressionista. Trata-se de um filme que dividiu barreiras, no sentido do antes e depois dele, no que se refere ao aspecto visual inovador à época, em que se destacam os cenários pintados e abstratos. "O Gabinete" também tem uma narrativa muito diferente de outros filmes, com elementos do teatro e da literatura destacando-se a inserção de um narrador não confiável. A trama do filme é bastante simples. Começa com um homem contando que no passado em sua aldeia com a chegada de uma espécie de feira começaram a ser cometidos misteriosas mortes que envolvem o misterioso Dr. Caligari e seu sinistro empregado chamado Cesari. "O Gabinete..." mesmo na época atual impressiona pela criação de sua atmosfera de terror, na qual predomina de luz de sombra,e, principalmente, por sua estética diferenciada que se faz a partir do trabalho de maquiagem, que dá a Cesare uma aparência anormal e monstruosa. Além disso, seu final é ambíguo e possibilita diferentes leituras. Mesmo após tanto tempo "O Gabinete..." se mantém um filme impressionante no uso dos recursos técnicos, tais como a cenografia, a montagem de cenas, o uso dos som, e, principalmente da maquiagem. É uma obra-prima do cinema fantástico e influenciou diretores como Tim Burton e Guillermo Del Toro. Um clássico que estabeleceu os novos rumos do cinema de terror/horror ,suspense e mistério.
"O Farol" é um filme que divide opiniões. Ele é do tipo ame-o ou odeio-o em igual medida e dá margem para várias leituras. É o segundo trabalho de Roger Eggers que já no seu segundo longa "A Bruxa" demonstrava um estilo diferente, principalmente na criação de atmosferas de terror. A trama de "O Farol" é relativamente simples. Dois homens vão para um farol e passam algum tempo lá enquanto acontecimentos estranhos começam a acontecer. Um deles é autoritário, falastrão e grosseiro (muito bem interpretado por William Defoe), o outro seu subordinado é um mais novo, taciturno e com um passado misterioso - Robert Pattison também ótimo, exorcizando a imagem de vampiro romântico da série "Crepúsculo". Vale destacar que "O Farol" não tem uma narrativa "redonda", o que faz com que esse filme seja diferente e, por isso, é difícil inseri-lo em um gênero específico. Muitas cenas ocorrem em uma atmosfera sobrenatural, com contornos insólitos o que remete ao cinema expressionista alemão e ao movimento surrealista - talvez, por isso grande parte dos espectadores têm a tendência de rejeita-lo. Ou seja, o "Farol" é acima de tudo uma experiência estética que visa provocar emoções de terror e estranhamento e não se preocupa em contar uma história linear, fechada, com começo, meio e fim. Por isso, pode para alguns ser um filme fascinante que dá margem a leituras dentro de diversas abordagens entre elas a chamada "mítica" e até mesmo a psicanalítica. Por outro lado, para quem não gosta ou não está familiarizado com esses movimentos cinematográficos mencionados, "O Farol" pode ser entendiante e com roteiro sem cabeça. De qualquer, forma, não há como ficar indiferente a obra, uma das intrigantes que surgiu no cinema nos últimos tempos e que comprova o talento do diretor Roger Eggers, um dos mais criativos e ousados cineastas dentro do chamado cinema fantástico atual.
Este filme foi feito logo depois do polêmico "Nascimento de Uma Nação". Até hoje não se sabe se "Intolerância" é um pedido de desculpas de David W. Griffith ou se uma resposta diante das reações negativas ao seu filme anterior. O que que importa é que "Intolerância" se mantém como uma obra cinematográfica impressionante em seus aspectos técnicos, principalmente no que se refere à montagem e a edição de cenas. Inspirado nos épicos italianos, Grififth criou seu próprio épico, no qual demonstra sua maestria como diretor. O filme é dividido em quatro segmentos paralelos que se relacionam a partir da exploração do tema da intolerância na visão de Griffith. O primeiro deles relata a queda da Babilônia; o segundo a paixão de Cristo, o terceiro descreve o massacre dos católicos na Noite de São Bartolomeu e último se passa na época atual e foca em um rapaz acusado de cometer um crime que aguarda a sentença de morte. Todos eles são permeados pela imagem da mulher balançando o berço que tem uma significação simbólica - a mãe representa o tempo e a criança a evolução (ou não) da humanidade. O mais impactante desses segmentos é sobre a Babilônia, no qual o diretor inovou no uso de recursos técnicos destacando o travelling na sua parte inicial e ele também chama a atenção por seus cenários imensos e suntuosos. Além disso,em "Intolerância" temos o surgimento de uma mistura de gêneros, tais como o drama histórico, o épico, filme de tribunal. Pode-se dizer que trata-se de uma superprodução para os padrões da época e, sem dúvida, a obra-prima de um dos cineastas mais inovadores e ousados do cinema norte-americano.. .
Esta é a última obra prima de Akira Kurosawa que já estava debilitado e para financia-lo teve que pedir ajuda a produtores franceses. O esforço valeu a pena: "Ran" (caos) é um filme de visual pictórico impactante, com excelentes atuações dos atores principais. "Ran" é uma livre adaptação de "Rei Lear"de Shakespeare. Assim como outros filmes do diretor ele começa de forma lenta - mas, não entendiante- com um rei reunindo seus filhos em uma caçada. Logo depois, ele anuncia a escolha de seu herdeiro, o que causa um conflito entre os irmãos e dá início a uma série de eventos trágicos. Kurosawa é bastante fiel ao texto de Shakespeare e segue a mesma estrutura narrativa. Mas, o diretor insere na trama uma personagem feminina muito forte - diferente de outras um tanto passivas que aparecem em seus filmes- que é inspirado na Lady Macbeth de Shakespeare, que exerce um papel determinante e potencializa o conflito entre os irmão e o pai. Vale destacar no filme as duas impressionantes sequencias de batalha -uma quase na primeira hora e outra próxima do final) de grande realismo, que foram realizadas sem a ajuda de efeitos visuais. Elas conseguem ser belas e horríveis ao mesmo tempo. "Ran" é um dos últimos grandes filmes do diretor. Um verdadeiro testamento artístico de sua genialidade.
"Nascimento de uma Nação" divide opiniões desde seu lançamento em 1915. De um lado, se reconhece que este é um filme inovador no uso de movimento de câmera e na direção de atores. Por outro lado, ele tem um roteiro bastante polêmico na maneira como mostra a escravidão e negros dentro de uma perspectiva "racista". Além disso, o diretor David W. Griffith também distorce os fatos históricos e transforma em heróis os membros da Klu Klux Klan, gerando protestos violentos à época em que o filme foi exibido nos cinemas. Contudo, apesar da polêmica que envolve "Nascimento de uma Nação" não se pode ignorar sua importância para evolução da arte cinematográfica. Diretor talentoso, Griffh filma as cenas de diversos ângulos - o que até era algo inédito ou pouco realizado nas produções da época. "Nascimento de uma Nação" é um caso raro de um filme que tem que ser visto mais pelas técnicas empregadas em sua realização do que por seu conteúdo que tudo indica é propositalmente duvidoso. Para isso, Griffth investiu pesado em uma visão preconceituosa sobre os desdobramentos da Guerra da Secessão. O resultado disso é visto até hoje, mas de qualquer forma, seu filme permanece nos aspectos técnicos um dos mais inovadores no período e, por isso, continua sendo objeto de discussão entre os estudantes de cinema.
Essa a versão mais fiel do romance de Mary Shelley, mas foi mal recebida pela crítica à época de seu lançamento. Também é aquela que é a mais gótica e por isso é também a mais exagerada. Kenneth Brannagh que também assina a direção exagera na interpretação como Victor Frankenstein dando ao personagem um tom shakespeariano que não combina com ele. Robert De Niro sempre excelente ator não foi a melhor a escolha para a fazer a criatura e também erra na atuação exagerada e cheia de maneirismos. Por outro lado, o filme também tem vários acertos, no aspecto técnico e também aqui temos uma abordagem mais realista e detalhada dos principais eventos do romance. A cena da criação do monstro é muito bem realizada e é melhor que a de versões anteriores e se destaca por sua conotação metafórica. O elenco de apoio também é muito bom formado por atores como Ian Holn, Tom Hulce e Elena Boham Carter, apesar dela também incorrer em exageros na parte final- mas isso é mais culpa da reviravolta mirabolante do roteiro que da atriz. De modo geral, o filme é bem interessante para quem gosta e conhece a obra original.. Vale a pena ser visto.
Essa é a versão de "Drácula" feita pelo polêmico diretor Jess Franco protagonizada pelo lendário Christopher Lee. Lee aceitou fazer parte do projeto por ter mais falas e tem grande destaque no filme. Apesar do orçamento baixo, essa versão é bastante fiel em sua primeira parte a obra original, com Lee recitando algumas falas do livro. No entanto, quando a ação é transposta para a Inglaterra, o filme fica um pouco confuso e com algumas situações muito inverossímeis , bem ao gosto duvidoso de Franco, com destaque para uma sequencia em que os heróis vão atrás de Drácula e tem um desfecho bastante bizarro. Destaque para a beleza e a sensualidade de Soledad Miranda como Lucy, musa de Franco que depois seria tornaria protagonista de "Vampiros Lebos", uma das obras famosas do diretor e sobre vampirismo no cinema. Klaus Kinski também aparece com Renfield em curiosa atuação e posteriormente seria o vampiro na versão de Nosferatu de Verner Herzog, também com origem na obra de stoker. "Conde Drácula" não é um filme ruim, mas está longe de ser um clássico, principalmente por causa de suas limitações técnicas. Mas, é um cult movie e tem seus admiradores. Veja, mas sem grandes pretensões.
Essa versão foi feita para tv e depois lançada nos cinemas. O diretor Dan Curtis tem um estilo direção muito televiso, o que prejudica um pouco o filme. Além disso, Jack Palance apesar de ser bom ator não convence como Drácula. Também é uma pena que a boa ideia do filme de que Drácula perdeu sua esposa que depois reencarna em Lucy é somente explorada de forma superficial. O filme é bastante fiel a obra original em sua primeira parte. As cenas ambientadas no castelo são interessantes - o seu cenário é "pobre" e o menos gótico se comparado com de outras versões, porque é uma produção barata. Também o encontro de Jonathan Harker com as vampiras ocorre em uma passagem muito curta e confusa o que atrapalha um pouco o desenvolvimento de algumas situações - isso deve ter acontecido devido a alta carga sexual desse trecho fez com ele fosse cortado na edição final. Por outro lado, quando a ação é transposta para a Inglaterra os problemas ficam mais evidentes e percebe-se que Richard Matherson se perdeu um pouco no roteiro. Embora se recupere na parte final, não é uma das melhores versões da história de Stoker, O filme é pouco assustador e tornou-se um tanto cansativo na segunda parte, embora o tema da reencarnação tenha sua origem nele e seria melhor explorado em "Drácula de Bram Stoker".
Alguns filmes melhoram com o tempo. Acho que isso aconteceu com essa versão de Drácula produzida nos anos setenta. Revi "Drácula" recentemente em cópia nova, com a fotografia em tom sépia que evoca os filmes de horror clássico que era o que o diretor John Badman o mesmo do sucesso "Os embalos de sábado à noite" queria na época de seu lançamento, mas foi obrigado a desistir por pressão do estúdio. Isso fez com que se destacasse sua atmosfera gótica, o que deixou-o mais envolvente e interessante.. Drácula é muito bem interpretado por Frank Langella que no filme repete sua perfomance que o consagrou no teatro. O roteiro dessa versão combina elementos da obra original de Stoker com algumas passagens da montagem teatral protagonizada por Langella. O filme começa com Drácula já chegando a Withby e se encontrando com uma de sua vítimas. O Drácula de Langella se diferencia dos outros Dráculas: é mais romântico e também mais cínico. Mas, a principal diferença dessa versão com relação às anteriores é a caracterização de Lucy também muito bem interpretada por Kate Nelligan. Ela é mulher independente, e exerce mais livremente sua sexualidade e não tem medo de entregar-se a Drácula em uma cena que causou polêmica á época, mas visualmente é uma das mais bonitas do filme realçada pela bela trilha sonora do mestre John Williams. Também é importante destacar as participações de Donald Pleasence e Laurence Olivier como Dr. Van Helsing já bastante debilitado. Não é a mais assustadora versão da história, mas tem passagens marcantes de terror e horror, tais como a descida de Drácula pelas paredes e aparição de Mina como vampira. "Drácula" tem estilo e traz uma interessante revisão da imagem do vampiro, com um final ousado e ambíguo que possibilita diferentes leituras. Muito bem realizado em seus aspectos técnicos. "Drácula" é um clássico e uma das melhores versões da obra de Bram Stoker para o cinema. Vale muito a pena ver ou rever.
Apesar das muitas versões para o cinema, esta continua sendo a melhor e a mais fiel adaptação do romance clássico de Dumas. Foi um dos primeiros filmes coloridos em Tecnicholor e consegue pela primeira vez reproduzir as melhores e mais empolgantes passagens da obra original. "Os Três Mosqueteiros" tem um pouco de tudo: aventura, cenas de ação muito bem realizadas, comédia, romance, e até mesmo cenas com um tom um pouco mais sombrio, violento e sensual - algo muito ousado para época. O elenco composto por astros e estrelas de Hollywood nessa época está muito bem. Gene Kelly famoso pelo também clássico "Cantando na Chuva" é um D' Artagnan carismático, com ares de pícaro,e se sai bem nas lutas de esgrima. Também não se pode deixar de enfatizar a atuação de Gig Young como Athos. O ator consegue expressar muito bem o lado sombrio e trágico desse personagem. Vincent Price, antes de tornar-se um ícone do cinema de horror, confere um tom sinistro e irônico ao Cardeal Richeleau. Embora sua participação seja pequena, ele rouba a cena quando aparece. Além deles, Lana Turner que chama atenção pela intensa sensualidade e beleza, também se destaca como a vilã Lady de Winter.Turner tem aqui uma das melhores interpretações de sua carreira compondo uma mulher misteriosa, sedutora e que, aos poucos revela ser vingativa e muito perigosa. Com uma reconstituição de época caprichada, na qual se sobressai cenários, figuros, e um excelente trabalho de direção de George Sidney, "Os Três Mosqueteiros" é um clássico do subgênero "Capa e Espada". Vale a pena ser visto e revisto.
"Byzantium" é dirigido por Neil Jordan, o mesmo diretor de "Entrevista com o vampiro", clássico do horror gótico, com o qual este filme tem alguns pontos de aproximação. Novamente, Jordan investe no tema do vampirismo. No entanto, apesar do início com cenas de muita violência, esse filme é mais um melodrama gótico do que um filme de terror/horror. Não espere uma abordagem convencional. Nessa produção os vampiros não têm presas na boca, e eles não são combatidos e destruídos com cruzes e estacas. Temos aqui uma forma de retratar as chamadas "criaturas da noite", de forma mais humanizada e melancólica, o que pode agradar alguns e desagradar outros. "Byzantium" é sobre duas vampiras, mãe e filha e sua relação cheia de conflitos ao longo do tempo. Elas tem personalidades muito diferentes e que entram em choque. Enquanto a mãe, Clara (Gemma Artenton, em ótima atuação) é extremante sensual e sente prazer em matar suas vítimas do sexo masculino, sua filha Eleanor (Saorsi Ronan, também em ótima atuação) é melancólica e solitária e vê na forma como supre suas necessidades biológicas, uma forma de trazer alívio para o sofrimento humano. O filme começa quando ambas são descobertas pelos membros de um grupo conhecido somente como a "Fraternidade", que por um motivo específico quer extermina-las. Elas fogem para uma região no litoral e vão se abrigar em um hotel decadente chamado justamente de "Byzantium", que remete a um época passada. Paralelamente a isso, é revelada a transformação de ambas como vampiras. Talvez, um dos grandes problemas do filme é sua divisão em duas narrativas:uma no presente e outra no passado, sendo que esta é bem mais interessante que a outra. Outro ponto fraco é a ênfase no relacionamento entre Eleanor com um rapaz doente, que atrapalha o ritmo do filme. O problema aqui é a interpretação do ator(Caleb Landry Jones) que tornar seu personagem um tanto sensível e frágil. Por outro lado, a forma como ocorre a transformação de humanos em vampiros ocorre de forma muito interessante, com forte conotação metafórica, e para mim é um dos pontos altos dessa produção. Embora seja irregular, "Byzantium" tem qualidades de outros filmes de Jordan, nos aspectos técnicos, destacando-se o excelente trabalho de fotografia e a reconstituição de época impecável. O filme tem um conclusão satisfatória, embora deixe alguns mistérios em aberto, talvez deixando uma abertura para uma possível continuação. Apesar de perseguidas e ameaçadas, Clara e Eleanor não se deixam intimidar e cada uma á sua maneira enfrenta seus inimigos com suas "armas" - a mãe com a sensualidade, a filha com a inteligência, demonstrada por sua escrita, que descreve sua dramática e anormal existência. Dessa forma, no filme o vampirismo aparece como uma metáfora do empoderamento feminino. Não é pouco o que isso representa para um filme de "gênero", e que torna "Byzantium" um filme interessante e diferente sobre vampiros, que merece ser visto.
Apesar de ser uma continuação "A Noiva de Frankenstein" é considerado pelos críticos cinematográficos melhor que o filme original. Também criou e aumentou a confusão entre o criador e o monstro, de modo que esse último usurpasse o nome do cientista. O filme começa de forma inovadora, com um prólogo em que Mary Shelley (Elza Lanchester, que também faz a "Noiva", em uma interessante relação de espelhamento) autora do romance "Frankenstein", relata ao marido e a Lord Byron que o monstro ao contrário do que se pensava sobreviveu - a justificava para isso é revelada de forma engenhosa pelo roteiro. A partir daí acompanhamos o monstro sem nome (novamente, Boris Karloff, em atuação que combina drama e humor) em busca de um lugar para ser acolhido, mas que sempre é rejeitado com violência. Paralelamente a isso, entra em cena o Dr. Pretorius (Henry Thesenger) que faz chantagem com Henry Frankenstein para que este o ajude a dar vida a "Noiva" do título. Dessa forma, o filme se desenvolve com suas narrativas paralelas que, posteriormente vão se unir e formar uma única. "A Noiva de Frankenstein" até hoje impressiona por seus aspectos técnicos. Com um orçamento maior, o diretor James Whale potencializou o que era muito bom no primeiro filme. Assim, essa produção resultou em espetáculo visual exuberante, principalmente no que se refere à utilização de efeitos visuais, que traz elementos inovadores á época, destacando-se entre eles, a sequência dos seres miniaturizados. Além disso, no filme há uma sequência marcante, em que o monstro é amarrado pelos habitantes da aldeia em pedaço de madeira, que remete á imagem de Cristo na Cruz. Não satisfeito com isso, o diretor amplia a discussão sobre a ética na Ciência, que é um dos principais temas da obra original de Shelley, e faz com que a aparição da "Noiva" seja mais impactante que a do monstro no primeiro filme. Muito bem realizado, com excelente trabalho de maquiagem, novamente feita pelo mestre Jack Pierce,- que capricha no bizarro visual da "Noiva" tornando-o icônico no cinema de horror, cenografia e fotografia impressionantes que realçam sua estética gótica. Sem dúvida é um clássico e uma obra-prima do cinema fantástica, que influenciou e continua influenciando diretores de diferentes gerações. Vale a pena ser visto ou revisto.
"Frankenstein" (1931) é a mais famosa versão para o cinema do romance gótico de Mary Shelley. Não é a primeira, uma vez que houve outra feita em 1910, mas sem dúvida, continua sendo a melhor, a mais interessante e próxima da obra original- tanto é que Frankenstein aqui não é a criatura, mas o criador. O filme impressiona por sua ambientação gótica muito bem realizada e atmosférica, destacando-se entre os cenários, o laboratório que é mostrado em detalhes. Logo no começa o cientista chamado Henry Frankenstein (Colin Clive, ótima atuação) e seu assistente Fritz (Dwigth Frye, que também estava no clássico "Drácula") estão no cemitério à procura de matéria prima (cadáveres) para realizarem um macabro experimento. No entanto, durante a realização da tal experiência, em uma cena até hoje marcante, que impressiona pelos efeitos visuais, algo dá errado e resulta na criação de um ser monstruoso. Além dos aspectos técnicos excepcionais para época, tais como fotografia, cenografia e trilha sonora, chama a atenção a maneira como nos é apresentado o protagonista do filme, que vem a ser o monstro que não tem nome. Até hoje é excepcional o trabalho de maquiagem de Jack Pierce. A primeira aparição da criatura causa grande impacto visual pela forma realista como ela é mostrada por James Whale. Ela aparece de costas e, posteriormente, um close up mostra seu rosto de aparência cadavérica e seus olhos sem vida. Também chama a atenção a caracterização de Boris Karloff, ator que por meio de gestos desajeitados e olhares estranhos encarna com perfeição o monstro assustador, porém frágil emocionalmente. Karloff consegue causar um misto de repulsa e pena devido à sua condição miserável. "Frankenstein" tem alguns problemas de roteiro, principalmente na falsa ambientação da aldeia germânica e nos diálogos, sendo que alguns são risíveis. A sequência final em que o monstro é perseguido e refugia-se em um moinho também é discutível. No entanto, essas falhas devem ser relevadas levando-se em conta a qualidade de sua produção, assim como o inspirado trabalho de direção de James Whale que, posteriormente dirigia sua sequência intitulada "A Noiva de Frankenstein", considerado por muitos melhor que anterior e uma obra-prima do cinema fantástico. "Frankenstein" revela que ás vezes nossa monstruosidade é mais interna do que externa. Afinal quem é o monstro do filme: o criador ou sua criatura que não pediu para ser trazida à vida? É um questionamento que permanece mesmo após o final do filme. Além disso, o monstro do filme é a primeiro a aparecer nas telas que não é mau- conforme demonstra a cena em que este se encontra a menina à beira do lago. Esse ser monstruoso inaugurou uma galeria de seres monstruosos que são rejeitados por sua natureza defeituosa e que não se encaixam na sociedade. "Frankenstein" continua sendo um filme importante, principalmente para a evolução do cinema de terror/horror e marca a era de ouro do ciclo de monstros da Universal. Um clássico que vale a pena ser visto ou revisto.
Este continua sendo um dos filmes de horror mais assustadores de todos os tempos. Apesar de seu baixo orçamento, é uma obra-prima do gênero e o mais importante da produtora inglesa Hammer, conhecida por adaptar clássicos góticos para a linguagem cinematográfica. Em grande parte seu impacto se deve a presença marcante e horripilante de Christopher Lee, considerado com justiça até o hoje o melhor Drácula da história do cinema. "Horror of Dracula", ou "O vampiro da noite" aproveita alguns elementos do romance de Bram Stoker. O filme começa já bastante ousado com Jonathan Harker (Joh Van Eyssen, que mais velho seria o mordomo dos filmes da série Batman) sendo seduzido por uma vampira, que é mostrada com roupas provocantes e presas na boca- algo até então inédito á época. Na sequência, aparece Lee caracterizado de Drácula. Sua aparição é inesquecível e sua imagem causa imediato impacto. Ele aparece com os olhos injetados de sangue e também com presas na boca. Logo depois, há uma sequência com cenas de violência explícita, novamente isso era inédito e o sangue se destaca por sua coloração de um vermelho intenso. Após esse começo muito impactante á época, o filme segue o esquema que depois se tornaria uma fórmula nos filmes da Hammer: Drácula começa a seduzir suas vítimas, todas elas mulheres - que curiosamente não oferecem resistência, o que reforça a conotação sexual do tema do vampirismo no filme até ser "descoberto" pelo Dr. Van Helsing que fará de tudo para destruí-lo. Nota-se que é uma produção discreta, toda feita em estúdio, mas seu principal destaque é a presença marcante de Lee como Drácula-em nenhum momento ele não fala e somente sibila de forma ameaçadora em alguns trechos do filme-, que se contrapõe ao seu maior inimigo, o Dr. Van Hensing (Peter Cushing, outro ator ícone do horror gótico da Hammer) que sempre age de forma racional e calculada. Essa oposição entre o Drácula sensual e perigoso de Lee e o Dr. Van Helsing assexuado e frio de Cushing faria com que eles se tornassem uma dupla e essa parceria seria retomada em outros filmes da produtora. Embora bastante modesto nos aspectos técnicos, o filme é muito bem dirigido por Terence Fisher que, posteriormente voltaria a dirigir outros filmes protagonizados por Lee e Cushing. "O vampiro da noite", com certeza não é a mais fiel adaptação da obra de Stoker, mas sem dúvida é a mais assustadora e ousada. É o filme que fez a fama da Hammer e, um clássico do subgênero filme de vampiro que merece ser visto ou revisto.
Esta é uma das mais famosas versões de "Drácula" para o cinema, como Bela Lugosi como o protagonista. No entanto, esse filme não é o melhor sobre a famoso personagem criado por Bram Stoker e envelheceu mal. O problema é que essa produção é adaptada em parte da obra original (o romance) e outra a segunda parte tem sua origem na peça de teatro adaptada do texto de Bram Stoker. O filme também é prejudicado em parte por causa do rígido código de censura vigente á época que proibiu cenas com conteúdo sexual e violência, o que enfraqueceu seu impacto. A parte inicial ambientada na Transilvânia é a melhor, principalmente às cenas que se passam no interior do castelo de Drácula que são muito bem realizadas por Tod Bowning. Chama a atenção o ótimo trabalho de cenografia, que extrai uma beleza grotesca desse cenário gótico, de modo a torna-lo belo e horrível ao mesmo tempo. Destaque também para a sequencia, a melhor e mais assustadora do filme, em que Drácula desperta e vemos somente sua mão saindo do caixão, e logo depois as mulheres vampiras também acordam e andam, como se estivessem indo ao encontro dele. Nota-se nessa parte inicial um clima de tensão entre Drácula (Lugosi) e o agente imobiliário (Dwight Frye, que era bom ator e convence no papel) que vai visita-lo, que no filme deixa de ser Jonathan Harker e se torna Renfield. Lugosi impressiona por sua caracterização como Drácula - essa produção criou a imagem do vampiro aristocrático, com capaz e terno, que se tornaria recorrente em outras produções do gênero. Ele tinha uma presença cênica marcante e olhar penetrante. No entanto, após ter sido tão imitado, seu Drácula hoje não parece ser tão assustador. Além disso, Lugosi exagera no sotaque europeu, de modo a parecer canastrão em alguns diálogos e monólogos, sendo que em deles, ele diz a famosa frase sobre "as crianças da noite" (Thee chilldremm of nigtchttt!). O filme vai bem até o trecho em que Drácula chega á Inglaterra. A partir desse ponto há uma queda em seu ritmo, de modo que o filme fique quase estático em algumas passagens. Neste trecho, os diálogos ficam sofríveis e até mesmo tem situações risíveis que provocam mais riso que horror. Além disso, o que poderia ser interessante, o embate entre Drácula e seu inimigo o Dr. Von Helsing - interpretado por outro ator canastrão europeu não empolga. Para piorar, todos os eventos assustadores, com destaque para aparição de Mina (em vez de Lucy) como vampira, são sugeridos ou somente narrados pelos personagens. Dessa forma, o desfecho do filme é bastante anti-climático e um pouco frustrante, como se o melhor tivesse ficado de fora. De modo geral, o filme resulta mediano e é muito inferior a outros filmes de monstros lançados á época, tais como "Frankenstein" e "O Fantasma de Ópera", que é anterior a ele e bem mais interessante e ousado. Assim, "Drácula" (1931) somente tem importância por ser a primeira versão mais fiel à obra de Stoker e por ter a presença inesquecível de Lugosi, um dos primeiros vampiros sedutores do cinema.
Esta permanece sendo a melhor versão para o cinema do famoso livro de Bram Stoker. Uma obra-prima nos aspectos técnicos, que foi premiada com os Oscars de cenografia, maquiagem e figurino. É também o último grande filme de Francis Ford Coppola que depois dele não fez mais nada de marcante, e somente dirigiu produções modestas, sem grande sucesso de bilheteria ou de crítica. O roteiro de James V. Hart toma algumas liberdades e modifica um pouco a obra original de Stoker acrescentando um prólogo que explica a transformação de Drácula em vampiro e um final diferente. Por outro lado, o filme de Coppola reproduz pela primeira vez passagens importantes e significativas do romance de Stoker destacando-se dentre elas, a cena em que Jonathan Harker é seduzido pelas vampiras que habitam o castelo, mostrada com alta carga de sensualidade e horror, a passagem em que Drácula transforma Lucy em uma criatura monstruosa semelhante a ele, e o embate final entre o vampiro e e seus inimigos na região da Transilvânia. A produção é suntuosa, toda filmada em estúdio, com bela trilha sonora, eficientes efeitos visuais feitos á moda antiga,- que remontam aos primórdios do cinema-, exuberante fotografia composta por uma palheta de cores frias e, principalmente uma espetacular ambientação gótica, que evoca o cinema expressionista, com destaque para a referência visual ao clássico "Nosferatu", de Murnau, assim como também remete às produções italianas de terror/horror do grande "maestro" Mario Bava. O elenco é equilibrado, com destaque para Anthony Hoppkins encarnando o Dr. Van Helsing como um homem cínico, cerebral e estrategista que se contrapõe ao Drácula, egocêntrico e amargurado de Gary Oldman totalmente diferente de outros Dráculas de produções anteriores. Oldman aqui tem uma interpretação excepcional, e consegue humanizar o vampiro, de modo a torná-lo uma figura trágica, um ser torturado pela culpa, cheio de conflitos internos. Seu Drácula é um líder sanguinário cruel, revoltado e lascivo, mas nutre um amor verdadeiro por sua esposa Mina que ele reconhece reencarnado em Mina - Winona Ryder que consegue convencer como a mocinha, amada do vampiro. Visualmente impactante, dramático, bastante assustador, sensual e até mesmo poético e romântico ao extremo em alguns momentos, "Drácula de Bram Stoker" é a melhor adaptação do romance de Bram Stoker para o cinema. É horror clássico da melhor qualidade. Um filme operístico, que resulta em um espetáculo inesquecível, uma verdadeira obra de arte cinematográfica, com a assinatura de um dos grandes diretores do cinema. Vale a pena ser visto ou revisto.
Esta filme não é baseado na obra original de Bram Stoker. É uma versão para o cinema adaptada de uma peça de teatro, que tem suas origens no romance de Bram Stoker, por isso houve grandes alterações: a maior delas é que Lucy é amada do vampiro e Mina se torna uma personagem coadjuvante. Essa produção chama atenção pelos aspectos técnicos: a atmosfera de terror que é realçada pela empolgante trilha sonora do experiente John Williams, a fotografia em tons escuros e a bela cenografia conseguem extrair uma beleza grotesca do interior da abadia de Carfax. Mas, o grande atrativo desse filme é atuação marcante de Frank Langella como Conde Drácula. O ator que o encarnou no palcos da Brodway, atribuiu a ele algumas nuances até então pouco exploradas em outros Dráculas do cinema. Em alguns aspectos, o Conde Drácula de Langella supera o de Bela Lugosi e do Christopher Lee. Ele é sensual, manipulador, sente um amor genuíno por Lucy e até mesmo é mais aristocrático a ponto de não mostrar suas presas. Por outro lado, esse Drácula também é muito cruel e perverso em algumas situações, principalmente aquelas que envolvem Van Helsing e seu inimigo e rival, Jonathan Harker, que no filme assume uma postura heróica. A mocinha interpretada por Cathy Nelligan também difere de outras seduzidas pelo Conde Vampiro. Aos poucos, ela revela uma sensualidade incapaz de ser controlada e não consegue esconder a irresistível atração que sente por Drácula. O único ator que destoa um pouco dentro de um elenco muito bom, é Laurence Oliver. Ele tem um desempenho mediano como Von Helsing, embora consiga expressar um pouco de vigor em seus embates com o Conde Vampiro. Embora não esteja á altura de outras versões da clássica história de Stoker, esse filme tem cenas interessantes e muito bem realizadas, e algumas delas, muito assustadoras, tais como a cena em que Drácula aparece como se fosse um réptil, de cabeça para baixo, descendo a parede da casa de Lucy, e principalmente o encontro de Van Helsing com sua filha Mina, demonstrando sinais de putrefação, - um excelente trabalho de maquiagem- dentro das catacumbas do cemitério. Destaque também para a cena em que Drácula seduz Lucy, que é mostrada com efeitos de luz de um vermelho intenso que remete ao sangue e a paixão que os une. O final também é diferente de outros filmes sobre o Conde Vampiro, e pode agradar e desagradar em igual medida. De modo geral, o filme resulta interessante e bastante atmosférico e "gótico". Não é a melhor versão de Drácula para o cinemas, mas não faz feio perto da demais. Vale a pena ser visto, principalmente por aqueles que gostam da imortal criação de Bram Stoker - que aqui ganha contornos mais humanizados e, em certa medida muito românticos, que posteriormente seriam retomados e melhor desenvolvidos em "Drácula de Bram Stoker".
Este filme é percursor dos thrillers de espionagem que depois fariam sucesso em épocas posteriores. É dirigido por Fritz Lang, um dos grandes diretores do cinema, mas que aqui parece não estar muito inspirado. A trama é sobre um cientista (Gary Cooper á época galã em vários filmes, mas apático neste) que é chamado por uma organização secreta do governo norte-americano para encontrar um cientista italiano que está desenvolvendo uma bomba atômica. Inicialmente, a premissa é bem desenvolvida e o filme tem uma atmosfera de mistério, no entanto, seu ritmo cai quando entra em cena uma agente italiana chamada Gina ( interpretada de forma um pouco exagerada pela americana Lili Palmer). A partir dai ela e Cooper vão se envolver amorosamente, mas de forma discreta. Neste trecho o filme torna-se melodramático, e até mesmo piegas em algumas cenas. Somente volta a ficar interessante perto do final quando há o desfecho e o segredo do título é revelado. Mas o final é meio anti-climático e parece querer imitar o de "Casablanca". "O Grande Segredo" resulta em um dos filmes mais fracos de Lang nos Estados Unidos. Além disso, deixa transparecer uma mensagem patriótica a favor das forças aliadas, embora pareça defender o desenvolvimento de armamento nuclear na América! Mesmo assim vale a pena ser visto,embora esteja bem aquém de outras produções americanas de Lang, tais como "O Segredo da porta fechada", com Joan Bennett que é bem mais interessante e envolvente,
Este é um filme mais indicado para aqueles que assistiram a série cult "Twin Peaks", também dirigida por David Linch. Mesmo assim, não espere entender todas as situações bizarras e os mistérios da trama. Inicialmente, o filme começa com a morte misteriosa de uma moça parecida com Laura, que é investigada por dois agentes do FBI (Chris Isak e Donald Sutleland) a mando de seu chefe interpretado pelo próprio diretor. Depois do sumiço do personagem de Isak, a ação se desloca para a pequena cidade de Twin Peaks e se concentra justamente nos últimos dias da protagonista (Sheryl Lee que, apesar de não parecer uma adolescente, convence em papel dramático). Dessa forma descobrimos que a moça é problemática e cheia de segredos. Além disso, Laura é assombrada pela figura sinistra de Bob, que dá margem para as cenas mais assustadoras do filme. Novamente, assim como tinha feito na série, Linch procura causar estranhamento e cria uma quase contínua atmosfera de terror que beira o horror em alguns momentos. No entanto, algumas passagens ambientadas no surreal cenário de "Black Lodge" são aparentemente incompressíveis e somente demonstram o estilo peculiar do diretor, sem acrescentar nenhuma informação importante para o desenvolvimento da narrativa. Embora não seja um dos melhores filmes de Lynch, "Os Últimos dias de Laura Palmer" preenche de forma satisfatória algumas lacunas da série. Vale a pena ser visto, principalmente pelos fãs de "Twin Peaks", uma das obras mais inovadoras da tv americana, e que traz a marca autoral de David Linch, um dos diretores mais criativos do cinema.
Este é um filme musical, que pode agradar até mesmo aqueles que não gostam do gênero. Sua trama aparentemente muito simples é ambientada em uma pequena aldeia um pouco antes da revolução russa. O protagonista é o leiteiro Tevye ( o comediante Chaim Topol, no melhor momento de sua carreira) que é um dos personagens mais carismáticos do cinema. Ele começa o filme reclamando com Deus, - um costume bem judaico-, a respeito de sua pobreza e, principalmente, a dificuldade de casar as três filhas. A trama de "Um violinista no telhado" é justamente sobre os problemas e confusões causadas por esta situação. Inicialmente, é um filme leve, quase uma comédia de costumes. As canções também fazem referência aos costumes da tradição judaica, a exemplo da divertida "The Machmaker" (A casamenteira). O filme não tem a exuberância de outros famosos musicais de Hollywood, tais como "Cantando na Chuva", mas tem duas sequências marcantes: em uma delas um grupo de bailarinos fazem a dança à moda dos cossacos russos e outra, muito criativa e engraçada tem a forma de um pesadelo, com leves pinceladas de humor negro e terror. "Um violinista no telhado" é cheio de cenas engraçadas e comoventes. Os personagens são carismáticos e bem construídos. Apesar de grande parte transparecer uma certa leveza, o final é capaz de comover. Muito bem realizado, apesar de sua longa duração, não cansa o espectador. Para mim é um dos melhores filmes musicais produzidos por Hollywood. Uma verdadeira obra-prima nos aspectos técnicos e merece ser visto.
Apesar de ter sido produzido pelo estúdio Hammer, não é um filme de terror, mas um suspense/thriller psicológico. "Fanatismo Macabro" é sobre uma jovem (Stepheny Powers, à época muito bonita e boa atriz, que depois ficaria mundialmente conhecida pelo seriado "Casal 20) vai até a casa de uma senhora aparentemente excêntrica e carola para visita-la. Logo que a moça chega ao local percebe que a Sra. Deflide (Bankehead) se comporta de forma muito estranha, assim como seus empregados, incluindo entre eles, Donald Sutheland (em começo de carreira fazendo um rapaz com retardo mental). Assim como outras produções da Hammer, nota-se que "Fanatismo Macabro" também foi feito com baixo orçamento. Toda a trama se passa em único cenário - uma antiga e decadente mansão de vários cômodos que cria uma ambientação gótica muito bem explorada pelo bom trabalho de direção do canadense Silvio Nazarino. "Fanatismo Macabro" parece ser uma comédia de humor negro, mas gradativamente vai se tornando um thriller de suspense, e algumas de cenas remetem ao clássico "Psicose" de Hithcock, embora sem a mesma carga de violência. Vale destacar nessa produção a presença marcante de Tallulah Bankehed, uma atriz famosa no teatro americano que nesse filme uma de suas melhores atuações como uma pessoa aparentemente excêntrica, mas aos poucos vai revelando ser psicótica e perigosa - é provável que "Fanatismo Macabro" também tenha contribuído para a criação de um novo filão no cinema de gênero, o filme de aprisionamento - dois anos depois seria lançado o clássico sobre o tema "O Colecionador". Além disso traços de sua personalidade perturbada nos faz lembrar outras vilãs do cinema, tais como mãe de Carrie White de "Carrie" e Anne Wilkes de "Louca Obsessão". Destaque também para o trabalho de fotografia que por meio de cores berrantes ressaltadas em seu arco final evoca as produções góticas da Hammer e de Mario Bava. "Fanatismo Macabro " é um dos mais interessantes filmes de suspense dos anos sessenta e pode ser considerado um clássico dentro do gênero.
Este é sem dúvida um dos filmes mais originais dos últimos anos e revela o talento do diretor grego Yorgos Lanthinos. "O Lagosta" chama atenção por sua trama peculiar, ousada e original, muito diferente das atuais produções de Hollywood. É sobre um homem solitário (Collin Farrel, em sua melhor atuação até agora) que vai passar um tempo em uma espécie de ressort para encontrar uma companheira. O problema é que ele tem prazo para fazer isso senão será transformado em um bicho, e ele escolhe justamente ser uma lagosta por motivos bastante peculiares.. A partir dai se desenvolve uma série de situações muito bizarras e também reviravoltas que mudam o rumo da trama. O elenco do filme é formado por um grupo de atores talentosos tais como John C Relly, Lea Seadox e Ben Whishaw. Mas, além da marcante presença de Farrel, quem se destaca no filme é Rachel Weiz como uma misteriosa personagem que se torna interesse amoroso do protagonista. "O Lagosta" pode compreendido como uma metáfora visual sobre a impossibilidade de aceitação de um indivíduo diferente dentro de um determinado grupo social que por sua vez tem suas radicais regras de comportamento. É um filme sobre a solidão e, principalmente a dificuldade de encontrar alguém que possa preencher o vazio existencial. Filosófico, alegórico, e com final "aberto" que possibilita diferentes leituras, "O Lagosta" por suas quebras de ritmo e estranheza é capaz de despertar admiração e raiva em igual medida no espectador. No entanto, ele não saíra indiferente depois de vê-lo. Vale a pena ser visto pela sua originalidade e pela maneira como expressa os dilemas e dificuldades enfrentadas na época atual cada vez mais individualista e pouco aberta a demonstrações genuínas de afeto, na qual os seres humanos se veem obrigados a se adaptarem para se "encaixarem" dentro da chamada "sociedade".
"Gótico" pode ser definido como um delírio visual, com às características recorrentes do estilo barroco e estilizado do polêmico diretor Ken Russel, conhecido por fazer duras críticas à Igreja Católica e defender a liberdade sexual. Ao contrário do que o título sugere não é um filme de horror, embora tenha inspiração em um dos textos que estabeleceram as bases para a criação do gênero: "Frankenstein". Sua trama é sobre os estranhos eventos que inspiraram a autora Mary Shelley (Natasha Richardson, infelizmente falecida, mas aqui muito bem) a escrever esse romance. Além dele, no filme encontramos várias referências a outras obras famosas da literatura gótica, tais como "O Castelo de Otranto" e "O Vampiro", inspirado na sinistra figura de Byron e ao período romântico. Em "Gothic", Mary Shelley aparece como uma moça ingênua que convive com um grupo de pessoas excêntricas e libertinas, uma espécie de pré hippies que defendem o amor livre e usam drogas. "Gothic" se passa em curto período de tempo, focando mais durante a noite em que o poeta romântico Lord Byron (Gabriel Byrne, o melhor do elenco) conta para os amigos algumas histórias sobrenaturais e na sequencia ele faz ritual de magia que, supostamente desencadeia forças malignas. Na sequencia acontecem eventos dramáticos, surreais e às vezes bizarros, com destaque para cena em que Percy Shelley chapado sobe em cima do telhado e admira o poder de um raio como fonte de vida e energia, que remete a uma famosa passagem de "Frankenstein". Cria-se assim uma atmosfera de terror, na qual não tem certeza se tais eventos sobrenaturais existem ou podem ter outra explicação. "Gothic" não é um filme para todos os gostos, principalmente por ser cheio de passagens extravagantes e um pouco artificiais. Mas, apesar de alguns defeitos, se mantém como a melhor reprodução dos fatos estranhos que deram origem a "Frankenstein". Russel mostra um período marcado por grandes transformações literatura e, principalmente na filosofia e Ciência, que deu origem a obras assustadoras destacando-se entre elas a imortal obra-prima de Mary Shelley - isso é enfatizada em sua marcante cena final-, até hoje capaz de mexer com a nossa imaginação. Para mim "Gothic" é um dos melhores filmes do diretor que soube descrever a geração romântica, com seus excessos e ideias controversas. Vale a pena ser visto seja pelo estilo peculiar e desvairado de Russel ou como registro de um período que se destaca por sua grande inventividade e ousadia.
"A Maldição do Lobisomen" tem a marca pessoal de Terence Fisher, um dos mais famosos e criativos do estúdio, principalmente no uso de cores berrantes, enfatizando-se entre elas, o vermelho e enquadramentos em close ups. A trama é ambientada na Espanha Medieval reconstruída com o uso de cenários reaproveitados, mas que nesse filme não se parecem tão artificiais como em outras produções, é sobre um rapaz (Oliver Reed, em um de seus primeiros trabalhos no cinema) que se torna um lobisomen por ser filho indesejado, fruto de um estupro. Nota-se que por trás do aspecto fantástico há uma contundente crítica social embutida: defende-se a ideia de que aristocracia decadente por meio de suas ações terríveis e egoístas é capaz de gerar seres monstruosos. Reed consegue expressar muito bem os sentimentos conflitantes de seu personagem tornando-o uma figura trágica. Destaque também para a trilha sonora e o excelente trabalho de maquiagem, que confere a criatura um visual assustador. Embora seja um filme de ritmo um pouco lento é bem realizado e interessante, com elementos que combinam, terror, horror e pincelas de drama, com a inserção do interesse amoroso do protagonista. Pode ser considerado um dos melhores do estúdio nos aspectos técnicos e também sobre o tema da licantropia. Vale a pena ser visto por aqueles que gostam do subgênero filme de lobisomen.
O Gabinete do Dr. Caligari
4.3 522 Assista AgoraExiste uma polêmica entre os estudiosos de cinema se "O Gabinete do Dr. Caligari" é o marco inicial do expressionismo alemão ou se ele tem sua origem em "O estudante de Praga",no qual são encontrados aspectos considerados fantásticos.
Mas, todos concordam que "O Gabinete..." continua sendo a obra mais significativa do movimento expressionista. Trata-se de um filme que dividiu barreiras, no sentido do antes e depois dele, no que se refere ao aspecto visual inovador à época, em que se destacam os cenários pintados e abstratos. "O Gabinete" também tem uma narrativa muito diferente de outros filmes, com elementos do teatro e da literatura destacando-se a inserção de um narrador não confiável.
A trama do filme é bastante simples. Começa com um homem contando que no passado em sua aldeia com a chegada de uma espécie de feira começaram a ser cometidos misteriosas mortes que envolvem o misterioso Dr. Caligari e seu sinistro empregado chamado Cesari. "O Gabinete..." mesmo na época atual impressiona pela criação de sua atmosfera de terror, na qual predomina de luz de sombra,e, principalmente, por sua estética diferenciada que se faz a partir do trabalho de maquiagem, que dá a Cesare uma aparência anormal e monstruosa. Além disso, seu final é ambíguo e possibilita diferentes leituras.
Mesmo após tanto tempo "O Gabinete..." se mantém um filme impressionante no uso dos recursos técnicos, tais como a cenografia, a montagem de cenas, o uso dos som, e, principalmente da maquiagem. É uma obra-prima do cinema fantástico e influenciou diretores como Tim Burton e Guillermo Del Toro. Um clássico que estabeleceu os novos rumos do cinema de terror/horror ,suspense e mistério.
O Farol
3.8 1,6K Assista Agora"O Farol" é um filme que divide opiniões. Ele é do tipo ame-o ou odeio-o em igual medida e dá margem para várias leituras. É o segundo trabalho de Roger Eggers que já no seu segundo longa "A Bruxa" demonstrava um estilo diferente, principalmente na criação de atmosferas de terror. A trama de "O Farol" é relativamente simples. Dois homens vão para um farol e passam algum tempo lá enquanto acontecimentos estranhos começam a acontecer. Um deles é autoritário, falastrão e grosseiro (muito bem interpretado por William Defoe), o outro seu subordinado é um mais novo, taciturno e com um passado misterioso - Robert Pattison também ótimo, exorcizando a imagem de vampiro romântico da série "Crepúsculo". Vale destacar que "O Farol" não tem uma narrativa "redonda", o que faz com que esse filme seja diferente e, por isso, é difícil inseri-lo em um gênero específico. Muitas cenas ocorrem em uma atmosfera sobrenatural, com contornos insólitos o que remete ao cinema expressionista alemão e ao movimento surrealista - talvez, por isso grande parte dos espectadores têm a tendência de rejeita-lo. Ou seja, o "Farol" é acima de tudo uma experiência estética que visa provocar emoções de terror e estranhamento e não se preocupa em contar uma história linear, fechada, com começo, meio e fim. Por isso, pode para alguns ser um filme fascinante que dá margem a leituras dentro de diversas abordagens entre elas a chamada "mítica" e até mesmo a psicanalítica. Por outro lado, para quem não gosta ou não está familiarizado com esses movimentos cinematográficos mencionados, "O Farol" pode ser entendiante e com roteiro sem cabeça. De qualquer, forma, não há como ficar indiferente a obra, uma das intrigantes que surgiu no cinema nos últimos tempos e que comprova o talento do diretor Roger Eggers, um dos mais criativos e ousados cineastas dentro do chamado cinema fantástico atual.
Intolerância
4.0 108 Assista AgoraEste filme foi feito logo depois do polêmico "Nascimento de Uma Nação". Até hoje não se sabe se "Intolerância" é um pedido de desculpas de David W. Griffith ou se uma resposta diante das reações negativas ao seu filme anterior. O que que importa é que "Intolerância" se mantém como uma obra cinematográfica impressionante em seus aspectos técnicos, principalmente no que se refere à montagem e a edição de cenas.
Inspirado nos épicos italianos, Grififth criou seu próprio épico, no qual demonstra sua maestria como diretor.
O filme é dividido em quatro segmentos paralelos que se relacionam a partir da exploração do tema da intolerância na visão de Griffith. O primeiro deles relata a queda da Babilônia; o segundo a paixão de Cristo, o terceiro descreve o massacre dos católicos na Noite de São Bartolomeu e último se passa na época atual e foca em um rapaz acusado de cometer um crime que aguarda a sentença de morte. Todos eles são permeados pela imagem da mulher balançando o berço que tem uma significação simbólica - a mãe representa o tempo e a criança a evolução (ou não) da humanidade.
O mais impactante desses segmentos é sobre a Babilônia, no qual o diretor inovou no uso de recursos técnicos destacando o travelling na sua parte inicial e ele também chama a atenção por seus cenários imensos e suntuosos.
Além disso,em "Intolerância" temos o surgimento de uma mistura de gêneros, tais como o drama histórico, o épico, filme de tribunal. Pode-se dizer que trata-se de uma superprodução para os padrões da época e, sem dúvida, a obra-prima de um dos cineastas mais inovadores e ousados do cinema norte-americano..
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Ran
4.5 262 Assista AgoraEsta é a última obra prima de Akira Kurosawa que já estava debilitado e para financia-lo teve que pedir ajuda a produtores franceses. O esforço valeu a pena: "Ran" (caos) é um filme de visual pictórico impactante, com excelentes atuações dos atores principais.
"Ran" é uma livre adaptação de "Rei Lear"de Shakespeare. Assim como outros filmes do diretor ele começa de forma lenta - mas, não entendiante- com um rei reunindo seus filhos em uma caçada. Logo depois, ele anuncia a escolha de seu herdeiro, o que causa um conflito entre os irmãos e dá início a uma série de eventos trágicos. Kurosawa é bastante fiel ao texto de Shakespeare e segue a mesma estrutura narrativa. Mas, o diretor insere na trama uma personagem feminina muito forte - diferente de outras um tanto passivas que aparecem em seus filmes- que é inspirado na Lady Macbeth de Shakespeare, que exerce um papel determinante e potencializa o conflito entre os irmão e o pai.
Vale destacar no filme as duas impressionantes sequencias de batalha -uma quase na primeira hora e outra próxima do final) de grande realismo, que foram realizadas sem a ajuda de efeitos visuais. Elas conseguem ser belas e horríveis ao mesmo tempo.
"Ran" é um dos últimos grandes filmes do diretor. Um verdadeiro testamento artístico de sua genialidade.
O Nascimento de uma Nação
3.0 230"Nascimento de uma Nação" divide opiniões desde seu lançamento em 1915. De um lado, se reconhece que este é um filme inovador no uso de movimento de câmera e na direção de atores. Por outro lado, ele tem um roteiro bastante polêmico na maneira como mostra a escravidão e negros dentro de uma perspectiva "racista". Além disso, o diretor David W. Griffith também distorce os fatos históricos e transforma em heróis os membros da Klu Klux Klan, gerando protestos violentos à época em que o filme foi exibido nos cinemas.
Contudo, apesar da polêmica que envolve "Nascimento de uma Nação" não se pode ignorar sua importância para evolução da arte cinematográfica. Diretor talentoso, Griffh filma as cenas de diversos ângulos - o que até era algo inédito ou pouco realizado nas produções da época.
"Nascimento de uma Nação" é um caso raro de um filme que tem que ser visto mais pelas técnicas empregadas em sua realização do que por seu conteúdo que tudo indica é propositalmente duvidoso. Para isso, Griffth investiu pesado em uma visão preconceituosa sobre os desdobramentos da Guerra da Secessão. O resultado disso é visto até hoje, mas de qualquer forma, seu filme permanece nos aspectos técnicos um dos mais inovadores no período e, por isso, continua sendo objeto de discussão entre os estudantes de cinema.
Frankenstein de Mary Shelley
3.7 257 Assista AgoraEssa a versão mais fiel do romance de Mary Shelley, mas foi mal recebida pela crítica à época de seu lançamento. Também é aquela que é a mais gótica e por isso é também a mais exagerada.
Kenneth Brannagh que também assina a direção exagera na interpretação como Victor Frankenstein dando ao personagem um tom shakespeariano que não combina com ele. Robert De Niro sempre excelente ator não foi a melhor a escolha para a fazer a criatura e também erra na atuação exagerada e cheia de maneirismos. Por outro lado, o filme também tem vários acertos, no aspecto técnico e também aqui temos uma abordagem mais realista e detalhada dos principais eventos do romance.
A cena da criação do monstro é muito bem realizada e é melhor que a de versões anteriores e se destaca por sua conotação metafórica. O elenco de apoio também é muito bom formado por atores como Ian Holn, Tom Hulce e Elena Boham Carter, apesar dela também incorrer em exageros na parte final- mas isso é mais culpa da reviravolta mirabolante do roteiro que da atriz. De modo geral, o filme é bem interessante para quem gosta e conhece a obra original.. Vale a pena ser visto.
Conde Drácula
3.3 28Essa é a versão de "Drácula" feita pelo polêmico diretor Jess Franco protagonizada pelo lendário Christopher Lee. Lee aceitou fazer parte do projeto por ter mais falas e tem grande destaque no filme. Apesar do orçamento baixo, essa versão é bastante fiel em sua primeira parte a obra original, com Lee recitando algumas falas do livro. No entanto, quando a ação é transposta para a Inglaterra, o filme fica um pouco confuso e com algumas situações muito inverossímeis , bem ao gosto duvidoso de Franco, com destaque para uma sequencia em que os heróis vão atrás de Drácula e tem um desfecho bastante bizarro. Destaque para a beleza e a sensualidade de Soledad Miranda como Lucy, musa de Franco que depois seria tornaria protagonista de "Vampiros Lebos", uma das obras famosas do diretor e sobre vampirismo no cinema. Klaus Kinski também aparece com Renfield em curiosa atuação e posteriormente seria o vampiro na versão de Nosferatu de Verner Herzog, também com origem na obra de stoker.
"Conde Drácula" não é um filme ruim, mas está longe de ser um clássico, principalmente por causa de suas limitações técnicas. Mas, é um cult movie e tem seus admiradores. Veja, mas sem grandes pretensões.
Drácula – O Demônio das Trevas
3.3 18 Assista AgoraEssa versão foi feita para tv e depois lançada nos cinemas. O diretor Dan Curtis tem um estilo direção muito televiso, o que prejudica um pouco o filme. Além disso, Jack Palance apesar de ser bom ator não convence como Drácula. Também é uma pena que a boa ideia do filme de que Drácula perdeu sua esposa que depois reencarna em Lucy é somente explorada de forma superficial. O filme é bastante fiel a obra original em sua primeira parte. As cenas ambientadas no castelo são interessantes - o seu cenário é "pobre" e o menos gótico se comparado com de outras versões, porque é uma produção barata. Também o encontro de Jonathan Harker com as vampiras ocorre em uma passagem muito curta e confusa o que atrapalha um pouco o desenvolvimento de algumas situações - isso deve ter acontecido devido a alta carga sexual desse trecho fez com ele fosse cortado na edição final. Por outro lado, quando a ação é transposta para a Inglaterra os problemas ficam mais evidentes e percebe-se que Richard Matherson se perdeu um pouco no roteiro. Embora se recupere na parte final, não é uma das melhores versões da história de Stoker, O filme é pouco assustador e tornou-se um tanto cansativo na segunda parte, embora o tema da reencarnação tenha sua origem nele e seria melhor explorado em "Drácula de Bram Stoker".
Drácula
3.4 49 Assista AgoraAlguns filmes melhoram com o tempo. Acho que isso aconteceu com essa versão de Drácula produzida nos anos setenta. Revi "Drácula" recentemente em cópia nova, com a fotografia em tom sépia que evoca os filmes de horror clássico que era o que o diretor John Badman o mesmo do sucesso "Os embalos de sábado à noite" queria na época de seu lançamento, mas foi obrigado a desistir por pressão do estúdio. Isso fez com que se destacasse sua atmosfera gótica, o que deixou-o mais envolvente e interessante..
Drácula é muito bem interpretado por Frank Langella que no filme repete sua perfomance que o consagrou no teatro. O roteiro dessa versão combina elementos da obra original de Stoker com algumas passagens da montagem teatral protagonizada por Langella.
O filme começa com Drácula já chegando a Withby e se encontrando com uma de sua vítimas. O Drácula de Langella se diferencia dos outros Dráculas: é mais romântico e também mais cínico. Mas, a principal diferença dessa versão com relação às anteriores é a caracterização de Lucy também muito bem interpretada por Kate Nelligan. Ela é mulher independente, e exerce mais livremente sua sexualidade e não tem medo de entregar-se a Drácula em uma cena que causou polêmica á época, mas visualmente é uma das mais bonitas do filme realçada pela bela trilha sonora do mestre John Williams.
Também é importante destacar as participações de Donald Pleasence e Laurence Olivier como Dr. Van Helsing já bastante debilitado. Não é a mais assustadora versão da história, mas tem passagens marcantes de terror e horror, tais como a descida de Drácula pelas paredes e aparição de Mina como vampira.
"Drácula" tem estilo e traz uma interessante revisão da imagem do vampiro, com um final ousado e ambíguo que possibilita diferentes leituras. Muito bem realizado em seus aspectos técnicos. "Drácula" é um clássico e uma das melhores versões da obra de Bram Stoker para o cinema. Vale muito a pena ver ou rever.
Os Três Mosqueteiros
3.7 37 Assista AgoraApesar das muitas versões para o cinema, esta continua sendo a melhor e a mais fiel adaptação do romance clássico de Dumas. Foi um dos primeiros filmes coloridos em Tecnicholor e consegue pela primeira vez reproduzir as melhores e mais empolgantes passagens da obra original. "Os Três Mosqueteiros" tem um pouco de tudo: aventura, cenas de ação muito bem realizadas, comédia, romance, e até mesmo cenas com um tom um pouco mais sombrio, violento e sensual - algo muito ousado para época.
O elenco composto por astros e estrelas de Hollywood nessa época está muito bem. Gene Kelly famoso pelo também clássico "Cantando na Chuva" é um D' Artagnan carismático, com ares de pícaro,e se sai bem nas lutas de esgrima. Também não se pode deixar de enfatizar a atuação de Gig Young como Athos. O ator consegue expressar muito bem o lado sombrio e trágico desse personagem. Vincent Price, antes de tornar-se um ícone do cinema de horror, confere um tom sinistro e irônico ao Cardeal Richeleau. Embora sua participação seja pequena, ele rouba a cena quando aparece.
Além deles, Lana Turner que chama atenção pela intensa sensualidade e beleza, também se destaca como a vilã Lady de Winter.Turner tem aqui uma das melhores interpretações de sua carreira compondo uma mulher misteriosa, sedutora e que, aos poucos revela ser vingativa e muito perigosa.
Com uma reconstituição de época caprichada, na qual se sobressai cenários, figuros, e um excelente trabalho de direção de George Sidney, "Os Três Mosqueteiros" é um clássico do subgênero "Capa e Espada". Vale a pena ser visto e revisto.
Byzantium: Uma Vida Eterna
3.4 352"Byzantium" é dirigido por Neil Jordan, o mesmo diretor de "Entrevista com o vampiro", clássico do horror gótico, com o qual este filme tem alguns pontos de aproximação. Novamente, Jordan investe no tema do vampirismo. No entanto, apesar do início com cenas de muita violência, esse filme é mais um melodrama gótico do que um filme de terror/horror. Não espere uma abordagem convencional. Nessa produção os vampiros não têm presas na boca, e eles não são combatidos e destruídos com cruzes e estacas. Temos aqui uma forma de retratar as chamadas "criaturas da noite", de forma mais humanizada e melancólica, o que pode agradar alguns e desagradar outros.
"Byzantium" é sobre duas vampiras, mãe e filha e sua relação cheia de conflitos ao longo do tempo. Elas tem personalidades muito diferentes e que entram em choque. Enquanto a mãe, Clara (Gemma Artenton, em ótima atuação) é extremante sensual e sente prazer em matar suas vítimas do sexo masculino, sua filha Eleanor (Saorsi Ronan, também em ótima atuação) é melancólica e solitária e vê na forma como supre suas necessidades biológicas, uma forma de trazer alívio para o sofrimento humano.
O filme começa quando ambas são descobertas pelos membros de um grupo conhecido somente como a "Fraternidade", que por um motivo específico quer extermina-las. Elas fogem para uma região no litoral e vão se abrigar em um hotel decadente chamado justamente de "Byzantium", que remete a um época passada.
Paralelamente a isso, é revelada a transformação de ambas como vampiras.
Talvez, um dos grandes problemas do filme é sua divisão em duas narrativas:uma no presente e outra no passado, sendo que esta é bem mais interessante que a outra.
Outro ponto fraco é a ênfase no relacionamento entre Eleanor com um rapaz doente, que atrapalha o ritmo do filme. O problema aqui é a interpretação do ator(Caleb Landry Jones) que tornar seu personagem um tanto sensível e frágil. Por outro lado, a forma como ocorre a transformação de humanos em vampiros ocorre de forma muito interessante, com forte conotação metafórica, e para mim é um dos pontos altos dessa produção.
Embora seja irregular, "Byzantium" tem qualidades de outros filmes de Jordan, nos aspectos técnicos, destacando-se o excelente trabalho de fotografia e a reconstituição de época impecável. O filme tem um conclusão satisfatória, embora deixe alguns mistérios em aberto, talvez deixando uma abertura para uma possível continuação.
Apesar de perseguidas e ameaçadas, Clara e Eleanor não se deixam intimidar e cada uma á sua maneira enfrenta seus inimigos com suas "armas" - a mãe com a sensualidade, a filha com a inteligência, demonstrada por sua escrita, que descreve sua dramática e anormal existência. Dessa forma, no filme o vampirismo aparece como uma metáfora do empoderamento feminino. Não é pouco o que isso representa para um filme de "gênero", e que torna "Byzantium" um filme interessante e diferente sobre vampiros, que merece ser visto.
A Noiva de Frankenstein
3.9 146Apesar de ser uma continuação "A Noiva de Frankenstein" é considerado pelos críticos cinematográficos melhor que o filme original. Também criou e aumentou a confusão entre o criador e o monstro, de modo que esse último usurpasse o nome do cientista. O filme começa de forma inovadora, com um prólogo em que Mary Shelley (Elza Lanchester, que também faz a "Noiva", em uma interessante relação de espelhamento) autora do romance "Frankenstein", relata ao marido e a Lord Byron que o monstro ao contrário do que se pensava sobreviveu - a justificava para isso é revelada de forma engenhosa pelo roteiro.
A partir daí acompanhamos o monstro sem nome (novamente, Boris Karloff, em atuação que combina drama e humor) em busca de um lugar para ser acolhido, mas que sempre é rejeitado com violência. Paralelamente a isso, entra em cena o Dr. Pretorius (Henry Thesenger) que faz chantagem com Henry Frankenstein para que este o ajude a dar vida a "Noiva" do título.
Dessa forma, o filme se desenvolve com suas narrativas paralelas que, posteriormente vão se unir e formar uma única. "A Noiva de Frankenstein" até hoje impressiona por seus aspectos técnicos. Com um orçamento maior, o diretor James Whale potencializou o que era muito bom no primeiro filme. Assim, essa produção resultou em espetáculo visual exuberante, principalmente no que se refere à utilização de efeitos visuais, que traz elementos inovadores á época, destacando-se entre eles, a sequência dos seres miniaturizados.
Além disso, no filme há uma sequência marcante, em que o monstro é amarrado pelos habitantes da aldeia em pedaço de madeira, que remete á imagem de Cristo na Cruz. Não satisfeito com isso, o diretor amplia a discussão sobre a ética na Ciência, que é um dos principais temas da obra original de Shelley, e faz com que a aparição da "Noiva" seja mais impactante que a do monstro no primeiro filme.
Muito bem realizado, com excelente trabalho de maquiagem, novamente feita pelo mestre Jack Pierce,- que capricha no bizarro visual da "Noiva" tornando-o icônico no cinema de horror, cenografia e fotografia impressionantes que realçam sua estética gótica.
Sem dúvida é um clássico e uma obra-prima do cinema fantástica, que influenciou e continua influenciando diretores de diferentes gerações. Vale a pena ser visto ou revisto.
Frankenstein
4.0 284 Assista Agora"Frankenstein" (1931) é a mais famosa versão para o cinema do romance gótico de Mary Shelley. Não é a primeira, uma vez que houve outra feita em 1910, mas sem dúvida, continua sendo a melhor, a mais interessante e próxima da obra original- tanto é que Frankenstein aqui não é a criatura, mas o criador.
O filme impressiona por sua ambientação gótica muito bem realizada e atmosférica, destacando-se entre os cenários, o laboratório que é mostrado em detalhes. Logo no começa o cientista chamado Henry Frankenstein (Colin Clive, ótima atuação) e seu assistente Fritz (Dwigth Frye, que também estava no clássico "Drácula") estão no cemitério à procura de matéria prima (cadáveres) para realizarem um macabro experimento. No entanto, durante a realização da tal experiência, em uma cena até hoje marcante, que impressiona pelos efeitos visuais, algo dá errado e resulta na criação de um ser monstruoso.
Além dos aspectos técnicos excepcionais para época, tais como fotografia, cenografia e trilha sonora, chama a atenção a maneira como nos é apresentado o protagonista do filme, que vem a ser o monstro que não tem nome. Até hoje é excepcional o trabalho de maquiagem de Jack Pierce. A primeira aparição da criatura causa grande impacto visual pela forma realista como ela é mostrada por James Whale. Ela aparece de costas e, posteriormente, um close up mostra seu rosto de aparência cadavérica e seus olhos sem vida. Também chama a atenção a caracterização de Boris Karloff, ator que por meio de gestos desajeitados e olhares estranhos encarna com perfeição o monstro assustador, porém frágil emocionalmente.
Karloff consegue causar um misto de repulsa e pena devido à sua condição miserável. "Frankenstein" tem alguns problemas de roteiro, principalmente na falsa ambientação da aldeia germânica e nos diálogos, sendo que alguns são risíveis. A sequência final em que o monstro é perseguido e refugia-se em um moinho também é discutível. No entanto, essas falhas devem ser relevadas levando-se em conta a qualidade de sua produção, assim como o inspirado trabalho de direção de James Whale que, posteriormente dirigia sua sequência intitulada "A Noiva de Frankenstein", considerado por muitos melhor que anterior e uma obra-prima do cinema fantástico.
"Frankenstein" revela que ás vezes nossa monstruosidade é mais interna do que externa. Afinal quem é o monstro do filme: o criador ou sua criatura que não pediu para ser trazida à vida? É um questionamento que permanece mesmo após o final do filme.
Além disso, o monstro do filme é a primeiro a aparecer nas telas que não é mau- conforme demonstra a cena em que este se encontra a menina à beira do lago. Esse ser monstruoso inaugurou uma galeria de seres monstruosos que são rejeitados por sua natureza defeituosa e que não se encaixam na sociedade.
"Frankenstein" continua sendo um filme importante, principalmente para a evolução do cinema de terror/horror e marca a era de ouro do ciclo de monstros da Universal. Um clássico que vale a pena ser visto ou revisto.
O Vampiro da Noite
3.8 102Este continua sendo um dos filmes de horror mais assustadores de todos os tempos. Apesar de seu baixo orçamento, é uma obra-prima do gênero e o mais importante da produtora inglesa Hammer, conhecida por adaptar clássicos góticos para a linguagem cinematográfica. Em grande parte seu impacto se deve a presença marcante e horripilante de Christopher Lee, considerado com justiça até o hoje o melhor Drácula da história do cinema.
"Horror of Dracula", ou "O vampiro da noite" aproveita alguns elementos do romance de Bram Stoker. O filme começa já bastante ousado com Jonathan Harker (Joh Van Eyssen, que mais velho seria o mordomo dos filmes da série Batman) sendo seduzido por uma vampira, que é mostrada com roupas provocantes e presas na boca- algo até então inédito á época.
Na sequência, aparece Lee caracterizado de Drácula. Sua aparição é inesquecível e sua imagem causa imediato impacto. Ele aparece com os olhos injetados de sangue e também com presas na boca. Logo depois, há uma sequência com cenas de violência explícita, novamente isso era inédito e o sangue se destaca por sua coloração de um vermelho intenso.
Após esse começo muito impactante á época, o filme segue o esquema que depois se tornaria uma fórmula nos filmes da Hammer: Drácula começa a seduzir suas vítimas, todas elas mulheres - que curiosamente não oferecem resistência, o que reforça a conotação sexual do tema do vampirismo no filme até ser "descoberto" pelo Dr. Van Helsing que fará de tudo para destruí-lo.
Nota-se que é uma produção discreta, toda feita em estúdio, mas seu principal destaque é a presença marcante de Lee como Drácula-em nenhum momento ele não fala e somente sibila de forma ameaçadora em alguns trechos do filme-, que se contrapõe ao seu maior inimigo, o Dr. Van Hensing (Peter Cushing, outro ator ícone do horror gótico da Hammer) que sempre age de forma racional e calculada. Essa oposição entre o Drácula sensual e perigoso de Lee e o Dr. Van Helsing assexuado e frio de Cushing faria com que eles se tornassem uma dupla e essa parceria seria retomada em outros filmes da produtora.
Embora bastante modesto nos aspectos técnicos, o filme é muito bem dirigido por Terence Fisher que, posteriormente voltaria a dirigir outros filmes protagonizados por Lee e Cushing.
"O vampiro da noite", com certeza não é a mais fiel adaptação da obra de Stoker, mas sem dúvida é a mais assustadora e ousada. É o filme que fez a fama da Hammer e, um clássico do subgênero filme de vampiro que merece ser visto ou revisto.
Drácula
3.9 295 Assista AgoraEsta é uma das mais famosas versões de "Drácula" para o cinema, como Bela Lugosi como o protagonista. No entanto, esse filme não é o melhor sobre a famoso personagem criado por Bram Stoker e envelheceu mal.
O problema é que essa produção é adaptada em parte da obra original (o romance) e outra a segunda parte tem sua origem na peça de teatro adaptada do texto de Bram Stoker. O filme também é prejudicado em parte por causa do rígido código de censura vigente á época que proibiu cenas com conteúdo sexual e violência, o que enfraqueceu seu impacto.
A parte inicial ambientada na Transilvânia é a melhor, principalmente às cenas que se passam no interior do castelo de Drácula que são muito bem realizadas por Tod Bowning. Chama a atenção o ótimo trabalho de cenografia, que extrai uma beleza grotesca desse cenário gótico, de modo a torna-lo belo e horrível ao mesmo tempo.
Destaque também para a sequencia, a melhor e mais assustadora do filme, em que Drácula desperta e vemos somente sua mão saindo do caixão, e logo depois as mulheres vampiras também acordam e andam, como se estivessem indo ao encontro dele.
Nota-se nessa parte inicial um clima de tensão entre Drácula (Lugosi) e o agente imobiliário (Dwight Frye, que era bom ator e convence no papel) que vai visita-lo, que no filme deixa de ser Jonathan Harker e se torna Renfield.
Lugosi impressiona por sua caracterização como Drácula - essa produção criou a imagem do vampiro aristocrático, com capaz e terno, que se tornaria recorrente em outras produções do gênero.
Ele tinha uma presença cênica marcante e olhar penetrante. No entanto, após ter sido tão imitado, seu Drácula hoje não parece ser tão assustador. Além disso, Lugosi exagera no sotaque europeu, de modo a parecer canastrão em alguns diálogos e monólogos, sendo que em deles, ele diz a famosa frase sobre "as crianças da noite" (Thee chilldremm of nigtchttt!).
O filme vai bem até o trecho em que Drácula chega á Inglaterra. A partir desse ponto há uma queda em seu ritmo, de modo que o filme fique quase estático em algumas passagens.
Neste trecho, os diálogos ficam sofríveis e até mesmo tem situações risíveis que provocam mais riso que horror. Além disso, o que poderia ser interessante, o embate entre Drácula e seu inimigo o Dr. Von Helsing - interpretado por outro ator canastrão europeu não empolga.
Para piorar, todos os eventos assustadores, com destaque para aparição de Mina (em vez de Lucy) como vampira, são sugeridos ou somente narrados pelos personagens.
Dessa forma, o desfecho do filme é bastante anti-climático e um pouco frustrante, como se o melhor tivesse ficado de fora.
De modo geral, o filme resulta mediano e é muito inferior a outros filmes de monstros lançados á época, tais como "Frankenstein" e "O Fantasma de Ópera", que é anterior a ele e bem mais interessante e ousado. Assim, "Drácula" (1931) somente tem importância por ser a primeira versão mais fiel à obra de Stoker e por ter a presença inesquecível de Lugosi, um dos primeiros vampiros sedutores do cinema.
Drácula de Bram Stoker
4.0 1,4K Assista AgoraEsta permanece sendo a melhor versão para o cinema do famoso livro de Bram Stoker. Uma obra-prima nos aspectos técnicos, que foi premiada com os Oscars de cenografia, maquiagem e figurino. É também o último grande filme de Francis Ford Coppola que depois dele não fez mais nada de marcante, e somente dirigiu produções modestas, sem grande sucesso de bilheteria ou de crítica.
O roteiro de James V. Hart toma algumas liberdades e modifica um pouco a obra original de Stoker acrescentando um prólogo que explica a transformação de Drácula em vampiro e um final diferente. Por outro lado, o filme de Coppola reproduz pela primeira vez passagens importantes e significativas do romance de Stoker destacando-se dentre elas, a cena em que Jonathan Harker é seduzido pelas vampiras que habitam o castelo, mostrada com alta carga de sensualidade e horror, a passagem em que Drácula transforma Lucy em uma criatura monstruosa semelhante a ele, e o embate final entre o vampiro e e seus inimigos na região da Transilvânia.
A produção é suntuosa, toda filmada em estúdio, com bela trilha sonora, eficientes efeitos visuais feitos á moda antiga,- que remontam aos primórdios do cinema-, exuberante fotografia composta por uma palheta de cores frias e, principalmente uma espetacular ambientação gótica, que evoca o cinema expressionista, com destaque para a referência visual ao clássico "Nosferatu", de Murnau, assim como também remete às produções italianas de terror/horror do grande "maestro" Mario Bava.
O elenco é equilibrado, com destaque para Anthony Hoppkins encarnando o Dr. Van Helsing como um homem cínico, cerebral e estrategista que se contrapõe ao Drácula, egocêntrico e amargurado de Gary Oldman totalmente diferente de outros Dráculas de produções anteriores. Oldman aqui tem uma interpretação excepcional, e consegue humanizar o vampiro, de modo a torná-lo uma figura trágica, um ser torturado pela culpa, cheio de conflitos internos. Seu Drácula é um líder sanguinário cruel, revoltado e lascivo, mas nutre um amor verdadeiro por sua esposa Mina que ele reconhece reencarnado em Mina - Winona Ryder que consegue convencer como a mocinha, amada do vampiro.
Visualmente impactante, dramático, bastante assustador, sensual e até mesmo poético e romântico ao extremo em alguns momentos, "Drácula de Bram Stoker" é a melhor adaptação do romance de Bram Stoker para o cinema. É horror clássico da melhor qualidade. Um filme operístico, que resulta em um espetáculo inesquecível, uma verdadeira obra de arte cinematográfica, com a assinatura de um dos grandes diretores do cinema. Vale a pena ser visto ou revisto.
Drácula
3.4 49 Assista AgoraEsta filme não é baseado na obra original de Bram Stoker. É uma versão para o cinema adaptada de uma peça de teatro, que tem suas origens no romance de Bram Stoker, por isso houve grandes alterações: a maior delas é que Lucy é amada do vampiro e Mina se torna uma personagem coadjuvante.
Essa produção chama atenção pelos aspectos técnicos: a atmosfera de terror que é realçada pela empolgante trilha sonora do experiente John Williams, a fotografia em tons escuros e a bela cenografia conseguem extrair uma beleza grotesca do interior da abadia de Carfax.
Mas, o grande atrativo desse filme é atuação marcante de Frank Langella como Conde Drácula. O ator que o encarnou no palcos da Brodway, atribuiu a ele algumas nuances até então pouco exploradas em outros Dráculas do cinema. Em alguns aspectos, o Conde Drácula de Langella supera o de Bela Lugosi e do Christopher Lee. Ele é sensual, manipulador, sente um amor genuíno por Lucy e até mesmo é mais aristocrático a ponto de não mostrar suas presas.
Por outro lado, esse Drácula também é muito cruel e perverso em algumas situações, principalmente aquelas que envolvem Van Helsing e seu inimigo e rival, Jonathan Harker, que no filme assume uma postura heróica.
A mocinha interpretada por Cathy Nelligan também difere de outras seduzidas pelo Conde Vampiro. Aos poucos, ela revela uma sensualidade incapaz de ser controlada e não consegue esconder a irresistível atração que sente por Drácula.
O único ator que destoa um pouco dentro de um elenco muito bom, é Laurence Oliver. Ele tem um desempenho mediano como Von Helsing, embora consiga expressar um pouco de vigor em seus embates com o Conde Vampiro.
Embora não esteja á altura de outras versões da clássica história de Stoker, esse filme tem cenas interessantes e muito bem realizadas, e algumas delas, muito assustadoras, tais como a cena em que Drácula aparece como se fosse um réptil, de cabeça para baixo, descendo a parede da casa de Lucy, e principalmente o encontro de Van Helsing com sua filha Mina, demonstrando sinais de putrefação, - um excelente trabalho de maquiagem- dentro das catacumbas do cemitério.
Destaque também para a cena em que Drácula seduz Lucy, que é mostrada com efeitos de luz de um vermelho intenso que remete ao sangue e a paixão que os une.
O final também é diferente de outros filmes sobre o Conde Vampiro, e pode agradar e desagradar em igual medida.
De modo geral, o filme resulta interessante e bastante atmosférico e "gótico". Não é a melhor versão de Drácula para o cinemas, mas não faz feio perto da demais. Vale a pena ser visto, principalmente por aqueles que gostam da imortal criação de Bram Stoker - que aqui ganha contornos mais humanizados e, em certa medida muito românticos, que posteriormente seriam retomados e melhor desenvolvidos em "Drácula de Bram Stoker".
O Grande Segredo
3.7 22 Assista AgoraEste filme é percursor dos thrillers de espionagem que depois fariam sucesso em épocas posteriores. É dirigido por Fritz Lang, um dos grandes diretores do cinema, mas que aqui parece não estar muito inspirado. A trama é sobre um cientista (Gary Cooper á época galã em vários filmes, mas apático neste) que é chamado por uma organização secreta do governo norte-americano para encontrar um cientista italiano que está desenvolvendo uma bomba atômica. Inicialmente, a premissa é bem desenvolvida e o filme tem uma atmosfera de mistério, no entanto, seu ritmo cai quando entra em cena uma agente italiana chamada Gina ( interpretada de forma um pouco exagerada pela americana Lili Palmer). A partir dai ela e Cooper vão se envolver amorosamente, mas de forma discreta. Neste trecho o filme torna-se melodramático, e até mesmo piegas em algumas cenas. Somente volta a ficar interessante perto do final quando há o desfecho e o segredo do título é revelado. Mas o final é meio anti-climático e parece querer imitar o de "Casablanca".
"O Grande Segredo" resulta em um dos filmes mais fracos de Lang nos Estados Unidos. Além disso, deixa transparecer uma mensagem patriótica a favor das forças aliadas, embora pareça defender o desenvolvimento de armamento nuclear na América! Mesmo assim vale a pena ser visto,embora esteja bem aquém de outras produções americanas de Lang, tais como "O Segredo da porta fechada", com Joan Bennett que é bem mais interessante e envolvente,
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer
3.9 273 Assista AgoraEste é um filme mais indicado para aqueles que assistiram a série cult "Twin Peaks", também dirigida por David Linch. Mesmo assim, não espere entender todas as situações bizarras e os mistérios da trama. Inicialmente, o filme começa com a morte misteriosa de uma moça parecida com Laura, que é investigada por dois agentes do FBI (Chris Isak e Donald Sutleland) a mando de seu chefe interpretado pelo próprio diretor. Depois do sumiço do personagem de Isak, a ação se desloca para a pequena cidade de Twin Peaks e se concentra justamente nos últimos dias da protagonista (Sheryl Lee que, apesar de não parecer uma adolescente, convence em papel dramático). Dessa forma descobrimos que a moça é problemática e cheia de segredos.
Além disso, Laura é assombrada pela figura sinistra de Bob, que dá margem para as cenas mais assustadoras do filme. Novamente, assim como tinha feito na série, Linch procura causar estranhamento e cria uma quase contínua atmosfera de terror que beira o horror em alguns momentos. No entanto, algumas passagens ambientadas no surreal cenário de "Black Lodge" são aparentemente incompressíveis e somente demonstram o estilo peculiar do diretor, sem acrescentar nenhuma informação importante para o desenvolvimento da narrativa.
Embora não seja um dos melhores filmes de Lynch, "Os Últimos dias de Laura Palmer" preenche de forma satisfatória algumas lacunas da série. Vale a pena ser visto, principalmente pelos fãs de "Twin Peaks", uma das obras mais inovadoras da tv americana, e que traz a marca autoral de David Linch, um dos diretores mais criativos do cinema.
Um Violinista no Telhado
4.2 134 Assista AgoraEste é um filme musical, que pode agradar até mesmo aqueles que não gostam do gênero. Sua trama aparentemente muito simples é ambientada em uma pequena aldeia um pouco antes da revolução russa. O protagonista é o leiteiro Tevye ( o comediante Chaim Topol, no melhor momento de sua carreira) que é um dos personagens mais carismáticos do cinema. Ele começa o filme reclamando com Deus, - um costume bem judaico-, a respeito de sua pobreza e, principalmente, a dificuldade de casar as três filhas. A trama de "Um violinista no telhado" é justamente sobre os problemas e confusões causadas por esta situação. Inicialmente, é um filme leve, quase uma comédia de costumes. As canções também fazem referência aos costumes da tradição judaica, a exemplo da divertida "The Machmaker" (A casamenteira).
O filme não tem a exuberância de outros famosos musicais de Hollywood, tais como "Cantando na Chuva", mas tem duas sequências marcantes: em uma delas um grupo de bailarinos fazem a dança à moda dos cossacos russos e outra, muito criativa e engraçada tem a forma de um pesadelo, com leves pinceladas de humor negro e terror.
"Um violinista no telhado" é cheio de cenas engraçadas e comoventes. Os personagens são carismáticos e bem construídos. Apesar de grande parte transparecer uma certa leveza, o final é capaz de comover. Muito bem realizado, apesar de sua longa duração, não cansa o espectador. Para mim é um dos melhores filmes musicais produzidos por Hollywood. Uma verdadeira obra-prima nos aspectos técnicos e merece ser visto.
Fanatismo Macabro
3.7 27 Assista AgoraApesar de ter sido produzido pelo estúdio Hammer, não é um filme de terror, mas um suspense/thriller psicológico. "Fanatismo Macabro" é sobre uma jovem (Stepheny Powers, à época muito bonita e boa atriz, que depois ficaria mundialmente conhecida pelo seriado "Casal 20) vai até a casa de uma senhora aparentemente excêntrica e carola para visita-la. Logo que a moça chega ao local percebe que a Sra. Deflide (Bankehead) se comporta de forma muito estranha, assim como seus empregados, incluindo entre eles, Donald Sutheland (em começo de carreira fazendo um rapaz com retardo mental).
Assim como outras produções da Hammer, nota-se que "Fanatismo Macabro" também foi feito com baixo orçamento. Toda a trama se passa em único cenário - uma antiga e decadente mansão de vários cômodos que cria uma ambientação gótica muito bem explorada pelo bom trabalho de direção do canadense Silvio Nazarino.
"Fanatismo Macabro" parece ser uma comédia de humor negro, mas gradativamente vai se tornando um thriller de suspense, e algumas de cenas remetem ao clássico "Psicose" de Hithcock, embora sem a mesma carga de violência.
Vale destacar nessa produção a presença marcante de Tallulah Bankehed, uma atriz famosa no teatro americano que nesse filme uma de suas melhores atuações como uma pessoa aparentemente excêntrica, mas aos poucos vai revelando ser psicótica e perigosa - é provável que "Fanatismo Macabro" também tenha contribuído para a criação de um novo filão no cinema de gênero, o filme de aprisionamento - dois anos depois seria lançado o clássico sobre o tema "O Colecionador".
Além disso traços de sua personalidade perturbada nos faz lembrar outras vilãs do cinema, tais como mãe de Carrie White de "Carrie" e Anne Wilkes de "Louca Obsessão". Destaque também para o trabalho de fotografia que por meio de cores berrantes ressaltadas em seu arco final evoca as produções góticas da Hammer e de Mario Bava. "Fanatismo Macabro " é um dos mais interessantes filmes de suspense dos anos sessenta e pode ser considerado um clássico dentro do gênero.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraEste é sem dúvida um dos filmes mais originais dos últimos anos e revela o talento do diretor grego Yorgos Lanthinos. "O Lagosta" chama atenção por sua trama peculiar, ousada e original, muito diferente das atuais produções de Hollywood. É sobre um homem solitário (Collin Farrel, em sua melhor atuação até agora) que vai passar um tempo em uma espécie de ressort para encontrar uma companheira. O problema é que ele tem prazo para fazer isso senão será transformado em um bicho, e ele escolhe justamente ser uma lagosta por motivos bastante peculiares.. A partir dai se desenvolve uma série de situações muito bizarras e também reviravoltas que mudam o rumo da trama.
O elenco do filme é formado por um grupo de atores talentosos tais como John C Relly, Lea Seadox e Ben Whishaw. Mas, além da marcante presença de Farrel, quem se destaca no filme é Rachel Weiz como uma misteriosa personagem que se torna interesse amoroso do protagonista.
"O Lagosta" pode compreendido como uma metáfora visual sobre a impossibilidade de aceitação de um indivíduo diferente dentro de um determinado grupo social que por sua vez tem suas radicais regras de comportamento. É um filme sobre a solidão e, principalmente a dificuldade de encontrar alguém que possa preencher o vazio existencial. Filosófico, alegórico, e com final "aberto" que possibilita diferentes leituras, "O Lagosta" por suas quebras de ritmo e estranheza é capaz de despertar admiração e raiva em igual medida no espectador. No entanto, ele não saíra indiferente depois de vê-lo. Vale a pena ser visto pela sua originalidade e pela maneira como expressa os dilemas e dificuldades enfrentadas na época atual cada vez mais individualista e pouco aberta a demonstrações genuínas de afeto, na qual os seres humanos se veem obrigados a se adaptarem para se "encaixarem" dentro da chamada "sociedade".
Gótico
3.4 56"Gótico" pode ser definido como um delírio visual, com às características recorrentes do estilo barroco e estilizado do polêmico diretor Ken Russel, conhecido por fazer duras críticas à Igreja Católica e defender a liberdade sexual. Ao contrário do que o título sugere não é um filme de horror, embora tenha inspiração em um dos textos que estabeleceram as bases para a criação do gênero: "Frankenstein". Sua trama é sobre os estranhos eventos que inspiraram a autora Mary Shelley (Natasha Richardson, infelizmente falecida, mas aqui muito bem) a escrever esse romance. Além dele, no filme encontramos várias referências a outras obras famosas da literatura gótica, tais como "O Castelo de Otranto" e "O Vampiro", inspirado na sinistra figura de Byron e ao período romântico.
Em "Gothic", Mary Shelley aparece como uma moça ingênua que convive com um grupo de pessoas excêntricas e libertinas, uma espécie de pré hippies que defendem o amor livre e usam drogas.
"Gothic" se passa em curto período de tempo, focando mais durante a noite em que o poeta romântico Lord Byron (Gabriel Byrne, o melhor do elenco) conta para os amigos algumas histórias sobrenaturais e na sequencia ele faz ritual de magia que, supostamente desencadeia forças malignas. Na sequencia acontecem eventos dramáticos, surreais e às vezes bizarros, com destaque para cena em que Percy Shelley chapado sobe em cima do telhado e admira o poder de um raio como fonte de vida e energia, que remete a uma famosa passagem de "Frankenstein".
Cria-se assim uma atmosfera de terror, na qual não tem certeza se tais eventos sobrenaturais existem ou podem ter outra explicação. "Gothic" não é um filme para todos os gostos, principalmente por ser cheio de passagens extravagantes e um pouco artificiais. Mas, apesar de alguns defeitos, se mantém como a melhor reprodução dos fatos estranhos que deram origem a "Frankenstein".
Russel mostra um período marcado por grandes transformações literatura e, principalmente na filosofia e Ciência, que deu origem a obras assustadoras destacando-se entre elas a imortal obra-prima de Mary Shelley - isso é enfatizada em sua marcante cena final-, até hoje capaz de mexer com a nossa imaginação. Para mim "Gothic" é um dos melhores filmes do diretor que soube descrever a geração romântica, com seus excessos e ideias controversas. Vale a pena ser visto seja pelo estilo peculiar e desvairado de Russel ou como registro de um período que se destaca por sua grande inventividade e ousadia.
A Maldição do Lobisomem
3.3 33 Assista Agora"A Maldição do Lobisomen" tem a marca pessoal de Terence Fisher, um dos mais famosos e criativos do estúdio, principalmente no uso de cores berrantes, enfatizando-se entre elas, o vermelho e enquadramentos em close ups. A trama é ambientada na Espanha Medieval reconstruída com o uso de cenários reaproveitados, mas que nesse filme não se parecem tão artificiais como em outras produções, é sobre um rapaz (Oliver Reed, em um de seus primeiros trabalhos no cinema) que se torna um lobisomen por ser filho indesejado, fruto de um estupro. Nota-se que por trás do aspecto fantástico há uma contundente crítica social embutida: defende-se a ideia de que aristocracia decadente por meio de suas ações terríveis e egoístas é capaz de gerar seres monstruosos.
Reed consegue expressar muito bem os sentimentos conflitantes de seu personagem tornando-o uma figura trágica. Destaque também para a trilha sonora e o excelente trabalho de maquiagem, que confere a criatura um visual assustador.
Embora seja um filme de ritmo um pouco lento é bem realizado e interessante, com elementos que combinam, terror, horror e pincelas de drama, com a inserção do interesse amoroso do protagonista. Pode ser considerado um dos melhores do estúdio nos aspectos técnicos e também sobre o tema da licantropia. Vale a pena ser visto por aqueles que gostam do subgênero filme de lobisomen.