Não tenho ideia do que seja o mumblecore, mas achei a coisa mais gostosa as interações dos personagens. Maravilhosa a conversa do Casado com sua Esposa, sobre o esmagamento das outras facetas. Gente-como-a-gente da melhor qualidade.
Meu erro é amar demais Tatuagem e ter achado que este poderia estar à altura. Infelizmente Paraíso Perdido sofre de um roteiro caótico e que acaba tratando de forma superficial os trezentos temas diferentes que quer abarcar. Ainda assim, vale pela ótima seleção musical e pela fotografia e figurino simplesmente maravilhosos.
Tô numa trajetória cinema & literatura japonesa e até o momento (numa ordem mais ou menos caótica): 1) li: 1.1) Botchan, 1.2) coletânea de Akutagawa e 1.3) 2/4 de Tanizaki (meio Diário de Um Velho Louco e meio Voragem) e 2) vi: 2.1) três Kurosawa (Rashomon, Cão Danado e Viver), 2.2) dois Mizoguchi (Elegia de Osaka e Oharu) e 2.3) dois Ozu (Meninos de Tóquio e Pai e Filha).
No contexto cinematográfico digo apenas Ozu >>>>>>>>> Kurosawa. O Mizoguchi ainda não sei localizar bem.
QUERIDES, pra todos que dizem pra começar por Kurosawa por ser "o mais ocidental dos cineastas japoneses", digo apenas: não faz o menor sentido, vai pro Ozu que é reizinho e, além de filmar lindamente, nos faz nos identificarmos quase dolorosamente com os personagens.
A tristeza maior veio depois do filme, por não ter sido tocada por ele como aparentemente todo mundo é. A cena no balanço é bonita, mas só cheguei nuns 70% da emoção necessária para chorar. Agora estou cogitando rever Ladrões de Bicicleta só pra me certificar de que não estou morta por dentro.
Você passa o filme inteiro com o coração na mão, mas ao mesmo tempo impressionada com as imagens lindíssimas de um Japão feudal e com o magnetismo da Oharu.
A sequência infinda de desgraças me impede de gostar mais do filme, ainda que se trate de uma representação até hoje extremamente válida da hipocrisia machista onipresente.
Depois de ver pela segunda vez fica confirmado meu imenso carinho por este filme.
Sinceramente não entendo por que ele não fez tanto sucesso quanto "Que horas ela volta?". Depois de ter despido as relações de classe na figura da mulher trabalhadora que é "parte da família", Muylaert se volta para a coerção exercida dentro da família sem aspas. A família de papai, mamãe e herdeiros. Tanto em um quanto em outro caso (com suas devidas diferenças), a ideia ou discurso de família encobrindo o papel essencialmente conservador e repressor desse arranjo. A família que exige a conformação a papeis bem definidos (de convivência, de gênero, de ambição profissional...).No entanto, ao mesmo tempo, também transparece a presença e a busca da conexão de amor (a cena final com todas as relações de irmandade de alguma forma presentes, que coisa mais linda).
O filme é absolutamente redondo no que se propõe a refletir; quaisquer pontas soltas sobre ações ou inações fazem parte do bocadinho de vida que a diretora conseguiu acolher no filme.
Inclusive, a empregada me pareceu uma clara alusão ao filme passado. Quando o Pierre vai ao apartamento, há uma movimentação de apresentação como se ela fosse "parte da família", mas o fato é que não estava presente na pizzaria e que logo após aparece isolada na cozinha. Ela, que provavelmente conhece todos ali há anos, não habita de fato a área nobre da casa, enquanto o filho recém-conhecido vai direto para os aposentos oficiais.
Além disso, o ritmo é ótimo, as situações e ambientações são perfeitas... gente, não consigo achar um defeito pra apontar neste filme. Maravilhoso sim!
Foi o filme que elegi para começar minha jornada pelo cinema japonês. Já que é o diretor nipônico mais famoso no Ocidente e que foi justamente com esse filme que se iniciou seu prestígio internacional, pareceu uma boa ideia.
Mas sei lá...
Há boas cenas - como as da médium, que são excelentes, as do inquérito de forma geral e as no Rashomon -, mas não fiquei particularmente impactada. Sabe quando o filme te atropela com enquadramento ou montagem? Pois é, não aconteceu. Imagino que deve ter algum mérito por ter filmado o sol e botado espelhos no matagal, mas nada que provoque assombro como Outubro, Joana D´Arc ou Deus e o Diabo...
Óbvio que há filmes excelentes sem um impacto visual tão desestabilizador para leigas como eu, mas é que mesmo o roteiro não achei tudo isso. Na verdade, uma outra razão para ver Rashomon, além das duas mencionadas anteriormente, é que eu estava lendo e ficando fascinada com a sutileza do Akutagawa em tratar aquele instante em que a pessoa cai para lá ou para cá do muro da vida criminosa. Aquele momento de transição que muda tudo. E olha...! Ficou muito bom o mashup de contos - além dos sempre citados Rashomon e No Matagal, vi algo (cof cof bebê) de Os Salteadores - feito no roteiro do Kurosawa. Mas algo da sutileza se perdeu, empobrecendo um pouco o ponto principal da história. Isso é particularmente triste pensando que (pelo menos é o que dizem por aí) a insegurança provocada por várias versões conflitantes ficou conhecida como efeito Rashomon por causa do filme.
No final das contas, fui atrapalhada pelas minhas expectativas. Inclusive, espero em breve vir apagar ou modificar esse comentário a partir das reavaliações que fazemos pela forma como a obra vai assentando na gente.
Por fim, mas não menos importante: sim, a misoginia da história dificulta a apreciação. Obrigada Akutagawa e Kurosawa por me relembrarem que tradicionalmente as mulheres não são indivíduos com valor intrínseco.
Fui nele achando que encontraria um filme no mínimo envolvente (não achava que seria realmente bom), mas nem isso. Valeu só por ter conhecido mais um filme de diretor canônico e pela parte no campo com as flores e as crianças.
No fim das contas a ousadia se ancora principalmente na personagem masoquista (ou algo assim), que tem um final lamentável. Por mais que tenha sido muito divertido ver a liberdade dessas mulheres, esse final é sim um tanto indigesto.
Enfim, não é um filme que eu amei, mas toda a liberdade sexual da ambientação e as propagandas de calcinha fizeram valer a pena.
Bela fotografia e bela ambientação na Índia. Só não gostei mais porque se arrastou bastante a partir do primeiro terço e porque todo o arco da irmã ficou mal trabalhado.
Anjos Caídos traz aquela dose extra de surto e de deboche que faltou em Amores Expressos. Assistir os dois na sequência cronológica me fez amar Anjos e gostar bem mais de Amores do que logo depois de assisti-lo. Depois da loucura de basicamente todos os personagens aqui, eu olho com mais encanto a doce psicopatia da Faye em Amores. Além disso, muito gostosas as referências que este filme faz ao anterior.
Pra mim, um filme inesquecível. O desespero e o desalento do porteiro que se vê despido de seu cargo, de seu uniforme e, junto com isso, de sua dignidade encontram sua perfeita forma na linguagem expressionista do filme. As técnicas de lentes, câmeras e iluminação (ex: a leitura do bilhete, a embriaguez e a ressaca, a relação com a fachada do hotel, a fofoca) se conjugam com a atuação impressionante de Emil Jannings (ex: a mudança de postura, a cena em que a mulher o vê no novo posto) para um resultado avassalador. A última cena antes do epílogo se destaca pela grande beleza e expressividade.
Quanto ao epílogo, a primeira vez que vi o filme fiquei revoltada com esse anticlímax, que se esforça para apagar o impacto dramático construído até ali. Na última vez, me permiti ser confortada por ele. De qualquer forma, não deixa ser interessante a metalinguagem no intertítulo que o introduz, tratando o filme como aquilo que é, uma obra ficcional.
Esse filme me deu muita vergonha alheia, de verdade. O roteiro é totalmente recheado de clichés e os diálogos são dolorosos de tão artificiais. Infelizmente, uma história fantástica como a do sequestro de um embaixador dos EUA foi desperdiçada com um filme abaixo do medíocre. Quase desnecessário comentar que, além de distorcer o relato para um formato comercial e raso, o filme também não reflete nada das críticas e questionamentos trazidos no livro.
Doeu essa decepção. Cadê Eisenstein? Vi um filme épico totalmente genérico. Inclusive, Griffith faria melhor. Absolutamente nada dos cortes e enquadramentos geniais e surpreendentes que arrebatam em Outubro, por exemplo. Não sei como foi a “divisão de tarefas” entre os dois diretores, mas de forma alguma esse filme sequer lembra o cinema revolucionário da década de 1920. O enfrentamento do inimigo é tratado em bases amplamente pessoais, com direito a uma mocinha que promete casar com o mais valente e um quase semi-deus liderando os combatentes russos. Diferente dos filmes anteriores, nos quais a propaganda (comunista) era acompanhada de Cinema, aqui fica a ode ao modelo de comandante-herói que Stálin pretende personificar na II Guerra em um filme apenas competente.
No início achei que seria um filme experimental meio maçante, mas acabei apaixonadinha: que filme simpático! É muito legal perceber a empolgação do homem com as potencialidades da câmera, como ele tenta explorar tudo o que dá pra fazer com ela, os diferentes ângulos, fusões, efeitos e a brincadeira com a própria estrutura física da máquina. Além disso, ele lança um olhar verdadeiro, mas muito amoroso sobre as pessoas, captando-as nas atividade e momentos mais variados.
Composições riquíssimas, cenas e montagem de aplaudir de pé, tudo acompanhado da trilha sonora emocionante de Meisel! Não consigo pensar nesse filme sem que me venham à cabeça várias cenas inesquecíveis: a destruição da estátua do czar (e depois sua “rebobinagem”), a ponte se elevando, Kerensky subindo as escadas e todos os símbolos de sua vontade de subir ainda mais, a cena da dança tradicional russa, a das bandeiras recebendo Lênin... Com certeza dos três filmes do Eisenstein que eu vi até agora (os dois anteriores são A Greve e Encouraçado Potemkin), este é o mais impressionante. A dificuldade de acompanhar os eventos na segunda metade do filme de forma alguma conseguiu prejudicar o enorme prazer que tive em vê-lo. Lindo!
Comecei a ver o filme preparada para ângulos e cortes surpreendentes como os que tinha encontrado em “A Greve”, mas – talvez porque não dá para se espantar com o esperado - dessa vez a surpresa foi a trilha sonora (de Edmund Meisel), magnífica! A icônica cena da escadaria é realmente muito forte, assim como o plano final. No entanto, tendo a achar “A greve” mais representativa. Lá, o “efeito Kuleshov” na vaca e também (um pouco deturpado) nos animais nos rostos dos espiões, as cenas iniciais na fábrica de uma riqueza estética imensa, a contraposição proletariado/capitalistas, entre outros elementos, ilustram muito bem a proposta cinematográfica soviética.
A intenção de conscientizar o proletariado é marcante, e para isso Eisenstein traz empresários gordos e desprezíveis versus uma massa de operários, dentro da qual não há protagonistas de fato. Dividido em seis partes, o filme não chamaria atenção pelas partes 3 a 5. Contudo, as duas primeiras partes são impressionantes em termos estéticos, com enquadramentos fortes, surpreendentes e que dimensionam a pequenez de indivíduos diante do maquinário colossal. Um recurso que realmente me espantou foi a filmagem de reflexos, na poça d´àgua, no espelho, em superfícies reluzentes...
As duas partes finais se destacam pela captura da violência, criando cenas marcantes como as de jatos de água nas pessoas e dos cavalos nas vilas e cortiços.
De uma fidelidade impressionante. Não houve absolutamente nada, nem sequer uma frase no filme que não tenha sido retirado do livro. À escrita bruta e precisa de Graciliano se juntou uma fotografia linda e muito expressiva. Magnífica a cena final. Achei bastante bizarra a "trilha sonora" de Caetano, mas acho que combinou bem, no fim das contas.Só não dei cinco estrelas porque, em alguns momentos, a atuação dos atores, que de modo geral foi muito boa, especialmente a o Othon Bastos, não casou bem com o drama e a angústia mais violentos que eu tinha imaginado na cena da capela, por exemplo.
Assisti exatamente no dia em que terminei de ler Moby Dick, que me marcou mais como um tratado sobre cachalotes e pesca baleeira do que como história de obsessão, então estava com expectativas um pouco erradas sobre o filme. Esperava ver um pouco mais sobre as baleias, seu comportamento, etc e, nesse caso, diferente de Moby Dick, no qual a baleia é perseguida, a baleia persegue (ao menos por algum tempo). Achei meio antinatural, como se os roteiristas não conseguissem fugir da velha história de um animal monstruoso e assassino. Além disso, a onipresença e multitalentos de Chase são extremanente exagerados, dá a impressão que só ele sabe o que está fazendo, como se todo o resto do tripulação fosse marinheiros de primeira viagem.
Por outro lado, a fotografia é muito bonita, especialmente os reflexos na água.
A animação mostra uma pessoa absolutamente enclausurada na própria vida, desesperado para achar uma saída. Tentando fugir da vida familiar absolutamente fria e insatisfatória, procura - inconscientemente talvez- mulheres muito inseguras, nas quais jura ter achado aquela que finalmente o salvará. Mas logo o desencanto e o massacre da banalidade surgem com força e ele se mantem preso ao casamento, abandonando essas mulheres.Maravilhosa a ideia de vozes masculinas para todas menos Anomalisa...por um tempo. Na verdade, próprio apelido Anomalisa sintetiza muito bem o filme: por algumas horas Lisa é vista como extraordinária, uma anomalia na esterilidade da vida de Michael...até que não é mais. [spoiler]
"Não é difícil morrer bem, difícil é viver bem", diz Dom Pietro pouco antes de ser fuzilado pelos soldados alemães ou fascistas e sendo apoiado pelo assobio musical de uma dúzia de meninos, que depois voltam, aos tropeços para Roma, a cidade aberta, como a nova geração de resistência. Maravilhoso
O Dia Da Transa
2.8 73Não tenho ideia do que seja o mumblecore, mas achei a coisa mais gostosa as interações dos personagens. Maravilhosa a conversa do Casado com sua Esposa, sobre o esmagamento das outras facetas. Gente-como-a-gente da melhor qualidade.
Felizes Juntos
4.2 261 Assista AgoraQue beleza absurda as cenas das cataratas
e quanta solidão cabe na paixão
Paraíso Perdido
3.8 266Meu erro é amar demais Tatuagem e ter achado que este poderia estar à altura. Infelizmente Paraíso Perdido sofre de um roteiro caótico e que acaba tratando de forma superficial os trezentos temas diferentes que quer abarcar. Ainda assim, vale pela ótima seleção musical e pela fotografia e figurino simplesmente maravilhosos.
Pai e Filha
4.3 54 Assista AgoraTô numa trajetória cinema & literatura japonesa e até o momento (numa ordem mais ou menos caótica): 1) li: 1.1) Botchan, 1.2) coletânea de Akutagawa e 1.3) 2/4 de Tanizaki (meio Diário de Um Velho Louco e meio Voragem) e 2) vi: 2.1) três Kurosawa (Rashomon, Cão Danado e Viver), 2.2) dois Mizoguchi (Elegia de Osaka e Oharu) e 2.3) dois Ozu (Meninos de Tóquio e Pai e Filha).
No contexto cinematográfico digo apenas Ozu >>>>>>>>> Kurosawa. O Mizoguchi ainda não sei localizar bem.
QUERIDES, pra todos que dizem pra começar por Kurosawa por ser "o mais ocidental dos cineastas japoneses", digo apenas: não faz o menor sentido, vai pro Ozu que é reizinho e, além de filmar lindamente, nos faz nos identificarmos quase dolorosamente com os personagens.
Viver
4.4 165 Assista AgoraA tristeza maior veio depois do filme, por não ter sido tocada por ele como aparentemente todo mundo é. A cena no balanço é bonita, mas só cheguei nuns 70% da emoção necessária para chorar. Agora estou cogitando rever Ladrões de Bicicleta só pra me certificar de que não estou morta por dentro.
Oharu - A Vida de uma Cortesã
4.4 24 Assista AgoraVocê passa o filme inteiro com o coração na mão, mas ao mesmo tempo impressionada com as imagens lindíssimas de um Japão feudal e com o magnetismo da Oharu.
A sequência infinda de desgraças me impede de gostar mais do filme, ainda que se trate de uma representação até hoje extremamente válida da hipocrisia machista onipresente.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraDepois de ver pela segunda vez fica confirmado meu imenso carinho por este filme.
Sinceramente não entendo por que ele não fez tanto sucesso quanto "Que horas ela volta?". Depois de ter despido as relações de classe na figura da mulher trabalhadora que é "parte da família", Muylaert se volta para a coerção exercida dentro da família sem aspas. A família de papai, mamãe e herdeiros. Tanto em um quanto em outro caso (com suas devidas diferenças), a ideia ou discurso de família encobrindo o papel essencialmente conservador e repressor desse arranjo. A família que exige a conformação a papeis bem definidos (de convivência, de gênero, de ambição profissional...).No entanto, ao mesmo tempo, também transparece a presença e a busca da conexão de amor (a cena final com todas as relações de irmandade de alguma forma presentes, que coisa mais linda).
O filme é absolutamente redondo no que se propõe a refletir; quaisquer pontas soltas sobre ações ou inações fazem parte do bocadinho de vida que a diretora conseguiu acolher no filme.
Inclusive, a empregada me pareceu uma clara alusão ao filme passado. Quando o Pierre vai ao apartamento, há uma movimentação de apresentação como se ela fosse "parte da família", mas o fato é que não estava presente na pizzaria e que logo após aparece isolada na cozinha. Ela, que provavelmente conhece todos ali há anos, não habita de fato a área nobre da casa, enquanto o filho recém-conhecido vai direto para os aposentos oficiais.
Além disso, o ritmo é ótimo, as situações e ambientações são perfeitas... gente, não consigo achar um defeito pra apontar neste filme. Maravilhoso sim!
Rashomon
4.4 301 Assista AgoraFoi o filme que elegi para começar minha jornada pelo cinema japonês. Já que é o diretor nipônico mais famoso no Ocidente e que foi justamente com esse filme que se iniciou seu prestígio internacional, pareceu uma boa ideia.
Mas sei lá...
Há boas cenas - como as da médium, que são excelentes, as do inquérito de forma geral e as no Rashomon -, mas não fiquei particularmente impactada. Sabe quando o filme te atropela com enquadramento ou montagem? Pois é, não aconteceu. Imagino que deve ter algum mérito por ter filmado o sol e botado espelhos no matagal, mas nada que provoque assombro como Outubro, Joana D´Arc ou Deus e o Diabo...
Óbvio que há filmes excelentes sem um impacto visual tão desestabilizador para leigas como eu, mas é que mesmo o roteiro não achei tudo isso. Na verdade, uma outra razão para ver Rashomon, além das duas mencionadas anteriormente, é que eu estava lendo e ficando fascinada com a sutileza do Akutagawa em tratar aquele instante em que a pessoa cai para lá ou para cá do muro da vida criminosa. Aquele momento de transição que muda tudo. E olha...! Ficou muito bom o mashup de contos - além dos sempre citados Rashomon e No Matagal, vi algo (cof cof bebê) de Os Salteadores - feito no roteiro do Kurosawa. Mas algo da sutileza se perdeu, empobrecendo um pouco o ponto principal da história. Isso é particularmente triste pensando que (pelo menos é o que dizem por aí) a insegurança provocada por várias versões conflitantes ficou conhecida como efeito Rashomon por causa do filme.
No final das contas, fui atrapalhada pelas minhas expectativas. Inclusive, espero em breve vir apagar ou modificar esse comentário a partir das reavaliações que fazemos pela forma como a obra vai assentando na gente.
Por fim, mas não menos importante: sim, a misoginia da história dificulta a apreciação. Obrigada Akutagawa e Kurosawa por me relembrarem que tradicionalmente as mulheres não são indivíduos com valor intrínseco.
Cão Danado
4.0 43 Assista AgoraNada demais. Inclusive, bem chato.
Fui nele achando que encontraria um filme no mínimo envolvente (não achava que seria realmente bom), mas nem isso. Valeu só por ter conhecido mais um filme de diretor canônico e pela parte no campo com as flores e as crianças.
Pepi, Luci, Bom
3.5 118 Assista AgoraNo fim das contas a ousadia se ancora principalmente na personagem masoquista (ou algo assim), que tem um final lamentável. Por mais que tenha sido muito divertido ver a liberdade dessas mulheres, esse final é sim um tanto indigesto.
Enfim, não é um filme que eu amei, mas toda a liberdade sexual da ambientação e as propagandas de calcinha fizeram valer a pena.
Azul Cobalto
3.3 38Bela fotografia e bela ambientação na Índia. Só não gostei mais porque se arrastou bastante a partir do primeiro terço e porque todo o arco da irmã ficou mal trabalhado.
Anjos Caídos
4.0 259 Assista AgoraAnjos Caídos traz aquela dose extra de surto e de deboche que faltou em Amores Expressos. Assistir os dois na sequência cronológica me fez amar Anjos e gostar bem mais de Amores do que logo depois de assisti-lo. Depois da loucura de basicamente todos os personagens aqui, eu olho com mais encanto a doce psicopatia da Faye em Amores. Além disso, muito gostosas as referências que este filme faz ao anterior.
A Última Gargalhada
4.2 102 Assista AgoraPra mim, um filme inesquecível. O desespero e o desalento do porteiro que se vê despido de seu cargo, de seu uniforme e, junto com isso, de sua dignidade encontram sua perfeita forma na linguagem expressionista do filme. As técnicas de lentes, câmeras e iluminação (ex: a leitura do bilhete, a embriaguez e a ressaca, a relação com a fachada do hotel, a fofoca) se conjugam com a atuação impressionante de Emil Jannings (ex: a mudança de postura, a cena em que a mulher o vê no novo posto) para um resultado avassalador. A última cena antes do epílogo se destaca pela grande beleza e expressividade.
Quanto ao epílogo, a primeira vez que vi o filme fiquei revoltada com esse anticlímax, que se esforça para apagar o impacto dramático construído até ali. Na última vez, me permiti ser confortada por ele. De qualquer forma, não deixa ser interessante a metalinguagem no intertítulo que o introduz, tratando o filme como aquilo que é, uma obra ficcional.
O Que é Isso, Companheiro?
3.8 339 Assista AgoraEsse filme me deu muita vergonha alheia, de verdade. O roteiro é totalmente recheado de clichés e os diálogos são dolorosos de tão artificiais. Infelizmente, uma história fantástica como a do sequestro de um embaixador dos EUA foi desperdiçada com um filme abaixo do medíocre. Quase desnecessário comentar que, além de distorcer o relato para um formato comercial e raso, o filme também não reflete nada das críticas e questionamentos trazidos no livro.
Alexander Nevsky
4.0 28 Assista AgoraDoeu essa decepção. Cadê Eisenstein? Vi um filme épico totalmente genérico. Inclusive, Griffith faria melhor. Absolutamente nada dos cortes e enquadramentos geniais e surpreendentes que arrebatam em Outubro, por exemplo. Não sei como foi a “divisão de tarefas” entre os dois diretores, mas de forma alguma esse filme sequer lembra o cinema revolucionário da década de 1920. O enfrentamento do inimigo é tratado em bases amplamente pessoais, com direito a uma mocinha que promete casar com o mais valente e um quase semi-deus liderando os combatentes russos. Diferente dos filmes anteriores, nos quais a propaganda (comunista) era acompanhada de Cinema, aqui fica a ode ao modelo de comandante-herói que Stálin pretende personificar na II Guerra em um filme apenas competente.
Um Homem com uma Câmera
4.4 196 Assista AgoraNo início achei que seria um filme experimental meio maçante, mas acabei apaixonadinha: que filme simpático! É muito legal perceber a empolgação do homem com as potencialidades da câmera, como ele tenta explorar tudo o que dá pra fazer com ela, os diferentes ângulos, fusões, efeitos e a brincadeira com a própria estrutura física da máquina. Além disso, ele lança um olhar verdadeiro, mas muito amoroso sobre as pessoas, captando-as nas atividade e momentos mais variados.
Outubro
4.0 51 Assista AgoraComposições riquíssimas, cenas e montagem de aplaudir de pé, tudo acompanhado da trilha sonora emocionante de Meisel! Não consigo pensar nesse filme sem que me venham à cabeça várias cenas inesquecíveis: a destruição da estátua do czar (e depois sua “rebobinagem”), a ponte se elevando, Kerensky subindo as escadas e todos os símbolos de sua vontade de subir ainda mais, a cena da dança tradicional russa, a das bandeiras recebendo Lênin... Com certeza dos três filmes do Eisenstein que eu vi até agora (os dois anteriores são A Greve e Encouraçado Potemkin), este é o mais impressionante. A dificuldade de acompanhar os eventos na segunda metade do filme de forma alguma conseguiu prejudicar o enorme prazer que tive em vê-lo. Lindo!
O Encouraçado Potemkin
4.2 342 Assista AgoraComecei a ver o filme preparada para ângulos e cortes surpreendentes como os que tinha encontrado em “A Greve”, mas – talvez porque não dá para se espantar com o esperado - dessa vez a surpresa foi a trilha sonora (de Edmund Meisel), magnífica! A icônica cena da escadaria é realmente muito forte, assim como o plano final. No entanto, tendo a achar “A greve” mais representativa. Lá, o “efeito Kuleshov” na vaca e também (um pouco deturpado) nos animais nos rostos dos espiões, as cenas iniciais na fábrica de uma riqueza estética imensa, a contraposição proletariado/capitalistas, entre outros elementos, ilustram muito bem a proposta cinematográfica soviética.
A Greve
4.1 62 Assista AgoraA intenção de conscientizar o proletariado é marcante, e para isso Eisenstein traz empresários gordos e desprezíveis versus uma massa de operários, dentro da qual não há protagonistas de fato. Dividido em seis partes, o filme não chamaria atenção pelas partes 3 a 5. Contudo, as duas primeiras partes são impressionantes em termos estéticos, com enquadramentos fortes, surpreendentes e que dimensionam a pequenez de indivíduos diante do maquinário colossal. Um recurso que realmente me espantou foi a filmagem de reflexos, na poça d´àgua, no espelho, em superfícies reluzentes...
As duas partes finais se destacam pela captura da violência, criando cenas marcantes como as de jatos de água nas pessoas e dos cavalos nas vilas e cortiços.
São Bernardo
4.1 66De uma fidelidade impressionante. Não houve absolutamente nada, nem sequer uma frase no filme que não tenha sido retirado do livro. À escrita bruta e precisa de Graciliano se juntou uma fotografia linda e muito expressiva. Magnífica a cena final. Achei bastante bizarra a "trilha sonora" de Caetano, mas acho que combinou bem, no fim das contas.Só não dei cinco estrelas porque, em alguns momentos, a atuação dos atores, que de modo geral foi muito boa, especialmente a o Othon Bastos, não casou bem com o drama e a angústia mais violentos que eu tinha imaginado na cena da capela, por exemplo.
Barbarella
3.2 276 Assista AgoraQue pérola perdida!!! Zoado e maravilhoso esse pornô de ficção científica sem o pornô kkkkkkk deliciosamente tosco
No Coração do Mar
3.6 776 Assista AgoraAssisti exatamente no dia em que terminei de ler Moby Dick, que me marcou mais como um tratado sobre cachalotes e pesca baleeira do que como história de obsessão, então estava com expectativas um pouco erradas sobre o filme. Esperava ver um pouco mais sobre as baleias, seu comportamento, etc e, nesse caso, diferente de Moby Dick, no qual a baleia é perseguida, a baleia persegue (ao menos por algum tempo). Achei meio antinatural, como se os roteiristas não conseguissem fugir da velha história de um animal monstruoso e assassino. Além disso, a onipresença e multitalentos de Chase são extremanente exagerados, dá a impressão que só ele sabe o que está fazendo, como se todo o resto do tripulação fosse marinheiros de primeira viagem.
Por outro lado, a fotografia é muito bonita, especialmente os reflexos na água.
Anomalisa
3.8 497 Assista Agora[/spoiler]
A animação mostra uma pessoa absolutamente enclausurada na própria vida, desesperado para achar uma saída. Tentando fugir da vida familiar absolutamente fria e insatisfatória, procura - inconscientemente talvez- mulheres muito inseguras, nas quais jura ter achado aquela que finalmente o salvará. Mas logo o desencanto e o massacre da banalidade surgem com força e ele se mantem preso ao casamento, abandonando essas mulheres.Maravilhosa a ideia de vozes masculinas para todas menos Anomalisa...por um tempo. Na verdade, próprio apelido Anomalisa sintetiza muito bem o filme: por algumas horas Lisa é vista como extraordinária, uma anomalia na esterilidade da vida de Michael...até que não é mais.
[spoiler]
Roma, Cidade Aberta
4.3 119 Assista Agora"Não é difícil morrer bem, difícil é viver bem", diz Dom Pietro pouco antes de ser fuzilado pelos soldados alemães ou fascistas e sendo apoiado pelo assobio musical de uma dúzia de meninos, que depois voltam, aos tropeços para Roma, a cidade aberta, como a nova geração de resistência. Maravilhoso