é claro que o Hitchcock sabe criar tensão muito bem, mas ele conseguiu me surpreender aqui. já pra segunda metade do filme tem aquela sequência da bomba que é uma aula de suspense e que vira a história do filme do avesso. depois disso, esse thriller com o casal menos apaixonado do mundo vira um drama bem triste sobre vingança privada. e é nessa hora que a visão de uma mulher servindo o jantar pro marido se transforma em tensão pura. Sabotage pode parecer um filme menor do Hitchcock, mas pra mim é tão bom e essencial quanto os maiores clássicos dele.
não é uma grande diversão e é difícil evitar que o pensamento divague às vezes, mas não deixa de ser um retrato bom e imersivo de uma grande cidade. uma das coisas mais interessantes é que essa cidade estava próxima do fascismo, da guerra e da destruição, mas ainda vivia um ápice de produtividade e movimentação que é bem mostrado pela edição às vezes frenética e muito bem feita do Walter Ruttmann. de certa forma, é uma prévia do trabalho ainda mais ousado que o Dziga Vertov faria depois e uma forma de tornar imortal esse momento histórico de uma cidade que nunca mais seria a mesma.
o Nicholas Stoller, que dirigiu também o primeiro filme, ficou ainda mais doido e ousado aqui, principalmente na cena do roubo de maconha. o Zac Efron é incrível fazendo com que o público se identifique com o sofrimento de um personagem meio ridículo. a Rose Byrne é uma das melhores comediantes do mundo. com tanta gente boa, talvez não seja justo considerar o Seth Rogen o autor do filme, mas pra mim a personalidade dele é a que mais aparece aqui.
essa continuação é quase uma versão feminista do primeiro Vizinhos, e é nisso que se percebe o que o Seth Rogen traz pro filme. ele faz piada com todos os lados e talvez passe dos limites às vezes, mas a intenção é sempre boa. ele conta uma história que, no final das contas, é bem progressista, e estende a compaixão dele pra todos os personagens. as vizinhas da irmandade podem não ter se integrado tão bem ao elenco principal, mas os problemas e desejos delas são tratados com empatia e levados a sério. e isso serve pra todas as pessoas de uma narrativa que aos poucos se torna bem tocante, porque Seth Rogen e companhia enxergam todo mundo como pessoas de verdade, com medos, neuroses e bizarrices bem reais.
o mais impressionante é como as comédias nesse estilo popularizado pelo Judd Apatow têm sintonia com o mundo atual e refletem tão bem uma forma de pensar e um estilo de vida contemporâneos. esses caras fazem filmes que servem como um retrato cada vez mais inclusivo do seu próprio público-alvo. acaba por ser uma visão bem otimista e generosa da juventude dos Estados Unidos. Vizinhos 2 é uma história sobre personagens que se unem e se tornam melhores por isso, mas essa história acaba por unir também o público, porque eu não sei como alguém poderia não gostar de um filme tão engraçado.
a Greta Garbo parece que veio de outro planeta. ela tem uma estranheza que faz com que até os momentos mais exageradamente sentimentais dessa história funcionem. e a atuação dela aqui é sensacional: ela tem um ar enigmático, mas mostra perfeitamente e sutilmente todas as indecisões e dilemas da personagem. ela é alma e coração desse grande melodrama do George Cukor. tudo isso culmina naquele final bastante efetivo e devastador de tão triste.
eu não sei se eu entendi a conclusão dessa investigação, nem se era pra eu ter entendido, mas o caminho todo foi bem instigante. além disso, o Raúl Ruiz usa a forma do cinema de um jeito que eu nunca vi antes, recriando esses quadros como forma de retratar um mistério a ser desvendado. tudo isso se mistura com um pouco de intrigas mirabolantes, cerimônias secretas e teorias da conspiração. e a câmera passeia por aí, entrando dentro dessas pinturas vivas, o que cria um efeito inesperado e muito bonito.
não entendi nada, mas foi ótimo. tem algo de desespero nesses acontecimentos surrealistas. imagino que seja um comentário bem subjetivo sobre a angústia causada pela condição feminina. isso se torna perceptível por algumas imagens bem marcantes, tipo aquela imagem clássica da Maya Deren olhando pela janela, talvez querendo fugir da vida doméstica ou da sua posição social.
é uma chatice interminável, mas tem seus méritos. o Homem de Ferro sério e sensato é bem menos irritante que o normal, é um alívio quando o Homem Aranha aparece e o Paul Rudd é muito carismático. talvez a melhor cena do filme seja aquela luta no aeroporto, que consegue ser verdadeiramente inventiva, criando conflitos entre os poderes de cada personagem. foi a única vez que eu vi a Marvel usando a ação de forma criativa e isso mostra o limite desses filmes todos iguais, porque eu não consigo imaginar como alguma cena de ação com heróis pode ser legal de verdade depois dessa.
de resto, não tem nada de interessante acontecendo. parece feito em laboratório pra agradar o maior número de pessoas possível, mas acaba sendo bem desagradável. é tudo sem graça, não tem nenhuma imagem memorável. eu nem sei isso é um filme de verdade, ou se é só um monte de barulho e tédio.
essa continuação tem as mesmas qualidades do primeiro filme: o foco no drama humano dos personagens, uma história concisa, bem contada, com poucos vilões. mesmo assim, o tom é mais sério e as coisas se tornam maiores e melhores: tem algumas sequências de ação muito boas, tipo o carro voando pela janela e a cena sensacional do trem.
uma coisa que diferencia esse filme do antecessor e da maioria dos filmes de herói é que o vilão é tão bom. o Alfred Molina interpreta um cara bem legal que se torna um monstro e o momento em que isso acontece é muito inventivo e surpreendente. logo depois, tem uma cena no hospital em que o Sam Raimi fica doido e transforma essa historinha de heróis adolescentes em um filme de terror insano. toda essa sequência é uma das melhores coisas que eu já vi em filmes desse tipo.
é uma coisa bem americana essa ideia do indivíduo altruísta que muda a realidade sozinho e com muita força de vontade. o Longfellow Deeds chega a dizer que só nos Estados Unidos um homem que vem da pobreza pode subir na vida e chegar a fazer coisas importantes. o filme parece aderir totalmente ao ponto de vista do personagem principal, então é meio ingênuo por isso. mas a sinceridade sentimental do Frank Capra cria momentos muito bonitos entre os personagens e faz com que essa história se torne uma coisa linda, uma ode ao homem comum e honesto, que não se deixa influenciar por uma sociedade rica, corrupta e interesseira.
claro que eu não entendi completamente a história, mas talvez isso não importe, porque esse filme é beleza pura. e a beleza não vem só da fotografia, que é obviamente das mais bonitas que existem, mas também do ritmo, da encenação, da coreografia das cenas de ação, da trilha sonora inesperada e da especificidade cultural da narrativa.
muito provavelmente eu vou ter que assistir de novo pra conseguir entender tudo que aconteceu na trama, o que não incomoda tanto porque é um filme que dá vontade de rever muitas vezes. é bem prazeroso pro público ficar imerso nesse mundo tão perfeitamente recriado, mas, pros personagens, viver nesse meio e nessa época é muito sofrimento. o conflito vem da tentativa de ruptura com os papéis sociais rígidos definidos pela sociedade, pela família, pelos mestres.
o que o Hou Hsiao-Hsien e a assassina fazem aqui é sobrenatural, misterioso e heroico.
é um filme envolvente e às vezes bem triste, mas achei meio boboca também. o conceito e as reviravoltas da história são absurdos e inacreditáveis, mas levados a sério como se fossem a coisa mais inteligente do mundo. em alguns momentos funciona, mas muitas vezes esbarra no ridículo. a Penélope Cruz e a personagem dela são bem cativantes, é uma pena que ela é coadjuvante e o protagonista é um cara insuportável com aquela maquiagem muito ruim.
Josey Wales é fora da lei porque a lei é forjada em sangue. esse é o tipo de faroeste que esconde por trás do mero entretenimento uma crítica profunda do passado de um país. Sul e Norte, brancos e índios, homens e mulheres se juntam pra resistir à violência e à injustiça que são base da história dos Estados Unidos. no meio dos tiros, surge uma mensagem de paz e união.
esse Homem Aranha é meio familiar e não parece fazer nada novo, mas se diferencia dos filmes de super-herói atuais por ser um filme bastante do seu tempo. talvez até tenha envelhecido mal. o tom da direção do Sam Raimi é surpreendentemente brincalhão, mais próximo dos filmes do Batman do Tim Burton e Joel Schumacher do que os filmes da Marvel atuais, talvez por não ter influência do Christopher Nolan.
uma diferença desse pra maior parte dos blockbusters recentes é que tem uma história relativamente contida, no início focando mais na trama de dois personagens (o Homem Aranha e o Willem Dafoe), que depois se juntam em uma trama só. o roteiro se baseia mais nos conflitos entre os personagens, no drama às vezes cotidiano deles, do que em grandes cenas de ação e explosão, e se torna bem mais envolvente por isso.
acaba sendo um filme bem legalzinho e mais econômico, menos enrolado do que os filmes do seu gênero. é criativo às vezes, mas parece bem determinado a contar a própria história, sem nada desnecessário, e funciona melhor por isso. uma pena que o Tobey Maguire seja tão péssimo e tenha sido instruído a interpretar o personagem que nem um burraldo, ele quase estraga tudo.
ideologicamente, é meio questionável. o filme é uma sátira bem ácida da burguesia, em que os ricos são fúteis e mimados, e a pessoa mais sã e moral da história é um homem que vive no lixão.
então por que existe uma reviravolta na trama que torna esse homem pobre em um homem na verdade muito rico, bem educado e desapegado até demais que decidiu largar tudo e ir morar na rua?
parece ser um filme sobre os "homens esquecidos", mas não tem nenhum personagem importante que seja pobre de verdade. o filme parece dizer que a classe alta não presta e que a classe baixa merece ter sua humanidade reconhecida, mas aí muda de ideia no meio do caminho.
mas além disso, é incrível. um roteiro muito engraçado, uma piada ótima atrás da outra, um elenco em sintonia perfeita - a Alice Brady rouba todas as cenas em que aparece, mas ninguém deixa de chamar a atenção. cada momento é cheio de energia, os diálogos e os acontecimentos vêm naquele ritmo frenético de screwball comedy. é sensacional a ridicularização daquela família rica, o clima de loucura, os personagens doidos, estúpidos, histéricos, um circo, um zoológico. a Irene é uma personagem muito boa, porque de início parece ser a mocinha sensata de bom coração, e com o tempo se revela tão maluca quanto os outros. ninguém está a salvo na família tradicional burguesa. por isso o filme acaba sendo também uma desconstrução das histórias de amor tradicionais. a sátira perde um pouco da acidez do meio pro final, mas não deixa de ser muito divertida.
a Sofia Coppola é uma cronista de angústias nunca expressadas e não compreendidas. esse primeiro filme dela funciona então exatamente como um mistério sobre as causas pra essa melancolia que é difícil explicar, mas também como uma crítica às pessoas que não conseguem entender. é sobre um desejo por algo que talvez não exista, um desespero que não aparenta ter motivo nenhum, e que parece que ninguém entende. ninguém entende o que é ser uma garota de 13 anos, ninguém entende depressão, ninguém entende como é difícil crescer no mundo, ninguém entende a importância da liberdade.
mas parece que a Sofia Coppola entende. é difícil falar sobre os próprios sentimentos, mas ela consegue ver e mostrar esses sentimentos nas personagens. esse filme é até menos enigmático do que os filmes posteriores dela, as emoções aqui são mais acessíveis e explícitas. talvez isso seja por causa da narração, que interpreta e confunde ao mesmo tempo. o narrador não é uma das virgens suicidas e não entra na mente delas, então ele tenta explicar e não consegue, porque talvez nada tenha explicação mesmo. aos poucos, essa história se torna um retrato de como a dor em alguém reverbera e causa marcas nas outras pessoas.
nos filmes do Fred Astaire e da Ginger Rogers, música e dança reconciliam as pessoas e resolvem qualquer problema. os números musicais parecem que importam mais do que a história, mas é porque as duas coisas são essenciais, uma complementando a outra. Swing Time é divertido demais, cheio de ritmo, a direção do George Stevens traz um monte de energia e musicalidade. além de ser muito engraçado (principalmente Helen Broderick e Victor Moore), usa muito bem o carisma do Fred Astaire e é romântico de um jeito convincente. as danças são mais incríveis do que nunca e bem consistentes com o resto do filme. só uma pena aquele uso de blackface, dos mais ofensivos que eu já vi.
a aparência desse filme é menos abstrata e experimental do que as coisas que o Michael Mann viria a fazer depois com a fotografia digital. isso não quer dizer que não seja um filme tecnicamente perfeito, não quer dizer que não tenha imagens lindas e surpreendentes, não quer dizer que não use a música e a fotografia noturna de forma magistral, não quer dizer que não brinque com gênero e não tire um monte de suspense de uma história em que nenhuma arma é disparada. não quer dizer que não seja um filme do Michael Mann.
uma coisa que diferencia The Insider é que esse é um filme que leva a própria história muito a sério, talvez porque se funda num roteiro tão bom, apesar do personagem ingrato da esposa reclamona. é uma narrativa sobre indivíduos fortes, íntegros e dispostos a fazer a coisa certa. é também a história do poder que tem a resiliência dessas pessoas contra o poder econômico das grandes corporações. é um filme bem crítico de um mundo controlado por esses grandes grupos endinheirados, mas acima de tudo é uma trama muito envolvente e bem contada.
por mais impressionante que seja, deve ter sido bem mais chocante na época em que foi lançado, quando essas imagens eram pouco vistas, essa história pouco contada e ainda nada superada. mas aquela narração tão bonita surpreende com um final muito inteligente e que complica tudo que veio antes, e a gente percebe que esse horror nunca foi superado, porque na verdade o horror não teve fim.
talvez esse filme tenha perdido um pouco o impacto pra mim por ser um daqueles filmes que sempre passam na escola, mas quem pode culpar os professores de quererem mostrar um filme tão populista e tão inteligente ao mesmo tempo? tem uma hora na história em que o Chaplin se apresenta como um revolucionário por acidente, mas a verdade é que nada é sem querer aqui. ele faz um monte de piada e usa essa linguagem do humor pra fazer um retrato desses tempos modernos muito mais crítico e questionador do que quase tudo o que se fazia no cinema da época. as condições de trabalho, o sistema de produção, a desigualdade social, a crise econômica, nada foge ao olhar inconformado do Chaplin, mas o tom do filme é alegre e funciona muito bem essa retomada do estilo do cinema mudo, já fora de moda nos tempos da Depressão vivida pelos personagens. o filme todo é uma desconstrução profunda e até raivosa do sistema capitalista, mas é também uma história de empatia e compaixão verdadeiras. a mensagem do Chaplin é esperançosa e esperança é o que sobra naquele final tão encantador, quando a comunhão de duas almas é suficiente pra que as pessoas mantenham o sorriso em tempos de crise.
a Andrea Arnold consegue usar esse estilo meio austero e realista pra fazer um filme que é ao mesmo tempo um thriller de vigilância envolvente e um estudo de personagens inteligente emocionalmente. não achei muito bonito esteticamente, mas é interessante como a fotografia às vezes fica meio abstrata mesmo contando uma história mundana (a cena de dança na festa), e esse bairro onde fica o Red Road se torna quase um cenário de ficção científica. assustador e comovente ao mesmo tempo.
tenso, tenso, infinitamente tenso. mas também terno e intimista. apesar de ser um thriller quase pós-apocalíptico, consegue se manter na maior parte do tempo confinado num único espaço e focado em personagens e interações humanas, e daí tira toda sua graça e suspense. pra que as emoções causadas pelas relações entre personagens se tornassem verdadeiras, esse filme precisava ter um elenco bom, então ainda bem que o elenco é ótimo. o John Goodman está monstruoso em vários sentidos da palavra e o John Gallagher Jr. é sensacional como o melhor amigo que se poderia ter em um quartinho debaixo da terra, mas o filme é da Mary Elizabeth Winstead, que traz um monte de complexidade pra uma mulher comum obrigada a virar uma Ripley. o Dan Trachtenberg é um talento muito surpreendente e promissor, sempre mantendo ritmo, controle e tensão dessa narrativa que podia se perder facilmente com tantas reviravoltas e tantas mudanças abruptas de tom. é um filme bem feito demais, que começa entregando informação de um jeito inteligente, evitando diálogos e exposição inútil. o final poderia ser ridículo, mas a essa altura eu estava envolvido demais pra me importar.
eu não devia ter visto isso. dá pra ver que esse filme apresenta um monte de ideias, mas eu não me interesso por nada disso aí. quero bem longe de mim.
essa casa é ruim demais, mas pelo menos foi rapidinha de construir. eu prefiro os filmes mais longos e posteriores do Buster Keaton, em que ele consegue fazer muito mais coisas inventivas por muito mais tempo em narrativas ainda mais doidas, mas aqui tem muita coisa legal também.
Sabotagem
3.7 73 Assista Agoraé claro que o Hitchcock sabe criar tensão muito bem, mas ele conseguiu me surpreender aqui. já pra segunda metade do filme tem aquela sequência da bomba que é uma aula de suspense e que vira a história do filme do avesso. depois disso, esse thriller com o casal menos apaixonado do mundo vira um drama bem triste sobre vingança privada. e é nessa hora que a visão de uma mulher servindo o jantar pro marido se transforma em tensão pura.
Sabotage pode parecer um filme menor do Hitchcock, mas pra mim é tão bom e essencial quanto os maiores clássicos dele.
Berlim, Sinfonia da Metrópole
4.1 13não é uma grande diversão e é difícil evitar que o pensamento divague às vezes, mas não deixa de ser um retrato bom e imersivo de uma grande cidade. uma das coisas mais interessantes é que essa cidade estava próxima do fascismo, da guerra e da destruição, mas ainda vivia um ápice de produtividade e movimentação que é bem mostrado pela edição às vezes frenética e muito bem feita do Walter Ruttmann. de certa forma, é uma prévia do trabalho ainda mais ousado que o Dziga Vertov faria depois e uma forma de tornar imortal esse momento histórico de uma cidade que nunca mais seria a mesma.
Vizinhos 2
3.0 379 Assista Agorao Nicholas Stoller, que dirigiu também o primeiro filme, ficou ainda mais doido e ousado aqui, principalmente na cena do roubo de maconha. o Zac Efron é incrível fazendo com que o público se identifique com o sofrimento de um personagem meio ridículo. a Rose Byrne é uma das melhores comediantes do mundo. com tanta gente boa, talvez não seja justo considerar o Seth Rogen o autor do filme, mas pra mim a personalidade dele é a que mais aparece aqui.
essa continuação é quase uma versão feminista do primeiro Vizinhos, e é nisso que se percebe o que o Seth Rogen traz pro filme. ele faz piada com todos os lados e talvez passe dos limites às vezes, mas a intenção é sempre boa. ele conta uma história que, no final das contas, é bem progressista, e estende a compaixão dele pra todos os personagens. as vizinhas da irmandade podem não ter se integrado tão bem ao elenco principal, mas os problemas e desejos delas são tratados com empatia e levados a sério. e isso serve pra todas as pessoas de uma narrativa que aos poucos se torna bem tocante, porque Seth Rogen e companhia enxergam todo mundo como pessoas de verdade, com medos, neuroses e bizarrices bem reais.
o mais impressionante é como as comédias nesse estilo popularizado pelo Judd Apatow têm sintonia com o mundo atual e refletem tão bem uma forma de pensar e um estilo de vida contemporâneos. esses caras fazem filmes que servem como um retrato cada vez mais inclusivo do seu próprio público-alvo. acaba por ser uma visão bem otimista e generosa da juventude dos Estados Unidos. Vizinhos 2 é uma história sobre personagens que se unem e se tornam melhores por isso, mas essa história acaba por unir também o público, porque eu não sei como alguém poderia não gostar de um filme tão engraçado.
A Dama das Camélias
4.0 61 Assista Agoraa Greta Garbo parece que veio de outro planeta. ela tem uma estranheza que faz com que até os momentos mais exageradamente sentimentais dessa história funcionem. e a atuação dela aqui é sensacional: ela tem um ar enigmático, mas mostra perfeitamente e sutilmente todas as indecisões e dilemas da personagem. ela é alma e coração desse grande melodrama do George Cukor. tudo isso culmina naquele final bastante efetivo e devastador de tão triste.
A Hipótese do Quadro Roubado
4.2 11eu não sei se eu entendi a conclusão dessa investigação, nem se era pra eu ter entendido, mas o caminho todo foi bem instigante. além disso, o Raúl Ruiz usa a forma do cinema de um jeito que eu nunca vi antes, recriando esses quadros como forma de retratar um mistério a ser desvendado. tudo isso se mistura com um pouco de intrigas mirabolantes, cerimônias secretas e teorias da conspiração. e a câmera passeia por aí, entrando dentro dessas pinturas vivas, o que cria um efeito inesperado e muito bonito.
Tramas do Entardecer
4.4 95não entendi nada, mas foi ótimo.
tem algo de desespero nesses acontecimentos surrealistas. imagino que seja um comentário bem subjetivo sobre a angústia causada pela condição feminina. isso se torna perceptível por algumas imagens bem marcantes, tipo aquela imagem clássica da Maya Deren olhando pela janela, talvez querendo fugir da vida doméstica ou da sua posição social.
O Balão Vermelho
4.4 239 Assista Agorajá tentei duas vezes, mas ainda não entendi o apelo desse filme. mesmo assim, vai ficando envolvente lá pro final e termina de um jeito muito bonito.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista Agoraé uma chatice interminável, mas tem seus méritos. o Homem de Ferro sério e sensato é bem menos irritante que o normal, é um alívio quando o Homem Aranha aparece e o Paul Rudd é muito carismático. talvez a melhor cena do filme seja aquela luta no aeroporto, que consegue ser verdadeiramente inventiva, criando conflitos entre os poderes de cada personagem. foi a única vez que eu vi a Marvel usando a ação de forma criativa e isso mostra o limite desses filmes todos iguais, porque eu não consigo imaginar como alguma cena de ação com heróis pode ser legal de verdade depois dessa.
de resto, não tem nada de interessante acontecendo. parece feito em laboratório pra agradar o maior número de pessoas possível, mas acaba sendo bem desagradável. é tudo sem graça, não tem nenhuma imagem memorável. eu nem sei isso é um filme de verdade, ou se é só um monte de barulho e tédio.
Homem-Aranha 2
3.6 1,1K Assista Agoraessa continuação tem as mesmas qualidades do primeiro filme: o foco no drama humano dos personagens, uma história concisa, bem contada, com poucos vilões. mesmo assim, o tom é mais sério e as coisas se tornam maiores e melhores: tem algumas sequências de ação muito boas, tipo o carro voando pela janela e a cena sensacional do trem.
uma coisa que diferencia esse filme do antecessor e da maioria dos filmes de herói é que o vilão é tão bom. o Alfred Molina interpreta um cara bem legal que se torna um monstro e o momento em que isso acontece é muito inventivo e surpreendente. logo depois, tem uma cena no hospital em que o Sam Raimi fica doido e transforma essa historinha de heróis adolescentes em um filme de terror insano. toda essa sequência é uma das melhores coisas que eu já vi em filmes desse tipo.
O Galante Mr. Deeds
4.0 68 Assista Agoraé uma coisa bem americana essa ideia do indivíduo altruísta que muda a realidade sozinho e com muita força de vontade. o Longfellow Deeds chega a dizer que só nos Estados Unidos um homem que vem da pobreza pode subir na vida e chegar a fazer coisas importantes. o filme parece aderir totalmente ao ponto de vista do personagem principal, então é meio ingênuo por isso. mas a sinceridade sentimental do Frank Capra cria momentos muito bonitos entre os personagens e faz com que essa história se torne uma coisa linda, uma ode ao homem comum e honesto, que não se deixa influenciar por uma sociedade rica, corrupta e interesseira.
A Assassina
3.3 94 Assista Agoraclaro que eu não entendi completamente a história, mas talvez isso não importe, porque esse filme é beleza pura. e a beleza não vem só da fotografia, que é obviamente das mais bonitas que existem, mas também do ritmo, da encenação, da coreografia das cenas de ação, da trilha sonora inesperada e da especificidade cultural da narrativa.
muito provavelmente eu vou ter que assistir de novo pra conseguir entender tudo que aconteceu na trama, o que não incomoda tanto porque é um filme que dá vontade de rever muitas vezes. é bem prazeroso pro público ficar imerso nesse mundo tão perfeitamente recriado, mas, pros personagens, viver nesse meio e nessa época é muito sofrimento. o conflito vem da tentativa de ruptura com os papéis sociais rígidos definidos pela sociedade, pela família, pelos mestres.
o que o Hou Hsiao-Hsien e a assassina fazem aqui é sobrenatural, misterioso e heroico.
Preso na Escuridão
4.2 497 Assista Agoraé um filme envolvente e às vezes bem triste, mas achei meio boboca também. o conceito e as reviravoltas da história são absurdos e inacreditáveis, mas levados a sério como se fossem a coisa mais inteligente do mundo. em alguns momentos funciona, mas muitas vezes esbarra no ridículo. a Penélope Cruz e a personagem dela são bem cativantes, é uma pena que ela é coadjuvante e o protagonista é um cara insuportável com aquela maquiagem muito ruim.
Josey Wales: O Fora da Lei
4.0 99 Assista AgoraJosey Wales é fora da lei porque a lei é forjada em sangue. esse é o tipo de faroeste que esconde por trás do mero entretenimento uma crítica profunda do passado de um país. Sul e Norte, brancos e índios, homens e mulheres se juntam pra resistir à violência e à injustiça que são base da história dos Estados Unidos. no meio dos tiros, surge uma mensagem de paz e união.
Homem-Aranha
3.7 1,3K Assista Agoraesse Homem Aranha é meio familiar e não parece fazer nada novo, mas se diferencia dos filmes de super-herói atuais por ser um filme bastante do seu tempo. talvez até tenha envelhecido mal. o tom da direção do Sam Raimi é surpreendentemente brincalhão, mais próximo dos filmes do Batman do Tim Burton e Joel Schumacher do que os filmes da Marvel atuais, talvez por não ter influência do Christopher Nolan.
uma diferença desse pra maior parte dos blockbusters recentes é que tem uma história relativamente contida, no início focando mais na trama de dois personagens (o Homem Aranha e o Willem Dafoe), que depois se juntam em uma trama só. o roteiro se baseia mais nos conflitos entre os personagens, no drama às vezes cotidiano deles, do que em grandes cenas de ação e explosão, e se torna bem mais envolvente por isso.
acaba sendo um filme bem legalzinho e mais econômico, menos enrolado do que os filmes do seu gênero. é criativo às vezes, mas parece bem determinado a contar a própria história, sem nada desnecessário, e funciona melhor por isso. uma pena que o Tobey Maguire seja tão péssimo e tenha sido instruído a interpretar o personagem que nem um burraldo, ele quase estraga tudo.
Irene, a Teimosa
3.8 81 Assista Agoraideologicamente, é meio questionável. o filme é uma sátira bem ácida da burguesia, em que os ricos são fúteis e mimados, e a pessoa mais sã e moral da história é um homem que vive no lixão.
então por que existe uma reviravolta na trama que torna esse homem pobre em um homem na verdade muito rico, bem educado e desapegado até demais que decidiu largar tudo e ir morar na rua?
mas além disso, é incrível. um roteiro muito engraçado, uma piada ótima atrás da outra, um elenco em sintonia perfeita - a Alice Brady rouba todas as cenas em que aparece, mas ninguém deixa de chamar a atenção. cada momento é cheio de energia, os diálogos e os acontecimentos vêm naquele ritmo frenético de screwball comedy. é sensacional a ridicularização daquela família rica, o clima de loucura, os personagens doidos, estúpidos, histéricos, um circo, um zoológico. a Irene é uma personagem muito boa, porque de início parece ser a mocinha sensata de bom coração, e com o tempo se revela tão maluca quanto os outros. ninguém está a salvo na família tradicional burguesa. por isso o filme acaba sendo também uma desconstrução das histórias de amor tradicionais. a sátira perde um pouco da acidez do meio pro final, mas não deixa de ser muito divertida.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista Agoraa Sofia Coppola é uma cronista de angústias nunca expressadas e não compreendidas. esse primeiro filme dela funciona então exatamente como um mistério sobre as causas pra essa melancolia que é difícil explicar, mas também como uma crítica às pessoas que não conseguem entender. é sobre um desejo por algo que talvez não exista, um desespero que não aparenta ter motivo nenhum, e que parece que ninguém entende. ninguém entende o que é ser uma garota de 13 anos, ninguém entende depressão, ninguém entende como é difícil crescer no mundo, ninguém entende a importância da liberdade.
mas parece que a Sofia Coppola entende. é difícil falar sobre os próprios sentimentos, mas ela consegue ver e mostrar esses sentimentos nas personagens. esse filme é até menos enigmático do que os filmes posteriores dela, as emoções aqui são mais acessíveis e explícitas. talvez isso seja por causa da narração, que interpreta e confunde ao mesmo tempo. o narrador não é uma das virgens suicidas e não entra na mente delas, então ele tenta explicar e não consegue, porque talvez nada tenha explicação mesmo. aos poucos, essa história se torna um retrato de como a dor em alguém reverbera e causa marcas nas outras pessoas.
Ritmo Louco
3.9 59 Assista Agoranos filmes do Fred Astaire e da Ginger Rogers, música e dança reconciliam as pessoas e resolvem qualquer problema. os números musicais parecem que importam mais do que a história, mas é porque as duas coisas são essenciais, uma complementando a outra. Swing Time é divertido demais, cheio de ritmo, a direção do George Stevens traz um monte de energia e musicalidade. além de ser muito engraçado (principalmente Helen Broderick e Victor Moore), usa muito bem o carisma do Fred Astaire e é romântico de um jeito convincente. as danças são mais incríveis do que nunca e bem consistentes com o resto do filme. só uma pena aquele uso de blackface, dos mais ofensivos que eu já vi.
O Informante
3.8 244a aparência desse filme é menos abstrata e experimental do que as coisas que o Michael Mann viria a fazer depois com a fotografia digital. isso não quer dizer que não seja um filme tecnicamente perfeito, não quer dizer que não tenha imagens lindas e surpreendentes, não quer dizer que não use a música e a fotografia noturna de forma magistral, não quer dizer que não brinque com gênero e não tire um monte de suspense de uma história em que nenhuma arma é disparada. não quer dizer que não seja um filme do Michael Mann.
uma coisa que diferencia The Insider é que esse é um filme que leva a própria história muito a sério, talvez porque se funda num roteiro tão bom, apesar do personagem ingrato da esposa reclamona. é uma narrativa sobre indivíduos fortes, íntegros e dispostos a fazer a coisa certa. é também a história do poder que tem a resiliência dessas pessoas contra o poder econômico das grandes corporações. é um filme bem crítico de um mundo controlado por esses grandes grupos endinheirados, mas acima de tudo é uma trama muito envolvente e bem contada.
Noite e Neblina
4.6 207 Assista Agorapor mais impressionante que seja, deve ter sido bem mais chocante na época em que foi lançado, quando essas imagens eram pouco vistas, essa história pouco contada e ainda nada superada. mas aquela narração tão bonita surpreende com um final muito inteligente e que complica tudo que veio antes, e a gente percebe que esse horror nunca foi superado, porque na verdade o horror não teve fim.
Tempos Modernos
4.4 1,1K Assista Agoratalvez esse filme tenha perdido um pouco o impacto pra mim por ser um daqueles filmes que sempre passam na escola, mas quem pode culpar os professores de quererem mostrar um filme tão populista e tão inteligente ao mesmo tempo?
tem uma hora na história em que o Chaplin se apresenta como um revolucionário por acidente, mas a verdade é que nada é sem querer aqui. ele faz um monte de piada e usa essa linguagem do humor pra fazer um retrato desses tempos modernos muito mais crítico e questionador do que quase tudo o que se fazia no cinema da época.
as condições de trabalho, o sistema de produção, a desigualdade social, a crise econômica, nada foge ao olhar inconformado do Chaplin, mas o tom do filme é alegre e funciona muito bem essa retomada do estilo do cinema mudo, já fora de moda nos tempos da Depressão vivida pelos personagens.
o filme todo é uma desconstrução profunda e até raivosa do sistema capitalista, mas é também uma história de empatia e compaixão verdadeiras. a mensagem do Chaplin é esperançosa e esperança é o que sobra naquele final tão encantador, quando a comunhão de duas almas é suficiente pra que as pessoas mantenham o sorriso em tempos de crise.
Marcas da Vida
3.6 27a Andrea Arnold consegue usar esse estilo meio austero e realista pra fazer um filme que é ao mesmo tempo um thriller de vigilância envolvente e um estudo de personagens inteligente emocionalmente. não achei muito bonito esteticamente, mas é interessante como a fotografia às vezes fica meio abstrata mesmo contando uma história mundana (a cena de dança na festa), e esse bairro onde fica o Red Road se torna quase um cenário de ficção científica. assustador e comovente ao mesmo tempo.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9Ktenso, tenso, infinitamente tenso. mas também terno e intimista. apesar de ser um thriller quase pós-apocalíptico, consegue se manter na maior parte do tempo confinado num único espaço e focado em personagens e interações humanas, e daí tira toda sua graça e suspense.
pra que as emoções causadas pelas relações entre personagens se tornassem verdadeiras, esse filme precisava ter um elenco bom, então ainda bem que o elenco é ótimo. o John Goodman está monstruoso em vários sentidos da palavra e o John Gallagher Jr. é sensacional como o melhor amigo que se poderia ter em um quartinho debaixo da terra, mas o filme é da Mary Elizabeth Winstead, que traz um monte de complexidade pra uma mulher comum obrigada a virar uma Ripley.
o Dan Trachtenberg é um talento muito surpreendente e promissor, sempre mantendo ritmo, controle e tensão dessa narrativa que podia se perder facilmente com tantas reviravoltas e tantas mudanças abruptas de tom. é um filme bem feito demais, que começa entregando informação de um jeito inteligente, evitando diálogos e exposição inútil. o final poderia ser ridículo, mas a essa altura eu estava envolvido demais pra me importar.
O Ato de Ver com os Próprios Olhos
4.1 27eu não devia ter visto isso.
dá pra ver que esse filme apresenta um monte de ideias, mas eu não me interesso por nada disso aí. quero bem longe de mim.
Uma Semana
4.4 47essa casa é ruim demais, mas pelo menos foi rapidinha de construir.
eu prefiro os filmes mais longos e posteriores do Buster Keaton, em que ele consegue fazer muito mais coisas inventivas por muito mais tempo em narrativas ainda mais doidas, mas aqui tem muita coisa legal também.