Night of the Living Dead é um daqueles clássicos obrigatórios de se assistir, mas o que mais me surpreende, além da qualidade, é que o filme é lembrado apenas como um percursor das narrativas de apocalipse zumbi, quando na verdade, vai muito além disso. É um filme extremamente político.
Ben é o personagem principal e é um homem negro. No início, fiquei surpresa por ter um negro em pelo anos 60 tão presente em um filme consagrado como esse, e não nego que fiquei com uma certa desconfiança sobre o que realmente significaria ele estar ali. Como durante boa parte do filme nenhuma questão racial (muito aparente) foi levantada, excluí a possibilidade do Ben estar lá por alguma razão maior. Mas esse foi meu maior erro.
A televisão e o rádio repetiam por minutos a fio as informações sobre essas criaturas assassinas que estavam atacando o país. As descrições eram claras e extremamente repetitivas, como se fossem para que ninguém se esquecesse em momento algum: parecem pessoas comuns.
Ben se estabelece em uma casa cheia de pessoas brancas como a voz da razão e uma liderança típica do herói branco de qualquer filme. E como todo herói, ele sobrevive, e então nos preparamos para o final feliz, onde nosso querido herói é resgatado pelas autoridades e parabenizado pelo seu ato de bravura. Só que as criaturas, os zumbis, parecem pessoas comuns. Em um clímax chocante, as autoridades atiram em Ben sem pensar duas vezes. Afinal, tem coisa mais comum do que um homem negro representar algum tipo de ameaça?
"Em vez de amar, eu digo que amo e todos acreditam."
Certamente o mais genial é como Chabrol constrói todos os personagens com suas próprias complexidades, porém nivelados pela mesma indiferença e pela maldade, que é fator principal da trama e que todos possuem da mesma forma, só que direcionada de modo diferente a fim de suprir seus próprios interesses e necessidades. Em seus mundos particulares construídos em forma de mansões para se tornarem propositalmente alheios ao mundo, jogos regidos pelo tédio e repletos de interesse e poder são feitos, e a regra é cruzar a linha do moral e imoral tantas vezes até que a diferença entre ambas se torne nula, ou simplesmente, irrelevante.
Oshima fazendo Godard melhor que Godard. Um La Chinoise que afirma o sexo, a arte e todas as subjetividades permitidas (e não permitidas) como atos políticos.
Sinceramente não sei como The Man Who Left His Will on Film não está nas principais listas de introdução à Nuberu Bagu. Aqui, Nagisa Oshima capta relações, inseguranças e principais visões políticas da juventude universitária do Japão pós-guerra de uma forma honesta e primorosa. Oshima fez a mesma coisa em Cruel Story of Youth, só que retratando uma juventude classe média e tipicamente alienada. Fazendo um breve paralelo entre ambos os filmes a alienação se mostra como fator comum entre ambos. A ousadia de Oshima em mostrar que a juventude engajada politicamente só reproduz de forma vazia os mesmos discursos herdados do comunismo, e perde seu poder de ação (ou revolução) em sua própria retórica, só me faz admirá-lo mais ainda. O recado é claro: vocês são tão alienados quanto aqueles que vocês acusam.
Utilizando esse cenário tenso e político, um verdadeiro manifesto de amor ao cinema e à arte é feito, mencionando inclusive outros grandes nomes da Nuberu Bagu como Suzuki, Matsumoto e Yoshida. E apesar de tratar de suicídio e outros assuntos que induzem a um certo pessimismo, eu vi otimismo(um tanto amargo) deixado na cena final, que metaforicamente nos lembra que para cada cineasta, cada revolucionário e cada jovem que se vai, terão outros para tomar seus lugares e fazer com que vozes destoantes nunca parem de ecoar.
O tempo é um fator complexo que pode agir em certos momentos como remédio e em outros, como causa da dor. Em 2046 o tempo age dessa segunda maneira e Chow encontra como válvula de escape a construção de sua própria utopia (a)temporal. Um lugar onde é possível resgatar as memórias deixadas no passado inconclusivo de In the Mood for Love. Memórias essas, que deixam de lado seu fator originalmente impalpável e nostálgico para se tornarem matéria e local de vivência. A ficção de Chow, motivada por suas próprias memórias, se mistura com sua própria realidade e seu desejo de fazer tudo certo novamente em um não-lugar de existência.
Filmes atuais sobre relacionamentos temos muitos e filmes sobre o impacto tecnológico nessas relações também. Essas narrativas quando se encontram são mostradas, geralmente, de forma muito genérica e dualista. A Bride for Rip Van Winkle passa bem longe disso por se propor a ser apenas um filme sobre relacionamentos (não necessariamente amorosos). A tecnologia, a solidão e a incomunicabilidade são apenas consequências de um período histórico. Não há pretensão em hostilizar ou enaltecer nada, apenas observar a vida acontecendo entre prédios, olhares e lágrimas. E sinceramente, tem algo melhor do que isso? Tenho a impressão de que acabei de testemunhar algo grandioso e essa sensação vem acompanhada de uma felicidade um tanto amarga.
"Are you seeing things? Cleary? Fairly? Distorted? Deranged? Please choose relevant reply. Have you been deluded? Excluded? Cheated? Misled? Please choose relevant reply. Or are you just....mad? Bad? Self-pitying or split?"
Eu fico sempre impressionada com a capacidade de Jane Arden em imprimir cinematograficamente e de uma forma tão fiel como é ter doenças mentais. A análise do desenvolvimento da loucura e seus desdobramentos nas mulheres(ou qualquer pessoa que tenha tido a feminilidade imposta) foi feita em The Other Side of the Underneath de forma primorosa abusando da subjetividade que o tema permite, mas em Separation o enfoque são os impactos da doença mental no cotidiano e principalmente as influências do campo científico nisso. Por muitos anos foi validada cientificamente reações de mulheres à sua sexualidade ou a aversão à feminilidade e seus papeis como doenças mentais em potencial(histeria). Jane Arden mostra os efeitos da exposição feminina à essas análises científicas que usam de meios misóginos para confirmar seus diagnósticos. Assim como em Anti-Clock, Arden deixa constantes avisos sobre como a maternidade compulsória e os demais papéis femininos impostos podem ser tóxicos e degradantes para a saúde mental. Acredito que o cinema experimental de Arden na verdade não tem nada de experimental, psicodélico, mindfuck ou qualquer adjetivo do gênero. Na verdade, vejo os acontecimentos de seus filmes como coisas totalmente palpáveis pois ela fazia filmes sob seu próprio ponto de vista de pessoa neuro atípica à beira de um mental breakdown, e essas impressões quando vistas por pessoas neuro típicas podem parecer delírio, mas para quem sabe o que é delirar constantemente as obras de Jane Arden parecem totalmente reais e reconfortantes.
Kiarostami sabe como poucos extrair do cotidiano verdadeiros atos políticos. As questões emergentes sobre dominação feminina e feminilidade são mostradas da maneira mais didática e eficaz possível: nos colocando como voyeurs e testemunhas de tudo. Destaque para a cena da moça com o cabelo raspado tirando a hijab que carrega um misto de liberdade e melancolia tão profundos que fica impossível não se emocionar. Esse filme deixou em mim uma pergunta que acredito ser muito importante: quantas vezes fomos em algum nível o garoto no carro com as nossas mães e outras mulheres do nosso convívio?
Mizoguchi se despede do cinema com um retrato fiel, importante e que assusta por sua alta carga atemporal. A prostituição é um assunto controverso e extremamente complexo e Mizoguchi não falha em mostrar essa complexidade. Street of Shame deixa uma das minhas cenas favoritas do cinema e eu termino o filme com um duplo aperto no coração, tanto pela cena final de dar um nó na garganta quanto por perceber que esta deixa indícios de que é uma despedida do diretor.
Tem uma frase que diz que o amor romântico foi inventado para manipular as mulheres e acredito que todo esse significado se encaixa perfeitamente no filme, que é extremamente inteligente em suas críticas de construção da sexualidade e do desejo feminino. Desde a formação da ideia de amor romântico, passando pela ruptura do idealismo intrinsecamente patriarcal e reconfigurando novos fetiches e formas de amar através de um empirismo brutal. É violento e nos instiga a repensar como, porque e com quem transamos. Qual é a instituição que molda nossos desejos e nos diz como amar. Doralice de fato inventou e reinventou o amor tantas vezes que mal pude contar.
O que/quem mata os jovens? Acredito que essa seja a principal pergunta que Fruit Chan faz aqui. A resposta é dada através de tortuosas histórias da juventude que sangra e faz sangrar, munida de um poder de auto-destruição altíssimo que é dado por todas extensões sociais que cobram a todo instante o preço paradoxal de ter toda a vida pela frente X ter que escolher rapidamente o que fazer com isso em um ambiente extremamente hostil. 3 tipos de mortes tipicamente juvenis acontecem: o suicídio por questões triviais de amor, o assassinato do jovem que "faz" as escolhas erradas e a morte do jovem explicitamente niilista e caótico. Chan faz um alerta a repetição desses padrões que nunca deveriam ser naturalizados em uma sociedade que sofre da ressaca dos ideais de Mao Tse Tung supostamente acolhedores para os jovens e minorias. Não só é preocupante a situação social, como também perpetua o ciclo a que tantos adolescentes continuam presos: vagando sem rumo, vivenciando todo o tipo de violência, morrendo e se tornando "para sempre jovens"(até porque o diretor deixa explícito o vai se foder bem grande para quem acha que isso deve ser romantizado) Acima de tudo, isso corrobora que jovens como Moon continuem existindo com suas manifestações de ódio e desprezo à humanidade. Então seja bem-vindo ao novo mundo onde se tornou natural e previsível ser niilista.
Tam Kar-Ming prova aqui o grande potencial catártico da juventude regada a ócio. É justamente no poder de transcender e destruir que se encontra a mágica caótica de Nomad. Pode até parecer redundante os efeitos do coming of age sendo representados no cinema mas
com aquela sequência final caótica e inesperada todas as outras partes que mostravam a despreocupação - que beirava a alienação - dos jovens tomam um sentido todo especial.
Cemetery Man é a misantropia em sua melhor melhor forma: ácida, presunçosa, sarcástica e bizarra. Chega a ser emocionante o desdém de toda a narrativa pela vida e por toda lógica cheia de obviedades do gênero de horror. Precisamos de mais filmes de terror anti-terror como esse, até porque não tem nada mais belo do que presenciar um estado de negação e desprezo profundos.
Vidas desconexas e almas conturbadas se arrastam pelas ruas, bares e apartamentos da cidade. Tecem através de seus cotidianos vazios, tediosos e previsíveis suas vontades ocultas, tão ocultas que nem mesmo esses personagens as conhecem. Todo esse conjunto de ser e existir se mostra algo impossível de colocar em palavras, ou como alguns filósofos dizem, reduzir em palavras; e é exatamente aí que se encontra a beleza do filme. Na honestidade de Tsai Ming-Liang em assumir que existem relações, antirelações e jogos que cruzam a linha tênue entre comunicabilidade e a incomunicabilidade, que são impossíveis de serem reduzidos a meras palavras e por isso não se fazem necessários diálogos, até porque só a subjetividade de olhares, toques, lágrimas, gestos e respirações podem expressar a angústia que se estende entre o filme e o espectador, entre o espectador e o filme.
Shūji Terayama que constrói uma autobiografia nada convencional e muito primorosa de cinema avant-garde e experimental. Depois de Pastoral sinto que entendo melhor o Terayama como artista e como pessoa. As obras que assisti anteriormente como Emperor Tomato Ketchup e Throw Away Your Books, Rally in the Streets se tornam mais palpáveis e inteligíveis através da experiência autobiográfica. Um homem que relembra sua infância através de fragmentos de memória e tenta lutar contra a liquidez e inconsistência dos sonhos e do tempo. A dependência emocional do garoto à mãe o aterroriza e este se dá o direito de sonhar mergulhar nos prazeres e na liberdade que só a arte podem trazer. A arte é uma forma de que todas as lutas existenciais, os mommy issues e os desejos sexuais tomem um novo caráter de expressão libertadora. Essa relação de liberdade e conhecimento é mostrada em Throw Away Your Books, Rally in the Streets sob o ponto de vista de um Terayama maduro. O relógio constantemente presente é um agente que sufoca e aterroriza, tanto garotos quanto homens, e mostra a dificuldade em superar a falta de controle sobre o mesmo. Pastoral é uma experiência inesquecível que mergulha no onírico por meio de artifícios imagéticos únicos que só o subconsciente pode trazer. Terayama nos lembra, assim como gostaria de lembrar o seu eu criança, que todos os monstros podem se reconfigurar no escapismo, por muitas vezes cético, da arte.
“Devemos nos tornar livres eroticamente e socialmente responsáveis. Unamo-nos aos Black Panthers e ao feminismo, e lutemos contra a opressão das minorias! [...] Envolvam-se na política! Ser gay não é um filme! Nós, gays imundos, queremos nos tornar humanos e ser tratados como tal!”
Rosa von Praunheim constrói um manifesto subversivo, agressivo, ácido, sagaz e acima de tudo, queer, contra a cultura gay que deseja ser apenas assimilada em um mundo heteronormativo e burguês. O manifesto é pelo fim da normatividade monogâmica e vanilla regida pela instituição familiar que gays almejam tanto participar. O individualismo e a normatividade devem ser locais de recusa para toda pessoa lgbt. Nunca deveríamos querer ser assimilados por um sistema de assujeitamento e nos tornar maridos e esposas homossexuais mas reconfigurar práticas sexuais, de relacionamento e de posicionamento político. Não precisamos de aceitação social pois esta é essencialmente passiva, precisamos nos impor enquanto seres essencialmente divergentes e com poder real de revolução.
Obrigada Akerman por inserir todos nós em uma rotina violenta regida pelo tédio e pelo silenciamento sistemático que tantas mulheres vivenciam. Obrigada por nos fazer sentir a rotina tão profundamente ao ponto da quebra dela ser tão prazerosa para nós quanto foi para Jeanne.
Poucas vezes fui tão feliz assistindo um filme que tivesse racismo como tema central. O horror de Jordan Peele surpreende por ser muito bem estruturado na abordagem de uma gama de tópicos tão complexos que envolvem o racismo institucionalizado. Os corpos negros passaram por um processo de subalternização intenso, primeiro sendo desumanizados e posteriormente sendo capitalizados sistematicamente.
Get Out aponta o olhar da instituição científica e estruturalmente racista que determina fatores biológicos que tornam negros fortes, resistentes e que como o próprio irmão da namorada de Chris diz, monstros. A crítica maravilhosa que o diretor faz dando o exemplo de Jesse Owens como corpo negro sendo útil ao sistema racista de forma tão sutil ao ponto de ser confundido com uma "vitória contra a hegemonia ariana". Já dizia Michel Foucault, corpos inferiorizados precisam se tornar dóceis para serem úteis às relações de poder. Todo esse processo da ciência validando aspectos racistas, da dominação da negritude através de um sistema de hierarquização de raças e de corpos negros sendo usados como máquinas e objetos, inclusive sexuais, é mostrado de uma forma extremamente realística. Através da hiperssexualização do homem negro e da utilização dos supostos potenciais do corpo negro em atingir um desejo universal de um "super homem". Get Out deixa explícito os objetivos do racismo e do sonho do homem branco em unir seu poder sobre a técnica, sobre aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais aos potenciais biológicos às custas do sangue negro.
Alex é a letra escondida da sigla LGBT, que passa por um processo processo diferente das outras letras da sigla que apesar de presentes são ignoradas. Alex é o I de uma sigla um pouco mais extensa: LGBTQIA. Pessoas intersexo como Alex passam por um extenso e complexo processo de higienização e invisibilização. São pessoas que carregam em seu corpo a discordância da cisnorma que impõe um gênero para cada um dos dois sexos "possíveis", são pessoas que mostram que há possibilidade de um "terceiro" sexo e uma quebra totalmente um CIStema de designação de sexo. É justamente por apresentarem fisicamente todas as contradições desse sistema cisnormativo, que pessoas intersexo passam pelas mãos da ciência que decide o tipo de sistema reprodutor, e consequentemente, o gênero dessas pessoas.
A importância de um filme que trata de forma corriqueira o que é ser intersexo e o que esse ser implica é gigantesca. Toda a narrativa coming of age é potencializada pela singularidade biológica de Alex, que está em processo de descoberta tanto do seu ser biológico, quanto do seu gênero e sua sexualidade. O preconceito é brutal mas Alex é mais forte ainda e de uma forma linda e totalmente revolucionária mostra que pessoas intersexo muitas vezes não precisam fazer escolhas, precisam apenas ser.
É altamente recomendado assistir depois de um surto mental.
Jane Arden representou perfeitamente todos os estagios de uma pessoa com doença mental.
Confusão: quando as coisas começam a ficar confusas e você se pergunta que porra tá acontecendo. É você ou as pessoas a sua volta? Quem é o mais doente?
Primeiros surtos psicóticos: você pode esconder isso da maioria das pessoas. Você quer esconder isso mas ao mesmo tempo você quer ajuda porque a dor é tão intensa que praticamente pode te destruir.
Ódio: você começa a se afastar das pessoas porque você não quer que elas saibam o que está acontecendo e você sente tanto ódio que simplesmente não quer ninguém por perto.
Isolamento: agora você finalmente conseguiu afastar as pessoas e se isolar do mundo lá fora. Agora é só você, seu ódio e seus pensamentos suicidas e psicóticos. É hora de aprender a lidar com sua própria mente.
Os surtos mentais acontecem com mais frequência: você mergulha numa espiral de doença e não consegue mais voltar. Ódio, desespero e dor é tudo o que você consegue sentir agora então é hora de gritar GRITAR GRITAR!
Entorpecimento: depois de todos os surtos você não consegue sentir nada. Você aprendeu a lidar com toda a dor e começa a se sentir confortável nessa dor. Esse conforto se transforma num vício a sua própria dor e loucura. Isso faz com que você sinta apaixonado por estar doente porque tudo o que você já gostou você destruiu e a doença é tudo o que te restou. É hora de se machucar de tantas formas até que você finalmente consiga se destruir.
Como eu disse antes: é recomendável assistir depois de surtar porque provoca um bem estar consigo mesmo. É mais um artifício do entorpecimento.
"Strength, little girl is madness and madness is the persistent belief in ones own hatefulness."
O filme é um grito desesperado por respostas as perguntas que nós fazemos desde que éramos crianças, é um grito pela liberdade, aceitação e não aceitação ao mesmo tempo.
Joguem Fora Seus Livros e Saiam as Ruas captura de forma magistral o elemento mais poderoso da juventude: o ódio. O ódio sobre tudo o que nos afasta das coisas que queremos, que nos transforma em outsiders que não se encaixam no mundo. Mas o fato é que nós todos somos outsiders. Sim, todo mundo é ou costumava ser um mas desde que nascemos o mundo tira pedaços de tudo o que nos faz ser quem realmente somos e algumas pessoas apenas deixam que isso aconteça porque, afinal, esse é o caminho mais fácil. O filme nos diz justamente para não seguirmos pelo caminho mais fácil, para que nossa fúria continue intacta e que essa fúria não se restrinja apenas aos jovens. É triste demais ver que o ódio às normas e injustiças seja considerado algo juvenil e ingênuo pejorativamente falando. Você não é bobo por ficar com raiva do mundo, na verdade, é assim que todo mundo deveria se sentir. A mensagem do diretor é clara: não se deixe ser podado, negue tudo e todos mas jamais renuncie seu direito a liberdade e a fúria.
"- A universidade! É pra quem? - O banho turco! É pra quem? - O movimento pela paz! É pra quem? - Os pink films! É pra quem? - Sequestro de avião! É pra quem? - Masturbação! É pra quem? - Dinamite! É pra quem? - Sua libertação! É pra quem? - Sua prisão! É pra quem?"
"Não conceda liberdade aos inimigos da liberdade"
Só mais uma observação: quem não gosta desse filme boa pessoa não é.
A Noite dos Mortos-Vivos
4.0 549 Assista AgoraNight of the Living Dead é um daqueles clássicos obrigatórios de se assistir, mas o que mais me surpreende, além da qualidade, é que o filme é lembrado apenas como um percursor das narrativas de apocalipse zumbi, quando na verdade, vai muito além disso. É um filme extremamente político.
Ben é o personagem principal e é um homem negro. No início, fiquei surpresa por ter um negro em pelo anos 60 tão presente em um filme consagrado como esse, e não nego que fiquei com uma certa desconfiança sobre o que realmente significaria ele estar ali. Como durante boa parte do filme nenhuma questão racial (muito aparente) foi levantada, excluí a possibilidade do Ben estar lá por alguma razão maior. Mas esse foi meu maior erro.
A televisão e o rádio repetiam por minutos a fio as informações sobre essas criaturas assassinas que estavam atacando o país. As descrições eram claras e extremamente repetitivas, como se fossem para que ninguém se esquecesse em momento algum: parecem pessoas comuns.
Ben se estabelece em uma casa cheia de pessoas brancas como a voz da razão e uma liderança típica do herói branco de qualquer filme. E como todo herói, ele sobrevive, e então nos preparamos para o final feliz, onde nosso querido herói é resgatado pelas autoridades e parabenizado pelo seu ato de bravura. Só que as criaturas, os zumbis, parecem pessoas comuns.
Em um clímax chocante, as autoridades atiram em Ben sem pensar duas vezes. Afinal, tem coisa mais comum do que um homem negro representar algum tipo de ameaça?
A Teia de Chocolate
3.5 18"Em vez de amar, eu digo que amo e todos acreditam."
Certamente o mais genial é como Chabrol constrói todos os personagens com suas próprias complexidades, porém nivelados pela mesma indiferença e pela maldade, que é fator principal da trama e que todos possuem da mesma forma, só que direcionada de modo diferente a fim de suprir seus próprios interesses e necessidades. Em seus mundos particulares construídos em forma de mansões para se tornarem propositalmente alheios ao mundo, jogos regidos pelo tédio e repletos de interesse e poder são feitos, e a regra é cruzar a linha do moral e imoral tantas vezes até que a diferença entre ambas se torne nula, ou simplesmente, irrelevante.
Diário de um Ladrão de Shinjuku
4.1 6Oshima fazendo Godard melhor que Godard. Um La Chinoise que afirma o sexo, a arte e todas as subjetividades permitidas (e não permitidas) como atos políticos.
O Homem Que Deixou Seu Testamento No Filme
3.9 10Sinceramente não sei como The Man Who Left His Will on Film não está nas principais listas de introdução à Nuberu Bagu. Aqui, Nagisa Oshima capta relações, inseguranças e principais visões políticas da juventude universitária do Japão pós-guerra de uma forma honesta e primorosa. Oshima fez a mesma coisa em Cruel Story of Youth, só que retratando uma juventude classe média e tipicamente alienada.
Fazendo um breve paralelo entre ambos os filmes a alienação se mostra como fator comum entre ambos. A ousadia de Oshima em mostrar que a juventude engajada politicamente só reproduz de forma vazia os mesmos discursos herdados do comunismo, e perde seu poder de ação (ou revolução) em sua própria retórica, só me faz admirá-lo mais ainda. O recado é claro: vocês são tão alienados quanto aqueles que vocês acusam.
Utilizando esse cenário tenso e político, um verdadeiro manifesto de amor ao cinema e à arte é feito, mencionando inclusive outros grandes nomes da Nuberu Bagu como Suzuki, Matsumoto e Yoshida. E apesar de tratar de suicídio e outros assuntos que induzem a um certo pessimismo, eu vi otimismo(um tanto amargo) deixado na cena final, que metaforicamente nos lembra que para cada cineasta, cada revolucionário e cada jovem que se vai, terão outros para tomar seus lugares e fazer com que vozes destoantes nunca parem de ecoar.
2046 - Os Segredos do Amor
4.0 150 Assista AgoraO tempo é um fator complexo que pode agir em certos momentos como remédio e em outros, como causa da dor. Em 2046 o tempo age dessa segunda maneira e Chow encontra como válvula de escape a construção de sua própria utopia (a)temporal. Um lugar onde é possível resgatar as memórias deixadas no passado inconclusivo de In the Mood for Love. Memórias essas, que deixam de lado seu fator originalmente impalpável e nostálgico para se tornarem matéria e local de vivência.
A ficção de Chow, motivada por suas próprias memórias, se mistura com sua própria realidade e seu desejo de fazer tudo certo novamente em um não-lugar de existência.
Uma Noiva Para Rip Van Winkle
3.9 29Filmes atuais sobre relacionamentos temos muitos e filmes sobre o impacto tecnológico nessas relações também. Essas narrativas quando se encontram são mostradas, geralmente, de forma muito genérica e dualista. A Bride for Rip Van Winkle passa bem longe disso por se propor a ser apenas um filme sobre relacionamentos (não necessariamente amorosos). A tecnologia, a solidão e a incomunicabilidade são apenas consequências de um período histórico. Não há pretensão em hostilizar ou enaltecer nada, apenas observar a vida acontecendo entre prédios, olhares e lágrimas. E sinceramente, tem algo melhor do que isso?
Tenho a impressão de que acabei de testemunhar algo grandioso e essa sensação vem acompanhada de uma felicidade um tanto amarga.
Separation
4.1 2"Are you seeing things? Cleary? Fairly? Distorted? Deranged? Please choose relevant reply.
Have you been deluded? Excluded? Cheated? Misled? Please choose relevant reply.
Or are you just....mad? Bad? Self-pitying or split?"
Eu fico sempre impressionada com a capacidade de Jane Arden em imprimir cinematograficamente e de uma forma tão fiel como é ter doenças mentais. A análise do desenvolvimento da loucura e seus desdobramentos nas mulheres(ou qualquer pessoa que tenha tido a feminilidade imposta) foi feita em The Other Side of the Underneath de forma primorosa abusando da subjetividade que o tema permite, mas em Separation o enfoque são os impactos da doença mental no cotidiano e principalmente as influências do campo científico nisso.
Por muitos anos foi validada cientificamente reações de mulheres à sua sexualidade ou a aversão à feminilidade e seus papeis como doenças mentais em potencial(histeria). Jane Arden mostra os efeitos da exposição feminina à essas análises científicas que usam de meios misóginos para confirmar seus diagnósticos. Assim como em Anti-Clock, Arden deixa constantes avisos sobre como a maternidade compulsória e os demais papéis femininos impostos podem ser tóxicos e degradantes para a saúde mental.
Acredito que o cinema experimental de Arden na verdade não tem nada de experimental, psicodélico, mindfuck ou qualquer adjetivo do gênero. Na verdade, vejo os acontecimentos de seus filmes como coisas totalmente palpáveis pois ela fazia filmes sob seu próprio ponto de vista de pessoa neuro atípica à beira de um mental breakdown, e essas impressões quando vistas por pessoas neuro típicas podem parecer delírio, mas para quem sabe o que é delirar constantemente as obras de Jane Arden parecem totalmente reais e reconfortantes.
Dez
4.1 54 Assista AgoraSerá que mulheres tem que morrer para viver?
Kiarostami sabe como poucos extrair do cotidiano verdadeiros atos políticos. As questões emergentes sobre dominação feminina e feminilidade são mostradas da maneira mais didática e eficaz possível: nos colocando como voyeurs e testemunhas de tudo. Destaque para a cena da moça com o cabelo raspado tirando a hijab que carrega um misto de liberdade e melancolia tão profundos que fica impossível não se emocionar.
Esse filme deixou em mim uma pergunta que acredito ser muito importante: quantas vezes fomos em algum nível o garoto no carro com as nossas mães e outras mulheres do nosso convívio?
A Rua da Vergonha
4.2 25Mizoguchi se despede do cinema com um retrato fiel, importante e que assusta por sua alta carga atemporal. A prostituição é um assunto controverso e extremamente complexo e Mizoguchi não falha em mostrar essa complexidade.
Street of Shame deixa uma das minhas cenas favoritas do cinema e eu termino o filme com um duplo aperto no coração, tanto pela cena final de dar um nó na garganta quanto por perceber que esta deixa indícios de que é uma despedida do diretor.
A Mulher que Inventou o Amor
3.9 25Tem uma frase que diz que o amor romântico foi inventado para manipular as mulheres e acredito que todo esse significado se encaixa perfeitamente no filme, que é extremamente inteligente em suas críticas de construção da sexualidade e do desejo feminino. Desde a formação da ideia de amor romântico, passando pela ruptura do idealismo intrinsecamente patriarcal e reconfigurando novos fetiches e formas de amar através de um empirismo brutal.
É violento e nos instiga a repensar como, porque e com quem transamos. Qual é a instituição que molda nossos desejos e nos diz como amar. Doralice de fato inventou e reinventou o amor tantas vezes que mal pude contar.
Made In Hong Kong
4.2 9O que/quem mata os jovens? Acredito que essa seja a principal pergunta que Fruit Chan faz aqui. A resposta é dada através de tortuosas histórias da juventude que sangra e faz sangrar, munida de um poder de auto-destruição altíssimo que é dado por todas extensões sociais que cobram a todo instante o preço paradoxal de ter toda a vida pela frente X ter que escolher rapidamente o que fazer com isso em um ambiente extremamente hostil.
3 tipos de mortes tipicamente juvenis acontecem: o suicídio por questões triviais de amor, o assassinato do jovem que "faz" as escolhas erradas e a morte do jovem explicitamente niilista e caótico. Chan faz um alerta a repetição desses padrões que nunca deveriam ser naturalizados em uma sociedade que sofre da ressaca dos ideais de Mao Tse Tung supostamente acolhedores para os jovens e minorias. Não só é preocupante a situação social, como também perpetua o ciclo a que tantos adolescentes continuam presos: vagando sem rumo, vivenciando todo o tipo de violência, morrendo e se tornando "para sempre jovens"(até porque o diretor deixa explícito o vai se foder bem grande para quem acha que isso deve ser romantizado) Acima de tudo, isso corrobora que jovens como Moon continuem existindo com suas manifestações de ódio e desprezo à humanidade. Então seja bem-vindo ao novo mundo onde se tornou natural e previsível ser niilista.
Nômade
3.9 4Tam Kar-Ming prova aqui o grande potencial catártico da juventude regada a ócio. É justamente no poder de transcender e destruir que se encontra a mágica caótica de Nomad.
Pode até parecer redundante os efeitos do coming of age sendo representados no cinema mas
com aquela sequência final caótica e inesperada todas as outras partes que mostravam a despreocupação - que beirava a alienação - dos jovens tomam um sentido todo especial.
Pelo Amor e Pela Morte
3.9 131Cemetery Man é a misantropia em sua melhor melhor forma: ácida, presunçosa, sarcástica e bizarra.
Chega a ser emocionante o desdém de toda a narrativa pela vida e por toda lógica cheia de obviedades do gênero de horror. Precisamos de mais filmes de terror anti-terror como esse, até porque não tem nada mais belo do que presenciar um estado de negação e desprezo profundos.
I should have known it. The rest of the world doesn't exist
Vive l'Amour
4.1 25Vidas desconexas e almas conturbadas se arrastam pelas ruas, bares e apartamentos da cidade. Tecem através de seus cotidianos vazios, tediosos e previsíveis suas vontades ocultas, tão ocultas que nem mesmo esses personagens as conhecem. Todo esse conjunto de ser e existir se mostra algo impossível de colocar em palavras, ou como alguns filósofos dizem, reduzir em palavras; e é exatamente aí que se encontra a beleza do filme. Na honestidade de Tsai Ming-Liang em assumir que existem relações, antirelações e jogos que cruzam a linha tênue entre comunicabilidade e a incomunicabilidade, que são impossíveis de serem reduzidos a meras palavras e por isso não se fazem necessários diálogos, até porque só a subjetividade de olhares, toques, lágrimas, gestos e respirações podem expressar a angústia que se estende entre o filme e o espectador, entre o espectador e o filme.
Pastoral: Morrer no Campo
4.4 19Shūji Terayama que constrói uma autobiografia nada convencional e muito primorosa de cinema avant-garde e experimental.
Depois de Pastoral sinto que entendo melhor o Terayama como artista e como pessoa. As obras que assisti anteriormente como Emperor Tomato Ketchup e Throw Away Your Books, Rally in the Streets se tornam mais palpáveis e inteligíveis através da experiência autobiográfica.
Um homem que relembra sua infância através de fragmentos de memória e tenta lutar contra a liquidez e inconsistência dos sonhos e do tempo. A dependência emocional do garoto à mãe o aterroriza e este se dá o direito de sonhar mergulhar nos prazeres e na liberdade que só a arte podem trazer. A arte é uma forma de que todas as lutas existenciais, os mommy issues e os desejos sexuais tomem um novo caráter de expressão libertadora. Essa relação de liberdade e conhecimento é mostrada em Throw Away Your Books, Rally in the Streets sob o ponto de vista de um Terayama maduro.
O relógio constantemente presente é um agente que sufoca e aterroriza, tanto garotos quanto homens, e mostra a dificuldade em superar a falta de controle sobre o mesmo.
Pastoral é uma experiência inesquecível que mergulha no onírico por meio de artifícios imagéticos únicos que só o subconsciente pode trazer. Terayama nos lembra, assim como gostaria de lembrar o seu eu criança, que todos os monstros podem se reconfigurar no escapismo, por muitas vezes cético, da arte.
Não é o Homossexual que é Perverso, mas a Situação …
4.1 46“Devemos nos tornar livres eroticamente e socialmente responsáveis. Unamo-nos aos Black Panthers e ao feminismo, e lutemos contra a opressão das minorias! [...] Envolvam-se na política! Ser gay não é um filme! Nós, gays imundos, queremos nos tornar humanos e ser tratados como tal!”
Rosa von Praunheim constrói um manifesto subversivo, agressivo, ácido, sagaz e acima de tudo, queer, contra a cultura gay que deseja ser apenas assimilada em um mundo heteronormativo e burguês. O manifesto é pelo fim da normatividade monogâmica e vanilla regida pela instituição familiar que gays almejam tanto participar.
O individualismo e a normatividade devem ser locais de recusa para toda pessoa lgbt. Nunca deveríamos querer ser assimilados por um sistema de assujeitamento e nos tornar maridos e esposas homossexuais mas reconfigurar práticas sexuais, de relacionamento e de posicionamento político. Não precisamos de aceitação social pois esta é essencialmente passiva, precisamos nos impor enquanto seres essencialmente divergentes e com poder real de revolução.
Jeanne Dielman
4.1 109 Assista AgoraObrigada Akerman por inserir todos nós em uma rotina violenta regida pelo tédio e pelo silenciamento sistemático que tantas mulheres vivenciam. Obrigada por nos fazer sentir a rotina tão profundamente ao ponto da quebra dela ser tão prazerosa para nós quanto foi para Jeanne.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraPoucas vezes fui tão feliz assistindo um filme que tivesse racismo como tema central. O horror de Jordan Peele surpreende por ser muito bem estruturado na abordagem de uma gama de tópicos tão complexos que envolvem o racismo institucionalizado.
Os corpos negros passaram por um processo de subalternização intenso, primeiro sendo desumanizados e posteriormente sendo capitalizados sistematicamente.
Get Out aponta o olhar da instituição científica e estruturalmente racista que determina fatores biológicos que tornam negros fortes, resistentes e que como o próprio irmão da namorada de Chris diz, monstros.
A crítica maravilhosa que o diretor faz dando o exemplo de Jesse Owens como corpo negro sendo útil ao sistema racista de forma tão sutil ao ponto de ser confundido com uma "vitória contra a hegemonia ariana". Já dizia Michel Foucault, corpos inferiorizados precisam se tornar dóceis para serem úteis às relações de poder. Todo esse processo da ciência validando aspectos racistas, da dominação da negritude através de um sistema de hierarquização de raças e de corpos negros sendo usados como máquinas e objetos, inclusive sexuais, é mostrado de uma forma extremamente realística. Através da hiperssexualização do homem negro e da utilização dos supostos potenciais do corpo negro em atingir um desejo universal de um "super homem". Get Out deixa explícito os objetivos do racismo e do sonho do homem branco em unir seu poder sobre a técnica, sobre aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais aos potenciais biológicos às custas do sangue negro.
XXY
3.8 506 Assista AgoraAlex é a letra escondida da sigla LGBT, que passa por um processo processo diferente das outras letras da sigla que apesar de presentes são ignoradas. Alex é o I de uma sigla um pouco mais extensa: LGBTQIA.
Pessoas intersexo como Alex passam por um extenso e complexo processo de higienização e invisibilização. São pessoas que carregam em seu corpo a discordância da cisnorma que impõe um gênero para cada um dos dois sexos "possíveis", são pessoas que mostram que há possibilidade de um "terceiro" sexo e uma quebra totalmente um CIStema de designação de sexo. É justamente por apresentarem fisicamente todas as contradições desse sistema cisnormativo, que pessoas intersexo passam pelas mãos da ciência que decide o tipo de sistema reprodutor, e consequentemente, o gênero dessas pessoas.
A importância de um filme que trata de forma corriqueira o que é ser intersexo e o que esse ser implica é gigantesca. Toda a narrativa coming of age é potencializada pela singularidade biológica de Alex, que está em processo de descoberta tanto do seu ser biológico, quanto do seu gênero e sua sexualidade. O preconceito é brutal mas Alex é mais forte ainda e de uma forma linda e totalmente revolucionária mostra que pessoas intersexo muitas vezes não precisam fazer escolhas, precisam apenas ser.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraTodo Ano Um Filme Diferente Sobre A Bravura Do Soldado Americano Indicado Ao Oscar
The Other Side of the Underneath
4.2 14É altamente recomendado assistir depois de um surto mental.
Jane Arden representou perfeitamente todos os estagios de uma pessoa com doença mental.
Confusão: quando as coisas começam a ficar confusas e você se pergunta que porra tá acontecendo. É você ou as pessoas a sua volta? Quem é o mais doente?
Primeiros surtos psicóticos: você pode esconder isso da maioria das pessoas. Você quer esconder isso mas ao mesmo tempo você quer ajuda porque a dor é tão intensa que praticamente pode te destruir.
Ódio: você começa a se afastar das pessoas porque você não quer que elas saibam o que está acontecendo e você sente tanto ódio que simplesmente não quer ninguém por perto.
Isolamento: agora você finalmente conseguiu afastar as pessoas e se isolar do mundo lá fora. Agora é só você, seu ódio e seus pensamentos suicidas e psicóticos. É hora de aprender a lidar com sua própria mente.
Os surtos mentais acontecem com mais frequência: você mergulha numa espiral de doença e não consegue mais voltar. Ódio, desespero e dor é tudo o que você consegue sentir agora então é hora de gritar GRITAR GRITAR!
Entorpecimento: depois de todos os surtos você não consegue sentir nada. Você aprendeu a lidar com toda a dor e começa a se sentir confortável nessa dor. Esse conforto se transforma num vício a sua própria dor e loucura. Isso faz com que você sinta apaixonado por estar doente porque tudo o que você já gostou você destruiu e a doença é tudo o que te restou. É hora de se machucar de tantas formas até que você finalmente consiga se destruir.
Como eu disse antes: é recomendável assistir depois de surtar porque provoca um bem estar consigo mesmo. É mais um artifício do entorpecimento.
"Strength, little girl is madness and madness is the persistent belief in ones own hatefulness."
Um Rosto na Multidão
4.3 42Apenas duas palavras: Donald Trump
A Batalha de Argel
4.4 82 Assista Agora"No fundo são boa gente. Nós nos demos bem durante 130 anos" mas que milico filho da puta
Joguem Fora Seus Livros e Saiam às Ruas
4.3 43Esse é um dos filmes mais lindos já feitos.
O filme é um grito desesperado por respostas as perguntas que nós fazemos desde que éramos crianças, é um grito pela liberdade, aceitação e não aceitação ao mesmo tempo.
Joguem Fora Seus Livros e Saiam as Ruas captura de forma magistral o elemento mais poderoso da juventude: o ódio. O ódio sobre tudo o que nos afasta das coisas que queremos, que nos transforma em outsiders que não se encaixam no mundo. Mas o fato é que nós todos somos outsiders. Sim, todo mundo é ou costumava ser um mas desde que nascemos o mundo tira pedaços de tudo o que nos faz ser quem realmente somos e algumas pessoas apenas deixam que isso aconteça porque, afinal, esse é o caminho mais fácil. O filme nos diz justamente para não seguirmos pelo caminho mais fácil, para que nossa fúria continue intacta e que essa fúria não se restrinja apenas aos jovens. É triste demais ver que o ódio às normas e injustiças seja considerado algo juvenil e ingênuo pejorativamente falando. Você não é bobo por ficar com raiva do mundo, na verdade, é assim que todo mundo deveria se sentir. A mensagem do diretor é clara: não se deixe ser podado, negue tudo e todos mas jamais renuncie seu direito a liberdade e a fúria.
"- A universidade! É pra quem?
- O banho turco! É pra quem?
- O movimento pela paz! É pra quem?
- Os pink films! É pra quem?
- Sequestro de avião! É pra quem?
- Masturbação! É pra quem?
- Dinamite! É pra quem?
- Sua libertação! É pra quem?
- Sua prisão! É pra quem?"
"Não conceda liberdade aos inimigos da liberdade"
Só mais uma observação: quem não gosta desse filme boa pessoa não é.