Mesmo sendo fã dos personagens, é muito ruim. No aspecto técnico não traz nada de novo ao que a franquia já fez e, sobre sua história, é bem preguiçoso. Tem um bom vilão e as boas cenas sempre estão vinculadas a ele (e as melhores piadas também, com referência a Cabo do Medo e outros filmes), mas o filme tem um aspecto de ser um episódio estendido e, de verdade, você assiste ao filme todo sem sentir nada. Wallace chega a irritar com seus diálogos e toda a trama inventada não te prende em nenhum momento. Sua indicação ao Oscar poderia ser facilmente substituída pelo Transformers, injustamente deixado de lado.
Ele tem muito o estilo de teatro, e por vezes até mesmo julguei que se tratasse de alguma adaptação de uma peça por seguir o clássico estilo de divisão por atos, monólogos e com momentos de destaque para cada personagem, com poucos atores. E na verdade o filme propositalmente é uma obra original que segue este estilo por ser uma característica da sua personagem as óperas, contando a fase final de Maria Callas como uma verdadeira tragédia.
Confesso que nunca morri de amores por Angelina Jolie ou sequer a considerava uma boa atriz, isto porque em todas as suas atuações não conseguia ver as personagens, mas somente a atriz, com os mesmos trejeitos e sempre a mesma entonação. No entanto aqui ela faz diferente e entrega de fato uma obra de arte. Sua voz é outra, seu modo de andar é completamente diferente e você sente todo o desespero e saudade de quem deixou algo importante de sua vida para trás.
Não considerei o filme enfadonho como a maioria, mas sim uma obra cativante que me deixou preso até o último minuto.
Não sei se essa é a intenção do livro original ou foi algo para ampliar a história do filme, mas ele acaba indo para um lado de sua trama que é filosofia pura, com muito de Exupery em O Pequeno Príncipe, sobre como cativamos quem está ao nosso redor e nos tornamos responsáveis por eles (e com direito a uma raposa) e Rousseau, com a pessoa sendo inserida e transformada pelo seu meio. Essa trama, que acaba sendo o foco da parte inicial do filme, ao menos para mim foi muito mais interessante do que a trama familiar que surge logo em seguida, sendo até mesmo um alívio quando a trama familiar acaba sendo deixada de lado para retornar a tratar do convívio com os animais, a sobrevivência e a adaptação novamente próximo ao final.
É visível como essas duas tramas não conversam tão bem entre si no filme, talvez sendo o único ponto fraco. No entanto, os diálogos são tão bons e a técnica de animação, ao estilo da sequência inicial de O Gato de Botas, é feita com tanto cuidado que o filme passa voando.
Ele traz de volta o horror aos filmes de vampiros, fazendo com que voltemos a ter medo deles, realmente considerando como algo demoníaco.
O filme tem dois estilos bem definidos. A metade inicial é mais voltada ao terror e em criar essa aura assustadora sobre a figura do Conde. E mesmo apelando para alguns jumpscares, acaba sendo bem eficaz. Isso porque não se resume somente ao susto mas também, de forma muito inteligente, faz com que a câmera costumeiramente dê giros de 360º no ambiente nos deixando tensos sem saber o que está escondido no mesmo recinto (mesmo que por vezes não tenha nada). Essa repetição vai nos deixando angustiados, bem como a respiração do Conde, quase como um lobo se preparando para atacar.
E, em sua segunda metade, o filme acaba sendo mais uma espécie de aventura, e também é interessante principalmente pelo papel de Willem Defoe, que toma conta dessa sequência final com muitas informações e um personagem cativante.
O problema acaba sendo a junção desses dois estilos em que, mesmo ambos sendo perfeitos, você fica com um sentimento de que algo foi perdido: o terror perde seu fôlego pela aventura, e a aventura perde seu fôlego por ter dado muito espaço ao terror. Com exceção desse sentimento de que algo está faltando, o filme é impecável.
Apesar de não ser fã do Sean Baker, principalmente por considerar que a realidade que ele traz para seus filmes por vezes é mais tediosa do que cinematográfica, realmente aqui ele fez um grande filme. Porque o cinema, ainda quando mostra o real, ele tem que mostrar como existe a grandiosidade, o conflito, o nosso apreço por ouvir uma história de um desconhecido por 120 minutos a ponto de carregá-la para o resto da vida.
E Anora tem esse poder em que coloca personagens com características bem definidas e, ao mesmo tempo, não as extrapola, não criando personagens super violentos ou pessoas que seguem seus atos até as últimas consequências. Você quer que a história tenha um rumo diferente, claro, pois seu apego é tão grande que quer vê-los felizes, mas também reconhece que, naquela situação, estaria agindo do mesmo modo.
E mesmo com uma sequência inicial que se estende demais, podendo ser mais curto, é após os 40 minutos iniciais que o filme te recompensa, ficando frenético e com atuações incríveis. Mikey Madison destrói na cena no andar inferior da casa.
É mais como um spin-off, não seguindo a sequência de Prometheus e Alien Covenant, sendo uma espécie de homenagem aos dois primeiros filme: o primeiro pela ambientação, o segundo pelo aspecto de aventura. Porque afinal ele é bem isso, uma aventura de ficção científica, deixando de lado o aspecto do suspense para seguir uma linha bem parecida com a do segundo filme.
Por conta disso acabei não gostando muito já que o segundo Alien não é o meu favorito da franquia (e tenho plena consciência de que isso é somente pelo gosto pessoal). Considero que o clima de aventura funciona muito mais com o rival Predador do que com Alien, onde neste aqui o mistério e o medo de onde o inimigo de esconde é muito deveria ser muito maior. Ainda assim tem boas ideias, como a cena do ácido na gravidade zero ou a travessia em temperatura ambiente, que são muito boas.
Tecnicamente é impecável, utilizando muito dos efeitos práticos, do clima anos 80 e de como o futuro era imaginado àquela época, com computadores que pareciam mais processadores de texto.
Você percebe que é um filme feito por quem ama cinema e odeia a indústria do cinema. Ele quer contar essa versão moderna de Dorian Gray, utiliza boas referências para causar estranheza tendo uma boa base de Kubrick (Tem muito de O Iluminado e 2001), Hitchcock (Psicose), De Palma (Carrie) e David Lynch (Eraserhead e O Homem Elefante) e ao mesmo tempo não é insensível em colocar a culpa unicamente na vítima, não sendo esta a única com sangue nas mãos. Ele vai passando por cada um na indústria, desde a glorificação feita nas calçadas que são logo esquecidas no ano seguinte até as estrelas que vieram depois, os programas de entrevista e os especiais. E é justamente por esse ponto que considerei que, mesmo com o filme diminuindo seu nível no segmento final, acaba sendo necessário para que você compreenda que a cena não foi criada para passar um aspecto gore, mas sim para passar uma crítica, jogando o sangue em todos (inclusive no produtor inteligentemente denominado como "Harvey"). O sangue está em todos na sala, incluindo a plateia.
É um filme frágil, e frágil é diferente de fraco. Fraco se refere a qualidade, e realmente a qualidade dele é gigantesca, com bons atores, uma ótima história, visual impecável. Ele é frágil porque seus motivos podem ser facilmente quebrados, como se o tempo todo a história andasse em uma linha tênue pronta para se romper visto que depende de muita coisa para funcionar: que o espectador mergulhe na história, que tenha ao menos algumas referências do império romano, que goste da história do cinema para entender o estilo do filme. E o filme vai sendo conduzido em uma corda bamba em que você fica até mesmo tenso vendo a forma como ele vai caminhando, seja em alguns momentos em que as atuações decaem, ou quando adota uma postura de debate ao estilo romano, logo no início, com diálogos tão complexos que te fazem pensar "Será que eu estou entendendo mesmo?", ou na própria edição que, por diversos momentos, te faz considerar que várias cenas foram retiradas para acelerar a conclusão, quase como um "Soberba" do Orson Welles.
Particularmente gostei e achei um filme interessante, mas creio que seria indispensável uma versão estendida.
Apesar de a graça de Bettlejuice ser o excesso, o filme em si acaba pecando pelo excesso.
A própria trama da Monica Belucci, por exemplo, é completamente dispensável no contexto geral, podendo ser retirada sem qualquer prejuízo para a trama (mesmo sendo uma ótima personagem). Com isso, o filme já teria um bom alívio em sua carga considerando que despeja no espectador muita informação nos primeiros 40 minutos iniciais: o retorno dos personagens antigos, o destino de alguns, a apresentação de novos, a personagem vilã principal, a busca de Beetlejuice pela personagem de Winona, o conflito desta com seu atual companheiro, dela com sua filha, do companheiro com sua filha, dentre outros.
Esse excesso acaba deixando a história sobrecarregada quando, em pouco tempo, quer colocar tudo o que a história precisa para funcionar, mas sem nos dar tempo de digerir, inserindo piadas que passam rápido demais a ponto de sequer conseguirmos rir delas, trocar de técnicas de animação e de efeitos de uma cena para outra, mesmo quando são incríveis, dentre outras coisas.
Após esses 40 minutos o filme passa a focar com um maior esforço na personagem da Jenna Ortega e no próprio Beetlejuice, momento em que, pelo alívio, tudo começa a funcionar e ficar agradável de assistir, até retornar a um excesso que leva a um final acelerado.
Pela quantidade de conteúdo, deveria ter pelo menos 120 min de duração.
Com exceção do plot twist final (e não me refiro à revelação em si, mas sim à forma como ela é mostrada) é um filme impecável. Isso porque ele foge do comum trazendo toda a história do Conclave conseguindo aliar, ao mesmo tempo, a crítica e o respeito. Ele traz toda a burocracia, os jogos de poder, as falhas e omissões e, ao mesmo tempo, reconhece a importância, a busca por mudança, as alas com pensamentos diferentes e a forma como combatem entre si e isso é muito interessante. Você percebe que não é um filme criado para ser polêmico, mas sim para fazer refletir.
Visualmente é incrível, principalmente no uso das luzes, volta e meia colocando os personagens abaixo de uma luminária ou de um grande foco de luz, como que para demonstrar uma iluminação divina, ou ainda as paredes cinza e preto, representando uma dualidade. É um filme pensado nos detalhes.
No entanto, como comentei, ele acabou perdendo muito da sua força ao final. Quando se utiliza de um plot twist ele não deve simplesmente ser jogado na tela, senão acaba sendo gratuito e não se sustenta no contexto geral da trama, que foi o que acabou acontecendo. Deu a impressão de que a revelação final acabou vazia com toda a construção que estava sendo feita, parecendo um novelão.
Por incrível que pareça o problema do filme é técnico. Diferente do primeiro que foi uma obra para a televisão levada ao cinema, agora temos uma obra de cinema com cara de televisão, com um filme todo gravado em cenários e com muita computação gráfica. Apesar de causar estranheza em vários momentos, essa falha técnica acaba sendo utilizada como um diferencial: O Auto da Compadecida ganha uma cara parecida com a sua ideia original, qual seja, a de uma peça para ser reproduzida nas ruas e em circos. Com isso diversos personagens vão se apresentando, com pouca ação e muitos diálogos e monólogos, o que faz com que esse aspecto mais simples, com poucos cenários, muito roteiro e muita interação deem ao filme um aspecto bem mais Suassuna do que o primeiro.
Outro elemento falho, mas que dessa vez incomoda, é o uso da dublagem em várias cenas do filme, em que você percebe claramente que a fala não está correspondendo com a boca dos atores, não tendo uma explicação no contexto da história exceto uma falha na captação de som somente percebida na pós produção (ou até mesmo uma mudança posterior no roteiro). Também há o final apressado, que poderia ter uns bons minutos a mais para você poder receber o impacto de toda a cena com a Compadecida.
No entanto, mesmo com essas falhas técnicas o filme acaba sendo uma delícia de assistir. Você percebe todo o amor que a equipe possui por aqueles personagens e que acaba sendo transmitido ao espectador, recebendo tudo aquilo como alguém que reencontra velhos amigos. Luís Miranda rouba a cena quando surge já próximo ao final, sendo o personagem que tira mais risadas de todo o filme. De forma muito inteligente, Selton Mello e Virginia Cavendish fazem seus personagens crescerem ao unir características de outro trabalho próprio, sendo visível como Chicó e Rosinha possuem uma mistura com Leléu e Inaura de Lisbela e o Prisioneiro, algo completamente compatível com a fase que seus personagens enfrentam nessa história.
Foi um trabalho digno que não precisa se esconder na sombra do primeiro para ter valor (e com direito a uma ótima piada sobre isso próximo ao final, com todo mundo precisando “pagar as parcelas do crediário”).
Acho que estavam tão preocupados com o aspecto psicológico e as informações que esqueceram de colocar um pouco de alma no filme, algo que vem faltando nas obras da Pixar desde Viva/Coco. Sim, é bonito, tecnicamente perfeito, com uma trama muito bem estruturada e informações precisas da psicologia, criando metáforas de fácil compreensão pelo espectador. Te faz rir em vários momentos mas falta um aspecto humano de te fazer se sentir como parte daquela história e carregar aqueles personagens para a vida toda. É quase como um filme feito por algoritmo: ele vai ter tudo o que realmente precisa para ser bom, mas falta uma humanidade nele e, por conta disso, a história não te cativa, sendo até esquecível.
Assisti a versão Final Cut, então não sei quais são as falhas que surgiram na versão original. É um bom filme, grandioso, com bons atores e boa fotografia. Seu problema é uma falta de direção mais precisa por parte do Oliver Stone que opta contar essa história como uma verdadeira tragédia grega, no sentido literal do termo, criando cenas longas em que os personagens, durante o conflito, dialogam sobre vida, morte, traição, glória, criando um filme de três horas que é dividido em vários blocos de 10 minutos, cada um com um discurso. Essa ida e volta nos mesmos assuntos acaba cansando o espectador que, somente após o retorno do intermission, se vê recompensado com uma coesão maior na trama.
Acaba sendo um documentário bem cansativo por querer fugir do óbvio: quer falar sobre os Beatles sem mostrá-los. Então, mesmo com boas cenas inéditas, acaba sendo desinteressante ver um grupo aleatório de pessoas dando seus depoimentos sobre algo que você já viu com uma emoção muito maior em outras obras, documentais ou não. Até nos próprios momentos em que tem a oportunidade de entrevistas Paul e Ringo sobre aquele período acaba optando por reduzir sua participação, com depoimentos curtos, para dar atenção a outros que pouco agregam ao contexto total. Vale pelas imagens de arquivo restauradas.
Me surpreendeu com o respeito pela obra de Tolkien, mesmo adotando diversas liberdades criativas. Segue fielmente tudo o que está descrito sobre Helm, até repetindo os mesmos diálogos e, naquilo que Tolkien deixa de mencionar, toma determinadas liberdades que te fazem lembrar a literatura medieval que inspirou a obra.
É certo que Hera, mesmo sendo uma personagem mencionada nos escritos, neles sequer tem um nome (você sabe que ela existe pelo fato de todo o conflito surgir quando pedem a mão da filha de Helm em casamento, mas ela sequer tem um nome no livro ou é mencionado o seu destino), mas ainda assim toda a personalidade que criam para ela não menospreza nenhum dos elementos canônicos da história, não tendo a necessidade de inferiorizar um personagem para valorizar outro.
A questão maior é o nível irregular das técnicas de animação, em alguns momentos te fazendo lembrar da animação do Senhor dos Aneis dos anos 70. Talvez pelo realismo necessário ser extremamente caro, você observa que o filme evita alguns commentos, como por exemplo evitar a demonstração de batalhas constantes, mais difíceis de retratar, preferindo os duelos.
Acredito que se eu não tivesse visto O Mágico de Oz teria gostado mais, isso em razão das pessoas da sala que não haviam visto e se surpreenderam em vários momentos,
como por exemplo na “revelação” de que o Mágico é uma fraude, ou a transformação dos macacos.
É um filme incrível e elogiável o fato de não terem medido esforços na reconstituição desse mundo, desde os efeitos especiais (tem uma cena inicial impecável que transita por toda Oz) até os próprios cenários.
Confesso que alguns pontos me incomodaram e me retiraram da história. A tática de uma trilha sonora original, com o intuito de ser indicada ao Oscar, me incomodou um pouco, principalmente em momentos que repete cenas de O Mágico de Oz
(Como falar da morte da Bruxa sem o clássico Ding dong the witch is dead?).
Em alguns momentos, até mesmo músicas mais genéricas são criadas para serem um fenômeno pop. Ainda, ao menos para mim, o filme somente começou a funcionar no momento em que as duas passam a conviver no mesmo quarto, no que eu considerei o melhor número musical de todo o filme.
Também me incomodou a criação de toda a cena de dança, feita especificamente para viralizar no tik tok.
Gostei, mas queria ter gostado mais. Creio que com a segunda parte já estarei mais acostumado.
Talvez o Ridley Scott seja o único atualmente que tenha coragem (ou insanidade) de fazer um gênero que todos os outros não utilizam mais: os grandes épicos. Um gênero tão comum no passado com obras como Ben Hur, Cleópatra e Troia acabou sendo esquecido pelos custos. Apenas Ridley Scott traz continuamente estas obras, mesmo que por vezes não tenham uma qualidade tão boa, como foi com Êxodo.
Acontece que aqui de fato o filme me surpreendeu. Claro que tem suas falhas, do mesmo modo como o primeiro também teve suas falhas e recebeu várias críticas na época. Uma das falhas do original até mesmo se repete aqui: após a primeira metade do filme, os acontecimentos são apressados demais, por vezes dando a impressão que houve algum corte brusco na história e tudo está se desenrolando rapidamente para o final.
Ainda assim, mesmo com estes “saltos” que a narrativa começa a dar para chegar ao final, fiquei impressionado com o filme. Paul Mescal tem uma caracterização idêntica à das estátuas dos antigos imperadores, do mesmo modo que Pedro Pascal. Os irmãos Caracalla e Geta tem uma liberdade criativa muito maior quando inserem neles características de Calígula e Nero, sendo crível toda a insanidade. E Denzel Washington te convence como um vilão tão bom que, se não fosse pela rivalidade, você até torceria por seu êxito.
Tem, óbvio, alguns efeitos ruins (a luta dos macacos talvez seja a pior parte) e outros excelentes (como na batalha marítima no Coliseu), e toda a recriação do período é impecável.
Confesso que inicialmente fiquei com dúvida sobre Ainda Estou Aqui. Isto porque, de início, você percebia que ele era um filme muito voltado para o público internacional, sendo quase didático em alguns pontos em alguns diálogos totalmente desnecessários, como por exemplo a filha perguntando, logo no início, o que significava OAB e a mãe respondendo que era Ordem dos Advogados do Brasil. E por um tempo considerável fiquei pensando o motivo do filme estar sendo tão elogiado visto que, mesmo sendo bom, não mostrava nada de diferente de outras obras sobre a ditadura tal como Batismo de Sangue, O Beijo da Mulher Aranha, Lúcio Flávio, dentre outros. E então Fernanda Torres toma conta do filme e, ao mesmo tempo, toma conta de nós. Nós vamos ficando vidrados na tela por querer saber como ela vai conseguir segurar uma informação tão pesada sem que os filhos pequenos tenham conhecimento do que está acontecendo. E mesmo havendo excelentes atores que sempre admirei, como Valentina Hersage e o próprio Selton Mello, Fernanda Torres é tão grandiosa que não tem para mais ninguém.
E o que mais me surpreendeu foi que, de repente, em uma cena sem trilha sonora, próximo ao final do filme, em que a atriz aparece até mesmo sorrindo,
toda a carga pesada do filme veio à toa e me vi segurando o choro que veio como uma avalanche, sem qualquer aviso. Foi uma das sensações mais inexplicáveis que vi no cinema pois não havia nada em cena que apelasse para este resultado e, mesmo assim, esse choro veio a todo o público da sala. Provocar essa sensação é obra dos gênios, e Walter Salles está de parabéns por isso.
Mesmo tendo alguns momentos em que ele não consegue passar de forma necessária a emoção da cena, faltando uma direção mais firme, ainda assim é um filme maravilhoso.
Elizabeth tem uma construção e ambientação bem parecida com a segunda parte de Ivan, o Terrível: Nós ficamos do lado da protagonista, temos empatia por ela, mas temos plena consciência de que ela não é um exemplo a ser seguido. E isso vai sendo mostrado em palácios frios, com poucas cores e tramas assassinas. Sendo Elizabeth uma das responsáveis por toda a exploração de colônias que viria a seguir, chega a ser interessante esse retrato feito por um diretor Paquistanês, em que ele coloca esse aspecto de incômodo em todas as atitudes que ela toma, mesmo nas que esta estava com a razão.
Tem muito de O Poderoso Chefão, principalmente na sequência final de vingança acompanhado de música clássica, chegando a ter um momento bem semelhante de quando Michael Corleone enfrenta seu cunhado.
Mesmo sendo Cate Blanchett a protagonista, quem realmente toma conta da tela é Geoffrey Rush em um excelente personagem.
Eu acho linda a forma como o Kenneth Branagh valoriza a história do Reino Unido e de suas grandes figuras, se esforçando para levar ao maior número de pessoas possível adaptações de Agatha Christie, Shakespeare e outros autores britânicos.
E aqui, mesmo já tendo adaptado outras obras de Shakespeare, ele utiliza da liberdade criativa para criar uma homenagem ao autor. Sim, pois mesmo com o título de "A Pura Verdade", o filme tem muito pouco de verdade (ou pelo menos muito pouco de fatos comprovados, já que o grande problema de Shakespeare é o pouco que se sabe de sua vida pessoal). E mesmo com todas essas liberdades criativas, com um Shakespeare que por vezes é ressentido em sua aposentadoria que durou 3 anos, ainda assim traz muito da figura que foi genial, dando importância a todos aqueles que o cercaram.
Não é um filme fácil de assistir e considero que é muito mais confortável de se compreender quando já se conhece um pouco da vida de Shakespeare, principalmente pela primeira metade, voltada unicamente para apresentar personagens e ao mesmo tempo manter o mistério das figuras. Somente depois de 50 minutos é que o filme se torna grandioso.
É o filme que finalmente mostra o Coringa que sempre quis ver: O Coringa que não é exemplo para ninguém. Como o Coringa é um personagem fascinante, ele acabou ao longo de tempo alcançando um status de ídolo cult, anárquico e até líder, sendo que em realidade ele é um sociopata que não é de nenhuma forma vítima da sociedade, mais ou menos a imagem que criam dele no final da saga “Terra de Ninguém”. Não é alguém para se gostar, mas sim alguém para se desprezar, para se ter medo e nojo.
E finalmente fazem isto neste filme, criando um aspecto de ascensão e queda quando comparado com o primeiro longa. Você retira neste toda a imagem do Coringa que se vinga contra o sistema, que faz discursos de ódio contra autoridades e então passa a reconhecer, mesmo que transtornado, que ele é isso mesmo: um louco, até mesmo fazendo piada com isso. E ainda é muito inteligente em mostrar como essa imagem de louco vai aos poucos saindo dele através da fumaça do cigarro e impregnando todas as outras pessoas por meio de palavras, sejam os guardas na prisão, o público do julgamento ou a sociedade em geral, que veem nele um pouco da própria insatisfação pessoal e aguardam a catarse ser liberada.
Joaquin Phoenix está incrível nesse papel, dançando, cantando e até sapateando, se entregando totalmente ao personagem. Lady Gaga, de igual modo, é ótima de ver em tela.
O fato de ser musical, com exceção das duas útlimas cenas, não atrapalha. Todas são inseridas no próprio ambiente do filme e em situações propositais, como por exemplo aulas de música ou cantos de protesto e, nas oportunidades mais insanas, como devaneios do Coringa, não se tratando do claro estilo de o mundo parar para todos cantarem como se nada de diferente estivesse acontecendo. Somente nos últimos dois números que isso fica cansativo, quando ele se utiliza do musical para passar uma ideia que o público já entendeu, se estendendo além do devido.
Afora isso, de fato considero que o hate do filme é muito gratuito, tendo muita preguiça para entender uma história que sequer é complicada,
como por exemplo as pessoas acharem que o Coringa é um devaneio criado por ele próprio e que o verdadeiro seria aquele que matou Arthur, como vi ontem a teoria na internet.
É injusta a nota baixa dada unicamente pelo hate que o nome Transformers e Michael Bay recebe porque, de forma impressionante, é um filme excelente e até mesmo seguindo um padrão bem fora do comum para animações comerciais. Sim, ele tem muito da ideia padrão de criar personagens para vender brinquedo, tanto que saí do cinema pensando “coitados dos pais agora que tem várias versões do mesmo Optimus para comprar”, mas isso em nenhum momento interfere na história que, por incrível que pareça, tem um forte contexto político. Sim, é um filme com um subtexto bem interessante de conflito, liderança, revolução e tudo o mais, e ainda com uma carga bem violenta que em vários momentos vi os adultos vidrados na tela na sala de cinema, com um delineamento bem interessante dos protagonistas ao estilo Xavier/Magneto. E além do roteiro o filme também consegue ser tecnicamente impecável, com uma boa animação e um som incrível. Os personagens andam no chão e você ouve o barulho dos diferentes tipos de solo (grama, terra, metal). Eles se chocam e você percebe os diferentes pesos que se encontram. É algo feito com tanto esmero que você se surpreende de não estar sendo mais comentado.
Seu ponto negativo é que em alguns momentos ele acaba sendo quase pedagógico nos discursos sobre esperança, justiça e afins, se estendendo demais mesmo após você já ter entendido a mensagem, o que enfraquece um pouco o ritmo. Afora isso, te deixa com vontade de acompanhar tudo o que já foi feito neste universo.
Você consegue ver que quem idealizou o filme realmente gosta de Lovecraft, se esforçando para inserir as ideias do autor nos detalhes, desde a fotografia mais plástica, mostrando uma realidade estranha com nuvens em formatos monstruosos (e sem qualquer efeito nisso) até árvores com galhos retorcidos, com muito roxo e azul. Claro que, levando em consideração que as histórias de Lovecraft normalmente não tinham diálogo, acaba tendo que criar muito para conduzir essa trama por quase duas horas, e são nesses momentos que você até percebe que a trama deixa um pouco seu lado Lovecraft para assumir uma atitude mais Stephen King, com pessoas surtadas, visões e muito sangue, o que, confesso, apenas agrega à ideia em geral.
Seu ponto negativo é que por vezes acaba se estendendo demais, ficando cansativo considerando a grande quantidade de personagens no núcleo familiar, buscando dar um destino diferente a cada um dos integrantes.
Que filme gostoso de assistir. Segue aquela linha do terror que apela um pouco para a nostalgia, tal qual IT, sendo reconhecível para toda criança que teve sua infância nos anos 90 toda a loucura que a televisão fazia por audiência. O roteiro é bom, a tensão vai sendo construída aos poucos com todo o clima de estranheza da situação, as piadas ruins de talk show, os momentos de silêncio constrangedor (dead-air), as interrupções entre entrevistados, até chegar na catarse final que nos faz sentar na cadeira acreditando que até mesmo nós estamos sendo hipnotizados. Claro que ele acaba decaindo um pouco nos seus últimos dez minutos por apelar para efeitos especiais, mas mesmo assim se recupera ante o plot twist.
Wallace & Gromit: Avengança
3.5 85 Assista AgoraMesmo sendo fã dos personagens, é muito ruim. No aspecto técnico não traz nada de novo ao que a franquia já fez e, sobre sua história, é bem preguiçoso. Tem um bom vilão e as boas cenas sempre estão vinculadas a ele (e as melhores piadas também, com referência a Cabo do Medo e outros filmes), mas o filme tem um aspecto de ser um episódio estendido e, de verdade, você assiste ao filme todo sem sentir nada. Wallace chega a irritar com seus diálogos e toda a trama inventada não te prende em nenhum momento. Sua indicação ao Oscar poderia ser facilmente substituída pelo Transformers, injustamente deixado de lado.
Maria Callas
3.1 106 Assista AgoraEle tem muito o estilo de teatro, e por vezes até mesmo julguei que se tratasse de alguma adaptação de uma peça por seguir o clássico estilo de divisão por atos, monólogos e com momentos de destaque para cada personagem, com poucos atores. E na verdade o filme propositalmente é uma obra original que segue este estilo por ser uma característica da sua personagem as óperas, contando a fase final de Maria Callas como uma verdadeira tragédia.
Confesso que nunca morri de amores por Angelina Jolie ou sequer a considerava uma boa atriz, isto porque em todas as suas atuações não conseguia ver as personagens, mas somente a atriz, com os mesmos trejeitos e sempre a mesma entonação. No entanto aqui ela faz diferente e entrega de fato uma obra de arte. Sua voz é outra, seu modo de andar é completamente diferente e você sente todo o desespero e saudade de quem deixou algo importante de sua vida para trás.
Não considerei o filme enfadonho como a maioria, mas sim uma obra cativante que me deixou preso até o último minuto.
Robô Selvagem
4.3 497Não sei se essa é a intenção do livro original ou foi algo para ampliar a história do filme, mas ele acaba indo para um lado de sua trama que é filosofia pura, com muito de Exupery em O Pequeno Príncipe, sobre como cativamos quem está ao nosso redor e nos tornamos responsáveis por eles (e com direito a uma raposa) e Rousseau, com a pessoa sendo inserida e transformada pelo seu meio. Essa trama, que acaba sendo o foco da parte inicial do filme, ao menos para mim foi muito mais interessante do que a trama familiar que surge logo em seguida, sendo até mesmo um alívio quando a trama familiar acaba sendo deixada de lado para retornar a tratar do convívio com os animais, a sobrevivência e a adaptação novamente próximo ao final.
É visível como essas duas tramas não conversam tão bem entre si no filme, talvez sendo o único ponto fraco. No entanto, os diálogos são tão bons e a técnica de animação, ao estilo da sequência inicial de O Gato de Botas, é feita com tanto cuidado que o filme passa voando.
Nosferatu
3.6 798 Assista AgoraEle traz de volta o horror aos filmes de vampiros, fazendo com que voltemos a ter medo deles, realmente considerando como algo demoníaco.
O filme tem dois estilos bem definidos. A metade inicial é mais voltada ao terror e em criar essa aura assustadora sobre a figura do Conde. E mesmo apelando para alguns jumpscares, acaba sendo bem eficaz. Isso porque não se resume somente ao susto mas também, de forma muito inteligente, faz com que a câmera costumeiramente dê giros de 360º no ambiente nos deixando tensos sem saber o que está escondido no mesmo recinto (mesmo que por vezes não tenha nada). Essa repetição vai nos deixando angustiados, bem como a respiração do Conde, quase como um lobo se preparando para atacar.
E, em sua segunda metade, o filme acaba sendo mais uma espécie de aventura, e também é interessante principalmente pelo papel de Willem Defoe, que toma conta dessa sequência final com muitas informações e um personagem cativante.
O problema acaba sendo a junção desses dois estilos em que, mesmo ambos sendo perfeitos, você fica com um sentimento de que algo foi perdido: o terror perde seu fôlego pela aventura, e a aventura perde seu fôlego por ter dado muito espaço ao terror. Com exceção desse sentimento de que algo está faltando, o filme é impecável.
Anora
3.5 935 Assista AgoraApesar de não ser fã do Sean Baker, principalmente por considerar que a realidade que ele traz para seus filmes por vezes é mais tediosa do que cinematográfica, realmente aqui ele fez um grande filme. Porque o cinema, ainda quando mostra o real, ele tem que mostrar como existe a grandiosidade, o conflito, o nosso apreço por ouvir uma história de um desconhecido por 120 minutos a ponto de carregá-la para o resto da vida.
E Anora tem esse poder em que coloca personagens com características bem definidas e, ao mesmo tempo, não as extrapola, não criando personagens super violentos ou pessoas que seguem seus atos até as últimas consequências. Você quer que a história tenha um rumo diferente, claro, pois seu apego é tão grande que quer vê-los felizes, mas também reconhece que, naquela situação, estaria agindo do mesmo modo.
E mesmo com uma sequência inicial que se estende demais, podendo ser mais curto, é após os 40 minutos iniciais que o filme te recompensa, ficando frenético e com atuações incríveis. Mikey Madison destrói na cena no andar inferior da casa.
Alien: Romulus
3.7 704 Assista AgoraÉ mais como um spin-off, não seguindo a sequência de Prometheus e Alien Covenant, sendo uma espécie de homenagem aos dois primeiros filme: o primeiro pela ambientação, o segundo pelo aspecto de aventura. Porque afinal ele é bem isso, uma aventura de ficção científica, deixando de lado o aspecto do suspense para seguir uma linha bem parecida com a do segundo filme.
Por conta disso acabei não gostando muito já que o segundo Alien não é o meu favorito da franquia (e tenho plena consciência de que isso é somente pelo gosto pessoal). Considero que o clima de aventura funciona muito mais com o rival Predador do que com Alien, onde neste aqui o mistério e o medo de onde o inimigo de esconde é muito deveria ser muito maior. Ainda assim tem boas ideias, como a cena do ácido na gravidade zero ou a travessia em temperatura ambiente, que são muito boas.
Tecnicamente é impecável, utilizando muito dos efeitos práticos, do clima anos 80 e de como o futuro era imaginado àquela época, com computadores que pareciam mais processadores de texto.
A Substância
3.9 1,7K Assista AgoraVocê percebe que é um filme feito por quem ama cinema e odeia a indústria do cinema. Ele quer contar essa versão moderna de Dorian Gray, utiliza boas referências para causar estranheza tendo uma boa base de Kubrick (Tem muito de O Iluminado e 2001), Hitchcock (Psicose), De Palma (Carrie) e David Lynch (Eraserhead e O Homem Elefante) e ao mesmo tempo não é insensível em colocar a culpa unicamente na vítima, não sendo esta a única com sangue nas mãos. Ele vai passando por cada um na indústria, desde a glorificação feita nas calçadas que são logo esquecidas no ano seguinte até as estrelas que vieram depois, os programas de entrevista e os especiais. E é justamente por esse ponto que considerei que, mesmo com o filme diminuindo seu nível no segmento final, acaba sendo necessário para que você compreenda que a cena não foi criada para passar um aspecto gore, mas sim para passar uma crítica, jogando o sangue em todos (inclusive no produtor inteligentemente denominado como "Harvey"). O sangue está em todos na sala, incluindo a plateia.
Megalópolis
2.6 133 Assista AgoraÉ um filme frágil, e frágil é diferente de fraco. Fraco se refere a qualidade, e realmente a qualidade dele é gigantesca, com bons atores, uma ótima história, visual impecável. Ele é frágil porque seus motivos podem ser facilmente quebrados, como se o tempo todo a história andasse em uma linha tênue pronta para se romper visto que depende de muita coisa para funcionar: que o espectador mergulhe na história, que tenha ao menos algumas referências do império romano, que goste da história do cinema para entender o estilo do filme. E o filme vai sendo conduzido em uma corda bamba em que você fica até mesmo tenso vendo a forma como ele vai caminhando, seja em alguns momentos em que as atuações decaem, ou quando adota uma postura de debate ao estilo romano, logo no início, com diálogos tão complexos que te fazem pensar "Será que eu estou entendendo mesmo?", ou na própria edição que, por diversos momentos, te faz considerar que várias cenas foram retiradas para acelerar a conclusão, quase como um "Soberba" do Orson Welles.
Particularmente gostei e achei um filme interessante, mas creio que seria indispensável uma versão estendida.
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice
3.5 557 Assista AgoraApesar de a graça de Bettlejuice ser o excesso, o filme em si acaba pecando pelo excesso.
A própria trama da Monica Belucci, por exemplo, é completamente dispensável no contexto geral, podendo ser retirada sem qualquer prejuízo para a trama (mesmo sendo uma ótima personagem). Com isso, o filme já teria um bom alívio em sua carga considerando que despeja no espectador muita informação nos primeiros 40 minutos iniciais: o retorno dos personagens antigos, o destino de alguns, a apresentação de novos, a personagem vilã principal, a busca de Beetlejuice pela personagem de Winona, o conflito desta com seu atual companheiro, dela com sua filha, do companheiro com sua filha, dentre outros.
Esse excesso acaba deixando a história sobrecarregada quando, em pouco tempo, quer colocar tudo o que a história precisa para funcionar, mas sem nos dar tempo de digerir, inserindo piadas que passam rápido demais a ponto de sequer conseguirmos rir delas, trocar de técnicas de animação e de efeitos de uma cena para outra, mesmo quando são incríveis, dentre outras coisas.
Após esses 40 minutos o filme passa a focar com um maior esforço na personagem da Jenna Ortega e no próprio Beetlejuice, momento em que, pelo alívio, tudo começa a funcionar e ficar agradável de assistir, até retornar a um excesso que leva a um final acelerado.
Pela quantidade de conteúdo, deveria ter pelo menos 120 min de duração.
Conclave
3.9 652 Assista AgoraCom exceção do plot twist final (e não me refiro à revelação em si, mas sim à forma como ela é mostrada) é um filme impecável. Isso porque ele foge do comum trazendo toda a história do Conclave conseguindo aliar, ao mesmo tempo, a crítica e o respeito. Ele traz toda a burocracia, os jogos de poder, as falhas e omissões e, ao mesmo tempo, reconhece a importância, a busca por mudança, as alas com pensamentos diferentes e a forma como combatem entre si e isso é muito interessante. Você percebe que não é um filme criado para ser polêmico, mas sim para fazer refletir.
Visualmente é incrível, principalmente no uso das luzes, volta e meia colocando os personagens abaixo de uma luminária ou de um grande foco de luz, como que para demonstrar uma iluminação divina, ou ainda as paredes cinza e preto, representando uma dualidade. É um filme pensado nos detalhes.
No entanto, como comentei, ele acabou perdendo muito da sua força ao final. Quando se utiliza de um plot twist ele não deve simplesmente ser jogado na tela, senão acaba sendo gratuito e não se sustenta no contexto geral da trama, que foi o que acabou acontecendo. Deu a impressão de que a revelação final acabou vazia com toda a construção que estava sendo feita, parecendo um novelão.
O Auto da Compadecida 2
3.0 409 Assista AgoraPor incrível que pareça o problema do filme é técnico. Diferente do primeiro que foi uma obra para a televisão levada ao cinema, agora temos uma obra de cinema com cara de televisão, com um filme todo gravado em cenários e com muita computação gráfica.
Apesar de causar estranheza em vários momentos, essa falha técnica acaba sendo utilizada como um diferencial: O Auto da Compadecida ganha uma cara parecida com a sua ideia original, qual seja, a de uma peça para ser reproduzida nas ruas e em circos. Com isso diversos personagens vão se apresentando, com pouca ação e muitos diálogos e monólogos, o que faz com que esse aspecto mais simples, com poucos cenários, muito roteiro e muita interação deem ao filme um aspecto bem mais Suassuna do que o primeiro.
Outro elemento falho, mas que dessa vez incomoda, é o uso da dublagem em várias cenas do filme, em que você percebe claramente que a fala não está correspondendo com a boca dos atores, não tendo uma explicação no contexto da história exceto uma falha na captação de som somente percebida na pós produção (ou até mesmo uma mudança posterior no roteiro). Também há o final apressado, que poderia ter uns bons minutos a mais para você poder receber o impacto de toda a cena com a Compadecida.
No entanto, mesmo com essas falhas técnicas o filme acaba sendo uma delícia de assistir. Você percebe todo o amor que a equipe possui por aqueles personagens e que acaba sendo transmitido ao espectador, recebendo tudo aquilo como alguém que reencontra velhos amigos. Luís Miranda rouba a cena quando surge já próximo ao final, sendo o personagem que tira mais risadas de todo o filme. De forma muito inteligente, Selton Mello e Virginia Cavendish fazem seus personagens crescerem ao unir características de outro trabalho próprio, sendo visível como Chicó e Rosinha possuem uma mistura com Leléu e Inaura de Lisbela e o Prisioneiro, algo completamente compatível com a fase que seus personagens enfrentam nessa história.
Foi um trabalho digno que não precisa se esconder na sombra do primeiro para ter valor (e com direito a uma ótima piada sobre isso próximo ao final, com todo mundo precisando “pagar as parcelas do crediário”).
Divertida Mente 2
4.0 627 Assista AgoraAcho que estavam tão preocupados com o aspecto psicológico e as informações que esqueceram de colocar um pouco de alma no filme, algo que vem faltando nas obras da Pixar desde Viva/Coco. Sim, é bonito, tecnicamente perfeito, com uma trama muito bem estruturada e informações precisas da psicologia, criando metáforas de fácil compreensão pelo espectador. Te faz rir em vários momentos mas falta um aspecto humano de te fazer se sentir como parte daquela história e carregar aqueles personagens para a vida toda. É quase como um filme feito por algoritmo: ele vai ter tudo o que realmente precisa para ser bom, mas falta uma humanidade nele e, por conta disso, a história não te cativa, sendo até esquecível.
Alexandre
3.1 582 Assista AgoraAssisti a versão Final Cut, então não sei quais são as falhas que surgiram na versão original. É um bom filme, grandioso, com bons atores e boa fotografia. Seu problema é uma falta de direção mais precisa por parte do Oliver Stone que opta contar essa história como uma verdadeira tragédia grega, no sentido literal do termo, criando cenas longas em que os personagens, durante o conflito, dialogam sobre vida, morte, traição, glória, criando um filme de três horas que é dividido em vários blocos de 10 minutos, cada um com um discurso. Essa ida e volta nos mesmos assuntos acaba cansando o espectador que, somente após o retorno do intermission, se vê recompensado com uma coesão maior na trama.
Beatles '64
3.7 14 Assista AgoraAcaba sendo um documentário bem cansativo por querer fugir do óbvio: quer falar sobre os Beatles sem mostrá-los. Então, mesmo com boas cenas inéditas, acaba sendo desinteressante ver um grupo aleatório de pessoas dando seus depoimentos sobre algo que você já viu com uma emoção muito maior em outras obras, documentais ou não. Até nos próprios momentos em que tem a oportunidade de entrevistas Paul e Ringo sobre aquele período acaba optando por reduzir sua participação, com depoimentos curtos, para dar atenção a outros que pouco agregam ao contexto total. Vale pelas imagens de arquivo restauradas.
O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim
3.3 69 Assista AgoraMe surpreendeu com o respeito pela obra de Tolkien, mesmo adotando diversas liberdades criativas. Segue fielmente tudo o que está descrito sobre Helm, até repetindo os mesmos diálogos e, naquilo que Tolkien deixa de mencionar, toma determinadas liberdades que te fazem lembrar a literatura medieval que inspirou a obra.
É certo que Hera, mesmo sendo uma personagem mencionada nos escritos, neles sequer tem um nome (você sabe que ela existe pelo fato de todo o conflito surgir quando pedem a mão da filha de Helm em casamento, mas ela sequer tem um nome no livro ou é mencionado o seu destino), mas ainda assim toda a personalidade que criam para ela não menospreza nenhum dos elementos canônicos da história, não tendo a necessidade de inferiorizar um personagem para valorizar outro.
A questão maior é o nível irregular das técnicas de animação, em alguns momentos te fazendo lembrar da animação do Senhor dos Aneis dos anos 70. Talvez pelo realismo necessário ser extremamente caro, você observa que o filme evita alguns commentos, como por exemplo evitar a demonstração de batalhas constantes, mais difíceis de retratar, preferindo os duelos.
Ainda assim é de fato uma obra digna de Tolkien.
Wicked
3.9 455 Assista AgoraAcredito que se eu não tivesse visto O Mágico de Oz teria gostado mais, isso em razão das pessoas da sala que não haviam visto e se surpreenderam em vários momentos,
como por exemplo na “revelação” de que o Mágico é uma fraude, ou a transformação dos macacos.
É um filme incrível e elogiável o fato de não terem medido esforços na reconstituição desse mundo, desde os efeitos especiais (tem uma cena inicial impecável que transita por toda Oz) até os próprios cenários.
Confesso que alguns pontos me incomodaram e me retiraram da história. A tática de uma trilha sonora original, com o intuito de ser indicada ao Oscar, me incomodou um pouco, principalmente em momentos que repete cenas de O Mágico de Oz
(Como falar da morte da Bruxa sem o clássico Ding dong the witch is dead?).
Em alguns momentos, até mesmo músicas mais genéricas são criadas para serem um fenômeno pop. Ainda, ao menos para mim, o filme somente começou a funcionar no momento em que as duas passam a conviver no mesmo quarto, no que eu considerei o melhor número musical de todo o filme.
Também me incomodou a criação de toda a cena de dança, feita especificamente para viralizar no tik tok.
Gostei, mas queria ter gostado mais. Creio que com a segunda parte já estarei mais acostumado.
Gladiador II
3.3 481 Assista AgoraTalvez o Ridley Scott seja o único atualmente que tenha coragem (ou insanidade) de fazer um gênero que todos os outros não utilizam mais: os grandes épicos. Um gênero tão comum no passado com obras como Ben Hur, Cleópatra e Troia acabou sendo esquecido pelos custos. Apenas Ridley Scott traz continuamente estas obras, mesmo que por vezes não tenham uma qualidade tão boa, como foi com Êxodo.
Acontece que aqui de fato o filme me surpreendeu. Claro que tem suas falhas, do mesmo modo como o primeiro também teve suas falhas e recebeu várias críticas na época. Uma das falhas do original até mesmo se repete aqui: após a primeira metade do filme, os acontecimentos são apressados demais, por vezes dando a impressão que houve algum corte brusco na história e tudo está se desenrolando rapidamente para o final.
Ainda assim, mesmo com estes “saltos” que a narrativa começa a dar para chegar ao final, fiquei impressionado com o filme. Paul Mescal tem uma caracterização idêntica à das estátuas dos antigos imperadores, do mesmo modo que Pedro Pascal. Os irmãos Caracalla e Geta tem uma liberdade criativa muito maior quando inserem neles características de Calígula e Nero, sendo crível toda a insanidade. E Denzel Washington te convence como um vilão tão bom que, se não fosse pela rivalidade, você até torceria por seu êxito.
Tem, óbvio, alguns efeitos ruins (a luta dos macacos talvez seja a pior parte) e outros excelentes (como na batalha marítima no Coliseu), e toda a recriação do período é impecável.
Realmente esse gênero faz falta no cinema.
Ainda Estou Aqui
4.5 1,4K Assista AgoraConfesso que inicialmente fiquei com dúvida sobre Ainda Estou Aqui. Isto porque, de início, você percebia que ele era um filme muito voltado para o público internacional, sendo quase didático em alguns pontos em alguns diálogos totalmente desnecessários, como por exemplo a filha perguntando, logo no início, o que significava OAB e a mãe respondendo que era Ordem dos Advogados do Brasil. E por um tempo considerável fiquei pensando o motivo do filme estar sendo tão elogiado visto que, mesmo sendo bom, não mostrava nada de diferente de outras obras sobre a ditadura tal como Batismo de Sangue, O Beijo da Mulher Aranha, Lúcio Flávio, dentre outros. E então Fernanda Torres toma conta do filme e, ao mesmo tempo, toma conta de nós. Nós vamos ficando vidrados na tela por querer saber como ela vai conseguir segurar uma informação tão pesada sem que os filhos pequenos tenham conhecimento do que está acontecendo. E mesmo havendo excelentes atores que sempre admirei, como Valentina Hersage e o próprio Selton Mello, Fernanda Torres é tão grandiosa que não tem para mais ninguém.
E o que mais me surpreendeu foi que, de repente, em uma cena sem trilha sonora, próximo ao final do filme, em que a atriz aparece até mesmo sorrindo,
quando ela recebe a certidão de óbito do marido,
Elizabeth
3.8 306 Assista AgoraMesmo tendo alguns momentos em que ele não consegue passar de forma necessária a emoção da cena, faltando uma direção mais firme, ainda assim é um filme maravilhoso.
Elizabeth tem uma construção e ambientação bem parecida com a segunda parte de Ivan, o Terrível: Nós ficamos do lado da protagonista, temos empatia por ela, mas temos plena consciência de que ela não é um exemplo a ser seguido. E isso vai sendo mostrado em palácios frios, com poucas cores e tramas assassinas. Sendo Elizabeth uma das responsáveis por toda a exploração de colônias que viria a seguir, chega a ser interessante esse retrato feito por um diretor Paquistanês, em que ele coloca esse aspecto de incômodo em todas as atitudes que ela toma, mesmo nas que esta estava com a razão.
Tem muito de O Poderoso Chefão, principalmente na sequência final de vingança acompanhado de música clássica, chegando a ter um momento bem semelhante de quando Michael Corleone enfrenta seu cunhado.
Mesmo sendo Cate Blanchett a protagonista, quem realmente toma conta da tela é Geoffrey Rush em um excelente personagem.
A Pura Verdade
3.4 14 Assista AgoraEu acho linda a forma como o Kenneth Branagh valoriza a história do Reino Unido e de suas grandes figuras, se esforçando para levar ao maior número de pessoas possível adaptações de Agatha Christie, Shakespeare e outros autores britânicos.
E aqui, mesmo já tendo adaptado outras obras de Shakespeare, ele utiliza da liberdade criativa para criar uma homenagem ao autor. Sim, pois mesmo com o título de "A Pura Verdade", o filme tem muito pouco de verdade (ou pelo menos muito pouco de fatos comprovados, já que o grande problema de Shakespeare é o pouco que se sabe de sua vida pessoal). E mesmo com todas essas liberdades criativas, com um Shakespeare que por vezes é ressentido em sua aposentadoria que durou 3 anos, ainda assim traz muito da figura que foi genial, dando importância a todos aqueles que o cercaram.
Não é um filme fácil de assistir e considero que é muito mais confortável de se compreender quando já se conhece um pouco da vida de Shakespeare, principalmente pela primeira metade, voltada unicamente para apresentar personagens e ao mesmo tempo manter o mistério das figuras. Somente depois de 50 minutos é que o filme se torna grandioso.
Coringa: Delírio a Dois
2.6 883 Assista AgoraÉ o filme que finalmente mostra o Coringa que sempre quis ver: O Coringa que não é exemplo para ninguém. Como o Coringa é um personagem fascinante, ele acabou ao longo de tempo alcançando um status de ídolo cult, anárquico e até líder, sendo que em realidade ele é um sociopata que não é de nenhuma forma vítima da sociedade, mais ou menos a imagem que criam dele no final da saga “Terra de Ninguém”. Não é alguém para se gostar, mas sim alguém para se desprezar, para se ter medo e nojo.
E finalmente fazem isto neste filme, criando um aspecto de ascensão e queda quando comparado com o primeiro longa. Você retira neste toda a imagem do Coringa que se vinga contra o sistema, que faz discursos de ódio contra autoridades e então passa a reconhecer, mesmo que transtornado, que ele é isso mesmo: um louco, até mesmo fazendo piada com isso. E ainda é muito inteligente em mostrar como essa imagem de louco vai aos poucos saindo dele através da fumaça do cigarro e impregnando todas as outras pessoas por meio de palavras, sejam os guardas na prisão, o público do julgamento ou a sociedade em geral, que veem nele um pouco da própria insatisfação pessoal e aguardam a catarse ser liberada.
Joaquin Phoenix está incrível nesse papel, dançando, cantando e até sapateando, se entregando totalmente ao personagem. Lady Gaga, de igual modo, é ótima de ver em tela.
O fato de ser musical, com exceção das duas útlimas cenas, não atrapalha. Todas são inseridas no próprio ambiente do filme e em situações propositais, como por exemplo aulas de música ou cantos de protesto e, nas oportunidades mais insanas, como devaneios do Coringa, não se tratando do claro estilo de o mundo parar para todos cantarem como se nada de diferente estivesse acontecendo. Somente nos últimos dois números que isso fica cansativo, quando ele se utiliza do musical para passar uma ideia que o público já entendeu, se estendendo além do devido.
Afora isso, de fato considero que o hate do filme é muito gratuito, tendo muita preguiça para entender uma história que sequer é complicada,
como por exemplo as pessoas acharem que o Coringa é um devaneio criado por ele próprio e que o verdadeiro seria aquele que matou Arthur, como vi ontem a teoria na internet.
Transformers: O Início
3.7 59 Assista AgoraÉ injusta a nota baixa dada unicamente pelo hate que o nome Transformers e Michael Bay recebe porque, de forma impressionante, é um filme excelente e até mesmo seguindo um padrão bem fora do comum para animações comerciais. Sim, ele tem muito da ideia padrão de criar personagens para vender brinquedo, tanto que saí do cinema pensando “coitados dos pais agora que tem várias versões do mesmo Optimus para comprar”, mas isso em nenhum momento interfere na história que, por incrível que pareça, tem um forte contexto político. Sim, é um filme com um subtexto bem interessante de conflito, liderança, revolução e tudo o mais, e ainda com uma carga bem violenta que em vários momentos vi os adultos vidrados na tela na sala de cinema, com um delineamento bem interessante dos protagonistas ao estilo Xavier/Magneto. E além do roteiro o filme também consegue ser tecnicamente impecável, com uma boa animação e um som incrível. Os personagens andam no chão e você ouve o barulho dos diferentes tipos de solo (grama, terra, metal). Eles se chocam e você percebe os diferentes pesos que se encontram. É algo feito com tanto esmero que você se surpreende de não estar sendo mais comentado.
Seu ponto negativo é que em alguns momentos ele acaba sendo quase pedagógico nos discursos sobre esperança, justiça e afins, se estendendo demais mesmo após você já ter entendido a mensagem, o que enfraquece um pouco o ritmo. Afora isso, te deixa com vontade de acompanhar tudo o que já foi feito neste universo.
A Cor que Caiu do Espaço
3.1 354Você consegue ver que quem idealizou o filme realmente gosta de Lovecraft, se esforçando para inserir as ideias do autor nos detalhes, desde a fotografia mais plástica, mostrando uma realidade estranha com nuvens em formatos monstruosos (e sem qualquer efeito nisso) até árvores com galhos retorcidos, com muito roxo e azul. Claro que, levando em consideração que as histórias de Lovecraft normalmente não tinham diálogo, acaba tendo que criar muito para conduzir essa trama por quase duas horas, e são nesses momentos que você até percebe que a trama deixa um pouco seu lado Lovecraft para assumir uma atitude mais Stephen King, com pessoas surtadas, visões e muito sangue, o que, confesso, apenas agrega à ideia em geral.
Seu ponto negativo é que por vezes acaba se estendendo demais, ficando cansativo considerando a grande quantidade de personagens no núcleo familiar, buscando dar um destino diferente a cada um dos integrantes.
Entrevista com o Demônio
3.4 743 Assista AgoraQue filme gostoso de assistir. Segue aquela linha do terror que apela um pouco para a nostalgia, tal qual IT, sendo reconhecível para toda criança que teve sua infância nos anos 90 toda a loucura que a televisão fazia por audiência. O roteiro é bom, a tensão vai sendo construída aos poucos com todo o clima de estranheza da situação, as piadas ruins de talk show, os momentos de silêncio constrangedor (dead-air), as interrupções entre entrevistados, até chegar na catarse final que nos faz sentar na cadeira acreditando que até mesmo nós estamos sendo hipnotizados. Claro que ele acaba decaindo um pouco nos seus últimos dez minutos por apelar para efeitos especiais, mas mesmo assim se recupera ante o plot twist.