Duas coisas fizeram a minha expectativa por esse filme quando assisti ao trailer: a relação entre o Adam e a Scarlett e a proposta de contar o fim de um casamento na visão dos dois cônjuges. No final, me surpreendi com as duas ideias.
O ponto central da narrativa é o fim do casamento de uma grande atriz com o diretor de teatro que sempre a dirigiu (na vida e nas peças). Ela está se mudando para estrear uma série de TV e ele em procesos para lançar usa mais nova aclamada peça na Broadway, tudo isso implicando na guarda do filho de 9 anos deles, Henry, o pilar dos conflitos do casal.
Noah sabe como segurar o espectador e usar cada recurso disponível. Para contar essa história, flashbacks talvez seriam uma escolha e ele usa, mas da forma mais genial possível, esgotando no começo e na leitura da carta, assim, conhecemos os momentos feliz para poder entrar na desgraça.
E a desgraça, é sem flashbacks ou metáforas. Conhecemos o fim do relacionamento de forma direta através da dinâmica dialógica do casal, na conversa do elenco do teatro, do casal, da família de Nicole. Cada ponto traz uma informação, adicionando mais camada ao texto e assim, incrementando na nossa própria relação com os personagens.
Além disso, o diretor mescla muito bem a estética do filme com seu texto. Através da própria câmera ele brinca com o cenário sem transformar o quadro, sem nunca parecer forçado, sempre tendo a ver com o contexto e o diálogo. O mesmo se aplica ao humor, as piadas não atrapalham o drama e tem seu momento, colocadas de forma natural, ligadas aos personagens e como sempre, adicionando mais profundidade para a cena em questão. Temos também pequenos plot twists carregados apenas pelo movimento de câmera e enquadramento que funcionam perfeitamente.
A atuação dos dois está excelente, ambos surtados e entregues ao papel. É incrível como você consegue decifrar os personagens apenas com o foco nas suas reações. Os risos bobos, os choros e os gritos. A cena do surto, então, faz o filme, é o caminho para o Oscar, certeza. Ali a gente vê a explosão dos dois, quando finalmente largam tudo que estavam prendendo e segurando.
Apenas uma coisa me irritou no filme: os advogados. Não gostei deles, apesar de terem uma boa função no filme (se tirassem os mesmos, o filme ia ter 1h30) e bons discursos para a trama, eu só queria que acabassem logo toda vez que apareciam em cena.
Uma abordagem humanizada sobre um grupo tão comentado, mas também tão ridicularizado. É importante sabemos quem é, como agem, com quem falam e o quê fazem, para assim ter base e criticar. A proposta do documentário, aparentemente, foi de apresentar esse lado da discussão e acertaram em cheio.
O campo dos cientistas foi pouco apresentado, mas essa não era a intenção do doc. As poucas tiradas dos especialistas já agradou bastante e os terraplanistas por si só já se zoam mostrando como fazem suas paradas. Só de ver toda essa reunião, esse movimento, você já tira suas conclusões, dá uma risada, fica pensativo e se questiona.
Achei extremamente bem escrito também, as partes da vida são bem apresentadas sem ser de forma abrupta, jogada ou arrastada. Me senti completamente imerso na vida daquelas pessoas.
Behind the Curve traz um sentimento de preocupação com um misto de riso com nervosismo em cima de um grupo pouco explorado, mas bastante marginalizado no meio científico. A questão aqui é que nada vai mudar, mas pelo menos sabemos quem são.
Gosto da criatividade existente na história de The Day Shall Come, a comédia absurda, cheia de diálogos, decisões erradas e personagens que escolhem sempre a pior opção, uma pegada bem The Office. Não sei se como um filme dá certo, me pareceu uma esquete muito longa, mas o último ato engrandeceu a mensagem e o filme como um todo. Ele sabe como pincelar a história para deixar envolvente e continuar ali, com diálogos difíceis que na realidade só importam para os personagens.
A mensagem é muito mais importante do que o filme: olhe como estão tratando o povo negro, porra!
The Day Shall Come está lado a lado com Sorry to Bother You no hall de filmes que devem ser vistos por todo mundo, mas que infelizmente, irão permanecer no esquecimento.
Um documentário sobre a vida na prisão pelos olhos, ouvidos e câmera dos próprios presos. Essa é a realidade, caralho.
Paulo Sacramento viajou pelo mundo para receber diversos prêmios por conta do documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro. O diretor paulista foi notado pela crítica e realizadores em Gramado, Espanha, Nova York e Uruguai. No entanto, o mesmo ministrou um curso de filmagem na Casa de Detenção do Carandiru, em 2001, três anos antes do lançamento de seu primeiro longa. O aprendizado seria aplicado no documentário em questão, feito pelas mãos dos próprios presidiários, os verdadeiros detentores da narrativa e direção.
O cargo de Sacramento na história ficou na montagem final. A construção de história é toda dele, mas as palavras, gestos e movimentos, e até mesmo o roteiro, vieram das mentes dos moradores dos pavilhões do Carandiru, meses antes de serem implodidos - auto-retratos. A ideia aqui não é um filme sobre a vida na prisão, e sim através dela, como bem coloca Felipe Bragança em sua crítica no site Contraponto.
Em 2 horas, apenas por divisões de tópicos somos apresentados a diversos aspectos da vida do reeducando da vida na prisão. De forma livre, mas bem arquitetada. Cada esquema se concentra em uma parte do cotidiano, seja o mini espaço permitido nas celas até o passar da noite, uma das melhores sequências do documentário.
Há quem pense que pelo letreiro inicial o tema central será a discussão do encarceramento em massa no Brasil. Não é o principal aqui, porém, é algo que permeia toda a vivência e situação dos envolvidos. Longe dos bordões clássicos de um Globo Repórter (quem são e onde vivem?), sem ser panfletário e didático ao extremo, Sacramento entrega as ferramentas nas mãos dos discutidos e revoluciona o cinema da verdade.
É de uma genialidade tamanha a intenção final do diretor. Seguindo o chavão jornalístico, ele dá voz ao "outro lado" da situação: as autorisades. Mas também seguindo a excelência do termo muitas vezes não buscado, o faz logo após mostrar a realidade daqueles tratados como simples números pelos engravatados.
Infelizmente, para sempre um produto à frente do seu tempo. Felizmente, uma obra prima do cinema.
O nordeste vive no melhor trabalho de Kléber Mendonça Filho, Bacurau. Leiam minha crítica completa em http:// personaunesp . com . br/ bacurau-critica/
É incrível como um filme tão simples consegue ser tão tocante, apaixoante e bonito. O longa entrega a jornada de Irene, uma mãe com vários problemas para cuidar, enfrentando a chegada de mais um: a ida de seu filho mais velho para a Alemanha, jogar bola, em poucos dias.
Desde o início, a câmera e a escrita focam na percepção de Irene no enfrentamento dos problemas, mas sem nunca deixar de subestimar os outros personagens. Atores esses que sempre entram em conflito com a protagonista, no centro da narrativa. A relação de cada um com Irene é muito bem trabalhada e vemos claramente o esforço que ela dá para suas dores, alegrias e tristezas.
A direção está impecável, é bem delicada e busca sempre trazer o movimento para a personagem central. As cenas onde estão todos reunidos são perfeitas, a câmera bagunça e os personagens também. A montagem e a edição caminham lado a lado, tanto na poesia quanto na intenção narrativa. É um filme bonito de se ver, acompanhar e de ouvir, pois a edição de som intensa reforça cada ponto alto da cena. Seja na trilha ou na construção de uma cena, o impacto causado no final da ação é real.
Quanto a atuação da Karine Telles, precisava nem dizer. Está completamente entregue ao papel, surtada e emocionada. Ela consegue incorporar uma história tão real, brasileira, relatável, vista por tantas famílias de uma forma única, divertida e emocionante. É impossível nao se emocionar com seu trabalho. Bônus para quem já viveu uma história parecida com a do menino, como eu, e viu o filme com a mãe. É choro na certa. Recomendadíssimo.
Um exemplo de filmes onde o trailer finge entregar o filme, porém engana, convence e faz a experiência do filme ainda melhor.
Não estava esperando pela tomada de direção no terror, e sim apenas um comentário de classe e maternidade, mas adorei a ideia seguida. O apoio em cima de um mito e sua transposição para a realidade brasileira encaixou perfeitamente, me encantei pela atuação da Marjorie Estiano e da Isabél Zuaa, surtada em algumas cenas, calma e fria em outras.
Desde o começo eu me senti completamente jogado na história, mesmo que por um alguns acontecimentos eu já sabia o quê esperar e nada de novo poderia sair dali, eu continuei justamente por conta de como a história foi apresentada e dirigida. Por conta dos personagens, também. Me surpreendi na virada do primeiro ato, ali fui conquistado e segui em frente. Mesmo que a relação amorosa entre as duas não tenha sido tão bem explicado ou a personagem da Marjorie não tenha sido tão bem desenvolvida, não foi algo que me atrapalhou.
Os sinais e pistas focalizados no início se refletem e seguem até a mudança de atos. O clima de terror e suspense é bem desenvolvido e transmitido, e realmente me deixou assustado em alguns pontos, surpreso pela cena apresentada. O filme se concentra na reação que cada um passa ter com aquela lenda, como a personagem é afetada e decide reagir.
O final foi bem satisfatório, se continuasse seria perca de mão total.
Me fez querer mais e mais histórias desse nicho, ver mais da atuação da Isabél.
Gostei bastante da criação de mundo entregue pelo Mascaro nesse filme, ele segue uma linha padrão, mostrando os ofícios e rotinas comuns daquele espaço, até entrar profundamente nos problemas da história. A música e oss efeitos sonoros combinam perfeitamente com os efeitos visuais do longa, incrementando a experiência. A direção se repete na semelhança com Boi Neon (além da cor, é claro), onde a câmera fica parada enquanto o personagem se move na tela, realizando a ação ou ele escolhe caminhar lentamente enquanto a ação acontece.
Aqui entra um incômodo: longuíssimas cenas de sexo que poderiam ter sido cortadas em certo ponto, já entendemos sua ideia. Não há necessidade de estender. Me fez pensar até como foram feitas, se eram dublês, real ou apenas simulado. A vivacidade daquilo tudo convenceu demais. Apesar da relação amorosa ter ligação direta com a história, novamente, não há tanta necessidade se alongar.
A atuação da Dira Paes também falha muitas vezes, não que exija muito do seu papel, mas é perceptível uma falta de esforço assim como uma química fraca entre o casal protagonista. A voice-over não me incomodou, e seu fim agradou, esperava por aquilo mesmo e me surpreendi
(não entendi como que ela disse que era uma menina e aparece um pênis no bebê).
Lembrei muito de The Lobster enquanto assistia, acho que foi uma grande influência com certeza, além da porrada de filme de ficção científica que se tem por aí.
Sem dúvidas a crítica que o texto e mundo trazem é direta e real, sem contar a proximidade dos anos. Algumas coisas ali acontecem na vida real e toda sua temática rende uma boa discussão. Não é o melhor, mas se sustenta como marca do diretor e como um apoio recomenado para o cinema nacional.
Apesar da falta de detalhes no texto das personagens, com pouco aprofundamento ou quase nada sobre o protagonistas, O Bar Luva Dourada se sai bem demais no quesito ambientação e exposição. É um filme sujo, fedorento e cru. Bonito na tela de cinema, feio no seu interior. O trabalho de atuação, maquiagem, perfomance é incrível e merece todo o reconhecimento do mundo. A miséria, decadênca e recaída estão pelo cenário e nos personagens. O álcool e a decadência humana formam um combo devastador. Talvez se Fatin colocasse mais informações à respeito do serial killer, caíriamos no erro de nos simpatizarmos com ele. E desde o começo é mostrado exatamente o contrário, zero empatia e importância, o quê exatamente ele merece. As cenas de estupro e violência cabem se necessárias na estética atribuída cujo longa se propõe a preencher e serve bem demais como um anti-alcoolismo.
Na sessão em que eu presenciei, houve barulho de rissadas durante a exibição, o quê, pra mim, é completamente incompreensível e inadequado
. Nada ali tem graça, é triste, angustiante e desesperador. Desconfortável. É de se perguntar até mesmo qual a mensagem que o diretor quer passar. Mas não deixa de ser uma boa pedida para quem estômago forte.
Olhando para o 2019 atual, esse filme envelheceu muito mal, impossível de ser feito nos dias de hoje. Mas voltando no tempo, ele é muito bem feito. Ele transforma perfeitamente todo aquele esquema de filmes colegiais teen em uma narrativa bem sombria e característica, desde à sua trilha sonora até seus personagens. Ponto especial para os pais da Veronica representando todos os espectadores daquele espetáculo, sem reagir nunca com o mundo real, mesmo estando bem longe da crise vivida pelos adolescentes.
A história é bem escrita também, me fez perguntar várias vezes se tudo aquilo era um pesadelo, desde a primeira cena até às mortes e o fato de ninguém nunca descobrir. Essa sugestão de realidade x fantasia casou muito bem pra mim.
Acredito que todos os personagens terem um estigma de caracterização de fora da realidade, serem literais, falarem e agirem de forma estúpida seja um produto para a crítica daquele universo. O personagem do Christian Slater é bem odioso e cumpre bem seu papel, e a Winona Ryder está maravilhosa e surtada. Me diverti bastante, além de pensar um pouco sobre tudo aquilo.
Bem pertubador e aterrorizante em alguns pontos, mas poético, bonito e hipnotizante em outros. É de se pensar o quão cruel e desunaminazador o ser humano pode chegar a ser, em prol acima de tudo da ciência. Um debate infindável. O aspecto de criar uma criança longe de tudo que já se teve conhecimento, à deriva do espaço é muito bem trabalhado, apenas atráves do olhar e das ações, na incrível direção de Claire Denis e na tocante e surtada atuação de Pattison. Trilha sonora ambient apenas recheia todo o cenário do espaço, deixando a experiência ainda mais satisfatória. Apesar disso tudo, me deixou com vontade de conhecer ainda mais aquele mundo, explorar, ainda que a ideia de sugestão e ocultação seja bem arquitetada.
Energético e poderoso do começo ao fim. As quebras de quarta parede são incríveis, dialogando e mandando a mensagem para o público na cara dura. É muito para se absorver, é excelente.
Os únicos erros desse filme é o fato do Willem Dafoe aparecer em poucas cenas e o filme durar muito pouco. Porém, naquilo que ele se propõe e explora, entrega um excelente resultado. Estudo de personagem muito bem feito, entre a crítica ao ambiente, suas falhas, anseios e construção de indíviduo no decorrer do longa. É muito bem relacionado as ideias que Bateman quer passar, com aquilo que os outros pensam dele, suas ações, o mundo em que ele vive e as personagens em volta do mesmo.
Ótimas sequências de ação e performances de luta, porém com um roteiro bem mixuruca, pouco desenvolvimento de personagens sem explorar muito nem um núcleo, de forma que deixe pontas soltas para a sequência. É melhor ler o mangá, ver o filme.
Vendo da perspectiva de alguém que nunca assiste musicais, esse é um grande filme. A performance da Bjork está incrível e arrebatadora, seus movimentos, cantoria e atuação são fantásticos e ela carrega o filme nas costas. A direção do desprezível Lars Von Trier, apesar de até incômoda no começo, se mostra muito bom em capturar as reações, emoções, com poucos cortes e movimentos rápidos para os pontos da tela. De certa forma, o filme tem um roteiro surreal, quase nenhum personagem se salva, todos seus princípios são questionáveis, principalmente das autoridades. A personagem da Bjork parece bem boba em alguns pontos, mas se mostra forte, resiste e honesta. Quero acreditar que tenha em algum ponto uma certa crítica à ideologia de que os imigrantes vão para os Estados Unidos para roubar os empregos. A relação dela com o Jeff é bem chata, ele é bem insistente e de certa forma em alguns momentos ela poderia fazer algo com ele, deixá-lo ajudar, mas assim como em todos os momentos, ela se recusa e faz tudo sozinha. Acima de tudo, um filme realmente triste, é difícil não se emocionar com a dureza e perseverança de Selma para com seu filho.
Com certeza, um dos filmes em que eu estava mais hypado para conferir nos cinemas esse ano foi Turma da Mônica: Laços. Cresci lendo os gibis, praticamente fui alfabetizado e aprendi a gostar de quadrinhos e cultura pop com a turma do Limoerio. Minha emoção era grande ao assistir os trailers, comerciais, etc. Ver as crianças ganhando vida nas telonas era uma oportunidade imperdível.
E foi uma baita experiência. Eu esparava me divertir, e tive muito disso. A direção e fotografia estão maravilhosos, muito bem caminhado. O trabalho de elenco e química entre a turma está fantástico. Por mais que o sentimento nostálgico seja grande, não sou o público. As crianças estavam em peso na sala de cinema (um erro aí), e com certeza saíram de lá satisfeitas. A trilha sonora caminhando junto com os arcos também entrega um ótimo trabalho. A explicação para o cabelo do cebolinha não ser como nos quadrinhos estar ligada ao conflito da trama foi bem mostrada e interligada. Você tem uma escrita cuidadosa, de forma que passe para as telas todo aquele universo. Os easter eggs, referências, cores...Maravilhoso!
Se tem algo que me incomodou foi a câmera muito fixa em algumas cenas, demorando minutos para contornar outra ação, tomando tempo de piadas ou outras ações. Até uma criança ao meu lado reclamou, então, não as subestimem. De resto, recomendadíssimo, diversão na certa!
Esse filme tem uma boa direção, trilha sonora, e até boas atuações, principalmente do Morgan Freeman. Porém, ele peca muito nas tomadas do roteiro. É quase como uma cartilha de "sim, estou mostrando boas ações entre um branco e um negro em um cenário racista, porém só mostrando, não quero explorar, nem justificar". Você não vê uma relação sendo construída, apenas ações sendo feitas. Sim, Miss Daisy é ranzinza, mas ela não tem um motivo forte o suficiente para mudar e ser boazinha. Veja, em um dado momento Hoke comenta que não sabe ler. A patroa dá uma dica e ele soluciona o problema. E, na próxima cena, ele está apenas levando ela para uma festa de natal. Não há um desenvolvimento em cima do problema. A sequência do Martin Luther King é vergonhosa. Não há motivo para que Daisy se interesse pelo jantar, e Hoke poderia muito bem se mostrar interessado.
Há também a aceitação repentina de Daisy para com Hoke, não há um desenvolvimento da relação, visto que ela apenas o trata mal e nem o quer ali. E ele continua. A empregada dela morreu apenas ao derrubar as ervilhas? Ela caiu? Não fica bem claro. E quanto ao aperto de mãos, não vejo nada como um simbolismo desnecessário para apenas "mostrar nas telas" a união. Não preciso dizer que nas mãos de um diretor e roteirista negro, essa obra seria muito melhor. É inexpicável como Miss Daisy vai do ódio para com alguém dirigindo para ela, para um "you are my best friend" quando o mesmo não fez nada além do seu trabalho. Além disso, há muitos diálogos que entram em um assunto, sem devidamente apresentá-lo, isso não é ruim, quando é bem feito.
Posso não ter prestado atenção em muitas coisas, mas foram pontos que me incomodaram.
Sou completamente fascinado pela escrita e direção do Lee, como ele envolve e desenvolve os personagens, você nem vê as duas horas passarem. Minha experiência com esse filme é quase a mesma com a de Do the Righ Thing, uma obra prima do mesmo diretor. O quê me pega mais são os diálogos, todos os atores tem ótimos diálogos e interagem muito bem entre si, eles criam cenas de conflitos que mudam o ambiente e carrega uma trama de uma forma espontânea e natural. Não há muito o quê dizer dos enquadramentos, quando o Lee continua sua maestria na captação de quadros e perfeitos e ótimos movimentos, de forma a estabelecer um personagem em um cenário e suas consequências nele.
Adoro como ele não se concentra em apenas explorar a traição e a discussão interracial, mas como o impacto em cada núcleo e em cada personagem. Exceto pelo Cyrus e sua esposa, todos os outros personagens tem seus arcos desenvolvidos e completos, não são deixados de lado.
Na boca dos personagens, no roteiro, Lee coloca assuntos pautados pela sociedade afro-americana e contorna diferentes opiniões mostrando a origem e as consequências das ações e atos dessas pessoas. E, mais especificamente em Jungle Fever, ele coloca uma problemática em diferentes rodas, e dentro delas, há diversidade de opiniões e reações. É como mostrar para o espectador branco como realmente acontecem as coisas, que temos opiniões e visões diferentes. De fato, a coisa fica ainda mais pesada quando é o racista falando e a materialidade dos seus atos toma a tela, Lee aponta e deixa claro a origem e o problema desse comportamento, na vida de cada um.
A trilha sonora num jazz absoluto deixa o tom até um pouco mais leve, tirando até risadas em certas combinações. Eu, enquanto assistia, cheguei a torcer para que o Flip ficasse junto com Angie, mesmo sabendo de todos os problemas. Porém, é entendível a conclusão dos atos.
Em um certo momento, me incomodei com a velocidade do desenvolvimento da relação do Flip com a Angie, mas não é um ponto que tira o mérito da obra como um todo.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraDuas coisas fizeram a minha expectativa por esse filme quando assisti ao trailer: a relação entre o Adam e a Scarlett e a proposta de contar o fim de um casamento na visão dos dois cônjuges. No final, me surpreendi com as duas ideias.
O ponto central da narrativa é o fim do casamento de uma grande atriz com o diretor de teatro que sempre a dirigiu (na vida e nas peças). Ela está se mudando para estrear uma série de TV e ele em procesos para lançar usa mais nova aclamada peça na Broadway, tudo isso implicando na guarda do filho de 9 anos deles, Henry, o pilar dos conflitos do casal.
Noah sabe como segurar o espectador e usar cada recurso disponível. Para contar essa história, flashbacks talvez seriam uma escolha e ele usa, mas da forma mais genial possível, esgotando no começo e na leitura da carta, assim, conhecemos os momentos feliz para poder entrar na desgraça.
E a desgraça, é sem flashbacks ou metáforas. Conhecemos o fim do relacionamento de forma direta através da dinâmica dialógica do casal, na conversa do elenco do teatro, do casal, da família de Nicole. Cada ponto traz uma informação, adicionando mais camada ao texto e assim, incrementando na nossa própria relação com os personagens.
Além disso, o diretor mescla muito bem a estética do filme com seu texto. Através da própria câmera ele brinca com o cenário sem transformar o quadro, sem nunca parecer forçado, sempre tendo a ver com o contexto e o diálogo. O mesmo se aplica ao humor, as piadas não atrapalham o drama e tem seu momento, colocadas de forma natural, ligadas aos personagens e como sempre, adicionando mais profundidade para a cena em questão. Temos também pequenos plot twists carregados apenas pelo movimento de câmera e enquadramento que funcionam perfeitamente.
A atuação dos dois está excelente, ambos surtados e entregues ao papel. É incrível como você consegue decifrar os personagens apenas com o foco nas suas reações. Os risos bobos, os choros e os gritos. A cena do surto, então, faz o filme, é o caminho para o Oscar, certeza. Ali a gente vê a explosão dos dois, quando finalmente largam tudo que estavam prendendo e segurando.
Apenas uma coisa me irritou no filme: os advogados. Não gostei deles, apesar de terem uma boa função no filme (se tirassem os mesmos, o filme ia ter 1h30) e bons discursos para a trama, eu só queria que acabassem logo toda vez que apareciam em cena.
Universidade Monstros
3.9 1,8K Assista AgoraA representação perfeita do cotista e o hétero branco com HB20 na Universidade.
A Terra é Plana
3.5 196Uma abordagem humanizada sobre um grupo tão comentado, mas também tão ridicularizado. É importante sabemos quem é, como agem, com quem falam e o quê fazem, para assim ter base e criticar. A proposta do documentário, aparentemente, foi de apresentar esse lado da discussão e acertaram em cheio.
O campo dos cientistas foi pouco apresentado, mas essa não era a intenção do doc. As poucas tiradas dos especialistas já agradou bastante e os terraplanistas por si só já se zoam mostrando como fazem suas paradas. Só de ver toda essa reunião, esse movimento, você já tira suas conclusões, dá uma risada, fica pensativo e se questiona.
Achei extremamente bem escrito também, as partes da vida são bem apresentadas sem ser de forma abrupta, jogada ou arrastada. Me senti completamente imerso na vida daquelas pessoas.
Behind the Curve traz um sentimento de preocupação com um misto de riso com nervosismo em cima de um grupo pouco explorado, mas bastante marginalizado no meio científico. A questão aqui é que nada vai mudar, mas pelo menos sabemos quem são.
O Dia Vai Chegar
2.8 7Gosto da criatividade existente na história de The Day Shall Come, a comédia absurda, cheia de diálogos, decisões erradas e personagens que escolhem sempre a pior opção, uma pegada bem The Office. Não sei se como um filme dá certo, me pareceu uma esquete muito longa, mas o último ato engrandeceu a mensagem e o filme como um todo. Ele sabe como pincelar a história para deixar envolvente e continuar ali, com diálogos difíceis que na realidade só importam para os personagens.
A mensagem é muito mais importante do que o filme: olhe como estão tratando o povo negro, porra!
The Day Shall Come está lado a lado com Sorry to Bother You no hall de filmes que devem ser vistos por todo mundo, mas que infelizmente, irão permanecer no esquecimento.
O Dia Vai Chegar
2.8 7Se alguém souber de legenda em português, me responde aqui, por favorrr
O Prisioneiro da Grade de Ferro
4.2 89Um documentário sobre a vida na prisão pelos olhos, ouvidos e câmera dos próprios presos. Essa é a realidade, caralho.
Paulo Sacramento viajou pelo mundo para receber diversos prêmios por conta do documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro. O diretor paulista foi notado pela crítica e realizadores em Gramado, Espanha, Nova York e Uruguai. No entanto, o mesmo ministrou um curso de filmagem na Casa de Detenção do Carandiru, em 2001, três anos antes do lançamento de seu primeiro longa. O aprendizado seria aplicado no documentário em questão, feito pelas mãos dos próprios presidiários, os verdadeiros detentores da narrativa e direção.
O cargo de Sacramento na história ficou na montagem final. A construção de história é toda dele, mas as palavras, gestos e movimentos, e até mesmo o roteiro, vieram das mentes dos moradores dos pavilhões do Carandiru, meses antes de serem implodidos - auto-retratos. A ideia aqui não é um filme sobre a vida na prisão, e sim através dela, como bem coloca Felipe Bragança em sua crítica no site Contraponto.
Em 2 horas, apenas por divisões de tópicos somos apresentados a diversos aspectos da vida do reeducando da vida na prisão. De forma livre, mas bem arquitetada. Cada esquema se concentra em uma parte do cotidiano, seja o mini espaço permitido nas celas até o passar da noite, uma das melhores sequências do documentário.
Há quem pense que pelo letreiro inicial o tema central será a discussão do encarceramento em massa no Brasil. Não é o principal aqui, porém, é algo que permeia toda a vivência e situação dos envolvidos. Longe dos bordões clássicos de um Globo Repórter (quem são e onde vivem?), sem ser panfletário e didático ao extremo, Sacramento entrega as ferramentas nas mãos dos discutidos e revoluciona o cinema da verdade.
É de uma genialidade tamanha a intenção final do diretor. Seguindo o chavão jornalístico, ele dá voz ao "outro lado" da situação: as autorisades. Mas também seguindo a excelência do termo muitas vezes não buscado, o faz logo após mostrar a realidade daqueles tratados como simples números pelos engravatados.
Infelizmente, para sempre um produto à frente do seu tempo. Felizmente, uma obra prima do cinema.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraO nordeste vive no melhor trabalho de Kléber Mendonça Filho, Bacurau.
Leiam minha crítica completa em http:// personaunesp . com . br/ bacurau-critica/
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraÉ incrível como um filme tão simples consegue ser tão tocante, apaixoante e bonito. O longa entrega a jornada de Irene, uma mãe com vários problemas para cuidar, enfrentando a chegada de mais um: a ida de seu filho mais velho para a Alemanha, jogar bola, em poucos dias.
Desde o início, a câmera e a escrita focam na percepção de Irene no enfrentamento dos problemas, mas sem nunca deixar de subestimar os outros personagens. Atores esses que sempre entram em conflito com a protagonista, no centro da narrativa. A relação de cada um com Irene é muito bem trabalhada e vemos claramente o esforço que ela dá para suas dores, alegrias e tristezas.
A direção está impecável, é bem delicada e busca sempre trazer o movimento para a personagem central. As cenas onde estão todos reunidos são perfeitas, a câmera bagunça e os personagens também. A montagem e a edição caminham lado a lado, tanto na poesia quanto na intenção narrativa. É um filme bonito de se ver, acompanhar e de ouvir, pois a edição de som intensa reforça cada ponto alto da cena. Seja na trilha ou na construção de uma cena, o impacto causado no final da ação é real.
Quanto a atuação da Karine Telles, precisava nem dizer. Está completamente entregue ao papel, surtada e emocionada. Ela consegue incorporar uma história tão real, brasileira, relatável, vista por tantas famílias de uma forma única, divertida e emocionante. É impossível nao se emocionar com seu trabalho. Bônus para quem já viveu uma história parecida com a do menino, como eu, e viu o filme com a mãe. É choro na certa. Recomendadíssimo.
Parasita
4.5 3,6K Assista Agoraobra prima POR*A
atuação, roteiro, rimas visuais, direção, crítica
TUDO SENSACIONAL
As Boas Maneiras
3.5 648 Assista AgoraUm exemplo de filmes onde o trailer finge entregar o filme, porém engana, convence e faz a experiência do filme ainda melhor.
Não estava esperando pela tomada de direção no terror, e sim apenas um comentário de classe e maternidade, mas adorei a ideia seguida. O apoio em cima de um mito e sua transposição para a realidade brasileira encaixou perfeitamente, me encantei pela atuação da Marjorie Estiano e da Isabél Zuaa, surtada em algumas cenas, calma e fria em outras.
Desde o começo eu me senti completamente jogado na história, mesmo que por um alguns acontecimentos eu já sabia o quê esperar e nada de novo poderia sair dali, eu continuei justamente por conta de como a história foi apresentada e dirigida. Por conta dos personagens, também. Me surpreendi na virada do primeiro ato, ali fui conquistado e segui em frente. Mesmo que a relação amorosa entre as duas não tenha sido tão bem explicado ou a personagem da Marjorie não tenha sido tão bem desenvolvida, não foi algo que me atrapalhou.
Os sinais e pistas focalizados no início se refletem e seguem até a mudança de atos. O clima de terror e suspense é bem desenvolvido e transmitido, e realmente me deixou assustado em alguns pontos, surpreso pela cena apresentada. O filme se concentra na reação que cada um passa ter com aquela lenda, como a personagem é afetada e decide reagir.
O final foi bem satisfatório, se continuasse seria perca de mão total.
Me fez querer mais e mais histórias desse nicho, ver mais da atuação da Isabél.
Divino Amor
3.3 240Gostei bastante da criação de mundo entregue pelo Mascaro nesse filme, ele segue uma linha padrão, mostrando os ofícios e rotinas comuns daquele espaço, até entrar profundamente nos problemas da história. A música e oss efeitos sonoros combinam perfeitamente com os efeitos visuais do longa, incrementando a experiência. A direção se repete na semelhança com Boi Neon (além da cor, é claro), onde a câmera fica parada enquanto o personagem se move na tela, realizando a ação ou ele escolhe caminhar lentamente enquanto a ação acontece.
Aqui entra um incômodo: longuíssimas cenas de sexo que poderiam ter sido cortadas em certo ponto, já entendemos sua ideia. Não há necessidade de estender. Me fez pensar até como foram feitas, se eram dublês, real ou apenas simulado. A vivacidade daquilo tudo convenceu demais. Apesar da relação amorosa ter ligação direta com a história, novamente, não há tanta necessidade se alongar.
A atuação da Dira Paes também falha muitas vezes, não que exija muito do seu papel, mas é perceptível uma falta de esforço assim como uma química fraca entre o casal protagonista. A voice-over não me incomodou, e seu fim agradou, esperava por aquilo mesmo e me surpreendi
(não entendi como que ela disse que era uma menina e aparece um pênis no bebê).
Lembrei muito de The Lobster enquanto assistia, acho que foi uma grande influência com certeza, além da porrada de filme de ficção científica que se tem por aí.
Sem dúvidas a crítica que o texto e mundo trazem é direta e real, sem contar a proximidade dos anos. Algumas coisas ali acontecem na vida real e toda sua temática rende uma boa discussão. Não é o melhor, mas se sustenta como marca do diretor e como um apoio recomenado para o cinema nacional.
O Bar Luva Dourada
3.5 340Apesar da falta de detalhes no texto das personagens, com pouco aprofundamento ou quase nada sobre o protagonistas, O Bar Luva Dourada se sai bem demais no quesito ambientação e exposição. É um filme sujo, fedorento e cru. Bonito na tela de cinema, feio no seu interior. O trabalho de atuação, maquiagem, perfomance é incrível e merece todo o reconhecimento do mundo. A miséria, decadênca e recaída estão pelo cenário e nos personagens. O álcool e a decadência humana formam um combo devastador. Talvez se Fatin colocasse mais informações à respeito do serial killer, caíriamos no erro de nos simpatizarmos com ele. E desde o começo é mostrado exatamente o contrário, zero empatia e importância, o quê exatamente ele merece. As cenas de estupro e violência cabem se necessárias na estética atribuída cujo longa se propõe a preencher e serve bem demais como um anti-alcoolismo.
Na sessão em que eu presenciei, houve barulho de rissadas durante a exibição, o quê, pra mim, é completamente incompreensível e inadequado
(ao menos no momento em que ele é atropelado)
A Sombra do Pai
3.4 41Alguém aí sabe se já tá disponível o download do torrent dese filme?
Atração Mortal
3.7 318 Assista AgoraOlhando para o 2019 atual, esse filme envelheceu muito mal, impossível de ser feito nos dias de hoje. Mas voltando no tempo, ele é muito bem feito. Ele transforma perfeitamente todo aquele esquema de filmes colegiais teen em uma narrativa bem sombria e característica, desde à sua trilha sonora até seus personagens. Ponto especial para os pais da Veronica representando todos os espectadores daquele espetáculo, sem reagir nunca com o mundo real, mesmo estando bem longe da crise vivida pelos adolescentes.
A história é bem escrita também, me fez perguntar várias vezes se tudo aquilo era um pesadelo, desde a primeira cena até às mortes e o fato de ninguém nunca descobrir. Essa sugestão de realidade x fantasia casou muito bem pra mim.
Acredito que todos os personagens terem um estigma de caracterização de fora da realidade, serem literais, falarem e agirem de forma estúpida seja um produto para a crítica daquele universo. O personagem do Christian Slater é bem odioso e cumpre bem seu papel, e a Winona Ryder está maravilhosa e surtada. Me diverti bastante, além de pensar um pouco sobre tudo aquilo.
High Life: Uma Nova Vida
3.1 175 Assista AgoraBem pertubador e aterrorizante em alguns pontos, mas poético, bonito e hipnotizante em outros. É de se pensar o quão cruel e desunaminazador o ser humano pode chegar a ser, em prol acima de tudo da ciência. Um debate infindável. O aspecto de criar uma criança longe de tudo que já se teve conhecimento, à deriva do espaço é muito bem trabalhado, apenas atráves do olhar e das ações, na incrível direção de Claire Denis e na tocante e surtada atuação de Pattison. Trilha sonora ambient apenas recheia todo o cenário do espaço, deixando a experiência ainda mais satisfatória. Apesar disso tudo, me deixou com vontade de conhecer ainda mais aquele mundo, explorar, ainda que a ideia de sugestão e ocultação seja bem arquitetada.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 427 Assista AgoraSignos, histórias, canções, lendas e cenários que sintetizam o sofrimento e a esperança do sertão nordestino.
Terra em Transe
4.1 286 Assista AgoraEnergético e poderoso do começo ao fim. As quebras de quarta parede são incríveis, dialogando e mandando a mensagem para o público na cara dura. É muito para se absorver, é excelente.
Psicopata Americano
3.7 1,9K Assista AgoraOs únicos erros desse filme é o fato do Willem Dafoe aparecer em poucas cenas e o filme durar muito pouco. Porém, naquilo que ele se propõe e explora, entrega um excelente resultado. Estudo de personagem muito bem feito, entre a crítica ao ambiente, suas falhas, anseios e construção de indíviduo no decorrer do longa. É muito bem relacionado as ideias que Bateman quer passar, com aquilo que os outros pensam dele, suas ações, o mundo em que ele vive e as personagens em volta do mesmo.
Favela Bolada
3.6 16galera, aonde vocês viram? tem duas versões no youtube, qual é a melhor?
Alita: Anjo de Combate
3.6 813 Assista AgoraÓtimas sequências de ação e performances de luta, porém com um roteiro bem mixuruca, pouco desenvolvimento de personagens sem explorar muito nem um núcleo, de forma que deixe pontas soltas para a sequência. É melhor ler o mangá, ver o filme.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraVendo da perspectiva de alguém que nunca assiste musicais, esse é um grande filme. A performance da Bjork está incrível e arrebatadora, seus movimentos, cantoria e atuação são fantásticos e ela carrega o filme nas costas. A direção do desprezível Lars Von Trier, apesar de até incômoda no começo, se mostra muito bom em capturar as reações, emoções, com poucos cortes e movimentos rápidos para os pontos da tela. De certa forma, o filme tem um roteiro surreal, quase nenhum personagem se salva, todos seus princípios são questionáveis, principalmente das autoridades. A personagem da Bjork parece bem boba em alguns pontos, mas se mostra forte, resiste e honesta. Quero acreditar que tenha em algum ponto uma certa crítica à ideologia de que os imigrantes vão para os Estados Unidos para roubar os empregos. A relação dela com o Jeff é bem chata, ele é bem insistente e de certa forma em alguns momentos ela poderia fazer algo com ele, deixá-lo ajudar, mas assim como em todos os momentos, ela se recusa e faz tudo sozinha. Acima de tudo, um filme realmente triste, é difícil não se emocionar com a dureza e perseverança de Selma para com seu filho.
Turma da Mônica: Laços
3.6 607 Assista AgoraCom certeza, um dos filmes em que eu estava mais hypado para conferir nos cinemas esse ano foi Turma da Mônica: Laços. Cresci lendo os gibis, praticamente fui alfabetizado e aprendi a gostar de quadrinhos e cultura pop com a turma do Limoerio. Minha emoção era grande ao assistir os trailers, comerciais, etc. Ver as crianças ganhando vida nas telonas era uma oportunidade imperdível.
E foi uma baita experiência. Eu esparava me divertir, e tive muito disso. A direção e fotografia estão maravilhosos, muito bem caminhado. O trabalho de elenco e química entre a turma está fantástico. Por mais que o sentimento nostálgico seja grande, não sou o público. As crianças estavam em peso na sala de cinema (um erro aí), e com certeza saíram de lá satisfeitas. A trilha sonora caminhando junto com os arcos também entrega um ótimo trabalho. A explicação para o cabelo do cebolinha não ser como nos quadrinhos estar ligada ao conflito da trama foi bem mostrada e interligada. Você tem uma escrita cuidadosa, de forma que passe para as telas todo aquele universo. Os easter eggs, referências, cores...Maravilhoso!
Se tem algo que me incomodou foi a câmera muito fixa em algumas cenas, demorando minutos para contornar outra ação, tomando tempo de piadas ou outras ações. Até uma criança ao meu lado reclamou, então, não as subestimem. De resto, recomendadíssimo, diversão na certa!
Conduzindo Miss Daisy
3.9 415 Assista AgoraEsse filme tem uma boa direção, trilha sonora, e até boas atuações, principalmente do Morgan Freeman. Porém, ele peca muito nas tomadas do roteiro. É quase como uma cartilha de "sim, estou mostrando boas ações entre um branco e um negro em um cenário racista, porém só mostrando, não quero explorar, nem justificar". Você não vê uma relação sendo construída, apenas ações sendo feitas. Sim, Miss Daisy é ranzinza, mas ela não tem um motivo forte o suficiente para mudar e ser boazinha. Veja, em um dado momento Hoke comenta que não sabe ler. A patroa dá uma dica e ele soluciona o problema. E, na próxima cena, ele está apenas levando ela para uma festa de natal. Não há um desenvolvimento em cima do problema. A sequência do Martin Luther King é vergonhosa. Não há motivo para que Daisy se interesse pelo jantar, e Hoke poderia muito bem se mostrar interessado.
Há também a aceitação repentina de Daisy para com Hoke, não há um desenvolvimento da relação, visto que ela apenas o trata mal e nem o quer ali. E ele continua. A empregada dela morreu apenas ao derrubar as ervilhas? Ela caiu? Não fica bem claro. E quanto ao aperto de mãos, não vejo nada como um simbolismo desnecessário para apenas "mostrar nas telas" a união. Não preciso dizer que nas mãos de um diretor e roteirista negro, essa obra seria muito melhor. É inexpicável como Miss Daisy vai do ódio para com alguém dirigindo para ela, para um "you are my best friend" quando o mesmo não fez nada além do seu trabalho. Além disso, há muitos diálogos que entram em um assunto, sem devidamente apresentá-lo, isso não é ruim, quando é bem feito.
Posso não ter prestado atenção em muitas coisas, mas foram pontos que me incomodaram.
Febre da Selva
3.8 36Sou completamente fascinado pela escrita e direção do Lee, como ele envolve e desenvolve os personagens, você nem vê as duas horas passarem. Minha experiência com esse filme é quase a mesma com a de Do the Righ Thing, uma obra prima do mesmo diretor. O quê me pega mais são os diálogos, todos os atores tem ótimos diálogos e interagem muito bem entre si, eles criam cenas de conflitos que mudam o ambiente e carrega uma trama de uma forma espontânea e natural. Não há muito o quê dizer dos enquadramentos, quando o Lee continua sua maestria na captação de quadros e perfeitos e ótimos movimentos, de forma a estabelecer um personagem em um cenário e suas consequências nele.
Adoro como ele não se concentra em apenas explorar a traição e a discussão interracial, mas como o impacto em cada núcleo e em cada personagem. Exceto pelo Cyrus e sua esposa, todos os outros personagens tem seus arcos desenvolvidos e completos, não são deixados de lado.
Na boca dos personagens, no roteiro, Lee coloca assuntos pautados pela sociedade afro-americana e contorna diferentes opiniões mostrando a origem e as consequências das ações e atos dessas pessoas. E, mais especificamente em Jungle Fever, ele coloca uma problemática em diferentes rodas, e dentro delas, há diversidade de opiniões e reações. É como mostrar para o espectador branco como realmente acontecem as coisas, que temos opiniões e visões diferentes. De fato, a coisa fica ainda mais pesada quando é o racista falando e a materialidade dos seus atos toma a tela, Lee aponta e deixa claro a origem e o problema desse comportamento, na vida de cada um.
A trilha sonora num jazz absoluto deixa o tom até um pouco mais leve, tirando até risadas em certas combinações. Eu, enquanto assistia, cheguei a torcer para que o Flip ficasse junto com Angie, mesmo sabendo de todos os problemas. Porém, é entendível a conclusão dos atos.
Em um certo momento, me incomodei com a velocidade do desenvolvimento da relação do Flip com a Angie, mas não é um ponto que tira o mérito da obra como um todo.
Essencial, discussões que perduram até hoje!